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Módulo 2:

O Sistema Plantio
Direto
No Brasil, o SPD teve início no ano de 1971 no Paraná, com as primeiras
pesquisas em trigo, e no Rio Grande do Sul, em área experimental. Desde
então, o sistema passou por frequentes ciclos de expansão e, na safra de
2011/2012, superou os 31 milhões de hectares em plantio direto. (FE-
BRAPDP, 2013).
Herbet Arnold Bartz, Franke Dijkstra e Manoel Henrique Pereira (também co-
nhecido como Nonô Pereira) lideraram o início e a primeira onda de adoção
do sistema, ainda com máquinas e implementos importados ou adaptados.
Ainda na década de 1970 foram criadas importantes instituições com o
intuito de desenvolver o sistema, como o Clube da Minhoca, a Fundação
ABC e a Federação Brasileira de Plantio Direto na Palha, que possibilita-
ram a evolução e aumento expressivo da adoção inicial do sistema (ALT-
MANN, 2010).
Herbicidas
Já em 1980, o mercado nacional dispunha de O glifosate surgiu
máquinas e implementos, no entanto, as adapta- somente em 1984, sendo
ções e fabricações locais mantinham-se em alta. fabricado somente por
uma empresa, o que
Nesse período, o principal desafio eram os pro- elevava seu preço.
dutos químicos, especialmente os herbicidas.
Puríssimo (1997) observa que, desde 1970 até meados de 1990, várias
foram as dificuldades encontradas: desde a falta de equipamentos até a
alta dependência do controle químico das plantas daninhas. No entanto,
a partir da década de 1990, a tendência do SPD ficou mais proativa, com
base mais em oportunidades do que em riscos. Um exemplo é a implan-
tação do SPD em sistemas de produção animal por meio da integração
lavoura–pecuária.
Módulo 2 – O Sistema Plantio Direto

Lá na fazenda Rio Novo


Olá! Falou em integração de lavoura e pecuária, estou
aqui! A combinação de culturas extensivas com a pro-
dução de carne ou leite, pela inclusão de uma cobertura
morta diferenciada, acrescida dos benefícios agrega-
dos, é uma tentativa de retorno ao equilíbrio natural.

Para melhorar esse equilíbrio, hoje nós consideramos


também a integração com as florestas nos chamados
sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta.

Se você quiser conhecer mais sobre o assunto, é só se


inscrever no curso integração Lavoura-Pecuária-Flo-
resta deste mesmo programa! Lá vou mostrar como
estamos fazendo essa integração na fazenda Rio Novo
do meu sogro, o sr. Antônio.

Benefícios foram trazidos com a adoção do SPD pelos agricultores, mos-


trando que esse sistema é comprovadamente uma técnica de manejo do
solo eficiente no controle da erosão, minimizando as perdas de solo. No
entanto, é preciso ter cuidados: o não revolvimento do solo e o tráfego do
maquinário agrícola podem aumentar a densidade do solo e diminuir a
rugosidade superficial, prejudicando a entrada de água no sistema.
Neste segundo módulo, falaremos sobre o sistema plantio direto, seus
benefícios e as boas práticas para implantação. Veja o que preparamos
para a aula deste módulo:

Aula 1 - Sistema Aula 2 - Boas práticas


Plantio Direto para a implantação do
• Princípios para a SPD
implantação do SPD
• Benefícios do SPD

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Módulo 2 – O Sistema Plantio Direto

Aula 1:
Sistema Plantio
Direto (SPD)
O Sistema Plantio Direto (SPD) é uma forma diferenciada de manejo do
solo. Ele tem como objetivo diminuir o impacto da agricultura e das má-
quinas agrícolas sobre o ambiente, especialmente no próprio solo em que
são feitos os plantios. Podemos dizer, portanto, que é uma tecnologia con-
servacionista.
Esse sistema de produção requer cuidados na sua implantação. No en-
tanto, depois de estabelecido, seus benefícios se estendem não apenas
ao solo, mas também ao rendimento das culturas, e promovem uma maior
competitividade dos sistemas agropecuários. (CRUZ et al, 2019)

Na década de 1990, o SPD passou por um grande


desenvolvimento no Brasil e, atualmente, está
bastante difundido, com adaptações para cada
região e níveis de tecnologia disponíveis.

Ao falarmos de agricultura conservacionista de uma forma geral, encon-


tramos diversas denominações para descrever as práticas adotadas. Den-
tre as principais, temos:
• plantio direto; • cultivo mínimo; e
• semeadura direta; • Sistema Plantio Direto.

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Módulo 2 – O Sistema Plantio Direto

Cada uma delas tem uma definição específica e seu conhecimento permite
o emprego correto dos termos, bem como a utilização das técnicas que
cada uma representa. Vamos entender melhor?

Plantio direto e semeadura direta

A expressão “semeadura direta” é muito similar à “plantio direto”. É o


ato de depositar no solo sementes ou partes de plantas na ausência
de mobilizações intensas de solo. Essa expressão é fiel ao conceito
“zero-tillage”, também chamado de “no tillage” ou “no-till”, que veio
dos EUA e da Inglaterra e significa “sem preparo de solo” ou “sem
amanho”, oriundas dos EUA e da Inglaterra.

Cultivo mínimo

Cultivo mínimo é uma técnica utilizada em várias culturas agrícolas e


florestais, e consiste no preparo mínimo do solo antes do plantio. Há
mecanização, mas apenas onde é essencial. No caso da cana-de-açú-
car e do eucalipto, somente a linha de plantio é mecanizada, evitando
assim o revolvimento total da área. Confira na imagem a seguir.

Cultivo mínimo florestal onde há revolvimento somente na linha de plantio.

Sistema Plantio Direto

É um sistema de produção composto por um conjunto de ações que


culminam no manejo sustentável e produtivo da área agrícola. O SPD,
comprovadamente, contribui para a maior sustentabilidade da agri-
cultura, particularmente no que se refere à produção de grãos.

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Módulo 2 – O Sistema Plantio Direto

A expressão “Sistema Plantio Direto” surgiu, em meados


dos anos 1980, em consequência da percepção de que
a viabilidade da semeadura direta em regiões tropical e
subtropical precisava ser compreendido como mais do
que simplesmente o abandono do preparo intenso de solo.

A semeadura direta necessitava ser entendida e praticada


como um sistema de manejo e não como um simples
método alternativo de preparo reduzido de solo.

Assim, a expressão “Sistema Plantio Direto” passou a ser conceituada


como um complexo tecnológico de manejo de solo e de culturas destinado
à exploração de sistemas agrícolas, compreendendo:

• mobilização de solo apenas na linha ou na cova de


semeadura;
• manutenção permanente da cobertura do solo; e
• diversificação de espécies por meio da rotação e/ou
consorciação de culturas.

Tem sido observado, especialmente na região Centro-Oes-


te do Brasil, inadequações na gestão da terra, como o cul-
tivo de grandes áreas com uma única espécie, sequências
de uma mesma cultura num mesmo ano agrícola e o uso
de sequências simples, como a de soja/milho safrinha ou
soja/milheto. Esses monocultivos ocorrem muito frequen-
temente no campo e tais sistemas produtivos têm sido de-
nominados de “plantio direto”, “plantio direto na palha” ou
“semeadura direta” (HERNANI; DENARDIN, SD).

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Módulo 2 – O Sistema Plantio Direto

Esses três pontos dão a base dos princípios do SPD, que são os pré-re-
quisitos para que seja caracterizado o Sistema Plantio Direto. Siga para a
próxima etapa desta aula e saiba mais sobre esse assunto.

Sistema Plantio Direto: princípios


O Sistema Plantio Direto possui três princípios:
1. Não revolvimento do solo.
2. Cobertura permanente do solo.
3. Rotação de culturas.
A partir de agora, vamos conhecê-los melhor. Acompanhe com atenção,
pois essas informações são importantes para você saber como implantar
esse sistema em uma propriedade rural.

Não revolvimento do solo


No SPD, a movimentação de solo é feita somente na linha de plantio e
pode ser por meio dos “facões” da plantadeira ou dos discos de corte.

Sistema de subsolagem na linha de plantio, conhecido como “facão” ou “botinha”


Fonte: SENAR Nacional.

Ao evitar a movimentação geral, típica das operações de grade, arado ou


subsolagem, temos as seguintes vantagens:

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• redução da degradação dos agregados de solo;


• diminuição da pulverização do solo;
• mais resistência a impactos da chuva;
• maior taxa de infiltração de água no solo, caso não haja compacta-
ção superficial;
• maior macroporosidade, nas mesmas condições acima;
• menores perdas de solo e água por erosão.
Esse mesmo sistema faz também a distribuição de fertilizantes de modo
que fiquem localizados na linha de plantio das sementes, na área de ação
das raízes, facilitando sua absorção e eficiência de uso.

