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Microbiologia

Prof.ª Mara Rúbia Lenzi


Prof. Júlio Roussenq Neto

2012
Copyright © UNIASSELVI 2012

Elaboração:
Profª. Mara Rúbia Lenzi
Prof. Júlio Roussenq Neto

Revisão, Diagramação e Produção:


Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri


UNIASSELVI – Indaial.

579
L575m Lenzi, Mara Rúbia
Microbiologia / Mara Rúbia Lenzi; Júlio Roussenq Neto.
2. Ed. Indaial : Uniasselvi, 2012.

211 p. : il

ISBN 978-85-7830- 628-1

1. Microbiologia.
I. Centro Universitário Leonardo da Vinci.

Impresso por:
Apresentação
Prezado acadêmico!

Iniciaremos agora o estudo da Microbiologia. Trata-se de um mundo


invisível e totalmente desconhecido da maioria das pessoas. Será, sem
dúvida, uma grande aventura, pois esse mundo pequeno e tão cheio de
mistérios precisa ser explorado para podermos entender a relação que ele
tem com o mundo em que vivemos.

Vamos entender qual é o papel representado por esses seres tão


diminutos. Ao estudá-los em seu mundo, iremos compreender a importância
desses seres em nossas vidas. A existência deles está por toda a parte, no
ar que respiramos, no alimento que comemos, no interior de nosso próprio
corpo, nas montanhas, nos vulcões, no fundo do mar, nos mananciais, enfim,
entramos em contato com inúmeros microrganismos diariamente. Vamos
aprender também que alguns causam doenças e outros evitam e até curam
doenças. Veremos que a maioria apresenta um papel fundamental nos
processos que fornecem energia e, com isso, tornar a vida na Terra viável.

Com os diversos papéis exercidos pelos microrganismos no mundo,


poderemos entender, então, por que a Microbiologia é uma disciplina de desafios
e de descobertas importantes, que nos oferece muitas recompensas. Além de ser
uma ciência fluente e de grande relevância, ela nos instiga, pois afeta a todos nós.
Incontáveis são as áreas de atuação: da medicina à evolução, da agricultura à
ecologia. Ela estará contribuindo tanto para o campo do conhecimento científico
como para a solução dos inúmeros problemas da humanidade.

Vamos iniciar agora a nossa viagem ao mundo microscópico.

Bons estudos!

Prof.ª Mara Rúbia Lenzi


Prof. Júlio Roussenq Neto

III
NOTA

Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto


para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há
novidades em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é


o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente,


apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto
em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de


Desempenho de Estudantes – ENADE.
 
Bons estudos!

IV
V
VI
Sumário
UNIDADE 1 – MICROBIOLOGIA – FUNDAMENTOS.................................................................. 1

TÓPICO 1 – HISTÓRIA DA MICROBIOLOGIA.............................................................................. 3


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 3
2 MICROBIOLOGIA COMO UMA CIÊNCIA................................................................................... 3
3 ORIGEM DA VIDA.............................................................................................................................. 5
3.1 MICROSCÓPIO................................................................................................................................. 9
3.2 A DESCOBERTA DA CÉLULA...................................................................................................... 12
3.3 CARACTERÍSTICAS DAS CÉLULAS PROCARIÓTICAS E EUCARIÓTICAS...................... 14
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................................ 24
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 27
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 29

TÓPICO 2 – PRINCIPAIS GRUPOS DE MICRORGANISMOS.................................................... 31


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 31
2 TAXONOMIA......................................................................................................................................... 31
3 CLASSIFICAÇÃO.................................................................................................................................. 36
3.1 BACTÉRIAS....................................................................................................................................... 38
3.2 PROTOZOÁRIOS............................................................................................................................. 40
3.3 ALGAS E FUNGOS.......................................................................................................................... 41
3.4 VÍRUS................................................................................................................................................. 43
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................................ 45
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 47
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 49

TÓPICO 3 – ESTRUTURA DOS MICRORGANISMOS.................................................................. 51


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 51
2 CARACTERÍSTICAS DA CITOLOGIA BACTERIANA............................................................... 51
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................................ 68
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 70
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 71

UNIDADE 2 – METABOLISMO E GENÉTICA MICROBIANA.................................................... 83

TÓPICO 1 – CONCEITOS ESSENCIAIS DE METABOLISMO..................................................... 85


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 85
2 METABOLISMO CELULAR E FONTES DE ENERGIA DOS MICRORGANISMOS............ 85
LEITURA COMPLEMENTAR 1............................................................................................................. 99
LEITURA COMPLEMENTAR 2........................................................................................................... 101
RESUMO DO TÓPICO 1...................................................................................................................... 102
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................ 103

VII
TÓPICO 2 – GENÉTICA MICROBIANA E VARIABILIDADE ................................................... 105
1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 105
2 MATERIAL GENÉTICO DE CÉLULAS PROCARIÓTICAS E EUCARIÓTICAS.................. 105
3 DUPLICAÇÃO DO DNA OU ADN................................................................................................. 107
4 GENE E A TRANSCRIÇÃO GÊNICA – RNA OU ARN.............................................................. 110
5 MUTAÇÃO............................................................................................................................................ 111
LEITURA COMPLEMENTAR.............................................................................................................. 112
RESUMO DO TÓPICO 2...................................................................................................................... 114
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................ 115

TÓPICO 3 – BIOTECNOLOGIA......................................................................................................... 117


1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 117
2 ENGENHARIA GENÉTICA – TRANSFERÊNCIA DE GENES................................................. 117
3 APLICAÇÃO INDUSTRIAL DA MICROBIOLOGIA................................................................. 120
LEITURA COMPLEMENTAR 1........................................................................................................... 122
LEITURA COMPLEMENTAR 2........................................................................................................... 125
RESUMO DO TÓPICO 3...................................................................................................................... 127
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................ 128

UNIDADE 3 – CONTROLE DOS MICRORGANISMOS E OS PRINCIPAIS GRUPOS........ 131

TÓPICO 1 – FUNDAMENTOS DO CONTROLE MICROBIANO.............................................. 133


1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 133
2 AGENTES FÍSICOS E QUÍMICOS.................................................................................................. 133
LEITURA COMPLEMENTAR 1........................................................................................................... 142
LEITURA COMPLEMENTAR 2........................................................................................................... 144
RESUMO DO TÓPICO 1...................................................................................................................... 147
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................ 148

TÓPICO 2 – VÍRUS................................................................................................................................ 151


1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 151
2 CARACTERÍSTICAS GERAIS......................................................................................................... 151
2.1 REPLICAÇÃO................................................................................................................................. 155
3 DOENÇAS CAUSADAS POR VÍRUS............................................................................................ 160
LEITURA COMPLEMENTAR 1........................................................................................................... 162
LEITURA COMPLEMENTAR 2........................................................................................................... 164
RESUMO DO TÓPICO 2...................................................................................................................... 165
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................ 166

TÓPICO 3 – PRINCIPAIS GRUPOS DE MICRORGANISMOS EUCARIONTES


E PARASITAS................................................................................................................... 169
1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 169
2 FUNGOS................................................................................................................................................ 169
3 ALGAS................................................................................................................................................... 180
4 PROTOZOÁRIOS................................................................................................................................ 184
LEITURA COMPLEMENTAR.............................................................................................................. 191
RESUMO DO TÓPICO 3...................................................................................................................... 193
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................ 194

VIII
TÓPICO 4 – METODOLOGIAS PARA O ENSINO DE MICROBIOLOGIA............................ 197
1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 197
2 AULAS PRÁTICAS............................................................................................................................. 198
LEITURA COMPLEMENTAR 1........................................................................................................... 199
LEITURA COMPLEMENTAR 2........................................................................................................... 201
LEITURA COMPLEMENTAR 3........................................................................................................... 203
3 JOGOS DIDÁTICOS.......................................................................................................................... 205
4 RECURSOS AUDIOVISUAIS........................................................................................................... 206
5 SAÍDAS DE CAMPO.......................................................................................................................... 208
RESUMO DO TÓPICO 4...................................................................................................................... 209
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................ 210

REFERÊNCIAS........................................................................................................................................ 211

IX
X
UNIDADE 1

MICROBIOLOGIA – FUNDAMENTOS

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir desta unidade você será capaz de:

• conhecer alguns fatos históricos que contribuíram para o reconhecimento


da Microbiologia como ciência;

• conhecer os princípios básicos de funcionamento dos microscópios e com-


preender como a evolução desses aparelhos está relacionada ao progresso
da Microbiologia;

• reconhecer os principais grupos de microrganismos;

• compreender como os seres microscópicos são classificados.

PLANO DE ESTUDOS
Esta primeira unidade está dividida em três tópicos. Você encontrará, no final
de cada um deles, leituras complementares e atividades que irão contribuir
para a compreensão dos conteúdos explorados.

TÓPICO 1 – HISTÓRIA DA MICROBIOLOGIA

TÓPICO 2 – PRINCIPAIS GRUPOS DE MICRORGANISMOS

TÓPICO 3 – ESTRUTURA DOS MICRORGANISMOS

1
2
UNIDADE 1
TÓPICO 1

HISTÓRIA DA MICROBIOLOGIA

1 INTRODUÇÃO
Prezado acadêmico! Em sua imaginação, quando você pensa em Microbiologia,
com certeza irá pensar em todos aqueles micróbios (microrganismos) que causam
doenças ou em seres tão repulsivos que, de tão pequenos, são invisíveis a olho nu.
Sua imaginação estará voltada também para aqueles indivíduos de roupas brancas,
sentados à frente de microscópios, em seus laboratórios, pesquisando um mundo
distante e pouco conhecido por você. É muito difícil para você, quando pensar em
Microbiologia, fazer qualquer relação desses seres com a vida na Terra. Olhando ao
seu redor, com certa atenção, você irá se deparar com um grande trabalho microbiano.
A ação microbiana é intensa e de extrema importância para o ambiente e em todos os
aspectos da vida humana. Seria impossível a vida na Terra sem a presença deles.

Existem certas bactérias que absorvem o nitrogênio do ar, ajudando, com


isso, certos tipos de plantas a crescer. Juntamente com os fungos, degradam plantas
mortas, resíduos de esgotos, restos alimentares e óleos de derramamento. Muitas
bactérias são utilizadas nas indústrias de alimentos, na produção de drogas úteis ao
homem (antibióticos) e ao ambiente. É bom lembrar que nem sempre são nocivas, ou
seja, que provocam danos ao homem, apenas uma pequena porcentagem é patogênica
(causa doenças). Boa parte delas, na verdade, irá melhorar a qualidade de vida na
Terra através da reciclagem da matéria, dando sustentação a muitos processos vitais
que todos os organismos realizam. Podemos dizer que a Terra é o que é hoje devido
à ação dos microrganismos. É por isso que o estudo da Microbiologia é importante.

2 MICROBIOLOGIA COMO UMA CIÊNCIA


A origem do termo microbiologia deriva de três palavras gregas: mikros:
pequeno; bios: vida e logos: ciência. Sendo assim, podemos definir Microbiologia
como o estudo da vida microscópica, ou seja, há a necessidade de estudá-la com
o auxílio de um microscópio.

Grandes são os obstáculos que os cientistas enfrentam quando estudam a


origem da vida na Terra. As transformações ocorridas na crosta terrestre fizeram
com que fossem apagados todos os vestígios dos primeiros seres vivos. Para Pelczar,
Chan e Krieg (1997a), as deduções feitas pelos cientistas com relação à origem dos
microrganismos datam de quatro bilhões de anos atrás. Segundo os cientistas, eles
teriam surgido de um material orgânico complexo em águas oceânicas ou de prováveis
nuvens que circundavam nossa Terra primitiva. No mesmo raciocínio, Pelczar, Chan
e Krieg (1997a) afirmam que, sendo esses os primeiros indícios de vida na Terra, os
microrganismos são considerados os ancestrais de todas as outras formas de vida.
3
UNIDADE 1 | MICROBIOLOGIA – FUNDAMENTOS

Apesar dos microrganismos existirem há tanto tempo, a Microbiologia


se apresenta como uma ciência extremamente jovem. Segundo Pelczar, Chan e
Krieg (1997a), os pesquisadores observaram os microrganismos pela primeira vez
há 300 anos. O detalhe interessante dessa descoberta é que essa informação não
foi compreendida no início, pois somente 200 anos após essa descoberta é que a
importância dos microrganismos foi reconhecida.

As várias tentativas científicas de se conseguir maiores conhecimentos a


respeito dos microrganismos contribuíram de forma intensiva para o reconhecimento
da Microbiologia como ciência. Na segunda metade do século XIX houve a
comprovação, por parte dos cientistas, de que os microrganismos eram originados
de pais iguais a eles próprios e não de causas sobrenaturais, como se acreditava na
época, e muito menos de plantas e animais em putrefação (Teoria da Abiogênese).

UNI

Uma dúvida que sempre tivemos é se os micróbios são anteriores à fermentação


ou resultado dela. Você já parou para pensar nisso? Vejamos, a seguir, o que Pelczar, Chan e
Krieg (1997) descobriram.

Segundo Pelczar, Chan e Krieg (1997a), em um momento mais adiante,


os estudiosos do assunto provam que os micróbios não são o resultado, mas
sim a causa dos processos fermentativos da uva para produção do vinho. Outra
descoberta muito importante foi a de que apenas um tipo específico de micróbio
causaria uma doença específica. Para Pelczar, Chan e Krieg (1997a), todas essas
informações trouxeram a compreensão e o reconhecimento da influência crítica
dessas novas formas de vida sobre a saúde e o bem-estar do homem. Outro
dado importante que os microbiologistas puderam aprender durante o início do
século XX foi a de observar a capacidade que os micróbios possuem de realizar
uma grande variedade de reações químicas, ou seja, de possuírem a capacidade
de quebrar substâncias e a de sintetizar novos compostos. Após todas essas
descobertas, cria-se a expressão diversidade bioquímica como uma forma de
caracterizar microrganismos. Outra observação valiosa que os microbiologistas
fizeram foi quanto às reações químicas realizadas pelos microrganismos. Essas
reações assemelham-se àquelas que ocorrem em formas de vida superiores.

ATENCAO

A partir de agora vamos estudar as principais teorias para explicar a origem da


vida em nosso Planeta.

4
TÓPICO 1 | HISTÓRIA DA MICROBIOLOGIA

3 ORIGEM DA VIDA
Tentar entender de onde surgiram os seres vivos sempre ocupou a mente
da maioria das pessoas e, em razão disso, diversas explicações foram construídas ao
longo da história da humanidade. Filósofos gregos tentaram explicar o surgimento da
vida na Terra. Entre eles está Aristóteles que, há mais de 2000 anos, já se preocupava
com o problema e lançou inúmeros postulados que iriam guiar por muito tempo as
diversas áreas do conhecimento. Entre as várias ideias sobre a origem da vida, uma
delas ganhou destaque: a do “princípio ativo” ou “princípio vital”.

E
IMPORTANT

Segundo Aristóteles, a existência de um “princípio ativo” era capaz de produzir


matéria viva a partir de matéria bruta, desde que em condições favoráveis (UZUNIAN; PINSETA;
SASSON, 1991). Em uma sequência de eventos, segundo Aristóteles, esse “princípio ativo”
tinha o poder de se organizar de tal forma que acabariam por determinar o aparecimento de
um ser vivo (“princípio vital”).

Essa teoria conhecida por abiogênese ou geração espontânea teve ampla


aceitação até há pouco mais de um século. Muitos anos depois de Aristóteles,
vários cientistas famosos ainda acreditavam na geração espontânea.

Para citar um caso muito interessante, no século XVII, Jean Baptiste Van
Helmont, médico belga, escreveu uma receita para produzir camundongos em
21 dias a partir de uma camisa suja colocada em contato com germe de trigo.

FONTE: Disponível em: <http://www.biomania.com.br/bio/conteudo.asp?cod=1225>. Acesso em:


27 nov. 2010.

Não existia na época o conhecimento sobre métodos científicos. A geração


espontânea para o pensamento dominante na época era algo tão evidente que não
tinha de ser testado.

UNI

Para você ter uma ideia, muitos daquela época acreditavam que de cascas de
árvores à beira de um lago originavam-se gansos ou que algumas árvores davam frutos que
continham carneiros completamente formados dentro deles. Sapos e tartarugas surgiam a
partir de fontes de água. Folhas de árvores que caíam sobre lagos originavam patos. Insetos
em geral surgiam de fezes de animais ou de qualquer outro material em putrefação.

5
UNIDADE 1 | MICROBIOLOGIA – FUNDAMENTOS

Com o desenvolvimento do conhecimento, vamos encontrar o início de


uma investigação científica moderna sobre o problema da origem da vida nos
trabalhos de Francesco Redi (1626-1697), biólogo e médico de Florença (Itália),
em meados do século XVII (PELCZAR; CHAN; KRIEG, 1997a). Através de
seu trabalho, deu-se início à fase de contestações sobre a abiogênese. Ficou
demonstrado, pelas experiências realizadas por Redi, que a vida só podia ser
originada de vida pré-existente – a biogênese.

UNI

Vamos estudar agora como Redi tentou derrubar a Teoria da Abiogênese através
de um experimento simples.

Em seu experimento, Redi colocou alguns pedaços de animais mortos em


frascos de boca larga, vedando alguns deles com uma gaze bem fina e deixando
outros abertos (PELCZAR; CHAN; KRIEG, 1997a). Nos frascos não cobertos pela
gaze, moscas entravam e saíam livremente onde mais tarde surgiam “vermes”.
Nos frascos que estavam cobertos pela gaze, que impedia a entrada das moscas,
não surgiu nenhum verme, mesmo depois de alguns dias (Figura 1).

E
IMPORTANT

Prezado acadêmico! Para enriquecer os seus estudos, no Ambiente Virtual de


Aprendizagem (AVA), no link material de apoio, estão disponíveis todas as imagens deste
Livro Didático na versão colorida. Se acaso você não conseguir visualizar, peça ajuda ao(à)
seu(sua) Professor(a)-Tutor(a) Externo(a) para que faça a apresentação dessas imagens em
um dos Encontros Presenciais da disciplina.

FIGURA 1 – EXPERIMENTO DE REDI

FONTE: Disponível em: <: http://slideplayer.com.br/slide/387135/3/


images/6/Abiog%C3%AAnese+X+Biog%C3%AAnese.jpg>.

6
TÓPICO 1 | HISTÓRIA DA MICROBIOLOGIA

No experimento de Redi, que contrariava a geração espontânea, pode-se


observar nos frascos tampados com gaze que nenhuma larva aparece (PELCZAR;
CHAN; KRIEG, 1997a). Nos frascos abertos, onde as moscas podem entrar e
colocar seus ovos sobre a carne, aparecem as larvas na carne da qual se alimentam.

Poderíamos imaginar que, após esse experimento, a teoria da geração


espontânea seria superada, porém ela ainda não estava derrotada. Para Black
(2002), de nada adiantava demonstrar que as larvas não surgiam espontaneamente,
pois havia muitos cientistas que ainda acreditavam na geração espontânea. Entre
eles estava o clérigo inglês John Needhan (1713-1781) que, em 1745, montou
alguns experimentos que reforçaram a ideia da origem da vida por abiogênese
(PELCZAR; CHAN; KRIEG, 1997a). Nesses experimentos, ele utilizou caldos
nutritivos, como caldo de galinha, carne e alguns tipos de sucos de vegetais, bem
como alguns outros tipos de líquidos que continham partículas alimentares. Esses
caldos foram colocados dentro de frascos e, após terem sido fervidos durante
alguns minutos para destruir os microrganismos, eram imediatamente vedados
com rolha de cortiça. Passados alguns dias, os caldos apresentaram-se repletos de
microrganismos. Needhan argumentou que a fervura eliminaria todos os seres
existentes no caldo inicial e como os frascos estavam tampados não haveria como
um ser vivo penetrar através das rolhas (PELCZAR; CHAN; KRIEG, 1997a). A única
explicação de Needhan para a presença de microrganismos nos frascos era que eles
haviam surgido por geração espontânea (PELCZAR; CHAN; KRIEG, 1997a).

