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01/08/2019 Unidade 3 - Abordagem Prática

►Tema
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►Tema
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►Tema
3
►Tema ► Tema 1 - O Distrito Sanitário Especial Indígena - Serra das
4 Capivaras
►Menu
do
unidade

 
O Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) Serra das
Capivaras (nome ctício) localiza-se na região da Amazônia
Legal.
A população do DSEI é atendida por uma Equipe
Multidisciplinar de Saúde Indígena (EMSI) composta por dois
médicos, seis enfermeiras, três odontólogos, cinco auxiliares

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de enfermagem e 30 Agentes Indígenas de Saúde (AIS). A


população é formada por sete etnias, distribuídas em 35
aldeias, atendidas por três polos base (quadro 1).
 

 
A população vem mantendo contato cada vez mais intenso
com os municípios ao redor, cuja economia é baseada em
atividades extrativistas e no agronegócio (soja e pecuária
►Tema extensiva). Os povos indígenas atendidos pelo DSEI têm, em
1 média, cerca de 60 anos de contato com a nossa sociedade,
►Tema mantendo ainda estado de isolamento relativo, algo que tem
2 se modi cado rapidamente, à medida que se amplia o
desmatamento do entorno.
►Tema
3 Após os primeiros anos de convívio esta população passou por
um decréscimo severo, algo comum ao longo da história do
►Tema
4 contato entre povos indígenas e não indígenas, porém desde a
década de 1980 vem apresentando um crescimento
►Menu vegetativo acentuado, com altas taxas de natalidade,
do resultando em uma população com um predomínio absoluto
unidade
de jovens e crianças e uma proporção de idosos muito
pequena, distribuída conforme o quadro 2 e o grá co 1. Com a
queda progressiva das taxas de mortalidade, com coe ciente
de mortalidade geral (CMG) de 6,07/1000hab. em 2013, essa
população encontra-se em uma fase inicial de transição
demográ ca.
A Terra Indígena está demarcada, homologada e possui
1.600.000 hectares. O impacto do modelo de
desenvolvimento utilizado ao redor vem sendo sentido pela
deterioração da qualidade da água dos rios utilizada para o
consumo e pela diminuição da caça e da pesca, fontes
importantes de alimentos para todas as etnias do DSEI. A
instalação de fazendas e o surgimento de estradas e cidades
no entorno do DSEI Serra das Capivaras levou a uma
intensi cação das relações de contato da população indígena
com a sociedade não indígena. Como consequência, mudanças
no estilo de vida vêm sendo aceleradas nos últimos anos, com
destaque para a introdução cada vez maior de alimentos
industrializados e a necessidade crescente de dinheiro para
aquisição de bens manufaturados dos mais variados. A
intensi cação das relações de contato tem colaborado para o
surgimento de uma série de novos agravos à saúde, como a
dengue, as DSTs e o alcoolismo. Além destes, ainda vêm sendo
diagnosticados nos últimos anos casos de doenças crônicas
não transmissíveis (DCNT), em especial a Hipertensão Arterial
(HA) e o Diabetes Mellitus (DM).

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Com o aumento populacional, as terras disponíveis para


agricultura caram reduzidas, tornando a obtenção de
alimentos tradicionais, cada vez mais difícil. Antigamente isto
era resolvido com a mudança das aldeias para uma região
onde os alimentos eram abundantes e as terras férteis.
Atualmente, com a redução dos territórios e xação da
população nas aldeias em decorrência da existência de
escolas, poços artesianos, geradores, unidade de saúde e
outros bens, isso não é mais possível. Essa situação, associada
à deterioração das fontes de obtenção de água e o acúmulo de
lixo, tem causado sérios problemas de saneamento. O lixo
industrializado cada vez mais se acumula no entorno das
aldeias (incluindo lixo perigoso, como baterias e combustíveis).
►Tema Quando os problemas de saúde não são resolvidos nas aldeias
1 e polos base, os pacientes são encaminhados para o município
de Capim Pequeno, onde são alojados na CASAI (Casa de
►Tema Saúde Indígena) e atendidos nos serviços ambulatoriais e
2
hospitalares do município e referências regionais, que no geral
►Tema contam com pro ssionais pouco capacitados para trabalhar
3 com as especi cidades da população indígena. Os
►Tema atendimentos de maior complexidade, não resolvidos na
4 referência secundária, são encaminhados à capital do estado
ou ainda às referências nacionais (Brasília e São Paulo).
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►Tema
1  
►Tema Em relação aos indicadores de saúde do DSEI, encontramos
2 altas taxas de mortalidade infantil, em especial no
►Tema componente neonatal (quadro 3), que pode re etir problemas
3 na atenção pré-natal e no parto.
►Tema  
4
►Menu
do
unidade

