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Material Teórico
Contrato Social: A Paz e a Liberdade
Revisão Textual:
Profa. Ms. Magnólia Gonçalves Mangolin
Contrato Social: A Paz e a Liberdade
Atenção
Para um bom aproveitamento do curso, leia o material teórico atentamente antes de realizar as
atividades. É importante também respeitar os prazos estabelecidos no cronograma.
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Unidade: Contrato social: a paz e a liberdade
Contextualização
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Hobbes e a ênfase na segurança
Uma primeira aproximação sobre esse tema nos remete a figura do pensador inglês
Thomas Hobbes.
Hobbes teve origem humilde, seus estudos foram impulsionados pela ajuda de um tio
relativamente próspero, trabalhou como preceptor, participou das polêmicas intelectuais de sua
época e foi testemunha do abalo a monarquia inglesa durante a chamada revolução gloriosa.
Thomas Hobbes que nascera no final do século XVI viveu para ver muito do conturbado
e efervescente século XVII, talvez, por isso, desenvolveu uma forte simpatia pela ideia de
estabilidade. Parece natural que aqueles que vivem em períodos de guerra se voltem tão
fortemente para a questão da paz. E a manutenção da paz, dentro do território, foi a principal
preocupação hobbesiana no campo político.
Sua abordagem segue um método diferente de qualquer outro antecessor.
Para começar, Hobbes procura por uma explicação racional para a existência e a
necessidade do Estado. No entendimento do pensador inglês é o Estado forte o único fiador
possível para a paz.
Hobbes se volta para uma formulação hipotética: Como viveriam os homens antes do Estado?
O pensador inglês parte da premissa de que os homens tendem a igualdade. Segundo ele,
naquilo que se refere à força: “...o mais fraco tem força suficiente para matar o mais forte,
quer por secreta maquinação, quer aliando-se com outros que se encontrem ameaçados pelo
mesmo perigo” (Hobbes, Leviatã, cap. XIII, p. 74). E o mesmo raciocínio pode, segundo o
autor, ser aplicado às faculdades do espírito (inteligência), de modo tal que haveria muito
mais semelhanças entre os homens do que desigualdades capazes de serem incrivelmente
determinantes em termos da sobrevivência de cada um. Então, Leitor(a), para o pensamento
hobbesiano, naquilo que se refere à capacidade do ser humano, não há diferenças marcantes.
Essa tendência de nivelamento traz consigo outra característica importante: a necessidade.
Quanto às coisas que precisamos para viver, também não são fundamentalmente diferentes.
Precisamos certamente de abrigo contra as intempéries do clima, água, comida, e, por que
não Leitor(a), de algum conforto. A origem das tensões estaria na pressuposição de que as
necessidades tendem a ultrapassar os recursos disponíveis, ou seja, em um determinado lugar,
pode não ter água ou comida suficiente para todos. É neste momento, em que o homem se vê
competindo com outro homem que as tensões começam.
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Unidade: Contrato social: a paz e a liberdade
Esse cenário de escassez que levaria a arroubos de violência não seria produzido unicamente
pela falta em si de recursos, e esse é um dos aspectos polêmicos do pensamento de Hobbes,
pois segundo ele, ainda haveriam
Hobbes tinha muito gosto pela literatura clássica, lá encontrou uma frase do dramaturgo
romano Plauto, que se difundiria e popularizaria como estando associada ao seu pensamento:
O homem é lobo do homem.
A especulação política hobbesiana também atinge terreno filosófico ao postular que em um
cenário em que não houvesse a vigilância do Estado, quando o homem se deparasse com a
ausência de recurso faria de qualquer outro seu inimigo, aliás, ele o faria mesmo que não
fosse apenas para garantir uma desesperada necessidade de sobrevivência, como
vimos no trecho anterior do texto do autor, a própria satisfação em torno do poder seria para
alguns motivo suficiente para usurpar o que estaria na posse de outro. A natureza humana
estaria inclinada para a violência.
Daí, ao falar da natureza do homem Hobbes arrola três causas para a discórdia, a saber: a
competição, a desconfiança e a glória.
