Você está na página 1de 55

Acidentes

Ofídicos
no Brasil
Introdução

• As serpentes pertencem à Classe


Reptilia e fazem parte da Ordem
Squamata.
• São animais que não possuem patas e
sua locomoção é feita por rastejo, sua
pele é coberta por escamas e sua
dieta alimentar é carnívora, dessa
forma, alimentam-se de ovos e outros
animais, inclusive até de outras
cobras.
• Para matar sua presa,
algumas espécies têm
peçonhas utilizadas para
inocular o veneno na presa
e outras matam a presa por
constrição.
• Além da importância
evolutiva, apresentam
grande importância
ecológica e medicinal.
• No Brasil, existem mais de 390 espécies de serpentes,
sendo que destas, 63 são peçonhentas. Ambas
encontradas em diferentes biomas brasileiros.
• O termo "peçonhento" refere-se ao animal que
apresenta veneno e algum tipo de mecanismo que
possibilita a inoculação em outro organismo.
• As serpentes peçonhentas apresentam glândulas de
veneno desenvolvidas associadas a um aparelho
inoculador (dentes), cuja função primária é a
subjugação (matar) e digestão de suas presas.
• Apesar da função primária do veneno das serpentes ser
a captura de suas presas, ele pode ser usado
secundariamente como defesa, causando acidentes em
seres humanos.
Peçonhentas
x
Não Peçonhentas
Acidentes
• Mais de 26.000 acidentes ofídicos ocorrem
por ano no Brasil. Porém, acredita-se que a
realidade desses números seja outra devido
as subnotificações.
• Têm-se aproximadamente 300 mortes por
ano, apresentando uma letalidade de 0,4%.
• Antes da produção e distribuição do soro
antiofídico pela Vital Brazil em 1901, a
letalidade era de mais de 24% no estado de
São Paulo. Anos depois, os óbitos reduziram
em 50% e 40 anos depois a letalidade variava
entre 2,6 a 4,6%.
• Grande parte dos acidentes
acomete trabalhadores
rurais do sexo masculino e
os membros inferiores são
os mais atingidos.
• Ocorrem em todas as regiões e estados brasileiros e são um
importante problema de saúde, quando não se institui a
soroterapia de forma precoce e adequada.
• No Brasil, os acidentes ofídicos são
causados por serpentes de duas
famílias: Viperidae e Elapidae.
• Devem-se as serpentes do gênero:
→ Bothrops (Weagler, 1834),
Bothriopsis (Peters, 1861) e
Bothrocophias (Gutberlet & Campbell,
2001);
→ Crotalus (Linnaeus, 1758);
→ Lachesis (Linnaeus, 1766), Micrurus
(Schmidt, 1936) e Leptomicrurus
(Schlegel, 1837) ***mais raros.
Tipos de Acidentes

botrópicos crotálicos elapídicos laquéticos


Botrópicos
• GÊNEROS: Bothrops (Weagler, 1834), Bothriopsis (Peters, 1861) e Bothrocophias
(Gutberlet & Campbell, 2001);

• NOMES POPULARES: Jararaca, jararaca-pintada, jararaca-da-Amazônia,


surucucu, caiçaca, jararacuçu, cotiara, urutu-cruzeiro ou cruzeira, jararaca-
bicuda, bico-de-papagaio ou papagaia, jararaquinha-do-rabo-branco.

• INCIDÊNCIA: Aproximadamente 90,5% dos acidentes ofídicos.

• LETALIDADE: 0,3%.

• DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA: Todo o Brasil.


• ATIVIDADES PRINCIPAIS DO VENENO: proteolítica (atividade
inflamatória aguda), coagulante e hemorrágica.

• COMPLICAÇÕES:
→ Locais: Podem ocorrer: Síndrome compartimental (em casos graves,
tratado por fasciotomia), abscessos, necrose (em extremidades de
dedos pode evoluir para gangrena, devem ser tratados com
desbridamento).
→ Sistêmicas: Choque (em casos graves) e Insuficiência Renal Aguda
(IRA).

• SORO: Antibotrópico ou antibotrópico-laquético ou antibotrópico-


crotálico.
Crotálicos
• GÊNERO: Crotalus (Linnaeus, 1758);

• NOMES POPULARES: Cascavel, boicininga e maracambóia.

• INCIDÊNCIA: Aproximadamente 7,7% dos acidentes ofídicos.

• LETALIDADE: 1,8%.

• DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA: Ocorrem nas áreas abertas (campos,


cerrados e caatinga) em todas regiões do Brasil. Na Amazônia, a
cascavel está presente nas manchas de campos e cerrado em
Rondônia, Amazonas, Pará, Amapá e Roraima.
• ATIVIDADES PRINCIPAIS DO VENENO: neurotóxica, miotóxica e
coagulante.

