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DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
PRIMEIRA AVALIAÇÃO
Recife
2019
Qual é o lugar da “América” e de seus povos originários na constituição do Mundo
Moderno?
A nova proposta de historiografia, que surge no século XX, propõe uma mudança na
forma de pensar as relações de dominação, analisando o interior das relações entre
dominantes e dominados. Ângela de Castro Gomes trata essa nova historiografia como uma
visão que recusa a interpretação socioeconômica estrutural e que busca focar nas variáveis
políticas e culturais para compreender as relações sociais entre dominantes e dominados. Ela
defende a ideia do dominado como sujeito ativo, capaz de resistir, e não como “anulado pelos
dominados” como a visão econômica sugere. Além disso, a História na década de 1980 é
repensada a partir da perspectiva global, relacionando os continentes e estudando a interação
entre eles. Surge, também nesse momento, a ideia de cultura atlântica que propõe a conexão
das culturas independente do território.
Essa influência pode ser vista também na crônica escrita por Phelipe Guaman Poma de
Ayala, que escreve para o rei de Espanha sob o título de Don, demonstrando a possibilidade
de obtenção de um título de nobreza pelos nativos- mesmo que esse título não tivesse o
mesmo reconhecimento em Espanha. Don Phelipe defende, por sua vez, a ideia de que já
havia uma nobreza existente na terra antes da chegada dos europeus, impossibilitando a ideia
de conquista. Nessa lógica, o que ocorreu foi um pacto entre os nativos e os europeus, uma
partilha da jurisdição. Guamam Poma de Ayala afirma a existência do Reino das Índias, que
apesar de estar abaixo do Império Castelano, teria sua própria autonomia. Impossibilitando,
assim, o rei de Espanha de mandar na América.
A ideia proposta por Don Phelipe de que houve um pacto onde os nativos contribuíram
para a ocupação do território pelos europeus contribui para a visão da nova historiografia que
defende os dominados como agentes ativos. Sem deslegitimar, no entanto, a violência e o
genocídio cometido pelos europeus aos povos nativos da América. É perfeitamente possível a
coexistência de ambas as versões: houveram grupos que auxiliaram os espanhóis a explorar o
Novo Mundo, e houveram grupos que foram dizimados pelos mesmos. Francisco Iglésias
descreve esse momento como um momento de formação de alianças entre europeus e grupos
nativos que se encontravam em guerra com outros grupos.
É possível falar, ainda, da extensão do Antigo Regime para os trópicos, visto que
houve a imposição/adesão da taxonomia europeia no novo território. Isso se dá através da
eficácia da colonização espanhola a partir do consumo e da adesão de costumes por parte dos
nativos, tornando-se, então, participantes desse sistema. A criação de leis mencionadas
anteriormente juntamente com o sistema administrativo demonstra bem isso.
Para compreender o sistema administrativo proposto por Espanha para o Novo Mundo,
por sua vez, é preciso entender como se dá a monarquia desse período. Embora se fale sobre
concentração absoluta de poder, ela não existe, visto que haviam guinchos de certa forma
autônomos. Um exemplo de guincho autônomo seriam os próprios oficiais mandados para o
mundo ultramarino que deveriam seguir um dado regimento, mas que por muitas vezes
acabavam agindo de forma autônoma. No entanto, apesar dessa autonomia, a coroa ainda
buscava controlar e minimizar os desvios dentro desse sistema de autoridade compartilhada.
Vale ressaltar, ainda, que dentro desse período a literatura romana estava em alta, sendo
responsável por influenciar fortemente nesse modelo de administração da colônia.
Foi também a Igreja que fundou universidades no Novo Mundo ainda no século XVI,
sendo voltadas, inicialmente, para os filhos dos espanhóis locais e tendo como principais
cursos Teologia, Lei e Medicina.
Outro grupo que foi de grande importância para a construção da América foram os
africanos. Além de contribuir para a economia daquele momento, mesmo que de forma
forçada, os africanos também desempenharam um papel importante na formação da cultura
americana.
Thorton interpreta, ainda, que os escravizados africanos serviram como apoio ou como
intermédio entre os europeus e nativos, auxiliando na exploração e na conquista da terra.
Além disso, os africanos recebiam o mesmo tratamento judicial que os europeus, recebendo
influencia da cultura europeia, quanto os povos indígenas estavam sujeitos a jurisdição das
ordens religiosas.
Francisco Iglésias interpreta esse encontro como um encontro não apenas de duas
culturas, mas como de diversas, pois afirma que não havia uma única cultura espanhola e tão
pouco americana. Ele defende, ainda, que o principal objetivo dos europeus na América era a
busca por riquezas. Busca essa que vai dar origem ao sistema mercantilista, que por sua vez
vai possibilitar a industrialização europeia.
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