Veja só esse exemplo de distribuição de fósforo. Essa dis-


tribuição foi feita no perfil do solo após o oitavo cultivo
com milho, nos sentidos horizontal (correspondente ao
espaçamento da cultura), e vertical, em avaliação até 30
cm para aplicações de 80 kg de P2O5 a lanço (acima) e no
sulco de plantio (abaixo).
Profundidade �cm�

-5
-10
Lanço
-15
-20 100

-25 80
30 20 10 01 02 03 0

-3

60
Teores P Mehlich-1 �mg dm

40

20

15

10
Profundidade �cm�

-5 5

-10
Sulco 1
-15
0
-20

-25
30 20 10 01 02 03 0

Distância em relação à linha de plantio �cm�

Vale ressaltar que, mesmo assim, a sulcagem não tem


efeitos abaixo dos 15 cm.

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Módulo 2 – O Sistema Plantio Direto

Cobertura permanente do solo


O segundo princípio do Sistema Plantio Direto trata da cobertura perma-
nente do solo. A permanência dos restos culturais ou de qualquer outro
tipo de palhada é fundamental para a proteção dos solos contra a ação
da chuva, do sol e do vento. Além disso, ela ajuda a manter a umidade do
solo, oferecendo melhores condições para as culturas resistirem, por mais
tempo, a períodos de seca.
A palhada também atenua a variação
brusca da temperatura, mantendo-a
adequada para o desenvolvimento
dos macro e micro-organismos do
solo, tão importantes para a manu-
tenção de suas características físi-
cas, químicas e biológicas.
Em solos desnudos ou sem cober-
tura, por exemplo, a temperatura
pode facilmente atingir de 60º C a
65º C durante o dia. Nessas condi-
ções, as bactérias que fixam nitro-
gênio nas raízes das leguminosas,
como o feijoeiro e a soja, têm sua
Cultivo de soja com cobertura morta (palhada). sobrevivência comprometida.
A palhada ainda reduz a incidência de ervas daninhas, diminuindo a ne-
cessidade de capinas e, consequentemente, minimizando a exposição do
solo à ação dos agentes erosivos.

Um dos principais benefícios da palhada é a


possibilidade de formação de adubação verde.

A adubação verde pode ser conceituada como o manejo de plantas visando


à melhoria ou à manutenção da capacidade produtiva do solo, por meio de
cultivo que não necessariamente possui finalidade comercial direta, ou seja,
não gera produto para ser vendido, mas resulta em benefícios ao solo.

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Esse conceito abrange a tradicional prática de utilização de leguminosas e


outras espécies vegetais, em rotação ou não, para cobertura do solo, sem
que sejam necessariamente incorporadas, o que geraria impactos ao SPD
pela mecanização.

Lá na fazenda Rio Novo


Olá!

Sou a Natália, neta da Teresa.

Tô aqui para te explicar algo muito importante!

Quando a rotação é feita utilizando-se leguminosas


como cultura principal ou na forma de adubo verde,
consegue-se ainda incorporar nitrogênio ao sistema
de plantio, reduzindo os custos com fertilizantes nitro-
genados.

E quero aproveitar para dizer que temos um curso mui-


to interessante sobre Fixação Biológica de Nitrogênio
lá no Portal do SENAR.

Estarei esperando por você!

Já as gramíneas, com seu sistema de raízes abundan- Gramíneas


te, contribuem para melhor estruturar o solo, ao mes- Como braquiárias,
mo tempo em que aumentam o aporte de matéria or- milheto, milho
ou sorgo.
gânica abaixo da superfície.

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Módulo 2 – O Sistema Plantio Direto

Lá na fazenda Rio Novo


Sabe que quando ouvi o pessoal das redondezas falan-
do que estavam implantando o sistema plantio direto
em suas propriedades, fiquei muito curiosa para saber
por que eles tinham decidido fazer isso. Então comecei
a estudar sobre SPD para entender quais são os bene-
fícios desse sistema. E sabe o que descobri? Que o SPD
trabalha com a cobertura vegetal permanente do solo
e isso tem muitos efeitos positivos para a produção. A
cobertura permanente proporciona:
• a proteção da camada superficial do solo contra as
gotas de chuva, o sol e o vento.
• a manutenção de elevadas taxas de infiltração de
água pelo efeito combinado do sistema radicular e
da cobertura vegetal. No caso dos solos não com-
pactados, isso evita o encrostamento superficial.
• a redução do impacto das gotas de chuva no solo,
minimizando o selamento superficial e a desagre-
gação das partículas.
• a manutenção ou elevação dos teores de matéria
orgânica do solo.
• a atenuação da amplitude térmica e diminuição da
evaporação, aumentando a disponibilidade de água
para as culturas comerciais.
• o rompimento de camadas adensadas, com melhor
agregação do solo.
• a diminuição do processo erosivo.
• a ciclagem de nutrientes.
• a adição de nitrogênio ao solo por meio da fixação
biológica por parte das leguminosas.
• a redução da população de ervas daninhas.
• a ativação do ciclo de macro e micro-organismos
do solo.
Muita coisa, não é mesmo? Depois de implantar o SPD
aqui na Rio Novo, eu vi que tudo isso acontece de ver-
dade e nossa produção ficou mais rentável e melhor
para o meio ambiente!

A cobertura para o SPD, seja ela viva ou morta, pode ser feita por gramí-
neas ou leguminosas. Cada espécie possui um potencial de produção de
matéria seca. Entenda melhor!

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Gramíneas

Em geral, as gramíneas são as espécies que apresentam maiores produ-


ções de matéria seca por hectare. Além de serem rústicas, são rápidas na
formação inicial e eficientes na ciclagem de nutrientes.

Podemos destacar o milheto, o sorgo, várias espécies


de braquiária, a aveia, o trigo e o milho, que são
de fácil aquisição em toda a região do cerrado.

Seguramente, para a região do cerrado, o grande destaque entre as gra-


míneas são as braquiárias, pois, além de serem excelentes plantas de co-
bertura, elas são muito utilizadas para compor sistemas de integração
lavoura e pecuária, podendo permanecer no sistema por longos períodos.

Lá na fazenda Rio Novo


Lembre-se de que você pode conhecer mais sobre
sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta
inscrevendo-se no curso integração Lavoura-Pe-
cuária-Floresta deste mesmo programa.

Leguminosas

Diversas espécies de plantas leguminosas são empregadas na adubação


verde. Essas plantas possuem como característica importante a fixação
de nitrogênio por meio de simbiose com bactérias de solo, que disponibi-
lizam o nutriente.
As leguminosas são pouco utilizadas como planta de cobertura, pois seu
desenvolvimento é lento, as sementes são mais caras e sua decomposição
é muito rápida quando comparadas às gramíneas. No entanto, o consórcio
entre gramíneas e leguminosas é uma alternativa viável em muitos casos, e
o uso dessa consorciação é benéfico para o solo, na maioria das situações.

Na região do cerrado, destacamos o uso da


crotalária, guandu, mucuna e feijão de porco.

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Módulo 2 – O Sistema Plantio Direto

Outras culturas, como a do nabo forrageiro, também têm sido emprega-


das, especialmente por seu sistema radicular bastante agressivo e tole-
rante à seca.

Rotação de culturas

A rotação de culturas é definida como sendo a


alternância ordenada de diferentes culturas, em
determinado espaço de tempo (ciclo), na mesma área.

Um exemplo de sistema de rotação de culturas, especialmente para a par-


te sul do cerrado (Mato Grosso do Sul) seria:

aveia preta + nabo/milho – aveia branca/soja – milho


safrinha/soja – trigo/ soja

Nesse sistema, ocorre a alternância de espécies dentro de uma mesma


estação. Confira.

No inverno
25% da área com aveia preta + nabo forrageiro
25% com aveia branca para grão
25% com milho safrinha
25% com trigo

No verão
75% da área com soja
25% da área com milho

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Módulo 2 – O Sistema Plantio Direto

Por outro lado, os sistemas onde o trigo ou o milho safrinha são cultivados
em 100% da área, todos os anos no inverno, e a soja em 100% da área,
todos os anos no verão, são caracterizados como sistemas de sucessão
de culturas.

A rotação de culturas é frequentemente confundida com


a sucessão de culturas. Você sabe qual é a diferença en-
tre as duas?

A sucessão de culturas é a simples alternância de cultu-


ras ao longo do ano agrícola, com sua repetição no ano
seguinte. Esse é um forte fator de estímulo às monocul-
turas de verão e outono–inverno.

No cerrado, por exemplo, a sucessão mais tradicional é


a soja no verão e o milho como segunda safra. Mas esse
processo é insustentável a longo prazo, pois gera proble-
mas fitossanitários ao longo do tempo.

Já a rotação de culturas consiste em alternar espécies


vegetais na mesma área agrícola, com propósito comer-
cial e auxiliar na recuperação do solo.

As culturas componentes de um sistema de rotação de culturas devem


atender ao maior número possível de alguns princípios. Acompanhe um
pouco da explicação do Marcos, Técnico do SENAR.

Lá na fazenda Rio Novo


Já estava decidida a implantar o SPD na fazenda Rio
Novo quando me bateu aquela dúvida... Quais seriam
as melhores culturas para compor o sistema aqui na
propriedade?

