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Ministério de
Minas e Energia
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO ...................................................................................................................... 4
CAPÍTULO 1 ............................................................................................................................. 11
CAPÍTULO 2 ............................................................................................................................. 15
2.1. INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 15
2.2. DIRETORIA DE ESTUDOS ECONÔMICO-ENERGÉTICOS E AMBIENTAIS
(DEA) ...................................................................................................................................... 20
2.3. DIRETORIA DE ESTUDOS DE ENERGIA ELÉTRICA (DEE) .............................. 21
2.4. DIRETORIA DE ESTUDOS DO PETRÓLEO, GÁS E BIOCOMBUSTÍVEIS
(DPG) ..................................................................................................................................... 24
2.5. DIRETORIA DE GESTÃO CORPORATIVA (DGC) ................................................ 28
CAPÍTULO 3 ............................................................................................................................. 31
3.1. PRINCIPAIS PRODUTOS........................................................................................... 32
3.1.1. Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE) ............................................... 32
3.1.2. Plano Nacional de Energia (PNE)....................................................................... 34
3.1.3. Plano Decenal de Expansão da Malha de Transporte Dutoviário (PEMAT) 38
3.1.4. Balanço Energético Nacional (BEN)................................................................... 42
3.1.5. Programa de Expansão da Transmissão (PET) ............................................... 43
3.1.6. Anuário Estatístico de Energia Elétrica .............................................................. 44
3.1.7. Boletim Trimestral de Energia Eólica ................................................................. 45
3.1.8. Resenha Mensal do Mercado de Energia Elétrica ........................................... 46
3.1.9. Zoneamento Nacional de Recursos de Óleo e Gás ........................................ 46
3.1.10. Análise de Conjuntura dos Biocombustíveis................................................... 50
3.2. CONTRIBUIÇÕES PARA A TOMADA DE DECISÃO ............................................ 51

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3.2.1. Estudos de Inventário de Bacias Hidrográficas e Avaliação Ambiental
Integrada ............................................................................................................................ 51
3.2.2. Estudos de Viabilidade Técnica e Econômica de Empreendimentos ........... 54
3.2.3. Estudos de Troncos de Transmissão ................................................................. 58
3.2.4. Estudos Para Fontes Renováveis....................................................................... 64
3.2.5. Avaliação Ambiental de Áreas Sedimentares ................................................... 74
3.2.6. Estudos Estratégicos ............................................................................................ 77
3.3. LEILÕES ........................................................................................................................ 84
3.3.1. Leilões de Contratação da Expansão da Geração .......................................... 84
3.3.2. Leilões de Contratação da Expansão da Transmissão ................................... 89
3.4. ESTUDOS EM CONJUNTO COM OUTROS AGENTES....................................... 93
3.4.1. Comissão Permanente de Análise e Acompanhamento do Mercado de
Energia Elétrica (Copam) ................................................................................................ 93
3.4.2. Revisões Quadrimestrais da Demanda de Energia Elétrica .......................... 94
3.4.3. Pesquisa da Frota de Veículos Leves (PEFROTA) ......................................... 95
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................ 98

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APRESENTAÇÃO

MAURICIO TOLMASQUIM

A Empresa de Pesquisa Energética – EPE foi criada em 2004, no bojo


do Novo Modelo do Setor Elétrico, concebido sob a gestão da então Ministra de
Minas de Energia, Dilma Rousseff, depois eleita Presidenta da República. O
objetivo da nova regulamentação foi resgatar a responsabilidade do Estado de
assegurar as condições de infraestrutura do país na área energética.
O Novo Modelo foi concebido como uma importante reestruturação do
planejamento da expansão, com uma abordagem ampla e integrada, de modo
a conciliar estrategicamente pesquisa, exploração, uso e desenvolvimento dos
insumos e recursos energéticos, dentro de uma política nacional ajustada às
diretrizes do governo e às necessidades da sociedade.
Foi nesse contexto que a criação da EPE ganhou destaque. A
integração de fontes e recursos é a melhor maneira de tratar a questão
energética, e, assim, pela primeira vez na história do Brasil, o planejamento
energético ganhou a oportunidade de ser pensado como um todo. Passou-se a
tratar em conjunto as diferentes fontes de energia: petróleo, gás natural,
biocombustíveis, energia elétrica dentre outros.
Partimos do zero, literalmente. Em agosto de 2004, não havia sequer um
colaborador vinculado à EPE. Tampouco havia um lugar que poderíamos
reconhecer como escritório da empresa. Foi em uma acanhada sala cedida
pela Eletrobras, na Avenida Marechal Floriano, no Centro do Rio de Janeiro,
onde começaram as primeiras ações da EPE, movidas muito mais pelo
entusiasmo do grande desafio e a vontade de acertar de um pequeno grupo de
pessoas do que por qualquer outro fator.
Assim, é com grande júbilo que registramos, neste livro, mais de uma
década da criação da EPE. Não é pouca coisa, sobretudo, se tivermos em

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conta o que esta nossa instituição realizou nesse período de existência
relativamente curto, e que toda a contribuição da EPE para o setor energético
se deu concomitantemente ao erguimento e à estruturação da empresa. Uma
tarefa comparável ao esforço de trocar o pneu do carro, com o veículo em
movimento.

Ao longo da sua existência, a EPE vem consolidando gradativamente o


seu quadro de empregados. No final de 2004, ano de criação da Empresa, o
quadro era composto por 60 empregados. Hoje somos 300.
A concepção da EPE partiu de um ideal: O de que é fundamental dotar
o Estado Brasileiro de instituições baseadas no conhecimento e na excelência
técnica, com ferramentas e base de dados adequados à formulação e
instalação de políticas públicas, e ao apoio para a tomada de decisões.
Hoje, a EPE é uma realidade. Ganhou o respeito das autoridades e do
mercado, estando, de fato, presente nos principais acontecimentos da área de
energia nos últimos dez anos.
Agradecemos a todos os dirigentes e ex-dirigentes, funcionários e ex-
funcionários que atualmente se dedicam ou já se dedicaram diariamente a
garantir a excelência desta instituição. Afinal, podemos afirmar, sem titubear,
que o maior patrimônio da EPE é seu quadro funcional, de altíssimo nível
técnico e que se dedica com afinco e com paixão ao trabalho que
desenvolvem.
Nos anos 1990, prevaleceu o entendimento de que as forças de
mercado, legitimamente preocupadas com os resultados de seus
investimentos, seriam suficientes para estabelecer políticas e diretrizes de
longo prazo na área de energia. Com isso, as estruturas que se ocupavam do
planejamento setorial foram progressivamente preteridas e desorganizadas.
O diagnóstico que se fez do racionamento de energia elétrica de 2001,
ainda antes do primeiro Governo Lula, reconheceu explicitamente que o país
não poderia prescindir dessas estruturas. Um dos resultados esperados com o
rearranjo institucional do setor elétrico seria justamente recuperar o ciclo de
planejamento energético, que fora descontinuado.

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Foi um marco, portanto, a edição, pela EPE, de seu primeiro Plano
Decenal de Expansão de Energia Elétrica (PDE), ainda em 2006. E, já no ano
seguinte, houve a ampliação da abrangência do PDE, passando a incorporar
diagnósticos e análises referentes aos setores de petróleo, gás e
biocombustíveis.
Outro marco foi a consolidação dos trabalhos referentes à matriz
energética nacional e a publicação do primeiro plano de longo prazo, o Plano
Nacional de Energia 2030 (PNE 2030).
Rapidamente esses instrumentos assumiram o papel de referência no
setor energético, orientando ações do governo e dos agentes setoriais. Sem
dúvida, são hoje de reconhecida aceitação pelos diferentes agentes do setor
energético como um todo.
A realização de leilões para expansão da oferta de energia elétrica foi
outro mecanismo introduzido na reforma do setor elétrico e consolidado com a
efetiva participação da EPE e de seus parceiros. Hoje, o mesmo sistema está
sendo implantado em países como Alemanha e Inglaterra. Esses leilões
constituem pilares do arranjo institucional introduzido em 2004. Desde o
primeiro leilão, tem sido fundamental a participação da EPE, seja contribuindo
para o aperfeiçoamento das regras e dos parâmetros básicos definidos nas
portarias de diretrizes do MME, seja conduzindo todo o processo de habilitação
técnica dos empreendimentos de geração participantes.
O sucesso do nosso primeiro leilão foi um dos momentos mais
importantes, porque foi a consolidação do Novo Modelo do Setor Elétrico
Brasileiro.
Contudo, no setor elétrico, a EPE tem ainda um papel executivo. São na
EPE que se realizam os estudos de todas as linhas de transmissão que são
licitadas. Somos responsáveis em habilitar tecnicamente as usinas que vão
participar do leilão de expansão da oferta de energia elétrica. Às vezes são
quatro e até cinco leilões em um mesmo ano.
Além disso, somos responsáveis pelo cálculo das garantias físicas das
usinas e participamos ativamente do esforço de revisão destas garantias.
Outro exemplo deste lado mais executivo é o empenho em realizar
inventários hidrelétricos de bacias hidrográficas, avaliações ambientais

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integrada de bacias, estudos de viabilidade técnica e econômica e de impacto
ambiental de usinas hidrelétricas. Isso inclui ainda toda uma interação com o
Tribunal de Contas da União (TCU) na viabilização da licitação de usinas.
Na área de transmissão, em particular, a EPE teve papel decisivo em
decisões capitais, como a integração das usinas do Rio Madeira (Santo Antonio
e Jirau) e de Belo Monte, sendo que esta última colocou o Brasil na vanguarda
da transmissão em corrente contínua. No Madeira, foi travada grande
discussão técnica – a boa discussão técnica, frise-se – sobre a posição
defendida pela EPE, de escoar a energia através de sistema de corrente
contínua, que se revelou, no leilão realizado, a alternativa mais competitiva e
de maior aceitação pelo mercado.
Entre as contribuições relevantes da EPE e que estabelecem uma
consequente ligação entre os estudos do ciclo de planejamento e as atividades
do leilão, a ligação entre a ideia/concepção e sua implantação, estão as
inovações que permitiram o importante avanço das fontes renováveis.
Foram especialmente relevantes as contribuições da EPE para
incrementar, num primeiro momento, em 2005, a contratação de energia a
partir da biomassa da cana-de-açúcar e, a partir de 2009, da energia eólica,
cujo sucesso se expressa nos números espetaculares da expansão dessa
fonte na matriz de oferta de energia elétrica. E, agora, estamos na iminência de
viver um novo ciclo exitoso com a energia solar.
Apesar de, aparentemente, ter maior foco no setor elétrico, a EPE
participa com seus estudos em todas as importantes etapas do setor de
petróleo, gás natural e biocombustíveis. Ainda se trata de um trabalho com um
caráter mais analítico do que determinativo, mas a análise que emerge dos
estudos da EPE funcionará, mais e mais, como sinalização para esse
segmento energético.
Ainda nesta área, cumpre destacar outra participação relevante da EPE:
A assessoria e o apoio que demos aos trabalhos que culminaram na “Lei do
Gás” e na formulação do marco regulatório do pré-sal, que instituiu o sistema
de partilha de produção no país. Neste último tema, realizamos diversos
trabalhos técnicos, concluímos várias notas técnicas, que abarcaram aspectos

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conceituais, legais, econômicos e técnicos. Uma parte deste trabalho está
documentada em livro sobre a indústria do petróleo.
A EPE tem tido um ativo e sistemático trabalho na área ambiental.
Nossas equipes vão a campo para conhecer e estudar projetos que
participarão em futuros leilões. Foi assim com as hidrelétricas de Sinop, de
Teles Pires, de São Manoel e de Colider. Não se trata de atividades simples. A
complexidade se expõe em intensas articulações com representantes da
população, com órgãos governamentais municipais, estaduais e federais, e
pelas atividades econômicas da área em que esses projetos se situam.
Apenas para ter uma ideia das dificuldades, lembrem-se de que, há
alguns anos, em meio às investigações para os estudos da hidrelétrica de São
Manoel, uma equipe da EPE chegou a ficar refém em uma aldeia indígena. No
mesmo diapasão, foram muito tensas as audiências públicas realizadas no
processo de licenciamento dessa usina.
Como se vê, a EPE funciona ora como assessoria para a tomada de
decisões, ora como órgão executivo. Tudo isso fez com que a EPE ganhasse
respeitabilidade entre as instituições do governo e entre os agentes de
mercado. É uma instituição eminentemente técnica, que cumpre um papel
institucional do Estado.
A vinculação direta da EPE é com o Ministério de Minas e Energia, e
nessa condição temos participado das principais ações em que o ministério
esteve envolvido.
Um exemplo foi a contribuição da EPE para as medidas de redução
tarifária e renovação das concessões hidrelétricas e de transmissão, que
culminaram com a edição da Medida Provisória n° 579, convertida na Lei nº
12.783, de janeiro de 2013. Outro foi a definição das metas da área de energia
para a redução das emissões de gases de efeito estufa, assumidas
internacionalmente pelo país, em que a referência é o PDE editado
regularmente pela EPE.
A respeitabilidade conquistada e a vocação de funcionar como um “think
tank” (empresas que produzem e difundem conhecimento sobre assuntos
estratégicos) explicam o envolvimento da instituição em outras áreas. Assim,
temos sido frequentemente acionados para detalhar o setor energético para

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terceiros, como empresas de rating, missões do FMI e de outras instituições
multilaterais, analistas financeiros etc.
Em parceria com fabricantes e investidores do setor eólico, que
posteriormente formariam a Associação Brasileira de Energia Eólica
(ABEEólica), introduzimos o conceito de bandas na contratação das geração
eólica. Contribuímos, ainda, para a concepção da introdução do aquecimento
solar em unidades do Programa Minha Casa Minha Vida. Também fomos
chamados a oferecer a experiência acumulada na constituição da empresa
quando da implantação da Empresa de Planejamento e Logística – EPL e da
empresa Pré-Sal Petróleo S.A - PPSA. Mais recentemente, contribuímos para a
definição de plataformas de pesquisa e inovação para o setor de energia,
formuladas pelo Ministério da Ciência e Tecnologia e Inovação. E, mesmo
agora, estamos desenvolvendo novas propostas, como o levantamento do
potencial de usinas hidrelétricas reversíveis, como parte da solução de
gerenciamento da produção de energia elétrica em face da maior penetração
de uma geração não controlada, como a eólica e a solar.
Na área de dados, a EPE também é referência, inclusive internacional. A
cooperação com a Agência Internacional de Energia (AIE) e com instituições de
países como Reino Unido e Alemanha são evidência disso. Em particular com
a Alemanha, desenvolvemos uma parceria mantida até hoje com a Agência
Alemã de Cooperação Internacional (GIZ).
Da mesma forma, tornaram-se referências para o mercado brasileiro a
Resenha Mensal do Mercado de Energia Elétrica, o Boletim de Análise da
Conjuntura de Biocombustíveis, o Balanço Energético Nacional editado
anualmente, o Anuário de Energia Elétrica e o banco de dados de energia
eólica todos elaborados periodicamente pela EPE.
É necessário reconhecer que nada disso fazemos sozinho. Não fazemos
os estudos de planejamento a portas fechadas. Ao contrário, já é da tradição
da EPE buscar a cooperação com todos os agentes do mercado de energia,
concessionários, consumidores agentes setoriais como o Operador Nacional do
Sistema (ONS), a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE ) e o
Centro de Pesquisa de Energia Elétrica (Cepel) - até porque pratica essa forma

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de trabalho desde o início de seu funcionamento -, e o intercâmbio de técnicas,
conhecimento e informações.
São exemplos emblemáticos as reuniões periódicas dos grupos de
trabalho que se ocupam dos estudos de transmissão para atendimento aos
diversos centros de consumo, do qual participam as distribuidoras e
transmissoras e por vezes o Centro de Pesquisas de Energia Elétrica (Cepel) e
as empresas geradoras. Tudo, claro, com interações permanentes com a
Secretaria de Planejamento do MME; com o Comitê Permanente de Análise do
Mercado de Energia Elétrica (Copam), com participação das distribuidoras;
com grandes consumidores de energia, através de associadas da Associação
Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores
Livres (Abrace), da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim),
Associação Brasileira do Alumínio (Abal), entre outras; com o grupo de trabalho
para análise e acompanhamento do mercado de gás natural, que conta com
representante das distribuidoras de gás e da Associação Brasileira das
Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado (Abegas); entre outras iniciativas.
Além da cooperação e do intercâmbio dentro do setor energético não
posso deixar de citar, por sua relevância, a relação próxima que a EPE mantém
com o Cepel e as universidades. Utilizamos o conhecimento especializado.
Procuramos aperfeiçoar modelos matemáticos. Colocamo-nos na interseção
entre a academia, as organizações empresariais e o governo. Pessoalmente, a
mim me toca muito este papel que temos desempenhado. Desde meus tempos
de academia sempre defendi esse tipo de integração e, portanto, é com alegria
que tenho tido o privilégio de contribuir para o sucesso dessa parceria.

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CAPÍTULO 1
EVOLUÇÃO DO PLANEJAMENTO ENERGÉTICO
NO BRASIL

O desenvolvimento e a implantação de sistemas de produção, transporte


e distribuição de energia elétrica e de combustíveis requerem um planejamento
cuidadoso, que leve em conta os recursos e as demandas presentes e futuras.
A principal característica do planejamento de sistemas de energia é a
incerteza que incide sobre várias dimensões: disponibilidade do recurso
energético, custo de instalação, custo de produção, demanda futura, etc. Outra
característica marcante do planejamento energético é a profundidade do
horizonte, devido ao prazo para o desenvolvimento dos recursos energéticos.
A evolução do planejamento acompanhou pari passu o desenvolvimento
do setor de energia elétrica brasileiro. Podemos segmentá-la em quatro etapas:

Etapa Inicial (até os anos 1960):


As redes regionais eram fracamente interligadas e o planejamento
consistia no levantamento do potencial hidrelétrico e nos estudos de
dimensionamento e operação das usinas hidrelétricas.

Planejamento Centralizado Determinativo (1960 a 1999):


Pouco antes da criação da Eletrobras, em 1962, a Cemig tomou a
iniciativa de elaborar um levantamento completo dos recursos energéticos de
Minas Gerais, que posteriormente foi estendido a toda a Região Centro-Sul do
país, já então sob a supervisão de comitês coordenadores (GCOI e GCPS1),
presididos pela Eletrobras, que foram assessorados por especialistas
canadenses e americanos do consórcio Canambra Engineering Consultants
Limited. A experiência adquirida nesse trabalho é vista como a escola de
formação do planejamento energético brasileiro.

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GCOI: Grupo Coordenador da Operação Interligada – planejamento da operação; e
GCPS: Grupo Coordenador do Planejamento do Sistema – planejamento da expansão.

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O mercado de energia era monopolizado pela Eletrobras e o plano de
expansão era determinativo - ou seja, o que era planejado seria implantado,
mesmo que com defasagens e modificações necessárias para adequação às
disponibilidades financeiras e às demandas sociais.
As características peculiares do sistema elétrico brasileiro, tais como a
participação predominante da geração hidrelétrica; a diversidade dos regimes
hidrológicos das diversas bacias; as usinas com reservatórios com capacidade
plurianual de armazenamento de água; e a dimensão continental do país levou
à necessidade do desenvolvimento de sofisticadas metodologias pioneiras para
o planejamento, tanto na área energética, como na área elétrica, o que ensejou
a formação de uma grande capacitação técnica.