No que se refere à competição basta dizer que essa está ligada a ambição, ao lucro, ter posse
de tudo aquilo que seria propriedade do outro, possuir muito mais que todos os outros. Já
a desconfiança é motivada pela insegurança. Diante do fato de não saber o que esperar do
outro, se está ou não na iminência de ser traído ou atacado, leva os homens a tentar se prevenir
lançando mão da violência. O problema é que assim como no caso da competição parte-se de
uma tendência de igualdade, na qual, todos competem com todos e, também, todos desconfiam
de todos, o que ajuda a tornar a violência algo comum.
Não bastasse essas motivações para o conflito, Hobbes ainda adiciona a glória, um misto de
vaidade e honra cujos motivos para violência podem surgir por uma “ofensa” produzida por
uma palavra hostil ou simplesmente pelas mais variadas diferenças de opinião já seriam motivos
suficientes para alguns se lançarem sobre os outros. Das três causas da discórdia a glória é
certamente a mais banal.
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Mas essas causas da discórdia não estão isoladas entre si, juntas elas formam um arranjo de
coisas que levaria cada um a temer pela própria vida. Teríamos neste cenário, de acordo com o
pensamento hobbesiano, um clima de temor constante, em que cada um temeria o tempo todo
pela própria vida e pela vida dos seus entes próximos.
Certamente esse é um tipo de raciocínio que produz protestos, no entender hobbesiano,
vinculados a ideias oriundas da filosofia grega que compreendia o homem como um animal
político (Aristóteles), cuja sociabilidade seria natural, ou, ainda, por natureza estaríamos
inclinados a vivermos juntos. Essa linha de pensamento facilmente leva a compreensão do
conflito como uma exceção, e não como uma quase constância, conforme advoga Hobbes.
Um dos argumentos hobbesianos para se contrapor a essas críticas é invocar um exame de
consciência a cada um de nós.
É incorreto, ou moralmente questionável, duvidarmos da boa índole da humanidade? Pois
recuperamos os mesmos questionamentos feitos por Hobbes no século XVII e aplicamos no
nosso século.
Se isso era feito na época de Hobbes, também, podemos afirmar que é também feito com
muita frequência em nossa própria época, e é justamente esse sentimento de desconfiança em
relação ao próximo que nos leva a tomar certas atitudes práticas, mesmo que não sejam faladas
com clareza pelo senso comum.
Pense
Então, a questão que poderia ser colocada a partir do pensamento de Hobbes seria:
Como viveríamos sem Estado?
Um cenário desse tipo seria em princípio de plena liberdade. Essa liberdade é entendida por
Hobbes como “ausência de impedimentos”, ou seja, na situação de dispor de poder para fazer
alguma coisa, sendo ainda que ninguém viesse impedir o homem de fazer aquilo que ele quer,
então esse homem é livre.
Outro ponto importante a ser assinalado diz respeito à situação jurídica desse cenário.
Como não há governo ou Estado, a única lei a qual o homem se encontra atrelado é a própria lei da
natureza a qual Hobbes reduziu ao direito à vida.
O fundamental direito natural no entender hobbesiano é o direito à vida, pelo qual cada um fará uso
de todo e qualquer meio necessário para a preservação da própria.
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Unidade: Contrato social: a paz e a liberdade
Hobbes, por esses motivos, também chamaria o estado de natureza de uma guerra de
todos contra todos. Afinal, todos precisam sobreviver, todos podem fazer o que for necessário
neste sentido (inclusive pilhar ou assassinar), não há leis que não a da autopreservação; o quê
evitaria o conflito generalizado?
É claro que Hobbes reconhece que não haveria combates de fato todo o tempo, entretanto,
a possibilidade disto ocorrer a qualquer momento seria palpável.
Afinal, ninguém ou nenhum grupo seria forte suficiente a ponto de ser invencível. O horror
da morte e da violência seria uma constante no coração dos homens.
Neste ínterim, podemos perguntar usando as ideias de Hobbes: “Seria possível viver num
ambiente carregado de tanto medo?”
Podemos imaginar que seria estranho as pessoas optarem por permanecer em semelhante
situação por tempo indeterminado. O pensador inglês já havia chegado a essa conclusão.
Cansados de estado de natureza tão brutal, Hobbes defende a ideia que as pessoas optaram
pela formação de um pacto. Esse pacto seria um acordo firmado, não exatamente por escrito, em
que cada uma dos indivíduos livres, participante do pacto, aceitaria renunciar a uma dose de sua
liberdade, cada associado desse empreendimento político concorda, então, com o surgimento
de regras de convivência para serem seguidas por todos. Isso significa limitar a liberdade.
