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ALLAN SALES

EU POSSO APRENDER
1ª EDIÇÃO

FORTALEZA
Allan de Magalhães SALES
2014
SUMÁRIO

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CAPÍTULO

CAPÍTULO

CAPÍTULO
PÁG. 05 PÁG. 08 PÁG. 11

4 5 6
CAPÍTULO

CAPÍTULO
CAPÍTULO

PÁG. 14 PÁG. 18 PÁG. 22

7 8 9
CAPÍTULO

CAPÍTULO

CAPÍTULO

PÁG. 25 PÁG. 28 PÁG. 32

10 11 12
CAPÍTULO

CAPÍTULO

CAPÍTULO

PÁG. 35 PÁG. 38 PÁG. 41

13
CAPÍTULO

PÁG. 44
INTRODUÇÃO
Nesse livro trabalharemos o lado motivacional do
aprendizado do violão.

O objetivo principal é tirar do caminho as barreiras


psicológicas que surgem durante o processo de
aprendizado.

Muitas dessas barreiras são sutis, invisíveis. Passam


despercebidas e causam muitos estragos.

As situações descritas nesse livro são criações minhas


baseadas em mais de 15 anos ensinando violão a
todos os tipos de alunos.

Os nomes que utilizei são fictícios e não tem relação


alguma com a realidade.

Espero que a leitura dessas páginas possa ajudar


aqueles que buscam um aprendizado mais prazeroso
e com menos pressão.
CAPÍTULO 1
Eu posso aprender
NO COMEÇO DO APRENDIZADO AS COISAS NÃO FLUEM.
QUANTO TEMPO VOCÊ AGUENTA ESSA “NÃO FLUÊNCIA”?

Sofia já freqüentava as aulas de violão havia três meses. Ela gostava de vio-
lão, mas estava quase desistindo do curso.

Ela não conseguia aprender o novo ritmo proposto pelo professor e isso a
estava deixando irritada.

Nos primeiros ritmos tudo foi tão simples, parecia que tudo fluiria de forma
leve, mas agora complicou. Com as primeiras dificuldades o desânimo apare-

EU POSSO
ceu e ela passou a treinar muito menos.

Com a diminuição dos treinos até as lições anteriores, que já estavam domina-
das, começaram a ficar piores. Sofia começou a ter a sensação de retrocesso
no aprendizado.

Quando se matriculou no curso ela imaginou que aprenderia ra-

APRENDER
pidamente. Era como se estivesse comprando o conhecimento
com o dinheiro pago na matrícula. Nesse dia foi pra casa já
imaginando todas as possibilidades que teria com sua nova
habilidade.

Na primeira necessidade de concentração, de esforço e de pa-


ciência, Sofia desanimou.

Ela não contava com isso. O caminho para o aprendizado de-


veria ser uma reta única, sempre ascendente.

Em sua conversa com o professor ela explicou sua des-


motivação, e eles conseguiram combinar um novo modo
de estudo, algo que se encaixasse melhor no dia-a-dia
de Sofia.

Com um estudo mais organizado, reservando um tem-


po para treinar assuntos novos e diminuindo a cobran-
ça por um aprendizado rápido, os resultados foram me-
lhorando.

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Eu posso aprender

O tempo passou e Sofia não saiu do curso. Levou muito tempo ainda sem
conseguir aprender o novo ritmo, nesse intervalo até aprendeu outras coisas
novas. De tanto ouvir e praticar ela conseguiu evoluir bem e dominou o ritmo
que a estava travando, sua empolgação voltou, passava mais tempo agora to-
cando porque achava prazeroso. Novos desafios virão pela frente, e ela agora
já sabe como agir, com muita paciência.

É muito bom estudar o que já sabemos. Isso na verdade não é um estudo, é


um treino.

EU POSSO
O que realmente incomoda são assuntos novos, aqueles com os quais não
temos familiaridade.

Grande parte dos alunos costuma enxergar esses momentos difíceis como
falta de aptidão, ou como um bloqueio (eu não sei por que gostam tanto dessa
palavra). Na verdade é uma falta de paciência com o aprendizado, uma pres-

APRENDER
sa exagerada de ver as coisas fluindo.

Respire fundo e faça mais uma vez.

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CAPÍTULO 2
Eu posso aprender

NÃO ESPERE POR APOIO EXTERNO OU COMENTÁRIOS


POSITIVOS. SUA MOTIVAÇÃO TEM QUE VIR DE VOCÊ, NÃO
DOS OUTROS.

Janete tem uma filha adolescente, Julia. Elas moram juntas em um pequeno
apartamento.

Julia acha graça das aulas de violão de sua mãe, na verdade ela adora fazer
piada sobre as suas dificuldades no aprendizado.

Quando Janete erra alguma coisa Julia logo percebe e ri, além de fazer

EU POSSO
pequenas brincadeiras do tipo: “Ainda bem que a senhora é advogada mãe!
Pois se dependêssemos desse seu violão pra viver passaríamos fome.”

Janete fingia que não ligava, mas aquilo ia tirando sua motivação, ia simples-
mente apagando a magia do aprendizado.

Com o tempo Janete começou a faltar às aulas, sempre por algum

APRENDER
motivo sem importância.

Até o dia em que desistiu totalmente de tocar, acreditan-


do que realmente não tinha aptidão para música, mesmo
recebendo elogios constantes de seu professor sobre sua
musicalidade e percepção musical (que eram excelentes).

Já ouvi muitos relatos de mães que param de tocar porque


o filho adolescente debocha de seus treinos. Também
muitos alunos me relatam que sua esposa ou marido não
apóiam seus estudos musicais.

Se você realmente quer aprender tem que parar de


dar atenção a essas coisas. Isso é apenas uma forma
de transferir para os outros a responsabilidade pelo
seu não-aprendizado.

