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Encontro Nacional da Associação Brasileira de Estudos de Defesa IX ENABED
Forças Armadas e Sociedade Civil: Atores e Agendas da Defesa Nacional no Século
XXI
VISÕES SOBRE A GUERRA DE INFORMAÇÃO: COGNIÇÃO DE BOYD E
SZAFRANSKI E TECNOLOGIA DA RMA
João Gabriel Burmann da Costa
Guilherme Henrique Simionato dos Santos
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
Programa de Pós Graduação em Estudos Estratégicos (PPGEEI)
AT3 Estudos Estratégicos
0608 de Julho de 2016
Florianópolis SC
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Visões sobre a Guerra de Informação: cognição de Boyd e Szafranski e
tecnologia da RMA.
1
João Gabriel Burmann da Costa
2
Guilherme Henrique Simionato dos Santos
Procurase discutir a obra de John Boyd e Richard Szafranski acerca do papel da
cognição na guerra. Através do debate do conceito de Guerra de Informação,
objetivase reconhecer seus meios de emprego e demonstrar a influência dos autores
no uso hodierno deste conceito. Relacionase a concepção atual do termo, surgida no
debate acadêmico estadunidense nos anos 1990, com a lógica da Revolução nos
Assuntos Militares (RMA), predominante naquela época. Os teóricos da RMA
defendem a existência de uma mudança nos princípios de condução da guerra devido
aos avanços tecnológicos do último século. A literatura acerca da Guerra de
Informação adota uma abordagem que avalia o alvo prioritário no processo decisório
inimigo, representado pelas tecnologias de coleta, processamento e difusão de
informação. Defendese que a influência de Boyd e Szafranski no debate se dá
através da ideia de Ciclo OODA (Observação, Orientação, Decisão e Ação), que
representa um processo de tomada de decisão. Todavia, a proposta dos dois autores
complementares entre si tem como foco as capacidades cognitivas, individuais e
coletivas, de gerar conhecimento. Portanto, diferem da abordagem influenciada pela
literatura de RMA que trata a Guerra de Informação como algo meramente
tecnológico. A proposta metodológica consiste em operar uma revisão da obra dos
dois autores e seus principais continuadores, bem como realizar uma discussão entre
a abordagem cognitiva da guerra e a tecnológica, representada pela RMA. A hipótese
de trabalho é que a influência dos dois autores, inicialmente, se deu por meio da
complementariedade de suas obras, resumidamente pela associação do Ciclo OODA,
de Boyd, e do papel atribuído a imagem e o neocórtex do cérebro por Szafranski.
Posteriormente, com a popularização da RMA e a adoção doutrinária pelos EUA dessa
abordagem, a Guerra de Informação teria incorporado um viés predominantemente
tecnológico, em detrimento da cognitiva.
1
Mestrando no Programa de Pós Graduação em Estudos Estratégicos Internacionais (PPGEEI)
da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e pesquisador associado do Instituto
SulAmericano de Política e Estratégia (ISAPE).
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Mestrando no Programa de Pós Graduação em Estudos Estratégicos Internacionais (PPGEEI)
da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
2
Introdução
O presente artigo trata das diferentes visões sobre a Guerra de Informação.
Constituise em um esforço de análise dos novos meios de se travar a guerra, uma
atividade em constante modificação. São muitas as interpretações acerca da evolução
et al,
da arte da guerra. Da divisão em gerações (HAMMES, 2006; LIND 1989) a
divisão em ondas (TOFFLER & TOFFLER, 1994), parece ser unânime, que a partir do
surgimento do computador e do processo de digitalização da guerra, a informação
ganhou um novo destaque na literatura de Estudos Estratégicos. Nesse sentido, até
mesmo o surgimento do debate sobre a Revolução em Assuntos Militares – que trouxe
controvérsias sobre as reflexões de evolução da guerra – reforça a compreensão de
que a partir da Terceira Revolução Tecnológica e o surgimento do computador e da
rede, a atividade da guerra e os meios de se travála passaram por uma grande
modificação. Desse modo, esse trabalho se pretende, modestamente, a contribuir no
debate brasileiro de Estudos Estratégicos, ao discutir a definição do atual conceito de
Guerra de Informação, em específico, apresentando a contribuição das obras de John
Boyd e de Richard Szafranski nesse campo da literatura.