Transição do Modelo de Mercado (1999 a 2002):


A quebra do monopólio estatal da geração de energia elétrica levou à
necessidade de uma reestruturação completa do planejamento, pois a
Eletrobras, como um agente de mercado não poderia mais coordenar o
planejamento, seja o da operação, que passa então a ser feito pelo ONS, seja
o da expansão, que passa a ser feito pelo Comitê Coordenador do
Planejamento da Expansão dos Sistemas Elétricos (CCPE). Essa mudança
não foi uma mera redistribuição das atribuições, pois como mencionado
anteriormente, o planejamento era realizado de forma colegiada com a
participação das várias empresas do setor, sob a coordenação da Eletrobras e
passa então a ser feito por entidades especializadas.
Além dessa alteração organizacional, ocorre uma mudança importante
na característica do planejamento da expansão da geração, que passa a ser
indicativo, perdendo o seu caráter determinativo. Dessa forma, os novos
empreendimentos de geração passariam a ser definidos pelos agentes de
mercado, que explorariam as oportunidades criadas pelo crescimento do
consumo.
Essa visão, inspirada na experiência internacional de liberalização dos
mercados de energia elétrica, não funcionou no mercado brasileiro, pois o
sistema requeria obras de infraestrutura de grande porte, com longo prazo para
amortização de investimentos, e cuja energia seria adquirida por múltiplos

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compradores. Sobreposta a essa questão os empreendedores estatais
(Eletrobras e companhias estaduais) estavam impedidos de investir devido às
fragilidades financeiras do setor público e havia grande dificuldade de encontrar
empreendedores privados, com interesse em operar em um mercado cujas
regras ainda não estavam claras.
Assim, a falta de expansão da capacidade de geração e transmissão de
energia elétrica levou ao colapso do sistema que já vinha degradado pela falta
de investimentos significativos desde meados dos anos 1980.

EPE (desde 2004):


O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva reviu o setor elétrico
brasileiro, estabelecendo um novo marco regulatório para o mercado de
energia elétrica (Lei 10.848) e criando a EPE (Lei 10.847), em 2003 e 2004.
O novo marco regulatório tem como um dos seus fundamentos, a
manutenção da segurança energética, que se traduz pela manutenção do
equilíbrio do mercado, obtida pela expansão da geração e da transmissão para
acompanhar o crescimento da demanda.
O grande desafio passou a ser atender a este princípio dentro de uma
lógica de mercado competitivo, onde o planejamento da expansão da geração
continuaria a ser indicativo. A solução inovadora estabelecida no novo marco
regulatório foi a contratação antecipada da expansão da geração de forma
regulada, através de leilões públicos para atender aos consumidores cativos,
que correspondem a cerca de 80% do consumo total, e um planejamento que
acompanhasse a contratação realizada e a respectiva tendência de evolução
tecnológica e econômica.
Além da inovação de ser um plano que se adapta anualmente às
tendências do mercado, o novo Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE)
difere dos antigos planos decenais de expansão feitos pela Eletrobras, por ser
um plano de expansão que inclui a parte de combustíveis e não apenas de
energia elétrica, bem como a avaliação de impactos ambientais, e faz isso de
forma integrada, ou seja, as demandas de combustíveis do setor elétrico são
agregadas à demanda de combustíveis pela indústria e pelos consumidores
finais. Este aspecto é crescentemente importante, na medida em que cresce a

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participação e a importância da geração termelétrica na matriz energética
brasileira. Em um futuro próximo, também se espera que o crescimento do
transporte eletrificado diminua a taxa de crescimento dos combustíveis
convencionais, em mais uma face da integração energética refletida na filosofia
do PDE.

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CAPÍTULO 2
A EPE – EMPRESA DE PESQUISA ENERGÉTICA

2.1. INTRODUÇÃO

Elaborar o planejamento energético de qualquer país do mundo não é


tarefa fácil. Se tratando de um país como o Brasil, com suas dimensões
continentais – mais de 8,5 milhões de quilômetros quadrados, quase o mesmo
tamanho do continente europeu –, clima e topografia diversificados e uma
população de mais de 200 milhões de habitantes, esse trabalho adquire
características ainda mais complexas e peculiares.
O desafio não é pequeno. Afinal, o mapa energético brasileiro apresenta
uma configuração única. Os melhores aproveitamentos hidráulicos do país
ainda não aproveitados estão concentrados na região Norte – a de maior
extensão geográfica e a de menor população do Brasil, mas que abriga a
Floresta Amazônica, a maior floresta tropical do planeta, o que amplia a
importância da questão ambiental no uso desses recursos. Nossas maiores
reservas de petróleo e gás natural já descobertas e conhecidas estão
localizadas, sobretudo no litoral dos estados do Espírito Santo, Rio de Janeiro
e São Paulo, enquanto, nos últimos anos, o consumo de derivados vem
crescendo substancialmente nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. A
produção de etanol, que gera um importante subproduto para a produção de
energia elétrica, o bagaço de cana de açúcar, vai rumando para o Centro-
Oeste, enquanto o maior consumo, tanto desse biocombustível quanto de
eletricidade está na região Sudeste. E mesmo o vento e o sol, que hoje são
fontes de geração elétrica que crescem exponencialmente no mundo, não
incidem da mesma forma e com mesma intensidade em todo o país,

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dependendo de uma combinação com outras fontes para seu melhor
aproveitamento.
É justamente com a função maior de combinar todos esses vetores que
surge a Empresa de Pesquisa Energética – EPE. Afinal, tamanha riqueza
precisa de uma administração para garantir ao Brasil a energia necessária ao
crescimento do país, assim como para ter certeza de que esta energia chegue
ao consumidor a um custo módico, tanto nas maiores metrópoles brasileiras
como nos povoados isolados, onde o acesso é difícil e limitado.
Assim, a EPE é idealizada para ser o maestro dessa orquestra chamada
matriz energética brasileira. Cabe a ela combinar os interesses de todos os
agentes envolvidos na elaboração dessa matriz – governo, entes públicos e
privados, empreendedores nacionais e internacionais –, de modo a tirar o
melhor proveito dos recursos energéticos nacionais, atraindo investidores e,
dessa forma, levando aos brasileiros a energia necessária para o seu bem
estar e o crescimento do país.
Por meio da EPE, não só é retomado o planejamento energético do país,
como também são promovidas diversas inovações. O planejamento deixa de
olhar apenas o setor elétrico e passa a tratar o setor energético de forma
interdisciplinar, com integração das diversas fontes e demandas de energia.
Assim, os Planos Decenais de Energia passaram a incluir, além da energia
elétrica, o petróleo, o gás natural e os biocombustíveis. É retomado também o
planejamento de mais longo prazo, com uma visão estratégica para o setor
energético como um todo.
A EPE passa a atuar em três grandes frentes: geração de ideias,
realização de estudos e execução de ações.
No primeiro caso, a EPE atua como uma think tank (formuladora de
ideias) do setor energético, constituindo-se em um respeitado centro de
reflexão sobre os rumos do setor.
De fato, a EPE, tem participado ativamente de todas as grandes
discussões que dizem respeito ao setor energético brasileiro: formulação do
marco regulatório da exploração do petróleo na camada pré-sal; Lei do Gás;
retomada da construção da usina de Angra III e do futuro da energia nuclear;
licenciamento ambiental de hidrelétricas; inclusão das fontes renováveis

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alternativas (eólica, solar e biomassa) na matriz elétrica; formulação de critérios
de segurança energética; estabelecimento de metas do setor energético para
redução de emissões de gases de efeito estufa; entre outras.
Na segunda frente, a EPE publica periodicamente diversos estudos,
entre os quais se destacam: o Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE);
o Plano Nacional de Energia (PNE); o Zoneamento Nacional dos Recursos de
Óleo e Gás; a Projeção Decenal da Demanda de Energia Elétrica (PDEE); o
Plano de Expansão da Transmissão (PET); o Plano Decenal de Expansão da
Malha de Transporte Dutoviário (PEMAT); estudos de suporte aos Leilões de
Contratação de Geração e de Transmissão; a Resenha Mensal de Energia
Elétrica; o Anuário Estatístico de Energia Elétrica; o Balanço Energético
Nacional (BEN); a Análise de Conjuntura dos Biocombustíveis, Estudos de
Inventário de Bacias Hidrográficas e de Viabilidade de Hidrelétricas; etc..
Em relação à execução de ações, a EPE passou a ter papel central nos
leilões de contratação de geração, participando tanto na fase de concepção
metodológica como na fase de implementação, ao elaborar os estudos de
preço-teto e ser responsável pelas habilitações técnicas das usinas aptas a
participar da disputa. Além dos leilões de energia nova, a EPE também é
responsável pelos estudos do Plano Decenal de Expansão da Malha de
Transporte Dutoviário (Pemat), que levarão à chamada pública de
carregadores de gás natural e ao processo de licitação para a construção ou
ampliação de gasodutos de transporte, a ser executado pela Agência Nacional
do Petróleo (ANP).
Para a realização destas atividades, a EPE conta com três áreas
técnicas (Diretoria de Estudos de Energia Elétrica; Diretoria de Estudos do
Petróleo, Gás e Biocombustíveis; e Diretoria de Estudos Econômico-
Energéticos e Ambientais, apresentadas adiante), que trabalham de forma
integrada.
A criação da Empresa de Pesquisa Energética foi autorizada pela Lei nº
10.847, de 15 de março de 2004, e o Decreto nº 5.184, de 16 de agosto do
mesmo ano definiu suas competências, sua estrutura, e aprovou seu estatuto. .
Quatro anos depois, em 10 de dezembro de 2008, o Decreto nº 6.685 alterou a

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composição do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), dando à
EPE um lugar na composição do Conselho.
Embora não conste da lei e do decreto que criaram a empresa, também
é atribuição da EPE o cadastramento e a análise técnica de projetos de
geração propostos por agentes do setor elétrico para participação nos leilões
de contratação de energia elétrica para o ambiente regulado (que reúne as
distribuidoras de eletricidade do país). Essa responsabilidade foi dada pelo
Decreto nº. 5.163 do Ministério de Minas e Energia, de 30 de julho de 2004,
que regulamenta a comercialização de energia elétrica, o processo de outorga
de concessões e de autorizações de geração de energia elétrica.
A gestão estratégica da EPE está a cargo de um Conselho de
Administração, que tem funções deliberativas, e a gestão executiva a cargo da
Diretoria. A empresa conta ainda conta com um Conselho Fiscal e um
Conselho Consultivo.

CONSELHO DE ADMINSTRAÇÃO

CONSELHO FISCAL

DIRETORIA EXECUTIVA

PRESIDENTE

AUDITORIA INTERNA

CHEFE ESCRITÓRIO
CHEFE DE GABINETE
BRASILIA

COMUNICAÇÃO SOCIAL CONSULTORIA JURÍDICA

SECRETARIA GERAL ASSESSORES PRESIDÊNCIA

DIRETORIA DE ESTUDOS DIRETORIA DE ESTUDOS DO


DIRETORIA DE ESTUDOS DE DIRETORIA DE GESTÃO
ECONÔMICO-ENERGÉTICOS E PETRÓLEO, GÁS E
ENERGIA ELÉTRICA CORPORATIVA
AMBIENTAIS BIOCOMBUSTÍVEIS

Estrutura organizacional da EPE até o nível de Diretoria.

A presidência do Conselho de Administração da EPE é ocupada por um


dos três representantes indicados pelo Ministério de Minas e Energia (MME). O

18
Conselho é ainda integrado pelo presidente da EPE; um conselheiro indicado
pelo Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão; um conselheiro indicado
pelo Ministério da Fazenda; e um conselheiro indicado pela Casa Civil da
Presidência da República. (o Conselho não tem regulamento. Suas atribuições
estão previstas na Lei das S/A – Lei n° 6.404 - e no estatuto da EPE).
A Diretoria Executiva da EPE é composta pela presidência e quatro
diretorias: Estudos Econômico-Energéticos e Ambientais; Estudos de Energia
Elétrica; Estudos do Petróleo, Gás e Biocombustíveis; e Gestão Corporativa.
O Conselho Fiscal é formado por três integrantes e respectivos
suplentes, enquanto o Conselho Consultivo é integrado por representantes do
Fórum de Secretários de Estado para Assuntos de Energia, um para cada
região do país; de geradores hidrelétricos e termelétricos, transmissores e
distribuidores de energia elétrica; de distribuidores de combustíveis e de gás
natural; de produtores de petróleo e de carvão mineral nacional; do setor
sucroalcooleiro; de empreendedores de fontes alternativas de energia; dos
consumidores de energia; e da comunidade científica especializada na área
energética.
Cada Diretoria se subdivide em Superintendências. O trabalho das
Diretorias e das Superintendências a elas relacionadas é o motor das
atividades da EPE.

Estrutura organizacional da EPE até o nível de Superintendência.

É a partir das informações colhidas e dos levantamentos feitos pelas


diversas áreas que integram a empresa que a EPE fornece serviços e produtos
para o mercado energético brasileiro. São estes trabalhos que subsidiam o

19
planejamento governamental e também os planos de empresas que atuam no
setor energético brasileiro.

Dirigentes da EPE desde a sua criação:

NOME INÍCIO TÉRMINO FUNÇÃO

MAURICIO TIOMNO TOLMASQUIM 29/04/2005 PRESIDENTE

DIRETOR DE ESTUDOS ECONÔMICOS , ENERGÉTICOS


09/11/2004 23/07/2015
AMILCAR GONCALVES GUERREIRO E AMBIENTAIS

AMILCAR GONCALVES GUERREIRO 24/07/2015 DIRETOR DE ESTUDOS DE ENERGIA ELÉTRICA

JOSE CARLOS DE MIRANDA FARIAS 02/02/2005 19/06/2015 DIRETOR DE ESTUDOS DE ENERGIA ELÉTRICA

IBANES CESAR CASSEL 26/04/2005 31/10/2012 DIRETOR DE GESTÃO CORPORATIVA

DIRETOR ESTUDOS PETRÓLEO, GÁS E


04/05/2005 21/06/2006
JOSE ALCIDES SANTORO MARTINS BIOCOMBUSTÍVEIS

DIRETOR DE ESTUDOS DE PETRÓLEO, GÁS E


11/11/2009 10/11/2013
ELSON RONALDO NUNES BIOCOMBUSTÍVEIS

ALVARO HENRIQUE MATIAS PEREIRA 16/04/2012 DIRETOR DE GESTÃO CORPORATIVA

DIRETOR DE ESTUDOS ECONÔMICOS,


13/08/2015
RICARDO GORINI DE OLIVEIRA ENERGÉTICOS. E AMBIENTAIS

DIRETOR DE ESTUDOS DE PETRÓLEO, GÁS E


13/08/2015
GELSON BAPTISTA SERVA BIOCOMBUSTÍVEIS

2.2. DIRETORIA DE ESTUDOS ECONÔMICO-ENERGÉTICOS E


AMBIENTAIS (DEA)

Inicialmente denominada Diretoria de Estudos Econômicos e


Energéticos, era constituída de duas Superintendências, de Estudos
Econômicos (SEE) e de Recursos Energéticos (SRE), responsáveis
respectivamente, entre outras atividades, pelas projeções da demanda de
energia e pela análise da disponibilidade dos recursos energéticos necessários
para o atendimento da demanda projetada.

20
Com essa configuração, foi ao longo do ano de 2006 que uma equipe
composta por 23 pessoas - entre engenheiros, economistas, estagiários e
auxiliares administrativos - elaborou as 74 Notas Técnicas que fundamentaram
o Plano Nacional de Energia 2030.
Em 2009, quando houve a reorganização das Diretorias da EPE, as
duas Superintendências foram fundidas em uma única que foi incorporada à
Diretoria a Superintendência de Meio Ambiente (SMA), até então alocada na
Diretoria de Estudos Elétricos (DEE), que tem como destaque entre suas
atribuições a coordenação dos estudos de inventário dos aproveitamentos
hidrelétricos.
Até 2015, a DEA esteve sob a direção do Engenheiro Amilcar Guerreiro,
atualmente diretor da Diretoria de Energia Elétrica – DEE. A DEA, desde 2015
sob a gestão do diretor Ricardo Gorini coordena, orienta e acompanha estudos
econômicos para formulação de cenários referenciais para a expansão da
oferta e da infraestrutura de energia; estudos da demanda de energia, incluídos
os de energia elétrica, de combustíveis fósseis e de biocombustíveis; estudos
do planejamento integrado dos recursos energéticos no longo prazo, incluindo
estudos setoriais sobre uso da energia, desenvolvimento tecnológico,
competitividade entre energéticos, sustentabilidade ambiental e financiamento;
e estudos de impacto socioambiental de empreendimentos de geração e
transmissão de energia elétrica e de expansão da capacidade de oferta de
outros energéticos.

