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Actas / Atas Lexicologia, lexicografia, terminologia, terminografia,

1988-2008
identidade científica, objeto,
Presentación / métodos, campos de atuação
Apresentação

I Simposio (1988) Maria Aparecida Barbosa


Universidade de São Paulo
II Simpósio (1990)
Brasil
Índice

III Simposio (1992)

IV Simposio (1994)
Resumo
V Simposio (1996)

VI Simposio (1998) O princípio da inter e multidisciplinaridade exige


VII Simpósio (2000) complementarmente o principio da especificidade do
VIII Simposio (2002)
objeto, campo e métodos das diferentes disciplinas
científicas, correspondentes a recortes observacionais
IX Simposi (2004)
distintos de um aparentemente mesmo objeto de
X Simposio (2006) estudo. Tal como sucede com as demais ciências
XI Simposio (2008) básicas e aplicadas, as disciplinas integrantes das
Índice por autores
ciências da linguagem mantêm um processo de
cooperação recíproca e, ao mesmo tempo,
especificidades epistemológicas. A autora busca
delimitar a identidade científica da lexicologia,
lexicografia, terminologia e terminografia. A forte
relação de alimentação e realimentação entre elas
existente tem como condição a especificidade no
tratamento da palavra, que lhes assegura autonomia
de modelos, métodos e técnicas. Lexicologia e
lexicografia configuram duas atitudes e dois métodos
face ao léxico: a lexicografia, como técnica dos
dicionários; a lexicologia, como estudo científico do
léxico. A complexa questão se estende à própria
multissignificação de tais disciplinas; os discursos
lexicográficos são simultaneamente registro de
palavras e objeto de estudo da lexicografia como
investigação fundamental; esta, por seu turno, objeto
da metalexicográfica, enquanto epistemologia da
ciência lexicográfica. Semelhantes relações
estabelecem-se entre terminologia e tenninografia.
Existe, ainda, entre lexicografia e terminologia uma
grande área de intersecção. Distinguem-se,
entretanto, respectivamente, como ciência das
definições e ciência das designações.
O princípio da interdisciplinaridade e da multidisciplinaridade exige
complementarmente o princípio da especificidade do objeto,
campo e métodos das diferentes disciplinas científicas,
correspondentes a recortes observacionais distintos de um
aparentemente mesmo objeto de estudo.

Tal como sucede com as demais ciências básicas e aplicadas (e/ou


tecnologias), as disciplinas integrantes do conjunto das ciências e
tecnologias da linguagem mantêm um processo de cooperação
recíproca e, ao mesmo tempo, especificidades
epistemológicas. Buscamos, neste trabalho, delimitar a
identidade científica da Lexicologia, da Lexicografia, da
Terminologia e da Terminografia. A forte relação de alimentação e
de realimentação entre elas existente tem como condição de
produtividade justamente a especificidade, própria a cada uma
delas, no tratamento da palavra, especificidade que lhes assegura
autonomia de modelos e meta-modelos, métodos, técnicas e
procedimentos, definindo-lhes simultaneamente seus respectivos
campos de atuação.

Desse modo, Lexicologia e Lexicografia configuram duas atitudes,


duas posturas e dois métodos, em face do léxico: a Lexicografia,
como técnica dos dicionários; a lexicologia, como estudo científico
do léxico. Na realidade, a complexa questão se estende à própria
multissignificação de tais disciplinas. Assim, por exemplo, os
discursos lexicográficos são concomitantemente registro de
palavras e objeto de estudo da Lexicografia como investigação
fundamental; esta, por sua vez, objeto da metalexicografia,
enquanto epistemologia da ciência lexicográfica. Semelhantes
relações estabelecem-se entre Terminologia e Terminografia.
Existe, ainda, entre Lexicografia e Terminologia, grande área de
interseção, embora se distingam, respectivamente, como ciência
das definições e ciência das designações.

Fundamentando-nos na oposição Aristotélica entre epistème e


téchne, válida até hoje, ou seja, entre o processo de busca da
verdade e construção do saber - ciência básica - e a aplicação de
um saber a um fazer - ciência aplicada e/ou tecnologia - e nas
complexas relações que entre elas se observam, propomo-nos,
nas páginas seguintes, a examinar mais detidamente as questões
epistemológicas acima apontadas, pois de sua precisa delimitação
depende a produtividade, com responsabilidade social, de todas
elas.