 
A tuberculose é uma das grandes prioridades da Saúde Pública
no Brasil, uma vez que ele está entre os 22 países com maior
carga bacilar do Mundo (BRASIL, 2012), sendo por isso
importante compreender bem estes indicadores. A doença
tem sido relatada como um problema frequente em
populações indígenas e no DSEI Serra das Capivaras
encontramos um exemplo claro desta situação com o número
total de casos chegando a ser cerca de quatro vezes maior que
o da da população em geral.
 

 
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Os coe cientes de incidência apresentados acima (quadro 5)


idicam um risco elevado de adoecimento por tuberculose na
população do DSEI Serra das Capivaras, muito acima da média
das Américas (que em 2009 foi de 38 casos/100.000
habitantes), acima da média nacional (37,1/100.000
habitantes, em 2011), e aquém da meta preconizada para
considerar a patologia sob controle, con rmando a alta
vulnerabilidade dos povos indígenas à tuberculose. Observa-
se ainda uma ocorrência maior de casos pulmonares,
con rmando-se o observado na população não indígena. Nas
noti cações registradas no SINAN (Sistema de Informação de
Agravos de Noti cação) para a população em geral, cerca de
80% dos casos correspondem às formas pulmonares,
bacilíferas ou não, da tuberculose.
►Tema
1 Grande parte da população indígena brasileira
(aproximadamente 60%) vive na Amazônia Legal, em
►Tema condições precárias de habitação e saneamento. Em linhas
2
gerais, os domicílios costumam ser pouco ventilados e com
►Tema pouca iluminação natural. Usualmente cada um deles é
3 habitado por um grande número de pessoas e há presença
►Tema constante de fumaça de fogueiras (utilizadas para cozinhar e
4 aquecer a casa). Em muitas etnias se observa também altos
índices de desnutrição e parasitoses intestinais. Estas
►Menu particularidades acabam se con gurando como fatores de
do
unidade risco para o adoecimento por tuberculose, agravadas pela falta
de acesso a serviços de saúde. Desde a década de 1950, têm-
se informações consolidadas e disponíveis sobre a presença da
tuberculose entre os indígenas no Brasil. Vários estudos,
conduzidos em diferentes grupos étnicos e regiões do país,
revelam um número alto de ocorrências da doença, não
deixando dúvidas sobre a relevância sanitária da tuberculose
para os indígenas no Brasil.
Em relação à morbidade, quatro categorias de patologias
agrupam os problemas mais comuns: Doenças Infecciosas e
Parasitárias (10,9%); Doenças da Pele e Subcutâneo (4,8%);
Doenças Gastrointestinais (4,9%); e Doenças do Aparelho
Respiratório (21,8%), sendo que este último grupo,
isoladamente, corresponde a um quinto de toda a taxa de
morbidade registrada.
A maioria dos diagnósticos está na faixa etária de 0 a 4 anos,
correspondendo a 23,7% do total de registros. Nesta faixa
etária mantém-se o predomínio de doenças do aparelho
respiratório (53,4%) e doenças infecciosas e parasitárias
(20,7%), estas duas categorias correspondendo a 74,1% dos
registros para esta faixa etária, seguidas de doenças de pele e
do tecido subcutâneo (8,8%), e doenças do sistema digestório
(5,7%). Em um olhar mais detalhado, mesmo entre as doenças
respiratórias há um predomínio absoluto das Infecções
Respiratórias Agudas – 98,9% entre as doenças respiratórias
registradas em crianças de 0 a 4 anos, evidenciando a
vulnerabilidade desta população a estas infecções.