2.3. DIRETORIA DE ESTUDOS DE ENERGIA ELÉTRICA (DEE)

Cabe à Diretoria de Estudos de Energia Elétrica (DEE) elaborar os


estudos para o desenvolvimento dos planos de expansão da geração e
transmissão de energia elétrica; estudos de viabilidade técnico-econômica dos
empreendimentos de geração e transmissão; estudos para determinar os
aproveitamentos ótimos dos potenciais hidráulicos, bem como aqueles para
definir os parâmetros de planejamento para realização dos leilões de expansão
do sistema de geração e transmissão. A DEE ainda dá suporte e participa das

21
articulações para o aproveitamento energético de rios compartilhados com
países limítrofes.
A DEE também realiza grande parte da análise técnica dos
empreendimentos de geração concorrentes aos leilões e calcula os parâmetros
energéticos (garantia física de energia e de potência) e econômicos (custos
variáveis de geração térmica e estudos de custos para definição dos preços-
tetos dos leilões), além de contribuir para a regulamentação dos mesmos.
Coordena ainda todo o processo de habilitação técnica dos
empreendimentos de geração interessados em participar dos leilões de compra
de energia elétrica.
Inicialmente, a DEE era composta por três áreas (superintendências):
geração, transmissão e meio-ambiente, sendo que a área de geração era
responsável tanto pela parte de planejamento como pela parte de inventários e
viabilidade de análise de projetos. Com o crescimento significativo do número
de empreendimentos nos leilões e da maior afinidade entre a parte de estudos
ambientais ao planejamento de longo prazo, no início de 2009 a DEE foi
reestruturada, segmentando as áreas de planejamento e projeto da geração e
a área de estudos ambientais foi transferida para a então Diretoria de Estudos
Econômicos, que passou a ser designada como Diretoria de Estudos
Econômicos e Ambientais (DEA). Assim, a DEE passou a ser composta pelas
áreas de planejamento da geração; projetos de geração e estudos de
transmissão.
Desde a criação da EPE, a DEE foi conduzida por José Carlos de
Miranda Farias, oriundo da Chesf, até o ano de 2015, quando o diretor assumiu
a presidência da estatal. Miranda, como é conhecido no setor, também
participou ativamente na elaboração do Novo Marco Regulatório do Mercado
Brasileiro de Energia Elétrica.
A área de planejamento da geração elabora a parte correspondente no
Plano Decenal de Expansão (PDE); estudos de motorização dos
empreendimentos hidrelétricos; cálculos de capacidade de geração (garantia
física) e a estimativa dos custos variáveis dos projetos de geração termelétrica
concorrentes aos leilões de energia; além do desenvolvimento de diversas
metodologias de planejamento; análise de expansão das interligações elétricas;

22
expansão das linhas de transmissão para atender os centros de carga; e
análises do comportamento futuro das tarifas de uso do sistema de
transmissão do Sistema Interligado Nacional (SIN).
A área de projeto de engenharia da geração coordena os estudos de
inventário do potencial hidrelétrico e os estudos de viabilidade técnica e
econômica dos empreendimentos, e faz a análise técnica dos
empreendimentos de geração concorrentes aos leilões. Participa ainda dos
estudos de geração e transmissão dos planos de longo prazo.
A área de projetos de transmissão faz os estudos planejamento
indicativo (incorporado no PDE) e determinativo (PET) da expansão da rede
básica, além de analisar os pareceres de acesso à rede para os
empreendimentos de geração. Desenvolve também estudos de confiabilidade e
de utilização de novas tecnologias
O DEE realiza ou coordena todos os estudos de viabilidade técnico-
econômica da expansão do sistema de transmissão da Rede Básica do país,
sendo o relatório desses estudos o primeiro a compor os documentos dos
editais de licitação das instalações de transmissão, o qual é denominado
relatório R1.
Além destas funções executivas, a DEE também desempenha uma
importante função de apoio ao MME no nível estratégico, na análise e proposta
de regulamentação do setor e análise da conjuntura energética.
Os principais desafios enfrentados pela DEE são:
 A formulação do planejamento energético da geração num
contexto de mercado, no qual a expansão da geração é indicativa;
 O desenvolvimento de metodologias e sistemas que permitem
analisar tecnicamente de centenas a milhares de projetos
cadastrados para participação em cada leilão de energia;
 O desenvolvimento de metodologias de análise da capacidade de
atendimento ao consumo médio e à demanda de ponta em um
sistema cuja configuração tem se alterado de forma significativa e
rápida com a incorporação de fontes de geração não controláveis;

23
 O estabelecimentos de metodologias de planejamento e análise
de empreendimentos de geração baseados em fontes renováveis
não controláveis, sobretudo a eólica e a solar, que exigiram uma
capacitação que contou com o apoio decisivo do Governo Alemão
através da Deutsche Gesellschaft für Internationale
Zusammenarbeit - GmbH (GIZ) e também de parcerias com as
associações de classe - como por exemplo, Associação Brasileira
da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee) e Associação Brasileira
de Energia Eólica (ABEEólica) - e consultores especializados;
 O estabelecimento de metodologias de planejamento de troncos
de transmissão de longa distância, incluindo a integração de
novos elos de corrente contínua no sistema.

2.4. DIRETORIA DE ESTUDOS DO PETRÓLEO, GÁS E BIOCOMBUSTÍVEIS


(DPG)

2.4.1. Período de 2005 a 2008


A Diretoria de Estudos do Petróleo, Gás e Biocombustíveis (DPG) iniciou
suas atividades em maio de 2005, tendo José Alcides Santoro Martins como
seu primeiro Diretor. Em junho de 2006, Mauricio Tiomno Tolmasquim,
Presidente da EPE, assumiu o cargo interinamente, sendo substituído por
Gelson Baptista Serva, que permaneceu no cargo de dezembro de 2007 até
novembro de 2009, também como Diretor Interino.
Nesse período, competia à DPG coordenar, orientar e acompanhar estudos
de gestão dos recursos e reservas de petróleo, gás natural e biocombustíveis;
estudos sobre a infraestrutura, oferta, produção, transformação,
comercialização e abastecimento de petróleo e seus derivados, gás natural e
biocombustíveis; estudos para o desenvolvimento tecnológico desses
energéticos e estudos ambientais relacionados ao uso desses energéticos e à
infraestrutura associada.

24
Em sua estrutura organizacional inicial, a DPG contava com duas
Superintendências: a Superintendência de Petróleo (SPT) e a
Superintendência de Gás e Biocombustíveis (SGB).
Em cada superintendência havia duas áreas distintas de estudos, cada uma
com sua equipe de técnicos e um coordenador. Na SPT, as áreas eram de:
Exploração e Produção (E&P) de Petróleo e Gás Natural e de Refino e
Infraestrutura de Transporte de Petróleo e seus Derivados. Na SGB, as áreas
eram de Gás Natural e de Biocombustíveis.
No início de suas atividades, a DPG recebeu uma série de atribuições, com
estudos definidos e prazos pré-fixados. A equipe teve que imprimir esforço
considerável na busca de dados técnicos, séries históricas, instrumental
metodológico e desenvolvimento de modelos matemáticos que permitissem a
realização dos trabalhos e o atendimento às metas estabelecidas.
Outro processo que exigiu bastante esforço da equipe inicial da DPG foi sua
integração, não somente com a equipe do MME, mas também com as demais
diretorias técnicas da EPE. Assim, tanto os Planos Decenais de Expansão de
Energia, quanto os Planos Nacionais de Energia exigiram um grande processo
de integração metodológica entre as diversas áreas da empresa, assim como
entre as equipes da EPE e do MME.
Destacam-se nesse contexto, os processos, as metodologias e os modelos
desenvolvidos na SPT que permitiram: estimar a evolução da demanda
doméstica de derivados de petróleo; gerar cenários sobre a evolução dos
preços internacionais e nacionais de petróleos e seus derivados; estimar os
recursos petrolíferos nacionais, as reservas e produção de petróleo e gás
natural; estimar os investimentos no parque nacional de refino e na logística de
petróleos e derivados, bem como a oferta e o balanço nacional de petróleos e
derivados.
Paralelamente, os principais processos, metodologias e modelos
desenvolvidos pela SGB, envolviam: a projeção dos preços de gás natural; a
oferta, o processamento e o transporte de gás natural; a simulação e o
dimensionamento da rede nacional de gasodutos; a produção e o transporte de
biocombustíveis; a demanda doméstica de gás natural e o balanço nacional de
gás natural e de biocombustíveis.

25
Em 2007 foram concluídos vários projetos importantes, tais como: o
primeiro ciclo do Zoneamento Nacional dos Recursos de Óleo e Gás; previsões
de produção e consumo de óleo e gás natural no mundo; as perspectivas de
exploração e produção de petróleo e gás natural no Brasil; protótipo do
Simulador Georreferenciado de Exploração, com utilização de resultados do
Zoneamento para avaliar recursos não descobertos, constituindo-se no
primeiro modelo, na EPE, para simular contratações para exploração de
petróleo e gás na área da União.
O ano de 2008 é marcado pela participação da DPG em vários estudos que
tinham como objetivo subsidiar o Governo Federal na elaboração da Proposta
de Emenda Constitucional (PEC) que alterou o modelo regulatório brasileiro
para as atividades de exploração e produção de petróleo e gás natural e criou o
sistema de partilha da produção.

2.4.2. Período de 2009 a 2014


No início de 2009, houve uma grande reestruturação de toda EPE, que
também afetou a DPG. Com as mudanças, a SGB e a SPT deixaram de existir
e houve uma reorganização das áreas de atuação. A Diretoria, então, passou a
ter duas outras Superintendências: a Superintendência de Petróleo e Gás
Natural (SPG) e a Superintendência de Derivados de Petróleo e
Biocombustíveis (SDB).
Para cumprir suas atribuições, a SDB, internamente, subdivide-se em
duas áreas: a de Abastecimento de Petróleos e Derivados e a de
Biocombustíveis. Já a SPG subdivide-se na Área de Exploração e Produção de
Petróleo e Gás Natural e na Área de Gás Natural.
A SDB passou a ser responsável pelos estudos sobre preços de petróleo
e de derivados; projeção da demanda de energia do setor transporte; refino e
logística de petróleos e derivados; oferta e balanço de derivados; e demanda,
produção, balanço e transporte de biocombustíveis. Novos desafios surgiram.
Foi necessário, por exemplo, desenvolver uma metodologia mais geral para

26
projetar toda a demanda de energia (e não apenas a de combustíveis) do setor
de transportes. Por outro lado, a demanda energética dos demais segmentos
econômicos, assim como a consolidação de todas as projeções de demanda
global de energia da EPE, passaram a ser atribuição da Diretoria de Estudos
Econômico-Energéticos e Ambientais (DEA).
Dentre os processos desenvolvidos SDB destacam-se os que permitiram
estimar a evolução da demanda doméstica de energia do setor transporte; as
projeções dos preços internacionais e nacionais de petróleo e derivados; os
investimentos necessários no parque nacional de refino e na logística de
derivados; as projeções da produção e demanda de biocombustíveis; o
potencial de geração de eletricidade a partir dos resíduos da cana-de-açúcar,
além do balanço nacional de petróleo, derivados e biocombustíveis.
A SPG ficou com as atribuições de realizar estudos acerca dos recursos
petrolíferos nacionais; da evolução de reservas provadas e previsões de
produção de petróleo e gás natural; das projeções de preços de gás natural;
das previsões relacionadas a oferta, processamento e transporte de gás
natural; da análise da infraestrutura de transporte de gás natural e do balanço
nacional de gás natural.
Em novembro de 2009, Elson Ronaldo Nunes assumiu a Diretoria de
Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, onde permaneceu até novembro de
2013, quando foi substituído, interinamente, por Mauricio Tiomno Tolmasquim,
Presidente da EPE. Em setembro de 2015, Gelson Baptista Serva retornou à
EPE e assumiu novamente a diretoria, agora como titular.
Em 2010 foram incluídos novos itens no Plano Decenal de Expansão de
Energia (PDE), como, por exemplo, a estimativa de plataformas do tipo FPSO
(Floating Production, Storage and Offloading), necessárias para suportar a
produção de petróleo e gás natural e a utilização de conteúdo local na
fabricação de equipamentos. Os excedentes de produção de petróleo também
passam a ser estimados e se desenvolve um novo modelo (modelo de
descarga) para a projeção da produção de recursos não descobertos na área
da União, com simulação e otimização de contratações.

27
A estimativa de Plataformas FPSO necessárias para suportar a produção
de petróleo e gás natural faz parte do PDE elaborado pela EPE

Em 2013, com o início dos estudos para a elaboração do Plano Nacional


de Energia 2050, a DPG realiza projeções de produção dos recursos não
convencionais.

2.5. DIRETORIA DE GESTÃO CORPORATIVA (DGC)

A Diretoria de Gestão Corporativa (DGC) responde pelas atividades


financeiras, orçamentárias, patrimoniais e contábeis da EPE, bem como pela
gestão da infraestrutura corporativa necessária a seu funcionamento, como
materiais e serviços, espaços físicos e instalações, e tecnologia da informação
e de comunicação.
Nesses anos de atividades da empresa, muitos foram os desafios
superados com participação direta da DGC na supervisão e execução das
atividades:

28
- Consolidação da infraestrutura física e de serviços necessária ao
desenvolvimento das atividades da empresa, oferecendo qualidade nas
condições de trabalho e continuidade/disponibilidade dos serviços;
- Desenvolvimento e implantação do Plano de Cargos e Salários da
Empresa;
- Realização de sete concursos públicos para provimento das vagas
autorizadas (338), alcançando em dezembro de 2014 o total de 301
empregados (275 efetivos, 15 de livre provimento e 11 cedidos de outros
órgãos ou empresas públicas);
- Aprovação do Plano de Previdência Complementar para a EPE, em 13
de novembro de 2009, e que em seu primeiro mês de adesão contou com 137
empregados e aporte inicial de R$ 1.142.203,43 das contribuições dos
participantes, somente a título de serviço passado. Este foi um direito adicional
conquistado para os que ingressaram no Plano EPE nos seis primeiros meses
de vigência, recuperando, assim, os valores relativos à data de ingresso na
Empresa.
- Desenvolvimento e implantação do Curso “Conceitos Fundamentais
para o Planejamento Energético”, evento de formação básica e duração de 120
horas, concebido e formatado especialmente para os profissionais da EPE,
através de parceria firmada com a Fundação COPPETEC, com docentes da
COPPE/UFRJ, onde foram capacitados 90 empregados da área finalística;
- Consolidação da EPE no novo cenário econômico-financeiro a partir da
decisão de efetivar a migração da Empresa do Orçamento de Investimento
para o Orçamento Fiscal e da Seguridade Social, ocorrida em abril de 2008,
quando passou a receber subsídios do Tesouro Nacional para o custeio de
suas atividades operacionais;
- Participação como coordenadora no desenvolvimento e implantação do
Planejamento Estratégico da empresa para o ciclo 2012/2015, que foi aprovado
pelo Conselho de Administração em janeiro/2013 e se reveste de grande
importância para a ordenação dos grandes desafios que têm de ser
enfrentados para a consolidação da EPE em seu papel de instituição
estratégica para suporte ao planejamento energético do país. A construção
desse processo abordou diferentes perspectivas, tais como questões

29
institucionais, de governança corporativa, de mercado, de gestão de processos
de trabalho e de pessoas, e seguiu a diretriz básica de focar no reforço da
capacidade interna da empresa para fazer frente à demanda de trabalho, de
acordo com seus propósitos e sua missão;
- Contratação de consultorias para o desenvolvimento e a implantação
do Projeto CEDOC, importante atividade que irá estabelecer o modelo de
gestão documental da EPE, promover o tratamento do seu acervo e
desenvolver plataforma de gestão documental, além de mapear e automatizar
seus processos de negócio, organizar o sistema normativo e integrar o sistema
de protocolo, com vistas a dotar a empresa de melhorias em seus mecanismos
de gestão, o que contribuirá para o aumento da sua eficiência.
Por sua natureza estratégica, a EPE desenvolve atividades
predominantemente pautadas no capital intelectual, devendo, portanto, por
meio de um corpo técnico de alta qualificação, garantir, na prestação de seus
serviços, as bases teóricas necessárias ao desenvolvimento do setor
energético brasileiro. Tanto que o nosso quadro de empregados é muito
qualificado. Quase a totalidade de nossos funcionários de nível superior (275)
possui pós-graduação. Nessa categoria temos 2 pós-Doutores; 23 Doutores; 63
Mestres; 68 pós-graduados e 119 empregados com nível superior. E mesmo
para o cargo de Assistente Administrativo, para o qual se exige apenas o nível
médio, 27% do total de 30 empregados nessa categoria possuem ou estão
cursando algum curso de nível superior.

30
Analistas
275 funcionários

Pós-
Graduação
25% Mestrado
23%
Outra Doutorado
32% 8%
Graduado
43%
Pós-Doutorado
1%

Técnicos
30 funcionários

Superior
27% Mestrado
Outra 3%
10%
Segundo grau Pós-Graduado
63% 7%

31
CAPÍTULO 3
PRODUTOS INSTITUCIONAIS
A elaboração dos planos de expansão é a principal finalidade da EPE.
São esses planos que criam as bases para a expansão do setor energético
brasileiro a partir de estudos e pesquisas detalhadas de variadas fontes de
energia.
A EPE também elabora análises do potencial, da produção e do
consumo energético, que são publicadas periodicamente.

3.1. PRINCIPAIS PRODUTOS

3.1.1. Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE)

O Plano Decenal de Expansão de Energia trabalha com um horizonte


mais curto que o do Plano Nacional de Energia (PNE) - dez anos, ante vinte ou
mais anos do segundo-, mas é ele o balizador do planejamento energético
brasileiro. Não somente pelo seu prazo menor, o PDE apresenta uma visão
mais nítida do futuro, como pelo fato de ser atualizado anualmente,
absorvendo, assim, o contexto econômico, as inovações tecnológicas e outros
fatores, conjunturais e estruturais.
Embora tenha natureza indicativa, o Plano Decenal de Expansão de
Energia é o referencial do que será realizado no setor energético brasileiro nos
dez anos subsequentes à sua publicação. Por isso, sua elaboração se tornou o
marco da retomada do planejamento do segmento de energia do país.
A EPE elaborou o seu primeiro PDE em 2006, com horizonte de
projeção de mercado até 2015. A peculiaridade desse plano pioneiro feito pela
empresa é que seu foco foi exclusivamente em energia elétrica. O documento

32
foi intitulado Plano Decenal de Expansão de Energia Elétrica (PDEE) 2006-
2015.
Por ter sido elaborado em um período no qual a EPE ainda estava
consolidando sua estrutura, tanto física quanto de seu quadro técnico, o PDEE
2006-2015 contou com apoio da equipe da Secretaria de Planejamento e
Desenvolvimento Energético (SPE) do MME, bem como de técnicos de
empresas do setor elétrico brasileiro, que participaram de grupos de estudos
coordenados pela própria EPE.
Em 2007, o Plano Decenal passou a incorporar outros segmentos do
setor de energia. Essa mudança ocorreu em consonância com o Plano
Nacional de Energia (PNE) 2030, que estava sendo elaborado pela EPE e
englobava os diversos segmentos energéticos. Assim, em dezembro, foi
lançado o Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE) 2007-2016.
Em 2010, houve novas alterações na apresentação do plano. O PDE
passou a ser nomeado apenas pelo ano limite, nesse caso, 2019, e não mais
com menção ao ano inicial.
O ponto de partida para o PDE se dá na presidência da EPE, após as
diretrizes indicadas pelo Ministério de Minas e Energia. Em reunião com as
diretorias, são definidos os prazos e as ações de cada área. E, ao contrário do
que a frequência anual de publicação do plano sugere, os trabalhos para sua
conclusão levam cerca de um ano e meio, entre o início da programação e a
impressão do documento final. Ou seja, enquanto algumas equipes ainda estão
concluindo o PDE de um ano, outras já começam a trabalhar nas premissas do
plano do ano seguinte.
A elaboração do PDE movimenta todas as áreas técnicas da EPE.
Participam dos trabalhos sete superintendências da empresa: Estudos
Econômicos e Energéticos e de Meio Ambiente, ligadas à DEA; Projetos da
Geração, Planejamento da Geração e Transmissão de Energia, ligadas à DEE;
e Petróleo e Gás Natural e Derivados do Petróleo e Biocombustíveis,
subordinadas à DPG. O envolvimento múltiplo é crucial. Por se tratar de um
plano que engloba todo o setor energético, é necessária uma interação
constante entre estas áreas.