Ainda bem que posso contar com o Marcos, Técnico do


SENAR. Ele foi superesclarecedor em relação ao que
devo considerar nessas escolhas.

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Módulo 2 – O Sistema Plantio Direto

Dica do Técnico

Oi, dona Teresa! Tudo bem com a senhora? Existem alguns prin-
cípios para nortear a escolha das culturas que vão compor o SPD.
Os componentes desse sistema devem produzir quantidade sufi-
ciente de fitomassa da parte aérea e raízes. O objetivo é o aumento
do teor de matéria orgânica; a formação de cobertura morta para
controlar os processos erosivos; a diminuição das oscilações de
temperatura e a redução das perdas de água por evaporação.
As culturas também devem promover condições favoráveis de solo
que diminuam a suscetibilidade das plantas aos danos de pragas
e doenças ou contribuam para a formação de um ambiente que
dificulte o estabelecimento e a reprodução de pragas e doenças.
Nesse ponto, também é importante buscar culturas com susceti-
bilidade a pragas e doenças diferentes. Desse modo, você evita as
espécies que sejam hospedeiras de pragas e doenças de impor-
tância econômica para as culturas principais.
Lembre-se também de que os componentes do SPD devem apre-
sentar exigências nutricionais e capacidade de aproveitamento de
nutrientes diferenciadas (leguminosas e gramíneas, por exemplo).
A diversificação de princípios ativos e mecanismos de ação de
herbicidas, inseticidas e fungicidas também é interessante. Assim
você evita a seleção de espécies ou biótipos tolerantes ou resisten-
tes demais.
Pense também em reduzir o tempo em que a área permanece sem
culturas vivas. Lembre-se de que você pode fazer a inclusão, em
alguma fase, de culturas caracterizadas por alta produção de fito-
massa e sistema radicular profundo, agressivo e abundante. Essas
culturas melhoram a qualidade do solo.
Por fim, as culturas do SPD devem resultar em renda direta, pela
produção de grãos, sementes ou forragem; ou indireta, por meio de
efeitos positivos sobre as culturas subsequentes.

Você consegue perceber as vantagens da rotação de culturas? Elas são


muitas.
Além de proporcionar a produção diversificada de alimentos e outros pro-
dutos agrícolas, se adotada e conduzida de modo adequado e por um
período suficientemente longo, essa prática permite:

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• melhorar as características físicas, químicas e biológicas do solo;


• auxiliar no controle de plantas daninhas, doenças e pragas;
• repor matéria orgânica e protege o solo da ação dos agentes climá-
ticos; e
• ajudar a viabilização do SPD e dos seus efeitos benéficos sobre a
produção agropecuária e sobre o ambiente como um todo.
Como você pode ver, a rotação de culturas desempenha um papel impor-
tante na qualidade do solo. Sabe por quê?
Plantas com raízes que possuem características diferentes têm suas
próprias formas de exploração do solo. Com isso, podem reduzir a densi-
dade do solo compactado e auxiliar na formação de agregados maiores e
mais estáveis.

Milho Soja Cana-de-açúcar

Além disso, a diversificação de espécies na rotação de culturas também


aumenta a diversidade da comunidade microbiana, o que traz um enorme
benefício para o solo, pois, com micro-organismos diversos, se algo preju-
dicar determinado micro-organismo, é provável que a função exercida por
ele seja desempenhada por outro.
Isso é fundamental para a manutenção de funções como a ciclagem de
nutrientes, a agregação do solo e o controle de patógenos, mesmo sob
condições desfavoráveis. Além disso, é importante considerar que a pro-
babilidade de que haja algum organismo antagônico ao agente causal de
determinada doença é maior em ambientes com alta diversidade biológica
(FRANCHINI et al., 2011).

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Módulo 2 – O Sistema Plantio Direto

A monocultura tende a selecionar determinadas espécies


de micro-organismos em detrimento de outras, o que é
indesejável para a sustentabilidade dos sistemas de pro-
dução. A falta de diversidade biológica pode comprome-
ter a capacidade do solo de reagir a pragas e doenças e a
variações climáticas (calor, frio, seca, excesso de chuvas).
Portanto, sem a rotação de culturas, ocorre mais facilmente
o comprometimento das funções do solo.

Sistemas de manejo do solo também têm grande efeito sobre a fauna pre-
sente no local. A rotação de culturas pode beneficiar toda a comunidade
de insetos e pequenos animais no solo.

Resultados de pesquisa comprovam que a rotação de


culturas é uma prática viável para a sustentabilidade da
produção agrícola. É um investimento na propriedade
que trará retorno em médio e longo prazos.

Lembre-se de que os benefícios da rotação de culturas


se limitam ao aumento da produtividade, mas envolvem
também a melhoria da qualidade física, química e bioló-
gica do solo, bem como a redução na ocorrência de pra-
gas, doenças e plantas daninhas.
Agora, que tal entender mais dos benefícios do SPD?
Siga em frente com atenção!

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Módulo 2 – O Sistema Plantio Direto

Sistema Plantio Direto:


benefícios do SPD
Os cultivos intensivos e sequenciais de plantas anuais, aliados ao prepa-
ro excessivo e superficial do solo, têm causado erosão e degradação da
estrutura do solo. Solos fisicamente degradados podem ser recuperados
com o cultivo de espécies de diferentes sistemas aéreos e radiculares que
adicionam material orgânico em quantidade e composição variadas. O
Sistema Plantio Direto tende a ser mais eficiente que outros métodos de
cultivo por manter o carbono (C) orgânico do solo em níveis mais ade-
quados, proporcionando mais qualidade, sustentabilidade e capacidade
de produção dos solos agrícolas (WOHLENBERG et al., 2004).

Áreas sob SPD possuem mais teores de carbono quando


comparados ao cultivo convencional. Esse maior teor de
carbono (C) no solo aumenta a capacidade de troca cati-
ônica (CTC), que é reconhecidamente baixa em solos de
regiões tropicais.

As melhorias no solo, por conta disso, trazem mais sus-


tentabilidade e capacidade de produção, desde que ou-
tros fatores não interfiram no processo.

Mas, além desse, o SPD traz diversos benefícios para o sistema produtivo
em geral, para o produtor rural, sua propriedade e para o meio ambiente.
Os principais são:
• a conservação de solo;
• a minimização das perdas de solo;
• a manutenção de nutrientes;
• os efeitos da cobertura vegetal;
• o desenvolvimento e a manutenção da biota do solo;
• as melhorias econômicas.
Biota
É o conjunto de todos seres vivos
Vamos entender melhor alguns deles? de um determinado ambiente ou
período. (WINGE et al., 2019).

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Módulo 2 – O Sistema Plantio Direto

Conservação de solo
Os benefícios ambientais do SPD
destacam-se logo na primeira ava-
liação. A melhoria nos aspectos re-
lacionados à conservação do solo e
da água, aliada ao terraceamento
da área, são notados mais facilmen-
te, quase que de imediato.
O preparo e o manejo do solo po-
dem influenciar as taxas de erosão
ocorridas em um solo. Ao expor o Cultivo de algodão em Sistema Plantio Direto,
sob palhada, em Barreiras (BA).
solo, em maior ou menor intensida- Fonte: CNA Brasil / Tony Oliveira.
de, ao impacto das gotas de chuva
e à ação da enxurrada, propiciamos a ocorrência de erosão, a qual pode
degradar a estrutura do solo. Essa degradação provoca perdas de solo,
água, nutrientes e matéria orgânica, bem como a diminuição da fertilidade
química, física e biológica. Desse modo, são provocados sérios danos ao
setor agropecuário (OLIVEIRA et al., 2012).
Esses efeitos podem ser observados em áreas de plantio convencional ou
SPD malconduzidos ou planejados.
Muitos estudos que mostram a efi-
cácia dos preparos conservacionis-
tas de solo no controle da erosão,
com reduções de 50% a 95% nas
perdas de solo, em relação ao pre-
paro convencional. No entanto, as
perdas de água, de modo geral, têm
sido variadas e bem menos influen-
ciadas pela cobertura superficial
morta do que as perdas de solo, po-
Erosão em lavoura de plantio convencional na região dendo ser superiores ora na seme-
de Dourados-MS.
Fonte: Hayward (1977).
adura direta, ora no preparo redu-
zido, ora no preparo convencional,
ou mesmo semelhante entre os diferentes métodos de manejo do solo,
dependendo de condições, tais como: regime de chuva, tipo de solo, topo-
grafia e sequência/rotação cultural utilizada no sistema de manejo do solo
da propriedade (COGO et al., 2003).

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Módulo 2 – O Sistema Plantio Direto

Mesmo que a adoção do SPD melhore a infiltração de


água no solo, a simples adoção dessa prática não é sufi-
ciente para garantir que não haja escorrimento de água.
A manutenção dos terraços, caixas de contenção e bar-
raginhas, bem como os aspectos relacionados à conser-
vação de estradas e ao controle do tráfego nas lavouras
(especialmente as localizadas sobre solos mais argilosos)
são práticas obrigatórias e devem caminhar juntamente
com as demais técnicas preconizadas para o SPD, para
que se evite tanto a compactação do solo quanto para
que melhore a infiltração de água no perfil.