A ciência, enquanto processo de busca da verdade e construção do


conhecimento, é una e suas questões básicas são idênticas, nas
diversas áreas do saber, uma vez postas de lado diferenças
superficiais. Ao abordar essa questão, Malmberg [1] a
complementa com importantes ponderações sobre a
interdisciplinaridade e a multidisciplinaridade, procurando mostrar
que a ciência não tem fronteiras, ou seja, que as disciplinas e os
setores de pesquisa superpõem-se e necessitam umas das outras.

Constituem esses aspectos elementos pertinentes nas reflexões


epistemológicas sobre qualquer ciência. Não invalidam, porém, o
princípio da especificidade do objeto, do campo, dos métodos,
técnicas e procedimentos das ciências e seus ramos. Não anulam,
ao contrário, exigem, simetricamente, que se proponha a
relevante questão da identidade científica, da precisa
configuração das disciplinas científicas, tantos quantos forem os
recortes observacionais e descritivos de um aparentemente
mesmo objeto de estudo. Com efeito, o mesmo "objeto material"
assume o estatuto de tantos objetos formais distintos, quantos
forem os pontos de vista e os recortes epistemológicos dele feitos,
ou, de acordo com Saussure [2], o ponto de vista determina o
objeto.

Tal como sucede com todas as ciências básicas, aplicadas e/ou


tecnologias, as disciplinas que integram o conjunto das ciências e
tecnologias da linguagem mantêm entre si processos de intensa
cooperação, de investigações inter e multidisciplinares e, ao
mesmo tempo, especificidades epistemológicas rigorosas. À forte
relação de cooperação - interdisciplinaridade, entre ciências
básicas ou entre ciências aplicadas e/ou tecnologias;
alimentação/realimentação entre as primeiras e as últimas - tem
como condição sine qua non a especificidade epistemológica que
lhes assegura autonomia de modelos, métodos e técnicas, na
medida em que, dialeticamente, é preciso distinguir para articular.

Nessa perspectiva, parece-nos oportuno tecer considerações sobre


Lexicologia, Lexicografia, Terminologia, Terminografia, sua
especificidade e caracterização epistemológicas, suas articulações
e processos de cooperação, já que se voltam, de diferentes
maneiras, para a análise, descrição ou tratamento da "palavra".
Ao exame da matéria acrescenta-se um complicador, a
multissignificação de tais disciplinas.

A Lexicologia, um dos ramos da Lingüística, é o estudo científico


do léxico. Cabem-lhe numerosas tarefas, pois a unidade lexical já
é um nível de articulação morfo-sintáxico-semântico bastante
complexo. Lembremos, aqui, algumas dessas tarefas: definir
conjuntos e subconjuntos lexicais - universo léxico, conjunto
vocabulário, léxico efetivo e virtual, vocabulário ativo e passivo;
conceituar e delimitar a unidade lexical de base - a lexia -, bem
como elaborar os modelos teóricos subjacentes às suas diferentes
denominações; analisar e descrever as estruturas morfo-sintáxico-
semânticas de tais unidades, sua estruturação, tipologia e
possibilidades combinatórias; examiná-las em sua carga
ideológica, força persuasiva, natureza modelizante; examinar as
relações do léxico de uma língua com o universo natural, social e
cultural, a transposição de uma "realidade" infinita e contínua a
um número limitado de lexias, o recorte do "real" operado pelo
léxico das diversas línguas; abordar a palavra como um
instrumento de construção e detecção de uma "visão de mundo",
de uma ideologia, de um sistema de valores, como geradora e
reflexo de recortes culturais; analisar a influência do contexto em
cada palavra e, reciprocamente, a determinação e a atuação de
cada palavra em seus diferentes contextos possíveis; analisar e
descrever as relações entre a expressão e o conteúdo das palavras
e os fenômenos daí decorrentes: polissemia, homonímia,
homossemia total (sinonímia), homossemia parcial
(parassinonímia), hiperonímia, hiponímia, co-hiponímia, antonímia
e paronímia e, com a ajuda de certos métodos, como a análise
distribucional e a análise sêmica, examinar a questão dos campos
semânticos e dos domínios de experiência e trazer novas
respostas a essa problemática; estabelecer a rede de relações das
palavras de um sistema lingüístico; procurar circunscrever a
aptidão das palavras, para se interligarem, nos planos
morfossintático, sintáxico e semântico, nos eixos paradigmático e
sintagmático; estudar o conjunto de palavras de determinado
sistema, ou de um grupo de indivíduos, como universo léxico ou
conjunto vocabulário, analisar o léxico efetivo - ativo e passivo - e
fazer estimativas sobre o léxico virtual, numa perspectiva
diatópica, diacrônica, diastrátiça e diafásica; procurar sistematizar
os processos fundamentais de criação e renovação lexicais -
neologia fonológica, semântica, sintagmática e alogenética -, as
relações da neologia com o contexto de enunciação, os
mecanismos de auto-alimentação e auto-regulagem do léxico;
formalizar a dinâmica do léxico e do processo neológico,
observadas as fases de criação da palavra, sua aceitabilidade no
meio social, sua desneologização e possível reneologização.