33
Diferentemente do que ocorre em estudos específicos realizados pela
EPE, a construção do PDE é feita diretamente em capítulos dedicados a cada
área. E o material envolve o MME, que interage diretamente com a empresa
durante todo o processo, discutindo os resultados intermediários.
Após todas as áreas concluírem seus estudos e respectivos capítulos, o
material é consolidado pela Presidência da EPE. A partir desse momento, é
criada uma versão preliminar do relatório do PDE, que é então enviado ao
MME, que o submete à consulta pública, para manifestação dos agentes do
setor energético brasileiro. O prazo da consulta pública, em geral, não
ultrapassa 30 dias, ao final dos quais, as sugestões, comentários e críticas são
repassadas à EPE. A Empresa analisa, responde às questões formuladas e
incorpora ao plano, ou nos seguintes, as sugestões pertinentes.
O PDE é finalizado com a publicação de portaria do MME aprovando o
plano. A partir de então, uma versão final do documento fica disponível para
download, tanto no site do ministério quanto no da EPE. Há ainda a impressão
de alguns exemplares, para distribuição em bibliotecas e universidades.
Ao longo do tempo o PDE tem tido diversos aprimoramentos. Dentre
eles estão: uma estimativa mais consistente do Custo Marginal de Expansão
(CME) do sistema elétrico, em função dos custos de investimento previstos
para as principais fontes e empreendimentos de geração; uma análise mais
aprofundada da capacidade de atendimento à demanda máxima de
eletricidade; e uma análise mais detalhada da distribuição do Custo Marginal
de Operação (CMO) do sistema elétrico, entre outros.

3.1.2. Plano Nacional de Energia (PNE)

Se projetar cenários para o setor energético brasileiro dez anos adiante


já é árduo, o que dizer de projeções que visualizem o cenário energético do
país 20, 30 anos ou mais à frente? Esse desafio, de planejar esse horizonte
ainda mais longínquo, foi dado pelo Ministério de Minas e Energia (MME) à
EPE. Entre dezembro de 2005 e abril de 2007, a empresa trabalhou na
elaboração do Plano Nacional de Energia (PNE), cuja primeira versão teve

34
como horizonte o ano de 2030. A revisão desse plano terá como resultado o
PNE 2050.
A construção de um estudo dessa magnitude temporal é mais complexa
que a do Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE), atualizado ano a ano.
Quanto maior o período de tentar antever o futuro, maior a possibilidade de
que, no prazo de tempo analisado, ocorram mudanças estruturais, conjunturais
e tecnológicas que podem alterar por completo as projeções feitas.
A EPE apresentou o PNE 2030 à sociedade em pouco mais de um ano.
O Plano teve a colaboração de vários agentes do setor energético brasileiro,
dos setores público e privado. Diversas reuniões, realizadas no início de 2006,
nortearam a elaboração do Plano e tiveram a participação de técnicos da
própria EPE e do MME, bem como de consultores, executivos de empresas
públicas e privadas, associações setoriais, técnicos de agências reguladoras
federais e especialistas das maiores universidades do país, entre outros.
Após reuniões, seminários, consultas públicas e diversas notas técnicas
(estas últimas foram o ponto de partida para a sua elaboração), o PNE 2030 foi
disponibilizado em abril de 2007, com 408 páginas. Em 2008, a EPE
disponibilizou ao mercado diversos cadernos temáticos relativos ao Plano.
Um dos grandes destaques do PNE 2030 foi trazer de volta ao
planejamento energético brasileiro a energia nuclear. A inclusão dessa fonte
nos estudos relativos à expansão da oferta de energia no país no futuro acabou
se tornando o marco do retorno do programa nuclear brasileiro. E, como
primeiro resultado, o estudo promovido pela EPE fez com que o Ministério de
Minas e Energia retomasse o projeto de construção da usina termonuclear
Angra 3, no litoral sul do Rio de Janeiro, a última planta do complexo nuclear
de Angra que ainda não havia saído do papel.
O Plano Nacional de Energia é, assim, o documento crucial elaborado
pela EPE para o estabelecimento das estratégias de planejamento energético
do Brasil. Ele é um instrumento balizador, tanto para o governo quanto para o
mercado, do que poderá acontecer no país em médio e longo prazo, com
perspectivas macroeconômicas e, a partir delas, a expectativa de necessidades
energéticas do Brasil.

35
A importância do PNE extrapola o planejamento de longo prazo do setor
energético brasileiro. Ele também é usado como referência por outras áreas do
governo, como a Casa Civil e os Ministérios de Meio Ambiente e da Ciência,
Tecnologia e Inovação, bem como por outros segmentos econômicos do país,
tendo influência no planejamento macroeconômico do Brasil e no
desenvolvimento industrial relacionado com o setor energético.
O PNE é formado por cinco estudos que são divulgados gradualmente
ao mercado: macroeconomia, economia setorial, demanda de energia,
recursos energéticos e oferta de energia. Depois de consolidado, o estudo é
colocado em audiência pública para aperfeiçoamentos e publicado com as
contribuições.
A maior diferença entre o PNE e o PDE é que o prazo de cada um deles
determina quais variáveis serão analisadas para sua elaboração. No prazo de
dez anos, abordado pelo PDE, são usadas variáveis que dificilmente irão sofrer
alterações bruscas nesse período de tempo. No PNE, por sua extensão de
tempo maior, as variáveis utilizadas são menos perenes.
Na realidade, a visão de longo prazo apresentada pelo PNE acaba se
tornando um guia para a elaboração do PDE. Vale lembrar que o Plano
Nacional de Energia aponta possíveis estratégias para o planejamento
energético brasileiro, enquanto o Plano Decenal de Expansão de Energia,
embora aparentemente seja indicativo, tem um perfil de indicar expansões da
infraestrutura de produção, transporte, importação e exportação das diversas
fontes energéticas.
Entre os pontos analisados no PNE estão a trajetória de evolução do
crescimento econômico, tanto em nível mundial quanto no Brasil; as
possibilidades de crescimento para cada região do país, bem como a
diminuição das diferenças entre classes sociais conforme a evolução da
economia brasileira; e as perspectivas para variados setores da economia,
sobretudo de grandes consumidores de energia.
Um dos cuidados importantes é verificar se eventuais mudanças
ocorridas ou passíveis de ocorrer com alguns setores da economia são de
origem estrutural ou conjuntural. Isso será determinante para atingir projeções
mais seguras.

36
Além da análise social, demográfica e econômica, a EPE se debruça
sobre a análise tecnológica. Possíveis inovações devem ser consideradas, pois
são capazes de alterar o cenário macroeconômico, bem como o consumo
energético. Outro fator a ser considerado é a competitividade entre as fontes
energéticas, fundamental para a percepção de possíveis mudanças no peso de
uma fonte na matriz energética.
As mudanças climáticas também são parte importante na elaboração do
PNE. Seja pela pressão da sociedade sobre determinadas formas de produção
energética, seja por possíveis impactos no cenário macroeconômico das
alterações climáticas em curso. Todas as possibilidades são consideradas na
construção do Plano.
A partir de macro análises, a EPE detalha o uso da energia no Brasil.
Esse detalhamento se baseia nos pilares da política energética brasileira:
capacidade de renovação das fontes de energia, modicidade tarifária e
segurança energética. Com essas noções, a EPE propõe cenários robustos o
suficiente para que essas condições sejam factíveis, com um portfólio de
alternativas de forma a apontar as possibilidades de oferta de energia.
O processo de construção do PNE envolve ainda a realização de
reuniões temáticas. Além de técnicos da própria EPE, esses encontros reúnem
especialistas do meio acadêmico e do setor produtivo. As discussões incluem
ainda representantes do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e
Social (BNDES), do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), de
associações setoriais, como de grandes consumidores de energia, entre
outros.
Como bases do PNE são publicadas cinco Notas Técnicas, que
representam o primeiro espaço de divulgação do Plano da EPE. São
elaboradas as Notas Técnicas de Análises Sócio Demográficas e Econômicas;
Demanda; Recursos Energéticos; Oferta de Energia Elétrica; e Oferta de
Combustíveis.
Após a publicação das Notas Técnicas, a EPE promove workshops, em
parceria com o MME, que são a oportunidade de toda a sociedade se
pronunciar sobre os estudos realizados. Estes encontros são abertos ao
público e não restritos aos agentes setoriais. Podem e devem ter a participação

37
de variados setores da sociedade civil, a fim de opinar e dirimir quaisquer
dúvidas sobre as propostas apresentadas.
A etapa seguinte é a redação do relatório síntese do Plano Nacional de
Energia. Esse documento funciona como um resumo do plano completo,
apresentando os principais resultados e propostas, mas sem o detalhamento
das premissas e das análises. Juntamente com o relatório síntese, são
apresentadas as matrizes energéticas consolidadas, que permitem a
comparabilidade com o histórico do Balanço Energético Nacional (BEN). Isso
possibilita a geração de diversos indicadores, como de emissões atmosféricas
e de intensidade energética. E, por fim, é publicado o documento completo,
com aproximadamente 600 páginas.

3.1.3. Plano Decenal de Expansão da Malha de Transporte Dutoviário


(PEMAT)

A fim de trazer mais competitividade à indústria do gás natural, o


Governo Brasileiro propôs um novo marco regulatório, visando, sobretudo, a
expansão da malha de gasodutos de transporte. Neste sentido, em 4 de março
de 2009 é sancionada a Lei nº 11.909 (Lei do Gás), regulamentada pelo
Decreto nº 7.382, de 2 de dezembro de 2010 que contém as bases para a
expansão do mercado brasileiro de gás natural. Em seguida, a Portaria MME nº
94, de 5 de março de 2012, estabeleceu os procedimentos de provocação por
terceiros para a construção ou ampliação de gasodutos de transporte, tratado
no art. 4º da Lei do Gás.
O marco legal foi resultado de amplo debate entre diversos agentes do
setor, além dos Poderes Executivo e Legislativo e trata das especificidades da
indústria do gás natural. A EPE teve marcante participação nas discussões
sobre o marco regulatório e seus desdobramentos, prestando significativo
suporte ao MME nesse processo.

38
O novo marco regulatório reforçou o papel do Ministério de Minas e
Energia como poder concedente e formulador das políticas públicas para o
setor do gás natural, atribuindo-lhe a responsabilidade pela elaboração do
Plano Decenal de Expansão da Malha de Transporte Dutoviário (Pemat). Esse
Plano, a ser elaborado preferencialmente com periodicidade anual, tem como
base estudos desenvolvidos pela EPE. Tais estudos contêm, entre outros
elementos, propostas de traçados de gasodutos, de sistemas de compressão a
serem instalados e de localização de pontos de entrega, bem como as
estimativas de investimentos.

A EPE é a responsável pela elaboração dos estudos do Plano


Decenal de Expansão da Malha de Transporte Dutoviário do país. Tais
estudos contêm, entre outros elementos, propostas de traçados de
gasodutos.

O objetivo da elaboração desses estudos é identificar as alternativas


elegíveis para a expansão ou ampliação da malha de gasodutos de transporte
nacional, considerando aspectos técnicos, econômicos e socioambientais.

39
Neste processo de análise, consideram-se as condições de demanda e oferta
previstas no ciclo correspondente do Plano Decenal de Energia (PDE) e/ou
informações que se revelem e se validem nas avaliações dos Requerimentos
de Provocação de Terceiros.
Assim, através da Portaria MME N0 128 de 26 de março de 2014 é
lançado o primeiro PEMAT (PEMAT 2022), em cerimônia realizada no MME.

O relatório final do PMAT 2022, elaborado pela EPE, abordou a


metodologia que embasou o estudo, descrevendo os aspectos relacionados à
demanda potencial, ao balanço de oferta e demanda, aos critérios para a
avaliação de alternativas, aos aspectos ambientais que influenciam o traçado
do gasoduto e às premissas de análise de viabilidade técnica e econômica,
bem como a metodologia para avaliação de Requerimento de Provocação de
Terceiros. Apresentou também os resultados do balanço de oferta e demanda
de gás natural considerado para o Plano, revelando-se as estimativas de
demanda potencial e de oferta potencial, bem como os resultados das
simulações termo-fluido-hidráulica da malha integrada e de sistemas isolados.
Por fim, o relatório apresenta as alternativas de gasodutos elegíveis à
proposição pelo Ministério de Minas e Energia.
Assim, no âmbito do PEMAT 2022, a EPE avaliou alternativas de
gasodutos que atingem um total de 7.060 quilômetros.

40
Alternativas de gasodutos de transporte avaliadas no PEMAT 2022: 7.060
km.

Dentre os gasodutos avaliados, a EPE recomendou ao MME para


proposição à chamada pública e, posteriormente ao processo de licitação, o
gasoduto Itaboraí/Guapimirim, no Rio de Janeiro, que acrescenta 17 milhões
de metros cúbicos diários (metade da capacidade do GASBOL) à malha
integrada de gás natural do país.

O gasoduto Itaboraí/RJ-Guapimirim/RJ proposto pela EPE à chamada


pública: acréscimo de 17 milhões de m3/d à malha integrada.

41
A publicação do Pemat 2022 foi um marco importante para o setor de
gás natural do Brasil, tendo forte repercussão na mídia especializada e entre os
diversos agentes da indústria.
O Plano representa a primeira ferramenta de planejamento centralizado
para o setor de gás natural do país, que se integra aos demais instrumentos de
planejamento do setor energético nacional. Assim, o Pemat coloca o Brasil em
um novo caminho no transporte de gás natural competitivo, com igualdade de
condições para todos.

3.1.4. Balanço Energético Nacional (BEN)

Publicado desde a década de 1970 pelo Ministério de Minas e Energia, o


Balanço Energético Nacional (BEN) é a mais completa e organizada base
continuada de dados e estatísticas energéticas disponível no Brasil.
O BEN contabiliza e divulga anualmente informações relativas à oferta
(produção, importação e exportação) e ao consumo de energia, classificadas
por fonte primária e por segmento econômico. Em especial, contempla o
balanço energético dos centros de transformação (refinarias de petróleo, usinas
elétricas, etc), onde ocorre a conversão do recurso energético primário nas
formas finais de uso da energia.
Anteriormente à criação da EPE, o BEN era elaborado pela Secretaria
de Planejamento e Desenvolvimento Energético do Ministério de Minas e
Energia. Por justiça, cabe menção especial ao Sr. Antônio Moreira Patusco,
então coordenador dos estudos do Balanço, à cuja dedicação muito se deve a
continuidade dessa importante base estatística.
A partir de 2005, a responsabilidade legal pela elaboração e divulgação
do BEN foi transferida para a EPE, conforme definido no artigo 4º da Lei
10.847/2.004.
Atualmente sua elaboração envolve coleta, tratamento e contabilização
de dados, e informações fornecidas por mais de 800 empresas públicas de
economia mista e privadas, entre elas a Petrobras, a Aneel, a ANP, a
Eletrobras, o grupo Votorantim, para citar apenas algumas.

42
O desafio permanente da EPE é a melhoria continuada da qualidade do
tratamento das informações e da composição das estatísticas, o que vem se
buscando através de discussões em fóruns e da contratação de consultorias
específicas.
O BEN, ao descrever a matriz energética nacional e manter atualizadas
séries históricas, se constitui em importante instrumento para subsidiar as
projeções energéticas de médio e longo prazo (PDE e PNE), adequar e ajustar
os modelos matemáticos de projeção de consumo de energia, além de fornecer
a base adequada para o cálculo das emissões de gases de efeito estufa
decorrentes das atividades energéticas.

3.1.5. Programa de Expansão da Transmissão (PET)

O planejamento da expansão da transmissão é um processo


permanente, que se renova anualmente com o objetivo de conceber a rede de
transmissão necessária para garantir as condições de atendimento ao
crescimento do mercado, do parque gerador, e dos intercâmbios entre as
regiões com segurança e qualidade, em horizonte de curto, médio e longo
prazos.
O Programa de Expansão da Transmissão (PET) abrange um horizonte
de seis anos e é elaborado a partir dos resultados dos estudos de
planejamento realizados pela EPE, com a participação de técnicos das
empresas de transmissão e distribuição em grupos de trabalhos. Constam do
PET as instalações de transmissão, ainda não licitadas ou autorizadas,
recomendadas para entrar em operação nos próximos seis anos. O estudo tem
como principal finalidade subsidiar o Ministério de Minas e Energia na
priorização das instalações de transmissão que farão parte dos próximos
leilões de transmissão, além de sinalizar aos agentes e fornecedores do setor
os investimentos previstos para os próximos anos.
A primeira edição do PET foi publicada em maio de 2006, abrangendo o
período 2006–2010. Inicialmente, a periodicidade de sua publicação era anual,
compreendendo um horizonte de cinco anos. A partir de 2013, sempre
buscando aprimorar os diversos processos do planejamento, a EPE ampliou o

43
horizonte de abrangência do PET de cinco para seis anos e passou a publicá-lo
semestralmente, objetivando dar maior celeridade ao processo de licitação das
obras de transmissão e mitigar os possíveis atrasos na implantação das
expansões recomendadas para o sistema.
Para a edição de 2015 do PET foram selecionadas obras cujos estudos
de planejamento tinham sido concluídos até julho daquele ano,
compreendendo o período 2014--2019. A implantação desse Programa
demandará investimentos da ordem de R$ 16,3 bilhões, referentes a cerca de
14 mil quilômetros em linhas de transmissão (R$ 12,1 bilhões) e 54 novos pátios
e/ou novas subestações (R$ 4,3 bilhões).

3.1.6. Anuário Estatístico de Energia Elétrica

Em 2011, a EPE resolveu consolidar anualmente as informações


publicadas na Resenha Mensal do Mercado de Energia Elétrica, lançada pela
empresa em novembro de 2007. Essa ação foi motivada pelo fato de que essas
resenhas, que se tornaram referência no mercado elétrico brasileiro,
apresentam estatísticas preliminares, já que a consolidação dos dados
primários é feita após a certificação das medições e a correção de erros e
omissões eventualmente cometidos na apuração das estatísticas. Nasceu,
assim, o Anuário Estatístico de Energia Elétrica.
A publicação é um documento de registro e consulta, que reúne
informações adicionais sobre a oferta de energia elétrica no Brasil e um
panorama internacional, compreendendo dados sobre oferta e consumo de
eletricidade. O anuário ainda apresenta um glossário, de forma a facilitar a
consulta pelos interessados.
Os dados apresentados no Anuário Estatístico de Energia Elétrica,
assim como na Resenha Mensal do Mercado de Energia Elétrica, são fruto de
um trabalho cooperativo, realizado com agentes de mercado na Comissão
Permanente de Análise e Acompanhamento do Mercado de Energia Elétrica
(Copam), sob a coordenação da EPE.
Já foram publicadas quatro edições do anuário. A primeira delas,
disponibilizada em 2011, apresentou os dados do mercado de energia elétrica

44
relativos a 2010. Com 244 páginas, essa edição foi inicialmente dividida em
dois blocos maiores – panorama internacional e panorama brasileiro. Cada um
deles foi subdividido em outros itens relativos ao setor de energia elétrica, com
maior detalhamento do mercado brasileiro.
A edição de 2012 do anuário trouxe informações adicionais, relativas à
oferta de energia elétrica, preços e emissões de gases de efeito estufa
associadas à produção de eletricidade, tanto no Brasil como no mundo. Esses
dados se basearam em informações disponibilizadas pelas fontes adotadas
como referência para a realização do estudo.