Cogo et al. (2003) avaliaram as perdas de solo e água por erosão hídrica
influenciadas por métodos de preparo, classes de declive e níveis de fer-
tilidade do solo. Interaja com a imagem a seguir para ver as conclusões.

Perdas de solo
Perdas de água
por erosão hídrica

Foram todas muito baixas e similares,


mas com tendências, confira-as a seguir.

Elevadas Maiores
no preparo no preparo
convencional. Intermediárias convencional. Intermediárias
Mais
baixas na no preparo Menores na semeadura
semeadura reduzido. no preparo direta.
direta. reduzido.

Perda de solo com o aumento dos valores das


classes de declividade do terreno

Preparo convencional Preparo reduzido


Semeadura direta

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Módulo 2 – O Sistema Plantio Direto

Oliveira et al. (2012) concluíram que o plantio direto é uma técnica eficaz
para redução da perda de solo por erosão hídrica, porém não apresenta
a mesma eficácia de redução para as perdas de água e nutrientes, sendo
necessária, na maioria dos casos, a adoção de práticas conservacionistas
complementares que contribuam para a diminuição da enxurrada. Dentre
essas práticas, destaca-se o terraceamento.

Lá na fazenda Rio Novo


Quando vi as informações sobre a manutenção das
boas condições do solo, quis saber mais sobre o terra-
ceamento. Aí o Marcos me passou algumas coisas para
ler e discutir na reunião da associação que temos entre
os proprietários e produtores aqui da região. Vou con-
tar para você o que descobrimos.
O terraceamento é uma das práticas mecânicas mais
antigas e eficientes no controle da erosão hídrica. Ele
interrompe o fluxo da enxurrada que leva o solo embo-
ra e reduz as perdas de solo, e foi utilizado amplamente
desde o período em que o Preparo Convencional (PC)
de solo era o mais comum. No entanto, a confiança na
eficiência do SPD para controlar perdas de solo levou,
nos últimos anos, muitos agricultores e técnicos a reti-
rarem parcial ou totalmente os terraços, supondo que o
problema da erosão já estava solucionado. Mas a ocor-
rência de chuvas intensas e de maior potencial erosivo
nos últimos anos expôs novamente a agricultura a per-
das de solo incompatíveis com a produção sustentável
(CAVIGLIONE et al., 2010).
Avaliando a utilização de terraços e seus espaçamentos
em SPD e PC, Caviglione et al. (2010) observaram que
as perdas de solo simuladas nos cenários de PC foram
1,8 vezes maiores em relação ao SPD nas mesmas si-
tuações de erosividade e espaçamento. As proporções
de perdas de solo do PC, em relação ao SPD, foram
semelhantes aos resultados experimentais de perdas
de solo com soja e trigo obtidos em macroparcelas já
observadas anteriormente.

Esta é a primeira motivação para a adoção do sistema: menor ocorrência


de perdas de terra, água e nutrientes por erosão em relação aos sistemas
convencionais de preparo do solo (DE MARIA, 1999).

58
Módulo 2 – O Sistema Plantio Direto

A erosão é muito menor quando o sistema


de manejo do solo é o SPD.

Vários autores compararam as perdas por erosão entre diferentes siste-


mas de manejo do solo e mostraram que, em média, o SPD reduz as per-
das de solo e de água em 84% e 58,7% em relação aos preparos conven-
cionais (SILVA; DE MARIA, 2011).

Primeira área em SPD no Mato Grosso do Sul (A) e área em manejo convencional (B), onde se notam grandes
sulcos de erosão.

Hernani et al. (1999) estudaram diferentes sistemas


Solo com textura
de manejo do solo e as perdas de nutrientes e ma- muito argilosa
téria orgânica causadas por erosão na camada de 0 Neste caso, um
a 5 cm de um solo com textura muito argilosa, e latossolo roxo
álico epieutrófico.
observaram que o sistema manejado com arado de
discos + duas grades niveladoras e sem nenhuma
cobertura perdeu sete vezes mais água do que o sistema manejado em
Plantio Direto. Isso demonstra o efeito positivo da SPD e sua contribuição
na infiltração de água no solo.

59
Módulo 2 – O Sistema Plantio Direto

Quanto às perdas de solo, o SPD foi o que perdeu menos solo na média
dos seis anos avaliados: somente 605 kg/ ano. Os sistemas que foram ma-
nejados com mecanização perderam de 2864 a 6918 kg/ha/ano, ou seja,
de quatro a dez vezes, a cada ano.

Para ter uma noção melhor das perdas de solo e água em


relação a alguns métodos de preparo do solo, acompanhe
a tabela a seguir.

Tabela 1 - Estimativas de perdas de solo e


água por erosão.

Perdas
Método de preparo
do solo
Solo (ton./ha) Água (m³)

Arado + 2 grades
3,43 828,5
niveladoras

Arado de aiveca +
8,01 944,7
grade niveladora

Grade aradora + arado


5,5 1063,7
+ grade niveladora

Plantio Direto 0,41 170,4

Fonte: Landers, 1999.

Agora que você já conhece os benefícios do SPD em relação à conserva-


ção do solo, que tal ver os efeitos positivos da cobertura vegetal?

Efeitos da cobertura vegetal


A cobertura presente no solo tem efeitos importantes para as lavouras,
como a redução das amplitudes térmicas, mantendo o solo com maiores
temperaturas à noite e menores durante o dia. Além disso, a camada ve-
getal dificulta a germinação de plantas daninhas, e o não revolvimento
reduz a ativação do banco de sementes do solo, minimizando o uso de
herbicidas e aumentando a atividade biológica no solo.

60
Módulo 2 – O Sistema Plantio Direto

A conversão dessa camada vegetal em matéria orgânica e sua elevação


nas camadas mais superficiais do solo, segundo Lopes et al. (2004), são
consequências de duas coisas:
• mineralização mais lenta no SPD (em relação ao SPC) devido ao
menor contato com o solo, o que retarda a ação dos micro-organis-
mos responsáveis por este processo também;
• maior adição de fitomassa das culturas em rotação e/ou sucessão; e
• maior preservação da estrutura do solo.
Isso confere à matéria orgânica mais proteção ao ataque de micro-orga-
nismos e de seus complexos enzimáticos.

Mão na Terra
Conversando com o Antônio e o Marcos do SENAR, en-
tendi algo muito valioso, e vou compartilhar com você!

É que o uso de plantas específicas para melhorar al-


guns atributos do solo, por meio da ação de suas ra-
ízes, pode ser tão importante quanto a produção de
cobertura do solo.

Você pode selecionar espécies que apresentam produ-


ção de abundante palhada para a cobertura do solo e
crescimento do sistema radicular vigoroso. Essa com-
binação irá resultar em melhorias estruturais do solo,
especialmente nos aspectos relacionados à estrutura e
ao acúmulo de matéria orgânica.

Como exemplo, são indicadas as braquiárias, que possuem sistema radi-


cular fasciculado e de rápido estabelecimento e são espécies plenamente
adaptadas às condições climáticas de regiões de clima tropical, ampla-
mente cultivadas para a formação de pastagens.

61
Módulo 2 – O Sistema Plantio Direto

Braquiária mutica. Raízes de braquiária.


Fonte: Embrapa / Lourival Vilela.

O sistema radicular de espécies com potencial para a rotação de culturas,


como as braquiárias, o milheto e o feijão guandu, é bastante eficiente em
promover uma estruturação do solo, com formação de agregados está-
veis, macroporosidade e canais, proporcionando ambiente favorável para
o crescimento do sistema radicular da cultura subsequente.

De olho nos valores


Aqui na fazenda Rio Novo, eu vi que, no caso da utiliza-
ção em áreas de cultivo de soja, é plenamente possível
o cultivo da braquiária na entressafra, de forma solteira
ou em consórcio com o milho.
Conversando com a minha nora Carmen, que conhe-
ce muito de sistemas integrados, aprendi que um dos
principais sistemas de manejo onde é possível ter plan-
tas tanto para cobertura do solo quanto para “produ-
ção de raízes” é a rotação entre a pastagem e a cultura
de soja, ou Sistema Integrado Lavoura–Pastagem.
Tenho uma observação importante que li em um texto
de Salton e outros autores (1998): ao fazer a semea-
dura da soja sobre a pastagem, é importante que esta
se encontre em boas condições de produção de for-
ragem e tenha um sistema radicular volumoso. É esse
sistema, especialmente das braquiárias, que poderá
resultar em importantes benefícios ao sistema de pro-
dução como um todo.

São muitos os efeitos positivos da cobertura vegetal, não é mesmo?


Além deles, o SPD também promove benefícios à biota do solo. Siga em
frente para ver!