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Eu posso aprender

Você também precisa ser imune a piadas sem graça. Elas sempre vão aconte-
cer e você não pode levá-las a sério. Comigo já aconteceu muito e já aprendi
a relevar, foi um aprendizado incrível.

Eu gosto de tocar um pouco de piano, e alguns dizem “Você como pianista é


um ótimo violonista”. Nossa! Muito engraçado mesmo hein?

O que fazer?

Nada. Eu continuo tocando meu piano de vez em quando e isso me faz muito
bem.

EU POSSO
Esse comentário não vai mudar em nada minha vida, mas para um iniciante
pode ser o fim de tudo, um drama real. Quem fez a piada nem se lembra mais,
mas quem é o alvo pode lembrar para o resto da vida.

Tome cuidado, não deixe que isso te afete tanto.

APRENDER

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CAPÍTULO 3
3
Eu posso aprender

TROQUE A FILOSOFIA DA PRESSA PELA FILOSOFIA DO PRAZER:


“QUANTO TEMPO DEMORA PRA APRENDER?” – “A VIDA TODA”

Larissa tem 16 anos.

No mês passado ela foi a uma festa de aniversário e uma de suas amigas
estava com o violão.

Ela ficou encantada com aquilo. Todos em volta de sua amiga, cantando junto
com ela, foi muito divertido. Ela queria aprender também!

Pediu aos seus pais para que pagassem um curso de violão, queria tocar

EU POSSO
daquela forma em seu aniversário também, que aconteceria dentro de alguns
meses.

Ela estava ansiosa, sonhava com os momentos que passaria cantando, e


todos achando aquilo muito divertido.

Na primeira aula perguntou ao professor: “Quanto tempo

APRENDER
demora pra aprender?”.

Ela esperava ouvir uma resposta simples, como por exemplo,


“Seis meses!”. Mas não foi isso que aconteceu.

O professor tentou argumentar que era necessário ter paciên-


cia, que leva tempo para que a habilidade se desenvolva, mas
foi inútil. Larissa continuava ansiosa.

Nas primeiras aulas ela se decepcionou muito, pois viu como


tudo aquilo era mais complicado do que imaginava, e ela na
verdade não queria praticar muito em casa, só queria mes-
mo viver aquele momento de “glória” em sua festa.

Com a falta de treinos em casa a evolução foi pequena.


O tempo foi passando, seu aniversário foi chegando
e ela percebeu que as aulas se tornaram infrutíferas.
Falou com seus pais e desistiu do curso.

Depois de algum tempo foi à casa de sua amiga que


tocava violão, e percebeu que ela era realmente apaixo-

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Eu posso aprender

nada por aquilo. Tinha revistas, acessava sites de aulas, ouvia muita música
e fazia aulas particulares. Tudo era motivo para que ela pegasse o violão e
tocasse um pouco. Ao ver isso Larissa percebeu que aquele momento de
“glória” não era tão importante para sua amiga, mas sim fazer música pelo
prazer de estar aprendendo.

Larissa resolveu voltar às aulas, agora sem pressa, pois também gostava de
música e percebeu que poderia aprender se tivesse dedicação.

Uma das perguntas mais freqüentes que recebo de meus alunos é essa:

EU POSSO
“Quanto tempo demora pra aprender?”

É impossível responder a essa pergunta.

É preciso entender que tempo de curso não quer dizer muita coisa, mas sim
tempo de prática.

APRENDER
Uma vez precisei dar uma resposta mais dura a um aluno que não conseguia
enxergar isso. Ele argumentava que em 2 anos de aula ainda não se sentia
satisfeito com os resultados.

Em nossas conversar ele deixava claro que não praticava em casa, apenas
nas aulas.

Fiz uma conta rápida: 2 anos de aula, 1 vez por sema, 1 hora por aula é igual
a 96 horas de prática.

Eu disse que fiz essas 96 horas em 3 semanas quando estava aprendendo a


tocar. Isso por que minha empolgação era tanta que passava tranquilamente
mais de 5 horas por dia tocando para tentar vencer as dificuldades.

Não tem segredo, não tem um curso mágico. É claro que um método bem
estruturado pode ajudar, e muito, mas sem a contrapartida da prática nada
pode acontecer.

Outro ponto interessante é o prazer pelo aprendizado, pois esse é infinito.


Sempre podemos evoluir. Pensando assim, a minha resposta para a pergunta
“Quanto tempo demora?” costuma ser: “A vida toda”.

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CAPÍTULO 4
Eu posso aprender

TALENTOSO X HABILIDOSO

Quando tinha 8 anos de idade, Henrique entrou em um grupo da escola que


faria aulas de violão. Eram várias crianças tendo aula simultaneamente com o
mesmo professor.

Ele estava muito animado, seu pai comprou um violão novo para ele e as aulas
começaram.

No começo todos os alunos se nivelaram, as aulas eram divertidas. Henrique


tentava tirar o som dos primeiros acordes, mas as dificuldades eram grandes.
Depois de algumas semanas a primeira música já estava saindo, ele ficou feliz

EU POSSO
com isso, mas um de seus amigos, Diego, já estava conseguindo tocar quatro
músicas, e muito bem.

Aquilo deixou Henrique intrigado. Por que o desenvolvimento de Diego era


maior que o dele? Por que ele não conseguia aprender tão rápido?

Um dia, após mais algumas semanas de curso, o professor elo-

APRENDER
giou Diego em sala de aula e disse que ele era muito talento-
so. Aquela palavra entrou na mente de Henrique com muita
força: Talentoso.

Ele pensou que não tinha como adquirir talento, já que isso
seria uma coisa inata. O seu ânimo diminuiu muito, pois não
acreditava mais no poder que tinha para aprender violão sem
ter o talento.

