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Artigo Inédito

A influência do posicionamento ântero-posterior


da alça T segmentada durante o movimento de
retração inicial: uma avaliação pelo método dos
elementos finitos*
Raquel Silva Lotti**, Enio Tonani Mazzieiro***, Janes Landre Júnior****

Resumo

Objetivo: avaliar por meio do MEF (Método dos elementos Finitos) a influência do posiciona-
mento no espaço inter-braquetes de uma alça T segmentada em aço inoxidável para retração do
canino. Metodologia: em cada posição da alça foi observado o tipo de movimento realizado
pelas unidades de ancoragem e analisada a tensão no osso alveolar gerada pela mecânica. A alça
foi confeccionada passiva, sem dobras de pré-ativação. O segmento posterior do lado esquerdo
de uma mandíbula foi modelado, em conjunto com o canino, segundo pré-molar e primeiro
molar permanente. Alterou-se o posicionamento da alça, obtendo um modelo em que esta se
encontrou mais próxima ao canino, centralizada entre canino e molar e mais próxima ao molar.
Apenas o deslocamento inicial destes dentes foi avaliado e as diferenças relativas entre o movi-
mento destes foram comparadas em termos qualitativos. Resultados e Conclusões: observou-
se que o elemento dentário mais próximo à alça se deslocou em menor magnitude e com menor
grau de inclinação. Em todos os modelos um componente de força extrusiva se fez presente,
entretanto a magnitude deste foi menor para o dente mais afastado da alça. Relativa rotação foi
encontrada resultando em deslocamentos para vestibular e lingual da coroa dos dentes e quanto
mais afastado o dente se encontrou da alça, maior foi a tendência à rotação. O deslocamento
relativo do canino foi maior que o do molar em todos os modelos. A análise da tensão em Von
Mises no osso alveolar, demonstrou que esta se apresenta maior ao redor do canino e no modelo
com a alça próxima ao molar.

Palavras-chave: Biomecânica. Ortodontia. Fechamento de espaço ortodôntico.

* Resumo de dissertação de mestrado – PUC-MG

** Mestre em Ortodontia pelo COP - PUC/MG.


*** Doutor em Ortodontia, Coordenador do curso de Mestrado em Ortodontia do COP – PUC/MG.
**** Doutor em engenharia mecânica, Coordenador do curso de Engenharia Mecânica da Puc-Minas.

R Dental Press Ortodon Ortop Facial 41 Maringá, v. 11, n. 3, p. 41-54, maio/jun. 2006
A influência do posicionamento ântero-posterior da alça T segmentada durante o movimento de retração inicial: uma avaliação pelo método dos elementos finitos

introdução nesses trabalhos é realizada dentro de uma análise


Os objetivos de um tratamento ortodôntico estática. Uma relativa diferença entre o movimen-
incluem a obtenção da estética e da harmonia to dos elementos anteriores e posteriores, poderia
facial, oclusão funcional satisfatória, função mas- resultar em alterações desses sistemas de forças,
tigatória eficiente, estabilidade em longo prazo gerando desequilíbrios que poderiam ser avaliados
e saúde dos dentes e das estruturas adjacentes28. somente dentro de um sistema dinâmico.
Em relação ao posicionamento dentário, deve- A utilização do Método dos Elementos Finitos
se priorizar a obtenção de dentes verticalizados, (MEF) em pesquisas na área da Ortodontia já se
raízes paralelas e mínimos danos às estruturas de mostrou promissora durante a análise do movi-
suporte e dentárias12. Para alcançar essas metas é mento dentário. Diversos trabalhos foram realiza-
necessário que se obtenha controle do movimen- dos utilizando este método6,16,23,26. Por meio deste
to dentário, dos sistemas de forças aplicados nos recurso, torna-se possível analisar o sistema dinâ-
dentes, e que se compreenda a forma como esses mico em que o movimento dentário ocorre, rela-
se deslocam. cionando e comparando o deslocamento entre um
Um dos movimentos ortodônticos mais co- grupo de dentes unidos por uma alça de retração.
muns nos casos tratados com extração consiste na Este trabalho propôs-se a avaliar tridimensio-
retração dos caninos. Esta pode ser dividida em nalmente, por meio do MEF, a influência do po-
duas categorias: mecânica com atrito ou de des- sicionamento, no espaço inter-braquetes, de uma
lize, e mecânica sem atrito, realizada por meio da alça T segmentada construída em aço inoxidável
incorporação de alças ao arco. O movimento de e sem dobras de pré-ativação para retração do ca-
retração desse dente pode ocorrer mediante incli- nino, considerando o relativo movimento dentário
nações e verticalizações da coroa e/ou raiz ou por entre o canino e o molar. Além disso, serão obser-
um movimento de translação ou corpo. vadas as tensões geradas no osso alveolar decor-
O controle preciso do sistema de forças envol- rentes desta mecânica.
vidos durante qualquer mecânica ditará o suces- O desenvolvimento do trabalho foi realizado
so do movimento desejado. Portanto, torna-se de em associação com o Departamento de Engenha-
suma importância a compreensão do tipo de mo- ria Mecânica da Pontifícia Universidade Católica
vimento realizado pelo dente em sua respectiva de Minas Gerais (PUC-MG). Foram utilizados os
mecânica, e seus efeitos indesejados, para que se softwares Patran e Nastram como pré e pós-pro-
possa lançar mão de dispositivos que compensem cessadores.
as limitações existentes diante do controle tridi- Modelou-se um canino, um segundo pré-molar
mensional do movimento dentário.
A mecânica de retração dos caninos sem atri-
Tabela 1 - Tamanho absoluto em mm dos elementos den-
to utiliza molas ou alças segmentadas que unem
tários modelados de acordo com as medidas obtidas pela
estes dentes aos molares e pré-molares. O posicio- tomografia computadorizada do acervo da PUC-MG.
namento destas alças no espaço inter-braquetes e Distâncias
a presença ou não de pré-ativações ou gable dita- mensuradas (mm) Canino 2O pré-molar 1O molar
/ dentes
rão o tipo de movimento dos dentes e o controle
Ápice à borda
31,6 29,8 30,3
radicular destes. Diversos trabalhos na literatura incisal/oclusal
avaliaram este sistema de forças, entretanto o fize- Borda incisal/
oclusal à crista 11,2 10,9 10,4
ram desconsiderando o relativo movimento entre alveolar
as unidades anterior e posterior após a ativação do Crista alveolar ao
20,4 18,9 19,9
aparelho2,3,7,10,20,21. Portanto, a avaliação dessas alças ápice