Um dos maiores opositores a Needhan era o clérigo e cientista italiano


Lazzaro Spallanzani (1729-1799), um fervoroso defensor da biogênese (PELCZAR;
CHAN; KRIEG, 1997a). Para demonstrar a sua descrença à abiogênese e ao método
empregado por Needhan, Spallanzani resolveu refazer os experimentos de Needhan
e tentar, com isso, provar a biogênese (PELCZAR; CHAN; KRIEG, 1997a). Em 1769,
Spallanzani preparou alguns frascos com caldo nutritivo de carne e vegetal. Esses
foram vedados e, após uma hora de fervura, foram postos de lado por alguns dias. Ao
analisar o material, pôde constatar a ausência total de vida em todos eles. Com isso,
pôde demonstrar que Needhan não tinha aquecido os frascos suficientemente para
matar todos os microrganismos neles existentes. Fica evidente que, após os líquidos
terem sido aquecidos por pouco tempo, poderia ainda haver certa quantidade de
microrganismos vivos que se reproduziriam logo que os frascos esfriassem.

Needhan reagiu afirmando que, com a fervura do líquido em temperatura


muito alta e por muito tempo, destruiria seu “princípio ativo” ou “princípio vital”,
ou seja, o ar era simplesmente essencial à vida, como também para a geração
espontânea dos microrganismos, e que teria sido excluído do experimento de
Spallanzani (PELCZAR; CHAN; KRIEG, 1997a). Claro que não seriam apenas
alguns trabalhos, mesmo tendo sido muito bem planejados, que destruiriam uma
ideia sustentada já há alguns séculos. Muitos foram os cientistas que contestaram
a abiogênese, porém sem muito sucesso.

Em 1860, outro grande cientista, o químico e biólogo francês Louis Pasteur


(1822-1895), através de uma análise longa e lógica sobre o problema da origem
da vida, rejeita a teoria da geração espontânea, pois concluiu que o ar é uma

7
UNIDADE 1 | MICROBIOLOGIA – FUNDAMENTOS

fonte de microrganismos (PELCZAR; CHAN; KRIEG, 1997a). As substâncias não


sofreriam alterações se estivessem protegidas do contato com os microrganismos
presentes no ar, no solo, nos vidros e nas mãos. Repetiu várias vezes, sob várias
circunstâncias, que soluções nutritivas bem como outros tipos de materiais não
geravam organismos vivos depois de terem passado por um processo cuidadoso
de esterilização. Em uma das mais célebres experiências – frascos de “pescoço de
cisne” (Figura 2) –, Pasteur consegue uma vitória sobre a abiogênese.

FIGURA 2 – REPRESENTAÇÃO DA SEQUÊNCIA DE ETAPAS DO CÉLEBRE


EXPERIMENTO REALIZADO POR PASTEUR
Pescoço do
balão curvado Pó e micróbios
com fogo retidos

Caldo vertido
no frasco
Caldo fervido

Frasco vertical. Frasco inclinado Caldo contaminado


Caldo permanece com micróbios
sem micróbios
FONTE: Disponível em:<http://www.sobiologia.com.br/figuras/Corpo/Pasteur.
png>. Acesso em: 16 set. 2010.

A experiência consistia em diversos caldos nutritivos que eram colocados


em frascos de vidro. Em alguns deles, aquecia-se o gargalo até que se tornassem
maleáveis a ponto de poderem ser curvados, obtendo frascos com o formato de
um pescoço de cisne. Em outras bancadas, ele mantinha os frascos com o gargalo
curto e reto. Após esse procedimento, ele fervia durante alguns minutos os caldos
nutritivos. Em alguns dias, podia-se notar que nos frascos de pescoço reto havia
uma rápida contaminação do caldo nutritivo, porém não constatou a contaminação
no caldo nutritivo nos frascos de pescoço de cisne, mesmo depois de alguns meses.
Essas experiências refutaram definitivamente a teoria da geração espontânea.

ATENCAO

Pasteur identificou os microrganismos causadores de doenças e também os


que são utilizados na produção de vinho.

8
TÓPICO 1 | HISTÓRIA DA MICROBIOLOGIA

3.1 MICROSCÓPIO
Para Pelczar, Chan e Krieg (1997a), nem sempre as grandes descobertas são
feitas por cientistas profissionais, e sim, por cientistas amadores. A Microbiologia, como
qualquer outra ciência, envolve um processo de interação de ideias e instrumentos.
Novos instrumentos nos permitem melhores observações, que, por sua vez, servem
de base para difundir um maior número de grandes ideias. O século XVII foi marcado
pelo desenvolvimento de uma atitude diferente perante a pesquisa livre. Com essa
nova atitude, inúmeros instrumentos foram aperfeiçoados, entre os quais as lentes, que
irão, sem dúvida, contribuir para facilitar as investigações científicas.

UNI

Prezado acadêmico! Vamos conhecer agora como foi a construção do


microscópio para a visualização dos microrganismos, pois na época, sabia-se que existiam,
mas nunca tinham sido observados.

Passados alguns anos após as experiências de Francesco Redi, Antony van


Leeuwenhoek (1632-1723), um dos fundadores da Microbiologia, que viveu em Delft,
Holanda, com pouca formação científica, porém muito familiarizado com o uso de
lentes de aumento, aperfeiçoa o microscópio (PELCZAR; CHAN; KRIEG, 1997a).
Através das lentes desse instrumento, passa a examinar uma grande variedade de
microrganismos, cuja existência era, até então, ignorada. É muito provável que
tenha sido ele o primeiro a visualizar microrganismos individualmente.

ATENCAO

Na próxima figura, visualizaremos o microscópio construído por Leeuwenhoek.


O interessante é que para cada espécime tinha que construir um novo microscópio, deixando
junto ao microscópio o espécime anterior estudado.

9
UNIDADE 1 | MICROBIOLOGIA – FUNDAMENTOS

FIGURA 3 – MICROSCÓPIO DE LEEUWENHOEK

suporte do lente
material material
biológico

placa
de metal
placa
de metal

parafuso de
regulagem

FONTE: Disponível em: <http://www.feiradeciencias.com.br/sala09/image09/09_


26_02.gif>. Acesso em: 16 set. 2010.

Era o ano de 1674 quando Leeuwenhoek apresentou a sua invenção (PELCZAR;


CHAN; KRIEG, 1997a). O microscópio construído era simples e dotado de apenas uma
lente de vidro, com capacidade de aumento dos objetos de 100 a 300 vezes. Para Black
(2002, p. 46), “apesar de serem constituídos de uma única lente fina cuidadosamente
assentada, eles tinham de fato lentes de aumento bastante poderosas”. A maior
dificuldade nesses microscópios era a focalização dos espécimes. Ainda hoje pouco se
sabe sobre os métodos de iluminação utilizados por Leeuwenhoek. Para Black (2002, p.
46), “[...] é provável que ele tenha usado iluminação indireta, sendo a luz refletida pelo
lado de fora dos espécimes, e não passando através deles”. Segundo Pelczar, Chan e
Krieg (1997a), entre as várias observações feitas, sendo todas anotadas cuidadosamente
por Leeuwenhoek, bem como as várias cartas que eram enviadas à Sociedade Real
Inglesa, ele descreveu, numa dessas cartas enviadas, o que chamou de “pequeninos
animálculos”, que hoje conhecemos como protozoários de vida livre. Em outra carta
muito interessante, ele descreve, pela primeira vez, um grupo de microrganismos
conhecidos hoje por nós como bactérias. É bom saber que essa visualização tinha
poucos detalhes da estrutura das bactérias. Para uma melhor visualização, havia a
necessidade do desenvolvimento de microscópios mais complexos.

ATENCAO

Na figura a seguir, visualizaremos os desenhos feitos por Leeuwenhoek das suas


observações vistas naquele microscópio rudimentar.

10
TÓPICO 1 | HISTÓRIA DA MICROBIOLOGIA

FIGURA 4 – DESENHOS DE LEEUWENHOEK. BACTÉRIAS, ALGUMAS


COM MOTILIDADE (C PARA D)

FONTE: Disponível em:<http://www.scielo.br/img/revistas/hcsm/v5n2/


v5n2a7f3.jpg>. Acesso em: 16 set. 2010.

Todas essas descobertas trouxeram grandes estímulos para os cientistas


da época. Entre eles está o físico Robert Hooke (1635-1703), encarregado pelos
cientistas ingleses de compor um novo aparelho, bem mais poderoso do que o
apresentado por Leeuwenhoek (PELCZAR; CHAN; KRIEG, 1997a). O modelo
desenvolvido por Hooke era o de um microscópio de duas lentes ajustadas a
um tubo de metal, semelhante ao inventado por Zacharias Jansen, que, segundo
alguns autores, seria dele a invenção do microscópio por volta de 1590. Para
Pelczar, Chan e Krieg (1997a), Leeuewenhoek foi quem primeiro empregou
um microscópio na investigação da natureza. O microscópio apresentado por
Hooke ficou conhecido como microscópio composto (Figura 5), pelo fato de ser
constituído por duas lentes, enquanto que o microscópio de Leeuwenhoek, que
era constituído por uma única lente, é considerado um microscópio simples.

FIGURA 5 – MICROSCÓPIO COMPOSTO DE HOOKE

FONTE: Disponível em: <http://2.bp.blogspot.com/_CXhfB_PPfWY/


SbregBpxGVI/AAAAAAAAADg/xuZIUDC02mE/s320/microscopio.
bmp>. Acesso em: 16 set. 2010.

11
UNIDADE 1 | MICROBIOLOGIA – FUNDAMENTOS

3.2 A DESCOBERTA DA CÉLULA


Robert Hooke fez a apresentação de seu microscópio à comunidade
científica londrina em abril de 1663. Escolheu alguns materiais para essa
demonstração, sendo que o que traria mais destaque seriam as fatias finas de
cortiça. Ao observá-las no microscópio, reparou que eram constituídas por
cavidades e as comparou aos quartos de um convento (Figura 6). Esses quartos
eram como celas e, mais tarde, denominou-as células (sendo que em inglês seria
cells – pequenas celas ou caixinhas). A derivação do termo “célula” vem do latim
cellula, que nada mais é que o diminutivo de cella, cujo significado é “um pequeno
compartimento”. Hoje temos o conhecimento que esses minúsculos espaços
vazios eram ocupados anteriormente por células vivas. Na verdade, o que foi
observado por Hooke eram as paredes celulares, cuja função é a de separar as
células de uma planta. Com a morte da planta, essas paredes não se decompõem
como o resto.

NOTA

A parede celular só é encontrada em células vegetais. Você estudou na Unidade


2, Tópico 1, do Livro Didático de Citologia, as características e funções da parede celular. Na
figura a seguir, você verá apenas a parede celular das células de cortiça.

FIGURA 6 – CORTIÇA OBSERVADA POR HOOKE

FONTE: Disponível em: <https://img.haikudeck.com/mg/z1nRn6AlZQ


_1444878487396.jpg>.

12
TÓPICO 1 | HISTÓRIA DA MICROBIOLOGIA

NOTA

A cortiça utilizada para a fabricação das rolhas é a camada formada como um


envoltório suberoso no tronco da árvore. Esse envoltório, que ganha grossura a cada ano, é retirado
após 9-12 ou 15 anos, quando possui uma largura de aproximadamente 30 mm. Essa casca é secada
e cortada em pedaços de aproximadamente 40-50 mm, conforme o comprimento da futura rolha.
FONTE: Disponível em: <http://www.enologia.org.br/conteudo.asp?id_artigo=186&id_categoria=4&sT]
ipo=artigo&sSecao=curiosidades&sSubSecao=&bSubMenu=1&sParamMenu=>. Acesso em: 19 set. 2010.

Dando prosseguimento aos seus estudos na área de microscopia, Hooke


obteve um vasto material microscópico, a ponto de poder lançar um livro voltado
à área. Boa parte dos pesquisadores da época, além, é claro, do próprio Hooke,
passaram a observar as partes vivas de plantas e notaram a existência de células
muito semelhantes às da cortiça. A única diferença que foi observada pelos
cientistas era que o espaço interno das células vivas era preenchido por uma
substância gelatinosa. Inúmeras pesquisas foram realizadas e as observações
feitas não ficavam somente nas células vegetais, eram observadas também
células animais. Com isso, o termo célula passou a denominar o conteúdo dessas
caixinhas microscópicas que formam o corpo das plantas e dos animais.

Passaram-se dois séculos desde as primeiras observações feitas por


Hooke até a descoberta de que todos os seres vivos são constituídos por células,
a chamada Teoria celular.

E
IMPORTANT

Caro acadêmico! Você reparou que muitos assuntos tratados neste Caderno já
foram estudados na disciplina de Citologia? Pois bem, é importante relembrar alguns tópicos
para darmos continuidade aos estudos.

Em 1839, dois cientistas alemães, Mathias Shleiden (1804-1881) e Theodor


Schwann (1810-1882), após discutirem as suas ideias sobre a organização dos
seres vivos, chegaram à conclusão de que “todos os seres vivos são compostos
de células” (PELCZAR; CHAN; KRIEG, 1997a). Essa conclusão aconteceu porque
os dois cientistas, que trabalhavam em diferentes campos de pesquisa (Shleiden
dedicava-se à fisiologia das plantas e Schwann à anatomia dos animais),
compararam as suas observações e não tiveram dúvidas: todas as estruturas
minúsculas que apareciam nas folhas, nos caules e nas flores das plantas, bem
como no fígado, ossos e na pele dos animais, enfim, em todos os organismos
vivos estudados, eram a mesma unidade minúscula que constituía a vida.
13
UNIDADE 1 | MICROBIOLOGIA – FUNDAMENTOS

E
IMPORTANT

Essas células tinham a aparência de minúsculos aglomerados com um material


semitransparente, que era delimitado por uma membrana e todas elas com uma estrutura central.

Algumas décadas mais tarde, outra hipótese foi apresentada com as


observações feitas pelo cientista alemão Rudolpho Virchow (1821-1902). Ele
demonstrou que as células do corpo não surgiam da matéria inanimada por
geração espontânea, ou seja, cada célula nascia de outra célula que havia se
reproduzido. A existência de uma célula só era possível porque já havia existido
outra, a célula-mãe, que lhe dera origem. Assim, cada animal é gerado por outro
animal ou uma planta por outra planta. Em 1855, Virchow, com uma célebre
frase em latim, fez uma síntese de seu pensamento: “Omnis cellula ex cellula”, cujo
significado é “toda célula se origina de outra célula”. (FERREIRA, 2003).

Através das observações microscópicas das divisões celulares, toda a ideia


de que as células podiam ter a sua origem de forma espontânea foi perdendo
credibilidade por completo. Várias observações e novas descobertas foram sendo
feitas na área celular. Uma delas se deu em 1878, quando o alemão Walther
Flemming (1843-1905) colocou um ponto final na ideia do surgimento espontâneo
de células. Ele descreveu, de forma detalhada, o processo de divisão de uma
célula em duas, processo que ele denominou mitose.

NOTA

Caro Acadêmico! No Livro Didático de Citologia, Unidade 3, Tópico 1, você


estudou os processos de divisão celular conhecidos por mitose e meiose. Vale a pena voltar
naqueles estudos e relembrar esses processos.

3.3 CARACTERÍSTICAS DAS CÉLULAS PROCARIÓTICAS E


EUCARIÓTICAS
Segundo Black (2002, p. 68), “todas as células vivas podem ser classificadas
como procarióticas, das palavras gregas pro (antes) e karyon (núcleo), ou
eucarióticas, de eu (verdadeiro) e karyon (núcleo)”. Podemos dizer então que
células procarióticas (os organismos que as possuem recebem o nome de seres
procariontes) (Figura 7) são as que não possuem núcleo e nenhuma estrutura
contida em membrana; e as células eucarióticas (os organismos que as possuem

14
TÓPICO 1 | HISTÓRIA DA MICROBIOLOGIA

recebem o nome de seres eucariontes) (Figura 8) são as que possuem núcleo, bem
como todas as outras estruturas membranosas, tais como: retículo endoplasmático
liso e rugoso, complexo golgiense, lisossomos, mitocôndrias etc.

FIGURA 7 – CÉLULA PROCARIÓTICA DE BACTÉRIA

cápsula
fímbrias
camada externa
camada de parede celular
peptidoglucano
membrana plasmática
DNA em nucleóide

flagelo
FONTE: Disponível em: <http://www.cynara.com.br/citologia/img/
procariotica.jpg>. Acesso em: 16 set. 2010.

FIGURA 8 – CÉLULA EUCARIÓTICA ANIMAL


Retículo Cromatina
Endoplásmatico (RE) Nucléolo Núcleo
Membrana
RE Rugoso RE Liso
nuclear
Flagelo

Centrossoma

Peroxissoma
Ribossoma
Membrana plasmática
Complexo de Golgi
Microvilosidade Membrana plasmática
Microfilamentos Mitocôndria
Filamentos intermédios
Microtúbulos Lisossoma
Citosqueleto
FONTE: Disponível em: <http://esmmbg.no.sapo.pt/celulanimal3.jpg>. Acesso em: 16 set. 2010.

15
UNIDADE 1 | MICROBIOLOGIA – FUNDAMENTOS

No grupo dos seres procariontes estão as bactérias, que são seres unicelulares
e que iremos estudar com mais profundidade. Já o representante dos grupos dos
eucariontes são todos os vegetais, animais, fungos e protistas (Amoebas, Paramecium etc.).
Podemos dizer que tanto as células procarióticas como as eucarióticas são semelhantes
em vários aspectos e que compartilham, assim, de algumas características. Entre elas,
está a presença da membrana plasmática, cuja função é a de isolar a célula do ambiente
externo, bem como controlar a passagem de substâncias. A outra característica é a
presença do citoplasma, que é constituído por um líquido gelatinoso também chamado
de citosol, além de outras substâncias altamente necessárias às funções vitais (processos
metabólicos) da célula. Por último, as células apresentam material genético (DNA),
que codificam informações genéticas, ou seja, essas informações estão inscritas em
código que controlam todo o funcionamento das células.

No que se refere à organização celular, as células procarióticas são extremamente


simples, chegando a ser comparadas aos primeiros organismos vivos que habitaram a
Terra há mais de três bilhões de anos. Existem muitas contradições quanto à classificação
das bactérias, o que é muito normal na pesquisa científica. São os organismos mais
abundantes do planeta, tanto em número como em espécies. Os tamanhos das células
procarióticas estão entre os menores organismos, a maioria deles medindo de 0,2 a 2,0
μm de diâmetro, sendo que o seu comprimento vai de 2 a 8 μm.

NOTA

Um micrômetro ou mícron, cujo símbolo é μm, é uma unidade do Sistema


Internacional de Unidades de comprimento. Está definido como um milionésimo de metro
(ou 1 × 10-6 m). Equivale à milésima parte do milímetro. A letra μ é a décima segunda letra do
alfabeto grego. Para dimensões ainda menores, utiliza-se o nanômetro (nm) que corresponde
a um milésimo do micrômetro (10-3cm, ou 10-6mm, ou 10-9m). O ângstrom (A) utilizado por
físicos e químicos é 10 vezes menor que o nanômetro.