Por outro lado, tais questões podem ser consideradas do ponto de


vista diacrônico, sincrônico, pancrônico, podem sofrer um
tratamento quantitativo ou qualitativo, ter uma abordagem
descritiva ou aplicada.

Assim, ao lado da Lexicologia descritiva, da qual assinalamos


alguns aspectos, a Lexicologia aplicada se tem revelado
importante, fundamental mesmo, para múltiplos campos,
tecnologias e práticas. As pesquisas brevemente apontadas acima
e os modelos teóricos construídos têm sido aplicados, com
eficácia, a domínios como ensino de língua materna ou
estrangeira, descrição, diagnóstico e terapia dos distúrbios da
linguagem, processos de tradução automática ou mecânica,
técnicas de documentação, tratamento da informação, dentre
outros.

A palavra também é objeto de exame da Lexicografia, que a


toma, no entanto, de outro ângulo, de vez que se define como
uma tecnologia de tratamento daquela, de compilação,
classificação, análise e processamento, de que resulta, por
exemplo, a produção de dicionários, vocabulários técnico-
científicos, vocabulários especializados e congêneres. Segundo
Genouvrier, Lexicologia e Lexicografia designam duas atitudes e
dois métodos em face do léxico: Lexicografia é a técnica dos
dicionários, Lexicologia, o estudo científico do léxico [3]. A
complexa questão relativa à delimitação dessas disciplinas se
estende à própria multissignificacão, já apontada, de cada uma
delas. Os discursos lexicográficos são simultaneamente registros
de palavras e objeto de estudo da Lexicografia, enquanto
investigação fundamental; esta, a seu turno, é objeto da
Metalexicografia, que se define, por sua vez, como epistemologia
da ciência lexicográfica.

A obra lexicográfica tem, de fato, caráter metassemiótico


multifacetado, na medida em que se articula a vários níveis de
estruturação e análise lingüística: o primeiro, o das línguas
naturais, configuradas como um "discurso semiótico", como
semiótica-objeto ; o segundo, o do "fazer lexicográfico" -
Lexicografia como ciência aplicada e/ou tecnologia - que, por
sua natureza, gera um discurso metassemiótico; o terceiro nível, o
da ciência lexicográfica - Lexicografia enquanto pesquisa
fundamental -, que produz um discurso meta-metassemiótico; o
quarto, correspondente ao da análise e descrição da ciência
lexicográfica, objeto de estudo, nessa instância, da
metalexicografia, que engendra, por sua vez, um discurso meta-
meta-metassemiótico [4].
Nessas condições, fica claro o caráter multissignificativo da
Lexicografia, que se comporta, de um lado, como pesquisa
fundamental, em relação à prática lexicográfica e, de outro, como
ciência aplicada, em relação à ciência básica que é a Lexicologia.