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Os adultos (20 anos ou mais) aparecem como responsáveis por


apenas 13,6% da morbidade registrada, mantendo o mesmo
padrão de patologias mais comuns: Doenças Infecciosas e
Parasitárias (19,9%); Doenças da Pele e Subcutâneo (5,2%);
Doenças do Sistema Digestório (14,7%); e Doenças do Sistema
Respiratório (22,8%), aparecendo ainda de maneira
signi cativa os grupos de Doenças do Sistema Nervoso
(14,7%); e Causas Externas (5,0%). A ocorrência de doenças
cardiocirculatórias (2,05%) e metabólicas (0,25%) é menor que
na população do país em geral, porém é preciso lembrar que se
está diante de uma população extremamente jovem e, como
há o aumento da expectativa de vida e o aparecimento destas
patologias tende a aumentar com a idade, a possibilidade de
um crescimento rápido da ocorrência de doenças crônicas não
►Tema transmissíveis (DCNT) em um período de poucos anos é algo
1
que deve ser levado em consideração.
►Tema
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►Tema
3
► Tema 2 - O polo base Rio dos Peixes
►Tema
4
►Menu
do O polo base Rio dos Peixes possui 4 aldeias (Quadro 6) na sua
unidade área de abrangência, com uma população de 584 pessoas. A
questão do assoreamento e contaminação dos rios, cujas
nascentes, infelizmente, estão localizadas fora da área
indígena, tem preocupado as lideranças indígenas do DSEI
Serra das Capivaras. Eis o relato de Matrinchã Grande,
liderança da aldeia dos Peixes:
"(...) lá nas cabeceiras dos rios nós estamos
tendo problemas. Se você está embaixo de
uma árvore, tudo o que vem de sujeira,
folha, vai cair em cima de você, em cima da
sua cabeça. Esse problema é de todos nós.
Que problema é esse? Todas as cabeceiras
estão sendo desmatadas, tem muito boi
cagando no rio e o pior: estão jogando
veneno (agroquímicos) na água, que vem
parar aqui. Talvez agora nós não estejamos
sofrendo tanto, mas os peixes, os macacos
e todos os animais estão sofrendo. É deles
que a gente se alimenta. Às vezes a gente
vai caçar lá longe e vê aquele macaco
magrinho, não tem mais fruta para ele
comer. Até o peixe está com gosto
diferente... Hoje temos que remar muito
para pegar peixe bom, a vida tá muito
difícil por aqui, não sei o que vai acontecer
com meus lhos e netos.... Outra coisa que
está deixando todo mundo preocupado é a
terra preta, terra boa para plantar.
Antigamente as roças eram todas perto da
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aldeia, hoje a gente tem que caminhar


muito para chegar na roça, mesmo assim a
terra não é muito boa. As roças estão
cando mais pequenas e com menos coisa
plantada, não tem mais mangarito,
amendoim, e as frutas também estão
longe da aldeia..."

►Tema
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►Tema
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►Tema
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Outra questão importante é o saneamento. A maioria das
►Menu
do aldeias possui sistemas de abastecimento de água, porém
unidade todos funcionam precariamente e não existem locais
adequados para o destino das fezes, situação que acarreta
uma contaminação ambiental importante e leva a uma alta
infestação por verminoses e ocorrências altas de doenças por
veiculação hídrica. No ano de 2010, os casos de anemia entre
as crianças menores de cinco anos, no Polo Base Rio dos
Peixes, somaram 40%, chegando a 62% na faixa etária entre 6
meses a 2 anos, associada ao prevalecimento da desnutrição,
avaliada pelo critério peso por idade, em 12,6% das crianças
menores de 05 anos.
Como referido em relação ao DSEI, observa-se ainda uma
persistência crescente de DCNT – não existem registros de
DM e HAS (hipertensão arterial sistêmica) na população do
DSEI até a década de 1980. Atualmente, na área do polo base
do Rio dos Peixes, já são encontrados vários casos destas
doenças, conforme os quadros 7 e 8:
 