Após mais algumas aulas ele decidiu parar de tocar.

Henrique cresceu, estudou, se tornou um médico cirurgião


respeitado e desenvolveu várias habilidades que não ti-
nha antes. Após uma cirurgia bem sucedida alguém o
elogiou dizendo que ele era um médico muito habilido-
so. Novamente aquela palavra ficou pairando na mente
de Henrique e ele se lembrou de quando era criança.
Ele reconheceu que a habilidade para fazer cirurgias
foi adquirida após muito treino e estudo, que foi preci-

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Eu posso aprender

so passar por algumas experiências difíceis para chegar até ali, e parecia até
injusto com ele chamar isso de talento, pois na verdade aquilo não nasceu
com ele, foi preciso muito trabalho e estudo.

Ele agora entendia que a palavra correta que seu antigo professor deveria ter
utilizado para seu colega Diego era habilidoso. E essa habilidade vinha sendo
adquirida de forma mais rápida devido a vários outros fatores. Isso não deve-
ria tê-lo abalado tanto.

Nesse momento ele resolveu voltar a estudar violão, mesmo com seus 40 anos
de idade, sabendo que a habilidade pode ser adquirida através do treino e do
estudo. Ele agora seguiria seu próprio ritmo e sentiria todo o prazer de estudar

EU POSSO
algo que lhe agradasse.

É muito comum acreditar que existe um dom ou talento musical por trás de
todas as pessoas que sabem tocar instrumentos musicais.

APRENDER
Eu acho interessante algumas pessoas sustentarem essa idéia, que seria
válida apenas para algumas áreas de atuação.

Imaginemos que fosse necessário um dom para poder falar nossa língua nati-
va, o português. Só conseguiriam se expressar aqueles que nascessem com
o talento. Não adiantaria nada colocar uma criança na escola para ser alfabe-
tizada, pois sem o talento, ninguém aprenderia.

Essa idéia me soa absurda. Por que só algumas habilidades precisariam de


talento e as outras podem ser aprendidas?

Me parece mais uma tentativa de reforço do ego de alguns músicos, que


treinam de 5 a 8 horas por dia e dizem que nasceram com o dom. É muito mais
chamativo ser um iluminado do que ser um esforçado.

Sempre que toco nesse assunto alguns citam exemplos de meninos prodígio,
que aprenderam sozinhos e que aos 4 anos já faziam isso ou aquilo. Nesses
casos não podemos nos esquecer de citar o ambiente em que a criança foi
criada e suas motivações pessoais.

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Eu posso aprender

Acredito firmemente na motivação pessoal de cada um.

Uma pessoa completamente apaixonada por música pode passar mais horas
treinando do que uma que só queira um passa-tempo. Isso não é dom, é muita
vontade de aprender, é muita paixão.

Para concluir esse capítulo deixo aqui minha frase de efeito: “Qualquer pes-
soa pode aprender”.

EU POSSO
APRENDER

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CAPÍTULO 5
Eu posso aprender

PRIMEIRO SE APAIXONE, DEPOIS APRENDA

Ricardo sabia tocar violão, pelo menos era o que todos diziam. Sempre levava
seu violão para as festas e fazia sucesso. Tocava de ouvido, atendia pedidos,
lia qualquer cifra e animava o ambiente.

Ele conhecia suas próprias limitações, não estudava mais violão, não tinha
mais paciência para aprender coisas novas. Na verdade já estava até meio
enjoado das coisas que tocava, mas achava confortável continuar assim, afi-
nal, as pessoas que o ouviam tocar gostavam muito e ele se sentia bem com
isso.

EU POSSO
O que aconteceu é que ele mesmo começou a achar tudo aquilo muito chato.
As mesmas músicas, as mesmas coisas, nada de novo e nenhuma evolução.
Ele começou a tocar cada vez menos.

Ricardo já havia tentado voltar aos estudos, mas estava realmente habituado
à sua zona de conforto. Não conseguia ter paciência para estudar,
por exemplo, leitura de partituras. Não gostava do repertório

APRENDER
erudito. Também não se interessava muito por estudar harmo-
nia, teoria ou composição.

Após um ano muito improdutivo em termos de evolução musi-


cal, Ricardo resolveu tentar mais uma vez dar um passo adian-
te, mas não estava muito confiante.

No primeiro dia de aula explicou seu caso ao professor, que o


ouviu pacientemente.

Foi a primeira vez que Ricardo assumiu que o culpado pela


estagnação era ele mesmo e não seus professores antigos,
isso foi realmente muito importante.

Após ouvir todo aquele relato, o professor buscou em


sua bolsa um CD com diversas músicas instrumen-
tais (do tipo que Ricardo dizia detestar), e lhe pediu
uma “lição de casa”. Ricardo teria que ouvir todas as
músicas e escolher aquela que mais lhe agradasse,
depois disso teria que ouvir a música trinta vezes du-
rante a semana.

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Eu posso aprender

Achando tudo aquilo muito estranho ele seguiu para casa, já escutando o CD.
No início não gostou de nenhuma, mas uma das músicas lhe causou menos
desagrado, era uma peça para violão solo, que lhe parecia impossível de ser
tocada.

Após ouvir a música (que tinha cinco minutos), trinta vezes, Ricardo já havia
perdido a conta, e acabou ouvindo muitas vezes mais. Já cantarolava a mú-
sica no trabalho e já apreciava toda aquela técnica para fazer um solo tão
bonito.

Antes de terminar a semana Ricardo já havia pesquisado pelo nome do


artista e conseguiu ouvir outras músicas dele, achando todas incríveis. Aquela

EU POSSO
sensação era muito boa, como se ele estivesse descobrindo um tesouro es-
condido. A música voltava a lhe dar prazer.