62
Módulo 2 – O Sistema Plantio Direto

Benefícios à biota do solo


A decomposição da matéria vegetal depositada na superfície da área em
SPD se torna mais lenta e escalonada, em comparação com o Plantio Con-
vencional. O SPD aumenta:
• o metabolismo respiratório;
• a população e a biomassa microbiana;
• as taxas de amonificação e nitrificação;
• o teor de húmus;
• a retenção de umidade;
• a capacidade de troca catiônica (CTC);
• a reserva de nutrientes em compostos húmicos.
Além disso, potencializa os nutrientes imobilizados nos ciclos metabólicos
vitais da micro e da macrobiota do solo e, sobretudo, promove maior bio-
diversidade biológica no sistema.
A influência da cobertura morta na biologia do solo tem sido avaliada por
seus efeitos globais em processos biológicos de liberação de CO2, em mi-
neralização da matéria orgânica e do nitrogênio orgânico, em população e
em biomassa microbiana. Sabe-se que a decomposição de um dado tipo
de cobertura morta induz, inicialmente, a atividade de alguns organismos,
para os quais serve como fonte de energia e nutrientes. Os produtos re-
siduais dessa decomposição inicial tornam-se, então, úteis a outros tipos
de vida. Assim, são estabelecidas relações que mantêm o equilíbrio da
comunidade biológica como um todo (EIRA, 1995).

A disponibilidade de matéria orgânica é fundamental para


a vida microbiana do solo, pois é dela que a maioria dos
organismos obtém a energia e os elementos minerais e
orgânicos para a realização de seus processos vitais.

63
Módulo 2 – O Sistema Plantio Direto

No preparo convencional, os restos culturais são enterrados. Ao se fazer


a incorporação dos restos culturais pelo preparo do solo, como ocorre no
preparo convencional, o arejamento é favorecido, o que, com a introdução
de resíduos vegetais, acelera a atividade microbiana e, consequentemen-
te, a sua rápida decomposição (CRUZ et al., 2001).
No plantio direto, os restos culturais ficam na superfície do solo, tornando
a decomposição mais lenta e, assim, mantendo a população microbiana
mais constante (ALMEIDA, 1985).

Uma das principais consequ-


ências desse aspecto é o efei- Rizóbio
to do plantio direto sobre a sim- Rizóbios são bactérias
biose rizóbio e leguminosas. do solo que possuem
habilidade para induzir
Voss e Sidiras (1985) verifi- a formação de nódulos
nas raízes e, em alguns
caram que, em parcelas com casos no caule, de
plantio direto, o peso e o núme- plantas leguminosas,
ro de nódulos foram superiores onde convertem o
aos das parcelas com plantio nitrogênio atmosférico
convencional, resultando em em formas utilizáveis
pela planta hospedeira.
maior massa nodular, distribui- (VIEIRA, 2019)
ção mais profunda dos nódulos
no perfil do solo e maior núme-
ro de nódulos em plantas de soja. Esses resultados foram
atribuídos à maior cobertura do solo, que proporcionou me-
nores variações de temperatura e maiores teores de umi-
dade no solo.

64
Módulo 2 – O Sistema Plantio Direto

Benefícios econômicos
O plantio direto é um sistema complexo, com reflexos na erosão de solos,
compactação, nutrientes, pragas, doenças, plantas daninhas, biologia dos
solos, retenção de umidade ao longo dos anos. Além disso, não existe uma
recomendação universal para sua implementação, pois cada ecossistema
requer um ajuste específico, com reflexo nos custos envolvidos.
Por isso, é de se esperar que a planilha de custo seja insuficiente para
captar os efeitos econômicos de todas as mudanças ocasionadas pela im-
plantação do sistema. O que se espera, contudo, é que, ainda que no início
do processo, haja similaridade nos custos de produção entre os plantios
direto e convencional, e ocorra redução no custo de produção ao longo
dos anos, conforme a mesma área venha sendo cultivada usando o SPD.

De olho nos valores


Nesse tempo com o SPD aqui na nossa propriedade,
aprendi que acompanhar os efeitos e as repercussões
econômicas do uso do SPD exigem certo tempo, rigor
e algumas intervenções.

É importante considerar as peculiaridades ambientais


de cada região e os sistemas de produção em que o
plantio direto está inserido. A necessidade de alguns
insumos, como fertilizantes e herbicidas, varia confor-
me as condições locais da lavoura, o que reflete nos
custos de produção.

Apesar de ser um trabalho um pouquinho duro, as


avaliações econômicas do SPD em cada região são
muito importantes para compreender os benefícios
do sistema.

Além disso, aqui na Rio Novo, o acompanhamento fi-


nanceiro foi essencial para melhorar a produção e a
renda da nossa família. Então, tenho certeza de que
algum acompanhamento também vai ser ótimo para
você e a propriedade em que trabalha!

Rodrigues (2005), em avaliação econômica do SPD, observou alguns be-


nefícios econômicos da adoção desse sistema em culturas de soja e milho.

65
Módulo 2 – O Sistema Plantio Direto

Soja
No caso da soja, a adoção do plantio direto ele-
va o custo de produção em 0,47%, mas com a
adição do custo de reposição de nutrientes do
solo, esse custo passa a ser 0,37% menor que
no plantio convencional.

Isso comprova que, em uma situação de


longo prazo, o plantio direto já é uma alter-
nativa econômica mais atraente do que o
plantio convencional.

Ainda, com a posterior adição do custo de remo-


ção de sedimentos de recursos hídricos, o cus-
to social passa a ser 0,93% menor do que no
plantio convencional. Também foi verificada uma
redução de 81,22% no custo ambiental com a
adoção do plantio direto, ficando assim demons-
trado a maior sustentabilidade dessa tecnologia
de plantio.

Milho
No cultivo do milho, os custos de produção do
plantio direto são 5,92% menores do que os re-
ferentes ao plantio convencional, demostrando
sua maior eficiência econômica.
Além disso, a adoção do plantio direto reduz o
custo ambiental em 29,43% e o custo social em
6,17%.

Mattoso et al. (2001) fizeram um amplo estudo comparativo no cerrado,


mais precisamente em Balsas (MA), tomando como referência a cultura do
milho em SPD e em plantio convencional.

66
Módulo 2 – O Sistema Plantio Direto

O gasto com fertilizantes foi o que mais onerou o custo,


representando de 30,35% a 40,57% do custo operacio-
nal, enquanto os gastos com herbicidas, o segundo item
mais oneroso, variaram de 9,88% a 19,09%. O custo ini-
cial do plantio direto foi 1% mais alto do que o do plantio
convencional na mesma região. Isso se justifica, uma vez
que a implantação do sistema implica maiores despesas, principalmente
com fertilizantes e herbicidas. A produtividade das duas áreas foi igual,
atingindo 6.200 kg/hectare.
Levando em conta que, a partir do segundo ano, os custos do SPD são
reduzidos e a gama de benefícios do sistema aumenta ao longo dos anos,
a conversão da área para SPD ainda é financeiramente favorável.
Depois de ter visto tantos benefícios, você deve estar se perguntando:
afinal, como implantar o SPD? Quais são as boas práticas para conseguir
todos esses efeitos positivos? Esse é o assunto da próxima aula. Então,
prepare-se bem e siga em frente com seus estudos.

67
Módulo 2 – O Sistema Plantio Direto

Aula 2:
Boas práticas para a
implantação do SPD

Diagnóstico da área

O diagnóstico da área
para implantação do Sis-
tema Plantio Direto deve
ser realizado para mini-
mizar os riscos de insu-
cesso e frustações de sa-
fra no agronegócio.

A análise química do solo é a principal ferramenta que


devemos utilizar para conhecer os níveis de acidez e
nutrientes do solo para tomada de decisão dos corretivos e
fertilizantes que serão necessários para elevar as condições
químicas do solo a níveis adequados para o cultivo de grãos.

68
Módulo 2 – O Sistema Plantio Direto

Mão na Terra
O Marcos já me disse que a correção da acidez do
solo na camada arável, entre 0 cm e 20 cm, é realizada
principalmente com calcário. Trata-se de uma prática
primordial para a implantação do SPD.

A correção da acidez contribui para a redução da pre-


sença de alumínio tóxico às plantas. Além disso solos
com a acidez corrigida pelo calcário torna os macro a
micronutriente mais disponíveis para as plantas, ou
seja, um melhor aproveitamento dos fertilizantes apli-
cados no solo.

Com relação à camada do subsolo, entre 20 cm e 40


cm, a utilização do gesso agrícola pode contribuir para
a redução do alumínio tóxico e para o fornecimento de
cálcio e enxofre.

Sua alta solubilidade aumenta a capacidade da água


caminhar pelo solo, chegando a camadas mais profun-
das e proporcionando um ambiente favorável para o
aprofundamento do sistema radicular das culturas.

A incorporação dos corretivos do solo deverá ser realizada na implantação


do SPD, com a utilização dos implementos grade de discos e arado de ai-
vecas, atentando para a correta incorporação até a profundidade mínima
de 20 cm do solo. Essas operações devem ser simultâneas ao preparo do
solo e ao sistema de terraceamento da área de cultivo.

