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ESTADO E RACA NO | BRASIL. NOTAS EXPLORATORIAS* Carlos B. Vainer** * As informagSes reflexes aqui apresenta- das foram produzidas no dimbito da pesquisa Polfticas "Migrat6rias no Brasil, desenvolvida zo Instituto de Pesquisa e Planejamento Urba- Bo ¢ Regional (IPPUR), da Universidade Fo- eral do Rio de Janeiro (UFRJ), com apoio da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). ‘** Professor do IPPUR/UFRI. i Bamudos Ajro-Asieae 2818, 1990 Introdugiio. J4 se disse niuitas vezes que o reconbeci- ‘mento © a configurasio de uma questo racic? entre n6s tém estado bloqueados pelo que se conveucionou chamar de mito da democracie racial brasileira. Reza 0 mito que, tendo eon origem uma escraviddo patriarcal e, simulta- neamente, sexual e socialmente promfseua, 9 Brasil teria tido a sabedoria ~ou a felicidade— de instaurar padrées de sociabilidade em que o atzibuto rapa (ou cor) ocuparia lugar pouco on nada significative na elaborapio de mecanis- ‘mos de diferonciagio on segmentagio, ipso facto de construgio de identidades. sociais, Contraposta ao modelo de relacées racials Porte-ameticano, a democracla racial brasile?. ra eocontraria sua verificagio, reiteragio © simbolo na miscigenacdo, A literatura cientifica, tanto quanto a fala cada vez mais audivel dos movimentos negros, Jf aportou evidénciss suficientes para desven dar esse mito e esclarecer seu sentido e efiod- Ig, entrotanto, ao lado desse mito, um ou- ‘to, tio ou mais persistente, que 6 0 objeto estas notas. Poderia ser enunciado da se~ guinte mancira: as classes dominates, as eli 48, 0 Estado brasileiro tém: desempenhado um Papel relativamente newro diante da questo racial. Num terreno mais ou menos conseu~ sual, mesmo quando se reconhece a vigencia de preconceltos e discriminagio raciais, tonde- 58 a percebé-los como sendo engendrados pum espaco absolutamente estranho ao das relagses de classe ¢ de dominacao. Safa com heranga de quatro séculos de escravidéo negra, seja como ‘resultado mais ou menos natural das tens6es a {que estio normalmente confrontadas as socie~ dades plurirraiais, nossa quesido racial wtia, pois, um carter essencialmente residual; ©, o que me parece mais importante, situar-se-ia fora da esfera da politica —isto 6, do Estado, ‘Se algumas instincias do Estado — notoria mente, os aparatos policial e judiciério ~ mos ‘tam-se inclinadas a ecionar o critéio de raga (0x cor), isso representaria antes wm desvio Que uma aplicagdo de diretrizes emanadas do 103 ——1 ; iicleo do poder, sob controle das elites/clas- ses dominantes.’ ‘A confirmar 8 inocéacia destas dltimas, ou, caso se prefira, sua indiferenga, ter-se-ia a adesio, explicta e generalizada, do Estado brasileiro ao discurso e a0 programa da demo- cracia racial. Poder-se-ia até mesmo lembrar, a favor da tese, que nossas elites, além de apontarem a pluricracialidade como uma das caracterfsticas da nage, t&m buscado fazer dla um valor positivo; © da democracia racial um fator de autolegitimagdo, ‘Seo desvendamento do mito da democracta racial revela uma sociedade racista, poder 0 questionamento da suposta neutralidade do Estado brasileiro vir a revelar um Estado tam- ‘bém racista? His uma pergunta para # qual nfo se poderd oferecer uma resposta sigorosa an- tes que se desenvolva uma ampla e profunda esquisa.* As poucas referéncias alinhadas neste artigo parecem, porém, justificar a for- mulagéo da pergunta © a proposigdo de um Programa de investigagées. Nesse program, por sinal, se haveria de incluir uma segunda © ‘fo menos instigante indagacko: por que tema tio relevante tem-se mantido sob to absolato siléncio, escapando & atencio de historiadores cestudiosos de relagbes raciais?® Os termos da questo racial para 0 Estado brasileiro: imigrantismo e etnogénese A partir do final do século XIX, teorias ra- ciais emergiram com grande forga no cenério europeu. Como s6i acontocer, nossas lites absorveram as novas idGias, embeberam-se nelas. E, como 6 também babitual a cada im- Portacio de teorias, as idéias recebidas foram aclimetadas, passando por uma regualificago de seus term0s © significado politico-ideol6gi- co, Sem pretender uma andlise detalhada do contexto em que essas idéias foram agui assi- mmiladas, parece-me importante destacar alguos clementos: 108 © © Brasil era um pals reogm-safdo da es- eravidéo, © Havia ume importante massa de ex- esoravos que, quase sempre, se recusavam a oferecer livremente o seu trabalho aos mesmos senhores que deles haviam dispostos através da coacdo e violéncia diretas. © 0 pals contava com enorme terzit6rio desocupado, ou, quando muito, habitado por populagdes dispersas, pouco vinculades 20 mercado — massas némades e indisciplinadas, como se dizia A época; essa situagdo conduzia a uum diagnéstico estruturado sobre 0 par popu- Jag6es improdutivas-tortitério improdutivo. ‘A respeito do primeiro ponto, Mariza Correa jf observou que “a eliminagio da bar- reira jurfdica da escravidio” dava visibilidade 0 negro ¢ atualizava 0 perigo virtual que ele, enguanto negro © no mais enguanto escravo, representava: “Liberto 0 eseravo, tornava-se Sbvia a en- trade do negro nuzia sociedade que se a ra branca; sua presenca, posefvel ou visivel fem todos os brancos.” (Correa, 1982, p. 11) Por outro lado, a fuga maciga de negros das fazendas nos dltimos anos da eseravidao, além do seu efeito estritamente econdmico, fornecia A sociedade branca os elementos que permi- tiam transitar do esterestipo do eseravo negro para o esterestipo do negro livre. Enguanto eseravo, o negro havie demonstrado sue voca- $0 para a ociasidade, submetendo-se a0 tra- balbo apenas quando coagide pelo lktego; ‘agora, enquanto homem livre, 0 negro negava seus dragos preguicosos a0 progresso da la- vvoura e da nado “Ao apagar das Iuzes de uma sociedade ex que a liberdade era sindnimo de nfo-tra- Dalho, os ex-escravos comegam a exereitar essa sinonfmia (.) 