Quando voltou à aula Ricardo disse ao professor qual foi sua música preferida
e contou sobre sua pesquisa. O professor então lhe mostrou um livro de par-
tituras, complicadíssimo, com todas as músicas desse compositor. Ricardo
ficou maravilhado, seria possível tocar daquela forma? Agora ele acreditava

APRENDER
e, muito mais do que acreditar, ele queria!

Os estudos iniciais foram necessários para que ele pudesse atingir seu
objetivo, mas agora tudo fazia sentido, ele estava novamente apaixonado pela
música. Fazer aquele som era a coisa mais importante da sua vida naquele
momento. No trabalho ele ficava ansioso para voltar pra casa, queria treinar,
queria aprender. Sua evolução foi incrível.

Eu, Allan Sales, como estudante, já passei por várias fases. Em vários mo-
mentos de minha caminhada estive apaixonado pelos estudos, foram épocas
incríveis. Em outras oportunidades estive apático, sem vontade de aprender
nada e, em alguns casos, sem vontade de tocar nada. Isso é normal. O Sol
não brilha o tempo todo. São ciclos naturais.

Não podemos deixar, entretanto, que a apatia se torne eterna. O que nos
torna apáticos é a falta de perspectiva musical, e isso vem, principalmente, da
pobreza daquilo que estamos ouvindo.

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Eu posso aprender

Quando ouvimos pouca música, ou só ouvimos as mesmas coisas, nos fecha-


mos para o novo. Ficamos apenas administrando aquilo que já conhecemos.
Temos medo e preguiça de nos aventurar por novos caminhos.

Basta abrirmos os olhos e, principalmente, os ouvidos, para o novo, que tudo


muda. Nesse momento temos a oportunidade de viver novas paixões, ter no-
vos ataques de motivação, daqueles que nos fazem passar horas tentando
fazer algo até conseguir.

É nessas horas que sentimos um pouquinho do que é felicidade, quando


estamos completamente apaixonados pelo que estamos fazendo nesse exato
momento.

EU POSSO
APRENDER

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CAPÍTULO 6
Eu posso aprender

RESPONSABILIZE-SE

Everton sempre quis aprender violão, mas nunca encontrou um bom profes-
sor. Sempre que se matriculava em algum curso achava diversos defeitos nos
métodos utilizados.

Algumas vezes achava que o professor só ensinava teoria, e ele queria mes-
mo era tocar. Em outras oportunidades achava que o professor exigia muitos
resultados sem antes lhe dar uma base sólida para aquilo.

A culpa era sempre do professor e do método utilizado (ou da falta de um


método).

EU POSSO
A pouca confiança que Everton depositava na capacidade dos professores
acarretava em um desempenho pobre, pois ele não se sentia motivado a es-
tudar, não acreditava que obteria resultados.

Durante uma aula em grupo um professor deu uma resposta mais


dura para Everton. Ao fazer uma explicação sobre ritmos o pro-

APRENDER
fessor solicitou aos alunos que fizessem um exercício. Ever-
ton afirmou que aquela não era a melhor forma de ensinar.
O professor, calmamente, perguntou a Everton qual seria
a melhor forma. Ele respondeu, à sua maneira, como seria
o outro método. Foi a vez do professor perguntar por que
Everton não utilizava esse método, já que sabia descrevê-lo
tão bem, e já tentava aprender violão a tanto tempo.

Everton não soube responder, voltou pra casa pensando nisso.


Percebeu que sua atitude era um tanto arrogante ao imaginar
que poderia ensinar melhor que o professor algo que ele
próprio não sabia.

Outro pensamento foi justamente uma resposta à


pergunta do professor. Por que ainda não tentei?
Estava esperando alguém me mandar fazer?

Após essas reflexões Everton continuou com suas


teorias sobre a melhor forma de aprender, mas
agora consegue absorver o máximo daquilo que os
professores lhe passam. Mesmo discordando de

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Eu posso aprender

alguns pontos ele tenta se concentrar nas possibilidades de aprendizado, e


não nas críticas ao método.

Um aluno interessado pode aprender muito com um professor ruim. Um aluno


desinteressado não aprenderá nada, mesmo com um ótimo professor.

O peso maior da responsabilidade está com o aluno, e é isso que devemos


destacar.

EU POSSO
Assumir a responsabilidade é um passo enorme no caminho do aprendizado.
A partir daí o aluno começa a aproveitar melhor cada palavra dita pelo pro-
fessor, cada movimento feito, cada exercício proposto. Ele vira uma antena,
sintonizada em qualquer possibilidade musical.

Se analisarmos uma pessoa que já toca violão veremos que ela teve contato
com várias metodologias (formais ou informais), muitos professores e parcei-
ros que lhe ensinaram algo novo. Mesmo que ela afirme ser autodidata, com

APRENDER
certeza soube aproveitar muito bem cada oportunidade de aprendizado que
teve.

O que mais deixa um professor frustrado é ver um aluno desperdiçando essa


chance. É como uma semente plantada no solo seco que rejeita a água da
chuva, por achar que não é a ideal.

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CAPÍTULO 7
Eu posso aprender

APROVEITE A PRIMEIRA ENERGIA

Arlete trabalhava o dia inteiro. Chegava em casa de noite, bem cansada. Após
fazer o jantar e tomar um bom banho pegava seu violão para praticar.

Ela não podia estender muito o treino, pois precisava acordar cedo.
No máximo teria 40 minutos.

Ela já tocava algumas músicas muito bem, gostava de tocá-las. Mas começa-
va a se sentir mal pois nas aulas não conseguia tocar as novas músicas que
o professor pedia.

Após alguns meses sem muita evolução o professor pediu para Arlete descre-

EU POSSO
ver sua rotina de treinos.