• COMPLICAÇÕES:
→ Locais: Raramente parestesias locais duradouras, porém reversíveis
após algumas semanas.
→ Sistêmicas: Insuficiência renal aguda (IRA) com necrose tubular,
geralmente de instalação nas primeiras 48 horas.

• SORO: Anticrotálico ou antibotrópico-crotálico.


Elapídico
• Seus acidentes são raros, porém, pelo risco de insuficiência
respiratória aguda, devem ser considerados como graves.

• GÊNEROS: → Micrurus (Schmidt, 1936) e Leptomicrurus


(Schlegel,1837).

• NOMES POPULARES: Coral-verdadeira, cobra-coral ou coral.

• INCIDÊNCIA: Menos de 1% dos acidentes ofídicos.

• DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA: Todo o Brasil.


• ATIVIDADE PRINCIPAL DO VENENO: neurotóxica.

• SINTOMAS DA VÍTIMA: dor local, parestesia, ptose palpebral,


diplopia, sialorreia (abundância de salivação), dificuldade de
deglutição e mastigação, dispneia. Risco de insuficiência
respiratória nos casos graves.

• SORO: Antielapídico.

• TRATAMENTO:
→ Tratamento Específico: Soro Antielapídico (SAE), via intravenosa.
→ Tratamento Geral: Neostigmina e Ventilação artificial (ambu ou
mecânica).
Laquético

• Existem poucos casos relatados na literatura. Por se tratar


de serpentes encontradas em áreas florestais, onde a
densidade populacional é baixa e o sistema de
notificação não é tão eficiente, as informações
disponíveis sobre esses acidentes são escassas.
• Estudos preliminares realizados com imunodiagnóstico
(ELISA) sugerem que os acidentes por Lachesis são raros,
mesmo na região Amazônica.
• GÊNERO: Lachesis (Linnaeus, 1766).

• NOMES POPULARES: Surucucu-pico-de-jaca, pico-de-jaca, bico-de-


jaca e surucutinga.

• INCIDÊNCIA: 1,4%.

• LETALIDADE: 0,9%.

• DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA: Amazônia e na Mata Atlântica, da


Paraíba até o norte do Rio de Janeiro.

• ATIVIDADES PRINCIPAIS DO VENENO: proteolítica (atividade


inflamatória aguda), hemorrágica, coagulante e neurotóxica.
• SINTOMAS DA VÍTIMA: semelhante ao acidente botrópico com dor,
edema e equimose, formação de bolhas, gengivorragia e hematúria.
Difere do acidente botrópico devido ao quadro neurotóxico:
bradicardia, hipotensão arterial, sudorese, vômitos, náuseas, cólicas
abdominais e distúrbios digestivos (diarreia). Risco de insuficiência
renal aguda.

• SORO: Antilaquético e Antibotrópico-laquético.

• TRATAMENTO: De acordo com a gravidade do acidente e


manifestações vagais, administrar 10 a 20 ampolas de Soro
Antilaquético por via intravenosa.
Primeiros Socorros
• Primeiramente, é importante sabermos que
nenhuma espécie de serpente peçonhenta se
aproxima de nós para picar.
• As serpentes não possuem interesse em utilizar seu
veneno em nós.
• Elas precisam dele para matarem suas presas.
• Quando encontramos uma cobra podemos nos
assustar, mas saiba que elas também ficam
assustadas e por isso podem dar o bote. Isso
acontece porque pisamos ou nos aproximamos
delas.
Crendices dos Primeiros Socorros:

Devo sugar veneno?

Posso cortar no local?

Posso colocar fumo, esterco, café, cachaça ou


ervas?
Crendices dos Primeiros Socorros:

Devo sugar veneno? NÃO

Posso cortar no local? NÃO

Posso colocar fumo, esterco, café, cachaça ou


ervas? NÃO há comprovação de eficácia.
Primeiros Socorros Eficazes:

• Ficar calmo/Manter a vítima calma.


Primeiros Socorros Eficazes:

• Evite fazer esforço físico. Ex.: correr.