86 que na nova socieda- de que nascia, as coisas estavam mudadas, ¢ © significado da liberdade nfo era senfo a liberdade de escolher © seuhor.” (Vainer, 1988, p. 729° Mesmo porque, como observou Martins (1979, p. 17), a aboligfo Hizertow 0 eseravo da BstudosAfro-Asdtios 18 18, 1990 eseravidio, mas nfo pretendew liberté-lo do trabalho, A imensidfo do terit6rio, suprema riqueza ‘bum mundo em gue os difereotes Estados na sionais comesam a despertar para a problem. tea do espago vital, & também portadora de dlificuldades. Os grandes vazios estimulam a Gispersio, tornam diffe o agrupamento disci. plinado e disciplinar de populacces, obstacal 2am 8 difusto de processos civilizat6ries, cua suarca 60 trabalho produtivo, Alberto Torres, 00 infeio do sfculo, deu a esse problema uma formulagdo inigualével “Assim como tivemos goverzo antes de ter ovo ~ Tomé de Souza chegou antes de ualquer realidade demogréfica constante, ‘assim como surgiu a chefia do Estado antes e qualguer Srgéo de Estado (..) asim fi. AMOS 05 limites de nosso territério antes Ge ocupé-lo: tivemos teeritério nacioual ‘antes de babitantes para ele. Isto foi, con- vyém reconhecer, uma grande ousadia de ‘nossos antepassados. Mas complica uni Pouca nossos problemas.” (Torres, 1978, p. 53) © tema do povoamento do terrtério yarlo Yai perpassar as preocupacses do Estado bra. sileiro de forma quase ininterrupta. Nas pri. meiras décadas da Republica, ele tina a vista de de articular, de maneira consistente e quase imedista, as preocupactes geopolitics ¢ a ve. cessidade de conformar uma oferta de traba- Iho para as grandes fazendas, Harmonizavam. 8, dessa maneira, as angtistias estratégicas do tum Estado nacional em constituicso e os te lames mais pragméticos dos. cafeicultores paulistas por bragos para a lavoura © ‘tema do povoamento colocave igual- mente © foco sobre outro e nio menos epi ‘uhso dilema, que uma leitura moderna de Al. berto Torres permitira enunciar como segue tivemos Estado © territGrio nacionais antes de termos povo e nacionalidade, 41880 significa, em outros termos, que o | c20texto eoondmico, social e territorial alicer. ava as bases da questdo da constituigto da acionalidade, Com quem ocupar 0 terztécio? Estudos Afo-Asisios u?18, 1990 Com quem constiuir o corpo de trabalhado- ves? Com quem fundar as bases do Estado? Essa grandiosa tarefa de constituiggo da nacionalidade e do povo, essa verdadeira etpo. ‘senese, vai ser assumida pelo Estado, Caberd as elites © a seu Estado estabelacer as metas © 8 meios, definir como constnuir urna brasil. ade em nome da qual esse mesmo Estado, Paradoxalmente, apesar de reconbecé-la ine xistonte ou incompleta, fala e age.* Batre 16s, 0 raciomo ciensfico, 20 contrétio 0 que aconteceu na Europa, ngo foi acionado para legitimar projetos imperialistas. Seus ressupostos foram assumidos plenamente, ‘mas se tratou de fazer deles instruments de construgéo do pats do futuro, que deveria emergir de uma ago consciente dentro do la. boratério racial que era o pals presente, AA pergunta formulaéa — com quem formar 2 nacionalidade © 0 corgo de trabalhadores? — 8 zesposta foi clara: com imigrantes. Nossas elites © seu Estado, pelo menos até os anos 50, Fecusaram-se a ver na populagio nativa ums base sélida para coostituir 2 nacko, ocupar 9 ‘erct6rio © confonmar uma forga de trabalho Glisciplinada e produtiva. O rabalhador nacio. nal, categoria abrangente que inclufa os ox-es. cravos e toda a massa daqueles que haviain si. do os bomens livres da ordem escravocrata, ‘fo sepresentava satéria-prima adequada letnogénese necesséria © desejada, Havia um extracrdinério consenso acerca fa incapacidade do rrabathador nacional. O Partido majoritario 0 desqualificava com base em seus atavismos étnicos. A herance indfgena © vocacionava para o nomadismo, incompat vel com a eivlizacdo; a heranca negra torna. -o incompetente para 0 esforgo eontinuado gue vem da previdéncia e do edleulo econdisi. 0 racional. Na sfntese de Oliveira Vianna, se. sia necessttio recompor as bases da naciovali- ade através da imigrag “pelo fato de termos uma formagdo em que predominam dois sangues inferiores (0 22 810 € 0 fadio}, somos um povo de eugenis- ‘mo poueo elevado”. (Vianns, apud Couto, 1934, p. 78.) discordantes. Roquette Pinto, por exemple, reousava as teorias da supetioridade racial atiana e atibuia a inadaptagéo do trabalhador nacional & missria, & fome, & doenca,&igno- ‘cia, falta de tradiggo produtvista.Propu- nha a implantacio de um sistema de col6aias agricolas consagradas a educagSo para o tra- balbo.” Registre-se, no entanto, que mesmo Roguetie Pinto via com boos olbos a imiara- fo saudou cntusiasticamente as resolucées do T Congresso Brasileiro de Eugenia (1925), aque referendaram todas as teses fandamentais do partido inigrantista-arano. (Cf. Vainer © Azevedo, 1984, Resumidamente, & possivel afirmar que a opsdo imigrantista foi o formato politico con- creto que assumin a estratégia etnogenstca, através da qual as tooras racists te atualiza- ram entre as elites ¢ no Estado brasleic. significado da polftica imigrantista como instrumento concreto de polftica racial-racista oi pereebido por Corres (1982, p. 51}: “G.) a atuaclo politica de membros do ossas classes dominantes, dentro de um contexto bist6rico especifico, levou a uma efetiva mudanca na composigéo da popula- go brasileira deu uma determinada oriontaglo as relagbes inter-racizis ‘A mesma autora, no entanto, defendendo a tese de que tais intervengbes nfo se fundaram, ‘nem suscitaram, uma expresso formalizada cea, institufda n0 © pelo Estado, completa sua observagdo como segue: “Nao 6 preciso supor uma decisio maguia- vslica © concertada das liderangas politicas no sentido de branquear a populago brasi- Jira ou de excluir 0s negros do mereado de trabalho para reconhecer a importéncia de distingbes racials, ainda que nfo formuladas em dispositives jurfdicos, para as relagdes sociais como ur todo e suas conseqiiéucias para a participagio dos negros e seus des- ccendentes na vida brasileira.” (idem, p. 51) Tudo se teria passado, a aceitar essa pro- Posicdo analftica, como resultado do uma agio polftica nfo concertada de membros das clas- 106 ses dominantes, movimento espontneo indo- pendente de “decisSes maquiavélicas”.