Ela disse que tocava suas músicas favoritas primeiro e depois praticava a
música nova pedida pelo professor.

A sugestão foi simples, o professor pediu para Arlete inverter a ordem do


treino, começando agora com a música nova.

APRENDER
Ela não gostou de ouvir isso, foi aí que percebeu que não gos-
tava muito de praticar a música nova.

Os resultados vieram rapidamente. Em alguns dias Arlete


nem teve tempo de praticar as músicas antigas, de tanto que
se empolgou praticando a nova.

Quando se cansava da pratica podia tocar suas músicas


antigas para relaxar, e isso era ótimo.

O professor conversou novamente com Arlete e reforçou a


importância de gastar a primeira energia com algo mais
difícil, assim a evolução seria melhor.

Todos nós fazemos isso em várias situações do dia


-a-dia. Quando ligamos o computador para trabalhar
damos uma “pequena” navegada na internet, ou uma
conferida nas redes sociais e emails, e isso acaba nos

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Eu posso aprender

levando algumas horas preciosas. No momento em que decidimos trabalhar


já estamos um pouco cansados.

Melhor seria primeiro resolver todas as pendências do trabalho para depois,


com calma, olhar as mensagens e navegar livremente, mesmo porque não
precisamos de muita energia para isso.

Com o violão acontece o mesmo. Queimar neurônios tentando fazer algo novo
cansa demais, mais confortável é tocar aquilo que já dominamos. Mas isso é
só uma enganação, podemos passar a vida toda treinando dessa forma e não
vamos aprender nada.

A dica aqui é bem simples. Ao pegar o violão, a primeira coisa que vamos

EU POSSO
treinar é uma coisa nova. Isso também é justificado pelo fato de estarmos
descansados.

É melhor fazer algo difícil estando descansado do que tentar fazer no final do
treino, já sem muitas forças.

A sua primeira energia, aquela que te fez ir pegar o violão em cima do armário,

APRENDER
deve ser utilizada para aprender algo novo.

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CAPÍTULO 8
Eu posso aprender

VOCÊ JÁ ESTÁ PRONTO

Claudia já tocava bem suas músicas preferidas. Conseguia cantar, tinha boa
voz. Ainda precisava ler as cifras para poder acompanhar as músicas pois
tinha dificuldade para memorizar tudo aquilo.

Nas aulas não tinha dificuldade alguma, estudava muito. Tudo o que o profes-
sor pedia ela conseguia fazer.

Claudia não tocava em público de forma alguma, nem para os familiares. Em


sua cabeça ainda não estava pronta para isso.

EU POSSO
Ela aguardava o momento em que se sentiria firme o suficiente para poder
tocar para os outros ouvirem. Tinha uma ansiedade que se misturava com um
medo, e por isso esse momento nunca chegava.

Essa falta de exposição gerou algumas dificuldades. Claudia não conseguia


desenvolver a percepção, não conseguia tocar alto e tinha dificul-
dades quando alguém a acompanhava cantando ou com outro

APRENDER
instrumento.

Essas habilidades, e muitas outras, são desenvolvidas nos


palcos da vida, mesmo que esse palco seja uma mesa
rodeada de familiares.

O professor insistiu para que Claudia chamasse alguém em


sua casa para cantar com ela. Foi difícil, mas ela aceitou.

Na outra semana ela relatou a experiência como um fracasso,


mas que foi muito divertido. Ela e sua irmã tentaram cantar
músicas inéditas, pesquisaram na internet outras cifras.
Claudia se arriscou em outras possibilidades rítmicas e
em acordes que ainda não conhecia. Tentou ajudar sua
irmã a entrar no ritmo, e como não conseguiu, foi obri-
gada a acompanhá-la mesmo assim.

O professor disse que aquilo que pareceu um fra-


casso foi um grande sucesso. Toda essa vivência

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Eu posso aprender

permitiu a Claudia exercitar sua percepção musical, além de possibilitar o


aprendizado de novos ritmos e acordes.

O principal de tudo foi o momento valioso que passou junto de sua irmã, e as
risadas que deram juntas.

Depois desse dia Claudia começou a ser cada vez mais ousada. Chegou a
tocar até em uma festa de amigos, tentando acompanhar outro amigo que
também tocava violão e que tinha mais experiência que ela.

Sua firmeza foi aumentando, e sua confiança também. Ela sempre esteve
pronta.

EU POSSO
Após aprender sua primeira música o aluno já está pronto para sua primeira
apresentação. Essa deve ser a filosofia do aprendizado.

Nós aprendemos para tocar, e não podemos ter medo disso.

APRENDER
Um violão, mesmo que tocando apenas uma música natalina, já faz toda a
diferença numa reunião. Todos cantam, se confraternizam, dão risadas. É pra
isso que aprendemos.

Tocar sozinho é muito mais fácil. Quando estamos com platéia as possibilida-
des de erro são bem maiores. Saber lidar com essas dificuldades é uma parte
importantíssima do aprendizado que não tem como ser ensinada na escola.

Quando uma pessoa pede pra cantar uma música que você não conhece e
você tenta tocar mesmo assim, o seu aprendizado se impulsiona. Tudo o que
você aprendeu até esse momento vai ser utilizado para tentar acertar esse
acompanhamento. É um exercício sem igual.

Outro fator importante são as horas que passamos com o violão numa situa-
ção como essa. É muito difícil ficar sozinho em casa tocando mais de 1 hora.
Em um churrasco podemos passar muito mais do que isso sem achar
cansativo.

30
Eu posso aprender

Nessas horas precisamos tocar alto, temos barulho, pessoas falando, tem que
tirar o som do violão de qualquer forma. Mais um aprendizado incrível.