Primeiros Socorros Eficazes:

• Quando sentir que foi picado por um animal peçonhento, procure


vê-lo caso ainda não tenha visto. É importante saber pelo menos
qual foi o animal.
Primeiros Socorros Eficazes:

• Não amarrar (fazer garrote ou torniquete) o membro que foi


picado. Essa prática incorreta pode promover o surgimento de
necrose (apodrecimento) e aumentar a chance de amputação do
membro ou outras complicações.
Primeiros Socorros Eficazes:

• Não cortar no local da picada e nem fazer perfurações. Isso


contribui para aumentar o sangramento e para infeccionar o local
da picada.
Primeiros Socorros Eficazes:

• Não fazer sucção (não chupar o local da ferida para tentar tirar o
veneno). Isso pode contribuir para que o local da picada infeccione,
podendo surgir a necrose.
Primeiros Socorros Eficazes:

• Remover anéis, pulseiras ou relógios que estiverem no membro


picado. Em caso de edema (inchaço), esses objetos podem
atrapalhar a circulação e ficariam mais difíceis de serem removidos.
Se a perna inchar e a vítima estiver com calça, pode cortar o pano
para não comprimir o membro.
Primeiros Socorros Eficazes:

• Beber água, ficar hidratado. Uma das complicações que podem


surgir é a insuficiência renal, por isso é importante a vítima beber
água.
Primeiros Socorros Eficazes:

• Lavar o local da ferida com água e sabão. Isso ajuda a evitar


infecção.
Primeiros Socorros Eficazes:

• Levar a vítima o mais rápido possível para o hospital. O soro


antiofídico e o médico em um ambiente hospitalar são o único
tratamento eficaz.
Primeiros Socorros Eficazes:

• Caso a cobra tenha sido morta, levá-la até o hospital ou fotografá-la.


Os profissionais da saúde vendo a cobra que causou a picada ajuda
na identificação da espécie e no tratamento mais adequado.
Prevenção aos acidentes
• Andar devidamente calçado nas áreas rurais e nas florestas.
Aproximadamente 80% das picadas ocorrem nas pernas, sendo 50%
delas nos pés.
• Ter muita atenção quando estiver caminhando em trilhas. Uma cobra pode
estar na vegetação ou atravessando no caminho.

• Durante a noite muitas serpentes peçonhentas estão em atividade. Sempre


use uma lanterna quando for caminhar de noite em áreas rurais e nas matas.
• Quando encontrar serpentes na natureza mantenha a devida distância. O
alcance do bote não irá ultrapassar o comprimento do corpo dela,
geralmente corresponde a um terço do seu tamanho.

• Não manusear ou tocar nas cobras, mesmo se elas aparentarem estar


mortas.
• Redobre a atenção quando se aproximar de ambientes aquáticos (lagos,
rios, córregos, igarapés, riachos). Juvenis e adultos de muitas espécies de
jararacas se alimentam de anfíbios (rãs e pererecas) e costumam ser mais
frequentes nas margens desses locais. Esteja atento em banhos e
pescarias.
Importância médica e ecológica
das serpentes
As serpentes possuem grande importância tanto
ecológica quanto medicinal.

• Um desfalque na população de cobras pode causar uma superpopulação de


outras espécies de animais, ocasionando um desastre em nosso
ecossistema. Você sabe por quê?
• Além disso, seu veneno também é muito valioso para a medicina. Ele é
vastamente utilizado na indústria para a fabricação de medicamentos que
tratam o câncer e a hipertensão. Também produzem analgésicos, colas
cicatrizantes e até mesmo o soro contra os efeitos de sua própria picada no
organismo humano.
Mitos e Verdades sobre serpentes
peçonhentas
• Uma serpente pode picar dentro da água?

• Os anéis do chocalho indicam a idade da Cascavel?

• O veneno do filhote é mais concentrado do que da serpente adulta?


Bônus
Ana Beatriz, Ana Carolina, Beatriz Maria, Caio Fernando, Camila Victoria, Joyce
Almeida, Juliana Garcez, Perla Caramuru e Yan Rodrigues.