* Buscarei, a seguir, mostrar que, além de intengGes, consensos implfcitos jamais explici- tados, conceites © preconceites difusos, a aga politica das classes dominantes esteve Jonge de ser fruto de movimentos desconexos. Nao se tata de buscar descobrir algum tipo de “ma- quiavelismo”, mas de recusar a ingenuidade de supor que 0 Bstado — forma organizada e or- ‘ganizadora de concepgbes © projetos dos gru- os dominantes — posse ter sido, pura © sim- plesmente, desprezado em seu potencial exe- cutivo ¢ legitimador. Embora reconhecendo a nocessidade de investigagSes mais acuradas, as pistas so numerosas a indicar que a formula- ‘fo e a execucio de uma poltica racial encon- ‘raram no Estado brasileiro terreno propfcio~ &, quem sabe, privilegiado, Atos e gestos ‘Nesta seco alinharei as principais evidea- cias por mim encontradas de uma agio siste- miética © coerente do Estado brasileiro em temmos de politica racial." a) A Primeira Reptiblica Passados dois anos da Aboligdo e apenas sete meses apés a proclamagto da Replica, Vinha a luz 6 Desreto of 528, de 28-6-1850, com © objetivo de regulariaar “o servigo de introdugdo ¢ loclizagfo de imigrantes na Re- piblica dos Estados Unidos do Brasil”, Em sou artigo 12 vinhaestabelecido o soguinte: “f inteiramente live a entrada, nos portos a Replica, ds indiviguos vidos e =p- tos para o trabalbo que nfo se acharean st Jeitos 8. acho criminal de seu pais, exceptua dos os indigenas da Asta, ou da Africa, que somente mediante autorizaglo do Con- sesso Nacional poderio ser admaiticos de acordo com as condigSes que forem ento estipulads.” BonidosAfro-Asddeas 22 18, 1990 ‘A Repiiblica reofm-nascida mostrava, dessa forma, como pretendia tratar @ questo raclal no pals. A hberdade de ingressar no Brasil era negada aos negros africanos, justa- mente agueles que durante quase quatro séou- Jos haviam sido obrigados, encadeados, 2 vi- rem para cd. Nossa Repdblica, desde os seus primérdios, dizia aos negros aquilo que Ihes repetird por longes décadas: ao Brasil 0 negro 6 interessou enquanto foi eseravo. No inicio do séoulo, outros dispositivos le- ‘gnis buscaram regulamentar as condigdes de ingresso © localizago do colono europeu. A ‘preocupacdo principal, nessa abundante legis- Jago, foi, quase sempre, a de assegurar que © imigrante estivesse efetivamente apto para o trabalho o se fixasso nas fazondas. A questéo racial, permanentemente impi cita no sparato legal, volta & tona explicita- mente com 0 projeto de lei dos deputados An- Grade Bezerra © Cincinato Braga, que, entre outras coisas, protendia proibir a entrada de “individuos bumanos das ragas de cor preta”” (Projeto n® 291, de 28-7-1921). A substituigdo a categoria “indigewas da Africa”, constante 0 decreto de 1890, por “individuos homanos as ragas de cor preta” pretendia tornar mais abrangente 0 dispositivo discriminatério, de modo a obstaculizar a entrada de negros oriundos do Sul dos Estados Unidos ¢ das An~ tikhas Dois anos mas tarde, 0 deputado Fidelis Reis, no bojo de uma campanha claramente ra cista, apresentaria um projeto de lei que esti- palavaz “B proibida a entrada de colonos de raga preta no Brasil , quanto 20 amarelo, seré ela permitida, anualmente, em némero correspondente a 5% dos individuos dessa origem existentes no pals.” (Projeto n° 391, de 22-10-1923) © cuidado em dar um tratamento diferen- iado 20s amarelos, isto 6, 20s imigraates ja- poneses, decosre do afluxo crescente destes para 0 pals ~ mais espevificamente para a agri- cultura paulista, onde comesaram a preencher as lacunas deixadas pela reemigracdo italiana e EeuosAfo-Astdtcos 2°18, 1990 pela redugfo da imigraglo européia de modo al O projeto de Fidelis Reis presenta 0 into- es56 de ter sido a primeira tentativa de intro- uzir va lepslagio brasileira 0 principio do contingeaciamento racialmente diferenciado dos fluxos imieratérios,inspirado vo cxiésio de quotas por aacionalidades constante da po- Itica norte-americana desde. 0 Jromigration Act, de 1912, Diet seria desconecer, no projeo de dls Reis, a presence de uma clara associacéo entre poltca imigratéria © police racial. O pt6ptio deputado eauociava essa assocncio: “O probleme da imigracéo, ou melbor, do povoamento deve (.) set enearado s0b ltplos aspectos: moral, éinio, politico, social e eoon6mico (.) Acima de qualquer consideragéo deve estar © ponto de vista émico ou racial propriamente dito.” (Reis ¢ Faria, 1924, p. 20). © projeto nfo foi aprovado, sobrerudo ext fongio das resstcias paulstas ao estabslo- cimento de restrig6es & imigragdo de japone- ses, Mas nfo se pense que a dreitz que pro- ppuoba represcnlasse uma posigio sectéia © {solada. Com efit la soréretomade com to- da a forea n0 I Congresto Brasileiro de Euge- ala, ue em 1929 conclamard 0 Estado ainter- vir contra “0s perigos de uma imigragto pro- smisoua, sob o poato de vista dos interesses da raga e da seguranga politica ¢ social da Repi- blioa” (apud Roquette Pinto, 1933, p. 70). Enfim, a proposta de subordinar a politica imigrat6ria a uma razao racial ou eugénica, com detrimento da exclusividade da razdo eco- némica, Sr4 plenamente assumida pela platé- forma da Alianga Liberal, lida por Gettlio Vargas oa Esplanada do Castelo em janeiro de 1930: “Durante atuitos anos, encaramos a imigra- elo, exclusivamente, sob 0s seus aspectos ccontimicas imediatos. E oportuno entrar @ obedecer 20 critéria étnica, submetendo 1 solugio do problema do povoamento as conveniéncias fundamentals da nacionali- dade.” (Apud Neiva, 1942, p.29.) 107 8) O Governo Provisorio As concepeées dominantes ao longo éa Primeira Repdblica receberdo um enorme im- pulso a partir da Revolugéo de 30. Tal impulso se manifestard tanto pela reiteragio das tradi- cionais teses racistas, quanto por uma particu- Jar insistéocia va defesa de uma intezvengio -governamental decidida no controle da imigra~ ‘o ©, conseqientemente, na determinagio da dosagem dos elementos que ingressariam co 10880 melting pot. O combate ao lberalismo das velhas oligarquias, que marcaré o Estado Novo, jd bavia se instaurado desde o Governo Provis6rio. ‘A aplicagio da nova orientagio ao terreno da politica imigratéria racial terd sua formula ‘¢fo mais pura no relaiério da comisséo criada ‘em 1938 para elaborar uma proposta de con- solidagio da legslagio. Apés citar Rousseau — “a pie disete por un pays est ln disexe bores" ver de intervir na composigto da popula- elo, de forma a ctiar a maior cooperagto possivel entre os diversos elementos que a formam (...) Em neahum outro dominio a Sntervengao do Estado se faz mais sentir éo que