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LOTTI, r. s.; MAZZIEIRO, e. t.; LANDRE Jr., j.

e um primeiro molar inferior do lado esquerdo. A mecânica sem atrito para retração do canino
A anatomia e a forma dentária foram baseadas foi realizada por uma alça T segmentada de aço
em uma tomografia computadorizada do acervo inoxidável sem dobras de pré-ativação (passiva).
da PUC-MG. Por meio das imagens obtidas da to- As dimensões da alça (Fig. 1) obedeceram aos cri-
mografia, construiu-se o modelo em um programa térios de Burstone e Koenig3. A partir desta alça
de desenho gráfico SolidWorks (SolidWorks Corp. padrão, alterou-se o comprimento das hastes ho-
- EUA). A tabela 1 ilustra o maior comprimento rizontais de forma que a alça permanecesse mais
destes dentes em milímetros, tomando como refe- próxima ao molar ou ao canino, obtendo desta for-
rência a maior medida a partir de seu longo eixo. ma 3 modelos (Fig. 2): com a alça mais próxima ao
molar (modelo 1), centralizada (modelo 2) e mais
próxima ao canino (modelo 3).
10,0 mm
O braquete e o tubo foram modelados com
2,0 mm
secção transversal 0,018” x 0,030”, semelhante ao
7,0 mm fio ortodôntico, estabelecendo um contato justo
entre essas superfícies e evitando possíveis erros
1,5 mm
durante a obtenção dos resultados. Posicionou-se o
acessório no molar a 3,5mm de sua borda oclusal
FIGURA 1 - Dimensões da alça em T modelada.

A B C
FIGURA 2 - Modelos das alças utilizadas e seus posicionamentos inter-braquetes: A) Modelo 1 - próximo ao molar; B) Modelo 2 - equidistante; C) Modelo 3 – próximo
ao canino.

FIGURA 3 - Malha do modelo. FIGURA 4 - Aplicação da força na alça.

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e transferiu-se esta medida para o canino de forma de pré-ativação. A figura 4 demonstra como estas
que este ficasse passivo, estabelecendo, portanto, forças foram aplicadas. Padronizou-se a carga de
uma altura de 5,0mm de sua ponta de cúspide. 1 Newton (N) para dimensionar os resultados, e
Para a modelagem de uma estrutura pelo MEF facilitar sua interpretação.
torna-se necessária a sua discretinização, ou seja, Apenas o deslocamento do canino e do mo-
a subdivisão em uma série de elementos unidos lar foram avaliados nas direções X, Y, e Z. Nesta
por nós que juntos formam uma malha (Fig. 3). análise somente o deslocamento inicial do dente é
A malha deste modelo consistiu em 69.900 ele- estudado, não representando seu movimento final
mentos tetraédricos interconectados por 14.880 durante a aplicação desse sistema em pacientes,
nós com três graus de liberdade correspondendo aos e sim sua tendência de movimento inicial. A in-
deslocamentos nas direções X (mesial para distal), terpretação dos resultados foi realizada por meio
Y (vestibular para lingual) e Z (apical para oclu- de uma escala de cores presente em cada figura
sal), caracterizando-se desta forma um modelo demonstrando a magnitude de deslocamento em
tridimensional (Fig. 3). O modelo foi imobilizado cada direção e seu sentido. O objetivo não foi
nas bordas laterais da mandíbula para evitar defor- quantificar o movimento e sim, descrevê-lo em
mações do conjunto e deslocamentos das extre- termos qualitativos.
midades, de forma a possibilitar somente a avalia-
ção do deslocamento do elemento dentário. Esta
fixação foi realizada restringindo o deslocamento 5,36-010
4,91-010
dessas partes nas direções X, Y e Z. 4,46-010

Os materiais utilizados neste modelo possuem 4,02-010


3,57-010
propriedades elásticas, isotrópicas e homogêneas, 3,12-010

caracterizando desta forma um modelo linearmen- 2,67-010


2,23-010
te elástico. Os valores das propriedades do dente 1,78-010
1,33-010
e do osso alveolar foram baseados em um estudo 8,84-011

prévio de Tanne et al.26 As propriedades mecâni- 4,37-011


-1,05-012
cas do fio de aço foram determinados de acordo -4,58-011

com informações do fabricante Morelli (Sorocaba, -9,05-011


-1,35-010

SP). Para o braquete utilizou-se as mesmas pro- A default_Fringe


Max 5,36-010 @ Nd 9130
priedades do fio de aço, descritas na tabela 2. Min -1,35-010 @ Nd 13553

Forças adequadas foram aplicadas nas alças si- 5,36-010


4,91-010
mulando o seu fechamento de forma que a de- 4,46-010

composição de seus componentes de força fossem 4,02-010


3,57-010
similares ao fechamento de uma alça sem dobras 3,12-010
2,67-010
2,23-010
1,78-010
1,33-010

Tabela 2 - Propriedades mecânicas dos materiais. 8,84-011


4,37-011
MÓDULO DE YOUNG COEFICIENTE DE -1,05-012
MATERIAL
(MPa) POISSON -4,58-011
-9,05-011
Dente 2 x 103 0,15 -1,35-010

Osso alveolar 1,4 x 103 0,15 default_Fringe


Max 5,36-010 @ Nd 9130
B Min -1,35-010 @ Nd 13553
Braquete 1,93 x 105 0,305
FIGURA 5 - Deslocamento dos elementos dentários em X (modelo 1): A) Vista
Fio de aço 1,93 x 105 0,305
oclusal; B) Vista lateral.