Com relação ao seu tamanho, as células bacterianas apresentam três


formas básicas: forma esférica (cocos), bastonete (bacilos) e forma espiralada
(espirilos) (Figura 9).

FIGURA 9 – FORMAS MAIS COMUNS DE BACTÉRIAS

Cocos Bacilos Espirilos


FONTE: Disponível em: <http://www.enq.ufsc.br/labs/probio/disc_eng_bioq/
trabalhos_pos2003/const_microorg/bact.gif>. Acesso em: 16 set. 2010.

16
TÓPICO 1 | HISTÓRIA DA MICROBIOLOGIA

Entretanto, podem ocorrer muitas variações. Segundo Black (2002, p. 70),


“algumas bactérias, chamadas cocobacilos, são pequenos bastonetes com tamanho
intermediário entre cocos e bacilos. As bactérias espirais têm uma variedade de formas
curvas. Uma bactéria em forma de vírgula é chamada vibrião”. Outras bactérias com
um formato em espiral são chamadas de espiroquetas. As formas bacterianas são
muito variáveis, mesmo pertencendo à mesma categoria. Essas variações acontecem
tanto na forma como no tamanho. Geralmente, quando há abundância de nutrientes
no meio, as divisões celulares acontecem de forma muito rápida, fazendo com que
o tamanho das bactérias seja maior do que aquelas que estão em meios com pouco
nutriente. Existem algumas espécies de bactérias que apresentam flagelos bacterianos,
que são filamentos longos da superfície celular, cuja função é gerar movimento à
bactéria. Esse movimento acontece graças a uma estrutura semelhante a um “motor”
microscópico situado na parede e na membrana plasmática.

Ao observarmos por meio de um microscópio as células bacterianas,


iremos notá-las agrupadas com certa frequência, ou seja, ligadas umas às outras.
Para Pelczar, Chan e Krieg (1997a), as células bacterianas com formatos espiralados
aparecem como células únicas, sendo que muitas outras espécies de bactérias têm
um arranjo e padrões característicos de crescimento. Isso pode ser utilizado para
a identificação, pois cada um desses arranjos é típico para uma espécie particular.

Um exemplo citado por Pelczar, Chan e Krieg (1997a) é a divisão do coco


(Figura 10) dentro de um plano e que irá formar um diplococo, ou seja, duas células
ligadas. Isso é interessante, pois caracteriza as espécies, bem como o seu agente
etiológico (aquele que causa uma determinada moléstia). A divisão em planos pode
produzir células aos pares, bem como em cadeias, arranjo chamado de estreptococos.
Quando a célula se divide em dois planos, ela produz uma tétrade, que nada mais é
do que quatro células dispostas em forma de um quadrado. Outro arranjo é a sarcina,
que é produzida através da divisão em três planos, o que resulta em pacotes cúbicos
de oito células. Outra forma muito interessante é quando ocorre uma divisão em três
planos, porém em um plano irregular. O resultado é um agrupamento em forma de
cachos de uva. Pelczar, Chan e Krieg (1997a) lembram que muito raramente todas as
células de uma determinada espécie estão arranjadas exatamente no mesmo padrão.
Para o estudo das bactérias, o que se deve levar em conta, ainda segundo os autores,
o mais importante, sem dúvida, é o arranjo predominante.

FIGURA 10 – COCOS

Divisão ao longo do mesmo plano, Divisão ao longo Divisão ao longo de 3 planos


Forma esférica: formando cadeias curtas de dois planos
Coco 2 cocos: 4-20 cocos juntos: diferentes: Regulamente: Irregularmente:
Diplococos Estreptococos Tétrades Sarcinas Estafilococos

FONTE: Disponível em: <http://html.rincondelvago.com/bacterias_6.html>. Acesso em: 16 set. 2010.

17
UNIDADE 1 | MICROBIOLOGIA – FUNDAMENTOS

Bem diferente dos cocos são os bacilos (Figura 11). Eles se dividem em
apenas um plano, formando arranjos em uma grande variedade de padrões
característicos, porém com algumas exceções. Eles podem produzir células
unidas pelas extremidades ou simplesmente lado a lado.

FIGURA 11 – BACILOS

Forma de bastonete: Dois bacilos juntos: Cadeias de Bacilos: Emparelhados, Bacilos todo a
Bacilos Diplobacilos Estreptobacilos lado ou em figuras X, V ou Y

FONTE: Disponível em: < http://html.rincondelvago.com/bacterias_6.html>. Acesso em: 16 set. 2010.

As células bacterianas em forma de espirais (Figura 12) geralmente não


estão agrupadas.

FIGURA 12 – ESPIRILOS

Formal espiral rígida: Espirilo Se a espiral é flexível e ondulada: Espiroqueta

FONTE: Disponível em: <http://html.rincondelvago.com/bacterias_6.html>. Acesso em: 16 set. 2010.

Para Pelczar, Chan e Krieg (1997, p. 103), “[...] o tamanho, a forma e o


arranjo das bactérias constituem sua morfologia grosseira, sua aparência ‘externa’.
Mas uma observação interna das estruturas celulares individuais dá-nos uma
ideia de como uma bactéria funciona no seu ambiente”.

Técnicas microscópicas revelaram a existência na célula bacteriana de


uma diversidade estrutural (interna e externa) que funciona de forma conjunta.
Estruturalmente, a célula bacteriana está composta da seguinte forma:

Membrana celular (membrana plasmática), geralmente envolvida pela


parede celular e por uma camada externa adicional. É bom lembrar que a membrana
celular é comum a todas as células e é por isso que a estrutura das membranas celulares
bacterianas é a mesma que as de outras células. Tem como principal função regular a
entrada e a saída de materiais da célula bacteriana. Pode exercer outras funções como a
síntese de alguns componentes da parede celular, secreção de enzimas e possuir áreas
com apêndices – os flagelos – cuja ação dessas áreas irá induzir o movimento flagelar.
A parede celular bacteriana é composta por um polímero chamado peptidoglicano,
sendo que, às vezes, ela está envolvida por uma camada exterior (essa membrana
externa está ligada por uma camada contínua lipoproteica – proteína + lipídio).

18
TÓPICO 1 | HISTÓRIA DA MICROBIOLOGIA

NOTA

Peptidoglicano, conhecido como mureína, é um polímero formado por açúcares


e aminoácidos que forma uma camada do lado de fora da membrana plasmática da bactéria.

O citosol, um líquido viscoso e semitransparente, é composto por milhares


de tipos de proteínas, além de aminoácidos, bases nitrogenadas, vitaminas, glicídios,
lipídios e por 80% de água. Boa parte do metabolismo (reações químicas) ocorre no
citoplasma. Quanto ao citoplasma dos eucariontes, Black (2002) afirma que existe
uma diferença em relação ao citoplasma das células procarióticas. Segundo ele, as
células procarióticas não realizam a ciclose – movimento de circulação promovido
pelo citoplasma. Vamos encontrar também milhares de ribossomos (menores em
relação aos das células eucarióticas), cuja função é a de sintetizar proteínas.

Sabemos que uma das principais diferenças entre uma célula procariótica
e uma célula eucariótica é a ausência de uma membrana nuclear na célula
procariótica. O que as bactérias possuem, na realidade, é uma região nuclear
chamada de nucleoide, uma área do citoplasma que corresponde ao núcleo
das células eucarióticas, porém desprovida de uma membrana. Essa região
é constituída principalmente por DNA e por algum RNA, com proteínas
associadas. O DNA está arranjado em um longo cromossomo (cromossomo
bacteriano), dando-lhe um formato circular. A célula procariótica pode conter
ainda pequenas moléculas de DNA circular – plasmídios (Figura 13), que têm
informações genéticas que suplementam as informações no cromossomo.

FIGURA 13 – DESENHO ESQUEMÁTICO DE UMA CÉLULA BACTERIANA – PLASMÍDIO


Membrana plasmática
Citoplasma Parede celular
Mesossomo Cápsula
Ribossomos
Fímbrias
Enzimas relacionadas
com a respiração,
ligadas à face
interna da membrana
plasmática
Plasmídeos
Nucleóide
Flagelo DNA associado
ao mesossomo
FONTE: Disponível em: <http://www.vestibulandoweb.com.br/biologia/monera-q11.
jpg>. Acesso em: 18 set. 2010.

19
UNIDADE 1 | MICROBIOLOGIA – FUNDAMENTOS

E
IMPORTANT

Os plasmídios são muito utilizados na biotecnologia como vetores de clonagem.


“O sucesso da transgenia depende de que a inserção de um gene clonado em um embrião
hospedeiro integre-se e se replique nas sucessivas divisões celulares e passe a ser reconhecido
e regulado pelas células hospedeiras”. (GAIESKY, 2001, p. 28).

TUROS
ESTUDOS FU

Caro acadêmico! Biotecnologia e suas aplicações serão detalhadamente


estudadas na Unidade 2, Tópico 3, deste Livro Didático.

Constituídos de ácido ribonucleico e proteínas, os ribossomos são


extremamente abundantes nas células procarióticas. Esses ribossomos são
diferentes quando comparamos com os das células eucarióticas. Os ribossomos
das células procarióticas são menores e apresentam proteínas diferentes em sua
constituição. A função dos ribossomos é a de sintetizar as proteínas necessárias
para a célula. Sua forma é quase esférica.

Existem outros sistemas de membranas internas que são, muitas vezes,


citados como cromatóforos e encontrados nas bactérias fotossintetizantes e
nas cianobactérias. Esses sistemas de membranas dos cromatóforos possuem
sua origem nas membranas celulares. A função desses cromatóforos, para essas
bactérias, é a de capturar energia luminosa, pois esses sistemas possuem, em seu
interior, pigmentos para fotossíntese. No citoplasma das bactérias, vamos encontrar
ainda uma diversidade de corpúsculos chamados de inclusões. Alguns desses
são chamados de grânulos e outros de vesículas. Os grânulos não são limitados
por membranas e possuem conteúdos variados. Esses conteúdos são densos e
compactados e não se dissolvem no citoplasma. Não são todas as bactérias que
apresentam vesículas, que são estruturas especializadas envoltas por membrana.

Os microrganismos procarióticos (bactérias) formam, quando o meio não


lhes é favorável para a sua sobrevivência, geralmente pelo esgotamento de algum
nutriente ou pela alteração de temperatura, perda de água para o meio, esporos ou
endósporos (Figura14) e cistos. Essas formas são denominadas latência (latentes),
na qual estão metabolicamente inativos, ou seja, não estão crescendo. Quando o
meio ambiente estiver em condições propícias, eles se tornam metabolicamente
ativos, podendo germinar (crescer e se multiplicar). O endósporo, segundo Black
(2002), é formado dentro das células e com uma quantidade muito pequena de
água, possui uma resistência grande ao calor, às soluções ácidas e alcalinas, à
desidratação, bem como a certos desinfetantes e até mesmo às radiações.
20
TÓPICO 1 | HISTÓRIA DA MICROBIOLOGIA

FIGURA 14 – ENDÓSPORO

FONTE: Disponível em: <http://curlygirl.no.sapo.pt/imagens/


endosporo.jpg>. Acesso em: 16 set. 2010.

ATENCAO

O álcool que compramos em supermercados é muito concentrado (92,8%) para


realizar desinfecções. Por ele volatilizar muito rápido, não dá tempo para que ele penetre na
parede celular dos microrganismos, dando tempo para eles modificarem sua parede celular e
se tornarem resistentes. Para isso, recomenda-se diluir o álcool em água para que demore mais
a volatilizar, dando tempo para penetrar na parede celular dos microrganismos, matando-os.a

DICAS

Podemos transformar o álcool comprado em supermercados em um excelente


desinfetante. Para produzirmos 1 litro de álcool 70%, que é o ideal para a eliminação dos
microrganismos, basta retirar 250 ml de álcool do frasco e completá-lo com água. Pronto,
você já pode começar a sua limpeza!

Externamente, muitas bactérias (cerca de metade delas) apresentam estruturas


móveis, os flagelos. A função principal dos flagelos é a locomoção das bactérias.
Essa locomoção, muitas vezes, se dá por um processo não aleatório chamado de
quimiotaxia (movimento que as bactérias fazem em direção a favor ou em direção
contrária a substâncias em seu meio). Os flagelos são apêndices longos, delgados e
helicoidais de composição proteica (subunidades de proteínas chamadas flagelina),
que estão ligados à parede e às membranas celulares. Eles são estruturalmente
diferentes dos flagelos eucarióticos. As bactérias podem apresentar apenas um, dois
ou mais flagelos. De acordo com o número de flagelos, elas recebem denominações
diferentes (Figura 15). Bactérias com apenas um flagelo polar em uma extremidade
ou polo – monotríquias; com dois flagelos, um em cada extremidade – anfitríquias;
com dois ou mais flagelos em uma ou ambas as extremidades – lofotríquias; bactérias
com flagelos em toda a superfície são denominadas peritríquias.

21
UNIDADE 1 | MICROBIOLOGIA – FUNDAMENTOS

FIGURA 15 – CLASSIFICAÇÃO QUANTO AO NÚMERO DE FLAGELOS.


A – MONOTRÍQUIA. B – LOFOTRÍQUIA. C – ANFITRÍQUIA. D –
PERITRÍQUIA

FONTE: Disponível em: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/


commons/0/08/Flagella.png>. Acesso em: 16 set. 2010.

Como vimos anteriormente, as bactérias apresentam apêndices


locomotores, porém algumas, em especial as Gram-negativas, possuem outros
tipos de apêndices - os pili (pelos) (Figura 16), que não estão relacionados com
o movimento. Tais estruturas são prolongamentos ocos, pequenos e bem mais
numerosos que os flagelos, cuja função é a de fixar as bactérias às superfícies.
É constituído por subunidades (pillus) de uma proteína denominada pilina.
Segundo Black (2002, p.82), “as bactérias podem ter dois tipos de pili: (1) pili de
conjugação, longos, ou pili F, também chamados pili sexuais e (2) pili de ligação,
curtos, ou fímbrias”.

FIGURA16 – MICROGRAFIA ELETRÔNICA ONDE APARECE O PILI E O FLAGELO

FONTE: Disponível em: <http://recursos.cnice.mec.es/biosfera/alumno/2bachil


lerato/micro/imagenes/flagelopili.jpg>. Acesso em: 16 set. 2010.

22
TÓPICO 1 | HISTÓRIA DA MICROBIOLOGIA

De uma forma geral, as células eucarióticas são bem maiores e com uma
grande complexidade em relação às células procarióticas. Boa parte das células
eucarióticas possui um diâmetro maior que 10 μm, sendo que algumas podem
atingir diâmetros ainda maiores. Outra particularidade das células eucarióticas
é a sua grande variedade de estruturas altamente diferenciadas. Para Carneiro
e Junqueira (2000), uma das grandes características das células eucarióticas está
na sua riqueza de membranas, que formam compartimentos que separam os
diversos processos metabólicos. Tudo isso graças às diferenças enzimáticas entre
as membranas dos vários compartimentos, bem como ao direcionamento das
moléculas absorvidas. Essas e tantas outras características conferem às células
eucarióticas um aumento na eficiência e, além disso, promovem uma separação
das atividades, que permite um aumento no seu tamanho, sem qualquer prejuízo
de suas funções.

ATENCAO

Na Unidade 2 do Livro Didático de Citologia, você estudou as organelas que


compõem a célula e suas funções. Vale a pena relembrar para darmos continuidade aos
nossos estudos.

As células eucarióticas são as unidades estruturais básicas de todos os


organismos dos reinos Protista (protozoários), Fungi (fungos), Plantae (Vegetais)
e Animallia (Animais). Vale lembrar que os protozoários, fungos microscópicos
e as algas microscópicas estão incluídos como seres eucariontes e, por isso, são
estudados em Microbiologia.

ATENCAO

Caro acadêmico! Na leitura que segue encontram-se algumas palavras que são
usadas na linguagem de Portugal. Procuramos ser fiéis às fontes consultadas.

23
UNIDADE 1 | MICROBIOLOGIA – FUNDAMENTOS

LEITURA COMPLEMENTAR

EVOLUÇÃO DOS PROCARIONTES EM EUCARIONTES

Actualmente, a
maioria dos biólogos considera procariontes
procarionte

que todos os seres vivos aeróbicos de vida


livre
conhecidos na Terra podem procarionte
fotossintéticos
ser divididos em dois grandes de vida livre
grupos: os seres procariontes
e os seres eucariontes. O
principal critério de distinção procarionte simbiótico

entre estes grupos é a sua procariontes simbióticos


organização celular. bactéria torna-se mitocôndria
núcleo
bactéria torna-se cloroplasto
Ao longo de vários
cloroplasto
milhões de anos, os seres
procariontes habitaram
ambientes aquáticos e foram-
se diversificando. Alguns
mitocôndria
desses seres unicelulares mitocôndria núcleo
desenvolveram um processo Célula animal Célula vegetal
metabólico que conduzia à
libertação de oxigênio – a fotossíntese.

O surgimento do oxigênio na atmosfera teve um grande impacto na vida


dos procariontes. Desta forma, muitos grupos de procariontes foram extintos,
envenenados pelo oxigênio. Contudo, alguns conseguiram sobreviver em
ambientes que permaneciam anaeróbios.

Entre os sobreviventes, houve um grupo, que à semelhança das actuais


mitocôndrias, era capaz de aproveitar este gás para oxidar os compostos orgânicos,
obtendo assim uma grande quantidade de energia.

Alguns grupos de procariontes evoluíram e aumentaram a sua complexidade,


tendo, muito provavelmente, estado na origem dos organismos eucariontes.

Fundamentalmente, existem duas hipóteses que tentam explicar a origem


dos seres eucariontes a partir dos procariontes:

Hipótese Autogênica, os seres eucariontes são o resultado de uma evolução


gradual dos seres procariontes. Numa fase inicial, as células desenvolveram
sistemas endomembranares resultantes de invaginações da membrana plasmática.

Algumas dessas invaginações armazenavam o DNA, formando um núcleo.


Outras membranas evoluíram no sentido de produzir organelas semelhantes ao
retículo endoplasmático.
24
TÓPICO 1 | HISTÓRIA DA MICROBIOLOGIA

Posteriormente, algumas porções do material genético abandonaram o


núcleo e evoluíram sozinhas no interior de estruturas membranares. Desta forma,
formaram-se organelas como as mitocôndrias e os cloroplastos.

A B C D

Hipótese Endossimbiótica: Esta hipótese defende que os seres eucariontes


terão resultado da evolução conjunta de vários organismos procariontes, os quais
foram estabelecendo associações simbióticas entre si. O termo endossimbiótica resulta
do facto de algumas células viverem no interior de outras, numa relação de simbiose.

Embora este modelo admita que os sistemas endomembranares e o núcleo


tenham resultado de invaginações da membrana plasmática, as mitocôndrias
e os cloroplastos seriam organismos autônomos. Nessa altura, algumas células
de maiores dimensões (células hospedeiras) terão capturado células menores,
como as ancestrais das mitocôndrias e dos cloroplastos. Alguns destes ancestrais
conseguiam sobreviver no interior da célula procariótica de maiores dimensões,
estabelecendo-se relações de simbiose.