neste (..) nfo somente com o fin de evitar of elementos indesejdveis © os de d- ‘cl assimilago,senfo também com o pro- pOsito de propulsionar a vinda de boas correntes imigratSrias,"1° Cumprindo 0s compromissos assumidos pela Alianga Liberal, Vargas nfo hesitaré em reafirmar a posiglo estratégica que a quesido racial i vinba sssumindo deatro éa politica Imigreiria, consagrando-a enguanto questio de Bstado,"* Quanto A identiicagso do que seriam as boas correntes ingratGras a sere propulsio- nadas, a posigéo largamente hegemSnica du- zante 0 Governo Provisrio serf ainda a de- fendida por Oliveira Vianna: Go) de todas as ragas bumanas, sf0 as in- do-européias cue acusam um coeficiente mais elevado de eugenismo. Logo, 86 estas nos sexvem porque 0 progresso das soci 108 dades e 2 sua riqueza e cultura séo eriagéo dos seus elementos eugénicos, cuja fungto na economia social 6 andloga & fungfo do oxigénio na economia animal” (Vianna, _apud Miguel Couto, 1934, p. 71.) A lepislagio de 1934 (Decretos-Lei o® DAIS, de 9-5-34, € u2 24.258, de 16-5-34) Vird xevogar as limitagdes & imigragio impos- tas sob & pressfo da crise instaurada quando da ascensio de Vargas. Reunindo normas certa- imente mais especticas e rigorosas na determi- nagdo dos indesejdveis que as da legislagdo ans eotio vigente (Deereto a? 4.247, de 6-1-1921), 0s decretos de 1934 tratam de as- segurar a aptidio para o trabalho dos candi- datos & imigragéo (eliminagéo de cegos, aleia- dos, portadores de doenges incuréveis ou contagiosas etc.) ¢evitar que sejam portadores “de conduta manifestamente oociva & ordem piblica ou 2 seguranga nacional”. So também bastante detalistas na exigSacia de que a imai- sraco deve dirigir-se as éreas rurais. 8m sin- ‘ese, mantém, aperfeigoum ¢ sistematizam @ tradicional opeéo imigrantista Go Estado bra- sili. ¢) A Constituinte de 1934 € @ questdo nipénica Antes de alinar informagbes referents a0 Estado Novo, eeborin abrir um espago para © intenso debate acerca da questéa imlgrats- rla-racial que teve lugar na Assemblsia Na- cional Constituinte de 1933-34, Foi a Consttuinte extraordinério palco no qual as diferentes forgas vivas da nacio se en- contreram para apresentar defender seus modelos de naglo e de Estado. Nao espanta, ‘pois, que a questo do povoamento, em sun Uplice dimensfo ~ enguanto ooupagto teri- torial, trabalho e etnogénese -, tena ocupado Jgar de destaque. ‘A polémica eristalizou-se, durante quase todo o tempo, em torno do que poderfamos chamar de quecido nipéniea. Tratava-se, ex poucas palavas, de decidir se caberia ou no BsnudosAfo-Acidicos 2218, 1990 estabelecer umn dispositive constitucional que contivesse restrigdes @ eotrada de negros © amerelos. Mais precisamente, considerando {que a amigragéo negra nfo se apresentava, & p0ca, com um problema ou amenge, tratavae se de deliberar averca da conver politica que favorecesse a continuidade da innigragéo japonese. ‘De meu ponto de vista, o interesse om res- ‘gatar tal polémica est em que podemos af - contrar uma contradic entre a razto econd tice, que indica a necessidade de acolher os “japoneses como trabalhadores plenamente ap- {os a substituiz os fluxos europeus descenden tes, © a rardo racial, que permanecia entcin- cheirada na defesa da hegemonia © superiori- dade da raga branca. ( partido ariano, se € que podemos chamé- Jo assim, centraré fogo oe incapacidade do ti- pénico pare se integrar, assimilar © se incor porar A nacionalidade-etnia em construgi0: amarelo é indesejével porque € inassi~ imildvel. Se ele 6 inassimilével, sob 0 ponto de vista da antropologis, propriamente, mais ainda o 6, de maneira integral, do ponto de vista de seu psiquismo. Isto como ‘uma caracteristica de seu oormotipo racial, fe, mais, até, por sua propria constitigéo antrapsiquica.” (Oliveira, 1931, p. 59.) Eeoava na Constinlints o veredicto de Oli- vyeira Vianna: “o japonés € como enxofie: in soldvel” (Vianna, 1934, p. 209). Miguel Cou to, um dos antinipSnicos mais aguerridos, jé desde 1925 deixava manifesta a mancira de eonceber a problemdtica do ponto de vista da “Colocado pela generosidade de mens co- Jegas na presidéncin da Academia Nacion e Medicina, procure indagar se era indi- rente & formagéo etnoldgica de n0ss0 PO vo, responsével por cilatado terrtétio € ‘apeiés no infcio do segundo século de sua independéncia, a vinda em massa de abort genes nipées; era um problema puro de biologia, de higione social, do que se con- vyencionou chamar de eugenese, &, pois. 6e algada daguele instimto.” (Couto, 1942p. 21) Xavier de Olveira rd sinda mms Ska “Se temos a nossa repartigao da Inciisxoa astorit babilitada com venicas de wooo phecida competéncia para selenonar a re- producéo de noves rebanbos, que estamos sempre ainda @ importar, nfo temes, ainda, ‘oma repartigdo para selecionar os estran~ ‘geiros que nos vém Ge todas as partes do rmuado para ajudar a formar nossa popala- Go, porque, como tal nfo pode ser consi- deraia a Tnspetoria de Imigrantes (..) N&O possivel continuarmos a receber africa nos, asiticos e outros indesejdiveis, inclusi- ‘ye psicopatas de todas as partes do mun- do.” (Oliveira, 1937, p. 22-3) Do lado do partido nipOnico, os argumen~ tos também se multiplicavam, mas o principal cera 0 que lembrava as qualidades do japonés enquanto trabalhador: disciplinado, obediente, submisso, infenso 2s ideologias subversivas ete. “Qual € 0 auxihar do fazendeixo paulista que resiste, tal como 0 faz 0 japonés, 28 medidas impostas periodicamente pela eco- nomi brasileira, determinando pregos bai- xos ¢ proibigio de exportaco de café, 0 que representa muitas vezes a impossibill- Gade de pegamento dos colonos agriculto- 0s por parte dos fazendeiros? Colonos ¢5- trangeiros, de pd em punho, fizeram em ‘So Paulo fazendeiros passar momentos diffceis em 1930 e 1931, enquanto, mesmo featre as suas dificuldades, sorriam 0s colo- ‘nos japoneses, 0 que justifica plenamente = dofesa destes por paste da agricultura pat Kista, em especial pela Sociedade Rural dé ‘So Paulo ¢ principalmente pelo Povo Pas lista.” (Lobo, 1935, p- 35.) 