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Diálogo com o Autor
Lembremos: Hobbes entendia a liberdade como não impedimento, estabelecer algumas
regras desautorizando determinadas ações e justamente impor alguns impedimentos.
Mas Hobbes argumenta que “pactos sem espada [sword] não são mais que palavras [words]”.
Portanto, é necessário organizar uma estrutura de poder que possa sustentar essa ordem.
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Unidade: Contrato social: a paz e a liberdade
A isso também deve se acrescer aos poderes do soberano – novamente a partir do princípio
de se preservar a paz – a possibilidade de fazer censura se assim julgar necessário.
Reflita
Como podemos perceber, trata-se de poderes extraordinários. Hobbes já se antecipava aos
seus críticos, pois estes certamente ficaram indignados com um desenho político ao qual
o súdito fica completamente a mercê de seu soberano. Contra essa crítica, o argumento
hobbesiano é simples:
Qual seria a melhor escolha: viver sob o julgo de um soberano com poderes para em tudo
interferir ou viver na permanente insegurança de um estado de natureza?
Para Thomas Hobbes, por mais dura que possa parecer à situação de viver conforme
as regras ditadas pelo Estado, ainda é uma alternativa muito melhor do que viver (ou
tentar sobreviver) no cenário da guerra de todos contra todos. Escolher o Estado seria uma
escolha para viver em paz.
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Locke não é contra a ideia do contrato social, pelo contrário, entretanto ele defende que esse
contrato tenha algumas garantias.
A defesa dessas “garantias” está atrelada a um entendimento diferente do que é o estado
de natureza. Estamos, nos referindo ao tema do direito natural, a pressuposição de um estado
natural, antes da formação do Estado, acompanha – na abordagem hobbesiana – o entendimento
que o indivíduo seria portador de um único direito por natureza que é o direito à própria vida.
Na versão lockeana, o direito a vida está presente, mas não está sozinho:
Por exemplo, como poderia o Estado exercer censura ou proibir a divulgação de certas ideias,
sem que, com isso, entrasse em choque com o direito de liberdade?
Outra questão passa a ser a da propriedade. Lembremos, Leitor(a), para Hobbes a distribuição
da propriedade seria uma atribuição do soberano.
Locke compreende a propriedade como produto do trabalho do indivíduo. É o trabalho do
corpo que modifica algo, altera, melhora, portanto, pertence ao autor desse esforço. Aquele
que planta na terra tem direito de posse sobre a colheita, aquele que junta madeira e com ela
constrói uma casa tem posse sobre a mesma, e assim por diante.
O pensamento de John Locke associou-se perfeitamente com as expectativas da burguesia
que começava a se desenvolver. O entendimento da origem da propriedade como produto do
trabalho entrava em sintonia com um segmento da sociedade que começava a prosperar via -
trabalho, e não por herdar privilégios atribuídos ao nascimento.
Esse entendimento muda ou faz ajustes na fórmula anterior para a finalidade do Estado. Na
versão hobbesiana o Estado deveria garantir a paz. Na versão de Locke o Estado deve fazer
mais do que isso: também zelar pela propriedade de seus súditos ou cidadãos. Bem, como
assegurar a eles liberdade.
Pode-se dizer que a mudança de perspectiva sutil ao primeiro olhar produz resultados
muito contrastantes. Se uma das atribuições do Estado é a preservação da liberdade daqueles
irmanados pelo contrato social, a postura de poder apenas cerceador que aplica, pela força, a
coerção necessária para o cumprimento da lei seria revista. O Estado se torna muito mais um
protetor, isso transparece na forma com que suas ações passariam a ser executadas.
Então, Leitor(a), encontramos no pensamento de Locke mais direitos por natureza do que na proposta
anterior. Isso muda muita coisa, uma vez que, não é qualquer coisa que Locke está colocando como
direito natural. Incluir a propriedade e também a liberdade implica em repensar o próprio papel do
Estado, visto que o Estado não poderia mais fazer o que bem lhe julgasse sob pena de entrar em conflito
com outra parte dos direitos naturais.