A íntima cooperação entre estas células conduziu ao estabelecimento


de uma relação simbiótica estável e permanente. A evolução conjunta destes
organismos terá levado ao surgimento das células eucarióticas constituídas por
várias organelas, algumas das quais foram, em tempos, organismos autônomos.

Assim, as primeiras relações endossimbióticas terão sido estabelecidas com


os ancestrais das mitocôndrias. Os ancestrais das mitocôndrias seriam organismos
que tinham desenvolvido a capacidade de produzir energia, de forma muito
rentável, utilizando o oxigênio no processo de degradação de compostos orgânicos.

Modelo endossimbiótico
Procarionte heterotrófico aeróbico Procarionte fotossintético Cloroplasto

Mitocôndria Mitocôndria
Célula hospedeira ancestral Célula eucariótica fotossintética
FONTE: Disponível em: <https://biomania.com.br/artigo/unicelularidade-e-pluricelularidade>
Acesso em: 22 mar. 2018.

25
UNIDADE 1 | MICROBIOLOGIA – FUNDAMENTOS

Por outro lado, outro grupo de procariontes, semelhante às actuais


cianobactérias, tinha desenvolvido a capacidade de produzir compostos
orgânicos utilizando a energia luminosa. A associação das células procarióticas
de maiores dimensões com estes seres, ancestrais dos cloroplastos, conferia-lhe
vantagens evidentes.

Mas nem todas as células eucarióticas possuem cloroplastos. Este facto é


explicado, segundo a Hipótese Endossimbiótica, pelo estabelecimento de relações
simbióticas de forma sequencial. Isto é, as primeiras relações endossimbióticas
terão sido estabelecidas com os ancestrais das mitocôndrias e, só posteriormente,
algumas dessas células terão estabelecido relações de simbiose com os ancestrais
dos cloroplastos.

FONTE: Disponível em:<http://bio-portefolio.blogspot.com/2008/12/evoluo-dos-procariontes-


em-eucariontes.html>. Acesso: em 18 set. 2010.

26
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico você estudou que:

• Os microrganismos fazem parte do nosso meio ambiente, sendo então, muito


importantes para a saúde e para as nossas atividades.

• Estudar os microrganismos nos dá uma visão dos processos vitais em


praticamente todas as formas de vida.

• Durante as últimas décadas, os microrganismos surgiram como parte principal


das ciências biológicas, devido à sua relativa simplicidade na realização de
experimentos.

• Os microrganismos emergiram como uma nova fonte de produtos e processos


para o benefício do homem.

• Para que a microbiologia pudesse progredir, várias teorias tiveram que ser
refutadas, entre elas a da geração espontânea (abiogênese).

• Redi e Spallanzani (biogenistas) demonstraram que os organismos não cresciam


da matéria morta.

• A derrubada da geração espontânea (abiogênese) se deu por intermédio de


Pasteur, com seus frascos com “pescoço de cisne”.

• Leeuwenhoek desenvolveu o microscópio, que tornou possível a visualização


do mundo microscópico.

• Robert Hooke, com o seu microscópio composto, visualiza fatias finas de


cortiça, com pequenos compartimentos - celas - que denominou células.

• As células procarióticas, bem como as eucarióticas, possuem membranas que


definem as fronteiras da célula viva. Ambas com informações genéticas que
estão armazenadas no DNA.

• Células procarióticas diferenciam-se das eucarióticas por não possuírem núcleo


definido e muito menos organelas.

• Os seres procariontes (bactérias) são os menores organismos vivos.

• As bactérias podem apresentar forma de cocos, bacilos, espirilos,


espiroquetas, incluindo arranjos aos pares, tétrades em forma de cacho de
uvas e em cadeias longas.

27
• As células bacterianas possuem uma membrana celular, citoplasma, ribossomos,
região nuclear, bem como estruturas externas.

• Células eucarióticas são bem maiores e muito mais complexas do que as células
procarióticas, sendo as unidades básicas tanto de seres microscópicos como dos
macroscópicos (Protista, Fungi, Plantae e Animallia).

28
AUTOATIVIDADE

1 Qual pesquisador demonstrou, pela primeira vez, que os


seres vermiformes presentes na carne podre se originavam
de ovos depositados por moscas?

2 O desfecho da controvérsia relativa à origem dos seres vivos


(teoria da biogênese x teoria da abiogênese) deve-se:

a) ( ) A Abbey Lazzaro Spallanzani, que realizou experimentos


e mostrou que,aquecendo prolongadamente substâncias orgânicas
acondicionadas em recipientes fechados e providos de válvula de
escape, não ocorria o desenvolvimento de microrganismos.
b) ( ) Aos experimentos de Louis Pasteur com os seus balões do tipo “pescoço
de cisne”.
c) ( ) À descoberta da “força vital”, por John T. Needhan.
d) ( ) Aos experimentos de Francesco Redi, que mostraram que, ao se
colocar pedaços de carne pura em frascos, deixando alguns abertos
e outros fechados com gaze, observa-se a presença de larvas, ovos e
moscas após alguns dias, somente nos frascos abertos.
e) ( ) À descoberta do microscópio.

FONTE: Disponível em: <http://www.cnsg-pi.com.br/simulado/provas/ano1_3_3_07.pdf>.


Acesso em: 27 nov. 2010.

3 Relacione os itens, utilizando o seguinte código:

I- Antony van Leeuwenhoek.


II- Robert Hooke.
III- Theodor Schwann.

( ) Quem foi um dos formuladores da Teoria Celular?


( ) Quem introduziu o termo célula na Biologia?
( ) A quem se atribuiu a descoberta do mundo microscópico?

29
4 A chamada “estrutura procariótica”, apresentada pelas
bactérias, indica-nos que esses seres vivos são:

a) ( ) Destituídos de membrana plasmática.


b) ( ) Formadores de minúsculos esporos.
c) ( ) Dotados de organelas membranosas.
d) ( ) Constituídos por parasitas obrigatórios.
e) ( ) Desprovidos de membrana nuclear.

FONTE: Disponível em: <http://www.scribd.com/doc/4034329/Biologia-PPT-Maxi-Reino-


Monera>. Acesso em: 27 nov. 2010.

5 O que são endósporos bacterianos?

6 Pela leitura que você fez do texto “Evolução dos Procariontes


em Eucariontes”, pôde-se notar que é uma proposta pela
qual as células eucarióticas têm evoluído. Retorne ao texto
e procure destacar as diferenças entre as duas hipóteses
apresentadas no texto.

7 Microbiologia é:

a) ( ) A ciência que estuda os seres vivos e as leis gerais que os


governam.
b) ( ) A denominação comum a organismos microscópicos.
c) ( ) A associação entre raízes de uma planta.
d) ( ) O ramo da Biologia que estuda os microrganismos, incluindo eucariontes
unicelulares e procariontes, como as bactérias, protozoários, fungos e
vírus.

8 A respeito dos microrganismos, classifique as seguintes


sentenças em V (verdadeiras) ou F (falsas):

( ) São muito pequenos, visualizados somente com o auxílio de


um microscópio.
( ) Muitos são utilizados em benefício da natureza e do homem.
( ) São seres que podem viver isolados ou em colônias.
( ) Todos são inofensivos ao homem.
( ) Eles podem se reproduzir por divisão mitótica.

30
UNIDADE 1
TÓPICO 2

PRINCIPAIS GRUPOS DE MICRORGANISMOS

1 INTRODUÇÃO
Sabemos que há uma enorme diversidade de formas de organismos
vivos. Essas formas de vida possuem uma dinâmica muito grande e estão sujeitas
a contínuas alterações evolutivas, resultado de sucessivas mutações e seleção
natural nos ambientes em constante transformação. De todos os organismos
biológicos que conhecemos, os microrganismos estão entre os mais antigos.
Consequentemente, eles tiveram muito mais tempo de evolução. Neste tópico,
iremos conhecer os principais grupos de microrganismos, bem como as suas
sistematizações e taxonomia.

2 TAXONOMIA
Podemos dizer que a Microbiologia se encarrega de estudar os organismos
microscópicos. Esses organismos possuem em comum somente o tamanho, porém
muitos são unicelulares, sendo que alguns possuem a capacidade de viverem
associados, formando colônias ou estruturas pluricelulares, como as algas e os
fungos. Antes de a genética molecular possuir todo o desenvolvimento que possui
hoje, os organismos eram classificados segundo os seus caracteres morfológicos, a
sua fisiologia e também pelo seu comportamento. Dessa forma, podiam-se obter
informações sobre o grau de evolução do organismo que se queria classificar. Com
isso, houve classificações do tipo filogenético, que analisavam as relações evolutivas
dos organismos vivos. Ocorreram muitas falhas de classificação nos estudos dos
seres unicelulares e, com o desenvolvimento de novas técnicas de classificações,
as antigas foram sendo substituídas. Para Roitman, Travassos e Azevedo (1991,
p. 107), “[...] a ciência que tem como objetivo tentar ordenar o caos aparente da
diversidade biológica é a taxonomia”. Segundo os mesmos autores, é muito
comum a utilização da palavra sistemática como um sinônimo de taxonomia,
porém ela está mais voltada para a parte de classificação e pode também significar
a ordenação de outras entidades fora do âmbito da taxonomia. Para Black (2002, p.
208), “[...] a taxonomia é a ciência da classificação. Ela fornece uma base ordenada
para a denominação dos organismos em uma categoria, ou táxon”.

31
UNIDADE 1 | MICROBIOLOGIA – FUNDAMENTOS

UNI

Caro acadêmico! É importante saber a diferença entre Taxonomia e Sistemática.


Pois bem, Taxonomia é o ramo da Biologia que se ocupa da classificação dos seres vivos e
da nomenclatura dos grupos formados. Sistemática inclui a taxonomia e a biologia evolutiva.
É uma ciência que utiliza todos os conhecimentos dos seres vivos para entender as suas
relações de parentesco e sua história evolutiva, desenvolvendo, assim, um sistema de
classificação.

Com a publicação do livro Systema Naturae (Sistema Natural) pelo


sueco Karl von Lineu, em 1735, durante muitos anos só se tinha o conhecimento
de dois reinos na sistemática: o vegetal e o animal. Em 1866, o evolucionista
alemão Ernst Haeckel propôs um terceiro reino: Protistas, constituído
por microrganismos. Mais tarde, Haeckel observou que alguns desses
microrganismos não possuíam núcleo e acabou denominando-os Monera. Na
década de 60, as bactérias foram reconhecidas por Herbert F. Copeland como
pertencentes ao reino Monera, independente dos Protistas. Os Fungos foram
os últimos organismos a receberem um reino e coube a Robert H. Whittaker
o mérito de criá-lo. Em 1969, resolveu-se aceitar a proposta de Copeland e
se propôs uma classificação geral dos seres vivos que continha cinco reinos:
Monera (bactérias), Protistas (protozoários), Fungi (fungos), Animallia
(animais) e Plantae (vegetais). Passados alguns anos, já na década de 80,
Lynn Margulis e Karlene Schwartz reconhecem os cinco reinos propostos por
Whittaker, mas resolvem estudar mais a fundo o reino Protista, para melhor
caracterizá-lo com propostas de fazer algumas modificações. A proposta era
a de conservar o número de reinos e incluir as algas dentro do antigo grupo
Protista. Este novo reino foi denominado Protoctista. Boa parte da literatura
científica ainda utiliza a denominação Protista. Portanto, a nova classificação
de cinco reinos consiste em Procariota (Moneras – bactérias), Protoctista ou
Protista (algas, protozoários etc.), Fungi (liquens e fungos), Animallia (animais
vertebrados e invertebrados) e Plantae (musgos (briófitas), samambaias
(pteridófitas), coníferas (gimnospermas) e plantas com flor (angiospermas)).

FONTE: Disponível em: <http://www.scrib.com/doc/35499457/A-DIVERSIDADE-BIOLOGICA>.


Acesso em: 27 nov. 2010.

32
TÓPICO 2 | PRINCIPAIS GRUPOS DE MICRORGANISMOS

FIGURA 17 – CLASSIFICAÇÃO DOS SERES VIVOS EM REINOS PROPOSTA POR LINEU EM 1735
E HAECKEL EM 1866
PLANTAE ANIMALIA PLANTAE ANIMALIA
Plantas Cordados Plantas
vasculares vasculares Cordados
Artrópodes

s
iár do erme
Musgos e Artrópodes

An olu
Musgos
es Fungos

elí sc
liquenos

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M
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on Bolores
e

p
ado

Bactérias Bolores Es Sarcodinas

?
s

Bactérias
Ciliados PROTISTA

Dois reinos - Aristóteles a Lineu Três reinos - Haeckel


FONTE: Disponível em: <http://maisbiogeologia.blogspot.com/2009/01/sistemtica-dos-seres-
vivos.html>. Acesso em: 25 set. 2010.

FIGURA 18 – CLASSIFICAÇÃO DOS SERES VIVOS EM REINOS PROPOSTA POR COPELAND EM


1960 E WHITTAKER EM 1969
ANIMALIA PLANTAE
ANIMALIA
Meso helmin mertehelmntacula Moll Arthropoda

Tra
Chordata

Basidiomycota
Ascomycota

tha lida thro ca


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Annelida

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Chytridiomycota
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Pyrrophyta Domycota
Tracheophyta

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Ascomycota

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Phaeoph

Porífera

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Zygomycota

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Opisthokonta

Mycomicota

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Acrasiae
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Chorophyta

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Euglen
Protoplasta

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Charophyta

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Zoomastigina

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Cridosporidi

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Euglenophyta

ora

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Pyrrophyta
phy
Rho

Inophyta
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Sarcodina

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yso

Cil
Chr

PROTISTA
PROTISTA Bac
teria
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an

MONERA
op
hy

Archezoa MONERA
ta

Quatro reinos - Copeland Cinco reinos - Whittaker


FONTE: Disponível em: <http://maisbiogeologia.blogspot.com/2009/01/sistemtica-dos-seres-
vivos.html>. Acesso em: 25 set. 2010.

33
UNIDADE 1 | MICROBIOLOGIA – FUNDAMENTOS

E
IMPORTANT

Encontramos diferentes modos de escrever o nome desse notável cientista:


• Carl von Linné
• Karl von Lineu
• Carolus Linnaeus
Mas, para este Caderno, adotamos a segunda maneira, a mais popular, Karl von Lineu.

Atualmente existem duas formas de classificação que seguem propostas


diferentes: a classificação de Lynn Margulis (Quadro 1) e a classificação de Woese
(Figura 19).

QUADRO 1– SISTEMA DE CLASSIFICAÇÃO DE MARGULIS

Domínios ou Super-reinos Reinos Sub-reinos


Archea (Arqueobactérias)
Prokarya (Procariontes) Monera (Bactéria)
Eubacteria (Eubactérias)
Protoctista (Protista)
Fungi (Fungos)
Eukarya (Eucariontes)
Plantae (Plantas)
Animallia (Animais)

FONTE: Disponível em: <http://portfbio-chinita.webnode.com/products/sistematica-dos-seres-


vivos/>. Acesso em: 25 set. 2010.

Portanto, os microrganismos estariam colocados entre os três reinos:


Moneras (bactérias), Protoctistas (protozoários e algas microscópicas) e Fungi
(os fungos microscópicos). Até fins da década de 70, o Reino era considerado a
categoria sistemática que mais incluía. Porém, o sequenciamento de moléculas
universais – RNAr – levou Carl Woese e colaboradores à construção de uma árvore
filogenética única, na qual há uma diferenciação de três linhagens evolutivas
principais (Figura 19).

34
TÓPICO 2 | PRINCIPAIS GRUPOS DE MICRORGANISMOS

FIGURA 19 – ESTRUTURA FILOGENÉTICA MAIS PROFUNDA DA DIVERSIDADE BIOLÓGICA OBTIDA


POR WOESE A PARTIR DO SEQUENCIAMENTO DO RNAR
Bacteria Archaea Myxomycota Eukarya
Bacteria verde
Spirochaetes filamentosa Entamoeba Animales
Gram Fungi
Methanosarcina
positiva
Methanobacterium Halófilos
Proteobacteria Plantas
Methanococus
Cianobacteria Ciliphora
T. celer
Planctomyces Thermoproteus Flagelados
Pyrodicticum
Bacteroides
Tricomonadas
Cytophaga
Microsporidias
Thermotoga

Aquifex Diplomonadas

FONTE: Disponível em: <https://eltamiz.com/elcedazo/wp-content/uploads/2013/05/Arbol-


filogenetico.png> Acesso em: 22 mar. 2018.

Na Figura 19, podemos observar três grupos monofiléticos bem distintos,


que correspondem aos domínios Bacteria, Archaea e Eucarya. A proposta de
Woese foi agrupar em uma nova categoria, denominada domínio, cada uma das
linhagens ou grupos monofiléticos, denominando-os: Archaea (evolutivamente
seriam os microrganismos mais antigos (PELCZAR; CHAN; KRIEG, 1997a). Estão
incluídos aqui os organismos Procarióticos com capacidade de sobreviverem em
condições muito extremas, tais como, viver em locais de altas temperaturas ou
em ambientes altamente salinos), Bacteria (evolutivamente estão incluídas aqui
as bactérias mais modernas que do domínio anterior), e Eucarya (aqui estão
incluídos todos os seres formados por células eucarióticas). Essa troca ressalta
muito bem as diferenças que até então estavam escondidas entre organismos
procariontes. Para Pelczar, Chan e Krieg (1997a, p. 59), “Woese propôs que
arqueobactérias, eubactérias e eucariotos representam os três reinos primários da
vida, um conceito que está ganhando adeptos entre os cientistas”. Não importa
qual seja o sistema de classificação adotado, o que importa é ter conhecimento das
principais categorias de organismos vivos e das suas características, que levam a
sua inserção em um ou outro reino.

A classificação nada mais é do que um arranjo ordenado dos organismos


com caracteres semelhantes para separar daqueles com caracteres diferentes em
grupos chamados de taxa - singular de táxon.

35
UNIDADE 1 | MICROBIOLOGIA – FUNDAMENTOS

UNI

Para entender melhor a importância da classificação dos seres vivos, vamos fazer
uma analogia. Imagine você entrando numa biblioteca para fazer uma pesquisa sobre bactérias
e se depara com 2 mil livros, de diversas áreas, todos espalhados e misturados. Sua pesquisa
irá se tornar bem complicada, não acha? Agora, imagine entrar nessa mesma biblioteca com
todos os livros organizados por área de conhecimento. Com certeza sua pesquisa será bem
mais fácil. Com os seres vivos acontece o mesmo. São milhares de espécies classificadas para
facilitar o estudo.

O objetivo central da classificação é agrupar os microrganismos seguindo


critérios, cujo objetivo é a obtenção de uma sistemática descritiva ou artificial
ou simplesmente agrupar os microrganismos com aplicações de métodos que
refletem a sistemática filogenética. Existe um problema para os microrganismos
quanto ao sistema natural de classificação. A dificuldade toda está na ausência
de fósseis. Por isso, fica muito difícil o estabelecimento de uma classificação
natural. Para sanar essa dificuldade, os taxonomistas utilizam técnicas de
biologia molecular (estudos de macromoléculas – ácidos nucleicos e proteínas).
Por isso, para fazer uma classificação dos organismos, exige-se um conhecimento
profundo de suas características. Em uma descrição completa e adequada de um
táxon microbiano são aplicados dados morfológicos, bioquímicos, fisiológicos,
genéticos e ecológicos.

TUROS
ESTUDOS FU

No próximo tópico, veremos os principais grupos de microrganismos. Fique


atento às principais características que cada grupo apresenta. Bons estudos!

