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por Fernando Costa
Introdução
A definição de retrocesso de chama, como a própria expressão diz, é o retorno da chama para o
interior do corpo do queimador ou até, nos casos mais graves, para as tubulações e reservatórios
de gás que alimentam os queimadores.
Outra causa é quando ocorre uma condição de ignição em alguma parte interna de queimadores
de pré-mistura, de forma que a mistura combustível-comburente se inflame. Isso pode se dar por
um superaquecimento, quando a temperatura mínima necessária para auto-ignição é atingida, ou
quando outra condição de ignição se faça presente, como fagulhamento pelo tráfego de partículas
ou centelha elétrica.
No bocal dos queimadores sempre ocorre uma disputa entre vetores de velocidades: por um lado,
os vetores de velocidade de saída da mistura combustível-comburente; pelo outro os vetores da
velocidade da chama no sentido contrário ao da mistura. A estabilidade da chama é o resultado do
equilíbrio dessa soma vetorial em todos os pontos da seção transversal do bocal do queimador.
As condições que mais favorecem a ocorrência de um retrocesso de chama são: baixa velocidade
de saída da mistura ou velocidades de chama elevadas.
As baixas velocidades de saída da mistura ocorrem quando um queimador está operando abaixo
de sua potência mínima ou quando o queimador é desligado.
Velocidades de chama
A velocidade de chama também é conhecida por velocidade de ignição, velocidade de queima ou
velocidade de propagação da chama.
As determinações das velocidades de chama dos gases combustíveis é um assunto que desperta
polêmica. É possível encontrar algumas indicações incoerentes em diferentes referências literárias.
Estamos anexando a seguir a Tabela 1 e a Tabela 2, de distintas origens, as quais apresentam
diferentes informações.
Comburente = Ar Atmosférico
Gás
v (m/seg) FC(*)
Metano 0,45 1,08
Etano 0,48 1,14
Etileno 0,73 1,13
Propano 0,46 1,06
Propileno 0,72 1,14
n-Butano 0,45 1,03
Butadieno 0,57 1,23
Monóxido de Carbono 0,52 2,05
Acetileno 1,55 1,25
Hidrogênio 3,25 1,80
H2S 0,41 0,90
(*) FC é o fator de combustão (estequiométrica = 1,00)
Ref.: Glassman I., Combustion, Third Edition, Academic Press, San Diego, USA,1996
A Tabela 2, a ser apresentada a seguir, inclui também as velocidades de chama com oxigênio, o
que nos mostra como este comburente contribui para a elevação dos valores desta característica.
Esta tabela também indica as faixas de velocidades mais prováveis de serem encontradas.
Comburente
Gás Ar Atmosférico Oxigênio Puro
v (m/seg) v (m/seg)
Hidrogênio 2,49 - 3,64 8,93 - 11,87
Metano 0,33 - 0,44 3,24 - 4,82
Propano 0,40 - 0,47 3,60 - 4,01
Butano 0,38 - 0,46 3,34 - 3,55
Acetileno 1,10 - 1,81 9,49 - 12,77
Ref.: Reed, R. J., North American Combustion Handbook, Third Edition, Volume II, 1997.
Existem queimadores capazes de queimar gás combustível, tanto com oxigênio puro como com ar
atmosférico ou ar enriquecido, sem que nenhuma modificação seja feita durante a operação,
bastando apenas realizar manobra de válvulas. A utilização desses queimadores possibilita uma
aplicação versátil em processos de alta temperatura, onde as demandas térmicas e as
necessidades de pressurização da câmara de queima são muito variáveis. Por exemplo, na etapa
da fusão de um metal a oxi-combustão apresenta as vantagens das altas eficiência e
produtividade. Porém, caso seja necessário manter o metal líquido no mesmo forno, a alternativa
mais adequada é, geralmente, a combustão com ar.
Combatendo as causas
Existem várias formas de se evitar o retrocesso de chama, as quais são peculiares a cada projeto
de queimador. As principais medidas são:
No caso dos queimadores destinados a operar com oxigênio, com ar preaquecido e em processos
de alta temperatura, uma especial atenção deve ser dada à compatibilidade dos materiais e dos
gases combustíveis com as temperaturas reinantes. As regiões onde trafeguem misturas
combustível-comburente podem se inflamar ao serem atingidas as respectivas temperaturas
mínimas de auto-ignição. Mesmo nos dutos destinados ao tráfego de gás combustível puro, ou
seja, na ausência de comburente, um superaquecimento poderia provocar a dissociação do gás e
suas conseqüências nefastas como acúmulo de fuligem e detonação. Cabe ressaltar que essa
dissociação poderia ocorrer tanto no tráfego através do queimador como também em qualquer
tubulação de distribuição de gás submetida a temperaturas excessivas.
Evitando as conseqüências
Os dispositivos mais antigos são do tipo selo de água, onde o gás atravessa o líquido borbulhando
no sentido ascendente. Esses dispositivos apresentam algumas desvantagens como umedecer o
gás e necessitar de água de reposição para manter o nível correto. Além disso devem ser
instalados em um trecho rígido da tubulação e manter uma posição fixa e bem definida.
Os dispositivos mais modernos são corpos geralmente cilíndricos, dotados com recheios metálicos
ou cerâmicos, de forma que a chama em retrocesso transfira calor para o recheio resfriando-se,
proporcionando assim a extinção da chama. A zona de extinção da chama não deve ultrapassar a
quarta parte inicial do comprimento no trajeto através do recheio, restando as três quartas partes
como reserva de segurança.
.
Os recheios podem se apresentar sob duas formas principais: metal sinterizado e selas metálicas
ou cerâmicas.
Os recheios de metal sinterizado são mais eficientes pois dividem o fluxo em um grande número
de microfluxos o que aumenta a eficiência da troca de calor. Porém, o metal sinterizado funciona
com um filtro, retendo impurezas em seus diminutos poros, exigindo sua troca ou difícil
manutenção quando a pressão diferencial entre a entrada e a saída atingir um valor incompatível
com as perdas de carga admissíveis no trecho considerado. Além disso, apresentam um custo
elevado.
Já os dispositivos com recheio de selas metálicas ou cerâmicas não funcionam como um filtro para
material particulado de baixa granulometria, portanto praticamente dispensando a manutenção e
eliminando a substituição. Caso este tipo de recheio seja acidentalmente contaminado com
material particulado, gomas ou matérias graxas e oleosas, sua limpeza é geralmente fácil de ser
feita com o uso de água, solventes, gases inertes e ar comprimido, de acordo com o contaminante.
Comburente
Gás
Ar Atmosférico (ºC) Oxigênio Puro (ºC)
Metano 537 -
Propano 493 468
n-Butano 287 -
Acetileno 305 296
Hidrogênio 572 560
Ref.: Ahlberg, K., AGA Gas Handbook, First Edition, Lidingö, Sweden, 1985.
Conclusões
O retrocesso de chama é um fenômeno que pode se tratar desde um simples "pop", ao apagar o
queimador de um fogão doméstico, até um acidente de graves conseqüências atingindo as fontes
de suprimento de gás.
Em casos de dúvida a opção eleita deve ser conservativa, ou seja, contemplar a instalação de
dispositivos contra retrocesso de chama. As opções mais comuns recomendam a instalação
desses dispositivos na linha de gás combustível nos queimadores gás-ar e nas linhas de gás e de
oxigênio no caso da oxi-combustão.