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Estruturalismo:
Claude Lévi-Strauss considera a revolução saussureana - chegar ao significado pela
horizontalidade e não pela verticalidade - excelente para a antropologia. Roman
Jakobson retoma esta revolução e lhe dá prosseguimento na própria lingüística,
acrescentando às leis gerais da estrutura da língua, as leis da fala. Lacan aproveita os
conceitos do estruturalismo para formalizar a invenção freudiana, pois, segundo ele,
Freud foi estruturalista avant la lettre.
Linguistica Pré-Saussure:
Os significados são constituídos historicamenteo. A história é fundamental para se
conhecer o significado de uma palavra, achar a raiz originária que justifique o uso de
uma determinada palavra. Ficou conhecida como Lingüística comparada, pois trabalha
generalizando aquilo que se encontra de idêntico em diversas línguas. Supõe, assim,
um nível de abstração/generalização em um eixo vertical/histótico: quanto mais para
trás, mais primitivo, mais universal o mecanismo ou significado em questão.
FORRÓ
Ferdinand de Saussure:
Rompe com a história e a genealogia. Não é ela que define o significado da palavra,
mas sim a relação desta palavra com outras. Assim pode-se chegar ao significado de
maneira bastante eficiente dispensando o sentido prévio/histórico. Esta operação está
em eixo horizontal. Uma palavra não tem um vínculo fixo com alguma coisa, é com o
jogo de significantes que chegamos ao sentido da palavra.
Com Saussure rompemos com o modelo clássico que dizia: há uma coisa no mundo,
esta gera em nós uma idéia e uma palavra, posteriormente lhe é colada. Um
significante não é uma etiqueta colada em um significado específico, mas sim um
significante que, em relação com outros significantes, remete a um significado
específico. Do significante árvore, em relação com outros, surge a idéia de árvore.
Para se chegar ao sentido de árvore, pegaremos vários significantes como planta,
grande, verde e assim encontraremos o significado pelo jogo de significantes.
Metafísica clássica (que deu origem à linguística comparada): Santo Agostinho diz
em suas confissões: “Quando os adultos nomeavam um objeto qualquer voltando-se
para ele, eu o percebia e compreendia que o objeto era designado pelos sons que
proferiam, uma vez que queriam chamar a atenção para ele. Deduzia isto, porém, de
seus gestos, linguagem natural de todos os povos, linguagem natural de todos os
povos, linguagem através da mímica e dos movimentos dos olhos, dos movimentos
dos membros e do som da voz anuncia os sentimentos da alma, quando esta anseia
por alguma coisa, ou segura, ou repele, ou foge. Assim, pouco a pouco eu aprendia a
compreender o que designam as palavras que eu sempre de novo ouvia proferir nos
seus devidos lugares, em diferentes sentenças. Por meio delas eu expressava os
meus desejos, assim minha boca se habituara a esses signos” (AGOSTINHO, Os
pensadores vol. XV, São Paulo, Abril, 1982, p. 32)
Wittgenstein: imagina um bebê que não sabe nada, e um adulto chega e diz isso é
uma cadeira (apontando), se ele não sabe nem o que é apontar quem garante que ele
está colando alguma coisa (Cf. WITTGENSTEIN, L. Investigações filosóficas, Rio de
Janeiro, JZE, 1998, p. 45).
Lacan:
Cf. “A instância da letra no inconsciente ou a razão desde Freud”, LACAN, J. Escritos,
RJ, JZE, 1998, p. 502)
HOMENS MULHERES
O jogo de oposições é o que determina a diferença entre as portas (imagem
acústica é a mesma).
Significação inacabada – o bêbê vive nas trevas da significações inacabadas,
não sabe diferenciar muito bem o que é uma coisa e o que é outra, pois nele o
significante e seu jogo ainda não se instalaram. Só com a liguagem, o jogo dos
significantes, a estrutura, é que as significações vão se completar, em que as coisas
farão sentido e as palavras terão signifcado.
Dessa forma é só com a dança das palavras, sem sentido “natural”, a priori, que se
fixará os sentidos das palavras. Assim, dependendo do jogo, novos significados se
produzem.
Quando se tem um olhar estruturalista você deixa o paciente constituir a
significação correta, porque ele vai fazer os jogos de significantes que levarão
consequentemente ao significado.
Podemos dizer que são esses elementos da teoria do sonho que Lacan
utilizará para apoiar e fundar a analogia estabelecida entre o funcionamento
dos processos inconscientes e o funcionamento de certos aspectos da
linguagem – tal como inaugurada por Sausurre, ou seja, uma concepção
estrutural da linguagem.