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RESULTADOS locou em maior magnitude no sentido de X do


Os resultados obtidos foram analisados em re- que a face lingual e o mesmo pode ser visualiza-
lação ao deslocamento nas direções X, Y e Z, e do no molar, entretanto, no sentido oposto a X
as tensões em Von Mises (média das tensões sem resultando em uma rotação disto-lingual e me-
sentido ou direção) no osso alveolar. sio-lingual destes dentes, respectivamente (Fig.
5, 6, 7).
Análise do deslocamento no eixo X Comparando-se a magnitude de rotação no ca-
Nos três modelos de alça observou-se que o nino e no molar (Tab. 3, 4) entre os modelos, ou
deslocamento da coroa do canino ocorreu de me- seja, observando o quanto a face vestibular deslo-
sial para distal e o oposto para a coroa do molar, cou mais do que a lingual em termos relativos em
sendo que o ápice deslocou-se em sentido oposto cada modelo, constata-se que a rotação do molar
da coroa, indicando uma inclinação descontrolada no modelo 3 foi maior do que no modelo 2, e me-
destes dentes (Fig. 5, 6, 7). A magnitude de deslo- nor no modelo 1. No canino os valores relativos
camento do canino foi significativamente superior em relação à rotação foram similares, entretanto
ao do molar em todos os modelos. o modelo 1 apresentou menos rotação, seguido do
Em uma vista oclusal nos três modelos, pode- modelo 3 e 2.
se observar que a face vestibular do canino des- Ao analisar o ângulo de inclinação no canino
nos três modelos constatou-se que este foi menor
no modelo 3, seguido do modelo 2 e 1 (Tab. 5).
5,72-010
Comparando em valores relativos, esta inclinação
5,26-010
4,80-010 foi 1,41 vezes maior no modelo 1 e 1,08 vezes
4,33-010
3,87-010
maior no modelo 2, quando comparado ao mode-
3,41-010
2,95-010
lo 3. Em outras palavras, o controle da inclinação
2,48-010
2,02-010
1,56-010
1,09-010
4,52-010
6,29-011
4,16-010
1,65-011
3,80-010
-2,98-011
3,44-010
-7,61-011
3,08-010
A -1,22-010
2,72-010
default_Fringe 2,36-010
Max 5,72-010 @ Nd 9130 2,00-010
Min -1,22-010 @ Nd 13553
1,64-010
1,28-010
9,20-011
5,72-010 5,60-011
5,26-010 1,99-011
-1,61-011
4,80-010
-5,22-011
4,33-010 -8,82-011
3,87-010
A
3,41-010 4,52-010
2,95-010 4,16-010
2,48-010 3,80-010
2,02-010 3,44-010

1,56-010 3,08-010
2,72-010
1,09-010
2,36-010
6,29-011
2,00-010
1,65-011 1,64-010
-2,98-011 1,28-010

-7,61-011 9,20-011

-1,22-010 5,60-011
1,99-011
default_Fringe
Max 5,72-010 @ Nd 9130 -1,61-011
Min -1,22-010 @ Nd 13553 -5,22-011
B -8,82-011
B
FIGURA 6 - Deslocamento dos elementos dentários em X (modelo 2): A) Vista FIGURA 7 - Deslocamento dos elementos dentários em X (modelo 3): A) Vista
oclusal; B) Vista lateral. oclusal; B) Vista lateral.

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A influência do posicionamento ântero-posterior da alça T segmentada durante o movimento de retração inicial: uma avaliação pelo método dos elementos finitos

do canino com a alça próxima a este foi mais efe- Tabela 3 - Comparação da magnitude de rotação do molar
tivamente realizado. em valor relativo e absoluto.
Deslocamento da face vestibular e lingual do molar
Análise do deslocamento no eixo Y Deslocamento absoluto Diferença Valor
Modelos
Ocorreu um certo grau de vestibularização e Vestibular Lingual entre as faces relativo

lingualização das faces mesiais e distais dos ele- 1 -1,35-010 -1,05-012 - 1,34-010 0,99
mentos dentários indicando a presença de uma 2 -1,22-010 1,65-011 -1,38-010 1,13
rotação disto-lingual no canino e mesio-lingual no 3 -8,82-011 1,99-011 - 1,08-010 1,22
molar (Fig. 8, 9, 10).
Ao se comparar o deslocamento do canino
entre o modelo 1 e o 2 observa-se que a área de Tabela 4 - Comparação da magnitude de rotação do canino
deslocamento para vestibular diminuiu e para lin- em valor relativo e absoluto.
gual aumentou no modelo 2, resultando em um Deslocamento da face vestibular e lingual do canino

maior deslocamento para a lingual deste dente. Deslocamento absoluto Diferença Valor
Modelos
entre as faces relativo
Ao incluir o modelo 3 na análise constata-se que Vestibular Lingual

a área do canino com deslocamento para lingual 1 4,91-010 3,44-010 3,58-010 0,72

diminuiu em pequena magnitude (diferença de 2 4,33-010 1,09-010 3,24-010 0,74

uma cor somente) em relação ao modelo 2, e 3 3,44-010 9,20-011 2,52-010 0,73

aumentou em relação ao modelo 1, ocorrendo o


contrário com a área que se deslocou para a ves-
tibular. A magnitude do deslocamento para vesti- Tabela 5 - quantidade de inclinação do canino em cada
bular, quando comparado ao deslocamento para a modelo em graus, e valor relativo.
lingual em cada modelo, foi maior no modelo 1 e Inclinação do canino em x

menor nos modelos 2 e 3, ocorrendo o oposto na Modelos Ângulo Valor relativo

face lingual. 1 9,6o 1,41

Comparando o deslocamento em Y do molar 2 7,4o


1,08

pequenas variações são encontradas entre os mo- 3 6,8o 1

delos, entretanto, observa-se uma diminuição da


área do molar em direção à vestibular e aumen-
to da área em direção à lingual, à medida que deslocamento para a lingual e em maior magni-
a alça se aproxima do canino. Em contrapartida, tude quando comparado ao deslocamento para a
em todos os modelos ocorreu uma maior área de vestibular.

