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As Antinomias
Antinomia de princípios
Mas, entre duas normas, se uma obriga e a outra permite fazer, nesse caso
não há antinomia, porque se se obriga é claro que se permite fazer o que se está
obrigando. Nesse caso, e também no caso entre as normas que proíbem e as que
permitem não fazer, falamos de subalternidade. Não são casos de típicas antinomias.
Também se compararmos duas normas, uma permitindo fazer algo e outra
permitindo não fazer este mesmo algo, diremos não haver antinomia, porque,
tomadas apenas as duas, permitir-se-á então fazer ou não fazer. Nesse caso, fala-
mos de subcontrariedade.
Assim se pode expor o tradicional quadro das antinomias, quanto aos funtores
deônticos, chamando o obrigatório por 0, o proibido por P, o permitido positivo
por Pp e o permitido negativo por Pn:
o ( ) p
IXI
Tratando em termos lógicos, há antinomia entre O e P, entre P e Pp, e entre
°e Pn. Entre °
e Pp, entre P e Pn e entre Pp e Pn não há antinomia.
Ias. Algumas dessas ferramentas são tradicionais no uso jurídico. Por isso, só serão
consideradas antinomias, ao final das contas, aquelas normas cujo conflito não
consiga ser resolvido por meio dos critérios já tradicionais e consolidados pelos
juristas e teóricos do direito.
Há três grandes critérios para se resolver uma antinomia: a cronologia, a hie-
rarquia e a especialidade. O primeiro critério resolve uma antinomia tomando por
base uma questão de tempo. O segundo critério tem por diretriz a questão do
nível da norma dentro do escalão hierárquico do ordenamento jurídico. O terceiro
critério resolve o problema entre normas gerais e normas específicas.
O primeiro critério é bastante claro ao jurista: caso haja duas normas tratando
da mesma questão, mas uma seja mais nova que outra, entre as duas há de se
preferir a mais nova. Entre o velho Código Civil e o Novo Código Civil, a norma
válida é o novo código.
O segundo critério também é cristalino: entre duas normas antinômicas, se
uma for de um escalão hierárquico superior à outra, prefere-se a norma superior.
Assim sendo, caso haja antinomia entre uma norma da Constituição Federal e outra
do Código Civil, pelo critério da hierarquia há de se escolher a norma superior, a
constitucional.
O terceiro critério, embora mais difícil, será também de claro entendimento.
Se uma norma trata sobre assunto geral, e outra trata de maneira distinta de um
caso específico dentro desse assunto geral, a específica revoga a geral, mas apenas
para o caso específico. Se há uma norma geral proibindo o uso de armas, e uma
norma específica facultando o uso de armas aos militares, então diríamos que a
norma especial (ou específica) revoga a geral, mas não totalmente, e sim apenas
para os militares. No geral, os demais continuam proibidos de portar armas.
Há velhos brocardos latinos que resumem essas três ferramentas de resolução
de antinomias: lex posterior derogat priori (a lei posterior derroga a anterior); lex
superior derogat inferiori (a lei superior derroga a inferior); lex specialis derogat
generali (a lei especial derroga a geral).
Esses casos podem acontecer quando há mais de uma ferramenta possível para
a resolução de antinomias. Trata-se de um conflito de critérios. Também nesse caso
o pensamento jurídico e a prática dos juristas estabilizaram uma série de escolhas.
Se para se resolver uma antinomia puder se usar ao mesmo tempo o critério
da cronologia e o da hierarquia, há de se preferir então o critério da hierarquia.
Isto é, se uma norma for mais nova, mas de escalão hierárquico inferior, há de se
ficar com a outra, mais velha, mas superior hierarquicamente.
Assim sendo, entre a cronologia e a hierarquia, o critério mais forte para
resolver a antinomia será a hierarquia.
De outra forma; se puder se usar ao mesmo tempo o critério da cronologia
e da especialidade, há de se escolher o da especialidade. Uma norma específica,
ainda que mais velha, é preferível à geral mais nova no ponto de sua especificidade.
Neste caso, entre a cronologia e a especialidade, o critério mais forte para
resolver a antinomia será a especialidade.
A dificuldade reside em se determinar, entre uma norma hierarquicamente
superior geral e uma inferior hierarquicamente mas específica, qual das duas pre-
valecerá. Isso porque no critério entre a hierarquia e a especialidade, não é ponto
pacífico do pensamento jurídico que uma tenha que valer sempre mais que a
outra. Nesse caso, não há um critério técnico estabilizado, dependendo, pois, da
circunstância da questão em tela.
Assim sendo, nos casos em que há abundância de critérios para a resolução
das antinomias, quase sempre os juristas já consolidaram a escolha de certos cri-
térios em relação a outros.
Outro problema que pode surgir na resolução das antinomias é, diferente-
mente do caso acima (em que abundam critérios), o caso em que falte totalmente
meios de resolução. Tratar-se-ia de um caso de insuficiência de critérios. Isso so-
mente aconteceria quando as normas antinômicas fossem ambas do mesmo nível,
da mesma cronologia e da mesma especialidade. Por exemplo, se o legislador, na
mesma lei promulgada no mesmo dia, estipulasse, em dois artigos distintos, uma
permissão e uma proibição para o mesmo assunto, não haveria critério suficiente
para que o jurista, por si só, resolva a antinomia.
Nesse caso de insuficiência de critérios, em geral o legislador há de editar nova
lei, refazendo sua determinação legal, ou então, em caso de omissão do legislador,
há uma técnica, de caráter mais vago, porque mais dependente da aceitação de
todos, que é o uso de uma ferramenta que se chama lexfavorabilis (lei favorável).
No caso de antinomia entre duas normas, não havendo possibilidade de
resolução por meio dos critérios de cronologia, hierarquia ou especialidade, se
uma norma obriga ou proíbe e a outra norma permite, em geral é menos custosa
142 Introdução ao Estudo do Direito • Mascaro
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