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A GOVERNANÇA CORPORATIVA TRANSFORMANDO A TECNOLOGIA DA

INFORMAÇÃO

CORPORATE GOVERNANCE TRANSFORMING THE TECHNOLOGY OF THE


INFORMATION

Professor Especialista José Maurício dos Santos Pinheiro (Curso Tecnológico de


Redes de Computadores – UniFOA) – jm.pinheiro@uol.com.br
Resumo

A consolidação dos setores econômicos e a sofisticação dos modelos de gestão são


fatores que hoje levam organizações a compor planos de negócios com base na
análise de sua estrutura corporativa. Esta estrutura encontra-se cada vez mais
apoiada na tecnologia, apresentando-se em constante transformação, exigindo
formas mais ágeis e flexíveis para o gerenciamento dos recursos de informação.
Neste cenário, as novas estratégias de negócios estão associadas à área de
Tecnologia da Informação. Entretanto, sem um conhecimento detalhado da estrutura
existente e das práticas gerenciais em vigor é impossível tecer recomendações
apropriadas para a escolha do modelo de gestão mais adequado. O presente artigo
tem como objetivo analisar os aspectos conceituais da governança corporativa
aplicada aos sistemas de Tecnologia da Informação. O conteúdo proposto é
extremamente relevante, pois aborda questões de interesse comum de
pesquisadores e profissionais envolvidos com sistemas de gestão nas corporações.

Palavras-chave: Governança; Tecnologia; Informação; Transformação.

Abstract

The consolidation of the economical sections and the sophistication of the


administration models are factors that today take organizations to compose plans of
businesses with base in the analysis of his corporate structure. This structure is more
and more leaning in the technology, coming in constant transformation, demanding
more agile and flexible forms for the administration of the resources of information. In
this scenery, the new strategies of businesses are associated to the area of
Technology of the Information. However, without a detailed knowledge of the existent
structure and of the managerial practices in energy is impossible to weave
appropriate recommendations for the choice of the more appropriate administration
model. The present article has as objective analyzes the conceptual aspects of the
applied corporate governance to the systems of Technology of the Information. The
proposed content is extremely relevant, because it approaches subjects of interest
common of researchers and professionals involved with administration systems in the
corporations.

Keywords: Governance; Technology; Information; Transformation.


Introdução

A Governança Corporativa tem sido objeto de vários estudos e passou a ser


amplamente reconhecida como um fator essencial para o acesso das corporações
ao mercado de capitais. Conforme o NEXTG1, o termo “governança corporativa”, que
surgiu na década de 1990 nos Estados Unidos e na Inglaterra, é definindo como o
conjunto de relações entre a administração de uma empresa, seu conselho
administrativo, os acionistas e outras partes interessadas, e está relacionado à
forma como as empresas são dirigidas e controladas, sendo de grande aplicação no
mundo empresarial.
A Governança Corporativa pode ser empregada em qualquer área de uma
corporação e, na área da Tecnologia da Informação, mostra-se extremamente útil
dada a sua dinâmica e alcance. Neste sentido, as práticas da Governança
Corporativa tendem a romper barreiras funcionais e aproximar o usuário para o
centro das decisões de TI.

1. Governança

Governança é um termo analítico que envolve conceitos como colaboração,


parceria, compartilhamento, aprendizagem em grupo, regulação, e melhores práticas
de “governo” visando garantir o componente ético da organização, representado por
seus diretores e outros funcionários, na criação e proteção dos benefícios para todos
os acionistas.
Criar estruturas de governança significa definir uma dinâmica de papéis e
interações entre membros da organização, de tal maneira a desenvolver
participação e engajamento dos membros no processo decisório estratégico,
valorizando estruturas descentralizadas. A partir dessas interações é possível
reconhecer claramente quem toma as decisões, quais decisões são tomadas e quais
os processos pelas quais essas decisões são tomadas. Não vale para qualquer
atitude adotada numa companhia, deliberações sem grande relevância; vale para
decisões importantes, de grande valor para as organizações.
Controles internos, gestão de riscos, eficiência e governança corporativa são
assuntos inter-relacionados, mas não são sinônimos: uma organização bem
administrada é pré-requisito para uma boa estrutura de controles internos e de
gestão de risco, e esses elementos são pré-requisitos para a boa governança
corporativa (Figura 1).