1,08-010
8,84-011 1,94-010 1,30-010
6,90-011 1,71-010 1,13-010

4,96-011 1,49-010 9,59-011

3,02-011 1,26-010 7,91-011


1,08-011 1,04-010 6,23-011
-8,61-012 8,10-011 4,55-011
-2,80-011 5,84-011 2,87-011
-4,74-011 3,58-011 1,19-011
-6,68-011 1,32-011 -4,96-012
-8,62-011 -9,36-012 -2,18-011
-1,06-010 -3,20-011 -3,86-011
-1,25-010 -5,46-011 -5,54-011
-1,44-010 -7,72-011 -7,22-011
-1,64-010 -9,98-011 -8,91-011
-1,83-010 -1,22-010 -1,06-010
-1,45-010 -1,23-010
default_Fringe
Max 1,08-010 @ Nd 7803
Min -1,83-010 @ Nd 9145

FIGURA 8 - Deslocamento dos elementos dentários FIGURA 9 - Deslocamento dos elementos dentários FIGURA 10 - Deslocamento dos elementos dentá-
em Y (modelo 1). em Y (modelo 2). rios em Y (modelo 3).

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Análise do deslocamento no eixo Z canino e o molar exatamente ao meio em uma


A análise do deslocamento vertical dos dentes vista oclusal, pode-se observar que na medida
(Fig. 11, 12, 13) demonstrou a presença de extru- em que esta reta desloca-se da vestibular para a
são em todos os modelos, tanto no canino como lingual, a quantidade de extrusão diminui no ca-
no molar. Entretanto, também puderam ser obser- nino e no molar em todos os modelos. Esta dife-
vadas áreas de intrusão, em maior ou menor grau, rença indica que um torque lingual de coroa está
decorrentes da inclinação dentária. ocorrendo nestes dentes, e em maior magnitude
No modelo 1, o canino apresentou uma menor no canino.
área extrusiva em comparação com os outros mo-
delos, e sua ponta de cúspide intruiu ligeiramen- Análise da tensão Von Mises no osso alveolar
te. Um aumento da área de extrusão deste den- Analisando a tensão Von Mises no osso alveolar
te pode ser visualizado nos modelos 2 e 3, com da mandíbula (Fig. 14, 15, 16), pode-se constatar
pouca diferença entre ambos. O oposto ocorreu que as regiões de maior tensão correspondem à
no molar, enquanto a maior área extrusiva ocorreu direção do deslocamento dos dentes. Uma maior
no modelo 1, seguido do 2 e por último o 3. magnitude de tensão se apresentou ao redor do
Ao traçar uma reta imaginária dividindo o canino quando comparado ao molar, correspon-

1,05-010 1,11-010

8,81-011 9,60-011

7,13-011 8,13-011

5,46-011 6,67-011

3,78-011 5,21-011

2,10-011 3,75-011
4,24-012 2,29-011

-1,25-011 8,24-012
-2,93-011 -6,37-012
-4,61-011 -2,10-011

-6,28-011 -3,56-011

-7,96-011 -5,02-011
-9,64-011 -6,49-011

-1,13-010 -7,95-011

-1,30-010 -9,41-011
-1,47-010 -1,09-010
A A
1,05-010
8,81-011
1,11-010
7,13-011
9,60-011
5,46-011
8,13-011
3,78-011
6,67-011
2,10-011
5,21-011
4,24-012
3,75-011
-1,25-011
2,29-011
-2,93-011
-4,61-011 8,24-012
-6,37-012
-6,28-011
-2,10-011
-7,96-011
-3,56-011
-9,64-011
-5,02-011
-1,13-010
-6,49-011
-1,30-010
-1,47-010 -7,95-011

default_Fringe -9,41-011
Max 1,05-010 @ Nd 7643 -1,09-010
B Min -1,47-010 @ Nd 7782 B
FIGURA 11 - Deslocamento dos elementos dentários em Z (modelo 1): A) Vista FIGURA 12 - Deslocamento dos elementos dentários em Z (modelo 2): A) Vista
oclusal; B) Vista lateral. oclusal; B) Vista lateral.

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A influência do posicionamento ântero-posterior da alça T segmentada durante o movimento de retração inicial: uma avaliação pelo método dos elementos finitos

2,46-002
1,05-010 2,30-002

9,14-011 2,13-002

7,82-011 1,97-002
1,80-002
6,49-011
1,64-002
5,17-011 1,48-002
3,84-011 1,31-002
1,15-002
2,52-011
9,85-003
1,20-011
8,21-003
-1,29-012 6,57-003
-1,45-011 4,93-003

-2,78-011 3,29-003
1,65-003
-4,10-011
1,07-005
-5,43-011 default_Fringe
-6,75-011 Max 2,46-002 @ Nd 6163
Min 1,07-005 @ Nd 7550
-8,08-011

A
-9,40-011 FIGURA 14 - Análise das tensões em Von Mises na mandíbula (Modelo 1).