Os “cantores” que você acompanha muitas vezes erram entradas, tonalida-


des e muitas outras coisas, e cabe a você perceber e tentar acompanhar. Isso
te deixa bem mais esperto.

Em resumo, digo que é indispensável que o estudante coloque em prática o


que está aprendendo, em público, mesmo que tenha acabado de começar a
estudar.

EU POSSO
APRENDER

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CAPÍTULO 9
Eu posso aprender

SOMOS RIDÍCULOS, E DAÍ?

O Sr. Tenório já havia completado 70 anos de idade. Nasceu numa cidade


pequena. Sua família não tinha muitos recursos e ele começou a trabalhar
muito cedo, ajudando seu pai na plantação. Com 17 anos saiu de sua cidade
e viajou por vários estados brasileiros em busca de uma vida melhor. Como
era muito inteligente aprendeu muitas profissões diferentes, isso o ajudou a
conseguir uma melhor condição de vida. Tornou-se eletricista e conseguiu
um bom emprego em uma grande companhia de energia. Agora já estava
aposentado e queria algo para passar o tempo, pensou logo no violão, algo
que sempre admirou.

EU POSSO
Tenório nunca teve contato direto com a música, ninguém em sua família toca-
va nenhum instrumento. Em sua infância não escutava muita música. Passava
a maior parte do tempo no campo e na plantação. Durante sua vida profissio-
nal sempre foi muito ocupado e nunca teve tempo para estudar música.

Ao se matricular em uma turma de violão, Tenório imaginava algo bem


rápido e prático, onde pudesse assimilar os conceitos, como ha-

APRENDER
via feito durante sua vida com as habilidades que havia apren-
dido. Só que foi bem diferente.

Ele era uma pessoa extremamente tímida, não se sentia


confortável tendo aula com todas aquelas pessoas muito
mais jovens que ele. Quando o professor pedia para ele to-
car, o nervosismo já crescia e ele não conseguia acertar nada.

As dificuldades rítmicas eram grandes. Para ele era muito com-


plicado acertar os tempos e coordenar todos os movimentos.

Analisando calmamente sua história podemos dizer que


a falta de contato com a música durante sua vida fize-
ram com que Tenório agora não conseguisse assimilar
com rapidez os ritmos, mas isso é normal, já que ele
não aprendeu durante a vida seria preciso aprender
agora. A única barreira era a timidez, ou o medo de
parecer ridículo na frente de outras pessoas.

O professor havia percebido as dificuldades de Te-


nório e pensou em alguns exercícios para ajudar na

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Eu posso aprender

interiorização dos ritmos. Eram jogos e brincadeiras, onde se batiam palmas


e davam saltos, tudo muito divertido e de simples execução. Exercícios que
ajudariam muito na evolução musical de Tenório, mas ele sentia muita raiva
disso, não queria ser tratado como criança, pois já era um senhor de idade.

Os outros alunos faziam as brincadeiras, se divertiam, achavam engraçado


pular, bater palmas, mas Tenório não, ele preferiu sair do grupo por não se
sentir bem.

Vendo essa situação o professor montou uma turma apenas com alunos mais
velhos, para que todos se sentissem mais à vontade. Chamou Tenório para
participar desse grupo e ele aceitou. O resultado foi excelente. Poucos desis-

EU POSSO
tiram e, no final de um ano, vários já conseguiam tocar bem o violão.

Tenório chamou o professor para uma conversa e agradeceu pela oportunida-


de de aprendizado. Agora ele queria voltar para a turma com os jovens, queria
vencer sua timidez. Foi um momento muito interessante e todos acolherem
Tenório com muito carinho.

APRENDER
A vantagem de aprender algo quando somos crianças é que não temos medo
do ridículo, apenas brincamos. Isso muda tudo.

Poder aprender música com brincadeiras é ótimo, é realmente a melhor ma-


neira. Mas alguns adultos não aceitam bem isso, preferem não aprender do
que correr o risco de parecerem ridículos.

Aqueles que não tiveram o contato inicial quando pequenos precisam muito
desse tipo de exercício, nenhuma teoria escrita vai substituir a sensação da
música. O movimento corporal e o canto são as ferramentas de interiorização
musical mais poderosas que existem.

Cantar, dançar e ouvir. Essa é a solução para o aprendizado musical, tanto


para crianças quanto para adultos de qualquer idade.

Se a música não estiver na sua cabeça ela não vai sair pelo violão, pois ele é
apenas um “instrumento” de passagem.

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CAPÍTULO 10
Eu posso aprender

APROVEITANDO O EMBALO DA EMOÇÃO

Cristiano era funcionário de um banco, trabalhava muitas horas por dia. Havia
aprendido alguns acordes quando era mais jovem e tocava algumas músicas
no violão, mas já havia muitos anos que não tocava. Já nem sabia mais onde
tinha guardado seu antigo violão.

Sua vida pessoal não ia muito bem, estava passando por uma fase difícil e
andava muito triste. Ia apenas do trabalho para casa e estava sem ânimo pra
nada.

Numa segunda feira, indo de carro para o trabalho, Cristiano ouviu no rádio

EU POSSO
uma canção muito antiga, que ouvia quando ainda era criança. Aquela músi-
ca lhe trouxe um conforto diferente, como se ele fosse transportado para uma
época em que os problemas ainda não existissem. Ele cantou muito alto no
carro e sentiu uma pequena alegria naquele momento.

Ao chegar ao trabalho procurou pela música na internet. Ficou ouvin-


do durante o dia e, apenas por uma curiosidade sem explicação,

APRENDER
resolveu procurar pela cifra dessa música para ver se seria mui-
to complicada. E era.

Ele não entendia mais aquelas cifras complexas, na verdade


nunca havia tocado nada tão difícil. Mas mesmo assim ele
imprimiu a cifra com os desenhos dos acordes.