3.1.7. Boletim Trimestral de Energia Eólica

A forte expansão da geração eólica no Brasil nos últimos anos motivou a


EPE a lançar mais um produto para o setor energético nacional. Assim, em
junho de 2014, a empresa publicou o primeiro Boletim Trimestral de Energia
Eólica, cujo objetivo é divulgar índices de disponibilidade do recurso energético
eólico e o potencial de transformação desse recurso em energia elétrica. O
objetivo é constituir históricos de longo prazo, que serão úteis para os estudos
de planejamento da oferta de energia elétrica.
A comparação indireta entre grandezas se faz a partir de uma referência:
quando se diz, por exemplo, que um ano foi mais frio ou mais quente, entende-
se que a temperatura no ano em discussão foi menor ou maior que a
temperatura média computada ao longo de um histórico de registros de
temperatura. Admite-se, implicitamente, que essa média seja conhecida.
Também para o vento é necessário estabelecer uma referência que
permita comparar um ano com outro, e, de maior utilidade para o setor
energético, que permita explicar a maior ou menor geração eólica, tal como se
usam as afluências para explicar a geração hidrelétrica.
Para divulgar essa média referencial, a EPE publica no Boletim dois
indicadores de atividade eólica: um índice de disponibilidade do recurso
energético (índice de energia) e um índice de transformação do recurso
primário em energia elétrica (índice de produção).

45
Os índices, divulgados para três regiões geográficas (Rio Grande do Sul;
Litoral Nordeste - que inclui os estados do Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí, e
Bahia-; e centro-sul de Pernambuco) são calculados com base nas medições
anemométricas, mantidas na base de dados denominada Acompanhamento
das Medições Anemométricas (AMA).
A metodologia adotada na composição dos índices foi objeto de estudo
conjunto realizado pela Diretoria de Estudos Econômico-Energéticos e
Ambientais (DEA) da EPE com o German Wind Energy Instituem (DEWI), com
patrocínio da Agência Alemã de Cooperação Internacional (GIZ), no âmbito do
acordo de cooperação técnica Brasil-Alemanha.

3.1.8. Resenha Mensal do Mercado de Energia Elétrica

A Resenha Mensal do Mercado de Energia Elétrica, produzida pela EPE


desde novembro de 2007, divulga estatísticas de curto prazo do consumo de
energia elétrica, classificadas por região geográfica e por classe de consumo.
Apresenta análises sobre reflexos de situações conjunturais no consumo de
energia elétrica e introduz discussões sobre temas de interesse do setor.
A Resenha aponta tendências e permite compor um conjunto de
indicadores de antecedência que possibilitam estimativas prévias do
desempenho econômico do país.
As estatísticas são calculadas com base nas informações fornecidas
pelas concessionárias no âmbito da Comissão Permanente de Análise e
Acompanhamento do Mercado de Energia Elétrica (COPAM), e registradas na
base de dados denominada SIMPLES (Sistema de Informação de Mercado
para o Planejamento da Expansão do Sistema), mantida pela SEE/DEA.

3.1.9. Zoneamento Nacional de Recursos de Óleo e Gás

O Zoneamento Nacional de Recursos de Óleo e Gás (ZNMT) tem como


objetivo geral a obtenção de uma base de informações georreferenciadas que
permita representar zonas, na forma de mapas, retratando a importância
relativa das diversas áreas do país para o desenvolvimento econômico
nacional do setor de petróleo e gás.

46
Por meio de uma função de importância multiargumentos de área, seis
argumentos são considerados para produzir os mapas para todo o Brasil:
 Evidências de hidrocarbonetos;
 Prospectividade relativa (área prospectável / área bacia efetiva);
 Necessidade de conhecimento;
 Atividades exploratórias (blocos exploratórios em concessão);
 Atividades explotatórias (campos em produção);
 Infraestrutura (dutos, unidades de processamento e terminais de
distribuição, instalados, em construção ou na fase de estudos/projetos).
O ZNMT teve início em 23 de dezembro de 2005, quando a EPE e o MME
firmaram o Convênio nº 39/2005-MME. No ano de 2007 foi concluído o primeiro
ciclo deste estudo, com utilização dos resultados internamente pela EPE e pelo
MME.
A partir de 2011, inicia-se o novo ciclo do estudo do ZNMT, com forte
integração com a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis
(ANP). Em 2013, através da Portaria MME N0 350 de 10 de outubro de 2013 é
lançado o estudo do Zoneamento Nacional de Recursos de Óleo e Gás, em
cerimônia realizada no MME.

O livro publicado do Zoneamento Nacional de Recursos de Óleo e Gás:


Caracterização geológica de 3,6 milhões km2 de bacias efetivas pela EPE

47
O estudo do ZNMT envolve duas perspectivas: a geológica e a
econômica. Na perspectiva geológica, as bacias sedimentares são abordadas
por meio da análise de plays exploratórios. Nesta análise as atividades de
exploração e produção de petróleo e gás natural, passadas, atuais e previstas
para o futuro são verificadas, especialmente em termos de poços pioneiros,
possíveis prospectos, acumulações (jazidas) e campos. O resultado da
aplicação dessa metodologia para a perspectiva geológica gera uma base de
informações georreferenciadas que suporta a perspectiva econômica.
As áreas que se revelaram mais importantes para o desenvolvimento de
atividades de E&P, concentradas nas bacias efetivas, ocupam cerca de 50% da
área sedimentar brasileira, totalizando 3,6 milhões de quilômetros quadrados,
dos quais 2,5 milhões de quilômetros quadrados em terra.
No desenvolvimento da perspectiva econômica são elaborados mapas
para representar a Importância Petrolífera da Área (IPA), para vários pontos de
vista ou argumentos. Para a construção dos mapas representativos dos
diversos argumentos, além de elementos geológicos, é considerada também a
proximidade de áreas sob contrato com empresas para as atividades de E&P e
de instalações de infraestrutura de abastecimento de petróleo e gás natural. Os
mapas destes vários argumentos podem ser combinados por meio de uma
função multiargumentos, permitindo a obtenção de um mapa final (IPA Total)
que sintetiza a importância relativa das diversas áreas do país para a indústria
do petróleo e do gás natural.

48
Os mapas representativos dos diversos argumentos e o mapa final (IPA
Total).

O mapa final (IPA Total).

49
A publicação do ZNMT, em 2013, teve forte e importante repercussão na
mídia especializada no setor de energia e entre os diversos agentes da
indústria do petróleo e gás natural. Ressalta-se o ineditismo e a importância do
estudo, que serve de base para o planejamento de áreas para as rodadas de
licitação de blocos exploratórios de petróleo e gás natural, para a tomada de
decisões sobre estudos, pesquisas, projetos, atividades e serviços de
levantamentos geológicos básicos e para a definição das áreas prioritárias para
o desenvolvimento e manutenção das atividades da indústria do petróleo e gás
natural no território e na plataforma continental brasileira. A publicação é
também um importante instrumento de apoio em questões de ordenamento
territorial e socioambiental que envolvem as atividades de exploração de
petróleo e gás natural, de modo a assegurar o desenvolvimento sustentável do
país.
Portanto, o ZNMT é um instrumento útil tanto às políticas públicas,
quanto à indústria petrolífera, para o aproveitamento de recursos de petróleo e
gás natural do Brasil. É também um estudo fundamental para o planejamento
energético nacional, no contexto do Plano Nacional de Energia (PNE), do Plano
Decenal de Expansão de Energia (PDE) e do Plano Decenal de Expansão da
Malha de Transporte Dutoviário (Pemat).
O Projeto de Zoneamento Nacional de Recursos de Óleo e Gás terá
suas informações e análises atualizadas bienalmente, de modo que os avanços
decorrentes das atividades exploratórias nas áreas em estudo pela ANP e nas
áreas outorgadas possam estar representados nesse importante instrumento
do setor.

3.1.10. Análise de Conjuntura dos Biocombustíveis

Trata-se de uma publicação anual, iniciada em 2010, que aborda a


evolução dos indicadores de etanol, biodiesel e cogeração derivada da
biomassa de cana-de-açúcar. A publicação também identifica os eventos mais
relevantes ocorridos no período de referência (ano anterior), assim como as
principais tendências de curto prazo. Além disso, aborda o mercado interno de

50
biocombustíveis e dos complementares de origem mineral, a oferta e as
perspectivas de exportação de etanol, bem como a produção de biodiesel e a
comercialização de bioeletricidade nos leilões de energia promovidos pelo
Governo Federal.
A Análise de Conjuntura dos Biocombustíveis é mais uma importante
contribuição da EPE para os diversos agentes do setor e para a sociedade
brasileira, apresentando, de forma consolidada, uma síntese anual dos
mercados de combustíveis renováveis.

3.2. CONTRIBUIÇÕES PARA A TOMADA DE DECISÃO

3.2.1. Estudos de Inventário de Bacias Hidrográficas e Avaliação


Ambiental Integrada

Em 2005, a partir de convênios firmados com o MME, foram iniciados


pela EPE diversos Estudos de Inventário Hidrelétrico de bacias.
Durante os anos seguintes foram elaborados estudos para as bacias dos
rios Juruena, Aripuanã, Sucunduri, Trombetas, Jari e Branco, além da revisão
dos inventários das bacias do rio Araguaia e rio Tibagi.

Bacias inventariadas

51
O inventário hidrelétrico de uma bacia consiste no estudo da melhor
alternativa para aproveitamento do seu potencial hidrelétrico. O resultado é a
definição de uma série de aproveitamentos hidrelétricos, em cascata, que
representa a indicação que melhor concilia os objetivos de minimizar o custo
das obras e o impacto ambiental, e maximizar o benefício energético.

BACIA do Rio Potência


Inventariada
(MW)
Araguaia 310
Aripuanã 2.530
Branco 1.049
Jari 1.363
Juruena 8.949
Tibagi 461
Total 14.662
* A bacia não dispõe de AHE economicamente viáveis.

O inventário é uma etapa anterior e necessária para servir de base para


os estudos de viabilidade de uma usina hidrelétrica, e, posteriormente, para a
inclusão deste projeto nos leilões de energia.

Após um período de escassos investimentos em novos Inventários, o


desenvolvimento desses estudos pela EPE foi uma iniciativa para contribuir, no
longo prazo, com o aumento da oferta de projetos para atendimento ao
crescimento do país.

52
A participação ativa da EPE no desenvolvimento dos estudos e a
pesquisa de grandes bacias foram fatores que contribuíram para identificação
do aproveitamento ótimo, num compromisso da empresa com o interesse
público.
Para elaboração desses estudos de inventário foram contratadas, pela
EPE, através de licitações públicas, consultorias especializadas como: CNEC
Worley Parsons Engenharia S.A., Themag Engenharia, Concremat Engenharia,
Hydros Engenharia e Engevix.
Os estudos de inventário englobaram levantamentos planialtimétricos,
hidrométricos e geológico-geotécnicos, entre outros, e estudos de engenharia
tais como: cartográficos, hidrometeorológicos, geológico-geotécnicos,
energéticos e ambientais.
Os estudos energéticos de todas as bacias inventariadas foram
desenvolvidos internamente pela Superintendência de Planejamento de
Geração (SGE) e envolveram etapas de dimensionamento energético, análise
de viabilidade econômico-energética de projetos, avaliação econômica e
energética de alternativas de divisão de queda e definição da ordem de
prioridades para a construção dos projetos, segundo o critério econômico-
energético.
Foram inúmeros os desafios, incluindo a complexa logística,
necessidade de negociação com órgãos ambientais e Fundação Nacional do
Índio (Funai), e a aplicação de aperfeiçoamentos metodológicos do novo
Manual de Inventário, entre outros.

53
3.2.2. Estudos de Viabilidade Técnica e Econômica de
Empreendimentos

Após a aprovação de um Inventário hidrelétrico de bacia hidrográfica, os


aproveitamentos da alternativa selecionada podem ser estudados
individualmente, por meio de estudos de viabilidade, com um nível de
detalhamento e aprofundamento maior. Um estudo de viabilidade aprovado
pela Aneel é pré-requisito para que uma usina hidrelétrica possa participar dos
leilões de energia, sendo desenvolvido concomitantemente com o Estudo de
Impacto Ambiental e o Relatório de Impacto ao Meio Ambiente (EIA/RIMA).
Também a partir de 2005, a EPE iniciou diversos estudos de viabilidade
de usinas hidrelétricas.
Num primeiro grupo de projetos, foram estudadas as usinas da Bacia do
rio Teles Pires, no Mato Grosso e Pará: São Manoel; Teles Pires; Sinop e Foz
do Apiacás. Essas hidrelétricas totalizam mais de 3 mil megawatts de potência
e as três primeiras já foram contratadas em leilões de compra de energia de
novos empreendimentos de geração.

54
Usinas Hidrelétricas da Bacia do Rio Teles Pires

O desenvolvimento dos estudos de viabilidade desses empreendimentos


hidrelétricos envolveu uma série de desafios para a equipe técnica da EPE,
principalmente por se tratar de locais com grandes dificuldades de acesso.
Durante a execução dos serviços de campo, por exemplo, foram necessárias
intensas negociações com proprietários para permitir o acesso às áreas dos
levantamentos. No caso dos levantamentos cartográficos foi utilizada a técnica
de perfilamento a laser, tecnologia ainda pouco difundida na época, que
proporcionou elevado ganho de qualidade aos dados obtidos.
Para a realização dos estudos de viabilidade, a EPE contou com o apoio
de consultorias especializadas com vasta experiência em projetos de usinas
hidrelétricas, sempre objetivando identificar a melhor concepção de arranjo da
usina considerando os aspectos energéticos, econômicos e ambientais.

55
Os estudos energéticos foram desenvolvidos pela EPE e neles se
destaca a avaliação das consequências na geração de energia da Usina
Hidrelétrica Sinop, quando se consideram restrições de nível de reservatório
para preservar os aspectos sazonais naturais do rio Teles Pires. Este trabalho,
além de compor o Estudo de Viabilidade Técnica e Econômica (EVTE),
subsidiou o artigo premiado como melhor trabalho no XXVIII Congresso
Nacional de Grandes Barragens, no tema “Soluções compatíveis com a
proteção e melhoria do meio ambiente”.
Dentre os estudos de viabilidade desenvolvidos pela EPE, destaca-se o
da UHE Teles Pires. Este empreendimento, localizado entre os estados do
Mato Grosso e Pará, possui potência instalada de 1.820 MW e quando
concluída, em 2015, fornecerá energia suficiente para abastecer uma cidade do
porte do Rio de Janeiro.
A UHE Teles Pires foi leiloada em 2010 e sua energia foi comercializada
por R$ 58,35/MWh, a menor tarifa já registrada para a fonte hídrica em leilões
de energia nova.

Local previsto para a UHE Teles Pires

Este empreendimento também se destaca por possuir um reservatório


pequeno quando comparado à potência instalada, apresentando uma relação

56
de 0,08 quilômetros quadrados de área alagada por MW, uma das menores
dentre as hidrelétricas brasileiras.

Arranjo da UHE Teles Pires

Para escoamento da energia das usinas da bacia do rio Teles Pires a


EPE planejou a construção de mais de 1.600 quilômetros de linhas de
transmissão, além de quatro subestações e outros reforços necessários. As
linhas, com tensão de 500 kV, vão se estender desde Paranaíta, no norte do
Mato Grosso, até a divisa entre os estados de São Paulo e Minas Gerais.
Cabe ressaltar que os estudos de inventário de bacias e os estudos de
viabilidade das usinas hidrelétricas realizados pela EPE fizeram parte do
Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 1 e 2) do Ministério do
Planejamento, Orçamento e Gestão.
Atualmente, a EPE está desenvolvendo os estudos de viabilidade da
UHE Castanheira, no rio Arinos, UHE Bem Querer, no rio Branco e UHE
Prainha, no rio Aripuanã. Todas essas usinas foram selecionadas nos
respectivos estudos de inventário realizados pela própria EPE.

57
Usina Hidrelétrica UF Potência
(MW)
Bem Querer RR 708
Prainha AM 796
Castanheira MT 192

3.2.3. Estudos de Troncos de Transmissão

O grande potencial hidráulico remanescente no Brasil encontra-se na


região Norte e representa uma geração competitiva e de importância
significativa para a garantia do atendimento ao crescimento do mercado
brasileiro de energia elétrica. Por outro lado, o grande centro de carga do país
está localizado na região Sudeste. Assim, o grande desafio da transmissão é o
transporte desses elevados montantes de potência, associado às longas
distâncias envolvidas (superiores a 2 mil quilômetros), com reflexos
significativos nas expansões das interligações regionais existentes e nos
reforços demandados nos sistemas receptores do Sistema Interligado Nacional
(SIN). Acrescente-se a isso o fato de que as soluções recomendadas pelo
planejamento devem observar a necessidade de minimizar os impactos
socioambientais.
Ao longo dos anos, a EPE desenvolveu inúmeros estudos para
expansão do sistema de transmissão brasileiro. Dentre eles, podemos destacar
os troncos de transmissão planejados para o transporte do excedente de
energia da região amazônica para os centros de carga das regiões Sudeste e
Nordeste.

Usinas do Rio Madeira


Localizadas próximas a Porto Velho, capital do estado de Rondônia, as
usinas de Santo Antônio (3.150 MW + 417 MW) e Jirau (3.300 MW + 450 MW),
perfazem uma geração total de 7.317 MW, e iniciaram sua operação em março
de 2012 e setembro de 2013, respectivamente.
Para a integração desses aproveitamentos hidrelétricos ao SIN foi
realizado pela EPE, a partir de 2005, um amplo e detalhado estudo de

58
planejamento para concepção de um sistema de transmissão com capacidade
para transmitir a potência não consumida localmente (Acre e Rondônia),
através de um tronco de transmissão com cerca de 2.400 quilômetros até
Araraquara, no estado de São Paulo. O estudo contou com a participação de
um grupo expressivo de técnicos da EPE e de algumas das principais
companhias do setor elétrico brasileiro, que culminou com a licitação de dois
bipolos em corrente contínua, na tensão de +600 kV, além de reforços nos
sistemas de transmissão receptores.
Tal projeto representou uma mudança nas perspectivas de aplicação da
tecnologia de transmissão em corrente contínua em alta tensão (CCAT) para
grandes blocos de energia no Brasil. A despeito do projeto pioneiro de
transmissão em corrente contínua de Itaipu, na década de 1970, e do potencial
para aplicação dessa tecnologia no país, trinta anos se passaram até o
desenvolvimento deste novo projeto, que retomou a alternativa da transmissão
em corrente contínua no planejamento da expansão do SIN.

Sistema CCAT ± 600 kV entre as SE Porto Velho 500 kV e SE Araraquara


500 kV

59
Usinas do Teles Pires
A bacia do rio Teles Pires é caracterizada por um potencial hidrelétrico de
cerca de 3,5 mil MW, distribuídos em cinco usinas: Sinop (400 MW), Colíder
(300 MW), São Manoel (700 MW), Teles Pires (1820 MW) e Foz do Apiacás
(230 MW), localizadas no norte do Mato Grosso e na fronteira deste estado
com o Pará.
Para integração desse conjunto de usinas ao Sistema Interligado Nacional,
envolvendo distâncias de cerca de 1.000 km, a EPE desenvolveu estudos de
planejamento que resultaram na recomendação de um sistema de transmissão
composto por três linhas de transmissão em 500 kV, desde a localidade de
Paranaíta até Ribeirãozinho, além de reforços no sistema de transmissão
receptor. Foram ainda recomendadas duas subestações intermediárias em
Cláudia e Paranatinga, que possibilitarão futuras conexões com os sistemas
locais.