Guerra de Informação foi um termo surgido na literatura estadunidense na
primeira metade dos anos 1990, que procura classificar os novos meios de se travar a
guerra em que a destruição física do inimigo não ocupa mais o lugar central da tática.
De forma subsidiária, se buscará também explicar os principais meios reconhecidos de
se travar a guerra de informação, sempre destacando os demais termos utilizados nas
doutrinas ou artigos acadêmicos. A literatura acerca da Guerra de Informação adota
uma abordagem que avalia o alvo prioritário no processo decisório inimigo,
representado pelas tecnologias de coleta, processamento e difusão de informação.
Neste trabalho, categorizouse duas vertentes principais acerca da Guerra de
Informação. A primeira, influenciada pelas obras de Boyd e Szafranski, destaca o
papel da cognição na guerra moderna, especificamente a partir do conceito de Ciclo
OODA, acrônimo para Observação, Orientação, Decisão e Ação, que representa um
processo de tomada de decisão. A proposta dos dois autores – complementares entre
si – tem como foco as capacidades cognitivas, individuais e coletivas, de gerar
conhecimento.
existência de uma mudança nos princípios de condução da guerra devido aos avanços
tecnológicos do último século. A Guerra de Informação inserese no debate da RMA
juntamente com as reflexões acerca do papel da inteligência e da guerra centrada em
redes, proporcionadas pela disseminação do computador e do uso da rede como
forma de exercício de comando, controle e comunicação (C3). Neste sentido, são
destacados os sistemas tecnológicos que permitem a execução da guerra de
informação, bem como os alvos, a orientação, da atividade ofensiva se tornam os
computadores e a rede adversária. Alguns teóricos como Pape (1996) e Warden
(1995) inseremse nesse debate por meio do papel do poder áereo, mas também
enfatizando o papel das sistemas de armas que atingem as cadeias de C3 do inimigo.
A hipótese de trabalho é que o conceito de Guerra de Informação surgiu
fortemente influenciado pela abordagem cognitiva de Boyd e Szafranski, por meio da
complementariedade de suas obras, resumidamente pela associação do Ciclo OODA,
de Boyd, e do papel atribuído a imagem e o neocórtex do cérebro por Szafranski.
Posteriormente, a Guerra de Informação encontrou terreno fértil nas teorias
emergentes centradas na RMA, onde a tecnologia permitiu agir de forma mais direta
sobre o processo cognitivo do inimigo.
O artigo é dividido em três partes. Primeiro, se realiza uma revisão da obra de
Boyd e Szafranski e seus principais continuadores, buscando clarificar a abordagem
definida como cognitiva. Posteriormente se apresenta a visão da Revolução nos
Assuntos Militares, mostrando como ele lida com a questão da informação em especial
a ênfase na tecnologia. Na terceira parte, discutese algumas interpretações sobre a
guerra de informação, de forma a ilustrar a presença das abordagens da cognição e
da RMA na literatura. Por fim, fazse considerações finais.
1. A abordagem cognitiva pelas obras de Boyd e Szafranski
Essa primeira seção se propõe a apresentar as as ideias de John Boyd e
Richard Szafranski, e destacar a abordagem focada na cognição que esses dois
autores trazem para o debate de Estudos Estratégicos. Defendese que por meio da
complementaridade da obra dos dois autores, eles influenciaram o início do debate
acerca da Guerra de Informação, no início dos anos 1990. Assim, buscase apresentar
algumas interpretações de autores que corroboram a visão cognitiva de Boyd e de
Szafranski.
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1.1 O pensamento de John Boyd
John Boyd (1927 – 1997) foi um coronel da Força Aérea dos Estados Unidos
(USAF), pensador militar e consultor do Pentágono. Piloto de caça na Guerra da
Coreia, foi instrutor da Air Force Weapons School na década de 1950. Considerado
um grande piloto, posteriormente, foi para o Pentágono e atuou nos projetos de
desenvolvimento dos caças F15 e F16. (CORAM, 2002; HAMMOND, 2001; OSINGA,
2005). Quando foi para a reserva, em 1975, Boyd tornouse um pensador militar,
elaborando apresentações com suas ideias e as divulgando no Pentágono, em
escolas militares, e para congressistas estadunidenses.