Figura 1 – Controles, gestão e Governança são temas relacionados, mas não são sinônimos
2. Governança e Conflito de Agência

O entendimento do que é governança corporativa está relacionado com a


compreensão do problema de agência dos gestores, que surge do relacionamento
de agência (agency relationship). Segundo a teoria econômica tradicional, a
governança deve criar mecanismos eficientes e capazes de superar o chamado
“conflito de agência”, que surge quando o titular da propriedade delega ao agente o
poder de decisão sobre essa propriedade e os interesses dos dois lados (daquele
que administra a propriedade e do seu titular) nem sempre estão alinhados. O
relacionamento de agência, por sua vez, está relacionado com a separação entre
propriedade e controle.
Para Berle e Means2 o crescimento das firmas implicava na separação entre
propriedade e controle. Isto acontecia porque conforme as firmas cresciam surgia a
necessidade de maior captação de recursos, o que era feito através da pulverização
da estrutura de propriedade da empresa. Esta pulverização da estrutura de
propriedade, por sua vez, implicava na necessidade de capital humano
especializado em gerenciamento, ou seja, enquanto a propriedade continuava com
os proprietários o controle passava aos gestores, surgindo então a separação entre
propriedade e controle. A partir desta separação entre propriedade e controle surge
o relacionamento de agência, que é o relacionamento entre proprietários e gestores.
Este relacionamento se dá por meio de um contrato no qual os proprietários
fornecem aos gestores autoridade para tomarem decisões em seu nome.
Segundo Vieira e Mendes3:

A prática de boa governança nas instituições aparece como um


mecanismo capaz de proporcionar maior transparência a todos os
agentes envolvidos com a empresa, minimizar a assimetria de
informação existente entre administradores e proprietários e fazer
com que os acionistas que não pertencem ao bloco de controle
possam reduzir suas perdas no caso de uma eventual venda da
companhia.

As boas práticas de governança corporativa não são uma novidade na área


de gestão, exceto, talvez, as referentes ao compromisso da organização com o
público externo, o meio ambiente e outros interesses. A novidade reside no fato de
que se colocou, num mesmo instrumento de auxílio à gestão, práticas objetivando
ajudar a alta administração a repartir adequadamente entre todas as partes
legitimamente interessadas os benefícios da empresa, respeitada a primazia dos
proprietários.
Existem conceitos e códigos de governança corporativa que podem
apresentar diferença em algumas práticas se comparados entre si. Essa
discrepância não é uma falha, mas conseqüência das diferentes abrangências
atribuídas aos respectivos grupos de constituintes, detentores de algum interesse
legítimo da empresa. A boa governança, norteada pelos princípios de transparência,
eqüidade, e responsabilidade, ajuda a diminuir os efeitos da assimetria
informacional, atribuindo importância idêntica aos interesses de todas as partes da
organização, minimizando os problemas relacionados ao conflito de agência e,
conseqüentemente, preservando e aumentando o valor da sociedade.
Com a globalização econômica e seu reflexo no mercado de capitais é
inevitável a homogeneização das regras que regem as corporações, na medida em
que os investidores estão cada vez mais exigentes com relação aos seus
investimentos. No Brasil, os programas de governança corporativa são cada vez
mais adotados pelas corporações, sobretudo porque o modelo empresarial do país
encontra-se em transição. De grandes oligopólios, de empresas familiares e de
controle acionário definido e concentrado, encaminha-se para uma estrutura
marcada pela participação de investidores institucionais, fragmentação do controle
acionário e foco na eficiência econômica e transparência de gestão. Há vários
fatores que influenciam essas mudanças, entre elas privatizações, fusões e
aquisições internacionais, globalização, entre outros.

2.1. Os Três Pilares da Governança Corporativa

O objetivo da governança corporativa é colaborar para que a gestão da


empresa alcance diferenciais em transparência, desempenho (accountability) e
eqüidade, estes, os três pilares da Governança Corporativa (Figura 2). Quanto mais
profunda for a inserção dessas três linhas mestras na cultura e nas estratégias da
organização, mais elevado será o grau de conformidade com os princípios da
governança.

Figura 2 - Os pilares da Governança Corporativa

Transparência, desempenho e eqüidade constituem a face mais conhecida da


governança corporativa e, ao mesmo tempo em que fazem uma síntese dos seus
objetivos, representam um progresso metodológico e constituem a consolidação de
um conjunto de práticas de gestão.