Este sistema foi planejado de forma a ser licitado e implantado de modo


escalonado, compatível com o ritmo em que as usinas fossem sendo licitadas.
Isto foi muito importante na medida em que, por demora no licenciamento
ambiental da UHE São Manoel, esta foi licitada três anos após a primeira usina
Teles Pires.
Como essa região não dispunha de malha de transmissão suficiente para
receber futuras e potenciais integrações de geração, o critério da integração
regional foi mandatório na concepção da solução recomendada, que está
programada para entrar em operação a partir de 2015.

60
Sistema de Transmissão em 500kV entre as SEs Paranaíta e Ribeirãozinho

Usina de Belo Monte


A UHE Belo Monte localiza-se na região de Volta Grande do rio Xingu,
próximo às cidades de Altamira e Vitória do Xingu, no estado do Pará, e terá
capacidade de 11 mil MW, constituindo-se na maior usina em território
brasileiro.
Os estudos de planejamento para ampliação do tronco de transmissão
de energia elétrica de interligação Norte/Nordeste – Sudeste/Centro-Oeste,
necessária à integração de Belo Monte, resultaram na recomendação de um
sistema em corrente contínua em alta tensão, em ± 800 kV, composto por dois
bipolos de 4 mil MW de potência, cada, e comprimentos da ordem de 2,4 mil
quilômetros. Esses estudos foram realizados pela EPE e sob sua coordenação,
junto com significativo número de especialistas de diversos agentes de
transmissão do país, contando com a colaboração dos principais fabricantes de
equipamentos, além de especialistas internacionais em projeto e construção de
linhas de transmissão de corrente contínua.
Esse sistema foi planejado para ser inserido no SIN a partir da região
Norte, na subestação Xingu 500 kV, onde serão instaladas duas estações

61
conversoras, chegando ao Sudeste em dois pontos distintos. O primeiro, será a
estação conversora a ser instalada na futura subestação Estreito 500 kV, em
Minas Gerais, na fronteira com São Paulo, formando o primeiro bipolo CCAT
com linha de transmissão com cerca de 2.140 quilômetros de extensão. O
segundo, será a estação conversora que será instalada na futura SE Terminal
Rio 500 kV, próxima a Nova Iguaçu, região metropolitana do Rio de Janeiro,
formando o segundo bipolo, com linha de transmissão com cerca de 2.439
quikômetros.
Em fevereiro de 2014, o bipolo entre Xingu e Estreito foi arrematado em
leilão promovido pela Aneel, com forte deságio, e sua data de entrada em
operação é fevereiro de 2018. O bipolo entre Xingu e Terminal Rio, previsto
para janeiro de 2019, foi licitado em 2015. Juntos, esses dois bipolos
aumentarão a capacidade de intercâmbio entre as regiões Norte e Sudeste em
8 mil kV.

Sistema CCAT ± 800 kV entre a SE Xingu 500 kV e as SEs Estreito e


Terminal Rio 500 kV

A utilização de um sistema de transmissão em corrente contínua (CCAT)


na tensão de 800 kV será inédita no Brasil, e corresponde ao novo padrão
internacional para transmissão de grandes blocos de energia em longas

62
distâncias, adotada em países de dimensões continentais como China e Índia.
Além disso abre novas perspectivas para sua utilização em aproveitamentos
hidrelétricos futuros na região Amazônica.
O sistema concebido apresenta ainda algumas características
importantes para a operação do SIN. Duas delas se destacam. Uma por se
configurar como o primeiro sistema CCAT do SIN inserido no sistema de
corrente alternada, o que permitirá maior controle da operação do tronco de
transmissão. Outra é a possibilidade de transmissão reversa, do Sul para o
Norte em épocas de seca na região Amazônica.

Usina de São Luiz do Tapajós


A UHE de São Luiz do Tapajós, com cerca de 8 mil MW de capacidade,
é o próximo grande projeto de geração na Amazônia. Seu sítio está localizado
nos municípios de Itaituba e Trairão, no Pará. Essa usina faz parte do
Complexo Hidrelético do Tapajós que prevê, adicionalmente, a implantação de
outras quatro usinas: Jatobá, no rio Tapajós, e Cachoeira do Caí, Jamanxim e
Cachoeira dos Patos, no rio Jamanxim. Essas cinco usinas agregarão mais de
12 mil MW ao sistema elétrico brasileiro, sendo em um dos maiores complexos
hidrelétricos do Brasil e do mundo.
Os estudos para a integração dessas usinas, em particular da UHE São
Luiz do Tapajós, primeira usina do complexo prevista para entrar em operação,
é o desafio hoje enfrentado pela EPE, que tem a atribuição de planejar um
sistema de integração suficientemente robusto e flexível capaz de transpor a
dificuldade das grandes distâncias envolvidas (da ordem de 2,5 mil
quilômetros), associada ao montante significativo de energia a ser transportado
e à incerteza quanto à implantação das demais usinas planejadas do
Complexo.

63
Sistema em estudo para escoamento do Complexo Hidrelétrico do
Tapajós

3.2.4. Estudos Para Fontes Renováveis

3.2.4.1. Etanol e Biodiesel


A Superintendência de Derivados de Petróleo e Biocombustíveis da
Diretoria de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (SDB/DPG) é a responsável pelos
estudos relacionados ao etanol e ao biodiesel. Os principais estudos relativos a
essas duas fontes renováveis de energia incluem: projeções da demanda total
de etanol, projeções da oferta de etanol e biodiesel no Brasil, projeções das
exportações brasileiras de etanol e a análise da logística de transporte e
infraestrutura de escoamento da produção de etanol e biodiesel.

64
As projeções são realizadas para um horizonte de dez anos, nos Planos
Decenais de Expansão de Energia (PDE) e para cenários de prazos mais
longos nos Planos Nacionais de Energia (PNE).
Para dar suporte aos trabalhos de projeções relacionados ao etanol e ao
biodiesel, foram desenvolvidos, pela própria equipe da EPE, vários modelos:
Modelo Para Projeção da Demanda Energética da Frota de Veículos Leves
(etanol, gasolina e eletricidade); Modelo para a Projeção da Oferta Brasileira de
Etanol e o Modelo de Previsão de Demanda de Biodiesel.
O Modelo para Projeção da Demanda Energética da Frota de Veículos
Leves caracteriza-se como um modelo contábil de uso final. A partir dele, são
calculadas as demandas de gasolina (A e C), de etanol anidro e de etanol
hidratado, sendo também contabilizado o consumo de GNV e de eletricidade
por veículos leves (automóveis e comerciais leves). Para o segmento de
veículos flex fuel, dada a competitividade entre a gasolina C e o etanol
hidratado, as demandas desses dois combustíveis são calculadas
conjuntamente, ou seja, calcula-se, inicialmente, a demanda de combustível
em “gasolina-equivalente” e, posteriormente, segmenta-se essa demanda em
duas parcelas, correspondentes a gasolina C e a etanol hidratado (tomando
como base o market share estimado entre estes combustíveis). A projeção da
demanda de um dado tipo de combustível é obtida, relacionando-se a
respectiva frota circulante com a distância média anual percorrida e com a
eficiência média dos veículos.
Tal modelo permite ainda segmentar a frota de veículos leves por
categoria de porte (automóvel ou comercial leve) e tipo de tecnologia (veículos
a combustão interna, híbridos, híbridos plug in e elétricos), possibilitando,
assim, avaliar o efeito de mudanças estruturais, tecnológicas e políticas no
consumo de energia.

65
Estrutura do Modelo de Projeção da Demanda Energética da Frota de
Veículos Leves da EPE

Em relação ao Modelo para a Projeção da Oferta Brasileira de Etanol,


para levantar a capacidade de moagem de cana-de-açúcar e de produção de
etanol e açúcar -- dados de entrada necessários--, criou-se um banco de dados
de usinas produtoras de etanol e açúcar (Banco de Dados do Setor
Sucroalcooleiro) para uso interno. Este banco de dados contem cadastradas
todas as usinas sucroalcooleiras existentes no Brasil, tanto as unidades em
operação, quanto as unidades em implantação e os novos projetos. Para cada
usina cadastrada há uma série de informações, tais como: nome e razão social;
localização; capacidade instalada de moagem de cana; tipo de usina (mista /
dedicada); capacidade de produção de etanol (anidro / hidratado); capacidade
instalada de produção de açúcar; histórico de moagem, entre outras.

66
O Banco de Dados do Setor Sucroalcooleiro, desenvolvido pela EPE,
possui todas as unidades sucroalcooleiras do Brasil cadastradas.

Para cada usina cadastrada no Bando de Dados do Setor


Sucroalcooleiro da EPE, há uma série de informações como nome e razão
social, localização, capacidade instalada de moagem de cana e
capacidade de produção de etanol e açúcar, entre outras.

67
Além de utilizar as informações do Banco de Dados do Setor
Sucroalcooleiro, o modelo considera também a área plantada de cana-de-
açúcar, seu ciclo (cortes e renovação) e seus fatores de produção, como:
produtividade (tonelada de cana por hectare), qualidade da cana (sacarose por
tonelada de cana) e índice de transformação industrial (quantidade de sacarose
gasta para a fabricação de etanol e açúcar).
Já o Modelo de Previsão de Demanda de Biodiesel tem como objetivo
projetar o consumo desse biocombustível além do percentual obrigatório,
estabelecido pela Lei 11.097/05. O modelo calcula o consumo espontâneo de
biodiesel com base na atratividade financeira, uma vez que o principal motivo
identificado para que qualquer consumidor venha a utilizar biodiesel além da
obrigatoriedade é que este seja mais barato que o óleo diesel. Além disso, o
modelo permite investigar a possibilidade da autoprodução do biocombustível
por cooperativas rurais do setor agropecuário, para as diferentes regiões
geográficas do Brasil.
Para dar suporte a esse modelo e a outros estudos, a EPE desenvolveu
um banco de dados das usinas produtoras de biodiesel para uso interno. Esse
banco de dados inclui todas as usinas de biodiesel existentes no Brasil, tanto
as unidades em operação, quanto as em implantação, bem como os novos
projetos. Sobre cada usina há informações como: nome e razão social;
localização; capacidade instalada de produção de biodiesel; benefício do Selo
Combustível Social (SCS), entre outras.

68
O Banco de Dados do Setor de Biodiesel, desenvolvido pela EPE, possui
todas as unidades do Brasil cadastradas.

Além desses estudos e modelos, foram desenvolvidos outros trabalhos,


entre os quais se destacam a projeção de produção de açúcar (que impacta
diretamente a sacarose destinada à produção de etanol) e estudos para
utilização de biomassa de cana-de-açúcar para geração de energia elétrica.
Assim, os estudos desenvolvidos pela EPE, contribuem de forma
substancial para o planejamento energético nacional, norteando as escolhas do
país com vistas ao desenvolvimento eficaz do setor brasileiro de
biocombustíveis.

3.2.4.2. Biomassa

A biomassa teve muitos avanços como insumo energético do Brasil


nesses últimos anos. Estudos da EPE inventariaram as diversas fontes, as
tecnologias aplicáveis a cada utilização e identificaram as principais barreiras a
serem vencidas. Hoje, a biomassa já figura como principal fonte renovável da
matriz energética nacional, respondendo em 2014 por cerca de 27% da
produção de energia primária do país e 24% na oferta interna de energia.

69
É possível observar a crescente participação desta fonte na oferta de
energia de maneira competitiva a partir da criação do Novo Modelo do Setor
Elétrico, em 2004. Com a implantação do Novo Modelo, a EPE estabeleceu as
regras para cadastramento e habilitação técnica nos Leilões de Energia, além
de auxiliar na formulação de um preço-teto adequado para as usinas à
biomassa, como feito posteriormente para eólica e solar.
A participação dessas usinas nos leilões vem ocorrendo de forma
significativa e, somadas às que contribuem também através do Ambiente de
Contratação Livre (ACL), totaliza mais de 200 unidades exportadoras de
energia.
Condições climáticas e de solo favoráveis do país, aliados a incentivos
governamentais também foram fundamentais para fomentar o crescimento da
biomassa. Contribuíram para isso a existência de um mercado competitivo,
descentralizado e com o uso mais racional da energia, além de linhas de
financiamento diferenciadas para o setor, leilões para facilitar conexões de
usinas à rede (como as Instalações Compartilhadas de Geração – ICGs).

Dentre as diversas fontes de biomassa que compõem a matriz nacional,


a cana-de-açúcar merece destaque, sendo responsável por 18% da produção
de energia primária e de 16% da oferta interna de energia. O bagaço da cana é
a principal fonte do setor energético, e ocupa o segundo lugar no setor
industrial, destacando o uso como insumo no segmento de alimentos e bebidas
(BEN, 2015).
A lenha que, na década de 70, chegou a representar 46% do consumo
final de energia do país, responde atualmente por cerca de 6% desse consumo
em 2014. Os setores que mais utilizam esse insumo energético são o
residencial (principal consumidor), seguido do industrial e do agropecuário.
O carvão vegetal, em 2014, representou apenas 1,6% do consumo final
de energia do país, sendo 85% utilizados no setor industrial, 12% no
residencial e 2% no comercial. No setor industrial, as produções de ferro-gusa
e aço e de ferro ligas respondem por aproximadamente 95% do consumo total
de carvão vegetal, com uso simultâneo como agente redutor e fornecimento de
energia.

70
A biomassa contribui com aproximadamente 8% na geração de energia
elétrica nacional. A bioeletricidade gerada com o bagaço da cana de açúcar
responde por mais de 90% do total ofertado. Usinas de cavaco de madeira,
capim elefante, casca de arroz, além de resíduos avícolas e urbanos também
compõem este panorama de aproveitamento existente, contudo de forma mais
tímida.
As palhas das culturas agrícolas, de elevado potencial como insumo
energético, assim como outras fontes pouco aproveitadas por ora, podem
ampliar sua participação no cenário energético nacional. As principais forças
motrizes para esta evolução são a complementaridade aos ciclos hidrológicos,
no caso da eletricidade, e a competitividade do biometano para a substituição
dos combustíveis fósseis líquidos no setor de transporte, somando-se aos
biocombustíveis etanol e biodiesel no esforço brasileiro para a mitigação de
emissões de gases responsáveis pelo aquecimento global.
Certamente, o futuro mostrará que a visão adotada pela EPE de
acreditar na biomassa como fonte segura para o planejamento auxiliará no
crescimento sustentável do Brasil, o que contribuirá para atingir a meta
planejada pelo país de ter uma geração de energia 20% renovável, além das
hidrelétricas, em 2030.

71
3.2.4.3. Energia Eólica
A EPE teve participação ativa na criação de condições para a
participação da fonte eólica nos leilões de energia a partir de 2008, e mais
decisivamente em 2009, ano em que foi promovido o primeiro leilão exclusivo
para esta fonte e que marcou o início da inserção em grande escala das
eólicas, que antes estavam circunscritas ao Proinfa.

Para tanto, a EPE coordenou a elaboração de um modelo para


contratação que refletisse as particularidades dessa fonte, especialmente a
variabilidade da geração em função das condições do vento.

72
A EPE também estabeleceu as regras para cadastramento e habilitação
técnica nos leilões de energia eólica, bem como discutiu com MME, agentes e
BNDES condições e premissas que subsidiam seus estudos para a proposição
de um preço-teto adequado.
Diante de uma forte competição, os preços contratados no Leilão de
Energia de Reserva (LER) de 2009 surpreenderam e sinalizaram o grande
aumento de competitividade da fonte nos anos seguintes. As eólicas já são a
segunda fonte mais contratada nos leilões de energia no Brasil, tendo atingido,
em 2015, mais de 14 mil Gigawatts (GW) de capacidade instalada contratada.
Os leilões dessa fonte começaram em 2009, quatro anos após o primeiro leilão
de energia no âmbito do Novo Modelo do Setor Elétrico.

3.2.4.4. Energia Solar


Desde 2012, a EPE vem se dedicando a estudar condições para a
inserção da energia solar na matriz energética, particularmente por meio de
leilões de energia.
Já em 2013, usinas solares puderam participar dos Leilões A-3 e A-5,
apesar de ainda não serem competitivas em relação às eólicas. O
cadastramento de mais de 150 projetos, todavia, foi importante para sinalizar o
grande potencial dessa fonte. Diante da crescente competitividade da energia
solar no mercado mundial nos últimos anos, são boas as perspectivas de sua
inserção na matriz brasileira nos próximos anos.

73
Células de filme fino - Fonte: Deltaenergie

Da mesma forma que fez com a eólica, a EPE se dedicou a criar bases
para participação da fonte solar nos leilões. Foram publicadas as instruções de
cadastramento e estudados modelos de contratação compatíveis com a
natureza da geração solar, que foram postos em prática ainda em 2014.
Inúmeras reuniões com associações setoriais, empreendedores,
pesquisadores, entre outros, foram realizadas, a fim de discutir a visão de
diferentes agentes e consolidar o conhecimento técnico para formulação de
políticas e análise de projetos. O apoio Deutsche Gesellschaft für Internationale
Zusammenarbeit (GIZ) no âmbito do acordo de cooperação Brasil-Alemanha,
trazendo conhecimento de especialistas internacionais para interagir com a
equipe da EPE, foi de relevante importância neste processo.