O Ciclo OODA consiste na principal ideia de John Boyd e no seu maior legado,
sendo uma das poucas ideias suas que são referenciadas e citadas por outros
autores. O desenvolvimento desse conceito foi um processo de quase 20 anos, desde
a primeira publicação de sua apresentação Patterns of Conflict até a última revisão,
em 1996. De modo resumido, de acordo com Schechtman (1996, p. 33) o Ciclo
OODA é uma sistematização de um processo de tomada de decisão racional. A
premissa fundamental do modelo é que o processo de tomada de decisão é resultado
de um comportamento racional, composto por quatro fases: Observação, Orientação,
Decisão e Ação.
Como um modelo de tomada de decisão racional, todos os seres humanos o
desenvolveriam, de modo intuitivo – ou deliberado –, a fim de sobreviverem. O Ciclo
OODA sintetiza o processo cognitivo humano e o relaciona à competição pela
sobrevivência. Portanto, cabe a cada um de nós garantirmos o funcionamento do
nosso Ciclo OODA e, na medida do necessário, impedir o funcionamento do Ciclo
OODA do oponente.
Partindose do pressuposto da guerra como a continuação da política com outros
meios, conforme atestado por Clausewitz (2007, p. 2829), e sendo a política uma
expressão da racionalidade humana, podese concordar com Osinga, quando este diz
que:
Os outputs da Orientação condicionarão a Decisão e a Ação, que Boyd relaciona
com Hipótese e Teste. Ou seja, a “Decisão é o componente no qual os atores decidem
quanto a ações formuladas na fase de Orientação” (OSINGA, 2005, p. 271). Nesse
sentido, as ações seriam os testes da hipótese adotada. Devem ser rápidas,
ambíguas, ameaçadoras e variadas. Em outras palavras, de acordo com a realidade
da guerra na visão boydiana, caótica, incerta e complexa.
A eficácia do uso do Ciclo OODA não reside tanto na velocidade em que se
aplica o processo, mas sim na sua eficiência. A velocidade é importante e constituise
enquanto elemento de vantagem em uma competição. Contudo, a eficiência na
realização do processo implica que as informações sejam melhor captadas e que o
processo cognitivo se dê em sua plenitude. Dessa forma, um número maior de
características do meio ambiente são observadas e orientadas, de modo a se
concretizarem em ações que levarão à vitória.
A visão mais precisa acerca do uso do Ciclo OODA se assemelha à defendida
por Gray (1999, p. 28), Osinga (2005), Coram (2002, p. 335) e Ford (2010, p. 29): a
chave para o sucesso está em operar dentro do Ciclo OODA inimigo. “Vantagens na
observação e na orientação provêm um ganho de tempo no processo de tomada de
decisão que quebra o ritmo do inimigo e, portanto sua capacidade de reagir em tempo”
(GRAY, 1999, p. 28). A verdadeira intenção de Boyd ao pensar a utilização desse
modelo de tomada de decisão na guerra é, portanto, levar o inimigo ao colapso,
provocando a sua paralisia, através da interferência no Ciclo OODA.
penetrar o ser moral, físico e mental para dissolver sua fibra moral,
desorientar suas imagens mentais, corromper suas operações e
sobrecarregar seu sistema – assim como subverter, quebrar, apreender,
ou subjugar esses bastiões, conexões ou atividades morais, mentais, e
físicas – de modo a destruir a harmonia interna, produzir a paralisia, e
colapsar a vontade do adversário em resistir. (BOYD, 1986, p. 133)
1.2 O pensamento de Richard Szafranski
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Richard Szafranski é um Coronel da Reserva da Força Aérea dos EUA, desde
Strategic Air Command,
1996. Ocupou cargos no no
United States Space Command e
comandou unidades de B52 em nível de esquadrão e ala aérea. Ocupou a cátedra de
Estratégia Militar Nacional na Air University e foi o Diretor de Estudos do Projeto Air
Force 2025, um estudo acerca das capacidades aéreas, espaciais e informacionais,
requeridas pela Força Aérea no século XXI. Na reserva, Szafranski prestou serviço de
consultoria para diversos órgãos governamentais dos EUA e a empresas privadas.