69
Módulo 2 – O Sistema Plantio Direto

Calagem
A calagem deve ser realizada na implantação do SPD para corrigir a aci-
dez do solo pela incorporação do calcário. A recomendação para a apli-
cação de calcário deve ser realizada quando, na camada de 0 cm–20 cm,
observam-se:
• valores de pH em água abaixo de 5,8;
• valores de saturação por bases (V) abaixo de 60%;
• a presença de alumínio trocável e de teores de matéria orgânica
entre médios e baixos.

Fonte: Istock / Alf Ribeiro.

Existem vários métodos de recomendação de calagem. O método consiste


em buscar elevar a saturação por bases do solo a valores predefinidos pela
pesquisa como mais adequados para as culturas, conforme a equação:

70
Módulo 2 – O Sistema Plantio Direto

NC (T HA-1) = {(V2 – V1) * CTC TOTAL} / (PRNT * 100)

NC é a necessidade de calagem calculada para a camada de 0 cm–


20 cm de solo.
V1 é a saturação por bases original do solo em porcentagem.
V2 é a saturação por bases pretendida (ideal para a cultura) em
porcentagem.
CTC total capacidade de troca catiônica é a capacidade de troca
de cátions total do solo, obtida por solução tampão de acetato de
cálcio 0,5 mol L-1 a pH 7,0.
PRNT poder relativo de neutralização total - %, obtido em função
do tipo de calcário utilizado.

Há outros métodos para a recomendação das doses de


calcário, de acordo com o teor de argila do solo e demais
parâmetros químicos ou físicos.

E atenção: Para uma correta recomendação de correção


do solo você deve procurar um engenheiro agrônomo.

Os valores ideais de saturação por bases (V), como exemplo para a cultura
da soja, podem diferir de região para região.

A recomendação da Embrapa Cerrados para


os solos do Brasil central é de 50% para a
cultura da soja (SOUSA; LOBATO, 1996).

71
Módulo 2 – O Sistema Plantio Direto

Por outro lado, os valores recomendados para solos


do Paraná são de 70% para a cultura da soja (CAIRES, Micronutrientes
catiônicos
2013). A diferença nas recomendações está ligada à Zinco, cobre,
variação do poder tampão dos solos, à disponibilidade manganês
de micronutrientes catiônicos e às estratégias de ma- e ferro.

nejo desses micronutrientes.


Os trabalhos da Embrapa Cerrados enfatizaram o risco de se elevar muito
o pH do solo em valores de saturação por bases superiores a 50%, o que
reduziria a disponibilidade dos micronutrientes catiônicos (SOUSA; LO-
BATO, 1996).
Por outro lado, solos argilosos do Paraná e do Centro Sul de Mato Gros-
so do Sul são derivados de basalto e ricos em elementos traço (dentre
os quais os micronutrientes catiônicos). Além disso, são solos com argila
mais ativa e maiores teores de matéria orgânica, o que lhes confere maior
poder tampão, ou seja, menor variação do pH, mesmo com valores mais
elevados de saturação por bases.
Para solos arenosos (teor de argila < 15%), o poder tampão é baixo, assim
como os teores de micronutrientes. Nesses solos, deve-se trabalhar com
saturações por bases mais baixas para evitar o desequilíbrio nos níveis de
micronutrientes.

A Fundação MS tem recomendado a ponderação dos va-


lores ideais de saturação por bases (V) em função das ca-
racterísticas do solo.
• V = 55% – em solo arenoso, com baixa Capacidade de
Troca Catiônica (CTC), nível baixo de matéria orgânica
e níveis baixos de zinco, cobre e manganês.
• V = 60% – em solos de textura média, com média Ca-
pacidade de Troca Catiônica (CTC), nível médio de ma-
téria orgânica e níveis médios de zinco, cobre e man-
ganês.
• V = 70% – em solos argilosos, com Capacidade de
Troca Catiônica (CTC) entre 8 e 11 cmol dm-3, nível
bom de matéria orgânica e níveis altos de zinco, cobre
e manganês.
• V = 80% – são exceções, condição para solos mui-
to argilosos, com alta Capacidade de Troca Catiônica
(CTC), níveis altos de matéria orgânica, zinco, cobre
e manganês.

72
Módulo 2 – O Sistema Plantio Direto

A escolha do calcário deve levar em consideração a sua qualidade e as


quantidades relativas de cálcio e magnésio.

Quanto à qualidade

• todo o calcário deverá passar na peneira com malha de 2 mm;


• os teores de CaO + MgO deverão ser superiores a 38% (EM-
BRAPA, 2013).

Quanto aos teores de magnésio

Os calcários são classificados em:


• calcário calcítico (< 5,0 % de MgO);
• calcário magnesiano (entre 5,0 e 12,0 % de MgO);
• calcário dolomítico (> 12,0 % de MgO).

Para a definição do calcá-


balanço entre cálcio e magnésio
rio a ser utilizado, deve- Caso o teor de magnésio esteja abaixo de 0,8 cmolc
-se levar em consideração dm-3 ou a relação cálcio/magnésio estiver alta, re-
o balanço entre cálcio e comenda-se a utilização de calcário magnesiano ou
dolomítico. O calcário calcítico deve ser utilizado so-
magnésio no solo, obtido mente quando a relação cálcio/magnésio estiver baixa.
por análise do solo.

Mão na Terra
Aqui na fazenda Rio Novo aplicamos o calcário em toda
a área, sendo uniformemente distribuído e incorporado
até a camada de 0 cm a 20 cm. Utilizamos os arados
+ grade niveladora, mas você pode usar também as
grades pesadas, desde que haja uma boa garantia da
incorporação.
Fizemos as aplicações com 3 meses de antecedência
do início do plantio.
Para solos arenosos, com teor de argila inferior a 15%,
é recomendado que a correção do solo seja feita ao fi-
nal da estação chuvosa, sendo implantada uma cultura
de cobertura.
Assim, a soja pode entrar na safra seguinte, já em Sis-
tema Plantio Direto.

73
Módulo 2 – O Sistema Plantio Direto

A eficiência da aplicação de calcário, bem como a dura-


ção de seus efeitos, está diretamente ligada à boa incor-
poração.

Após a aplicação, deve-se revolver o solo novamente,


com grade aradora ou equipamento equivalente, com vis-
tas a mover o calcário da superfície do solo para a cama-
da mais profunda possível.

Operação de revolvimento do solo já em preparo, com vistas a incorporar o


calcário.

Em 2010, Buzzatti avaliou diferentes formas de manejo do solo para a


incorporação do calcário, variando o equipamento e a dose:
T1: SPD sem revolvimento e com calcário em superfície, na dose de 2.500
kg ha-1.
T2: SPD com escarificação: aplicação de calcário em superfície, na dose
de 2.500 kg ha-1 seguido de escarificação.
T3: Sem revolvimento nem aplicação de calcário (testemunha).
T4: Incorporação de calcário pela aração, na dose de 6.300 kg ha-1.
T5: Incorporação de calcário pela aração, com metade da dose antes da
aração e metade depois, num total de 9.800 kg ha-1.
Como principais observações, obteve que a aplicação de calcário na su-
perfície (T1) não alterou o pH, após seis meses, em relação ao solo que
não recebeu aplicação de calcário (T3). Essa forma de aplicação não favo-
rece a reação do calcário com o solo, pois concentra o corretivo apenas na
camada superficial e em contato com os resíduos culturais.

74
Módulo 2 – O Sistema Plantio Direto

Tabela 2 - pH em água em função do manejo do solo e profundidade


seis meses após a aplicação dos tratamentos

Profundidade
Tratamento
0–05 05–10 10–15 15–20 Média
T1 6 5,4 5,1 5 5,4
T2 6 6 5,5 5,1 5,6
T3 5,9 5,4 5,1 4,9 5,3
T4 6,4 6,2 5,9 5,6 6
T5 6,2 5,9 6 5,3 6
Média 6,0 A 5,6 AB 5,5 B 5,3 B -
CV (%) tratamento = 3,90
CV (%) profundidade = 7,57

Médias seguidas pela mesma letra maiúscula na horizontal não diferem significati-
vamente pelo teste de tukey ao nível de 5% de probabilidade. ns: não significativo.

A aplicação superficial de calcário, seguida de escarificação, mostrou uma


ação incorporadora de calcário da operação, com o escarificador. Nas ca-
madas de 0 cm–5 cm, 5 cm–10 cm e 10cm–15 cm, para T1 e T2, os va-
lores de pH foram 6,0 e 5,9; 5,3 e 5,9; 5,0 e 5,4 respectivamente; para
saturação de bases (%) foram 72,5 e 68,5; 43,5 e 69,5; 27,0 e 54,5, res-
pectivamente; saturação por Al (%) foram 0,0 e 0,0; 6,5 e 0,0; 28,5 e 0,0,
respectivamente.
Ficou evidente a incorporação do calcário aplicado na superfície pela es-
carificação, uma vez que as mesmas quantidades de calcário foram aplica-
das para o T1 e T2 (3.400 kg ha-1), sendo que T2 teve efeito até a camada
de 15 cm do perfil do solo.

A eficiência da calagem deverá ser conferida e monitora-


da periodicamente. Sugere-se que novas amostragens de
solo sejam feitas na área anualmente, ou a cada dois anos,
no máximo, no intuito de avaliar se há necessidade de cor-
reção superficial ou não.