1,05-010
9,14-011 2,18-002
7,82-011 2,04-002
1,89-002
6,49-011
1,75-002
5,17-011
1,60-002
3,84-011 1,46-002
2,52-011 1,31-002

1,20-011 1,16-002
1,02-002
-1,29-012
8,74-003
-1,45-011
7,28-003
-2,78-011 5,83-003
-4,10-011 4,37-003

-5,43-011 2,92-003
1,46-003
-6,75-011
5,38-006
-8,08-011 default_Fringe
-9,40-011 Max 2,18-002 @ Nd 6163
Min 5,38-006 @ Nd 7550
B
FIGURA 13 - Deslocamento dos elementos dentários em Z (modelo 3): A) Vista FIGURA 15 - Análise das tensões em Von Mises na mandíbula (Modelo 2).
oclusal; B) Vista lateral.

1,64-002
1,53-002
1,42-002

dente à unidade de maior deslocamento. O padrão 1,32-002


1,21-002

de distribuição das tensões é semelhante entre os 1,10-002


9,87-003

modelos, indicando o mesmo tipo de movimento 8,77-003


7,67-003
6,58-003
em todos, diferindo apenas na intensidade da ten- 5,48-003
4,39-003

são apresentada. O valor de tensão máxima ob- 3,29-003


2,20-003

servado no topo da escala de cores no modelo 1 1,10-003


4,01-006

(2,46-002) apresenta-se maior do que no modelo default_Fringe


Max 1,64-002 @ Nd 6163
Min 4,01-006 @ Nd 7550

2 (2,18-002) e por último 3 (1,64-002). Como a FIGURA 16 - Análise das tensões em Von Mises na mandíbula (Modelo 3).
maior tensão encontra-se ao redor do canino, esta
diferença indica que o deslocamento do canino no
modelo 1 foi maior do que no modelo 2, seguido e sim descrevê-lo em termos qualitativos. Este
do modelo 3. modelo matemático apenas avalia o deslocamento
inicial do dente, ou seja, a sua tendência de mo-
DISCUSSÃO vimento. Biologicamente, após este deslocamento
Os resultados obtidos neste trabalho não têm inicial, uma série de fenômenos celulares ocor-
como objetivo quantificar o movimento dentário rem, resultando no movimento real e constatado

R Dental Press Ortodon Ortop Facial 48 Maringá, v. 11, n. 3, p. 41-54, maio/jun. 2006
LOTTI, r. s.; MAZZIEIRO, e. t.; LANDRE Jr., j.

em diversas situações clínicas. Por estes motivos, movimento dentário e liberar níveis de força cons-
as conclusões resultantes desta pesquisa consistem tante durante a desativação da alça. A não inclusão
em apenas indicar o que estaria ocorrendo inicial- de dobras de pré-ativação na alça desse estudo foi
mente. A resposta biológica individual poderá fa- limitada pelo fato deste ser um modelo matemá-
vorecer ou não a ocorrência destes fatos. tico e, dessa forma, não ser possível modelar uma
Diversos são os tipos de metodologias que po- alça ativa, tendo esta que ser inserida no modelo de
dem ser empregadas em trabalhos avaliando a mo- forma passiva. Desta forma, os resultados obtidos
vimentação dentária, como por exemplo, estudos neste estudo refletem como o movimento dentá-
em animais e/ou humanos8,30, modelos matemáti- rio ocorre na ausência das dobras de pré-ativação,
cos22, análises experimentais in vitro10,21, modelos diferente do que é utilizado na clínica. No entanto,
fotoelásticos5, laser holográficos4 e métodos mecâ- pode-se avaliar o sistema de força desta alça sem
nicos analíticos como o MEF11,16,23. Cada um des- dobras de pré-ativação, identificar seus efeitos cola-
ses métodos possui vantagens e desvantagens. terais e, conseqüentemente, ressaltar a importância
Como vantagem, ao se utilizar o MEF, torna-se de se utilizar artifícios para minimizá-los. Em rela-
fácil a modificação de parâmetros da geometria do ção à escolha de se utilizar o aço inoxidável, justifi-
objeto a ser estudado, simplificando o estudo e a ca-se pelo fato de existirem poucos trabalhos na li-
obtenção de resultados, além de possibilitar uma teratura avaliando alças segmentadas deste material
maior precisão e compreensão destes. e por possuir um custo mais acessível do que a liga
A movimentação ortodôntica induzida ao den- de titânio molibdênio que geralmente é o material
te é dependente do tempo e, após a remoção da de escolha para esta mecânica.
força, ele não retorna completamente à sua po- Apesar das limitações do MEF nesta pesquisa,
sição de origem. Essa característica classifica esse ao revisarmos todos os tipos de metodologia exis-
movimento como viscoplástico. A desvantagem tentes para confecção de um trabalho semelhan-
do modelo utilizado neste trabalho consiste na te, como por exemplo, estudos em animais e/ou
impossibilidade de se incluir as características vis- humanos8,30, modelos matemáticos analíticos22,
coplásticas dos elementos analisados. Entretanto, análises experimentais in vitro10,21, modelos foto-
a formulação de um trabalho com tais caracte- elásticos5 e laser holográficos4, verifica-se também
rísticas até os dias de hoje, coloca os resultados a presença de limitações em todos estas metodo-
em questionamento pelo fato de não se conhecer logias.
plenamente as propriedades viscoplásticas do li- Nos modelos analisados o deslocamento inicial
gamento periodontal13. Além disso, a presença do do canino foi superior ao do molar em todas as
ligamento periodontal estaria influenciando ape- direções. Pode-se compreender o maior desloca-
nas a quantidade de deslocamento dentário e não mento deste dente quando se considera a menor
sua qualidade17,29, portanto, por estes motivos esta área de superfície de contado do canino quando
estrutura não foi modelada. Dessa forma, somen- comparado ao molar e a presença do segundo pré-
te o deslocamento inicial pôde ser observado nas molar ajudando a manter a ancoragem na região
análises com o MEF. posterior. Constatou-se que toda a reação inicial
Outra desvantagem do modelo diz respeito às incidiu sobre este dente, ou na unidade que mais
alças T. De acordo com Kuhlberg e Burstone10 uma facilmente se desloca, a não ser que, esta encontre
alça T ideal deveria ser confeccionada com liga de uma resistência ao movimento.
titânio molibdênio (TMA, Ormco) e possuir do- Para que este fato possa ser transportado para
bras de pré-ativação adequadas. Estas característi- a clínica, é necessário levar em consideração que
cas seriam capazes de conferir controle radicular ao existe uma resposta biológica controlando esta