0 confront entre razdo econémica ¢ raxdo ‘racial foi sintetizado, com uma certa ieoni, pelo consttuinte Xavier de Oliveira: “Tenho plenamente respeitiveis os inte- esses imediatos (no direi imediatistas) dos fazendeiros que, em So Paulo, como em todo o Brasil, precisam de bragos para a coltura de suas terras. Néo indago, mesmo, 2 algum produto de seu Isbor vai direta- mente, de suas fazendas para as fogueiras os de incizeragio, depois de custosamente be- nefiiados. Aceito o fato em sua realidade expressiva, © considero « migrago como un dos fatores de nosso desenvolvimento coondmico, Nao, porém, 0 tinice, como suite gente quer fazer.” (Oliveira, 1937, p. 173) © partido artano 280 conseguiu impor seu projeto de probir, pura esimplesmente, 2 imi- agraglo negra ¢ amarela. O acordo foi feito em tomo de um dispositive que submetia os coo- tingentss imigratérios ao “limite de dois por cento sobre o admero total dos respectvos na~ consis fixados no Brasil durante os dltimos cingGenta anos" (Constimigéo de 1934, ar. 121, § 69) Os pr6-nipSnicos reconhecerso que 6 sistema de quotas implantado representava sua derrota: “Na aparéocta todos os poves so atingidos por essa resrigfo, mas na realidade slo 0s ‘aponeses, que neste momento prestam #20 relovantes’servigos a0 desenvolvimento agricola brasileiro, que recebem tio rude © desatencioso golpe # evidenteo ardil para proibir uo Bras a entrada de imigrantes Japoneses, sabido que © nlimero de nacio- nai italianos, portugueses e alemes atinge no seu conjuato 2 milbées, de sorte que 2 percentagem de 2% estabelocida pela menda Miguel Couto ainds permitiria a entrada de corentes consderdveis desses ppovos em nosso pals, nfo acontecendo 0 roesmo com 0s japonsss.” (Lobo, 1935, p. 70) Como se v6, néo apenas a questio racial penetrou formal e explcitamente em nosso aparato legal-intinucional, como, coi raris- sima, ganbou estatuto constitucions. a) O Estado Novo Deixemos para trés a Constituinte’* © examinemos rapidamente algumss diretrizes do Estado Novo na esfera da politica racial. Da mesma maneira que o Governo Provi- s6rio, o Estado Novo vai produzir uma ex- tensa e detalhada legisagdo imigratéria em que 0 questo racial ocupa lugar de destaque. Ca- beria mencionar, em primeiro lugar, que Constituigdo de 1937 manteve intacto o siste- ma de quotas constante de sua antecessora, rareundo, de forma inequivoca, a adesio ara xo racial, que saiu vitoriosa do embate de 1934. Por outro lado, no novo regime vai se facentuar ainda mais a pulso centralizadora ¢ intervencionista do governo federal, tendén: cia j€ presente desde 0 inicio da década.** (© campo de observacdo provavelmeste mais adequado para acompanharmos 2 evolu- glo, os fundamentos, a natureza e o formato dda poltica racial do Estado Novo € 0 Conselio de Imigragdo © Colonizagio (CIC). Criado pelo Deereto-Lei n® 406 (4-5-1938), enguanto 6rgo supraministerial diretamente subordina- do a0 presidente da Repdblica,'* 0 CIC re- presenta o pice da trajet6ria seguida pela questo Inigratdria-racial dentro do aparcibo estatal brasileiro, Cabia-Ihe, entre outras coi- sas, fixar a quota anval de cada nacionalidade, ‘propor ao presidente diretrizes gerais de polf- tio, coordenar o§ visios ministérios euvolvi- dos com selegZo, desembarque, localizacio & controle de estrangeiros etc. No CIC temos, consolidads, sistematizada ¢ explicitada, a politica racial que desde 0 final do sfeulo XIX foi assumida por nosso Estado: ‘2 constituigéo da nacionalidade © a ocupagdo do territ6rio devem passar pela imigragio e 0 conseqllente brangueamento da populaci, ‘Assim 6 que, jf no relat6rio de atividades do primeiro ano de existencia do Conselto, Ise: “(.3) a politics imigrat6ria que mais cou- vém & 2 que tem em vista evitar os ele- mentos indesejaveis e os de difci assimila- glo © promover a entrada de boas cozrentes ‘migratGrias em barmonia com a expansio ecoudmica do pals (.) A imigragio nfo de~ ve ser encarada somente como um meio de atrair os elementos capazes de auxiliar 0 desenvolvimento econdmico do pals, mas, principalmente, como fator de formacao da sacionalidade.” (CIC/Secretaria do Con- selho, 1940, p. 7) Na apresentagio do primeiro némero da revista editada pelo Conselbo (Revista de lmi- Bunudos Afro: Aidtica 2818, 1990 gragdo e Colonizagdo), seu presidente apre- sentava 0 seguinte programa imigrat6rio: “Para um pals de fraca densidade como Brasil © que se acha em plena formacio, a acessibilidade a certas formas de ascimila- ‘9f0 ética e contato social € condiglo es- sencial de progresso (..) Nenhum outro pals oferece maior extensfo de terras colo- nizdveis pela raga branca do que-o Brasil ‘abaixo do paralelo 20, [o que destisa o pals} ‘2 absorver uma larga imigraglo européia.” (Muniz, 1940, p. 4) ‘Mais que um programa resultante de con- ‘ungéncias ou possibilidades geogrificas, 0 CIC explicitaré uma verdadeira estratégia de branqueamento: “Embora sem preconceites racials, resta- nos o dever de definir se desejamos conti- ruar 0 ritmo até aqui seguido © deixar ‘evoluic a nossa populagio no sentide euro- eu, isto é, no sentido da raga branca, ot 'e, a0 contrétio, nos 6 prefertvel 0 sentido ssidtico, amarelo.” (Cémara, 1940, p. 676.) © mesmo Cimara, segundo vice-presidente do Conselno de Imigragio e Colonizacio, conseguiu ser ainda mais explfcito: “Ora, como temos absoluta necessidade de importar bracos, principalmente para a la- ‘youra, s6 uma soludo nos resta:selecionar as ragas que nfo déem lugar a fendmenos Ge inferioridade na respectiva descendén- cia" (idem, p. 61.) Dentre todos os ditigeates que ocuparam posigbes de proa no aparato estatal responsi vel pela politica imigrat6ria e racial do Estado Novo, nenbum como Arthur Heal Neiva'€ foi ‘Wo preciso e prolifico na produgdo intelectual das bases conceituais ¢ teGricas da politica vi- geote. Neiva parece-me, igualmente, ter sido aguele que, de mansira mais elaborada, pro- ccurou conciiar a proposigdo de uma ostratéeia evidentemente racista com uma adesio formal 2 democracia racial. Seus textos iustram de modo particularmente rico e sofisticado a coperagio ideol6gica que permitin « um Estado que se negava a assumir seu racismo enga- Jar-se plenamente na batalba (de longo prazo, ExaulosAfo-Asisticoe 2° 18, 1890 & veréade) pela eliminagéo do sangue negro das veins brass. “Seria verdadoiramente absurdo preten- dermos, num pas onde « meioia da popa lagio provenionte do caléeamento mmis divorso,e que