75
Módulo 2 – O Sistema Plantio Direto

O processo de incorporação de calcário pela aração com dose de calcário


para pH 5,5 (T4) e pH 6,0 (T5), com 8.600 kg ha-1 e 13.000 kg ha-1, res-
pectivamente, foi efetivo para incorporação do calcário na profundidade
trabalhada (0 cm–20 cm).
A maior ação das operações de incorporação de calcário com aração, em
ambos os casos, foi até os 20 cm. No T4 e no T5, houve uma diferença de
pH, principalmente na camada de 15 cm–20 cm, em que T4 resultou em
valores maiores de pH, mesmo com menores quantidades de calcário.

Gessagem
Os solos da região central do Brasil geralmente apresentam acidez não
somente na camada superficial, mas também em profundidade. A cala-
gem corrige com sucesso os primeiros 20 cm do solo, profundidade geral-
mente atingida pela incorporação do calcário.
A acidez na camada abaixo dos 20 cm pode significar ele-
vados níveis de alumínio, restringindo o crescimento radi- Gesso
cular à camada superficial corrigida. Nessas situações, a agrícola
aplicação de gesso agrícola tem apresentado bons resul- Sulfato de
cálcio.
tados, condicionando melhor a camada subsuperficial e
permitindo o aprofundamento de raízes.
O diagnóstico para a tomada de decisão sobre a aplicação de gesso agrí-
cola toma como base os resultados de análise de solo na camada de 20
cm–40 cm.

Recomenda-se a aplicação de gesso quando:


• A saturação por alumínio na Capacidade de Troca
Catiônica (CTC) efetiva (m) for maior que 20%;
• Os teores de cálcio forem inferiores a 0,5 cmolc dm-3.

A recomendação de gesso sugerida para a cultura da soja baseia-se na


textura dos solos, podendo ser definida como: 700, 1.200, 2.200 e 3.200

76
Módulo 2 – O Sistema Plantio Direto

kg ha-1, respectivamente para solos de textura arenosa (< 20% de argila),


média (de 20% a 40% de argila), argilosa (de 40% a 60% de argila) e mui-
to argilosa (> 60% de argila).
Alternativamente, pode-se utilizar a fórmula:

DG(KGHA-1)=50XARGILA

DG é a dose de gesso a ser aplicado em kg por ha.


ARGILA é o teor de argila obtido pela análise da superfície do solo,
expresso em percentagem (%).

Para uma correta recomendação de correção do solo você


deve procurar um engenheiro agrônomo.

Recomenda-se a aplicação em superfície, não havendo a necessidade de


incorporação.

O ideal é que o gesso seja aplicado após a calagem, para


que haja tempo de reação do calcário e, consequentemente,
o aumento nos teores de cálcio e magnésio na
camada superficial, antes que o gesso promova a
descida das bases para a camada subsuperficial.

77
Módulo 2 – O Sistema Plantio Direto

Na prática, no entanto, têm-se observado que, em áreas de abertura, o


gesso é aplicado juntamente com o calcário e incorporado. Não há sérias
restrições a essa prática, embora o gesso reaja prontamente e promova a
migração de bases antes da reação do calcário.

Para entender melhor a diferença entre calagem e gessagem,


acesse a Biblioteca e confira o material complementar
produzido pela Embrapa.

Práticas de conservação do solo


A erosão é o principal processo que remove os nutrientes presentes no solo,
transportando-os para os rios e lagos próximos às áreas de cultivo. As per-
das de solo, água e nutrientes são intensificadas em regiões com alta con-
centração de chuvas, e o agravamento dos processos erosivos ocorre em
áreas com solos sem cobertura permanente de palha ou vegetação.
A conservação do solo fundamenta-se, principalmente, em: diminuição do
impacto da gota de chuva no solo por meio da cobertura permanente do
solo; diminuição do escoamento superficial, obtida por meio dos terraços
e melhoramento da infiltração de água no solo, por meio do controle do
tráfego e da umidade do solo, principalmente em solos com maiores teo-
res de argila.
O aumento da inclinação do terreno e da ex-
Voçorocas
tensão da rampa (encosta) por onde a chuva
Desmoronamento resultante
escorrerá pode aumentar o volume de enxur- de erosão produzida por
rada e, consequentemente, evoluir para a for- águas subterrâneas ou águas
pluviais. (PRIBERAM, 2019).
mação de erosões em sulcos e voçorocas.

A adoção de práticas de conservação do solo visa


principalmente a reduzir a exposição do solo às gotas
de chuva, a controlar a formação de enxurradas
e a melhorar a infiltração de água no solo.

78
Módulo 2 – O Sistema Plantio Direto

Todo sistema de terraceamento é calculado considerando-se que vai ha-


ver infiltração de água entre os terraços. Se o solo estiver compactado en-
tre os terraços e a água não infiltrar nesse espaço, isso vai sobrecarregar o
sistema de terraceamento e o risco de rompimento será enorme.

Terraceamento agrícola
Consiste na distribuição de terraços
em áreas agrícolas. Os terraços são
distribuídos de acordo com a erosi-
vidade da chuva e da paisagem, com
o comprimento da rampa, com a ru-
gosidade do terreno, a profundidade
e a permeabilidade do solo, e com as
práticas de manejo agrícola.
O terraço é composto de duas partes: Fonte: SENAR Nacional.

a) canal coletor, de onde é retirada a massa de solo;


b) camalhão ou dique, construído com a massa de solo movimentada
do canal.

Declive do terreno L
B

Talude do camalhão
H

Talude do canal b

Corte transversal de um terraço com seção trapezoidal: B = base maior do trapézio; b = base do canal do terraço
ou base menor do trapézio; H = altura do camalhão; L = largura da crista.

Acompanhe a classificação dos terraços.

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Quanto à função

Terraço em nível, de retenção ou de infiltração

São terraços construídos sobre as niveladas demarcadas em nível


e com as bordas bloqueadas, cuja função é interceptar a enxurrada
e permitir que a água seja retida e infiltre. São terraços recomenda-
dos para solos de boa permeabilidade, como latossolos e nitossolos,
além dos arenosos, como os neossolos quartzarênicos.

Terraço em gradiente, desnível, de escoamento ou de drenagem

São construídos com pequeno gradiente ou desnível transversal-


mente ao maior declive da rampa. Acumula o excedente de água e
permite seu escoamento lentamente para fora da área protegida, por
uma ou duas extremidades abertas, até canais escoadouros vegeta-
dos. São recomendados para solos com permeabilidade moderada
ou lenta que dificultam a infiltração de água da chuva na intensidade
necessária. São recomendados para solos das classes dos cambis-
solos, argissolos e neossolos litólicos.

Terraço misto

Construído com um canal de pequeno declive e com um volume de


acumulação do escoamento superficial. Uma vez que esse volume
de acumulação seja preenchido, começa a funcionar como terraço
em gradiente.

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Quanto à construção

Tipo Nichols

Na sua construção, o solo é cortado com arado e não se deve usar


grade aradora. É movimentado sempre de cima para baixo, de modo
que a massa de solo que forma o camalhão é retirada da faixa ime-
diatamente superior, o que resulta no canal (veja figuras a seguir).
Esse tipo de canal pode ser construído em rampas com declive de
até 15% e, excepcionalmente, se o solo apresentar boa cobertura de
palhada, a 18%.

Esquema de terraço tipo Nichols disposto numa rampa.

Detalhe de terraço tipo Nichols construído em um latossolo de textura argilosa, em Sistema Plantio Direto
de arroz de terras altas sobre palha de braquiária, em Brazabrantes, GO.

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Tipo Manghum

Na sua construção, movimenta-se uma faixa mais larga de solo que


a do terraço tipo Nichols. A massa de solo é deslocada tanto da faixa
imediatamente superior como da inferior ao camalhão, ora num sen-
tido da aração, ora noutro, em passadas de ida e volta com o trator.
Esses terraços podem ser construídos com terraceadores em terre-
nos de menor declividade.
Quanto à dimensão da estrutura e volume de movimentação de ter-
ras, os terraços podem ser de base estreita, média ou larga.

Nível original do terreno

6 a 12 metros

Nível original do terreno

3 a 6 metros

Nível original do terreno

C
3 metros

Esquema comparativo da secção transversal de terraços de base larga (A), média (B) e estreita (C).
Ilustração: Pedro L. O. de A. Machado.

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Módulo 2 – O Sistema Plantio Direto

Os terraços de base larga e nivelados devem ser construídos em


latossolos e neossolos quartzarênicos, solos arenosos. Eles têm a
vantagem de permitir o cultivo em praticamente toda a sua superfície
e de facilitar sua manutenção com as operações normais de preparo
do solo.
Os terraços de base média são indicados para pequenas ou médias
propriedades onde há maquinaria suficiente para os implementos
recomendados, com declividade do terreno de até 15%.
Os terraços de base estreita são recomendados apenas em condições
em que não seja possível instalar terraços de base média ou larga.
Normalmente, são recomendados para pequenas propriedades, com
baixa intensidade de mecanização agrícola e devem ser construídos
em terrenos com declividade acima de 12%. Sua principal desvanta-
gem é a diminuição da área útil para o cultivo agrícola.