R Dental Press Ortodon Ortop Facial 49 Maringá, v. 11, n. 3, p. 41-54, maio/jun. 2006
A influência do posicionamento ântero-posterior da alça T segmentada durante o movimento de retração inicial: uma avaliação pelo método dos elementos finitos

situação. Diversos trabalhos demonstraram que determinadas características: 1) a carga/deflexão,


durante a aplicação de uma força a um elemento esta deverá ser pequena para que se possua uma
dentário, uma área de tecido hialino se formará em dissipação gradual da força; 2) a quantidade to-
menor ou maior intensidade, podendo levar a uma tal de força dispensada por esta alça, que deverá
diminuição, atraso, ou impedimento do movimen- estar dentro da magnitude correta para a obten-
to dentário8,15. Esta reação e suas conseqüências ção do movimento; 3) a relação momento/força
dependerão da magnitude da força aplicada e da (M/F), que irá determinar o tipo de movimento a
resposta biológica do indivíduo8,9,14,15. Portanto, ser obtido, devendo, portanto ser o mais constante
caso uma grande área de tecido hialino se forme possível; e 4) a força elástica máxima, para impe-
em um canino, por exemplo, em decorrência da dir a deformação do aparelho1,2,3. O ideal em todo
aplicação de uma força superior à adequada, ocor- aparelho é a obtenção de um sistema de forças
rerá uma diminuição ou atraso do movimento8,15. constante e previsível1.
Isto favorecerá o movimento mesial dos dentes Os resultados deste estudo demonstraram que
posteriores levando à perda de ancoragem8,19, ou em todos os modelos o canino obteve um movi-
ao aparecimento de áreas de reabsorção ao redor mento de inclinação descontrolada, sua coroa des-
das raízes dentárias8,15. Caso esta força possua uma locou-se para a distal e o ápice para mesial no eixo
magnitude correta e coerente com o tipo de movi- X; rotacionou no sentido disto-lingual resultando
mento a ser obtido, sugere-se que o resultado a ser em um deslocamento da face distal para a lingual
encontrado será o maior deslocamento do canino e da face mesial para a vestibular; sofreu intrusão
em relação ao molar, ou da unidade de ancoragem, em algumas regiões e extrusão em outras, em me-
com mínimo movimento dos dentes posteriores e nor ou maior grau, e torque para lingual de coroa.
danos às estruturas de suporte8. O molar em todos os modelos obteve um movi-
A magnitude de força adequada para movi- mento de inclinação descontrolada, com a coroa
mentar qualquer elemento dentário, dependerá de deslocando-se em direção a mesial e o ápice para a
diversos fatores, como o tipo de movimento a ser distal; rotação no sentido mesio-lingual resultando
obtido6, 14,27,25, a resposta biológica individual9,14, e em deslocamento da face mesial para lingual e da
a área de contato deste dente com o ligamento face distal para vestibular; intrusão e extrusão de
periodontal, ou seja, anatomia e tamanho dentário determinadas regiões, e um torque para lingual de
e quantidade de perda de suporte ósseo6,16,23,26 . coroa. A diferença entre os modelos consistiu na
A literatura preconiza uma variação da magni- intensidade dos movimentos.
tude de força para a retração com um movimento Pelos princípios básicos de biomecânica pode-
de corpo dos caninos entre 100 a 200 gramas6,14,19. se compreender todos estes resultados. Qual-
Entretanto, Tanne, Sakuda e Burstone27 destaca- quer força aplicada longe do centro de resistên-
ram que para se determinar a quantidade de força cia (Crês) de um dente criará um movimento e
ótima para o movimento dentário, seria necessário um momento no sentido da aplicação da força20.
relacioná-la com a intensidade de tensão gerada O ponto de aplicação da força nestes modelos lo-
no ligamento periodontal, e não com o movimen- calizou-se na região do braquete no canino e do
to propriamente dito. tubo no molar, ambos distante do Crês destes den-
Em qualquer tipo de mecânica de retração dos tes. Portanto, esta força gera um momento, provo-
caninos que se objetiva um máximo controle da cando a inclinação dentária, a rotação e o torque
ancoragem, é imprescindível a utilização da cor- lingual de coroa devido à extrusão.
reta magnitude de força. Portanto, durante a es- Uma característica destas alças de retração é
colha de uma alça de retração deve-se considerar gerar momentos na região do braquete no sentido

R Dental Press Ortodon Ortop Facial 50 Maringá, v. 11, n. 3, p. 41-54, maio/jun. 2006
LOTTI, r. s.; MAZZIEIRO, e. t.; LANDRE Jr., j.