Há, pois, entre a teoria do dicionário - lexicografia enquanto


reflexão científica -, o seu objeto de estudo - a obra lexicográfica
enquanto discurso realizado sobre a língua natural -, a
epistemologia da ciência lexicográfica - metalexicografia -, toda
uma série de relações de dependência significativa, sintáxico-
semântica e léxico-semântica.

Existe, igualmente, estreita relação entre Lexicografia e


Terminologia-Terminografia. Cabe aqui, semelhantemente, a
distinção entre terminologia-objeto, prática terminológica -
ou seja, o próprio processo de criar, recuperar e agrupar os
termos que integram a metalinguagem científica ou tecnológica -,
e a terminologia, projeto de ciência que paulatinamente se vai
consolidando.

Enquanto objeto de estudo, uma terminologia é um conjunto de


palavras técnicas ou científicas, que, como já foi assinalado,
constituem o vocabulário específico de uma ciência, de uma
tecnologia, de um pesquisador ou grupo de pesquisadores, ou de
uma área de conhecimento. Qualquer disciplina e, com maior
razão, qualquer ciência tem necessidade de um conjunto de
termos rigorosamente definidos, pelos quais designa as noções
que lhe são úteis: esse conjunto de termos constitui, pois, a sua
terminologia . Um vocabulário e os elementos que o compõem,
os vocábulos, definem uma norma lingüística qualquer; desse
ponto de vista, o vocabulário de uma ciência ou tecnologia define
a sua terminologia, uma terminologia-objeto, cujas unidades-
padrão são denominadas termos. Para tornar mais clara essa
questão, impõe-se levar em conta a noção de Universo de
Discurso. Define-se este como um conjunto de discursos
manifestados e manifestáveis, caracterizados por constantes e
coerções, suscetíveis de configurarem uma norma discursiva
[5] - e aqui se incluem, evidente, os universos de discurso
científico e tecnológico. O processo de inferência dos vocábulos
que constituem um vocabulário técnico-científico-objeto ou o
dos termos que configuram uma terminologia-objeto são, de
início, semelhantes; tomam como ponto de partida as palavras-
ocorrências dos discursos-textos manifestados, do falar concreto,
as quais são reduzidas a classes de equivalência ou modelos
de realização. O que distingue o vocabulário técnico-científico
e a terminologia técnico-científica resultantes é o tratamento
a que são submetidas as unidades, como veremos mais adiante.

Preliminarmente, temos, pois, o esquema:

O léxico se desdobra em vocabulários , que se realizam em


atos de fala.
em que L é o léxico, conjunto de todas as acepções, de todos só
feixes de semas, V2 ~ TI = lista de vocábulos (termos) utilizados
v.g. em física (terminologia da física) e V2 ~ lista de vocábulos
com a respectiva definição, com a significação específica que têm
em física = vocabulário técnico-científico de física).

Numa formalização complementar, temos:

(a) V1 = {v 1 , v 2 , ..., v n }, V 2 = { v 1 , v 2 , ..., v n }


(b) VTC 1 /E 1 = {vtc/e 1 , vtc/e 2 , ..., vtc/e n }, VTC 2 /E 2 = {
... }, ...
(c) T 1 = {t 1 , t 2 ,..., t n }, T 2 = { ... }, ...

Os conjuntos (a) referem-se ao Conjunto Vocabulário ou


Vocabulário de Universos de Discurso (UD) quaisquer . Nesse
sentido, podemos falar, por exemplo, em Vocabulário do Discurso
Político (e todas as subclasses), Vocabulário do Esporte,
Vocabulário de um Autor. A unidade-padrão desse conjunto é o
vocábulo , entendido, aqui, como modelo de realização e passível
de tratamento lexicográfico.

Os conjuntos (b) referem-se ao Conjunto Vocabulário ou


Vocabulários das ciências básicas, ciências aplicadas e/ou
tecnologia s ou de linguagens especializadas. Suas unidades-
padrão são os vocábulos técnico-científicos ou
especializados ; como tais, neles estão incorporadas as noções,
de um lado, inferidas das palavras-ocorrências e, de outro lado, de
unidades que integram ou podem integrar uma obra lexicográfica,
sendo, por isso, passíveis de um tratamento lexicográfico.