fo, durante quatro séoulos, um dos grandes cadinhos da humsnidade, dar-nos a0 laxo de ter preconceto de rag, No, tratase apenas de un desejo de e- Iboria perfeitamente justificado, em face da Incontestével realdade de que, atusimeste, 4 raga branca domioa o mundo pelo mais alevado grav de civilaagdo a que angi (Neiva, 1945, p23) Preocupado com # possbilidde de que « tendéncia espontinea ao branqueamento l= wvasse 0 Estado a oruzar os bragos, Neiva de fenderd a politica estadonovista de intervengSo decide: “E ponto putfco, hoje, entre nés, que 36 tos convém a imigragfo branca. Néo por que 0 Brasil soja racista. Mas porque, se Ahisermos fazer prosseguir 0 branquca- reento (..) deveremos auxiiar esta tendéo cia, abrindo nosses ports & imigragio branca (...) Isso no quer dizer que proiba- ros a entrada de elementos de cor, isla- damente, mesmo em carfter permanente; significa epents que desejamos ser brancos dagui a alguns sfculos ¢ continuaremos i= teroamente« nossa sdbiapoltca do misci- genagdo ampla.” (Neiva, 1944, p. 232.) Nfo ¢ cif, para quem percorre a calesto da Revista de inigragéio e Colonizagdo, ex covirar incontéveis _passayeos esse. tipo Ressalte-se qu, Srgfo oficial do CIC, a r= vista buscava organizer osistematizar o debate acerca de poitias coneretas. El consaprava @ rardo racial como razto de Estado. Tambémn as alas das reunibes do CIC, nas suas resols- ces © parceres,aparecem evidéncias de que 0 Estado nfo esteve & margem, mas ato, com 08 instrumentos de que eispuohe, para ‘implementar ums police ineqivocamentera- sta, Nessa politica, a misigeoasio, como es- clarece 0 texto acima citado, nada tem a ver com a ropresentagéo que dela emerge no dis- au ‘curso da democracia racial. A miscigenagéo, ‘nos nécleos do poder de Estado, 6 vista © conscientemente implementada como instru mento que, aliado a uma imigragdo oficial- mente organizada e estimulada, conduzitia ao desaparecimento do elemento negro de nossa sociedade. ‘Ao destacar 0 termo conscientemente, estou fazendo um aceno a ripida polémica estabele- cida com Correa. Agora, acredito, jé reunimos clementos suficientes para constestar a tase da autora ¢ afirmar: o Estado brasileiro, pelo me nos até 0 fim do Estado Novo, nfo apenas deu claro formato institucional-legal & questo ra cial, como estabelecen © buscou atingir, de forma racional © planejada, objetivos racis- ast" €) O pés-guerra 'A queda do Estado Novo ado implicou 0 abandono das intinugSes e diretrizes de pol ‘ica racial que o regime varguist havia conso- Jidado, Nem a derrota do nazi-fscismo, nem a desmoralizaio das teoras racstas foram sufi- cieotes para que nosso Estado, agora liberal @ democrética, abandonasse a opgo pela imi- _ragéo européia e pelo branqueamento. ‘Antes de passar 28 manifestagies direts dos Grgfos governamentais, penso ser perti- nente referir-me ao posicionamento da famosa Conferéncia das Classes Produtores, realizada ‘om Teresépolis em 1945, sob a lideranga do Roberto Simonsen, entdo presidente da Fiesp. Dente as dex sessdes em que se estruturou a Confeséacia, adécima foi consagrada & polt- ca de imigragéo e produzin uma resolugio so- bre politica de povoamento m2 qual se Ié qe as classes produtoras “ponsam que deve ser mantida a tradicional polities de miscigenaco que vem sendo se- ‘guida multssecularmente pelo Brasil, pre- servando-se, entretanto, as caracteristicas de ascendénsia europsia da maior de seu povor.? 2 A legislagio promulgada pouco depois pa- rece tor atendido plenaments a esses anstios, pois o Decreto-Lei n® 7.967 (18-9-1945), cis- pondo sobre imigragio ¢ colonizagéo, estipula que: “Ant 12 ~ Todo estrangeiro poderd entrar ‘no Brasil desde gue satisfaga as condicies estabelecidas por esta lei. Ant, 22 — Atender-se-4,-ua admissdo dos lnmigrantes, & necessidade de preservar © desenvolver, na composigio étnice da po- polago, as caracteristicas mais convenien~ tes de sua ascondéncin européia, assim co- ‘mo a dofesa do trabalhador nacioual.” ‘Ao apagar das Inzes da déeada, na abertura ‘onferéncia Brasileira de Imigragéo ¢ Colonizagio, o ministro Jorge Latour, presi- dente do Conselho de Imigragio e Coloniza- G0, promunciow discurso do. qual eprodtzo, aqui, uma longa passagem: ‘E de suma importancia para o Brasil defi- nir sua poitica de imigrapé, optando, com reflexdo, seguranga © cootinuidade, elas onrentas que deve selecionar © reccber, para impulsionar © consolidar 08 mos 6a tcionalidade em formagéo, formulando tum caldeameoto, analgamando si Knhas principals e caracterstions ¢ estabelecendo tim prizo inical de referéocia que deve ranger o quart de sécilovindouro. Tals orrentes esto escolhias ha bstantetom- po pela pice, salvo a8 exoegSes impostas Perlodicamente, pelo egofimo natural © frumano, mas danoso, das classes produto= ras, mormente nos Srduos mbates das fi vidades agriras, quando as exigéneias de “brago para a lnvotra’ se opGem ob fazem™ esquecer, nim enone equlvoco, outs Imperutivos de mis clevado qulae."* AS predilegGes da nossa politica imigratéria esto afirmadas e confirmadas na legisla- fio, © no ap6s-guemra. ata adguiiram Coristtoca pica (.) So meus yotos de gue nesta assembléa se firme aia, para fer promagada enfaticamente, de que 0 Bras! deseja tonifcar-se com 0 sangue Eis Afro-Asdicos 2° 18, 1990 feuropeu, em to grande parc sangue de seus malores.” Latour, 1949, p. 48-9.) ‘Ao dobrar a metade do séealo XX, 60 anos apés a Aboligio, menos de cinco anos depois do término da guerra em que 0 Bras lutou contra as forgas de um regime assumidaments racista, © governo brasileiro perseverava no seu racism, Nessus condiées, entende-s© que NNeiva possa acoaselhar vivameate o secruta- rento de imigrantes entre aqueles que foram levados, de toda a Europa, para tabalhos for- cados ca Alemanha nazisia. 