contrário ao momento gerado pela força, dimi- será insuficiente para que se obtenha controle ra-
nuindo a inclinação do dente. A intensidade deste dicular. A incorporação de pré-ativações aumenta
momento dependerá do desenho da alça, quan- a ancoragem do lado mais próximo à alça2, uma
tidade de fio incorporado, dimensões verticais e vez que a relação M/F é alta o suficiente para pro-
horizontais da alça, dimensão da secção transver- vocar uma inclinação da coroa no sentido oposto
sal do fio, material utilizado para sua confecção, ao da aplicação da força e garantindo um maior
e quantidade de dobras de pré-ativação incorpo- movimento dos dentes localizados na extremida-
radas2,3,7,10,18,21. O controle do movimento, com de oposta. Apesar deste trabalho não incluir do-
menor inclinação dentária e maior movimento de bras de pré-ativação, pode-se observar um menor
corpo (ou de translação), dependerá da magnitude deslocamento da região mais próxima à alça.
do momento e da força gerados pelo dispositivo Em todos os modelos um componente de for-
de retração, ou seja, da relação M/F. A magnitude ça extrusivo se fez presente. Parte do movimento
da relação M/F ditará o tipo de movimento dentá- observado na coroa foi intrusivo e parte extrusivo
rio20,24,25. Uma alça T sem a presença de dobras de devido à inclinação dentária e ao fato do movi-
pré-ativação, como a utilizada neste trabalho, pos- mento que está sendo avaliado ser somente o ini-
sui a capacidade de gerar momentos nos braquetes cial e, portanto, de pequena magnitude. Estas alças
de baixa magnitude, e portanto, incapaz de obter de retração geram componentes de força extrusi-
um movimento de corpo dos dentes resultando vos nos dentes quando ativadas. A magnitude des-
em inclinação dentária descontrolada3. Uma for- ta força dependerá de diversos fatores como a po-
ma de obter um maior controle deste movimento sição da alça, presença de dobras de pré-ativação,
seria a incorporação de dobras de pré-ativação2,3. e do equilíbrio do sistema de forças2,3,5,7,10. Neste
Entretanto, como este é um modelo linearmente trabalho, as dobras de pré-ativação não foram ana-
elástico, torna-se inviável este tipo de análise. Con- lisadas, entretanto variou-se a posição da alça, o
tudo, o estudo ressalta a importância da inclusão que influenciou neste componente de força.
das dobras de pré-ativação durante a confecção Ao relacionar a posição ântero-posterior da alça
desta alça. com o deslocamento vertical dentário no sentido
Comparando os resultados entre os modelos, de Z (extrusão, intrusão), pode-se constatar que
observou-se que em relação ao canino, a maior in- a quantidade de extrusão da coroa do molar foi
clinação ocorreu quando a alça estava próxima ao maior no modelo 1, seguido dos modelos 2 e 3. No
molar, e a medida que esta deslocou-se em direção canino, o menor deslocamento no sentido Z foi no
ao canino, a inclinação diminuiu. A quantidade de modelo 1, mantendo-se similares no modelo 2 e 3.
deslocamento diminuiu da mesma forma. Como Os trabalhos na literatura demonstram que uma
a magnitude de força utilizada nos modelos foi a alça centralizada e simétrica será capaz de promo-
mesma, supõe-se que o momento gerado por esta ver momentos opostos em cada extremidade e em
alça no braquete do canino é que provocou os di- igual magnitude, fazendo com que forças extrusi-
ferentes resultados, contribuindo para um maior vas e intrusivas sejam anuladas2,3,7,10. Entretanto, a
ou menor controle da inclinação dentária. Portan- avaliação é realizada em torno de um sistema está-
to, pode-se concluir que o momento aumentou, tico, com máquinas de ensaio universal e transdu-
gerando uma maior relação M/F nesta extremida- tores de momento, não sendo capaz de avaliar um
de, quando a alça estava próxima ao canino. De sistema dinâmico em que uma unidade poderá ou
acordo com Burstone e Koenig3 mesmo uma alça não se movimentar em maior magnitude em rela-
T sem dobras de pré-ativação é capaz de gerar ção à outra. A avaliação realizada neste trabalho
momentos em suas extremidades, entretanto, este ocorreu dentro de um sistema dinâmico, em que o

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A influência do posicionamento ântero-posterior da alça T segmentada durante o movimento de retração inicial: uma avaliação pelo método dos elementos finitos