Ao chegar em casa encontrou seu violão no porão, já com a cola


se soltando em alguns pontos e com duas cordas quebradas.
Ainda na mesma tarde conseguiu encontrar uma loja de instru-
mentos aberta e comprou novas cordas. Ele estava eufórico.

Foram 4 horas seguidas aprendendo os acordes e ten-


tando acertar as trocas. Foi um momento mágico para
Cristiano. Foram 4 horas de liberdade, onde seus pro-
blemas antigos realmente ficaram de lado. Ele cantou
a música diversas vezes e se sentiu como um grande
músico, um grande artista.

36
Eu posso aprender

Ele não voltou a estudar, não se matriculou em nenhuma escola, mas agora
criou o ótimo hábito de correr para o violão sempre que tem vontade de cantar
alguma coisa que lhe emocione. E fica tudo muito bonito. A beleza da emoção
viva que ele empresta para o violão e para sua voz.

O violão pode lhe fazer companhia?


Sim!

Ouvir música é uma terapia incrível, realmente nos leva a outro estado de es-
pírito, mas tocar é mágico. Tocar nos transforma.

EU POSSO
Isso não acontece sempre, muitas vezes tocamos por tocar, apenas como
uma repetição de movimentos. Mas quando estamos envolvidos com aquela
emoção, com aquele clima, uma música vira um vício. Ela se torna um portal
para um lugar diferente. Aproveitem essas oportunidades.

Não importa o seu nível de habilidade no instrumento, sempre é possível se

APRENDER
envolver completamente fazendo música, mesmo que apenas batucando na
mesa ou cantarolando.

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CAPÍTULO 11
Eu posso aprender

CUIDADOS ESPECIAIS

Jorge trabalhou como músico profissional por alguns anos. Depois sua vida
foi trilhando outros caminhos e ele acabou se afastando da música.

Tocava muito bem, mas já estava parado faz tempo. Seu violão ficava sempre
guardado em cima do armário e ele quase nunca pegava pra tocar. Quando
criava coragem para tocar algo não gostava do som, sentia que estava mes-
mo esquecendo das coisas que tinha aprendido.

Um dia Jorge precisou comprar um aparelho eletrônico e viu que a loja vendia
cordas para violão. Ele comprou cordas novas, sem saber muito bem por qual

EU POSSO
motivo.

Quando chegou em casa tirou as cordas do violão, limpou ele inteiro com
lustra-móveis e depois colocou as cordas novas.

Quando tocou sentiu que a sonoridade estava muito melhor. Sentiu


vontade de tocar mais. Buscou sua antiga estante e colocou no

APRENDER
quarto, para poder estudar melhor lendo as partituras. Tocou
por muito tempo, curtindo o belo som de seu violão.

Sentiu que a cadeira estava desconfortável, então buscou


uma melhor e com isso ele pode tocar por mais tempo. A ilu-
minação de seu quarto também não era muito boa, quando
ficou de noite ele sentiu dificuldade em ler as cifras e partitu-
ras. Foi então comprar uma lâmpada melhor e, dessa forma, o
estudo ficou muito confortável. O som do violão estava mara-
vilhoso.

Com o quarto todo apropriado para o treino Jorge come-


çou a treinar mais, e todo dia se dedicava pelo menos
uma hora aos estudos. Sua habilidade foi voltando aos
poucos e isso o deixou muito feliz. O violão não ficava
mais em cima do armário, agora ele tinha um suporte
apropriado e podia ficar sempre à mão, facilitando o
inicio do treino.

Jorge não voltou a ser músico profissional, pois já


tinha outra profissão, mas agora não estava mais

39
Eu posso aprender

separado de seu violão. A alegria de fazer música tinha voltado, e tudo come-
çou com a troca das cordas.

A nossa motivação para tocar está muito relacionada ao estado de nosso ins-
trumento e ao ambiente em que tocamos.

Tocar em instrumentos quebrados, com cordas velhas, duros e pesados, não


motiva ninguém. O som não é bonito, os dedos se machucam, as cordas oxi-
dadas prendem os dedos e uma série de outras coisas tiram a magia do ato
de tocar.

EU POSSO
O ambiente também influencia. Tocar numa posição desconfortável, sem
apoio para as costas, sem iluminação adequada ou em um ambiente baru-
lhento também são fatores que nos desanimam.

Todas essas barreiras podem ser retiradas de seu caminho. Só depende de


você.

APRENDER
Comece cuidando de seu violão. Troque as cordas, leve-o até um luthier para
que seja feita uma boa regulagem. Se ele estiver precisando de algum ou-
tro reparo, faça, ou então comece a cogitar a possibilidade de comprar um
instrumento um pouco melhor. Esses detalhes farão toda a diferença na sua
motivação.

Estude com calma o seu ambiente de estudos. Ele deve ser arejado, confortá-
vel e muito bem iluminado. Separe uma cadeira sem braço para poder treinar
confortavelmente. Compre uma estante de partituras para colocar os papéis
que você utiliza nos estudos. Compre um suporte para seu violão para que ele
fique sempre disponível para o treino. Muitas vezes não treinamos por que o
violão está muito “difícil”, e só de pensar em tirá-lo da capa já deixamos pra lá.

Com esses pequenos cuidados a sua motivação para os treinos vai aumentar
e, consequentemente, seus aprendizados também.

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CAPÍTULO 12
Eu posso aprender

O MENINO PRODÍGIO

Sarah era uma jovem mulher, muito bem sucedida nos estudos e no trabalho.
Tinha uma carreira promissora, um casamento firme e um filho de 4 anos,
Pedro Lucas.

Todas as fases da vida de Sarah foram muito precoces, sempre era a mais jo-
vem em suas turmas de colégio e faculdade, e agora era uma das executivas
mais jovens da empresa em que trabalhava. Com apenas 28 anos já tinha um
cargo de muita responsabilidade.