3. As Variáveis do Sistema de Governança Corporativa

Como argumenta Parreiras4, criar e manter estruturas de governança significa


definir uma dinâmica de papéis e interações entre membros da organização com o
intuito de desenvolver canais permanentes de participação e engajamento dos
membros no processo decisório e estratégico. São cinco as variáveis identificadas
no sistema de governança:

3.1. Propriedade

Focaliza o perfil do controle acionário e da propriedade, bem como transações


importantes com ações, políticas de fomento à dispersão acionária e publicidade
necessária às transações da alta administração. Para tanto, agrupa atividades e
situações específicas, relativas aos proprietários da empresa (acionistas):
• Perfis do grupo de controle e dos demais proprietários;
• Aquisição, exercício e transferência de propriedade;
• Publicidade de atos e interesses da alta administração na propriedade.

3.2. Conselho de administração

Focaliza a estratégia e supervisão do sistema de desempenho da companhia,


muito especialmente a remuneração, inclusive benefícios e privilégios executivos. O
conselho trata da nomeação e supervisão dos principais executivos da empresa e da
quantidade, rotatividade, independência e competências dos conselheiros de
administração. Para tanto, agrupa atividades inerentes ao conselho de
administração (representante dos proprietários na alta administração), principal
responsável pela governança corporativa na empresa:

• Perfil do conselho e conselheiros;


• Independência e organização interna;
• Supervisão estratégica dos controles internos da empresa;
• Prestação de contas da alta administração perante acionistas e a sociedade
em geral.

3.3. Gestão

Focaliza o presidente e diretores executivos nos aspectos necessários à


liberdade de ação, conjugada ao dever de prestar contas e à responsabilidade por
desempenho. Trata ainda da repartição com o conselho de administração da
responsabilidade pelo sistema de remuneração executiva e da garantia de adequada
publicidade à gestão. São atividades típicas do principal executivo e sua diretoria:

• Comando da escolha dos altos executivos;


• Comando do processo de publicidade sobre a gestão;
• Remuneração executiva da companhia;
• Assegurar um canal de comunicação em mão dupla com todos os
participantes do conselho.

3.4. Fiscalização

Focaliza a fiscalização externa da gestão, executada por conta da


propriedade. Trata-se de conjunto de atividades para avaliação periódica e
independente da situação da empresa, exercida por conta dos proprietários
representados pelo conselho de administração e executada pela auditoria
independente, conselho fiscal e comitê de auditoria do conselho de administração.
Inclui normas para eleição ou escolha desses três entes, perfil dos membros,
autonomia, respaldo e acompanhamento da alta administração.

3.5. Cidadania Corporativa

Focaliza o comportamento de toda a companhia, desde a alta administração,


que deve ser transparente, estar à altura das expectativas de seus constituintes,
nestes incluída a sociedade em que a firma está inserida. Trata-se, portanto, de
conjuntos de atividades e situações que são padrões de comportamento da
empresa, isentos de surpresas e conflitos de interesse na gestão, motivados pela
preocupação com os legítimos interesses e necessidades de todos os públicos e
ambientes em que atua.
Este comportamento consta como objetivo de avaliação periódica do
desempenho dos principais executivos da empresa. De acordo com o IBGC5: “Os
agentes da governança corporativa devem prestar contas de sua atuação a quem os
elegeu e respondem integralmente por todos os atos que praticarem no exercício de
seus mandatos.”

4. Governança Tecnológica

A Governança Tecnológica ou Governança em TI (Tecnologia da Informação)


é uma derivação de Governança Corporativa e inclui estruturas de relacionamentos
e processos que tem como objetivos planejar, definir, atuar e medir como a
informação é usada na organização para que esta se mantenha na direção dos seus
objetivos, mas que, simultaneamente, equilibram os riscos em relação ao retorno do
investimento necessário para a manutenção do negócio, conforme ilustra a Figura 3.