Introdução
Eixos
Metáfora e metonímia
Este exemplo é uma metonímia que segue critério do material pelo objeto, a ancora
que freia o barco é feita de ferro, além de acrescentar uma característica, o ferro é
pesado. Passa-se de uma palavra a outra que mantem com a primeira uma relação de
contiguidade.
O processo metafórico também apresenta-se como um substituição, porém seguem
critérios individuais referidos a experiências pessoais e características subjetivas de
cada ser, demandando um esforço interpretativo do ouvinte para haver compreensão.
Exemplo:
Este exemplo é uma metáfora onde a palavra foi substituída por uma palavra que tem
afinidades semânticas com a primeira, pois a ancora freia o barco assim como o freio
de mão freia o carro, porém exige maior interpretação.
Entrei numa caixa fechada com espelhos e botões de um lado só, caixa esta que se
movia. (metonímia)
E agora um exemplo com palavras que podem ser substituídas sendo uma metonímia
ou uma metáfora, respectivamente:
Objetivo x subjetivo:
Lacan considera Freud uma revolução epistemológica porque em vez de partir da
divisão corpo-alma, racional-irracional e descobrir as leis do subjetivo em oposição ao
objetivo, Freud mostra que a subjetividade é construída com as mesmas leis da
objetividade. O inconsciente não é o sem lei, animal, puro prazer e descarga, que se
opõe ao consciente regrado, objetivo, preso, etc (essa oposição já está na Bíblia e não
seria preciso Freud para entendê-la). O inconsciente é apenas um modo específico de
funcionamento da linguagem no homem que produz prazer de um modo específico.
No caso do consciente a fala é endereçada a um receptor bastante especificado, no
caso do inconsciente a produção linguística se endereça a um outro muito mais fluido
e por isso exibe de maneira mais gritante as operação do falante para se comunicar.
A proposição de que as regras de elaboração da linguagem podem ser estendidas
para o âmbito do funcionamento psíquico aponta ainda para uma razoável
coincidência entre as regras gerais de funcionamento do consciente e inconsciente.
Isto quer dizer que não há de se pensar um inconsciente de essência distinta do
consciente, morada dos instintos e da irracionalidade humana, mas sim um momento
do funcionamento psíquico em que a diminuição da necessidade de ser compreendido
permite uma predominância maior de um eixo em relação a outro. Desta forma, afasta-
se ainda a hipótese da resistência, que seria apontada como atributo inconsciente.
O Outro:
Tal afirmação se deve ao fato de que os eixos metafórico e metonímico não podem
funcionar no processo de produção da linguagem independentemente do receptor da
mensagem, uma vez que o entendimento do Outro é fundamental para que haja
comunicação, como mostra Jakobson: “ Mas o que fala não é de modo algum um
agente completamente livre na sua escolha de palavras: a seleção (...) deve ser feita a
partir do repertório lexical que ele próprio e o destinatário da mensagem possuem em
comum. (...) Sem tal equivalência, a mensagem se torna infrutífera – mesmo quando
atinge o receptor, não o afeta.” (JAKOBSON, R. Linguística e Comunicação, São
Paulo, Cultrix, 1978, p. 37). Afinal, não há linguagem sem alteridade; remetente e
receptor não podem se confundir em um só, nem mesmo o diálogo consigo mesmo, o
pensamento, só é possível quando se admite a hipótese da alteridade subjetiva. Calar
o diálogo interior, se é que isso é possível, produziria estados do tipo místico, de
meditação, de coma. Talvez esses estados existam, mas ninguém estava lá para vivê-
los. Só se pode falar deles, sentir o que ali se sentiu, depois que se volta, ou seja,
depois que se reinstaurou o diálogo interior.
As formações do Inconsciente:
Visto isso, deve-se passar à análise da linguagem produzida, tendo em mente que tal
processo não se deu ao acaso e pode revelar sobre o agente da fala mais do que está
imediatamente explícito. Assim acredita Lacan: “[A fala] pressupõe ainda todo o
mecanismo que faz com que – não importa o que se diga ao pensar nisso, ou, não
pensando, não importa o que se formule –, uma vez que se entre na roda do moinho
de palavras, o discurso sempre diga mais do que se diz.” (LACAN, J. O Seminário,
Livro V, pag. 23). È seguindo esta lógica que atos falhos, esquecimentos, a criação
espirituosa, o Witz e o sonho serão considerados boas portas de entrada para aquele
dizer-além-do-que-se-disse. Por essa razão Freud parte destes fenômenos, segundo
Lacan “... por ter ele visto as relações existentes entre o Witz e o inconsciente.” (pag.
24).