Os conjunto (c) referem-se ao Conjunto Terminológico ou


Terminologia de ciências básicas, ciências aplicadas e/ou
tecnologias (terminologia-objeto). Aqui se insere, por exemplo,
o mesmo Discurso Político acima citado, mas como conjunto de
termos utilizados em ciência política; o mesmo se pode dizer da
física ou da ciência literária, etc. Desse ponto de vista,
terminologia (terminologia-objeto) ou conjunto terminológico é
algo muito específico, voltado para a linguagem técnico-científica.
Sua unidade-padrão é o termo, ao qual subjaz, como nas
unidades de (b), a noção de modelo teórico, mas, diferentemente
de (b), as unidades sofrem, primariamente, um tratamento
terminológico, podendo, a posteriori, vir a sofrer ou não um
tratamento lexicográfico.

Nessas condições, esse conjunto de termos, a terminologia


(objeto) ou conjunto terminológico de ciências básicas, ciências
aplicadas e/ou tecnologias autoriza a prática terminológica
(terminografia), isto é, a recuperação ou criação de termos
técnico-científicos, sua compilação, organização, armazenagem,
de que resultam os dicionários terminológicos.

Como sucede no caso da Lexicografia, destaca-se o caráter


multissignificativo da Terminologia e da Terminografia. Temos,
por um lado, a pesquisa fundamental, que elabora os modelos
que permitem a análise e a produção de obras
terminológicas/terminográficas e, por outro lado, a prática
terminológica/terminográfica, entendendo-se por esta ultima,
tanto a prática linguageira de um grupo de especialistas, como a
produção de obras terminológicas/terminográficas, que
consubstanciam a recuperação, o registro, a organização de
termos especializados (trabalho que pode ser realizado por um
sujeito que tem o saber-fazer tecnológico mas não
necessariamente o saber científico).

Desse modo, enquanto prática, ao nível do fazer terminológico -


produção de termos e/ou de obras que os armazenam-,
Terminologia e Terminografia têm muitas tarefas que lhes são
comuns, apresentam uma grande interseção, tornando-se
extremamente arriscado, no estágio atual da ciência, estabelecer-
lhes fronteiras rígidas, de tal sorte que é lícito considerá-las como
termos geralmente equivalentes. Contudo, enquanto pesquisa
fundamental, já é possível distingui-las com mais clareza.
Terminografia é a ciência aplicada à qual cabe a elaboração de
modelos que permitam a produção de obras
terminológicas/terminográficas, no que diz respeito à sua
macroestrutura, à sua microestrutura, ao seu sistema de
remissivas. A Terminologia, por sua vez, tem um objeto que
contempla as questões precedentes mas ultrapassa os seus
limites, de vez que lhe cabem estudos como os das relações de
significações - entre expressão e conteúdo - do signo
terminológico, os que concernem a complexa dinâmica da criação
desse mesmo signo (neonímia), da renovação e ampliação dos
universos de discurso terminológicos, dentre outros. Nesse
sentido, as tarefas de uma e de outra são, na verdade,
complementares.

Verifica-se pois que, não obstante a interseção existente entre as


ciências da palavra, cada uma tem as suas especificidades, quanto
ao objeto, quanto ao tratamento dado à unidade lexical, quanto ao
próprio percurso de investigação. Note-se, por exemplo, que a
Lexicologia estuda o universo de todas as palavras, vistas em sua
estruturação, funcionamento e mudança, enquanto a Lexicografia,
como vimos, estuda os vocábulos e os vocabulários de normas
lingüísticas, dando-lhes tratamento específico; a Terminologia e a
Terminografia tratam dos termos científicos e tecnológicos,
enquanto unidades terminológicas; uma disciplina da terminologia
moderna, a Terminótica, cuida do tratamento automático do
"termo".