Szafranski é autor de diversos artigos que tratam sobre guerra de informação,
guerra aérea e os rumos da Força Aérea. Sua principal obra, para efeitos deste
trabalho, é um artigo denominado Neocortical Warfare? The Acme of Skill, publicado
originalmente na Military Review, em 1994 (SZAFRANSKI, 1997 [1994]) e trata sobre a
Guerra Neocortical e o uso da imagem como o ápice da habilidade militar.
Szafranski (1997 [1994], p. 403) conceitua a guerra neocortical como:
O termo neocortical tem como base a Teoria do Cérebro Trino, de Paul McLean .
Essa teoria expõe que o cérebro humano e de primatas mais desenvolvidos é dividido
em três partes: o cérebro reptiliano, o sistema límbico e o neocórtex. O primeiro é
responsável por funções básicas como respiração, batimentos cardíacos e o controle
de reflexos simples – em suma, o nosso cérebro primitivo. O segundo, é um resquício
evolutivo dos primeiros mamíferos. A ele competiria funções como alimentação, os
instintos, correr, lutar e a reprodução sexual, emoções e as medidas como
recompensas e punições.
O terceiro, mais evoluído, é o neocórtex, que corresponde a cerca de 80 por
cento do tamanho do cérebro humano. Ele é também chamado de cérebro racional,
pois é responsável pela imaginação, percepção e raciocínio e todas funções
relacionadas a essas ações. O neocórtex possui também uma divisão em dois
hemisférios, o lado esquerdo e o lado direito. O lado esquerdo é o lado cognitivo, ou
seja, o lado analítico, racional, objetivo, com maior facilidade para o registro e a
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A relação entre Szafranski e Boyd é direta: ambos utilizam o conceito de Ciclo
OODA como modelo de tomada de decisão. Por esse motivo, Szafranski possui
limitações semelhantes às de Boyd ao propor uma estratégia. Nosso argumento é que
Szafranski complementa a proposta de Boyd de interferência no Ciclo OODA
adversário, ao propor que isso seja feito através da imagens. Com a guerra neocortical
seria possível afetar o processo de Orientação do Ciclo OODA de um adversário e
influenciar na sua decisão e ação, compelindoo a não lutar ou, então, a agir de modo
que seja danoso a si próprio, de acordo com o desejo de quem aplica a guerra
neocortical.
Ao propor o uso da guerra neocortical como modo de influenciar o Ciclo OODA
adversário, Szafranski aproximase da proposta de Boyd de romper com a moral
adversária, através da influência nos processos cognitivos. O autor expressa isso da
seguinte maneira: “o objetivo [da guerra neocortical] é fazer com que o inimigo escolha
não lutar através do exercício da influência reflexiva, quase controle parassimpático,
sobre os produtos do neocórtex adversário”. (SZAFRANSKI, 1997 [1994], p. 405)
2. A abordagem tecnológica da Revolução nos Assuntos Militares (RMA)
de empoderar as armas convencionais frente as armas nucleares de nível tático
(COHEN, 1996, p. 39). Chapman (2003, p. 2) e também Cohen (1996, p. 39) afirma
que o conceito de RMA foi levado aos EUA por influência de Andrew Marshall, diretor
Office of Net Assesment,
por mais de quarenta anos do um thinktank do Pentágono
que influenciou diversas gerações de civis e militares da área de defesa nos Estados
Unidos.
As experiências de 1991, 2001 e 2003 foram usadas para corroborar com a
visão dos defensores do poder áereo como forma de definição das guerras. Em suma,
com a RMA, temse a concepção de que, devido aos avanços técnicos em termos de
precisão, de furtividade e de comunicação, controle e reconhecimento, o poder aéreo
adquiriu uma centralidade sem precedentes na guerra moderna. Se antes a Força
Aérea tinha uma função limitada de apoio ao solo ou no máximo de interdição, agora o
poder aéreo estava empoderado e era o protagonista do sucesso militar, desde que
agisse de forma independente e sobre os centros de poder do adversário.
mais eficientes, os ataques aéreos gerariam menos atrito, menor custo político e
menores efeitos colaterais em geral.