Ainda que não se busque uma aparente “falha” no discurso, é possível analisá-lo e
dele conhecer algo da psicologia do sujeito. A predominância de um eixo em
detrimento do outro, por exemplo, pode revelar a finalidade de uma mensagem
aparentemente vazia. Ou seja, se o eixo metonímico prevalece sobre o metafórico, em
um discurso aparentemente vazio de verdades, é possível notar que talvez o objetivo
do discurso possa ser exatamente reforçar uma estrutura independentemente do
conteúdo. Nas palavras de Lacan: “ Na maioria dos casos, o discurso absolutamente
não atravessa a cadeia dos significantes, que é o puro e simples ronronar da
repetição, o moinho de palavras. (...) O discurso não diz absolutamente nada, a não
ser assinalar-lhes que sou um animal falante. Esse é o discurso comum, feito de
palavras para não dizer nada, graças ao qual nos certificamos de não estar
simplesmente lidando, frente a frente, com o que o homem é em estado natural, ou
seja, um animal feroz.” (referência?)
Deslocamento (Verschiebung):
É o nome freudiano para a operação da linguagem que constitui produções
metonímicas. A seleção é diminuída e para preencher o vazio são aumentadas
as combinações.
Exemplo: Na vida tudo é passageiro menos o trocador e o motorista.
“passageiro” realiza a combinação entre a finitude da existência humana e a o
contexto cotidiano de um coletivo carioca. A produção que dali resulta tende a
parecer estranha, esvaziada de sentido. Acontece porém que este sentido
pode ser muito pessoal, pois em uma história singular teremos sempre
conexões inusitadas que, muitas vezes, não estão à disposição nem mesmo do
sujeito em questão. Dizemos então que se tratam de conexões inconscientes.
A “desvantagem” da produção metonímica é que com a costura de vários
contextos numa mesma frase acaba-se por diminuir o sentido desta. Dito de
outro modo, a metonímia e suas produções instauram a falta de sentido, a
falta-a-ser. Por esta razão Lacan, em “A instância da Letra”, indica que a
produção metonímica se dá com um “menos” de sentido, de significado (S-S=s
(-), ou seja, uma significante conectando-se a outro produz um sentido a
menos). Por isso ele simboliza a estrutura metonímica como :
“ f (S...S’) S = S (-) s
Condensação (Verdichtung):
É feita com produções metafóricas, ou seja, a seleção é aumentada para suprir
a diminuição das combinações.
Exemplo: Nas curvas do seu corpo capotei meu coração. Na produção
metafórica ocorre a junção de várias “coisas” num só ponto, em uma só palavra
(no exemplo, as “curvas)”. Isto acaba por aumentar a produção do sentido.
Aqui um signicante se sobrepõe a outro produzindo um a-mais (S/S’= s(+), a
barra indica a superposição).
Lacan simboliza: “ f (S’/S) S = S (+) s
que indica que é na substituição do significante pelo significante que se
reproduz um efeito de significação que é de poesia ou criação, ou, em outras
palavras, do advento da significação em questão.” (Lacan, J. Ibidem).
Mas não se esqueça, as unidades de sentidos, tanto a metafórica como a metonímica,
não tem sentidos em si, apenas sentido de conexão e são condição de passagem do
significante para o significado, de produção do significado que pode se dar variando de
um pólo de sentido a menos ou um pólo de sentido a mais.
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A situação analítica funciona por retroação, onde cenas vão sendo expostas e
sendo re-qualificadas como relevantes ou irrelevantes de acordo com o
contexto geral da história do analisado.
A retroação reescreve o passado no presente, dando às antigas cenas novos
sentidos que irão fornecer a compreensão do trauma presente. O trauma só
existe quando o ato que foi feito anteriormente faz sentido.
Emma:
Um bom exemplo é a paciente Emma descrita por Freud no vol I das suas
obras completas (1886-99), p.465-468.
“Emma acha-se dominada atualmente pela compulsão de não poder entrar nas
lojas sozinha. Como motivo para isso, [citou] uma lembrança da época em que
tinha doze anos (pouco antes da puberdade). Ela entrou em uma loja para
comprar algo, viu dois vendedores (um dos quais ainda consegue lembrar)
rindo juntos, e saiu correndo tomada de uma espécie de susto. Em relação a
isso, terminou recordando que os dois estavam rindo das roupas dela e que
havia sentido atração sexual por um deles.
Prosseguindo nas investigações, uma segunda lembrança de que ela
nega que se tenha dado conta no momento da Cena I. Quanto a isso, não há
maneira de refutar. Aos oito anos de idade, foi duas vezes comprar doces
numa confeitaria, sendo que logo na primeira o proprietário agarrou-lhe as
partes genitais por cima da roupa. Apesar disso, voltou lá de novo e agora se
recrimina por essa segunda vez, como se com isso tivesse querido provocar o
atentado. E com efeito, a sua “torturante má consciência” pode ter atribuída a
essa experiência.