Obrigado!
Referências Bibliográficas
• CEVEK. As serpentes e a sua importância para o ecossistema. (2019). Disponível em:
https://www.cevek.com.br/blog/animais-silvestres/as-serpentes-e-a-sua-importancia-
para-o-ecossistema/ >. Acesso em: 04 de Junho 2020.
• NUNES, Teresa. 8 Mitos e verdades sobre serpentes. (2019). Disponível em:
<https://pontobiologia.com.br/mitos-verdades-serpente/ >. Acesso em: 04 de Junho
2020.
• BERNARDE, Paulo Sérgio. Acidentes Ofídicos-Herpetofauna. (2019). Disponível em:
www.herpetofauna.com.br/acidentesofidicos.html>. Acesso em: 03 de Junho 2020.
• BERNARDE, Paulo Sérgio. Fotografias de Serpentes-Herpetofauna. (2019). Disponível
em: http://www.herpetofauna.com.br/FotosSerpentes.html>. Acesso em: 03 de Junho
2020.
• SUS. (2018). Acidentes por animais peçonhentos-Serpentes. Disponível em:<
https://www.saude.gov.br/saude-de-a-z/acidentes-por-animais-peconhentos-
serpentes>. Acesso em dia 19 de Maio de 2020.
• Soares, Diego & Maia, Henrique & Pinheiro, Luan & Melo, Gabriela & Barbosa, Ítalo
& Rodrigues, Raul & Bringel, Paulo & Rodrigues, João Fabrício & Borges-Nojosa, Diva.
(2014). Como lidar com as serpentes? O conhecimento básico e as atitudes dos
funcionários de uma universidade no Nordeste do Brasil. Scientia Plena. 10.
049902.
• Sousa, Rejane & Costa, Kizzy & Câmara, Isadora & Oliveira, Gleidson & Moura,
Edinaidy & Fonseca, Zuliete & Moreira, Josué & Leite, Alexandro. (2013). Aspectos
epidemiológicos dos acidentes no Município de Mossoró, Rio Grande do Norte, no
período de 2004 a 2010. Revista de Patologia Tropical. 42. 10.5216/rpt.v42i1.23593.
• Machado, Claudio. (2011). Acidentes crotálicos no estado do Rio de Janeiro: há
problemas de informação?. Disponível em:
<https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/5515>. Acesso em dia 16 de Maio de
2020.
• FUNASA. Manual de Diagnóstico de Acidentes Por Animais Peçonhentos. (2011).
Disponível em:
<https://issuu.com/edsoncalson/docs/manual_animais_peconhentos/12 >. Acesso
em: 04 de Junho 2020.
• Rejâne M. Lira-da-Silva, Yukari F. Mise, Tania K. Brazil, Luciana L. Casais-e-Silva,
Fernando M. Carvalho. (2009). MORBIMORTALIDADE POR OFIDISMO NO
NORDESTE DO BRASIL (1999-2003). Disponível em:<
http://www.gmbahia.ufba.br/index.php/gmbahia/article/view/991>. Acesso em dia
13 de Maio de 2020.
• Costa, Habdel Nasser Rocha da, Santos, Maria Cristina dos, Alcântara, Antônio Flavio
de Carvalho, Silva, Marilda Conceição, França, Roberta Cabral, & Piló-Veloso, Dorila.
(2008). Constituintes químicos e atividade antiedematogênica de Peltodon
radicans (Lamiaceae). Química Nova, 31(4), 744-
750. https://doi.org/10.1590/S0100-40422008000400006.
• Mise, Yukari Figueroa, Lira-da-Silva, Rejâne Maria, & Carvalho, Fernando Martins.
(2007). Envenenamento por serpentes do gênero Bothrops no Estado da Bahia:
aspectos epidemiológicos e clínicos. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina
Tropical, 40(5), 569-573. https://doi.org/10.1590/S0037-86822007000500015.
• Bastos, Eduardo G. de M., Araújo, Alexandre F. B. de, & Silva, Hélio R. da. (2005).
Records of the rattlesnakes Crotalus durissus terrificus (Laurenti) (Serpentes,
Viperidae) in the State of Rio de Janeiro, Brazil: a possible case of invasion
facilitated by deforestation. Revista Brasileira de Zoologia, 22(3), 812-
815. https://doi.org/10.1590/S0101-81752005000300047.
• Ribeiro, Helena. (2004). Saúde Pública e meio ambiente: evolução do conhecimento
e da prática, alguns aspectos éticos. Saúde e Sociedade, 13(1), 70-
80. https://doi.org/10.1590/S0104-12902004000100008.
• Bochner, Rosany, & Struchiner, Claudio José. (2003). Epidemiologia dos acidentes
ofídicos nos últimos 100 anos no Brasil: uma revisão. Cadernos de Saúde
Pública, 19(1), 07-16. https://dx.doi.org/10.1590/S0102-311X2003000100002.
• Ribeiro, Lindioneza Adriano, & Jorge, Miguel Tanús. (1997). Acidente por serpentes
do gênero Bothrops: série de 3.139 casos. Revista da Sociedade Brasileira de
Medicina Tropical, 30(6), 475-480. https://doi.org/10.1590/S0037-
86821997000600006.
• Barraviera, Benedito, Bonjorno Junior, José Carlos, Arakaki, Denise, Domingues,
Maria Aparecida C., Pereira, Paulo Camara Marques, Mendes, Rinaldo P., Machado,
Jussara Marcondes, & Meira, Domingos Alves. (1989). A retrospective study of 40
victims of Crotalus snake bites: analysis of the hepatic necrosis observed in one
patient. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, 22(1), 5-
12. https://doi.org/10.1590/S0037-86821989000100002.

Você também pode gostar