Figura 3 - A Governança Corporativa inclui estruturas de relacionamentos e processos

A Governança de TI engloba um conjunto de estruturas e processos que


permitem controlar a execução e a qualidade dos serviços, viabilizando o
acompanhamento de contratos internos e externos, ou seja, define as condições
para o exercício eficaz da gestão com base em conceitos consolidados da qualidade
dos sistemas de informação. Neste contexto, o sistema de informação é um tipo
especializado de sistema, formado por um conjunto de componentes, inter-
relacionados, que visam coletar dados e informações, manipulá-los e processá-los
para finalmente dar saída à novos dados e informações.
A Tecnologia da Informação, como qualquer área funcional, necessita de
processos gerenciais bem definidos, que orientem a gestão dos seus recursos.
Focada neste objetivo, a Governança Tecnológica é uma estrutura de processos de
operação, gestão e relacionamentos integrados com as estratégias corporativas cujo
objetivo consiste em adicionar valor às informações necessárias ao desenvolvimento
do negócio. Nesse sentido, a Governança Tecnológica é derivada e parte integrante
da Governança Corporativa.
A Governança Tecnológica tem por principais objetivos a otimização do
desempenho corporativo e a garantia de satisfação e proteção dos interesses de
todas as partes interessadas (investidores, acionistas, funcionários, colaboradores,
clientes, fornecedores, credores, sociedade civil, governos, sindicatos e outros
grupos específicos). Ela deve agregar valor a esses objetivos e, ao mesmo tempo,
equilibrar os riscos em relação ao retorno da Tecnologia de Informação e a seus
processos.
Estruturas e processos da Governança de TI buscam garantir que a
Tecnologia da Informação suporte e leve os objetivos e estratégias da organização a
assumirem o seu valor na estrutura da organização, permitindo controlar a execução
e a qualidade dos serviços e viabilizando o acompanhamento de contratos internos e
externos. Esses elementos definem, enfim, as condições para o exercício eficaz da
gestão com base em conceitos consolidados de qualidade. Contudo, há de se
observar peculiaridades da gestão da Tecnologia da Informação, pois esta área,
embora muitas vezes classificada como suporte ou apoio à área de negócios em
algumas organizações, determina a viabilidade ou inviabilidade de alguns
empreendimentos. Por exemplo, nas instituições bancarias ou operadoras de
telecomunicações, a oferta de novos produtos e serviços está fortemente
relacionada com novos implementos da tecnologia da informação.

5. A Governança Tecnológica Transforma o Negócio

A Governança Tecnológica ganha força neste atual cenário de


competitividade globalizado uma vez que a Tecnologia da Informação tornou-se um
elemento fundamental para sustentar e, em muitos casos, gerar diferenciais
competitivos nas estratégias corporativas (mercado privado ou governo), onde é
cada vez maior a necessidade de adoção pelas áreas de TI de mecanismos que
permitam estabelecer objetivos, avaliar resultados, examinar, de forma detalhada e
concreta se as metas foram alcançadas.
A experiência mostra que os antigos procedimentos utilizados pelas
organizações já não atendem mais aos requisitos da moderna administração. No
passado, era uma simples questão de gestão e organização. Arrumava-se a
organização, indicavam-se as funções e as questões eram resolvidas por gestão.
Hoje, os negócios estão em constante transformação e o ambiente corporativo, que
se apoia na tecnologia da informação, está em constante mutação, exigindo formas
cada vez mais ágeis e flexíveis de gerenciamento. A Tecnologia da Informação,
igualmente, está em processo de mudança. Por isso, ao invés de se prescrever as
decisões em manuais como se fazia no passado é necessário designar poderes de
decisão da melhor maneira possível.
Internamente ao negócio, a Governança de TI visa designar os direitos de
decisão nas questões de real valor tendo por fim atingir os objetivos de negócio
através da gestão dos ativos de informação. Neste enfoque, a Governança de TI é
uma estrutura bem definida de relações e processos que tem como foco permitir que
as perspectivas de negócios, de infra-estrutura de pessoas e de operações sejam
levadas em consideração no momento de definição do que mais interessa à
empresa, alinhando a tecnologia da informação com essa estratégia.