deslocamento de ambas extremidades foi conside- não foi impedido, demonstrando o comportamen-
rado e, portanto, foi constatada diferença quanto à to do sistema de forças desta alça.
magnitude de deslocamento entre a unidade an- A quantidade de movimento para a vestibular
terior e posterior. Estas diferenças poderiam, com ou rotação do canino foi maior no modelo 1, se-
isso, contribuir para a quebra de um equilíbrio do guido do 3 e depois 2, com pouca diferença entre
sistema de forças, gerando forças extrusivas e in- o modelo 3 e 2. No molar, o modelo que menos se
trusivas nos elementos dentários. deslocou para a vestibular ou rotacionou foi o mo-
Diversos trabalhos demonstraram que a extre- delo 1, seguido do 2 e por último 3, demonstran-
midade mais próxima à alça deveria extruir e a do um padrão de acordo com o posicionamento
oposta intruir2,3,7,10. O modelo 1 avaliado seguiu da alça. Este mesmo padrão não foi encontrado
este padrão, observando uma pequena, entretanto no canino, provavelmente devido a uma pequena
presente, intrusão da ponta de cúspide e do ápice diferença em relação à distância da alça ao dente/
radicular do canino. Os deslocamentos extrusivos braquete nesses modelos. Não foi possível padro-
ocorreram em decorrência da inclinação deste nizar esta distância nos três modelos no canino, so-
dente. O modelo 3 demonstrou que a magnitude mente o molar apresentou este tipo de padroniza-
de extrusão do molar foi menor quando compara- ção. Para isto, seria necessário realizar um desenho
da aos outros modelos indicando uma tendência simulando dobras no fio que poderiam dificultar
de intrusão deste dente, sem entretanto, constatar as comparações, e inclusive seu desenho, consti-
uma intrusão verdadeira. Uma possível explicação tuindo portanto, mais uma limitação deste mode-
para esta observação seria porque somente uma lo matemático. No canino, a menor distância entre
magnitude de deslocamento pequena pôde ser alça e o dente/braquete se fez presente no modelo
observada (movimento inicial) e o molar possui 1, seguido do 3 e depois 2, sendo similar ao pa-
uma área muito maior em comparação ao canino, drão de rotação encontrado. Como esta distância
tornando-se necessária, portanto, uma força muito no molar foi igual nos três casos, pode-se concluir
elevada para provocar sua intrusão verdadeira ou que a região mais próxima da alça rotaciona em
a avaliação de um deslocamento em maior quan- menor quantidade. Quanto mais distante a alça
tidade e extensão. estiver, maior será o braço de alavanca nesta ex-
Observou-se nos resultados a presença de ro- tremidade, gerando maiores momentos e maiores
tações do canino e no molar, o que pode ser expli- rotações, como neste caso.
cado por meio dos princípios básicos de biomecâ- Após a análise e discussão dos resultados ob-
nica, uma vez que a força está incidindo longe do serva-se que as constatações realizadas elucidam
centro de resistência, gerando um momento que as bases científicas para a realização da mecânica
produzirá rotações20. De acordo com Burstone2 segmentada de retração dos caninos com critério
um dos tipos de ativação deste aparelho deveria e segurança. Apesar dos resultados serem diferen-
ser o de anti-rotação, incorporando dobras de pré- tes dos constatados em outros trabalhos que ava-
ativação no sentido vestíbulo-lingual. Entretanto, liaram a alça T com dobras de pré-ativação e de-
Ziegler e Ingervall30 realizaram um experimento monstraram um movimento inicial de inclinação
clínico e observaram que mesmo na presença des- controlada, seguido de translação e movimento ra-
tas dobras de anti-rotação, o giro se fez presente, dicular10,12,21, pode-se constatar com este trabalho,
demonstrando a dificuldade de controle do mo- a importância da inclusão das dobras de pré-ativa-
vimento no plano transverso. Como a alça deste çao em prol de um movimento mais controlado.
estudo foi inserida passiva em todos os planos, sem É importante esclarecer também que com o MEF
pré-ativações, o movimento de rotação dos dentes apenas o deslocamento inicial foi avaliado, não

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sendo possível avaliar as outras etapas do movi- • Em todas as posições da alça, ocorrerá um
mento dentário durante, por exemplo, a desativa- movimento intrusivo e extrusivo em decorrência
ção do aparelho. Entretanto, foi possível ressaltar da inclinação dentária, sendo que o componente
as possíveis implicações da utilização desta me- de força extrusivo será maior do lado mais próxi-
cânica e a importância deste conhecimento para mo a alça e o componente intrusivo maior no lado
que se possa lançar mão de meios que impeçam a mais afastado da alça;
manifestação de seus efeitos indesejados e conse- • A alça equidistante entre o canino e o molar
qüentemente impedindo o descontrole mecânico não elimina por completo o componente extrusi-
do tratamento. vo do movimento dentário;
• A distribuição das tensões em Von Mises ao
CONCLUSÕES redor do osso alveolar indicam uma maior magni-
De acordo com a metodologia empregada e tude de tensões ao redor do canino do que no mo-
considerando-se as limitações impostas pelo mo- lar, com a tensão máxima apresentando-se maior
delo experimental em MEF, observou-se que a quando a alça se localiza próxima ao molar;
variação do posicionamento de uma alça em aço • A não inserção de pré-ativações de anti-incli-
inoxidável e sem dobras de pré-ativação de anti- nação e anti-rotação, impossibilita a obtenção de
inclinação e anti-rotação para a retração dos cani- um movimento por inclinação controlada, transla-
nos com arco segmentado implicará nos seguintes ção e radicular;
efeitos: • A utilização do MEF não permite a avalia-
• A aproximação da alça a uma das unidades ção mecânica da alça T de retração com os ajustes
(anterior ou posterior) tenderá a diminuir seu des- apropriados para sua utilização clínica;
locamento e sua inclinação; • A avaliação da alça T sem dobras de pré-ati-
• A magnitude de rotação será maior nos den- vação ressalta a importância destas para obter um
tes mais afastados da alça e qualquer que seja sua movimento de translação.
posição, esta irá gerar um deslocamento para a
vestibular dos dentes, em decorrência de sua ro-
tação; Enviado em: maio de 2004
Revisado e aceito: setembro de 2004

The influence of the segmented T-loop anteroposterior position on the initial


retraction movement: an evaluation by means of the finite element method

Abstract
Aim: this study evaluated the effect produced by segmented stainless steel T-loop in different positions between
a canine and a first lower molar on the force system by the FEM (Finite Element Method). Methods: the type of
movement of each anchorage units and the stress found in the alveolar bone were assessed in each T-loop posi-
tions. The loop was made without preactivations bends. The posterior segment of the left side of the mandible,
a canine, second premolar and first molar was modelated. There were obtained 3 different T-loop positions: close
to the canine, close to the molar and in a centered position. The initial displacement of those teeth and relative
differences between them were evaluated in qualitative terms. Results and Conclusions: when the tooth was clo-
se to the loop its displacement and inclination was smaller. An extrusive component of force was presented in all
models, however it was smaller for the tooth far away from the loop. Displacements of those teeth to the lingual
and buccal sides were observed as a result of relative rotation. This effect was more evident when the tooth was
far from the loop. The canine displacement was more significant than the molar in all models. The stress analysis
on the alveolar bone indicated higher levels around the canine and when the loop was close to the molar.

Key words: Biomechanics. Orthodontics. Space closure.

R Dental Press Ortodon Ortop Facial 53 Maringá, v. 11, n. 3, p. 41-54, maio/jun. 2006
A influência do posicionamento ântero-posterior da alça T segmentada durante o movimento de retração inicial: uma avaliação pelo método dos elementos finitos

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