8 Neiva argu- “Seu valor como elementos de trabalho 6 atestado (..) por terem sido selecionados, fem grande parte, pelos alemdes, por pro- cossos Figoroses e adiantados para traba~ tar na Alemanba em temgo de guerra.” (Neiva, 1949, p. 24) Assim, o Brasil pretendia importar os mo- delos de selegio elaborades pelo racismo eu- open, ap6s ter importado suas teavias cient cat, Néo deixa de ser curioso que 0 racismo oficial brasileiro, aclimatado dentro de uma {gica de etoogénese, tenba sobrevivido &ma- teiz.curopéia, coneebida num contexto de confrootos interimperialistas que levaram 0 mundo as suas doas mais trégieas conflagra- bes bélicas Observacées finais Percorremos, de maneira muito répida, 60 ‘anos de Replica. Maior espago foi consa- ‘grado ao perfodo pés-1930, 0 que se deve aos recortes que caracterizaram a pesquisa que fommecou as informagSes aqui apresentadas, ‘mas também ao fato, este histrico, de que foi realmente nesse perfodo que 0 Estado brasi- leiro investi, de maneira mais decidida, vas tarefas de conducio da vida econémica, social © politiea do pals. Parece, pois, compativel ‘com aquilo que a historiografia jf levantou em tres terrenos, que também na esfera da quesido racial @ presenga do Bstado se tenha feito mais marcan Estudos Afvo-Adioos 12 1990 E gue presenca fot essa? Arriscando-me 1 incorrer numa excessive simplificagto, ereio ser possfvel sugerir que a intervengéo do Esta- do, primordialmente através da politica imi- grat6ri, revela um compromisso, pleno € ex pifeito, com um projeto racista de construc da nacionalidade, fundado em conosites de su- perioridade da rica branca e voltado 20 aper- Jfeipoamento da populacéo brasleira através da incorporaco de contingentes imigrat6rios di- tos eugénicos."* Tio persistente e enrnizada foi essa con- cepgio em nosto Estado que a encontramos, embora jf um pouco matizada, na mensagem que enviou Juscelino Kubitschek ao Con- aresso em 1957. O presidente alinhava entre fs preocupegtes governamentais a realizagio de ‘uma prospecgfo culdadosa dos varios mercados potencisis de imigrantes com 0 objetivo de apsimorar cada vex mais no futuro, do ponto de viste moral, profissio. nal © engénico, os contingentes de imi- grantes.” (Kubitschek de Oliveira, 1957, p. 388). Embora 0 material reunido nestas notas no seja conclusivo, ele pode ser tomado, ao me- 10s, como indicativo de que as teses que apontam uma relativa neutralidade-indiferenca do Estado brasileiro frente & questo racial nooessitam ser revisitadas e revistas. Esso Es- tado, ao contrério do que geralmente se acre- ita (ou se quer acreditar), concebeu uma questo racial © a equaciongu sob o Formato de uma politica de povoamento que articulava, do maneira estreita, ts dimensdes: ocupagao do terrt6rio, oferta de trabalho e formagio de nacionalidade. Como pudemos constatar atra- vés da répida mengao A questdo nipdnica, essas lugs dimensées nem sempre se harmonizaram ‘completamente, provocando tensbes e diver- ‘gEncias que atravessaram 0 Estado e a propria ordem legalmente estabelecida. A todo momento, porém, o Estado se pasi- ciouou claramente por uma estratéyia racista que projetava o branqueamento da populayéo. us Para tal estratégia deveriam concorrer @ imi gragio européia, de um lado, © a miscigenscao, de outro. Que a miscigenago tenha sido cons- Gieotemente buscada como meio ¢o eliminar ‘a mancha negra de nossa sociedade, cis algo que parece fora de divida. Que ela tenba po- ido, simultaneamente, simbolizar a democra- cia racial.e 2 neutralldade estatalinexistentes 6 algo que apenas revela 0 quanto a questo racial brasileira 6 complexa ¢ 0 quanto a des- montagem dos mitos dominantes ¢ tarefa es- sencial de qualquer projeto efetivamente de- mocrético para 0 Brasil NOTA ~ Muito devo a Vania Ramos de Azevs- do, Pablo Beneti, Frederico Guilherme de Aratijo ¢ Helion Pévoa Neto, membros da equipe. O essencial destas nota fot original- mente objeto de comunicagto apresentada no ainel Segregajto Racial no Brasil Realida- de ¢ Evolugao Legal, promovido pela Funda- ‘90 Casa de Rui Barbosa em 1] de outubro de 1988, tendo sido posteriormente levado 8 dis usséo em semindrio no Centro de Estudos Afro~Asitics. Agradeso ao Prof. Carlos Ha- senbalg pela insisténcia com que me estimulou 4 dar wna forma escrita & comuniecto. NOTAS 1, O macismo de nosso aparelbo poliia-judicivio podeie essa inh, sor expicado pela maior permebilidade esas instncis a senso comum, aos conceitas(epreconceltos) presente no corpo weil, Esse acim expres- ‘aria, pois, dsse pono de visa, antes a penctagio de norm Vindas de Baixo do que aapicapéo de dirtizes ‘emariadas de na, 2. As contbuigées do Carneiro (1988) Luizeto (1975) limitam-se a momentos, ov aspects, muito particuls- ret, Pazece-me questionfve, por outro lado, a pereepgio, em ambos os autores, de que o Estado brasileiro tended, ‘unto na Constituigo de 1934 como durante Estado Novo, s uma posigéonacionalista antimignntsi, +. Comes (1982, p, 45) afirma que seca enganoso buscar na legslato as provas da exstincia do racism no pale ‘a ese respsito fo fo que costesar. Como lembr a autor, infzeros tm sido ox contexts em que a clases Adominantes tim intervindo sob a 6gide de normas extralegais, quando nko shrolwtamenteiogais. Acredits, po 6m, que oargumento nfo pode justificar nem o desconhncimento dos dspasitves legis e dae polécasexpietas, ‘nem que se subestime mecanismcs de lgitimaofo quea formalleagio de noma edieties permite acon, 4. Conrad (1975, p. 289) acs fala de um senator palita que, em 1887, Jamasiava trem os escrvos se tornado Incontoldveis desde a profbiggo dos castigos eoparais. Dean (1977, p. 130) eta um depatado que, ua Assembléla Legislativa de Sto Paulo, lamentava © desastre aque estavam condenados os seahores a pstc do momento ex ‘que gualquer escrevo poderia quelxar-se aos Juvos “porter reesbido um simple elevecomrevio indispensvel 8 ‘ais individuos para mantor discplina de wma fzonda" |. "Na sociecade esoravsta 9 6 repretentado realmente como homes livre quem no preis trabelhr paca vi “er.” (Cardoso, 1962 231 ) 6. “O Estado qu fara Nago€projetado como su anterior, cap de rsgatar a brasiléade« confirms." (Le hero, 1985, p66) 17, “Gastacse, anualmeate, uma some respsiivel para importa dos pales de emigrag os tis "bragoe’ que fal= ‘am, Em 100 deses homens, truzids peso dequro, coca da metade,sja uns sestent, 20 mximo, permanecem nos campos (..) Consderado dests modo o problema, nfo é demals chamar a ateagdo de todos parao bem queo Brasil hé de trar de um movimento feito no eatido de aplicar, pelo menos part daqusla som, em educa, do ‘ponto de vista agricola, os patricios to bem dotados que, erpontancament, procuram as repises em que a Vida info € sigerads pelo desussossegoe