Dentre os téoricas da RMA, além da vertente que defende o poder aéreo,
Cohen destaca a vertente do “sistema de sistemas”, muito difundida no
establishment
militar dos EUA, por meio do trabalho do Almirante William Owens (1996). Na visão de
Owen, a RMA propiciou mudanças em três setores principais das capacidades
militares dos EUA: a inteligência, comando e controle, e precisão. (OWENS, 1996, p.
1). Cohen define a ideia de “sistema de sistemas” como
“um mundo em que muitos tipos de sensores, de satélites a
radares embarcados, de veicúlos aéreos não tripulados a dispositivos
acústicos implantados remotamente, irão prover informação para
qualquer militar que necessite” (1996, p. 40, tradução nossa)
Por fim, Hammes (2006) define bem o impacto da aceitação da RMA no
Departamento de Defesa dos EUA, sendo incorporado nas doutrinas estratégicas e
operacionais:
3. Interpetações da Guerra de Informação
Desde o surgimento do conceito de guerra de informação, uma das principais
discrepâncias no debate se baseava no meios pelos quais se poderia travar a guerra
de informação, e consequentemente, o termo mais preciso para designar aquele tipo
de guerra. Parte dessa controvérsia, se explica pelo fato de que o conceito em si é
tributário de duas visões principais, que se relacionam, mas que necessitam de
mediações: a abordagem cognitiva e a abordagem tecnológica. A seguir, buscase
apresentar como o conceito de guerra de informação foi sendo interpretado e
influenciado pelas duas abordagens tratadas anteriormente.
O próprio Szafranski utilizou o termo Guerra de Informação em um artigo de
1995, publicado na Air&Space Power Journal. Logo de início ele destaca a
convergência entre a guerra de informação e o Ciclo OODA:
Ao se objetivar afetar esse conjunto de conhecimentos, buscase passar uma
mensagem de que o adversário deve parar de combater e não mais resistir. Isso se
daria por diversos motivos, dentre eles a perda da lei moral, a crença de que a força
de combate foi destruída ou a consciência de que lutar traz menos ganhos e mais
riscos do que não lutar. Em resumo, a principal preocupação é com o processo
cognitivo do adversário, que o motiva a lutar ao invés de desistir.
George Stein (1995), outro autor pioneiro no assunto, reforça a visão de
Szafranski e destaca elementos da essência da guerra de informação. Argumenta que
ela envolve ideias e epistemologia, ou seja, diz respeito a como as pessoas pensam e
decidem, portanto tem como alvo a mente humana de modo geral. Ainda que Stein
utilize um argumento mais abstrato para caracterizar a guerra de informação, o mesmo
destaca o fato de que o fenômeno a que se refere é guerra mesmo, pois tratase da
utilização da informação para criar um desequilíbrio entre nós e o oponente.
Ainda em 1995, mesmo ano de publicação das obras de Szafranski e Stein,
Martin Libicki, da National Defense University publicou a obra
What Is Information
Warfare? (1995). Nesta, o autor afirma que o surgimento do conceito tem suas raízes
no fato inegável de que a informação e as tecnologias da informação são essenciai s
para a segurança nacional. Contudo, seu argumento vai um pouco de encontro ao de
Szafranski, ao afirmar que não existe uma técnica separada de se travar a guerra de
informação – que ele caracteriza como conflitos que envolvem a proteção,
manipulação, degradação e negação de informação. É o início do debate acerca dos
meios de emprego desse tipo de guerra e da introdução do viés tecnológico. Conforme
Libicki, podem ser distinguidos sete formas de guerra de informação:
“(i) guerra de comando e controle: que ataca contra a cabeça e o
pescço inimigo; (ii) guerra baseada em inteligência, que consiste na
elaboração, proteção e negação de sistemas que busquem
conhecimento suficiente para dominar o espaço de batalha; (iii) guerra
eletrônica, composta por técnicas rádioeletrônicas ou criptografadas; (iv)
guerra psicológica, em que a informação é usada para afetar a mente de
aliados, neutros e inimigos; (v) guerra hacker, em que sistemas
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As categorizações feitas por Libicki ainda se mantém atuais e presentes nas
doutrinas das Forças Armadas, que foram surgindo ao longo dos anos 1990. Talvez a
maior omissão do argumento do autor seja a pouca atenção dispendida para a guerra
cibernética. Na época, com o recente surgimento da internet, falar de guerra
cibernética era tratar de questões futuristas e muito propensas a erro. Todavia, a
evolução tecnológica mostrou que as ressalvas de Libicki não foram acertadas, uma
vez que se tornou disseminado o uso de computadores e outros aparelhos em rede e
portanto as ameaças a esses.