Uma de suas fixações era que seu filho, Pedro Lucas, fosse um garoto muito

EU POSSO
inteligente e que tivesse todas as oportunidades de estudo. Logo nos primei-
ros anos de vida ela imaginou colocá-lo em uma aula de instrumento. Imagina-
va que ele pudesse ser um prodígio, começando os estudos logo na primeira
infância e chegando ao virtuosismo ainda muito jovem. Queria que seu filho
fosse o melhor, como os grandes nomes da música mundial.

Sarah levou Pedro para o professor de violão. Logo que chegou à

APRENDER
escola viu outras crianças muito animadas, estavam todas em
uma aula muito divertida de musicalização infantil. Elas pula-
vam, batiam palmas, cantavam e corriam.

O professor sugeriu a Sarah que seu filho ingressasse nas


aulas de musicalização, para que pudesse vivenciar a música
de forma divertida e lúdica, mas Sarah achou aquilo um pouco
bobo para seu filho, que deveria ter aulas mais avançadas sobre
técnicas para poder desenvolver suas habilidades mais rapida-
mente.

Após muita insistência de sua mãe, Pedro Lucas ingressou


nas aulas individuais de violão, sem fazer as aulas junto
com as outras crianças.

Ao chegar em casa após as aulas ela queria ver a evo-


lução de Pedro. Incentivava o filho a tocar e cobrava
disciplina para que ele pudesse se tornar um prodígio.

O pequeno Pedro começou a sentir uma aversão pelo

42
Eu posso aprender

violão. Chorava para não ir às aulas, não conseguia se concentrar durante as


explicações de seu professor e ficava extremamente frustrado por não poder
brincar com as outras crianças nas aulas de musicalização.

Após um ano de tentativas Sarah resolveu tirar seu filho das aulas de violão,
acusando a escola de incompetência e ainda buscando algum outro lugar
que pudesse fazer seu filho brilhar mais do que todas as outras crianças.

A grande vítima dessa situação foi o próprio Pedro Lucas, que recebeu uma
cobrança extrema numa fase muito precoce de sua vida, fazendo com que a
música sempre soasse como uma obrigação chata, e nunca como um prazer.

EU POSSO
Sempre ouvimos histórias dos grandes prodígios. Aqueles que começam com
4 ou 5 anos e alcançam altos níveis de virtuosidade. E quando temos os nos-
sos filhos sempre imaginamos que podemos dar essa oportunidade a eles.

Todo pai quer o melhor para seu filho, isso não é errado. Dar oportunidade de
estudo e possibilidades reais de evolução é o que podemos fazer de melhor

APRENDER
por eles. O cuidado principal tem que ser com a pressão excessiva sobre a
criança.

Alguns pais projetam nos filhos os sonhos que não puderam realizar quando
eram jovens. E a música é uma das áreas onde isso mais acontece.

Precisamos deixar claro que o ambiente é um fator primordial na musicali-


zação de uma criança. Mozart era filho do melhor professor de piano de sua
cidade, além de grande músico e compositor. Já nasceu em um ambiente
propício ao contato musical. Ouvia música o tempo todo e teve contato com
uma pessoa que, além de tocar muito bem, ensinava muito bem. Esses fato-
res, somados a uma infinidade de outros, fizeram com que ele fosse o prodígio
precoce que todos conhecemos.

Forçar uma situação para que uma criança alcance altos níveis de rendimento
pode ser altamente traumático. É preciso tomar muito cuidado.

Crie seu ambiente em casa. Escute música, tenha instrumentos, permita que
a criança toque os instrumentos, cante com ela, dance com ela, crie músicas,
aproveite pequenas oportunidades para ensinar algo. Dessa forma o interesse
partirá da própria criança e, com essa motivação, poderemos ter resultados
muito melhores.

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CAPÍTULO 13
Eu posso aprender

MOTIVAÇÃO

Todas as histórias contadas nesse livro tem um fator decisivo: a motivação


para aprender.

A motivação é o combustível principal para que possamos dispensar nossa


energia no aprendizado de qualquer coisa, inclusive o violão.

Se você é uma pessoa que se interessa em aprender precisa também apren-


der a proteger sua motivação. Esse conceito é muito interessante.

Nunca pensamos nisso e acabamos deixando nossa motivação desprotegida,

EU POSSO
sendo minada por opiniões contrárias e situações adversas.

Podemos sim protegê-la, lembrar que ela é fundamental e, simplesmente, não


deixar que ela seja estraçalhada por ninguém.

A motivação para aprender a tocar violão também pode ser estimu-


lada, regada e alimentada. Escute mais música, leia sobre o

APRENDER
assunto, toque mais com os amigos, apaixone-se por novas
canções.

Se você é um professor, aprenda a enxergar a motivação de


seu aluno. Entenda o que faz sua alma estremecer. Descu-
bra qual é o desejo que ele procura saciar ao tocar violão.
Também é importante apresentar-lhe outras fontes de motiva-
ção, para que suas conexões musicais sempre aumentem e as
possibilidades de marasmo e estagnação passem bem longe.

Querer é poder, e a missão do professor é fazer querer.

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SOBRE O AUTOR
Allan Sales é formado em música pela Universidade Federal do Ceará e em
Administração de Empresas pela FAAP-SP.

Nascido em São Paulo-SP no ano de 1979, estuda música desde os 12 anos


de idade. Começou a dar aulas de música no ano de 2002 e fundou sua pri-
meira escola de música em SP no ano de 2003.

Radicado há mais de 10 anos na cidade de Fortaleza-CE, traba-


lha atualmente com cursos online de música, disponíveis em seu site:
www.allansales.com.br

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