5.1. Tecnologia da Informação e Ética

O desenvolvimento dos sistemas computacionais, do hardware e software,


juntamente com o barateamento dos sistemas de transmissão de dados e o uso
intensivo da Internet como meio de comunicação de massa tem acarretado
profundas mudanças não só no âmbito das organizações, mas também nas
questões individuais e sociais, onde os referenciais para discussão encontram-se no
campo da ética. Aspectos como privacidade, novas modalidades de crimes
cibernéticos, saúde ocupacional, entre outros, são objetos de debate dentro e fora
das organizações.
Quatro tendências tecnológicas levantam algumas questões éticas e causam
impactos consideráveis na estrutura da corporação conforme demonstra a Tabela 1:

Tabela 1 – Tendências tecnológicas e seus impactos nas corporações

Tendência Impacto nas Corporações


Aumento da capacidade computacional Cresce o número das corporações dependentes de
sistemas computacionais
Diminuição dos custos com armazenamento As corporações podem manter bases de dados
de informações diversas com maior facilidade
Sofisticação das ferramentas de análise das As corporações podem tratar grande quantidade de
informações armazenadas informações e traçar planos específicos
Desenvolvimento de novas tecnologias de Facilidade no acesso e cópia das informações
redes de comunicação e Internet armazenadas

Estas tendências evidenciam dois grandes blocos mudanças no cenário


tecnológico: hardware e infra-estrutura de computação se tornaram baratos,
acessíveis e com capacidade superior e os sistemas computacionais permitem
armazenamento e tratamento mais sofisticado dos dados individuais.
Este conjunto de transformações gera questões éticas na área de sistemas de
informação que podem ser vistas sob quatro perspectivas:

• Privacidade – Discute-se como as informações podem ser coletadas e de


como elas podem ser empregadas no ambiente computacional. Que dados de
clientes podem ser revelados, que dados podem ser trocados entre
empresas, quais as garantias de privacidade dos dados de um indivíduo ao
expor suas informações a uma empresa?
• Acuidade – Trata da veracidade ou confiabilidade dos dados armazenados
em computador, muitas vezes, as informações errôneas ou desatualizadas
em bancos de dados prejudicam a análise de crédito de um cliente,
impossibilitam a sua contratação em um emprego entre outras possíveis
situações gerando constrangimento. Neste caso perguntas devem ser
respondidas: Quem é responsável por armazenar e divulgar informações
incorretas? Que medidas o usuário pode tomar para garantir a veracidade dos
dados?
• Propriedade – Pode ser encarada de duas formas: a propriedade dos direitos
autorais sobre uso do software, cópias ilegais e pirataria e a propriedade
sobre a base de dados: os dados que alimentam os bancos de dados são
informações de clientes, experiências dos funcionários, dados sobre o
mercado e a concorrência. A questão essencial seria: A quem pertence esta
informação?
• Acesso – Trata das garantias do indivíduo em ter o acesso à informações a
seu respeito e poder corrigi-las caso estejam inconsistentes. De fato, um
cliente pode solicitar informações sobre sua situação de crédito em qualquer
entidade acompanhamento de crédito? E em uma empresa privada? Ele pode
alterá-la ou mesmo solicitar que sejam retiradas?

Quanto ao ambiente de trabalho, Laudon e Laudon6 descrevem duas


questões éticas relacionadas com este ambiente:
• Emprego – Muitas organizações declaram que pretendem, com o emprego
maciço da tecnologia da informação, reduzir sua força de trabalho. Tais
declarações e ações aumentam o nível de estresse ocupacional e geram uma
sensação de frustração e impotência frente aos avanços tecnológicos. Por
outro lado, as organizações alegam que com a atualização profissional do seu
quadro de funcionários no uso da TI os efeitos danosos do desemprego
podem ser amenizados;
• Monitoramento – Os recursos que se encontram disponibilizados na
empresa são de sua propriedade: os computadores, impressoras, redes entre
outros. Quanto custará à organização se durante o expediente o colaborador
enviar ou acessar um e-mail particular? E se acessar uma página de comercio
eletrônico? Esta flexibilidade ao trabalhador é desejável porque gera maior
conforto ocasionando maior produtividade? Ou pelo contrário, é prejudicial,
reduzindo o nível de atenção do colaborador, consumindo tempo de trabalho
e aumentando o tráfego na rede com atividades não produtivas para a
organização?

5.2. Princípios que norteiam negócios em Tecnologia da Informação

A Governança Tecnológica visa designar os direitos de decisão nas questões


relevantes com o propósito de atingir os objetivos de negócio da organização. Em
muitas organizações este processo se inicia pela demonstração dos riscos
envolvidos pela falta de controle sobre o ambiente de TI.
Foram identificadas cinco áreas de domínios relevantes para as decisões de
TI:

1. Princípios de TI – incluem as regras que norteiam o direcionamento e o


controle dos processos dentro da estrutura corporativa;
2. Arquiteturas de TI – envolvem a capacidade instalada de tecnologia da
informação, padrões de tecnologia, modelos de dados etc.;
3. Aplicações de negócios de TI – como decide e quem decide em relação às
soluções de negócios;
4. Estratégia de infra-estrutura de TI – como vai dispor da capacidade
instalada;
5. Investimentos em TI – como priorizar os recursos aplicados em TI.