3 CLASSIFICAÇÃO
A classificação dos organismos macroscópicos pode ser feita, em um
primeiro momento, baseando-se nas características estruturais visíveis, porém,
é muito complicado fazer uma classificação dessa forma para os organismos
microscópicos, em especial para as bactérias, que possuem na sua grande maioria
estruturas semelhantes. Não adiantaria em nada tentar fazer uma separação de
acordo com a sua forma, tamanho e muito menos pelo arranjo da célula, pois
não seria muito útil como forma de classificação sistêmica. Nem mesmo se fosse
avaliar a presença de estruturas específicas – flagelos, endósporos ou cápsulas –
iria ajudar na identificação de espécies particulares. Por tudo isso, há a necessidade
de outros critérios para serem usados em uma classificação.
36
TÓPICO 2 | PRINCIPAIS GRUPOS DE MICRORGANISMOS

Sabemos que o sistema de classificação biológica se baseia na hierarquia


taxonômica, que permite um melhor ordenamento dos grupos de organismos em
categorias. Sendo assim, teremos o Reino, no qual estão reunidos todos os filos. O
termo Filo é utilizado para animais e Divisão é aplicado para plantas. Essa categoria
reunirá todas as classes semelhantes. A Classe reunirá todas as Ordens. A Ordem
inclui todas as Famílias. A Família está constituída de Gêneros relacionados ou
semelhantes entre si. O Gênero irá agrupar as espécies similares, ou seja, ele é mais
abrangente que a espécie, incluindo diferentes espécies que apresentam grandes
semelhanças estruturais. A Espécie é um grupo de indivíduos que estão dotados de
algumas características típicas, porém ausentes em outras espécies.

E
IMPORTANT

Caro acadêmico! Observe a classificação a seguir. À medida que vamos


avançando uma categoria, a quantidade de animais vai diminuindo, até que cheguemos a
uma única espécie.

FIGURA 20 – CLASSIFICAÇAO DOS SERES VIVOS NAS CATEGORIAS TAXONÔMICAS

Categorias taxonómicas

Reino

Filo
Número de espécies

Número de grupos

Classe

Ordem

Familia

Gênero

Espécie

José Salsa - 2005

FONTE: Disponível em: <http://www.cientic.com/imagens/pp/sistematica/sl_12.jpg> Acesso


em: 25 set. 2010.

37
UNIDADE 1 | MICROBIOLOGIA – FUNDAMENTOS

3.1 BACTÉRIAS
Para o estudo das bactérias e sua classificação, utiliza-se uma técnica de
colocação para o estudo de sua morfologia. É a técnica da coloração de Gram,
que consiste em tratar bactérias com dois corantes, um violeta e outro rosa
(PELCZAR; CHAN; KRIEG, 1997a). Certas bactérias retêm os dois corantes,
apresentando a coloração violeta ao microscópio, porém outras perdem o corante
violeta, exibindo apenas a cor rosa.

E
IMPORTANT

Bactérias coradas com a cor violeta serão chamadas de Gram-positivas e as que


se coram de rosa, de Gram-negativas.

Essa diferença na capacidade de reter os corantes está na composição da


parede bacteriana e já estava entre as primeiras características a serem usadas
na classificação das bactérias. Algumas outras características estão em uso, entre
elas, aquelas relacionadas com o crescimento, as necessidades nutricionais, bem
como sobre as análises moleculares, genéticas, fisiológicas e bioquímicas. Estão
incluídas também as características do DNA e proteínas.

Através do uso de vários critérios de classificação, podemos identificar um


microrganismo como pertencente a um gênero e espécie em particular. Segundo
Black (2002, p. 27), “para as bactérias, uma espécie é considerada como uma
coleção de cepas que compartilham muitas características em comum e diferem
significativamente de outras cepas”. Podemos dizer que uma cepa bacteriana é
composta por descendentes de um isolamento único em uma cultura pura. A
denominação cepa-tipo é feita por bacteriologistas para indicar uma cepa de uma
espécie e por ser também a primeira a ser descrita. Ela será portadora do nome da
espécie e será preservada em uma ou mais culturas-tipo.

NOTA

O termo cepa (no feminino) vem do latim cippus, que deu cepo, “tronco”,
população de microrganismos de uma mesma linhagem ou descendência ou uma amostra
de germes de uma mesma espécie cultivada em laboratório – uma clonagem de bactérias.

38
TÓPICO 2 | PRINCIPAIS GRUPOS DE MICRORGANISMOS

É possível determinar em um grupo de várias cepas bacterianas se elas


pertencem a membros de uma espécie particular. Porém, fica muito difícil concluir
se a cepa pertence a uma espécie já existente ou difere de forma suficiente para ser
considerada como uma espécie nova. Hoje, as análises de semelhanças de DNA
e proteínas entre os microrganismos têm sido um meio muito seguro para fazer
uma relação de uma cepa com uma espécie já existente ou gerar informações
suficientes para uma nova espécie.

Para Black (2002, p. 228), “[...] relacionar gêneros de bactérias com níveis
taxonômicos superiores – famílias, ordens, classes e divisões (ou filos) – pode ser
mais difícil que organizar espécies e cepas dentro dos gêneros”. A classificação
de vários organismos macroscópicos é feita levando-se em conta as suas relações
evolutivas com outros organismos que possuem registros fósseis. Pela falta de
registros fósseis, fica muito difícil fazer esse tipo de classificação em bactérias. Para
Pelczar, Chan e Krieg (1997a, p. 231), “[...] as bactérias têm sido descritas em vários
livros e artigos, mas uma publicação é considerada única devido à ampla abordagem
sobre o assunto – o Bergey’s Manual of Systematic Bacteriology”. O manual citado -
Manual de Bacteriologia Determinativa de Bergey – é um grande trabalho publicado
em 1923, pela Sociedade Americana de Microbiologia, tendo como presidente
do grupo editorial o autor David H. Bergey. Através do esforço de centenas de
microbiologistas, esse manual é de referência internacional. Cada um com a sua
especialidade em algum grupo de bactérias foi montando o manual no qual não só se
descrevem todos os gêneros e as espécies estabelecidas, mas também se fornece uma
organização altamente prática, gerando a diferenciação de todos esses organismos.
Apresenta também esquemas e tabelas de classificação extremamente apropriadas
no processo. Segundo Black (2002, p. 228), “O Manual Bergey tornou-se referência
internacionalmente reconhecida para a taxonomia das bactérias. Serviu também
como um ponto de referência confiável para os profissionais médicos interessados na
identificação dos agentes causadores de infecções”.

A forma bacteriana possui certa importância na classificação, bem como as


técnicas de coloração e a avaliação bioquímica. Entretanto, o que se leva em conta
atualmente nas classificações modernas é a similaridade entre as sequências de
DNA, para que se possa estabelecer a existência de relações de parentesco evolutivo
entre as espécies de bactérias. Existem algumas classificações que chegam a
considerar a criação de diversos reinos que abrigam os seres procariontes e outros
que chegam a considerar dezenas de filos de bactérias. Entre os microrganismos,
há uma classificação tradicional que divide as bactérias em três grandes grupos:
eubactérias Gram-positivas, eubactérias Gram-negativas e micoplasmas. Essa
classificação ocorre de acordo com a presença, ausência e o tipo de parede celular
se essa estiver presente.

39
UNIDADE 1 | MICROBIOLOGIA – FUNDAMENTOS

ATENCAO

Devido à sua estrutura microscópica, a classificação das bactérias é difícil


de ser realizada, por isso, são utilizadas técnicas artificiais como a coloração, a forma e o
metabolismo.

3.2 PROTOZOÁRIOS
São microrganismos eucariontes e unicelulares. São seres que não
possuem parede celular rígida e não contêm clorofila. Alguns protozoários
possuem apêndices que facilitam na sua motilidade, como cílios (curtos, finos e
numerosos) e flagelos (longos, que fazem movimentos de um chicote) (Figura 21).

FIGURA 21 – PROTOZOÁRIO CILIADO E FLAGELADO

FONTE: Disponível em: <http://1.bp.blogspot.com/_acXO1Ouge34/


SXTx93YPK0I/AAAAAAAAAA8/ky4GwSzey78/s320/n210a.jpg>. Acesso em:
25 set. 2010.

Existem outros protozoários, como as amebas, que não possuem apêndices


para sua movimentação, porém se arrastam sobre a superfície por meio de
pseudópodes (Figura 22), que são emissões de uma porção da célula para uma
direção. Esse tipo de locomoção é chamado de movimento ameboide.

40
TÓPICO 2 | PRINCIPAIS GRUPOS DE MICRORGANISMOS

FIGURA 22 – AMEBA

FONTE: Disponível em: <http://www.mcwdn.org/Animals/AniAmeba.


gif>. Acesso em: 25 set. 2010.

Os esporozoários são protozoários imóveis. São parasitas que perfuram


a membrana plasmática da futura célula hospedeira. O Plasmodium (Figura 23),
causador da malária, é o gênero mais comum.

FIGURA 23 – PLASMÓDIO, PONTO MAIS ESCURO, UM ESPOROZOÁRIO

FONTE: Disponível em: <http://3.bp.blogspot.com/_Y-RahU_Thp8/S-


cpiZnMpgI/AAAAAAAAAMM/yAhPR04igzI/s1600/p-sgue.jpg>. Acesso
em: 25 set. 2010.

3.3 ALGAS E FUNGOS


As algas são semelhantes às plantas devido à presença de um pigmento
verde, a clorofila, que participa do processo da fotossíntese, e assim como as plantas,
as algas também apresentam parede celular rígida. São seres eucariontes unicelulares
microscópicos (Figura 24) e multicelulares, podendo chegar a vários metros de
comprimento. As algas podem causar alguns problemas, pois liberam substâncias
tóxicas no leito das águas, crescem em piscinas, obstruem tubulações de caixas
d’água. Entretanto, uma espécie específica de alga é muito utilizada na indústria
de alimentos como espessante e emulsificante para sorvetes e pudins. Também são
utilizadas como anti-inflamatórios, no tratamento de úlceras, e em laboratórios para
solidificar meios de cultura sobre os quais os microrganismos crescem.
41
UNIDADE 1 | MICROBIOLOGIA – FUNDAMENTOS

FIGURA 24 – ALGAS MICROSCÓPICAS. A – EUGLENÓFITAS. B – DINOFLAGELADOS. C – DIATOMÁCEAS


A B C

FONTE: Disponível em: <https://fineartamerica.com/featured/pltons-noctiluca-scintillans-x12-d-p-


wilson.html> Acesso em: 22 mar. 2018.

Os fungos são seres eucariontes com parede celular rígida. Podem ser
uni ou multicelulares, microscópicos ou macroscópicos. Não possuem clorofila,
portanto, não realizam o processo de fotossíntese. São seres heterotróficos, que
absorvem nutrientes dissolvidos no ambiente. Os fungos multicelulares mais
conhecidos são os bolores, cogumelos, orelhas-de-pau e mofos, enquanto as
leveduras são fungos unicelulares (Figura 25).

As leveduras são tanto benéficas quanto prejudiciais. São utilizadas na


indústria de pães, na qual produzem gás através da fermentação, fazendo a massa
crescer. Também são utilizadas na produção de bebidas alcoólicas fermentadas,
como cerveja e vinho. Em contrapartida, as que flutuam no ar causam deterioração
dos alimentos e doenças como frieira, sapinho, vaginites.

FIGURA 25 – LEVEDURAS

FONTE: Disponível em: <http://www.ambientenet.eng.br/FOTOS/


LEVEDURA%202.jpg>. Acesso em: 25 set. 2010.

42
TÓPICO 2 | PRINCIPAIS GRUPOS DE MICRORGANISMOS

E
IMPORTANT

Quando o fermento biológico é misturado à massa, as condições ficam favoráveis


para que as leveduras saiam da dormência e se tornem ativas. As leveduras ativas começam
a realizar seu metabolismo normal: produzir gás que expande a massa e a torna mais fofa e
leve. Isso ocorre devido ao consumo de açúcares da massa, que são transformados em gás
carbônico (CO2) e álcool (etanol).

TUROS
ESTUDOS FU

Caro acadêmico! Os vírus são microrganismos, porém não são constituídos por
célula. Você estudará esse assunto mais profundamente na Unidade 3.

3.4 VÍRUS
Os vírus não são células. São microrganismos muito menores que os até
aqui estudados e muito mais simples em relação à estrutura das bactérias. Muitos
são parasitas, inserindo-se no material genético de células e causando grandes
prejuízos. Causam doenças graves no ser humano, como: AIDS, herpes, gripe,
poliomielite, hepatite, dentre outras mais. Alguns vírus também têm participação
no crescimento de alguns tumores malignos.

Diferente das células, os vírus possuem apenas um tipo de ácido nucleico:


DNA ou RNA, que se encontra envolto a uma capa ou envelope proteico. Por não
apresentarem organelas necessárias para o metabolismo e reprodução, os vírus
só se multiplicam dentro de células vivas. “Após invadir uma célula vegetal ou
animal ou um microrganismo, um vírus tem a habilidade de induzir a maquinaria
genética da célula hospedeira a fazer muitas cópias do vírus.” (PELCZAR; CHAN;
KRIEG, 1997a, p. 65).

43
UNIDADE 1 | MICROBIOLOGIA – FUNDAMENTOS

FIGURA 26 – MORFOLOGIA VIRAL

FONTE: Disponível em: <http://web.educastur.princast.es/proyectos/biogeo_ov/2bch/B5_


MICRO_INM/T51_MICROBIOLOGIA/diapositivas/Diapositiva42.JPG>. Acesso em: 25 set. 2010.

NOTA

Os vírus são bem menores que as bactérias. Seu tamanho varia de 20 a 300
nanômetros, enquanto que as bactérias variam de 0,5 a 5 micrômetros de diâmetro.

TUROS
ESTUDOS FU

Falaremos um pouco mais sobre esses microrganismos, vírus, fungos, algas e


protozoários, na Unidade 3, Tópico 2, deste Livro Didático.

44
TÓPICO 2 | PRINCIPAIS GRUPOS DE MICRORGANISMOS

LEITURA COMPLEMENTAR

VÍRUS VIRAM ARMA CONTRA BACTÉRIAS RESISTENTES AOS


ANTIBIÓTICOS

Vírus contra bactérias

Um vírus comedor de bactérias poderá ser a nova


arma para tratar infecções causadas por microorganismos
que estão se tornando cada vez mais resistentes aos
antibióticos.

Médicos da Universidade College London,


Inglaterra, acabam de completar com sucesso os primeiros
testes clínicos com um vírus bacteriófago, chamado
Biophage-PA, que se mostrou capaz de destruir a bactéria
Pseudomonas aeruginosa, causadora de fortes infecções no
ouvido.

Resistência aos antibióticos

Os antibióticos têm sido eficazes no combate às infecções há décadas.


Mas as bactérias têm armas contra eles: elas evoluem para se tornar resistentes
aos antibióticos, seja secretando enzimas que os destroem, seja desenvolvendo
mecanismos internos que expulsam os compostos químicos do medicamento do
interior de suas células.

Com o desenvolvimento da resistência aos antibióticos pelas bactérias,


doenças tidas como de fácil controle, como pneumonia e tuberculose, estão se
tornando cada vez um problema de saúde pública.

Vírus destrói biofilmes

A Pseudomonas aeruginosa, causadora de infecções no ouvido, é


particularmente difícil de combater, porque as bactérias individuais se juntam
para formar biofilmes, colônias que desenvolvem uma camada de açúcares e
proteínas que as tornam até 1.000 vezes mais resistentes aos antibióticos.

Mas, com uma única dose do vírus Biophage-PA, que somente ataca
esta bactéria, os médicos conseguiram curar pacientes que sofriam de infecções
de ouvido causados por biofilmes de bactérias que não respondiam mais aos
antibióticos.

45
UNIDADE 1 | MICROBIOLOGIA – FUNDAMENTOS

Os vírus comedores de bactérias destroem os biofilmes de Pseudomonas


aeruginosa, mas não atacam nenhuma outra bactéria no organismo.

Dose única

A maior vantagem do novo medicamento é o fato de ser tomado em dose


única, ao contrário dos antibióticos, que exigem uma longa sequência de doses.

O esquecimento e o abandono do tratamento por parte dos pacientes


estão entre as principais causas do aumento do desenvolvimento de resistência
aos antibióticos por parte das bactérias.

Agora os médicos iniciarão novos testes de longo prazo, para verificar se


as bactérias também conseguem desenvolver resistência aos vírus.

FONTE: Disponível em: <http://www.diariodasaude.com.br/news.php?article=virus-viram-arma-


contra-bacterias-resistentes-aos-antibioticos&id=4084>. Acesso: em 30 set. 2010.

46
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você estudou que:

• Taxonomia é o ramo da Biologia que se ocupa da classificação dos seres vivos


e da nomenclatura dos grupos formados. Sistemática inclui a taxonomia e a
biologia evolutiva.

• Durante muitos anos só se tinha o conhecimento de dois reinos na sistemática:


o vegetal e o animal. Em 1866, o evolucionista alemão Ernst Haeckel propôs um
terceiro reino: Protistas, constituído por microrganismos.

• Hoje temos cinco reinos: Monera (bactérias), Protistas (protozoários), Fungi


(fungos), Animallia (animais) e Plantae (vegetais).

• O sequenciamento de moléculas – RNAr – levou Woese e colaboradores à


construção de uma árvore filogenética com três grupos monofiléticos bem
distintos: Bacteria, Archaea e Eucarya.

• O objetivo central da classificação é o de agrupar os microrganismos seguindo


critérios, com aplicações de métodos que refletem a sistemática filogenética.

• Para o estudo das bactérias e sua classificação, utiliza-se uma técnica de


coloração para o estudo de sua morfologia.

• Certas bactérias retêm os dois corantes, apresentando a coloração violeta ao


microscópio, porém outras perdem o corante violeta, exibindo apenas a cor
rosa. Essa diferença na capacidade de reter os corantes está na composição da
parede bacteriana.

• Existem dois principais grupos de bactérias: as eubactérias e as arqueobactérias,


que possuem diferenças quanto à composição de sua parede celular.

• Há dois subgrupos de eubactérias – Gram-negativas e as Gram-positivas – e


aquelas que não possuem parede celular.

• As informações sobre todos os gêneros e espécies de bactérias podem ser


encontradas de forma detalhada no Bergey’s Manual of Systematic Bacteriology,
que é referência internacional.

• Protozoários são microrganismos eucariontes e unicelulares. São seres que não


possuem parede celular rígida e não contêm clorofila.

47
• As algas são semelhantes às plantas devido à presença de um pigmento verde, a
clorofila, que participa do processo da fotossíntese. Apresentam parede celular
rígida. São seres eucariontes, unicelulares, microscópicos e multicelulares.

• Os fungos são seres eucariontes com parede celular rígida. Não possuem
clorofila. São seres heterotróficos, que absorvem nutrientes dissolvidos no
ambiente.

• Os vírus não são células. São microrganismos muito menores que os até aqui
estudados e muito mais simples em relação à estrutura das bactérias. Muitos
são parasitas, inserindo-se no material genético de células e causando grandes
prejuízos ao hospedeiro.

48
AUTOATIVIDADE

1 Relacione as colunas:
I- Autotrófico ( ) Possui membrana nuclear.
II- Fotossíntese ( ) Possui mais de uma célula.
III- Heterotrófico ( ) Seres que possuem só uma célula.
IV- Procarionte ( ) Processo de produção de alimentos.
V- Unicelular ( ) Alimentam-se de outros seres.
VI- Eucarionte ( ) O material genético não está em um núcleo.
VII- Pluricelular ( ) Seres capazes de produzir seu alimento.