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Unidade: Contrato social: a paz e a liberdade
Trocando Ideias
Em sua obra O Segundo tratado sobre o governo civil, Locke aborda a questão com a
pergunta: “pode-se resistir às ordens de um príncipe?” Para o autor essa é, num primeiro
momento, uma pergunta que se deve responder de forma negativa. Não adequado
que qualquer um por alegar estar sendo injustiçado seja autorizado a descumprir a lei
estabelecida por um governo que em teoria foi instituído para preservar os interesses de
todos. Imagine, Leitor(a), um cidadão qualquer de repente compreende que não deve
pagar mais seus impostos porque se entende lesado, ou que deve preservar para si aquele
quinhão de riqueza. Isso prejudica a administração pública que usa esses recursos pelo
bem estar da coletividade.
No entanto, Locke é claro ao reconhecer que há casos em que de fato, e não por mero
interesse egoísta, o povo tem direito a queixa, pois aquele que governa não está cuidando da
preservação dos direito da população. Neste caso:
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Desta maneira, aquele que faz uso indevido do poder que lhe foi conferido pelo povo perde sua
legitimidade. Isso permite à população se desobrigar da obediência de sua autoridade. Mais ainda,
se faz legítima a aspiração popular em substituir aquele que não outrora deveria defendê-la.
Na versão lockeana do contrato social, o poder é conferido em confiança, podendo ser
recuperado e dado a outro nos caso em que essa confiança foi quebrada. Algo muito distante
da ideia de um monarca com poder perpétuo.
As proposições liberais não apenas possibilitaram a discussão em torno do direito de
insurreição dos povos. Na Inglaterra a Revolução Gloriosa abriu caminho para a assinatura
da do Bill of Rights (declaração de direitos), que delimita os poderes do rei e possibilita o
desenvolvimento da chamada monarquia parlamentarista.
As propostas liberais tiveram forte impacto nos anos seguintes. Os ventos do pensamento
liberal percorreram os oceanos e no século XVIII levaram colonos ingleses a se erguer contra a
metrópole inglesa e fundar a primeira democracia do novo mundo. Muito do espírito por trás da
revolução americana tive como inspiração ideias liberais.
Explore
Pesquise Independência dos Estados Unidos em:
99 http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=207
Outra face muito importante do pensamento liberal foi o liberalismo econômico, ao apontar
que a propriedade é um direito natural, Locke estava abrindo o caminho para questionar a
política de intervenção do monarca que, muitas vezes, determinava quem poderia explorar
certa atividade econômica, ou ainda quais produtos poderiam ser comprados do exterior. Essa
forma de condução política ia de encontro aos ideais de prosperidade da burguesia, além de
beneficiar de maneira desequilibrada alguns poucos, geralmente, ligados à nobreza.
Graças a essa abordagem de considerar o Estado como um agente regulador, mas que
não deve fazer seus súditos reféns pudemos observar o gradual aparecimento da liberdade de
expressão, liberdades de pensamento e religião e até da livre iniciativa.
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Unidade: Contrato social: a paz e a liberdade
Material Complementar
BONAVIDES, Paulo. Ciência Política. 19 ed. – São Paulo: Malheiros Editores, 2012.
BOBBIO, N. Teoria Geral da Política: A Filosofia Política e as Lições dos Clássicos. Rio
de Janeiro: Campus, 2000.
DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de teoria geral do Estado. 32ª ed. – São
Paulo: Saraiva, 2013.
HOBBES, Thomas. Leviatã, trad. João P. Monteiro e Maria B.N. da Silva – 2ª ed. – São
Paulo: Abril Cultural, 1979. (Col. Pensadores).
LOCKE, John. Segundo tratado sobre o governo civil, trad. Magda Lopes e Maria
Lobo da Costa. – Petrópolis, RJ: Vozes, 1994.
WEBER, Max. Ciência e Política: duas vocações; prefácio Manoel T. Berlinck; trad.
Leonidas Hegenberg e Octany Silveira da Mota. 18ed. – São Paulo: Cultrix, 2011.
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Referências
BOBBIO, N. Teoria Geral da Política: a Filosofia Política e as Lições dos Clássicos. Rio de
Janeiro: Campus, 2000.
HOBBES, Thomas. Leviatã, trad. João P. Monteiro e Maria B.N. da Silva – 2ª ed. – São Paulo:
Abril Cultural, 1979. (Col. Pensadores).
LOCKE, John. Segundo tratado sobre o governo civil, trad. Magda Lopes e Maria Lobo da
Costa. – Petrópolis, RJ: Vozes, 1994.
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Anotações
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