São áreas de grande importância para as organizações, onde existem


decisões a serem tomadas. É fundamental que se estabeleçam quais as decisões
relevantes nesses domínios, quais as pessoas envolvidas nas decisões, e qual o
processo pelas quais as decisões são tomadas. No caso dos princípios de TI é
importante que tais princípios sejam os mesmos que orientam os negócios (baixo
custo, produtos de alta tecnologia, relacionamento com os clientes, entre outros).
Na área financeira, a principal relação com TI aparece na necessidade de
eficiência em medir resultados e elaborar planos eficazes. Dados e informações
fornecidos com exatidão e disponíveis em um curto espaço de tempo, fazem a
diferença durante o processo pelo qual passam as estratégias. Esta relação aparece
no planejamento relacionado ao investimento em tecnologia. A informação precisa,
rápida e necessária e a produtividade são as maneiras pelas quais a tecnologia
influencia os resultados de uma empresa, ou seja, trata-se de uma relação em que
TI agrega valor às estratégias financeiras e de negócios, e a gestão de orçamentos
e investimentos em TI parte do planejamento financeiro em tecnologia.

5.3. Desenvolvendo a estrutura de Governança em TI

Internamente, a Governança de TI deve desenvolver competências e designar


os direitos de decisão nas questões de real valor tendo por fim atingir os objetivos de
negócio. Neste aspecto, a governança em TI se apresenta como uma estrutura bem
definida de relações e processos que controlam e dirigem uma organização dentro
de um cenário de extrema competitividade. O foco é permitir que as perspectivas de
negócios, de infra-estrutura, de pessoas e de operações sejam levadas em
consideração no momento de definição do que mais interessa à empresa, alinhando
a tecnologia da informação com essa estratégia.
Conforme citado pela Delloite7:

Existem inúmeras ferramentas que podem auxiliar no


desenvolvimento de um programa de controles internos. Programas
de bancos de dados e ferramentas patenteadas podem ser utilizados
para documentar objetivos, processos e atividades de controle.
Também podem ajudar a identificar falhas e rastrear ações para
corrigir deficiências e ainda fornecer suporte para as atividades de
auto-avaliação e monitoramento.

6. Dificuldades na adoção da Governança em TI

Como frisa Fagundes8: “atualmente, é impossível imaginar uma empresa [ou


organização pública] sem uma forte área de sistemas de informações (TI), para
manipular os dados operacionais e prover informações gerenciais aos executivos
para tomadas de decisões”. A adoção acelerada de processos de gestão de infra-
estrutura nas empresas, dentro do conceito da Governança Tecnológica tem como
principal motivação, internamente, a cobrança sobre os responsáveis pelas
operações de tecnologia da informação quanto à maximização do uso dos
investimentos já realizados. Por trás desta iniciativa está a preocupação com
melhorias nos processos operacionais, redução de custos, aumento da eficiência
dos colaboradores, aperfeiçoamento das relações com fornecedores, clientes e
demais parceiros.
Weill e Ross9 afirmam que o valor de negócios de TI resulta diretamente de
uma governança de TI eficaz - da alocação, pela empresa, da responsabilidade e
dos direitos decisórios. Entretanto, com a contínua evolução da infra-estrutura de TI,
incluindo a tarefa de gerenciar soluções heterogêneas de diferentes fornecedores,
as organizações sofrem com uma grande dificuldade em manter os custos
operacionais sob controle. A elevada complexidade de gerenciamento é uma das
principais razões pelas quais as organizações têm sido forçadas a incrementar seus
orçamentos e equipes de TI, dedicando entre 70% a 80% dos recursos disponíveis
somente para a manutenção dos sistemas e aplicações existentes.