2 Associe os seres com seus respectivos reinos:


I- Roseira ( ) Animallia
II- Protozoário ( ) Monera
III- Bactéria ( ) Plantae
IV- Cogumelo ( ) Fungi
V- Gato ( ) Protista

3 Com que finalidade se classificam os seres vivos?

4 Considere os seguintes seres vivos: mosca, homem, cavalo,


macaco, borboleta e zebra. Adote um critério de classificação
e separe-os em grupos.

FONTE: Disponível em: <http://educar.sc.usp.br/ciencias/seres_vivos/seresvivos2.html>.


Acesso em: 27 nov. 2010.

5 Quais são os cinco reinos da natureza? Cite um ser de cada


reino como exemplo.

6 Bactérias são organismos microscópicos, unicelulares,


procariotos, encontrados praticamente em todos os
ambientes. Analise as afirmativas a seguir referentes às
bactérias:

I- Bactérias saprófitas são organismos importantes na decomposição de


matéria orgânica morta.
II- São doenças bacterianas: cólera, difteria, pneumonia, lepra, tuberculose,
tétano e disenteria bacilar.

49
III- Diásporos são células resistentes, formadas quando as condições de
alimento para as bactérias são favoráveis.
Agora, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Apenas a afirmação I está correta.


b) ( ) As afirmações I e II estão corretas.
c) ( ) As afirmações II e III estão corretas.
d) ( ) As afirmações I e III estão corretas.
e) ( ) Todas as afirmações estão corretas.

7 De acordo com o sistema binomial de nomenclatura


estabelecido por Lineu, o nome científico Felis catus aplica-se
a todos os gatos domésticos, como: angorás, siameses, persas,
abissínios e malhados. O gato selvagem (Felis silvestrii),
o lince (Felis lynx) e o puma ou suçuarana (Felis concolor) são espécies
relacionadas ao gato. Responda:

a) A que gênero pertencem todos os animais mencionados?


b) Por que todos os gatos domésticos são designados por um mesmo nome
científico?
c) Qual dos nomes a seguir designa corretamente a família a que pertencem
esses animais? Felinaceae, Felidae, Felini, Felinus ou Felidaceae?
Justifique.

FONTE: Disponível em: <http://denisemeg.blogspot.com/2009/09/revisao-de-ciencias-


classificacao-dos.html>. Acesso em: 27 nov. 2010.

8 Complete as lacunas da sentença a seguir e assinale a


alternativa CORRETA:
Considerando a hierarquia das categorias taxonômicas,
é correto afirmar que dois animais que fazem parte da
mesma ordem, obrigatoriamente, pertencerão __________, e dois animais
pertencentes __________ sempre terão maior semelhança entre si.

a) ( ) À mesma classe – à mesma espécie.


b) ( ) À mesma família – ao mesmo gênero.
c) ( ) Ao mesmo gênero – à mesma família.
d) ( ) Ao mesmo gênero – à mesma espécie.
e) ( ) À mesma espécie – à mesma classe.

FONTE: Disponível em: <http://colegio.uirapuru.edu.br/UirapuruColegio/Upload/Fase/


Download/3_serie_ensino_medio_taxonomia.pdf>. Acesso em: 27 nov. 2010.

50
UNIDADE 1
TÓPICO 3

ESTRUTURA DOS MICRORGANISMOS

1 INTRODUÇÃO
Como já vimos no tópico anterior, as bactérias são seres unicelulares
procariontes. Apesar de seu tamanho, são seres altamente complexos. Neste
tópico, encontraremos uma complexidade fascinante com detalhes estruturais
que jamais puderam ser vistos pelos primeiros microbiologistas.

É difícil imaginarmos o tamanho de uma bactéria. Para você ter uma


ideia, cálculos feitos por cientistas mostram que aproximadamente 1 trilhão
(1.000.000.000.000) de células bacterianas pesariam somente um grama. Para
observarmos as bactérias no microscópio, são necessárias lentes que aumentem
1.000 vezes o seu tamanho.

Por se reproduzirem com muita rapidez, esses microrganismos são


utilizados em experimentos, pois fornecem informações em curto prazo.

2 CARACTERÍSTICAS DA CITOLOGIA BACTERIANA


Sabemos que o método de coloração Gram separa a maioria dos tipos de
bactérias em dois grupos: Gram-positivo e Gram-negativo (Figura 27), baseando-
se na estrutura de suas paredes celulares.

FIGURA 27 - ESTRUTURA DA PAREDE CELULAR DE BACTÉRIAS GRAM-NEGATIVAS


E GRAM- POSITIVAS
Bactérias gram negativas

membrana externa
peptideoglicano
membrana citoplasmática
Bactérias gram positivas

peptideoglicano

membrana citoplasmática
FONTE: Disponível em: <http://2.bp.blogspot.com/_VMBOsntaNIU/TGknyYDN6II/
AAAAAAAAF4U/uJ_WnKGvdx0/s1600/Gram.gif>.Acesso em: 25 set. 2010.

51
UNIDADE 1 | MICROBIOLOGIA – FUNDAMENTOS

As eubactérias Gram-negativas apresentam uma parede celular complexa,


que é composta por uma membrana externa que recobre uma camada fina de
peptideoglicano. Os gêneros de bactérias mais familiares e mais estudados
pertencem a esse grupo.

De acordo com as características fisiológicas e morfológicas (mobilidade e


exigência de oxigênio), as bactérias Gram-negativas podem ser divididas em subgrupos.

Espiroquetas são bactérias Gram-negativas, cujo formato se assemelha a


um saca-rolha. Possuem estruturas próprias, caracterizadas por filamentos axiais
(Figuras 28 e 29) – fibrilas que correm através de um espaço periplasmático.
Também são conhecidas como bactérias helicoidais espiraladas, com alta
flexibilidade de se torcer e contorcer. Algumas, por serem muito finas, não são
facilmente visualizadas pelo método da coloração Gram.

FIGURA 28 – ESTRUTURA E MORFOLOGIA DE UMA ESPIROQUETA

AF Fibria Axial
AF PC OS IP PC Protoplasma Cilíndrico
OS Bainha Externa
IP Inserção do Poro

Protoplasma cilíndrico
Nucleóide

Ribossomos
Parede celular
Fibria axial

Microtúbulos
Membrana plasmática

Bainha externa
FONTE: Disponível em: <http://www.ugr.es/~eianez/Microbiologia/images/08flag4.gif>.
Acesso em: 25 set. 2010.

FIGURA 29 – FOTOMICROGRAFIA DE UMA ESPIROQUETA

FONTE: Disponível em: <http://www.ciencia.cl/CienciaAlDia/volumen5/numero2/


articulos/cortez/Figura4.gif>. Acesso em: 18 set. 2010.

52
TÓPICO 3 | ESTRUTURA DOS MICRORGANISMOS

As espiroquetas podem viver como saprófitas (vivem em meio orgânico) ou


parasitas (obtêm nutrientes de hospedeiros vivos). As espiroquetas pertencentes
ao gênero Spirochaeta vivem livres na lama, na água e nos sedimentos marinhos.
Muitas outras vivem como parasitas humanos, causando doenças graves (Ex.:
Treponema pallidum – causadora da sífilis – Figura 30).

FIGURA 30 – Treponema pallidum

FONTE: Disponível em: <http://embryology.med.unsw.edu.au/Defect/


images/Treponema-pallidum.jpg>. Acesso em: 18 set. 2010.

As bactérias aeróbias em forma de espirilos também possuem semelhanças


com as espiroquetas, pois são helicoidais, suas células são rígidas, não flexíveis. A
diferença está na presença de flagelos nos espirilos das bactérias aeróbias, ou seja, a
mobilidade dos espirilos se dá pelo fato de apresentarem flagelos nas extremidades
das células, enquanto que as espiroquetas se movem por meio de um filamento axial.
Para Pelczar, Chan e Krieg (1997a), existem alguns gêneros (Azospirillum) que se
parecem com uma vírgula torcida e recebem o nome de vibriões. Os representantes
desse gênero ajudam na fixação do nitrogênio atmosférico, pois estão no interior
das raízes de gramíneas (trigo, milho) e em tantos outros tipos de plantas. Existem
representantes, cuja forma de vida é saprofítica, que são comuns em água doce e
outros que causam diarreias em humanos.

ATENCAO

As bactérias podem formar nódulos na raiz de plantas como o feijão. Elas ajudam
essas plantas, retirando o nitrogênio do ar atmosférico e tornando-o disponível para a planta.

53
UNIDADE 1 | MICROBIOLOGIA – FUNDAMENTOS

É interessante salientar que, mesmo não apresentando patogenias,


algumas espécies de Pseudomonas podem causar sérios transtornos ao homem,
ou seja, graves infecções quando o seu sistema imunológico estiver em baixa. Um
exemplo disso, segundo Pelczar, Chan e Krieg (1997a), é a Pseudomonas aeruginosa
(Figura 31), que pode invadir feridas da pele, queimaduras e causar uma grave
infecção. Aqui também existem as que possuem a capacidade de fixar nitrogênio
atmosférico (gênero Azotobacter – de vida livre, que fixam o nitrogênio no solo,
e o gênero Rhizobium, que fixam o nitrogênio no interior das raízes das plantas
leguminosas). Outro gênero muito importante na área industrial é o Acetobacter,
cuja função está na produção comercial do vinagre. Encontramos aqui também
representantes que causam doenças ao homem e a outros animais, como é o caso
de alguns bacilos Gram-negativos aeróbios. Exemplos disso são as espécies de
Brucella que, além de infectar o homem, podem gerar aborto em outros animais.
Outro fato interessante é que não é só em animais que esses organismos podem
causar patogenias. Eles atacam plantas, também causando sérios prejuízos na
agricultura de vários países.

FIGURA 31 – Pseudomonas aeruginosa

FONTE: Disponível em: <http://www.textbookofbacteriology.net/


images/P.aeruginosaSEM.jpg>. Acesso em: 25 set. 2010.

O gênero que é altamente patogênico em plantas é o Xanthomonas. O


cancro cítrico (Figura 32), causado pela bactéria Xanthomonas axonopodis é uma
das doenças mais conhecidas da citricultura brasileira. Na Flórida, em 1984, a
variedade Xanthomonas campestris causou um grande prejuízo, disseminando
o cancro bacteriano cítrico. Outros gêneros também de interesse agronômico
causam tumores em plantas.

54
TÓPICO 3 | ESTRUTURA DOS MICRORGANISMOS

FIGURA 32 - Xanthomonas campestres. CANCRO CÍTRICO

FONTE: Disponível em: <https://www.apsnet.org/edcenter/intropp/


lessons/prokaryotes/Article%20Images/CitrusCanker10Port.jpg> Acesso
em: 22 mar. 2018.

Outro gênero de interesse médico muito destacado e que causa sérios


danos à saúde humana é o gênero Neisseria. Entre as espécies, existem duas que
atacam de formas diferentes, ou seja, uma está associada ao sistema genital –
Neisseria gonorrhoeae – que causa a gonorreia; e a outra, ao sistema nervoso –
Neisseria meningitidis – que causa a meningite meningocócica.

FIGURA 33 – A – Neisseria gonorrhoeae. B – Neisseria meningitidis

FONTE: Disponível em: <http://www.textbookofbacteriology.net/neisseria.html>. Acesso


em: 25 set. 2010.

E
IMPORTANT

Gênero: é geralmente designado para um substantivo, que deve ser escrito com
inicial maiúscula.
Espécie: é geralmente designada por um adjetivo, que é escrito com inicial minúscula.
Ambos devem ser grifados (quando se usa escrita manual) ou escritos com tipo de letra de
imprensa diferente do texto normal.

55
UNIDADE 1 | MICROBIOLOGIA – FUNDAMENTOS

Entre os bacilos anaeróbios facultativos estão enquadrados tanto os


retos como os encurvados. Eles têm um crescimento em meios com oxigênio
(aeróbios) ou em meios sem oxigênio (anaeróbios). Nos meios em que há falta
de oxigênio, eles crescem e adquirem energia através da fermentação. Entre
todos os bacilos facultativos, o grupo que mais se tem conhecimento é o da
família Enterobacteriaceae. O hábitat desses membros é o trato gastrintestinal
de humanos e de vários outros animais. Essa família apresenta espécies muito
conhecidas, como, por exemplo, a Escherichia coli (Figura 34), bem como espécies
que demandam vários testes – bioquímicos, fisiológicos e sorológicos – para
poderem ser diferenciadas.

FIGURA 34 – Escherichia coli

FONTE: Disponível em: <http://farm3.static.flickr.com/2245/212506479


4_22287e74cf.jpg>. Acesso em: 25 set. 2010.

Para Pelczar, Chan e Krieg (1997a, p. 237), “muitos patógenos humanos


são entéricos; por exemplo, as espécies de Salmonella causam a febre tifoide e a
gastroenterite, as espécies Shigella causam a disenteria bacilar e a Yersinia pestis
causa a praga”. (Figura 35).

FIGURA 35 – BACTÉRIAS PATOGÊNICAS. A – salmonella. B – shigella. C – yersinia

A B C
FONTE: Disponível em: <http://pathmicro.med.sc.edu/fox/enterobact.htm>. Acesso em:
25 set. 2010.

56
TÓPICO 3 | ESTRUTURA DOS MICRORGANISMOS

Existem outros gêneros que só serão patogênicos se houver a transferência


do trato intestinal para outras partes do corpo. Exemplo disso são as espécies
Enterobacter, Proteus, Serratia, Klebsiella e Escherichia, que muito comumente causam
infecções no sistema urinário. Devemos fazer menção aqui também do Vibrio cholerae,
causador da cólera, e outro que causa a meningite de origem bacteriana em crianças,
que é o Haemophilus influenzae. Pelczar, Chan e Krieg (1997a) chamam a atenção para
um detalhe interessante com relação à meningite bacteriana, pois, apesar do nome H.
influenza, não causa a gripe influenza, que é uma doença de origem virótica.

Há também as bactérias anaeróbias Gram-negativas que dependem do


sulfato ou do enxofre (gênero Desulfovibrio). Suas células têm a forma de vibrião e
habitam lodos e outros ambientes aquáticos. Esses reagem com o enxofre, exalando
um odor forte de ovo podre e tóxico. Entre elas estão os cocos, bacilos retos e os
encurvados. Esses anaeróbios Gram-negativos predominam no intestino humano,
bem como em compartimentos do estômago (rúmen) do gado e do carneiro.

Entre os menores representantes das bactérias, encontram-se as Chlamydia


(Clamídias). São parasitas intracelulares obrigatórios, ou seja, elas só podem viver
se estiverem parasitando as células de outros organismos. Possuem um complexo
ciclo de vida e causam graves infecções oculares ao homem – tracoma (Chlamydia
trachomatis) – bem como doenças sexualmente transmissíveis e alguns tipos de
pneumonias. Causam também as psitacose (Chlamydia psittaci) em pássaros.

Outra espécie de microrganismo parasita intracelular obrigatório são as


riquétsias (Rickettsia). Possuem as formas de bastões e crescem dentro ou nas
superfícies das células vivas de vertebrados ou artrópodes. Vão provocar sérias
doenças ao homem, entre elas a febre das montanhas rochosas e o tifo epidêmico
(Rickettsia prowazekii). A grande maioria dessas doenças é transmitida ao homem
através de piolhos, pulgas, carrapatos e minúsculos acarídeos, que se infectam
após a ingestão de sangue de um indivíduo contaminado.

Outro grupo muito interessante para o meio são os fotoautotróficos,


aqui representado pelas cianobactérias (algas azuis). Para sobreviverem, elas
demandam apenas de água, nitrogênio gasoso, oxigênio, alguns minerais,
luz e dióxido de carbono. Nas reações de fotossíntese, elas utilizam clorofila,
liberando o gás oxigênio, enquanto que muitas outras espécies, através de outros
processos, fixam o nitrogênio. Desde os primórdios da história evolutiva da
Terra, as cianobactérias deram ao planeta as condições ideais de vida, quando
passaram a produzir, via fotossíntese, o oxigênio, transformando a atmosfera
terrestre. A fotossíntese realizada pelas cianobactérias é a mesma que a dos
eucarióticos fotossintetizantes e apresentam estruturas internas bem organizadas
– os tilacoides. Pela teoria endossimbiótica, os cloroplastos dos seres eucariontes
fotossintetizantes possuem derivação de uma cianobactéria.

57
UNIDADE 1 | MICROBIOLOGIA – FUNDAMENTOS

Podem viver em associações, formando colônias, ou podem ter vida livre


igual a uma única célula. As colônias de cianobactérias dependem da espécie e
também das condições de crescimento para que variem o seu formato, ou seja,
vão desde formato plano de uma célula até bolas esféricas. Para Purves et al.
(2002), colônias filamentosas de cianobactérias diferenciam-se em três tipos de
células, ou seja, células vegetativas, em esporos e heterocitos. Para os autores, as
células vegetativas fotossintetizam, sendo que os esporos são células num estado
de latência, podendo, eventualmente, se desenvolver em novos filamentos. Os
heterocitos (Figura 36) são as células cuja especialidade é a fixação do nitrogênio,
sendo que todas as cianobactérias conhecidas que apresentam heterocitos fixam
nitrogênio. Outro ponto importante em relação aos heterocitos é o de que possuem
outra função no processo reprodutivo, ou seja, quando acontece a soltura dos
filamentos para a reprodução, o heterocito serve como um ponto de separação.

FIGURA 36 – CIANOBACTÉRIA COM HETEROCITO

FONTE: Disponível em: <http://lh6.ggpht.com/_Aq9d-kFd2wk/RmnaqMMIL7I/


AAAAAAAAAHo/v8j2k0fWR0E/Sctyonemahet.jpg>. Acesso em: 25 set. 2010.

As eubactérias Gram-positivas (Firmicutes) possuem uma parede celular


mais espessa que aquelas apresentadas pelas Gram-negativas e, além disso, não
possuem membrana externa. Boa parte da parede da bactéria Gram-positiva
peptideoglicano possui uma divisão em grupos, segundo as suas características
bioquímicas e morfológicas.

Na classificação, os cocos Gram-positivos estão divididos em grupos,


devido ao seu metabolismo celular e também pelas diferenças no arranjo celular.
Um dos subgrupos que contém cocos aeróbios, sendo um gênero muito comum, é
o Micrococcus, cujas células estão dispostas de forma irregular ou grupos de quatro.
Outro subgrupo muito importante de cocos Gram-positivos são os que realizam
reações metabólicas na presença ou na ausência do oxigênio, ou seja, são facultativos.
Os mais conhecidos são do gênero Staphylococcus, que habitam a pele e membranas
da mucosa humana e de outros animais vertebrados. A espécie Staphylococcus
aureusse destaca-se como grande patogênica, causando infecções graves no pós-
operatório, intoxicação alimentar no homem e choques tóxicos (Figura 37).

58
TÓPICO 3 | ESTRUTURA DOS MICRORGANISMOS

FIGURA 37 – Staphylococcus aureus

FONTE: Disponível em: <http://inst.bact.wisc.edu/inst/images/book_3/


chapter_13/13-1.jpg>. Acesso em: 25 set. 2010.