De todas essas questões, destacamos, para finalizarmos as


reflexões propostas neste artigo, as que dizem respeito ao
percurso de investigação da Lexicografia e da
Terminologia/Terminografia. A obra lexicográfica recupera,
compila, armazena as unidades lexicais, com vistas a resgatar
os seus significados, explicando-os com uma metalinguagem
definitória. A obra terminológica/terminográfica visa à
recuperação, compilação e armazenagem das denominações dos
"recortes" científicos e tecnológicos. Com precisão, assim se
pronuncia Desmet sobre o assunto: "Mais precisamente, a questão
em terminologia não é tanto de saber o que significa uma forma
linguística, mas antes de saber qual a forma linguística que
representa uma dada noção" [6].

Dessa maneira, o percurso da investigação científica da


Terminologia começa no "recorte técnico-científico", para chegar
à denominação; o da Lexicografia parte da denominação para
chegar à definição. A primeira adota, pois, uma metodologia de
caráter onomasiológico (do "fato conceptual" para a forma
sígnica, ou, no dizer de Pottier, de "uma intenção de significação a
soluções de formas de substância que são expressas por meio de
certos significantes" [7] - "Implica produção, geração" [8]); a
segunda adota uma metodologia de caráter semasiológico (do
reconhecimento e compreensão da forma sígnica para o
designatum , "investigação das significações a partir das formas e
dos significantes" [7] - "Implica reconhecimento e compreensão"
[8], nos termos do mesmo autor.

Dentre outras, a tarefa básica da Terminologia é de nomear,


preenchendo, pois, uma função de codificação e colocando-se
questões do tipo: como nomear tal "fato"? como designar a
operação que consiste em...? Ao contrário, atarefa da
Lexicografia é a de definir, preenchendo, pois, uma função de
decodificação [9], colocando-se questões do tipo: qual a melhor
forma de estabelecer uma relação de equivalência entre paráfrase
definitória e vocábulo definido?

As complexas questões concernentes à identidade científica, à


caracterização epistemológica das diferentes disciplinas e às
múltiplas relações de interdisciplinaridade, multidisciplinaridade,
alimentação/ realimentação [10], poderiam, esquematicamente,
ser assim formalizadas:

As relações sobre as quais discorremos, de maneira sucinta, no


presente trabalho, merecem, com certeza, reflexões mais
aprofundadas, eis que ciência e tecnologia são, no mundo
contemporâneo, mais que no passado, condições do
desenvolvimento político, econômico, cultural e social.

[1] MALMBERG, B. - A língua e o homem. Introdução aos problemas gerais da


Lingüística . Rio, Nódica, 1970.

[2] SAUSSURE, F. - Curso de Lingüística Geral . São Paulo, Cultrix, MCMLXX.

[3] BARBOSA, M. A. - "Grupo de Trabalho de Lexicologia e Lexicografia do XXXV


Seminário do GEL -Apresentação". In: Estudos lingüísticos XVII. Anais de
Seminários do GEL . São Paulo, USP/GEL, 1989.

[4] GENOUVRIER, E. e PEYTARD, J. - Lingüística e ensino do português . Coimbra,


Almedina, 1974.

[5] BARBOSA, M. A. - "Reflexões sobre o projeto lexicográfico: análise e descrição da


forma de conteúdo da unidade lexical". In: Estudos Lingüísticos XVIII. Anais de
Seminários do GEL . Lorena, 1989.

[6] PATS, C.T. - "Aspectos de uma tipologia dos universos de discurso". In: Revista
Brasileira de Lingüística , V.7, n. 1., São Paulo, Global, 1984.

[7] DESMET, I. - "Princípios teóricos da terminologia: especificidade da neonímia". In:


Terminologia , n. 1. Revista da Associação de Terminologia Portuguesa. Lisboa, abril
de 1990.

[8] POTTIER, B. - Presentación de la linguística. Fundamentos de una teoría .


Madrid, Alcalá, 1968.

[9] POTTIER, B. - Théorie et analyse en linguistique . Paris, Hachette, 1987.

[10] DUBUC, R. - Manuel pratique de terminologie . Québec, Bibliothèque Nationale


du Québec, 1985.

[11] BARBOSA, M. A. - "Lexicologia, lexicografia, terminologia, terminografia: objeto,


métodos, campos de atuação e de cooperação". In: Estudos Lingüísticos XX. Anais
de Seminários do GEL . 09 pág., no prelo.

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