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Em relação aos indicadores de saúde bucal encontramos um
►Tema aumento no índice de cárie (ceo-d), que tem sido observado
1 com maior rapidez nas crianças de até 5 anos de idade. É
►Tema importante lembrar que até os 3 anos de idade (em torno dos
2 30 meses, no máximo) todos os dentes decíduos já devem ter
terminado sua erupção, o que quer dizer que a criança a partir
►Tema dessa idade deverá possuir 20 dentes (10 na arcada superior e
3
10 na inferior) na cavidade oral.
►Tema
4 A Organização Mundial de Saúde (OMS) utiliza a idade de 12
anos como parâmetro para analise do índice. Estabelece para
►Menu isso uma escala de severidade baseada nas médias de CPO-D:
do prevalência muito baixa (0,1-1,1); prevalência baixa (1,2-2,6);
unidade
prevalência moderada (2,7-4,4); e prevalência alta (4,5-6,5).
A OMS considera o CPO-D um bom indicador das condições
de saúde bucal da população: quanto menor o índice, melhores
as condições de saúde bucal. Segue abaixo a tabela 1 com os
índices epidemiológicos referentes à cárie de duas aldeias do
polo Base Rio dos Peixes, Aldeias Tucunaré e Peixes:
 

 
1) Índice ceo-d: conforme a OMS, corresponde ao número de
dentes cariados (c), perdidos (e) e restaurados (obturados), na
dentição decídua.
2) Índice CPO-D: conforme a OMS , corresponde ao número
de dentes cariados (C), perdidos (P) e restaurados
(Obturados), na dentição permanente.

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Tanto a ocorrência destas patologias quanto da desnutrição


estão relacionadas às mudanças no estilo de vida e no padrão
de alimentação desta população, graças ao impacto da
intensi cação das relações de contato dos povos indígenas
com a sociedade envolvente, sociedade esta que passa a
ocupar um papel extremamente importante à medida que o
número de indígenas remunerados por trabalhos
formais/informais e por programas sociais como
aposentadorias e bolsas (família, educação etc.) cresce. O
aumento do poder aquisitivo acarreta o acesso às cidades
existentes ao redor das aldeias, o que facilita o aumento do
consumo de álcool e alimentos industrializados, em particular
alimentos ricos em carboidratos (arroz, feijão, macarrão,
bolachas, balas, doces, refrigerantes, etc.), de baixo valor
►Tema nutritivo, acompanhados de uma redução no padrão de
1
atividade física tradicional, ligado a atividades de produção de
►Tema alimentos (caça, pesca, plantio das roças, etc.).
2
A alta persistência de desnutrição é, ainda, acompanhada de
►Tema doenças de veiculação hídrica (parasitoses intestinais e
3 doença diarreica aguda). A introdução de alimentos com baixo
►Tema valor nutricional, em especial os ricos em carboidratos simples
4 (sacarose), e a consequente substituição de alimentos da dieta
tradicional de frutas sazonais, alimentos ricos em carboidratos
►Menu complexos e proteínas, produtos da caça e da pesca, aliados a
do
unidade uma introdução em faixas etárias cada vez mais precoces em
substituição ao tradicional aleitamento materno faz crescer o
número de desnutridos. Isto associado a um ambiente com
baixas condições de saneamento – destino inadequado dos
dejetos, ausência de fontes hídricas potáveis de boa qualidade
– cria um ciclo vicioso, em que os desnutridos apresentam
mais parasitoses e diarreia, agravando o quadro de
desnutrição. Este problema é ainda agravado pelas condições
de saúde bucal, que também se deteriora com o aumento do
consumo de sacarose.
É importante salientar que estes alimentos citados muitas
vezes são consumidos fora de seu contexto cultural – em
nossa sociedade todos temos ao menos a informação de que o
consumo excessivo de açúcar é prejudicial – sendo utilizados
de maneira inadequada, muitas vezes por desconhecimento de
seu uso correto. Vê-se ainda a substituição da alimentação
tradicional por alimentos "correspondentes", porém com
propriedades nutricionais diferentes. O uso cada vez maior de
barcos a motor e motosserras, em substituição aos meios
tradicionais de transporte e produção, que acarretam redução
do nível de atividade física por si só, vem associado a uma
sedentarização progressiva, devido à restrição territorial de
uma população originalmente seminômade, juntamente com a
criação de uma infraestrutura "permanente", – construção de
escolas, polos base, etc. – favorecendo a permanência
prolongada em um mesmo local.
Percebe-se ainda a "quebra de regras" tradicionais, com a
perda progressiva de conhecimentos ligados ao autocuidado
associados à perda de representação dos curadores e
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cuidadores tradicionais, tornando, assim, esta população ainda


mais vulnerável aos efeitos prejudiciais das in uências
externas.
Esta in uência da relação de contato com a sociedade
envolvente como determinante maior destes problemas ca
nítida quando comparamos os dados, mostrando uma
concentração de problemas muito maior na aldeia onde o
contato é mais intenso.