Outro gênero que apresenta uma formação celular arranjada aos pares
ou em cadeias e que causa várias patogenias aos seres humanos é o Streptococcus.
Entre as espécies patogênicas mais destacadas está o Streptococcus pyogenes
(Figura 38), que é causador de uma série de doenças graves, entre elas a angina
estreptocócica, febre reumática e a escarlatina. Não podemos nos esquecer de
outra espécie altamente patogênica, que causa a pneumonia bacteriana em
humanos – Streptococcus pneumoniae. Existem outros não menos importantes, mas
que não têm ações patogênicas graves. Entre eles, estão o Streptococcus faecalis,
que faz parte da flora normal do trato intestinal humano e de outros animais; e o
Streptococcus lactis que contamina o leite e outros derivados lácteos. É empregado
na fabricação de fermentados lácteos e na produção de queijos.

FIGURA 38 – Streptococcus pyogenes

FONTE: Disponível em: <http://www.tjclarkinc.com/bacterial_diseases/


roc1.jpg>. Acesso em: 25 set. 2010.

59
UNIDADE 1 | MICROBIOLOGIA – FUNDAMENTOS

Existem certas bactérias que possuem a capacidade de produzir endósporo


(bactérias esporuladas), têm a forma de bastonetes, com exceções (células com
formas cocoides). A formação de latência se dá quando há escassez de nutrientes no
meio ambiente. O endósporo é uma estrutura altamente resistente ao calor. Existem
bactérias dos gêneros Bacillus e Sporosarcina, que são aeróbias facultativas, além do
gênero Desulfotomaculum e do gênero Clostridium, que são anaeróbios. Os gêneros
Bacillus e Clostridium são formadores de endósporos e causadores de doenças
altamente graves. Bacillus anthracis (Figura 39) causa o carbúnculo, sendo que o
Clostridium perfrigens provoca intoxicação alimentar e também a gangrena gasosa.
As toxinas (neurotoxinas) produzidas pelo Clostridium botulinum (Figura 40) é uma
das mais letais para os seres humanos e o Clostridium tetani é responsável pelo tétano.

FIGURA 39 – Bacillus anthracis

FONTE: Disponível em: <http://www.cleanairsystems.biz/COMMONBACTERIA_


files/image005.jpg>. Acesso em: 25 set. 2010.

FIGURA 40 – Clostridium botulinum

FONTE: Disponível em: <http://student.ccbcmd.edu/courses/bio141/


labmanua/lab7/images/97184dfa.jpg>. Acesso em: 25 set. 2010.

60
TÓPICO 3 | ESTRUTURA DOS MICRORGANISMOS

Os bacilos regulares são os bastonetes não formadores de esporos, um


grupo com certa aparência uniforme, pois não apresentam saliências, ramificações
e nenhuma outra variação na sua forma. Eles podem ser aeróbios, anaeróbios
ou facultativos. Vamos encontrar o Lactobacillus (Figura 41), que é um gênero
considerado não causador de patogenia. Alguns são utilizados na fabricação
de iogurtes e queijos. São também saprofíticos facultativos, que estão presentes
nos processos fermentativos de produtos vegetais e animais. Alguns parasitam
a cavidade vaginal, bucal, bem como o trato gastrintestinal do homem e de
outros animais. Existe, porém, entre os bastonetes Gram-positivos regulares,
os que causam patogenia (Listeria monocytogenes) adquirida de leites e queijos
pasteurizados de forma inadequada, causando quadros clínicos de aborto
espontâneo, podendo ser também a causa de natimortos.

UNI

O iogurte foi conhecido na Europa por volta de 1542, trazido da Ásia. A palavra
iogurte em turco significa “engrossar”. Era conhecido como o elixir da juventude, mas não
era muito consumido, pois causava repulsa pelo seu sabor azedo. As proteínas do leite são
parcialmente pré-digeridas por ação das bactérias lácticas, o que permite uma melhor digestão.

FIGURA 41 – Lactobacillus

FONTE: Disponível em: <http://www.futura-sciences.com/uploads/


tx_oxcsfutura/img/lacto.jpg>. Acesso em: 25 set. 2010.

61
UNIDADE 1 | MICROBIOLOGIA – FUNDAMENTOS

Na mesma linha, vamos encontrar os bacilos irregulares – bactérias que não


apresentam esporos, que constituem um grupo de bastonetes retos com pequena
curvatura e que pode ter saliências, ramificações com alguns outros desvios da forma
regular. Dentre os bastonetes irregulares mais conhecidos estão os que pertencem ao
gênero Corynebacterium, sendo que algumas são saprofíticas (solo e da água), bem
como causam patogenias em plantas e animais. No homem, a principal patogenia
causada por essa espécie – Corynebacterium diphtheriae (Figura 42) – é a difteria.

FIGURA 42 – Corynebacterium diphtheriae

FONTE: Disponível em: <https://microbewiki.kenyon.edu/images/7/74/


Corynebacteriumdiphteriae.jpg> Acesso em: 22 mar. 2018.

As micobactérias apresentam apenas um gênero – Mycobacterium. Entre


as micobactérias, vamos encontrar saprofíticas e outras que provocam patogenias
muito graves. Duas espécies se destacam: as que causam patogenias de grande
interesse médico, como a tuberculose (Mycobacterium tuberculosis (Figura 43)), e a
hanseníase (Mycobacterium leprae (Figura 44)).

FIGURA 43 – Mycobacterium tuberculosis

F O N T E : D i s p o n í v e l e m : < h t t p : / / f a r m 1 . s t a t i c . f l i c k r.
com/110/283397827_f071de4335_m.jpg>. Acesso em: 25 set. 2007.

62
TÓPICO 3 | ESTRUTURA DOS MICRORGANISMOS

FIGURA 44 – Mycobacterium leprae

FONTE: Disponível em: <http://rotadeleitura.files.wordpress.com/2010/04/


m-leprae-oms1.jpg>. Acesso em: 25 set. 2010.

Um grupo altamente variado de bactérias é o dos Actinomicetos (Figura 45).


Esse grupo desenvolve um perfeito e elaborado sistema de ramificação filamentoso.
Um dado interessante é que essas bactérias possuem semelhanças muito grandes às
estruturas de fungos filamentosos. Certos actinomicetos se reproduzem, formando
correntes de esporos em suas extremidades filamentosas. Porém, nas espécies que
não formam esporos, a ramificação que está em crescimento, bem como a estrutura
filamentosa, cessa e toda a estrutura se quebra em bastonetes e cocos típicos que
depois se reproduzem por fissão binária (Figura 46).

UNI

Fissão binária é o processo de reprodução assexuada, comum nos organismos


unicelulares. É um processo simples, de divisão de uma célula em duas, cada célula-filha com
o mesmo genoma da célula-mãe.

63
UNIDADE 1 | MICROBIOLOGIA – FUNDAMENTOS

FIGURA 45 – Actinomicetos

Actinoplanes Pilimelia Spirilospora Streptosporangium

Ampullariella Dactylosporangium Planomonospora Frankia

Micromonospora Thermomonospora Saccharomonospora Thermoactinomyces

Catellatospora Microbispora Microtetraspora Streptomyces

FONTE: Disponível: <http://mmbr.asm.org/content/80/1/1.full.pdf> Acesso


em: 22 mar. 2018.

FIGURA 46 – DIVISÃO DE UMA BACTÉRIA POR CISSIPARIDADE OU


FISSÃO BINÁRIA

DNA Mesossomos

Duplicação
do DNA
FONTE: Disponível em: <http://static.infoescola.com/wp-content/
uploads/2009/11/cissiparidade-fissao-binaria.jpg>. Acesso em: 25 set. 2010.

64
TÓPICO 3 | ESTRUTURA DOS MICRORGANISMOS

A espécie Streptomyces acrymicini é, principalmente a saprófita, é


encontrada no solo. Possui uma importante função, que é a de degradar restos
mortais de plantas e animais. Alguns podem provocar patogenias ao homem,
plantas e animais. O gênero Streptomyces (Figura 47) é muito famoso, pois produz
estreptomicina, tetraciclina, além de uma grande variedade de outros antibióticos,
que são utilizados no tratamento de doenças humanas.

FIGURA 47 – Streptomyces acrymicini

FONTE: Disponível em: <http://qopn.iqsc.usp.br/files/2008/05/


streptomyces.jpg>. Acesso em: 25 set. 2010.

Outro grupo muito interessante é o dos micoplasmas (Figura 48). São


caracterizados por não apresentarem material de reforço por fora da membrana
celular. Por isso, coram-se como Gram-negativos. São os menores microrganismos
celulares já descobertos, possuindo menos da metade de DNA que a grande
maioria dos organismos procarióticos. Habitam mucosas de animais e do
próprio homem, sendo que alguns causam infecções e outros causam patogenias
no homem como a Mycoplasma pneumoniae, que provoca a pneumonia atípica
primária e a Ureaplasma urealyticum, que causa as uretrites.

FIGURA 48 – COLÔNIAS DE Mycoplasma pneumoniae

FONTE: Disponível em: <http://www.csdm.qc.ca/iona/LiensEducatifs/telechar


gements/images/Maladies/Pneumonie/images/mycoplasmapneumoniae/
img008.jpg>.Acesso em: 25set. 2010.

65
UNIDADE 1 | MICROBIOLOGIA – FUNDAMENTOS

Existe outro grupo também muito interessante que são as Arqueobactérias


(Archea). Esse grupo apresenta uma fisiologia e morfologia muito variada. Vivem
em ambientes de extrema salinidade, em locais onde as concentrações de oxigênio
são baixas, a temperatura é alta ou em ambientes onde o valor de pH é muito
baixo. Atualmente, são reconhecidos quatro grupos principais de arqueobactérias,
sendo que os três primeiros possuem somente uma parede celular: os que
produzem metano – metanogênicas; as arqueobactérias dependentes de enxofre;
e as halobactérias (halófilas extremas).

As bactérias metanogênicas são anaeróbias e compartilham a propriedade


de poderem produzir gás metano (CH4). Podemos diferenciar um número muito
grande de tipos de bactérias metanogênicas pela sua morfologia e pelo método
de Gram. Todas são anaeróbias e são encontradas em ambientes de brejos, açudes
e lagos, rúmen de bovinos e sedimentos marinhos. A produção de metano é a
etapa principal nas suas reações metabólicas energéticas. Podemos encontrá-las
também nas estações de água e esgoto, nos digestores anaeróbios, produzindo
uma carga muito grande (milhares de m3) de gás metano por dia, que é usado como
combustível para aquecer casas ou simplesmente para gerar energia. Um dado
importante é citado por Purves et al. (2002), ao afirmarem que as metanogênicas
liberam, por ano, aproximadamente, 2 bilhões de toneladas de gás metano na
atmosfera terrestre. Purves et al. (2002) prosseguem, lembrando que elas são
responsáveis pela produção de todo o metano do ar na atmosfera, inclusive os
que estão associados à eructação (arrotar, expelir pela boca) dos mamíferos. Boa
parte desse metano vem dos intestinos dos ruminantes (vacas).

ATENCAO

Nas estações de tratamento de esgoto, as bactérias desempenham um papel


importante: ajudam a transformar os dejetos do esgoto num líquido que pode ser devolvido
ao ambiente sem lhe causar problemas.

O grupo de bactérias halófilas extremas vive em ambientes de extrema


salinidade. Por possuírem pigmentos carotenoides (cor que varia entre o
vermelho, o rosa e o laranja), podem ser vistos sob certas circunstâncias. Poucos
organismos podem viver nesses ambientes extremos de salinidade. Outros
organismos não suportariam esses ambientes, pois perderiam muita água para
o ambiente altamente concentrado de sal (hipertônico), levando-os à morte.
Essas halobactérias crescem no Mar Morto e em todos os tipos de água salgada.
Pontos rosa-avermelhados podem, às vezes, ser vistos em peixes conservados na
salmoura, que são colônias de halobactérias.

66
TÓPICO 3 | ESTRUTURA DOS MICRORGANISMOS

Em fontes de água quente (termófilas – gostam de calor) e ácidas


(acidófilas – gostam de acidez), vamos encontrar as arqueobactérias dependentes
de enxofre (Figura 49). Encontramos membros do gênero Sulfolobus, que
necessitam de oxigênio (aeróbios) e que extraem energia pela oxidação de enxofre
ou de outros compostos orgânicos (açúcares e aminoácidos), em fontes sulfurosas
altamente quentes de 70 ºC a 85 ºC. Chegam a “morrer de frio” em ambientes cuja
temperatura atinge 55 ºC. Essas fontes quentes sulfurosas possuem também pHs
altamente ácidos. O gênero citado anteriormente possui um ótimo crescimento
na faixa de pH que varia de 2 a 3, podendo tolerar valores de pH muito mais
baixos ainda com 0,7.

ATENCAO

A sigla pH quer dizer Potencial Hidrogeniônico. Consiste num índice que indica
a acidez, a neutralidade ou a alcalinidade de uma substância qualquer. É determinado pela
concentração de íons de Hidrogênio (H+). Quanto menor o pH de uma substância, maior a
concentração de íons H+ e menor a concentração de íons OH-. Substâncias com valores de
pH 0 a 7 são ácidas, valores em torno de 7 são neutras e valores de pH 7 a 14 são denominadas
básicas ou alcalinas. Esse assunto você estudou na disciplina de Química Geral e Orgânica.

FIGURA 49 – ARQUEOBACTÉRIAS (ARCHAEA): A. HALOGEOMETRICUM. B. HALOBACTERIUM.


C. METHANOBACTERIUM
A B C

FONTE: Disponível em: A. https://alchetron.com/cdn/halogeometricum-0bcb7628-


c750-4dcd-bd42-313b0f11bb4-resize-750.jpeg>; B. https://upload.wikimedia.org/
wikipedia/commons/6/65/Halobacteria_with_scale.jpg>; C. <https://www.nite.go.jp/
data/000021887.jpg>.

67
UNIDADE 1 | MICROBIOLOGIA – FUNDAMENTOS

LEITURA COMPLEMENTAR

USO INDISCRIMINADO DE ANTIBIÓTICOS E INFECÇÃO HOSPITALAR

Itamar J. Medeiros

Em recente surto de infecção hospitalar que está ocorrendo em hospitais


de Porto Alegre/RS provocado por uma bactéria super-resistente a antibióticos,
a Acinetobactersp, capaz de agravar o já debilitado estado de saúde de pacientes
graves, chama a atenção para um problema muito sério na medicina, que é a
infecção hospitalar.

Infecção hospitalar é aquela que se adquire dentro de um hospital. Um


paciente se interna por uma determinada doença e acaba adquirindo outra
através de uma bactéria que habita o ambiente hospitalar.

Ao mesmo tempo em que se aprimoram os controles de infecção hospitalar,


com a adoção de cuidados e com o uso de material esterilizado e principalmente
descartável, surgem novos germes resistentes à ação de medicamentos. As causas
desse fenômeno dizem respeito não apenas à biologia, mas ao uso, por vezes,
indiscriminado de antibióticos por parte da população.

O uso de antibióticos sem a menor indicação médica acaba determinando


com o passar do tempo um fenômeno chamado resistência ao antibiótico. Assim,
a bactéria adquire resistência àquele antibiótico usado indiscriminadamente, de
modo que ele não faz mais nenhum efeito sobre aquela bactéria, não curando,
portanto, a doença que está sendo tratada. Isso determina gasto de tempo,
dinheiro e piora do estado clínico do paciente.

Assim como os seres humanos, os germes seguem as regras da evolução


das espécies. Ao longo de décadas, eles foram se modificando para se adaptar
às mudanças do ambiente e resistir às investidas de seus agressores. A ação de
medicamentos cada vez mais potentes induz alterações na estrutura do DNA
dos germes, que resulta em mutações genéticas novas e, portanto, desconhecidas
pelos cientistas.

Para impedirem a entrada de drogas em seu organismo, os germes


reforçam a sua membrana celular ou criam sistema de proteção, além de
desenvolverem estratégias de sobrevivência em diferentes ambientes. Com a
chegada dos antibióticos, esse mecanismo de adaptação dos germes se sofisticou
ainda mais.

Cada vez que cresce o uso de antibióticos, há um aumento da resistência


dos germes a esse tipo de medicação na mesma proporção.

68
TÓPICO 1 | HISTÓRIA DA MICROBIOLOGIA

O problema se agrava quando há  mau uso desse tipo de medicamento


dentro e fora dos hospitais. É muito comum encontrar pacientes tomando
antibióticos sem prescrição médica que foram indicados por uma vizinha, por um
balconista de farmácia, por um amigo, pessoas sem nenhuma formação médica e
que, desconhecem o modo de ação do medicamento, seu tempo de duração, seu
metabolismo, seus efeitos secundários e principalmente as principais indicações.
A isso se chama “empurroterapia”.

A infecção hospitalar não é sinônimo de erro médico. As bactérias, vírus,


fungos e outros microrganismos são inerentes aos hospitais, assim como estão
presentes no nosso corpo e por toda à parte. Eles se tornam uma ameaça em
locais onde as pessoas estão mais debilitadas, como nos hospitais e quando não
há cuidados preventivos.

Portanto, cabe a cada um de nós contribuirmos para evitar que a infecção


hospitalar e a resistência aos antibióticos ocorram. Para isso, basta simplesmente
cuidarmos da nossa saúde e evitarmos o uso indiscriminado de antibióticos.
Sempre que for preciso, devemos procurar orientação médica.

FONTE: Adaptado de: <http://portalpanorama.com/2008/04/11/uso-indiscriminado-de-antibioticos-


e-infeccao-hospitalar/>. Acesso em: 25 set. 2010.

69
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico você estudou que:

• Dentro do grupo das eubactérias Gram-negativas existem algumas categorias


que são diferenciadas com base nas características de sua morfologia, como a
sua motilidade, forma e apêndices, na presença ou não de endósporos ou com
a formação de micélio.

• Outras possuem características relacionadas ao oxigênio e pela fonte utilizada


de energia.

• Os micoplasmas são desprovidos de parede celular.

• As Archea (arqueobactérias) são divididas segundo o critério de presença ou de


ausência de parede celular.

• As que terão presença de parede celular incluem as anaeróbias e produtoras de


metano; bactérias halófilas extremas e, por último, as dependentes de enxofre.

• Um quarto grupo, sem a presença de parede celular, tem o seu melhor


desenvolvimento em locais com temperaturas extremas e com pH
extremamente baixos.

• Fissão binária é um processo simples de divisão de uma célula em duas, cada


célula-filha com o mesmo genoma da célula-mãe.

70
AUTOATIVIDADE

1 De acordo com a estrutura de suas paredes celulares, descreva


qual é a diferença entre as bactérias Gram-positiva e Gram-
negativa.

2 Espiroquetas são bactérias Gram-negativas. Analise as


afirmativas a seguir e classifique-as em V verdadeiras ou F
falsas:

( ) Possuem estruturas próprias, caracterizadas por filamentos axiais.


( ) São conhecidas como bactérias coloidais espiraladas.
( ) Por serem muito finas, não são facilmente visualizadas pelo método da
coloração Gram.
( ) São saprófitas e vivem livres na lama, na água e nos sedimentos marinhos.

Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) A sequência correta é: V – F – V – V.
b) ( ) A sequência correta é: F – F – V – V.
c) ( ) A sequência correta é: V – V – F – F.
d) ( ) A sequência correta é: V – F – F – V.

3 Cite 3 espécies de bactérias e sua respectiva doença que


acomete o ser humano.

4 Associe as colunas a seguir de acordo com o nome da bactéria


e a doença que ela causa:
I- Neisseria gonorrhoeae ( ) Cólera
II- Neisseria meningitidis ( ) Tifo
III- Salmonela ( ) Gonorreia
IV- Vibrio cholerae ( ) Febre tifoide
V- Rickettsi aprowazekii ( ) Meningite

5 Para que servem os heterocitos?

71
6 Considere os seguintes processos:

I- Produção de iogurtes e queijos.