Entretanto, ainda na primeira metade dos anos 1990 havia quem utilizavase do
termo guerra cibernética como sinônimo de guerra de informação, demonstrando
como ao elemento tecnológico já se fazia presente na formulação do conceito. É o
caso de "Winn Schwartau, autor do livro Information Warfare: Chaos on the Electronic
Superhighway (1994) que define “guerra de informação como 'um conflito eletrônico
em que a informação é um meio estratégico que vale a pena conquistar ou
destruir'”(SCHWARTAU, 1994, p. 13 apud ALDRICH, 1997, p.3). Arquilla e Ronfeldt
também utilizam o termo e de acordo com Aldrich, (1997, p.2):
Como discutido anteriormente, a RMA teve no público da Força Aérea um
grande defensor dos impactos das mudanças tecnológicas que impactaram no modo
de se travar a guerra. Assim, o debate acerca do conceito de guerra de informação,
logo foi incorporado também nas escolas militares, como esforço de formalizálo como
doutrina. Em um documento de 1995 da Força Aérea dos EUA (USAF, 1995),
intitulado Cornerstones of Information Warfare, a guerra de informação é definida
como “qualquer ação para impedir, explorar, deteriorar ou destruir as informações do
inimigo e as suas funções; protegernos contra ações desse tipo; e explorar as nossas
próprias funções de informação militar” (USAF, 1995, p. 2). O documento enfatiza que
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esse tipo de guerra só depende da natureza da ação, não dos meios pelo qual ela é
travada. Desse modo, um bombardeio convencional a um centro de computação
(comando e controle) do inimigo, poderia ser classificado como guerra de informação
(ALDRICH, 1997, p. 3).
A visão da Força Aérea parece estar em concordância com a de Szafranski,
conforme a seguinte passagem:
“(...) em alguns casos devemos introduzir o choque, a surpresa e
o terror no mundo exterior do adversário, no sentido que Arquilla e
Ronfeldt [1993] chamam de 'o uso exemplar de nossas capacidades
militares', para abastecer pesadelos e a desorientação buscada no
mundo interno do adversário” (SZAFRANSKI, 1997 [1994], p. 408,
destaque nosso).
Além do fato de que o próprio Szafranski pode ter tido influência direta na
formulação da doutrina da Força Aérea, por ser membro dessa Força, outra doutrina, a
de Choque e Pavor, reforça a convergência entre as duas visões. A doutrina de
Choque e Pavor, formulada por Ullman e Wade em 1996 e também conhecida como
Domínio Rápido, é definida como objetivando “afetar a vontade, percepção, e o
entendimento do adversário para lutar ou responder aos fins da nossa política
estratégica através de um regime de Choque e Pavor” (ULLMAN&WADE, 2008, p. 15)
Para isso, devem ser obtidos efeitos físicos e psicológicos, mas o objetivo
continua sendo destruir a vontade inimiga de resistir, em uma mistura do disposto por
Boyd e Szafranski, e a teoria da decapitação de John Warden III (1995). O termo
rápido implica “a habilidade de deter a dimensão do movimento temporal, mais rápido
que um oponente, operando dentro do seu ciclo de decisão, e resolvendo conflitos
favoravelmente em um curto período de tempo” (ULLMAN&WADE, 2008, p. 14).
A doutrina de Choque e Pavor da Força Aérea, bem como o debate acerca das
Operações Baseadas em Efeitos (ASH, 2001; BINGHAM, 2002), revela um lado
frequentemente negligenciado pela academia no debate sobre a guerra de informação:
o papel do uso da força, ou seja, a destruição física, como forma de obter efeitos
cognitivos.
significado. De acordo com o Dicionário de Termos Militares do Pentágono de 2015
(DOD, 2015), Operações de Informação podem ser definidas como:
Considerações Finais
debate de como se proteger desse tipo de ação. Entender a literatura e as doutrinas
que fundamentam essas ações nos parece ser um bom começo.
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