6.1. Motivação para uma Governança em TI

A Governança em TI ganhou um novo impulso dentro do contexto das


corporações devido as crescentes preocupações com a governança corporativa,
como resultado dos escândalos financeiros ocorridos nos Estados Unidos com
empresas de grande expressão, o que gerou prejuízos financeiros aos investidores
comparáveis aos problemas da Bolsa de Valores de Nova York, em 1929.
Escândalos recentes deixaram em xeque os sistemas de gestão vigentes, colocando
na ordem do dia questões como ética nos negócios, transparência, governança
corporativa, conflitos de interesse entre acionistas e gestores das corporações,
conflitos entre acionistas minoritários e os controladores, conflitos entre as
corporações e a sociedade.
O mercado de capitais reagiu à onda de escândalos adotando várias
iniciativas, próprias ou derivadas de leis, que obrigaram uma maior transparência da
gestão. Pode-se citar o Acordo de Basiléia II, em 2001, voltado para os aspectos
financeiros e de transparência das empresas e o Ato Sarbanes-Oxley (SOX), de
2002, com leis voltadas para definição de critérios de governança. Essas leis criaram
regras que se espalharam pelas organizações em todo o mundo e chegaram até as
áreas de Tecnologia da Informação.
Pinheiro10 observa que o Ato Sarbanes-Oxley, em especial, apresentou um
impacto significativo sobre a área de Tecnologia da Informação, uma vez que se
insere no âmbito da governança corporativa e apresenta artigos diretamente
voltados para a área de TI.

7. Conclusão

A Tecnologia da Informação está em processo de mudanças. Por esse


motivo, ao invés de se prescrever as decisões em manuais como se fazia no
passado é necessário designar direitos de decisão nas questões de real valor, tendo
como finalidade atingir os objetivos do negócio através da Governança Corporativa.
Um modelo representativo da Governança Tecnológica pode ser elaborado
com base no conjunto de códigos de boas práticas da Governança Corporativa com
a finalidade de avaliar presença ou conformidade com o instrumento de gestão
numa dada organização sob análise. Essas boas práticas sofrem influência do
contexto cultural, econômico e social do país, da organização que a adota e,
também, da missão do órgão que patrocina o código que as reúne. Assim, elaborar
uma estrutura de Governança Tecnológica requer a compreensão e harmonização
das forças competitivas dentro da própria organização e pode ser considerada como
o principal indicador de alcance de valor da Tecnologia da Informação na
corporação.
8. Referências Bibliográficas

1. NEXTG - NEXT GENERATION CENTER. Módulo Governança de TI. Disponível


em: <http://www.nextg.com.br/br/modulo.aspx>. Acesso em set. 2005.

2. BERLE, A.A. e MEANS, G.C. (1932). The Modern Corporation and Private
Property. Macmillan, New York, 1932.

3. VIEIRA, S. P.; MENDES, A. G. S. T. Governança corporativa: uma análise de


sua evolução e impactos no mercado de capitais brasileiro. Revista do
BNDES, Rio de Janeiro, 2004, v.11, n.22, p.103-122.

4. PARREIRAS, F. S. Governança em TI e gestão do conhecimento. Disponível


em
<http://www.ietec.com.br/ietec/techoje/techoje/tecnologiadainformacao/2004/08/1
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5. IBGC – Instituto Brasileiro de Governança Corporativa. Código das melhores


práticas de governança corporativa. 3.ed. São Paulo, 2004.

6. LAUDON, K. C. e LAUDON, J. P. Sistemas de informação. Rio de Janeiro:


Livros Técnicos e Científicos, 2004.

7. DELOITTE. Lei Sarbanes-Oxley: Guia para melhorar a governança


corporativa através de eficazes controles internos. Disponível em
<http://deloitte.com.br>. Acesso em out. 2005.

8. FAGUNDES, E. M. A lei Sarbanes-Oxley e seu impacto em TI. Disponível em:


<http://www.efagundes.com/artigos/Sox_e_o_impacto_em_TI.htm>. Acesso em
set. 2006.

9. PINHEIRO, J. M. S. O Ato Sarbanes-Oxley e o Impacto sobre a Governança


de TI das Corporações. Cadernos do UniFOA, Volta Redonda, Ano 1, n. 2, nov.
2006. Disponível em
<http//:www.unifoa.edu.br/pesquisa/caderno/edicao/02/33.pdf>

10. WEILL, P.; ROSS, J. W., Governança de TI, Tecnologia da Informação.


Tradução de Roger Maioli dos Santos. M Books do Brasil, São Paulo, 2006.

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