pelo infortinio (..) Algumas ‘olénia’, bem organizadas chem loclizadas, ocean rope via tents sco 0 gue pei enigns "(Rout ino, 53, ne Exudos Afo-Asidicos 2818, 1990 '8, Em outr passagem, menos peremptétia, Corre afin que “os dados globuis a repeito do deslocamentn rlonde-obra nacional, sbsttués polos migrants desde fim do séeulo paseo, povea nos izemsrespeito de rogulasentagtesespecficas ou da pottca,implicte ou explicit de admissio do fator racial como um posted ‘rife slativo da forca de trabalho brasileira” (Coren, 1982, p42). Ao zeconhecer que esses datos poco di ‘om, poder «autora busear 04 propor busca de ~ informs em autre fonts, Infeliments ea belle teabalho pea, nese panto, por ie eooihigoo camino que consist em deduzir, da auséncia de informagto ace nas polis, que essas politics inexstras, 9, Bsiou convencide de que as evidéacins aqui apresentadas no so sendo a parte mais vistvel dour conjunto de Aispositivese formas de ago govemamentis que Hiveram & quero rail como campo problemstico e de int ‘Yeagio. A pesquisa de que emergia o material aqui spzecenado tinha outos objedves, rio pela qual nfo fot possvel preeeeguirna explorseio aqul sugesida, 10. Relatiio da Comisso encarregada de claborar a legisla sobre estrangeirs (1940), publicado em Revita de lnigrago e Colonizapao, a0 1,283, juno de 1940.4 tao € dap. 58S. 11. comur identifica na primoiras modides do Goverso Provstrio a manifestagGo de wma posgio aattii~ gratia, Em particular, o Decreton? 19.482, de 12-12-1930, que sospenden por um ano odesembargue de pas- [Egciros de 3! clase eobzigon st empress (urbana) «empregar pelo menos 23 de basleros mos € visio como tuna mupture com a extratégia imigrantsta vigente na Primeiea Repdblica. Na verdade esse desreto nfo fol senfo ‘una respects nitdamente conjuntiral 8 profunda crise em que se debatiao pas, gorendo enommes massas de do- emprogacos, que se scumulavam mat grandes cdades. O decccto, como & sabi, fol largamente utilizado pars gerar um clima xen6fobo, capitalizado plo novo govero, 12, Umexaie mais detallado do debate das doliberag6es ds Constitinte acerca dag retrizes de poten racial cxigiria # andl do disposiivo constante do $7 do artigo 121, segundo o qual: “ vedads concentra de figrantes em qualquer poato 6 titi da Unifo,devendo ast egulara cleo, «localizapo ea assimilagio to alienfgena." Tel dispositive, apeovado de forma quase consensual, deuorigem a detahada egslgio quanto a porcentuais mximos de um mestoanecionaidade em col6nissagrfcolaseTuniou o combate as chamsas is- {os etinios, Nesse combate convergiram proosupanées de ordem estitameats racial (neeessidade de itegrar-as- Similar o estrangete), de ordem geopolitics (impodir a formagéo de espagos dentro do territro nacional subor~ Ginados a gatas soberaniss que alo a do Estado braslczo) domatureza poltieo-ideol6gice(rpressfo aassocia- ‘es polticas clasts hegemoalzadas por estrangeiro). 43, Pere © que nos interest, ce textos logals malt importantes sio 9 Decreto-Lei nt 406, de (455-1958, ©0 Deesto-Lel n# 2.010, 6 20-8-1938. 14, Esse subordinapio direta& Prsidéaci da Repblin most a imaportncia ques confeiu ao deo responsé- vel pla formlagfoecoordenagfo da polities inigratéria racil. 15, Arthur Hehl Neva fof membro do CIC e desempenhou alias fungdes no Servigo de Registro de Esrangeros Ga Potieia do Diststo Federal, Foi membro a comistioeriada por Vargas em 1938 Decreton#2.265) com 0 ob- Jativo de “estadar as leis necestriae para entrada, Sxaelo,naturalizaso eexpulso de estrangeios”.Os taba- ios deo comissioinspiraram toa &leielagSo ertadonovist #respeito de imigragio © coloaizagfo. Neive foi, ‘gualmente, aresor da cbeBia da Comisso do Mobilizacio Feondmics, érgfo que durante a guetraconcentrou pratieamente todo o poder tere rua frents 0 ministo Joo Alberto. 16, Consiero indouo, a ets altura, perguntr 80 proceso focal ¢ as relagbesInter-aciais teriam fomado rumo diveso s nfo Sve ovosrdo fal intervengio; anal de contss, nfo estamos especulando sobre como podera ter tgido 0 Estado, mas tentando percsber como efetivamente agi. 27. A reslusio foi publieada iategralmente no Bolin Gaogrfico, sno IL, junbo de 1945 [A ciagio€ da pina 474 18. Refexéacia vos defensores da imigrago japonesa ~om sua maiora paulistas~, que aovamente sf tcusados de orem colocado seus interestesecondsnioceacims dos inteesses da eugenia de nossa populagéo, an terem de fendi inigragta japonesa 19, No Auréio é-se que eugenia 0 que favorece.oaperflgoamento da reprodugio humana... Eamudor Afro -Acttioos u2 18, 1990 us BIBLIOGRAFTA CAMARA, Major Asisttoles de Lima, sno Ta, outro, CARDOSO, Femando Henzigue, (1962) Capa ¢ escravldt no Brasil Meridia, Sto Peo, Difusio Euco- pélado Livro, 40) “Incompatibilidade nica?” Revista de inlgraro e Colnago, CARNEIRO, Maria Luiza Tuscl, (1988) O andé-semitiono na era Vargas. Fantaonas dé wna gerapto (1930-1945)! Sto Paul, Braiinse. CONRAD, Robect. (1975) Os timas ancs da esravaturs no Bras: 1850-1888. Rio deTenezo/Brasia, Chviica- 0 Braslia/INL CONSELHO DB IMIGRAGAO E COLONIZACAO. (1946) “Instrugées provissras para a exccugfo do Decre- ‘-Lein® 7.967, de 18 desetembro de 1945". Reva de Indgrapdo e Colonapao, ano VIL x21, mao. = SECRETARIA DO CONSELHO. (1940) “Primeiro ano de trbalhos do Conselho de Imigraséo Colonizagio". Revista deImigragoe Coloisigdo, ano ly n° I, nei, CORREA, Mariza. (1982) As uses da iberdade, Sto Paulo, USP, mine, COUTO, Miguel. (1934) Anais de Ascbista Nacional Constante, vol, TI. (292) Seeedo social. 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I monte, par alles, que lomo yen priviépie de tritoment de la question raciale & 4, jusqu’aux années 50, a politique e forentement ctde conte de immigration. Cet notes, plus qu'un réaliat, constituent des pro- positions ea var d'une ample ef profonde recherche ue est encore A enteprendre, Elles projettent cars tun chimp de recherche ot de réflexion dont les 2on~ ‘ours pourrlent se rapporter 2 Ia quetion suivante: Ja xévélaon du mytbe de la d6mocratic racale d&- masque une socité racists, estconque la révéation ds mythe dela peutrlié raciale de Etat betsllien pours, dela mémefagon,démasquer um Etat racste? anos Afro-Asidiss 2° 18, 1990 a

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