Agora compreendemos a Cena I (vendedores) combinando-a com a Cena II
(proprietário da confeitaria). Basta estabelecer um vínculo associativo entre
ambas. A própria Emna indica que ele é fornecido pelo riso: o riso dos
vendedores lhe fez lembrar o sorriso com que o proprietário da confeitaria
acompanhou o atentado. A marcha dos acontecimentos já pode ser
reconstituída. Na loja, os dois vendedores estavam rindo; esse riso evocou
(inconscientemente) a lembrança do proprietário. De fato, a segunda situação
apresenta ainda outro ponto semelhante [a primeira]: ela mais uma vez estava
em uma loja sozinha. Juntamente com o proprietário da confeitaria, lembrou-se
de que ele a agarrou por cima da roupa; mas nesse entretempo atingiu a
puberdade. A lembrança evocou o que ela certamente não estaria apta sentir
na ocasião, uma liberação sexual, que se transformou em angústia. Devido a
essa angústia, teve medo de que os vendedores da loja pudessem repetir o
atentado e saiu correndo.”
CENA II CENA I
Dono do armazén vendedores rindo
Agarrou-lhe desejo sexual
A cena I é ressignificada pela cena II, que estava disponível, mas não
conectada com a cena I. Neste momento uma frase se fecha. ressignifica
a cena. Algo com “fiquei com medo quando riram de mim na loja, porque
fui agarrada em outra loja”.
É preciso ainda perceber que estamos lidando com uma dimensão do
tempo diferente da habitual, do tempo cronológico. O final da frase (cena
II), que no tempo cronológico veio depois do começo (cena I), no tempo
lógico de uma análise inscreve-se como anterior.
ATA XIV – Aula de 26/9: SAFFIRA VALENTIN E MOANA AVILA
A conexão feita entre uma cena traumática (aquela que gera um sintoma) e
uma cena vivida no passado, dá sentido ao trauma, fazendo o sintoma
desaparecer. Esta conexão liga o passado e o presente. A cena traumática
pode ser vivida no passado, mas o sintoma gerado por ela é presente, e
normalmente é uma queixa.
A conexão entre as cenas feita em análise, provavelmente já estavá lá como
possibilidade, por exemplo, tendo ocorrido em esboço na véspera da sessão
analítica pelo próprio analisando. Um exemplo poderia ser uma situação em
que o paciente fala para o analista de uma das cenas, de forma consciente,
como uma lembrança. Mais tarde, depois de algumas sessões, conta uma
outra cena. Neste momento, esta cena se liga à primeira e dá sentido
inconsciente ao trauma. Isto, no nosso esquema se figura assim:
t2 t1
Lacan chamou este algo mais de desejo. O desejo aparece quando o sintoma
cai e algo, que se apresenta como se estivesse estado por trás do sintoma,
começa a ser visto pelo paciente como seu. O analisando começa a fazer
análise quando se vê como autor de sua própria história e sentimentos e não
mais uma vítima da vida. A busca por explicações nada mais é do que o reflexo
do lugar do vazio na estrutura. A interrogação que surge estará sempre lá, na
estrutura, ocupando o lugar do vazio, que é o real para Lacan. A questão é
como se lida com isso, com essa falta. Para algumas pessoas pode ser a
busca por explicações acerca da morte, ou vida após a morte. Para outras a
formação de um sintoma. É este sintoma quem caindo, dá lugar a alguma outra
coisa que vem encarnar o desejo. O mais habitual é que a própria análise
passe a encarnar essa busca por aquilo que verdaeiramente encarnaria o
sentido último das coisas.
A análise é um sintoma
Dessa forma, para Lacan a análise é um sintoma, pois vem se instaurar no
mesmo lugar que o sintoma que levou o sujeito à análise. Vou a análise porque
não consigo entrar em lojas, mas descubro que fui beliscada aos oito anos. A
partir daí ou bem fico satisfeita com o resultado terapêutico dessa descoberta
ou bem continuo na análise porque parece-me que ainda há algo mais
“profundo” a encontrar, que gera a angústia para a busca pelo sentido.
Os diversos sintomas que aparecem pelas cenas traumáticas e que gera
angústia estão ligados ao vazio angustiante que nos faz buscar explicações,
como a própria análise. Para que ocorra essa análise/sintoma, o analista deve
representar o vazio na estrutura, o desconhecido que gera angústia, em um
primeiro momento. É o Outro, meio fluido, frouxo, aquele que o analisando não
sabe o que é e o que quer, encarnado pela pergunta Che vuoi? Do camelo à
Álvaro no conto “O diabo apaixonado”.
Vale lembrar que apenas esse papel para o analista não basta. O Outro
também é aquele que indica os pontos de conexões sem sentido. Não é o
espelho. É o Outro, fluido, mas também ativo.