► Tema 3 - A Família de Bagre Miúdo

►Tema
1
Bagre Miúdo é Agente Indígena de Saúde há 3 anos. Seus
►Tema
2 lhos, Cavalinha Pequeno e Pescada Branca estão desnutridos
e com baixa estatura. Pescada Branca nasceu com baixo peso e
►Tema recebeu aleitamento arti cial, pois a mãe disse que estava sem
3 leite. Recentemente, Cavalinha Pequeno foi encaminhado ao
►Tema hospital de referência com um quadro de infecção respiratória
4 arrastada que não apresentava melhora com o tratamento
instituído na área pela EMSI (Equipe Multidisciplinar de Saúde
►Menu Indígena). A criança voltou para a aldeia sem queixas
do
unidade respiratórias, ainda desnutrida e usando sulfato ferroso para
tratamento de uma anemia importante, Hb 9.0 g/dl,
diagnosticada na referência. Chama a atenção o resultado de
EPF (exame parasitológico de fezes), que mostrou uma alta
infestação com poliparasitismo.
Mensalmente a sua família, bem como as outras famílias de
sua aldeia, recebe uma cesta básica. Frequentemente Bagre
Miúdo vai para a cidade fazer compras e costuma trazer para a
aldeia: arroz, feijão, óleo, açúcar, sal, refrigerante, sucos
arti ciais, biscoitos e doces. Seu irmão, Matrinchã Grande, é
obeso e teve recente diagnóstico de DM (Diabetes Mellitus) e
HAS (Hipertensão Arterial Sistêmica) e, apesar da medicação
prescrita na referência, mantém glicemia e pressão arterial
descompensadas.
Em conversa com a enfermeira, Piramutaba, mulher de Bagre
miúdo, disse que seus lhos estão comendo poucos alimentos
da roça e não estão comendo frutas.

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►Tema
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►Tema
2
►Tema
Como o seu marido trabalha na área de saúde, ele não tem
3 tempo para fazer roça, pescar e caçar, e por isso a alimentação
da família tem como base alimentos comprados por ele na
►Tema cidade, além das cestas básicas que recebem do município de
4 Capim Pequeno. Bagre miúdo compra alimentos mensalmente
►Menu na cidade e, quando há alimentos excedentes nas aldeias,
do compra farinha, cará, polvilho, milho, amendoim e frutas.
unidade Ultimamente a produção das aldeias tem diminuído e eles não
estão conseguindo adquirir alimentos tradicionais.
Conforme o último censo vacinal, a casa de Bagre Miúdo tem
os seguintes moradores:
 

 
Durante a realização do levantamento epidemiológico de
saúde bucal nesta família apresentaram-se altos índices de
cárie, porém com acesso ao tratamento, uma vez que o índice
de dentes cariados era semelhante ao de obturados.
Entretanto, entre as crianças de cinco anos ou menos, o ceo-d
é composto basicamente por cariados, estando os obturados e
perdidos quase nulos, demonstrando a di culdade de acesso
desta importante parcela da população aos serviços
odontológicos.

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► Tema 4 - Abordagem dos problemas

Dentro deste contexto complexo, a abordagem dos problemas


encontrados passa, necessariamente, pelo conhecimento dos
costumes da população, incluindo aí suas noções de cuidado,
alimentação e higiene. Isto envolve um diagnóstico amplo da
situação, levando em conta as percepções dos sujeitos
envolvidos. Neste sentido podem ser utilizadas diversas
►Tema ferramentas, incluindo genogramas e eco-mapas, reuniões
1 com a comunidade, rodas de conversa com cuidadores, dados
epidemiológicos, etc.
►Tema
2  
►Tema
3
►Tema
4
►Menu
do
unidade

 
Em possíveis abordagens comunitárias é imprescindível
chamar atenção para a responsabilidade da população
envolvida, através do envolvimento do controle social,
realizando reuniões, palestras para discutir os problemas da
população e o seu enfrentamento.
Educação permanente da EMSI;
Orientação de Conselheiros Distritais de Saúde frente ao
per l epidemiológico local;
Aproximação do trabalho dos professores indígenas, enquanto
potenciais multiplicadores e parceiros de trabalho;