Nos últimos anos, diversos métodos matemáticos e computacionais foram


desenvolvidos para o cálculo das distâncias, alturas e demais parâmetros
técnicos dos terraços no SPD, como forma de conservação de solos.
Por exemplo, o modelo matemático “Terraço for Windows” é um progra-
ma computacional desenvolvido por Pruski et al. (1996) para o dimensio-
namento de terraços. Esse programa calcula os espaçamentos verticais e/
ou horizontais máximos permissíveis entre terraços, empregando dados
específicos da região e da lavoura em questão, como precipitação pluvial
máxima esperada para tempos de retorno e duração estipuladas, tipo de
solo, taxa de infiltração básica de água no solo, declividade do terreno,
manejo de solo, de culturas e de resíduos culturais e altura da crista do
terraço que pode ser construído em função das condições topográficas do
terreno e do equipamento disponível para a sua construção.

Atualmente, o “Terraço for Windows” chama-se “Terraço


3.0”, uma versão mais atualizada, e pode ser baixado gra-
tuitamente em vários sítios na internet.

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Módulo 2 – O Sistema Plantio Direto

Embora com esse software seja possível o dimensionamento apenas de


sistemas de conservação de solos fundamentados no uso do terracea-
mento, ressalta-se que a eficiência desse sistema depende da combina-
ção de outras práticas conservacionistas complementares, como plantio
em nível, rotação de culturas, controle das queimadas, manutenção de co-
bertura morta na superfície do solo, entre outras.

Você vai ver


No próximo módulo, você vai ver práticas, manejo e oportunidades para
a implantação do SPD no Cerrado.
Mas, antes, você deverá acessar o AVA e realizar a atividade de aprendi-
zagem obrigatória.

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Módulo 2 – O Sistema Plantio Direto

Atividade de
aprendizagem
As questões a seguir são baseadas na história que apresentamos no Mó-
dulo 1. Relembre a história do seu João.

A história do Seu João


Seu João é proprietário da fazenda “Palmeiras” em Lucas do Rio Verde,
no Mato Grosso. Essa fazenda, ele herdou de seu pai, assim como o amor
ao cerrado e à agricultura. Seu João precisou aprender a lidar desde cedo
com as exigências e necessidades da região: o latossolo de baixa fertili-
dade natural, a alta lixiviação, o clima tropical sazonal, no qual as chuvas
concentram-se na primavera e no verão, e o inverno é seco.
Seu Francisco, o pai de João, criava gado nelore em sistema extensivo,
deixava os animais soltos, sem controle do manejo da pastagem, nem su-
plementava os animais.
Na época que Seu João assumiu a fazenda, ele ouviu falar de uma cultura
muito promissora: a soja. Decidiu, então, investir no cultivo dela, fez investi-
mentos em maquinários e estrutura. Seu João estava sentindo-se no cami-
nho certo, mas percebeu que a forma como estava produzindo monocultura
de soja sob sistema convencional de preparo do solo ao longo dos anos não
estava sendo benéfica para o rendimento do seu negócio, tampouco para a
sustentabilidade dos recursos ambientais que ele usufruía.
Assim, Seu João decidiu procurar ajuda do Senar, que é o Serviço Nacional
de Aprendizagem Rural, e começou a frequentar palestras sobre técnicas
conservacionistas do solo, foi a dias de campo e recebeu a visita da assis-
tência técnica.

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Módulo 2 – O Sistema Plantio Direto

As atividades aqui na apostila servem apenas para você ler


e respondê-las com mais tranquilidade.

Entretanto, você deverá acessar o AVA e resolver lá as


questões. Você terá duas tentativas para realizar cada
questão e só desbloqueará o próximo módulo depois que:

1. acertar as questões; ou
2. usar todas as suas tentativas.

Questão 1
Conforme visto no texto anterior, Seu João recebeu a visita do técnico de
campo, que, em uma das conversas, sugeriu que ele trocasse a monocul-
tura de soja pelo sistema plantio direto.
Analise as alternativas a seguir e assinale a que corresponde corretamen-
te aos benefícios desse sistema.
a) Diminui o teor de matéria orgânica e melhora a infiltração de água
do solo.
b) Reduz a incidência de plantas daninhas e aumenta a ocorrência de
pragas e doenças.
c) Aumenta os gastos com adubos químicos e controla a erosão do
solo.
d) Melhora a fertilidade natural do solo e suas características físicas e
biológicas.

Questão 2
Agora que Seu João já entendeu os benefícios do sistema plantio direto
(SPD), ele está curioso e quer saber sobre os princípios dessa técnica!
Analise as alternativas a seguir e assinale a que corresponde corretamen-
te à prática de plantio adotada de acordo com um dos princípios desse
sistema.

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Módulo 2 – O Sistema Plantio Direto

a) Alternar o plantio de soja e de outra leguminosa forrageira na mes-


ma área e ano agrícola.
b) Plantar soja no verão e milho como segunda safra ano após ano.
c) Alternar o plantio de espécies vegetais diferentes em determinado
espaço de tempo e área agrícola.
d) Realizar a sucessão de culturas na mesma área agrícola.

Questão 3
Seu João entendeu os benefícios e princípios do sistema plantio direto,
mas ele ainda está confuso e quer saber mais sobre a cobertura do solo,
que é uma das premissas básicas do plantio direto. Ajude seu João a com-
preender melhor sobre o assunto, analise as sentenças a seguir e verifique
quais estão corretas quanto ao princípio de cobertura do solo:
1. A permanência da palhada ajuda a manter a umidade no solo favo-
recendo o desenvolvimento da planta em épocas de veranico.
2. A palhada diminui a incidência direta dos raios solares no solo, fa-
zendo com que os microrganismos do solo desapareçam.
3. A palhada evita o aparecimento de plantas invasoras, o que diminui
a necessidade de uso de herbicidas.
É correto o que se afirma em:
a) Apenas 1.
b) 1 e 3.
c) 1, 2 e 3.
d) 1 e 2.

Questão 4
Pouco a pouco Seu João está esclarecendo todas as suas dúvidas, e já
está mais seguro para a implantação do sistema plantio direto. Agora, ele
conseguiu compreender a importância de manter a palhada sobre o solo,
mas ainda ficou com algumas dúvidas.

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Módulo 2 – O Sistema Plantio Direto

Seu João ouviu na palestra do Senar que as leguminosas tendem a pro-


duzir uma quantidade de palhada menor em relação as gramíneas e que
se decompõem rapidamente. Como ele mora em uma região que faz seca
no período de inverno, ele está pensando em realizar o plantio de milho e
braquiária consorciado.
Com esse plantio consorciado, quais seriam as expectativas para a pro-
priedade do João?
a) Nenhuma expectativa. O consórcio não será eficiente, pois a bra-
quiária tende a crescer mais rapidamente e acabar por abafar o mi-
lho, inviabilizando a cultura.
b) Com a germinação do milho bem mais rápida que a da braquiária,
acaba por não deixar a braquiária ter seu desenvolvimento comple-
to. Sendo assim, o aparecimento de invasoras ocorrerá, e o uso de
herbicidas também deve ser realizado para o controle.
c) A palhada da braquiária ajudará no controle de plantas invasoras
e promoverá a compactação do solo, caso ela seja utilizada para
pastejo com bovinos. E se Seu João colocar o gado na entre safra,
haverá a compactação do solo e a necessidade de revolvimento do
mesmo em seguida.
d) A palhada deixada pela braquiária, após a colheita do milho, terá a
função de cobrir o solo, inibindo o aparecimento de invasoras, bem
como manter a temperatura do solo mais amena. Isso pois as tem-
peraturas diurnas podem atingir até 60°C.

Questão 5
Seu João está feliz com todo o aprendizado!
Ele sabe da importância de manter os níveis de nutrientes adequados no
solo, justamente para que se tenha produtividade. Agora, ele precisa de
ajuda, pois, ao se propor a realização da calagem, além do fornecimento
de cálcio e magnésio à planta, a aplicação do calcário requer algumas con-
dições básicas.
Ao se trabalhar com soja, por exemplo, exige-se boas condições de nu-
trientes no solo: alguns importantes para o enraizamento, outros para flo-
ração, outros necessários para enchimento de grãos, etc. Assim sendo,
Seu João quer entender melhor sobre a calagem no sistema SPD. Sobre
a recomendação para a aplicação de calcário, deve ser realizada quando:

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Módulo 2 – O Sistema Plantio Direto

1. o solo apresentar a presença de alumínio trocável e de teores de


matéria orgânica altos.
2. a análise de solo demonstrar que a acidez do solo atinge patamares
de pH em água inferiores a 5,8.
3. a análise de solo indicar um valor de saturação por bases superior
a 60%.
É correto o que se afirma em:
a) 1 e 3.
b) apenas 2.
c) apenas 1.
d) 1, 2 e 3.

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