3.2.5. Avaliação Ambiental de Áreas Sedimentares

A Avaliação Ambiental de Áreas Sedimentares (AAAS) foi instituída pela


Portaria Interministerial MME/MMA n0 198, de 5 de abril de 2012, disciplinando
sua relação com o processo de outorga de blocos exploratórios de petróleo e
gás natural, localizados nas bacias sedimentares marítimas e terrestres, e com
o licenciamento ambiental dos respectivos empreendimentos e atividades.
A AAAS é um processo baseado em estudo multidisciplinar, com
abrangência regional, utilizado pelos Ministérios de Minas e Energia (MME) e
do Meio Ambiente (MMA) como subsídio ao planejamento estratégico de
políticas públicas, que, a partir da análise do diagnóstico socioambiental de
determinada área sedimentar e da identificação dos potenciais impactos
associados às atividades ou empreendimentos de exploração e produção de

74
petróleo e gás natural, subsidiará a classificação da aptidão da área avaliada
para o desenvolvimento das referidas atividades ou empreendimentos. Além
disso, definirá as recomendações a serem integradas aos processos
decisórios relativos à outorga de blocos exploratórios e ao respectivo
licenciamento ambiental.
Assim, conforme a portaria supracitada, o primeiro objetivo da AAAS é
de “subsidiar ações governamentais com vistas ao desenvolvimento
sustentável e ao planejamento estratégico de atividades ou empreendimentos
de exploração e produção de petróleo e gás natural”. Portanto, a avaliação
ambiental AAAS apresenta cunho estratégico para o planejamento energético
e ambiental do país.
O instrumento central da AAAS é o Estudo Ambiental de Área
Sedimentar (EAAS), o qual deve promover a análise de uma determinada área
sedimentar, considerando os recursos de petróleo e gás natural,
potencialmente existentes e as condições e características socioambientais da
mesma, em função dos impactos e riscos ambientais associados às atividades
petrolíferas. O MME é o responsável, direta ou indiretamente, pela elaboração
do EAAS e pela operacionalização das consultas públicas.
As áreas sedimentares nas quais serão admitidas atividades de
exploração e produção de petróleo e gás natural, enquanto ainda não forem
submetidas à AAAS (período de transição), serão definidas a partir de
manifestação conjunta do MME e do MMA.
Em outubro de 2012, a EPE participou, no MME, da primeira reunião
para tratar da seleção de áreas sedimentares a serem abrangidas pela AAAS e
da proposta de áreas a serem outorgadas no período de transição.
Coube à Superintendência de Petróleo e Gás da Diretoria de Petróleo,
Gás e Biocombustíveis (SPG/DPG) a realização de estudos para proposta de
áreas com potencial para outorga no período de transição, com base em dois
estudos fundamentais da EPE: o Zoneamento Nacional de Recursos de Óleo e
Gás (ZNMT) e o Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE), através das
previsões de produção de petróleo e gás natural na área da União. A
Superintendência de Meio Ambiente da Diretoria de Estudos Econômico-
Energéticos e Ambientais (SMA/DEA) foi a responsável pelos estudos cujo

75
objetivo era apresentar uma proposta da EPE para a indicação de áreas a
serem submetidas à AAAS. A proposição de áreas para realização da
avaliação ambiental considerou tanto a presença de recursos petrolíferos nas
bacias sedimentares brasileiras quanto a potencialidade de conflitos no
processo de licenciamento ambiental.
Em novembro de 2012 a EPE encaminha ao MME a Nota Técnica
“Proposta Para Realização das Avaliações Ambientais de Áreas
Sedimentares”, elaborada pela SMA/DEA e, em dezembro do mesmo ano a
Nota Técnica “AAAS – Proposta de Áreas Para Outorga na Transição”,
elaborada pela SPG/DPG.
Na primeira Nota Técnica a EPE indicou sete áreas sedimentares
prioritárias para a realização da AAAS, por apresentarem alto potencial de
recursos petrolíferos e grande possibilidade de ocorrência de conflitos. Ao
comparara as características dessas sete áreas sedimentares, a EPE efetuou
uma classificação, em ordem de prioridade, de execução da avaliação
ambiental.
Na segunda Nota Técnica a EPE recomendou as áreas sedimentares
para outorga de blocos exploratórios de petróleo e gás natural no período de
2014 a 2018. Cada área foi detalhada em função: da expectativa do tipo de
fluido (petróleo e/ou gás não associado); do nível de intensidade e atividade
exploratória; do nível de prospectividade; do nível de evidência direta de
hidrocarbonetos; da necessidade de conhecimento da bacia sedimentar; do
nível da existência de infraestrutura de abastecimento e da possibilidade de
existência de recursos não convencionais.
Isso prova que a EPE teve importante participação na proposição de
áreas para licitação de blocos exploratórios na fase de transição, e na
indicação de áreas para realização de estudos socioambientais, no contexto da
AAAS, contribuindo, mais uma vez, para o planejamento do setor de petróleo e
gás natural do Brasil.
Por fim, em novembro de 2014, a ata de reunião do Comitê Técnico de
Acompanhamento (CTA) da bacia sedimentar do Solimões, indicou a EPE
como executora do Estudo Ambiental de Área Sedimentar (EAAS) desta área.

76
3.2.6. Estudos Estratégicos

3.2.6.1. Renovação das Concessões


Em 2008, o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE)
determinou a participação da EPE em um grupo de trabalho para analisar o
futuro das concessões de serviços de energia elétrica com vencimento a partir
de 2015. Esse grupo é composto por representantes da Casa Civil da
Presidência da República, do Ministério de Minas e Energia, do Ministério da
Fazenda, do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão e do Ministério
do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e da Aneel.
Ao governo coube elaborar uma proposta que, sem macular contratos
(uma vez que a prorrogação dos contratos de concessão era opcional),
permitisse simultaneamente que as empresas não perdessem parte importante
de seus ativos de geração e transmissão e viabilizasse a redução do custo da
energia para o país.
Assim, em setembro de 2012, foi editada a Medida Provisória 579,
posteriormente convertida na Lei 12.783, de janeiro de 2013, com o objetivo de,
além de reduzir os encargos setoriais em favor dos consumidores finais,
capturar antecipadamente2 os benefícios decorrentes da amortização dos
empreendimentos e instalações de energia elétrica cujas concessões3 foram
outorgadas antes da publicação da Lei nº 8.987, de 1995, e não licitadas.
Entre as diversas condições para a renovação das concessões de
geração e de transmissão, duas tiveram como base estudos da EPE: o cálculo
do valor da indenização para os ativos não totalmente amortizados ou
depreciados e o cálculo da tarifa de remuneração dos custos de operação e
manutenção (O&M) dos empreendimentos de energia elétrica com concessão
renovada.

2
A comercialização dessa energia por meio de Leilão de Energia Existente no fim de 2012, de acordo com a exposição
de motivos da MP 579, dificultaria a captura antecipada do benefício resultante da amortização e depreciação dos
ativos, além de “poder comprometer o fornecimento de energia, dado o exíguo prazo para sua realização”.
3
À geração de energia elétrica correspondiam 20 contratos de concessão com vencimento entre 2015 e 2017,
totalizando 22.341 MW de potência instalada. Em relação à transmissão de energia elétrica, nove contratos de
concessão terminavam em 2015, totalizando 85.326 km de linhas de transmissão, dos quais 68.789 km são
componentes da Rede Básica do SIN. Por fim, no caso da distribuição de energia elétrica, 44 contratos de concessão
terminavam entre 2015 e 2016, representando aproximadamente 35% do mercado atendido.

77
Em relação ao valor da indenização para os ativos dos
empreendimentos de geração4 não totalmente amortizados ou depreciados, a
EPE ficou responsável pelos estudos para a definição desse valor, para o que
se utilizou a metodologia do Valor Novo de Reposição ( VNR).
O VNR refere-se ao valor do bem novo de um ativo, idêntico ou similar
ao avaliado, obtido a partir do banco de preços de referência e considerando as
características técnicas e os quantitativos estabelecidos no Projeto Básico,
fornecido pelo concessionário.
Em relação ao cálculo da tarifa de remuneração, a EPE preparou Nota
Técnica visando a subsidiar o MME no processo de estabelecer uma
remuneração a ser incluída nas tarifas de prestação de serviços de Operação e
Manutenção (O&M) de geração e transmissão das empresas de energia
elétrica cujas concessões foram objeto de renovação.

3.2.6.2. Novo Modelo Regulatório Para Atividades de


Exploração e Produção de Petróleo e Gás
Em 13 de julho de 2007, a Petrobras comunicou ao mercado a
conclusão da análise dos testes de formação do segundo poço na área
denominada Tupi (atualmente, campo de Lula), no bloco BM-S-11, localizado
na Bacia de Santos. Com base no referido teste, a Petrobras estimou um
volume recuperável de petróleo na área da ordem de 5 bilhões a 8 bilhões de
barris de óleo equivalentes (boe). Adicionalmente, a companhia realizou uma
avaliação regional do potencial petrolífero da sequência geológica denominada
pré-sal, que se estende ao longo das bacias do Sul e Sudeste brasileiros. Na
avaliação, concluiu-se que os volumes recuperáveis estimados de óleo e gás
para os reservatórios do pré-sal poderiam elevar significativamente as reservas
recuperáveis de hidrocarbonetos em bacias brasileiras, colocando o Brasil, em
médio prazo, entre os principais países produtores e exportadores de petróleo
e gás natural do mundo.
No dia 8 de novembro de 2007, a partir das informações fornecidas pela
Petrobras sobre a descoberta do campo gigante de Tupi no pré-sal da Bacia de

4
A ANEEL ficou responsável pela definição do VNR das instalações de transmissão.

78
Santos, o CNPE, reunido em sessão extraordinária, decidiu retirar 41 blocos da
Nona Rodada de Licitação da ANP, em função de sua proximidade com a área
recém-descoberta.
Com as perspectivas de novas grandes descobertas na seção do pré-sal
das Bacias de Santos, Campos e Espírito Santo, o Governo Brasileiro decidiu
também reestudar o modelo regulatório do país para as atividades de
exploração e produção de petróleo e gás natural, de forma a possibilitar que a
sociedade brasileira pudesse tirar o melhor proveito possível desta nova
realidade. Neste sentido, o MME foi encarregado de apresentar ao CNPE uma
proposta de alteração do referido Modelo, conforme estabeleceu o Art. 40 da
Resolução nº 06, de 08 de novembro de 2007 deste Conselho.
Para cumprir tal resolução, o MME estabeleceu um plano de ação, cuja
execução requeria trabalhos técnicos da EPE. Assim, foi criado um grupo de
trabalho composto por representantes da Secretaria de Petróleo, Gás Natural e
Combustíveis Renováveis, do MME, e da EPE, para elaborar propostas de
adequação do marco legal para o setor de petróleo e gás natural, por meio do
projeto denominado internamente de APEP – Atualização da Política de
Exploração e Produção de Petróleo e Gás Natural.
O Projeto APEP envolvia as seguintes ações:
Etapa “A” - Levantamento de dados e estudo comparativo das formas de
contrato para exploração de petróleo e gás natural em nível mundial;
Etapa “B” - Elaboração de proposta de um novo modelo (fiscal,
regulatório, legal) para as áreas de grande reserva/alta produtividade de
petróleo e gás natural;
Etapa “C” - Análise das perspectivas de reservas e de produção futura,
com base no novo potencial petrolífero do país.

Na Etapa “A”, foi elaborado o documento “Aspectos conceituais dos


sistemas regulatórios de exploração e produção de petróleo e gás natural e a
experiência internacional”, cujo material acabou servindo de base para a
publicação do livro “Marcos Regulatórios da Indústria Mundial do Petróleo”.
Quanto à Etapa “B”, o seu objetivo era “avaliar as alterações necessárias
no arcabouço legal, quer sejam infralegais, legais e/ou constitucionais, como

79
forma de o país garantir o melhor aproveitamento dos recursos encontrados em
seu subsolo, à luz dos novos paradigmas que se apresentam para o setor de
petróleo e gás natural”.
Ainda nesta etapa foi também desenvolvido o Simulador de Avaliação de
Participações Governamentais (SIAGOV) para avaliar o modelo existente de
arrecadação das participações governamentais previstas na Lei do Petróleo,
assim como as propostas de modelagem para diferentes alternativas e regimes
fiscais, considerando vários cenários de preços de petróleo.
Já na Etapa “C”, foi elaborado o documento “Perspectivas sobre
reservas e produção de petróleo e gás natural da nova província petrolífera do
País – Pré-sal”, que apresentou estimativas preliminares de possíveis reservas
na área do pré-sal e simulou possíveis produções de petróleo e gás natural, a
partir de avaliações de recursos descobertos e não-descobertos no pré-sal das
bacias de Santos, Campos e Espírito Santo.
Em 17 de julho de 2008, o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou
uma portaria criando uma Comissão Interministerial, com a finalidade de
“estudar e propor as alterações necessárias à legislação, no que se refere à
exploração e à produção de petróleo e gás natural nas novas províncias
petrolíferas descobertas”. A Comissão era composta pelos ministros Dilma
Rousseff (Casa Civil), Paulo Bernardo (Planejamento) e Guido Mantega
(Fazenda); e pelos presidentes da Petrobras, José Sergio Gabrielli; do BNDES,
Luciano Coutinho; e da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e
Biocombustíveis (ANP), Haroldo Lima.
Esta comissão incorporou os estudos realizados no âmbito do Grupo de
Trabalho MME/EPE e criou diversos novos grupos de trabalho, constituídos por
especialistas pertencentes a estas instituições, para analisar diferentes
aspectos relacionados ao novo marco regulatório. O Presidente da EPE,
Mauricio Tiomno Tolmasquim, foi convidado a participar das reuniões de
trabalho e prestar assessoramento à Comissão.
Os trabalhos de elaboração do novo marco regulatório foram intensos.
Como suporte à atuação de Mauricio Tolmasquim na comissão, a equipe
técnica da EPE desenvolveu diversos estudos e análises sobre o tema, tais
como: compilação da regulação internacional para contabilização de reservas

80
de petróleo e gás natural; levantamento e análise das formas de outorga;
análise de alternativas para o marco legal de petróleo; resumo da legislação de
criação da Empresa Petoro (Noruega); proposta de criação de nova empresa
para exercício do monopólio de E&P de petróleo e gás natural; estudo para
subsidiar alterações necessárias na legislação, no que se refere à distribuição,
aos estados e municípios, dos royalties oriundos das atividades de exploração
e produção de petróleo e gás natural.

A EPE teve participação importante nos estudos sobre a exploração e a


produção de petróleo e gás natural, sob o regime de partilha de produção
em áreas do pré-sal.

Dadas a riqueza dos estudos desenvolvidos no âmbito da EPE durante o


processo de discussão do novo marco regulatório do petróleo e a escassez de
obras específicas sobre o tema no Brasil, em benefício da transparência e da
democracia, considerou-se oportuno divulgar o trabalho técnico realizado.

81
A tarefa de consolidação, sistematização e aprofundamento do material
existente se mostrou muito mais complexa do que inicialmente pensada. Desta
forma, o Presidente da EPE convidou o professor Helder Queiroz Pinto Junior,
especialista em regulação do Instituto de Economia da Universidade Federal de
Rio de Janeiro (IE/UFRJ), atualmente diretor da ANP, para auxiliá-lo na
organização do livro "Marcos Regulatórios da Indústria Mundial do Petróleo".
Devido a sua profundidade e abrangência, a obra, tornou-se referência
tanto entre especialistas e profissionais da indústria nacional, quanto para
estudantes e pesquisadores nas universidades brasileiras. Tal obra consolida,
ainda que parcialmente, o esforço técnico realizado pela EPE para prover as
melhores informações ao Governo Brasileiro sobre as experiências
internacionais em marcos regulatórios da indústria mundial do petróleo.

O livro “Marcos Regulatórios da Indústria Mundial do Petróleo”.

82
Lançamento do livro “Marcos Regulatórios da Indústria Mundial do
Petróleo”.

3.2.6.3. Previsões de Produção de Petróleo e Gás Natural


Para a Rodada de Licitação do Pré-Sal na Modalidade de Partilha da
Produção – Área de Libra
Em 22 de maio de 2013, o Governo Federal, por intermédio da
Resolução CNPE nº 4, autorizou a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural
e Biocombustíveis a promover, em outubro daquele ano, a Primeira Rodada de
Licitação sob o regime de partilha de produção na área do pré-sal, na qual
ofertava, exclusivamente, a estrutura conhecida como prospecto de Libra, na
Bacia de Santos.
Para contribuir para sua tomada de decisão acerca dos parâmetros
técnicos e econômicos dos contratos de partilha de produção para essa
rodada, o Ministério de Minas e Energia solicitou à EPE a elaboração de curvas
de produção de Libra, considerando um conjunto de informações e orientações
fornecidas sobre o referido prospecto e seu modelo de produção.
Nos estudos da EPE, foram consideradas três hipóteses para geração
das curvas de produção, uma para cada estimativa de Volume Recuperável
Final (VRF): Baixo (P10), Moderado (P50) e Alto (P90). Em todas as hipóteses,

83
assumiu-se o mesmo modelo de produção, ainda que com diferenças no
número de plataformas do tipo. As curvas finais das previsões de produção de
petróleo e gás natural foram constituídas pela soma das curvas individuais para
cada FPSO. As curvas de produção foram geradas para o estudo com base no
Simulador de Produção (SIMGEP) desenvolvido na própria EPE.
Dessa forma, em 25 de junho de 2013, o Governo Federal, por
intermédio da Resolução CNPE nº 5, aprovou os parâmetros técnicos e
econômicos dos contratos para a Primeira Rodada de Licitações de blocos
exploratórios de petróleo e gás natural sob o regime de partilha de produção.

3.3. LEILÕES

3.3.1. Leilões de Contratação da Expansão da Geração

Um dos fundamentos do atual marco regulatório do mercado brasileiro


de energia elétrica é a manutenção da segurança energética, através da
cobertura da demanda de energia (consumo médio) e de potência (consumo
máximo) pela garantia física de energia e de potência dos empreendimentos de
geração, que lastreia os contratos de fornecimento de energia e potência.
Para garantir a contratação de energia de forma econômica para os
consumidores cativos e assim atender ao princípio de modicidade tarifária
simultaneamente ao de segurança energética, o novo marco regulatório do
mercado brasileiro de energia elétrica estabeleceu a contratação regulada de
energia e potência pelos consumidores cativos através de leilões públicos.
A EPE tem exercido funções importantes para a realização dos leilões
de contratação de geração, também chamados de “leilões de energia”, tanto
para o Sistema Interligado Nacional quanto para os Sistemas Isolados da
região Norte. As principais atividades da Empresa para a realização desses
certames são:

84
 Revisão da das Portarias do MME que regulamentam os leilões, das
minutas dos editais e dos contratos de concessão e de compra e venda de
energia.
 Cadastramento e Análise Técnica dos Empreendimentos: verificação da
consistência técnica dos projetos. Este é um trabalho de grande monta
tendo em vista a enorme quantidade de empreendimentos que se
cadastram em cada leilão. Para sistematizar o processo de análise técnica
dos empreendimentos, a EPE desenvolveu o Sistema de Acompanhamento
de Empreendimentos de Geração de Energia – Aege, que armazena de
forma organizada os principais dados técnicos fornecidos pelos
empreendedores.
A documentação requerida para a análise técnica inclui diversos
documentos como o projeto de engenharia e seu memorial descritivo do
projeto; o registro do projeto na Aneel; a licença ambiental; os documentos
de comprovação do direito de uso do terreno, de acesso à rede elétrica, de
acesso aos recursos hídricos; e as certificações de capacidade de geração
e de medições (para projetos eólicos e solares).
As informações requeridas para o processo de análise técnica de cada
fonte de energia são detalhadas nas “Instruções para Cadastramento”
preparadas pela EPE, e disponibilizada para o público no seu endereço
eletrônico (www.epe.gov.br). Além disso, a EPE e os empreendedores
mantêm contato constante por um canal institucional via e-mail
(aege@epe.gov.br).
O resultado da análise técnica é informado pela EPE aos empreendedores
através de carta (oficio). Caso o projeto tenha sido aprovado, é emitido um
“certificado de habilitação técnica”. Em caso de recusa, a carta informa os
motivos da não habilitação e o empreendedor pode recorrer da decisão de
forma administrativa.
Vale ressaltar que embora o processo de análise técnica feito pela EPE seja
extremamente trabalhoso, e o certificado de habilitação técnica seja um
documento valioso, ele não é cobrado e não há nenhum compromisso de o
projeto participar do leilão para o qual ele foi cadastrado.