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Reuniões comunitárias, levantando os problemas da mudança


de hábitos alimentares e da dieta, com valorização das
práticas tradicionais, além do ensino do manejo adequado de
alimentos "estrangeiros";
O cinas de culinária, com incentivo à retomada/redescoberta
de alimentos tradicionais, que vêm sendo paulatinamente
abandonados;
Orientação do uso correto de alimentos não tradicionais, no
sentido de diminuir o abuso destes (balas, doces, etc.);
Ações interinstitucionais para garantir o manejo sustentável
dos recursos naturais, no intuito de garantir a manutenção de
práticas tradicionais de cultivo e produção de alimentos,
►Tema oferecendo ainda alternativas saudáveis, de maneira
1 sustentável, para a substituição de alimentos sazonais ou que
estão se tornando escassos em função do aumento
►Tema populacional;
2
Estímulo à produção e consumo de alimentos tradicionais em
►Tema
3 detrimento dos "importados".
►Tema
Para isto, a equipe de saúde deve atribuir poder para a
4 população através de informações sobre problemas que estão
ocorrendo e seus determinantes e junto com a comunidade, as
►Menu lideranças, mulheres, pajés, AIS (Agentes Indígenas de Saúde),
do buscando soluções conjuntas para o enfrentamento dos
unidade
problemas.
O cuidado integral para qualquer comunidade é um desa o
para as equipes de saúde, uma vez que o adoecimento está
ligado ao estilo de vida e, para o seu adequado controle, são
necessárias mudanças no modo de viver, o que, no caso de
populações indígenas, envolve a retomada de hábitos
alimentares tradicionais que estão diretamente ligados ao
cotidiano da comunidade.
Além disso, enquanto estratégia de prevenção e controle dos
agravos, é necessária a articulação dos diferentes setores
envolvidos neste contato, incluindo as próprias comunidades
indígenas, suas representações legítimas (lideranças
tradicionais, Associações Indígenas, Conselheiros de Saúde,
etc.), os órgãos indigenistas (FUNAI e ONGs), os órgãos de
Saúde (SESAI e parceiras/prestadoras de serviços, Secretarias
Estaduais e Municipais de Saúde), órgãos da educação (escolas
indígenas, secretarias de educação) e ainda outros órgãos
públicos dos diferentes setores envolvidos.
Tomando por base as informações fornecidas sobre o DSEI
Serra das Capivaras, o Polo base Rio dos Peixes e a família de
Bagre Miúdo, dentro dos princípios da clínica ampliada e da
atenção centrada na pessoa, responda as questões a seguir.

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(https://moodle.unasus.unifesp.br/mod/quiz/view.php?
id=480)

► Referências

►Tema BRASIL. Ministério da Saúde. Cadernos da Atenção Básica. n.


1
13. Brasília, DF, 2010.
►Tema
2 ________. Ministério da Saúde. Plano de Ação para Redução da
Incidência e Mortalidade por Câncer do Colo do Útero.
►Tema
3 Brasília, DF, 2010.
►Tema ________. Ministério da Saúde. Manual de Recomendações para
4 o Controle da Tuberculose no Brasil. Brasília, DF, 2010.
►Menu ________. Ministério da Saúde. Vigilância em Saúde. Brasília, DF,
do
unidade 2011.
________. Ministério da Saúde. Uma análise da situação de
saúde e a vigilância da saúde da mulher. Saúde Brasil 2011.
Brasília, DF, 2012.
FUNASA. Vigilância em Saúde Indígena: Síntese dos
Indicadores 2010. Brasília, DF, 2010.
IBGE. Censo Demográ co 2010. Características gerais dos
indígenas: Resultados do universo. Rio de Janeiro, 2012.
________. Sinopse do Censo Demográ co 2010. Rio de Janeiro,
2011.
SOARES DA; ANDRADE, S. M.; CAMPOS, J. J. B.
Epidemiologia e Indicadores de Saúde.Bases da Saúde
Coletiva. [S.I.: s.n.], [20--?].
WORLD HEALTH ORGANIZATION. Global TB control report.
[S.I.], 2010.
 

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►Tema
1
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