85
 Cálculo da garantia física de energia e de potência dos empreendimentos
concorrentes ao leilão: como dito acima, a garantia física é o lastro que
representa a quantidade máxima de energia a ser contratada, sendo,
portanto, uma variável crítica do mercado de energia elétrica. A EPE calcula
a garantia física de energia e a de potência de todos os empreendimentos
que concorrem aos leilões.
 Projeção dos preços futuros dos combustíveis: o custo da geração
termelétrica é fortemente dependente dos preços dos combustíveis.
Consequentemente, a qualidade da comparação econômica entre
empreendimentos termelétricos no leilão depende da evolução dos preços
dos combustíveis ao longo da vida útil do empreendimento. A EPE
desenvolveu uma metodologia para projeção do preço futuro (horizonte de
dez anos) dos combustíveis, com base nos preços internacionais realizados
e em projeções de preços correlacionados. As projeções dos preços futuros
dos combustíveis são publicados pela EPE antes da realização dos leilões,
para que os empreendedores possam informar os respectivos Custos
Variáveis Unitários (CVU) de geração.
 Cálculo do preço teto: o preço teto é uma variável crítica dos leilões de
energia, pois deve ser suficientemente alto para atrair os competidores, mas
o mínimo necessário para viabilizar economicamente os empreendimentos.
O preço teto calculado pela EPE serve como referência para o MME
estabelecer o valor que será aplicado e informado nos editais dos leilões.
 Alteração das características técnicas dos Empreendimentos: os
equipamentos dos empreendimentos de geração são comprados após a
contratação nos leilões e, em diversos casos, por conta das negociações
feitas entre os empreendedores e os fabricantes, por exemplo, as
características dos equipamentos adquiridos diferem daquelas supostas nos
projetos. Nesses casos, os projetos alterados são submetidos à EPE para
avaliar o impacto das alterações sobre a Garantia Física e a Potência
Instalada.
O primeiro leilão de energia nova sob o Novo Modelo do Setor Elétrico
ocorreu em dezembro de 2005, tendo sido contratadas 49 novas usinas, sendo

86
sete hidrelétricas. O volume financeiro envolvido nesses novos contratos foi de
R$ 68,4 bilhões.
Desde então, o número de empreendimentos cadastrados nos leilões
tem aumentado expressivamente, assim como a variedade de fontes de
geração de energia, que atualmente abrangem, além das termelétricas
(biomassa, gás natural, carvão mineral, entre outras) e hidrelétricas/ Pequenas
Centrais Hidrelétricas (PCH), eólicas, heliotérmicas e fotovoltaicas, Ou seja,
além de induzir a competição e, portanto, contribuir para a modicidade tarifária,
os leilões de energia também têm sido úteis para induzir e viabilizar a entrada
de novas fontes de geração na matriz eletro-energética brasileira.
Os gráficos mostram a efetividade dos leilões de contratação de energia,
tanto no que se refere ao montante contratado como quanto à diversidade das
fontes e também a redução do custo médio esperado da energia contratada:

Montante da Energia Contratada nos Leilões

87
Preço da Energia Contratada nos Leilões

O caso da geração eólica é notável, pois o seu custo era muito alto
antes do primeiro Leilão de Contratação de Energia de Reserva (1º LER),
realizado em 2009. O preço de contratação da geração eólica no âmbito do
Proinfa era de R$ 240,98 o MWh, em valores atualizados para 12/2009, e no
1º LER a energia eólica foi contratada a R$ 148,39 o MWh. Ressalva-se no
entanto que o Proinfa teria necessariamente custos mais elevados não apenas
pelo pioneirismo, mas pela exigência de índice de nacionalização.
O sucesso da contratação da geração eólica também pode ser avaliado
pela capacidade de produção de equipamentos eólicos que se instalaram no
Brasil nos últimos anos, em decorrência do sucesso de contratação desta fonte
nos leilões de energia.
Em 2013, no Leilão A-5 de dezembro, houve um recorde de projetos
cadastrados: foram 670 projetos eólicos, 152 solares fotovoltaicos, dez solares
heliotérmicos, 11 hidrelétricas, 40 pequenas centrais hidrelétricas (PCH) e 46
termelétricas (duas biogás, 22 biomassa, seis carvão e 16 gás natural),
totalizando 929 projetos e mais de 35 GW de oferta.

88
Já em 2014, o número de empreendimentos cadastrados superou o de
2013: foram 2.602 cadastrados para os leilões A-3, A-5 e LER.

Número de Projetos nos Leilões de Novos Empreendimentos de Geração

3.3.2. Leilões de Contratação da Expansão da Transmissão

A atual legislação do setor elétrico determina que o processo de outorga


de concessão das novas instalações de transmissão seja efetuado através de
licitação ou autorização, a depender da natureza da obra. Em se tratando de
ampliações do sistema, o mecanismo a ser adotado é a licitação, cabendo a
ressalva de que, a partir de 2001, as licitações têm ocorrido apenas na
modalidade leilão.
Desde a criação da EPE até dezembro de 2015 foram realizados 34
leilões de comercialização de energia, sendo 20 de energia nova; oito de

89
energia de reserva; três de fontes alternativas; e três leilões especiais (Santo
Antonio, Jirau e Belo Monte).
Nesses leilões foram contratados e viabilizados 1.003 empreendimentos,
com capacidade instalada de 80,4 mil megawatts.

TRANSMISSÃO
A EPE exerce também funções fundamentais no processo que culmina
com os leilões de contratação da transmissão. De acordo com o novo modelo
setorial, todas as novas instalações a serem integradas à Rede Básica devem
estar recomendadas por estudos de planejamento.
O processo se inicia com a elaboração do relatório R1, no qual a EPE
indica os empreendimentos ou ampliações que compõem a melhor alternativa
do ponto de vista técnico, econômico e sócio ambiental para equacionar uma
necessidade do sistema.
Na sequência, os empreendimentos são organizados em dois
documentos gerenciais da EPE, conforme a sua data de necessidade: (i) o
Programa de Expansão da Transmissão (PET), que contempla as obras
determinativas, definidas para os primeiros seis anos do Plano Decenal de
Energia (PDE) vigente; (ii) e o Plano de Expansão de Longo Prazo (PELP), que
apresenta as obras indicativas, recomendadas para além do sexto ano do
decênio em curso.
Em uma etapa posterior, o MME emite o documento Consolidação de
Obras de Transmissão, com a indicação de todos os empreendimentos que
devem seguir para a outorga, através de licitação ou autorização, após uma
compatibilização da visão do planejamento determinativo da EPE (PET) com a
visão operativa do ONS (PAR – Plano de Ampliações e Reforços).
Em se tratando de licitações, é requerida ainda a elaboração de três
documentos complementares, eventualmente desenvolvidos ou coordenados
pela EPE, para uma melhor caracterização de cada empreendimento com
vistas à instrução do processo licitatório realizado pela Aneel:
(i) Relatório R2, com o detalhamento técnico da instalação;
(ii) Relatório R3, com a caracterização e análise socioambiental do
corredor selecionado para o empreendimento;

90
(iii) Relatório R4, com a definição dos requisitos do sistema circunvizinho
de forma a se assegurar uma operação harmoniosa entre a nova
obra e as instalações existentes.
Caso sejam necessários ajustes/adequações nas obras sinalizadas no
relatório R1 da EPE, após a realização dos relatórios R2, R3 e R4, o processo
deve ser realimentado com a revisão de tal documento, conforme o esquema a
seguir:

De 2005, quando a EPE iniciou as suas atividades técnicas, até


dezembro de 2014 foram emitidos cerca de 500 R1, cujas recomendações
foram ofertadas nos 28 leilões de transmissão realizados nesse período. Esses
números evidenciam a importância da Empresa para a realização de todos
esses leilões.
O sucesso da contratação da transmissão ao longo desses anos pode
ser aferido não apenas pelo quantitativo de linhas licitadas (Figura 1), como
principalmente pelos deságios observados nos leilões (Figura 2).
Vale destacar, dentre os leilões já realizados, os de número 007/2008 e
001/2013, em que foram licitados os sistemas de integração das usinas do Rio
Madeira (Santo Antônio e Jirau) e Belo Monte, respectivamente, este último
colocando o Brasil na vanguarda da transmissão em corrente contínua.

91
Quantitativos de Linhas de Transmissão Licitadas

Deságios Verificados nos Últimos Leilões de Transmissão

92
3.4. ESTUDOS EM CONJUNTO COM OUTROS AGENTES

3.4.1. Comissão Permanente de Análise e Acompanhamento do


Mercado de Energia Elétrica (Copam)

A EPE vem realizando desde 2005 estudos de suporte ao planejamento


energético brasileiro, dentre os quais se destacam os estudos subsidiários do
Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE) e do Plano Nacional de Energia
(PNE).
O desenvolvimento desses estudos compreende um processo no qual
se insere, como da maior relevância, a atividade de acompanhamento da
conjuntura e do mercado de energia elétrica. Por um lado, tal acompanhamento
não pode ser feito sem a participação dos agentes de consumo, notadamente
as concessionárias de distribuição e de transmissão. Por outro, seus
resultados, disponibilizados para todos esses agentes, permite a cada um
compor a necessária visão global agregada e sistêmica do mercado,
contribuindo para ajuste e alinhamento de expectativas de evolução do
mercado.
Com objetivo de organizar e sistematizar a atividade de
acompanhamento do mercado de energia elétrica, no ano de 2006 foi
constituído um grupo técnico, coordenado pela EPE, intitulado Comissão
Permanente de Análise e Acompanhamento do Mercado de Energia Elétrica
(Copam), que conta com a participação de representantes dos agentes de
consumo, e tem como principais objetivos:
1. Compilar e consolidar estatísticas sobre o comportamento do mercado
realizado de energia elétrica;
2. Analisar o comportamento do mercado de energia elétrica em face da
conjuntura econômica e das particularidades de cada área de atuação das
concessionárias;
3. Divulgar as informações consolidadas, em nível de região geográfica
e subsistema elétrico, relativas ao mercado brasileiro de energia elétrica.

93
Nesse contexto, a EPE gerencia uma vasta base de dados composta por
informações fornecidas pelas concessionárias, e que contempla dados
realizados e previstos relacionados ao consumo de energia elétrica e número
de consumidores, em base mensal, desagregados por classe e segmento de
consumo.
Tais informações, de suma importância para os estudos do Plano
Decenal de Energia (PDE), compõem a série histórica do mercado de energia
elétrica e servem como indicadores nos estudos desenvolvidos pela EPE
visando o estabelecimento das necessidades energéticas pelos próximos dez
anos, sendo fundamentais para compor a estratégia da expansão da oferta
(geração e transmissão) do sistema.
Anualmente são apresentadas as premissas e cenários de crescimento
macroeconômico e demográfico aos agentes de mercado, fornecendo
subsídios que poderão ser utilizadas por eles nas projeções decenais de seus
mercados e definição de estratégias em futuras contratações de energia.

3.4.2. Revisões Quadrimestrais da Demanda de Energia Elétrica

As revisões quadrimestrais da demanda de energia elétrica consistem


em estudos realizados em conjunto com o Operador Nacional do Sistema
Elétrico (ONS), que objetivam rever periodicamente as projeções do mercado e
da carga de energia e de demanda do Sistema Interligado Nacional. Os dados
servem de base para o planejamento da operação energética.
As revisões das projeções de mercado são baseadas nos estudos de
conjuntura econômica, em eventuais revisões das perspectivas econômicas e
setoriais, e nas análises de mercado realizadas no âmbito da Comissão
Permanente de Análise e Acompanhamento do Mercado de Energia Elétrica
(Copam), da qual participam os diversos agentes setoriais do mercado de
energia elétrica.
As reuniões da Copam ocorrem periodicamente e proporcionam
proximidade da EPE com os agentes de mercado, os quais também se
beneficiam da visão setorial proporcionada nestes encontros.

94
Os resultados deste produto são utilizados nos estudos do ONS que se
destinam ao planejamento da operação energética do SIN, impactando a
formação dos preços de energia de curto prazo, o chamado Preço de
Liquidação das Diferenças (PLD), constituindo, portanto, informação
fundamental no arranjo institucional do setor elétrico.
Habitualmente, são realizadas duas revisões ao longo do ano, uma no
primeiro e outra no segundo quadrimestre, salvo a necessidade de realização
de uma revisão extraordinária, que pode ser motivada por fatores relevantes
que tenham alterado significativamente a trajetória do mercado.

3.4.3. Pesquisa da Frota de Veículos Leves (PEFROTA)

A Superintendência de Derivados de Petróleo e Biocombustíveis da


Diretoria de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (SDB/DPG) elabora permanentes
pesquisas e estudos com o objetivo de aperfeiçoar e atualizar seus modelos e
parâmetros. A calibração periódica dos parâmetros dos modelos de demanda
de transporte relacionados ao tamanho e ao perfil da frota veicular, ao padrão
de consumo de combustível, às distâncias percorridas e à eficiência dos
veículos são essenciais para que os resultados representem a realidade do
país.
Nesse contexto, o relacionamento e a colaboração com os demais
agentes da esfera pública e privada são muito relevantes, em especial, com
instituições de referência nacional, como o Instituto Brasileiro de Pesquisa e
Estatística (IBGE). Em 2012, ocorreram contatos entre a SDB/DPG e a
Coordenação de Treinamento e Aperfeiçoamento do IBGE, quando a SDB
tomou conhecimento do projeto do Curso de Desenvolvimento de Habilidades
em Pesquisa (CDHP).
O CDHP é oferecido pelo IBGE, através da Escola Nacional de Ciências
Estatísticas (ENCE), e é parte integrante de seu Plano Anual de Treinamento.
Baseado no Survey Skills Development Course, do Statistics Canada, o curso
se propõe a fornecer uma visão abrangente de todo o processo de
planejamento e execução de uma pesquisa domiciliar por amostragem. Em

95
curto espaço de tempo, a partir de demanda específica apresentada por um
cliente, os alunos do CDHP desenvolvem um projeto, coletam dados e
apresentam os resultados de uma pesquisa realizada em condições reais. O
CDHP tem duração de seis semanas, totalizando 240 horas. A coleta de dados
prevê sete a dez dias de trabalho de campo.
O principal objetivo do CDHP é atualizar e qualificar o corpo técnico do
IBGE e, eventualmente, funcionários de outras instituições nas habilidades de
pesquisa. Sendo o curso uma decorrência da missão institucional do Instituto,
que é retratar o Brasil com informações necessárias ao conhecimento de sua
realidade e ao exercício da cidadania, vislumbrou-se a possibilidade de uma
parceria, contribuindo para que a EPE possa realizar estudos e pesquisas de
alto nível de qualidade.
Ainda em 2012, a SDB/DPG apresentou ao IBGE/CDHP a proposta de
realizar uma pesquisa piloto para a avaliação da frota circulante de veículos
leves e seu perfil. Após diversas reuniões entre as duas instituições, o tema
proposto pela EPE foi escolhido pelo Conselho Diretor do IBGE e a Empresa
tornou-se a “cliente” da 27ª edição do curso. Definiu-se, assim, o tema do 27º
CDHP: PEFROTA – Pesquisa da Frota de Veículos Leves.
Houve várias etapas de discussão com os instrutores do CDHP,
culminando com a apresentação do tema proposto pela EPE aos alunos em
abril de 2013, dando início à execução da pesquisa piloto. Em maio de 2013,
ocorreu a Cerimônia de Formatura da turma do 27º CDHP, com a presença de
representantes da EPE e a apresentação dos resultados da pesquisa e
posterior emissão de Relatório Técnico.
Firmado este contato e, dado o sucesso desta primeira pesquisa piloto,
fomos novamente aceitos para participação na 28ª edição do CDHP. O tema
proposto para esta edição, inédito no Brasil, foi uma pesquisa sobre a
Transferência do Transporte Individual para o Transporte Coletivo (Ptrans). A
pesquisa piloto permite avaliar o potencial da transferência modal em um
determinado conglomerado urbano. Este tipo de estudo é essencial para as
projeções de demanda consideradas no PDE e no PNE, para o planejamento
de investimentos em diferentes modos de transporte, bem como para a
avaliação da eficiência energética e quantificação de emissões e dos créditos

96
de carbono relativos a projetos desse gênero. A cerimônia de apresentação
dos resultados da pesquisa ocorreu em dezembro de 2014.
A EPE tem todo o interesse em ampliar estas pesquisas piloto para
estudos de âmbito nacional, de forma que os dados destes valiosos
instrumentos de investigação possam ser utilizados na elaboração de políticas
e estimativas de consumo de energia no médio e longo prazos. Deste modo, a
EPE e o IBGE estão em tratativas para que tais pesquisas sejam incluídas na
"Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua)”.

97
CONSIDERAÇÕES FINAIS

MAURICIO TOLMASQUIM

Acredito que, nos próximos anos, a EPE continuará desempenhando o


papel relevante que exerceu no último decênio. O primeiro desafio é ampliar o
quadro de colaboradores. Não precisamos analisar com profundidade as ações
e a atuação da EPE para reconhecer que o volume de realização é bastante
expressivo para um grupo relativamente pequeno. Apesar de contar com um
quadro técnico altamente qualificado, posso afirmar que a EPE está
subdimensionada para o trabalho que tem.
Na área de petróleo, gás e biocombustíveis, o desafio é sair de uma
atuação predominantemente analítica para consolidar a ação no planejamento
setorial. Nessa direção, a EPE é agora formalmente responsável pelo
planejamento da instalação de gasodutos do país por meio do Plano Decenal
da Malha de Transporte Dutoviário (Pemat), realizou o zoneamento nacional
das áreas de produção de óleo e gás, que ganhará nova versão, assim como
se prepara para realizar as avaliações ambientais das bacias sedimentares,
importante para instruir os leilões de novas áreas de exploração e produção.
Para o setor elétrico, o PNE 2050 vai promover a discussão de
elementos portadores de futuro, como o carro elétrico, a energia solar, as
tecnologias para armazenamento de energia, etc. A EPE terá que se ocupar do
planejamento das usinas hidrelétricas na região Norte, e de alternativas para a
geração, face as dificuldades para a exploração do potencial hidrelétrico com
reservatórios de acumulação.
Mas o legado mais importante talvez seja a forma como foi estruturada a
EPE. Independente do governo e de sua diretoria, a EPE é permanente. Tem
um corpo técnico de altíssimo nível. Trabalha com metodologias em constante
aperfeiçoamento. Então, podemos afirmar que, passados doze anos da
instalação e da consolidação da EPE, o Brasil voltou a ter uma estrutura de
planejamento energético capaz de antecipar e tratar de questões de interesse
da Nação, de modo a garantir o pleno abastecimento da energia que o país
precisa para crescer.

98
Coordenação Geral
Mauricio Tiomno Tolmasquim

Coordenação Executiva
Estudos econômico-energéticos e ambientais: Ricardo Gorini de Oliveira
Estudos de energia elétrica: Amilcar Gonçalves Guerreiro
Estudos de petróleo, gás e biocombustíveis: Gelson Baptista Serva
Gestão Corporativa: Álvaro Henrique Matias Pereira

Coordenação do Livro Nossa História:

José Mauro Ferreira Coelho – Superintendente Adjunto – SGB


Juarez C Lopes – Assessor de Diretoria – DEE
Pedro Americo Moretz-Sohn David - Consultor Técnico I – SGE
Virna Lisley Schaedler – Assessora de Diretoria – DGC
Carlos Henrique Brasil de Carvalho – Assessor da Presidência – PAP
Denise Luna - Assessora de Comunicação - PR

Colaboração:

Alexandre Gaspari – Jornalista

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