II- Produção de açúcar a partir da cana.
III- Fixação de nitrogênio no solo pelo cultivo de leguminosas.
IV- Extração do amido do milho.
Quais dos processos acima mencionados dependem da participação de
microrganismos?

a) ( ) Os processos I e II dependem da participação de microrganismos.


b) ( ) Os processos II e III dependem da participação de microrganismos.
c) ( ) Os processos I e III dependem da participação de microrganismos.
d) ( ) Os processos II e IV dependem da participação de microrganismos.
e) ( ) Os processos III e IV dependem da participação de microrganismos.

7 A seguir estão listadas características de três diferentes


grupos de arqueobactérias ou arqueas: termófilas extremas
(ou termoacidófilas), halófitas extremas e metanogênicas:

I- São anaeróbicas estritas e importantes decompositoras de


matéria orgânica, sendo comuns em áreas pantanosas desprovidas de
oxigênio.
II- São encontradas em estações de tratamento de lixo e no aparelho
digestório de cupins e herbívoros.
III- Ocorrem em lagoas rasas de evaporação, formadas por água do mar, nas
quais se obtém o sal de cozinha.
IV- Obtêm energia da oxidação do enxofre, sendo quimiossintetizantes
e ocorrem em fontes termais ou fendas vulcânicas, localizadas nas
profundezas oceânicas.

A correspondência entre as características descritas e os três grupos de


arqueobactérias está corretamente apresentada em:
a) ( ) Termófilas extremas - IV; Halófitas extremas - II; Metanogênicas - I e III.
b) ( ) Termófilas extremas - I e II; Halófitas extremas - III; Metanogênicas - IV.
c) ( ) Termófilas extremas - IV; Halófitas extremas - III; Metanogênicas - I e II.
d) ( ) Termófilas extremas - IV; Halófitas extremas - II e III; Metanogênicas - I.
e) ( ) Termófilas extremas - II e III; Halófitas extremas - IV; Metanogênicas - I.

FONTE: Adaptado de: <http://www.vestibulandoweb.com.br/biologia/monera.asp>. Acesso


em: 27 nov. 2010.

ATENCAO

Agora você desenvolverá duas atividades laboratoriais da disciplina de


Microbiologia, retiradas do Manual de Atividades Laboratoriais e didático-pedagógicas de
Ciências Biológicas.

72
PRÁTICA - MICROBIOTA E HIGIENIZAÇÃO DE MÃOS

1 INTRODUÇÃO

ATENCAO

Essa prática requer que você, professor-tutor externo, prepare o material com 24
horas de antecedência da realização da aula.

A higienização das mãos é a medida individual mais simples e menos


dispendiosa para prevenir a propagação das infecções. As mãos constituem
a principal via de transmissão de micro-organismos, pois a pele é um possível
reservatório de diversos micro-organismos, que podem se transferir de uma
superfície para outra, por meio de contato direto (pele com pele), ou indireto, ou
através do contato com objetos e superfícies contaminados (BRASIL, 2007).

A pele das mãos contém, principalmente, duas populações de micro-


organismos: a microbiota residente e a transitória. A microbiota residente é
constituída por micro-organismos de baixa virulência, como Staphylococcus,
Corynebacterium e Micrococcus, pouco associados às infecções veiculadas pelas
mãos. É mais difícil de ser removida pela higienização das mãos com água e sabão,
uma vez que coloniza as camadas mais internas da pele. A microbiota transitória
coloniza a camada mais superficial da pele, o que permite sua remoção mecânica
pela higienização das mãos com água e sabão, sendo eliminada com mais facilidade
quando se utiliza uma solução antisséptica. É representada, tipicamente, pelas
bactérias Gram-negativas, como enterobactérias (BRASIL, 2007).

Entre os principais agentes antissépticos, substâncias aplicadas à pele para


reduzir o número de agentes da microbiota transitória e residente, destacam-se:
álcoois, clorexidina, compostos de iodo, iodóforos e triclosan (BRASIL, 2007).

Esta atividade prática envolve as áreas de microbiologia e higiene pessoal


buscando a promoção da saúde através da educação, da adoção de estilos de
vida saudáveis e a responsabilidade no controle da disseminação de doenças
infecciosas.

Lembre-se de que, além do seu Professor-Tutor Externo, Coordenador,


Articulador do Polo de Apoio Presencial, você também pode contar com o Apoio
dos Supervisores de Disciplina e dos Professores-Tutores Internos.

73
2 OBJETIVOS

Os objetivos desta prática são:

- conhecer a microbiota residente e transitória da pele;


- visualizar as diferenças morfológicas das colônias bacterianas;
- observar a alteração de cor no meio de cultura devido à utilização do sal manitol;
- testar diferentes sabonetes ou antissépticos para realização da higienização das
mãos;
- conhecer o procedimento de higienização de mãos recomendado pela Anvisa.

3 MATERIAIS

- água destilada ou fervida;


- algodão para fazer tampão para o Erlenmeyer;
- autoclave (substituição – bico de Bunsen);
- balança;
- bico de Bunsen;
- caneta esferográfica (para escrever em vidro);
- Erlenmeyer para pesar e esterilizar o meio de cultura (ágar sal manitol);
- espátula;
- estufa (substituição – incubar em temperatura ambiente);
- meio de cultura – Agar Sal Manitol;
- placas de Petri descartáveis;
- sabonete líquido;
- tela de amianto;
- tripé universal.

4 PROCEDIMENTO

4.1 MEIO DE CULTURA

- Pese a quantidade necessária do meio de cultura, Ágar Sal Manitol, de acordo


com as instruções do fabricante.
- Adicione a água destilada ou fervida e leve o meio de cultura a fervura até a
completa homogeneização do meio. Se possível, esterilize em autoclave a 121º
C por 15 minutos.
- Distribua o meio de cultura, em condições assépticas, (próximo ao Bico de
Bunsen) ainda quente (temperatura de aproximada de 50o C). A quantidade
de meio de cultura colocado em cada placa de Petri varia de acordo com o
tamanho da placa (12 a 20 mL de meio por placa).
- Deixe o meio de cultura esfriar para que ocorra a solidificação do meio.
- Faça o teste de esterilidade do meio de cultura, incubando em estufa por 24
horas em temperatura de 35 a 37º C, ou deixe em temperatura ambiente por 24
horas antes de continuar o experimento.

74
4.2 COLETA DE AMOSTRAS

- Divida com um risco, utilizando uma canetinha, a parte inferior da placa de


Petri em duas áreas iguais.
- Identifique as áreas da placa como “mão sem higienizar” e “mão higienizada”.
Identifique também o grupo através de número ou nome.
- Realize a coleta, através da impressão digital dos dedos da mão direita, na
superfície do meio de cultura Ágar Sal Manitol identificada como mão sem
higienizar.
- Higienize as mãos e repita o procedimento de coleta das digitais com a mão
direita na superfície do meio de cultura Ágar Sal Manitol identificada como
mão higienizada.
- Incube as placas de 35 a 37º C, por 24 a 48 horas.
- Realize a caracterização macroscópica das colônias.
- Realize a comparação do crescimento microbiano entre as amostras de mãos
sem higienizar e higienizadas.

5 INTERPRETAÇAO DOS RESULTADOS

Espera-se que você observe, após a incubação, diferenças na morfologia


colonial das culturas bacterianas. Staphylococcus aureus cresce no Agar Sal Manitol e
fermenta o manitol para produzir colônias amarelas com zonas amarelas (Figura 1).

FIGURA 1 – ÁGAR SAL MANITOL COM CRESCIMENTO DE COLÔNIAS AMARELAS,


SUSPEITAS DE STAPHYLOCOCCUS AUREUS

FONTE: Disponível em: <https://www.biomedicinapadrao.com.br/2011/11/guia-


meios-de-cultura-para-bacterias.html> Acesso em: 22 mar. 2018.

Após a realização da prática descreva os resultados obtidos e discuta-os a


partir dos questionamentos a seguir:

1 Explique a alteração na cor das colônias e no meio de cultura, Ágar sal manitol,
quando ocorre o crescimento de Staphylococcus aureus.

2 Apresente o resultado da contagem das colônias em Unidade Formadora de


Colônia - UFC, nos meios de cultura do seu grupo, antes e após a higienização
das mãos e verifique se o processo de controle microbiano foi eficiente.

75
3 Compare os resultados dos diferentes sabonetes e antissépticos utilizados para
realização da higienização das mãos.

UNI

Cuidados com DESCARTE e SEGURANÇA:

• As placas de Petri, com crescimento microbiano, devem ser esterilizadas em autoclaves para
somente depois fazer o descarte como resíduos sólidos comuns (domiciliares).

• Caso não seja possível fazer a esterilização, descartá-las como resíduos sólidos contaminados, ou
potencialmente contaminados.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Higienização das mãos em


serviço de saúde. Brasília: ANVISA, 2007. Disponível em: <http://www.anvisa.gov.
br/hotsite/higienizacao_maos/manual_integra.pdf>. Acesso em: 5 mar. 2012.

OPLUSTIL, C. P.; ZOCCOLI, C. M.; TOBOUTI, N. R.; SINTO, S. I. Procedimentos


básicos em microbiologia clínica. 3° ed. São Paulo: Sarvier, 2010.

ATENCAO

Esta prática foi retirada da obra:


PELISSER, M. R.; WALTER, J. M. Prática - Microbiota e higienização de mãos. IN: GIRARDI,
Carla Giovana et al. Manual de atividades laboratoriais e didático-pedagógicas de ciências
biológicas. Indaial: Grupo UNIASSELVI, 2012. p. 87-91.

76
PRÁTICA - COLORAÇÃO DE GRAM

1 INTRODUÇÃO

A coloração de Gram é utilizada para classificar as bactérias com base na
morfologia e na reação aos corantes de Gram. Adicionalmente, esse teste auxilia
na identificação rápida e presuntiva de micro-organismos. As bactérias são gram-
positivas ou gram-negativas de acordo com as diferenças na composição química
da parede celular e presença ou ausência de membrana externa.

É importante destacar que o conteúdo desta prática relaciona-se com


outras disciplinas do curso, especialmente, a citologia.

Desejamos bons estudos ao longo desta disciplina. Que você perceba a


cada leitura e/ou atividade realizada, a satisfação de consolidar a formação do
seu conhecimento, tanto profissional como pessoal.

Lembre-se que além do seu Professor-Tutor Externo, Coordenador,


Articulador do Polo de Apoio Presencial, você também pode contar com o Apoio
dos Supervisores de Disciplina e os Professores -Tutores Internos. Boa prática!

DICAS

Leia mais sobre morfologia celular bacteriana na Unidade 1 do Livro Didático de


Microbiologia.

2 OBJETIVOS

Os objetivos desta prática são:

- preparar o esfregaço bacteriano para realização da coloração de Gram;


- realizar a coloração de Gram;
- conhecer as principais formas e arranjos celulares bacterianas.

3 MATERIAIS

- água destilada;
- alça bacteriológica ou de Henle ou de semeadura;
- bico de Bunsen;
- corantes: cristal-violeta, solução de Lugol, mistura de álcool-acetona (1:1) ou
álcool etílico a 95%, solução de safranina ou Fucsina básica 0,1% a 0,2%;
77
- cultura de bactéria em meio sólido ou líquido, ou amostra de urina;
- lâminas;
- suporte para realizar a coloração.

4 PROCEDIMENTO

4.1 PREPARAÇÃO DO ESFREGAÇO

- Coloque na bancada todo o material necessário para realização do esfregaço


(Figura 1A).
- Realize a flambagem da alça bacteriológica (Figura 1B).
- Utilize uma gota de salina estéril em uma lâmina limpa, caso a origem da
amostra seja a partir de meio sólido (Figura 1C). Ou coloque diretamente sobre
a lâmina uma gota da amostra que será analisada como, por exemplo, uma
gota de urina.
- Transfira uma pequena porção da colônia com alça bacteriológica (Figura 1D).
- Misture suavemente para obter um esfregaço levemente turvo e homogêneo
(Figura 1E).
- Observação: para evitar a formação de aerossóis, nunca misture o material
vigorosamente.

FIGURA 1 – ETAPAS DA PREPARAÇÃO DO ESFREGAÇO PARA COLORAÇÃO DE GRAM


Violeta de Genciana Lugol (Iodo) Álcool Absoluto Fuscina
(1 minuto) (1 minuto) (15 segundos) (30 segundos)

LAVAR LAVAR LAVAR


COM ÁGUA COM ÁGUA COM ÁGUA Gram-positiva
Gram-negativa

FONTE: Disponivel em: <http://www.kasvi.com.br/wp-content/uploads/2017/03/


coloracao-de-Gram.jpg> Acesso em: 22 mar. 2018 (adaptado).

4.2 FIXAÇÃO DO ESFREGAÇO PELO CALOR

Todo o esfregaço, antes de ser submetido à coloração, deverá estar seco


(exposto ao ar), sendo fixado com calor brando, 50ºC (Figura 2A). A fixação
excessiva e o superaquecimento irão distorcer a morfologia celular e a fixação
insuficiente permitirá a saída do material durante o processo de coloração. Deixe
a lâmina esfriar antes de iniciar a coloração.

78
FIGURA 2 – FIXAÇÃO DO ESFREGAÇO ATRAVÉS DO CALOR

FONTE: Os autores

4.3 COLORAÇÃO DE GRAM

a) Bateria de corantes para coloração de Gram (Figura 3A).


b) Core o esfregaço com a solução de cristal violeta durante 1 minuto (Figura 3B).
c) Descarte o cristal-violeta e lave a lâmina em água, durante alguns segundos
(Figura 3C).
d) Cubra com a solução de lugol (iodo + iodeto de potássio) durante 1 minuto
(Figura 3D).
e) Lave a lâmina em água destilada, rapidamente.
f) Descore em solução de álcool-acetona ou álcool etílico a 95%, mediante lavagens
sucessivas até que cesse a liberação do corante; usualmente, 3 aplicações são
suficientes, com um tempo total de 30 segundos a 1 minuto (Figura 3E).
g) Lave a lâmina em água destilada.
h) Cubra o esfregaço com safranina ou fucsina diluída (1/10). Deixar durante 30
segundos (Figura 3F).
i) Lave em água durante 5 segundos, seque a lâmina e examine o esfregaço ao
microscópio.

FIGURA 3 – ETAPAS DA PREPARAÇÃO DO ESFREGAÇO PARA COLORAÇÃO DE GRAM

FONTE: Os autores

79
4.4 LEITURA DO GRAM

Utilizando a objetiva de menor aumento (10X), fazer uma análise do


esfregaço como um todo, avaliando:

- A qualidade da coloração e a espessura do esfregaço.


- Adicione o óleo e passe para a objetiva de imersão (100X) e examine várias áreas
para melhor avaliação da coloração e dos diferentes tipos de micro-organismos
presentes, formas celulares e tipo de coloração.

5 INTERPRETAÇÃO DE RESULTADOS

Depois da realização da prática, descreva os resultados obtidos e discuta-


os a partir dos questionamentos a seguir:

1 Explique por que algumas bactérias ficam coradas em azuis e outras em


vermelho após a aplicação dos corantes de Gram.
2 Faça um quadro para registrar as formas, arranjos e Gram das lâminas
visualizadas.
3 De acordo com as características morfológicas e tinturais das células microbianas
visualizadas em aula, quais são os possíveis micro-organismos detectados?

FIGURA 4 – COCOS GRAM POSITIVOS (A) E BASTONETES GRAM NEGATIVOS EM B


Células epiteliais da Mucosa Bucal

Bactéria
(bastonete Gram-negativo) Citoplasma

Núcleo
Bactérias
(cocos Gram-positivos)

FONTE: Disponível em: http://www.foa.unesp.br/home/extensao/praticandociencia/1-


bacterias-cocos.pdf Acesso em: 22 mar. 2018.

UNI

DESCARTE/SEGURANÇA

- As placas de Petri, com crescimento microbiano, devem ser esterilizadas em autoclaves para
somente depois fazer o descarte como resíduos sólidos comuns (domiciliares).

80
- Caso não seja possível fazer a esterilização, descartá-las como resíduos sólidos contaminados,
ou potencialmente contaminados.

- Os corantes utilizados para coloração de Gram deverão ser armazenados em recipiente


adequado para posterior encaminhamento para empresa de tratamento de resíduos sólidos.

- As lâminas coradas com Gram podem ser reutilizadas após serem limpas com álcool 70%.

REFERÊNCIAS

SILVEIRA, P. Coloração de Gram. 2011. Disponível em: <http://magicnumbers-


parussolo.blogspot.com/2011/06/coloracao-de-gram.htmL.pdf>. Acesso em: 8 fev. 2012.

OPLUSTIL, C. P.; ZOCCOLI, C. M.; TOBOUTI, N. R.; SINTO, S. I. Procedimentos


básicos em microbiologia clínica. 3. ed. São Paulo: Sarvier, 2010.

ATENCAO

Esta prática foi retirada da obra:


PELISSER, M. R.; WALTER, J. M. Coloração de Gram. IN: TORRES,F. S.; PELISSER, M. R. ; BIANCO, R.
J. F. (Org.). Manual de atividades laboratoriais e didático-pedagógicas de Ciências Biológicas.
Centro Universitário Leonardo da Vinci – Indaial: Grupo UNIASSELVI, 2012. p. 105-109.

81
82
UNIDADE 2

METABOLISMO E GENÉTICA
MICROBIANA

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Nessa unidade vamos:

• distinguir reações exotérmicas de reações endotérmicas;

• mencionar a importância da transferência de energia em uma célula, bem


como o composto que promove;

• poder diferenciar respiração e fermentação;

• explicar o processo de replicação do material genético de uma célula e o


que é expresso pelo código genético;

• compreender as aplicações que os microrganismos têm no campo industrial;

• diferenciar microbiologia industrial tradicional da biotecnologia atual.

PLANO DE ESTUDOS
Esta segunda unidade está dividida em três tópicos. Você encontrará, no fi-
nal de cada um deles, leituras complementares e atividades que contribuirão
para a compreensão dos conteúdos explorados.

TÓPICO 1 – CONCEITOS ESSENCIAIS DE METABOLISMO

TÓPICO 2 – GENÉTICA MICROBIANA E VARIABILIDADE

TÓPICO 3 – BIOTECNOLOGIA

83
84
UNIDADE 2
TÓPICO 1

CONCEITOS ESSENCIAIS DE METABOLISMO

1 INTRODUÇÃO
Há uma necessidade dos organismos vivos em retirar energia utilizável
biologicamente dos alimentos ingeridos, o que constitui uma função primária dos
animais de todas as espécies. Esses organismos são, de certa forma, verdadeiras
máquinas químicas, pois essa função só é obtida através da atividade de uma série
de catalisadores biológicos (enzimas) e outras estruturas que levam diretamente
ou indiretamente a uma sequência de reações químicas.

Uma atividade libera energia e a outra se utiliza dessa energia disponível.


A energia que está disponível é utilizada para a realização de trabalho pela célula,
ou seja, a célula viva realiza vários tipos de trabalho, como o de reparar danos
na própria célula, produção de substâncias químicas (enzimas), síntese da parede
celular, bem como da membrana plasmática. Para que ela possa realizar tudo
isso, é necessária uma grande quantidade de energia que será retirada pela célula
das moléculas químicas (alimentos – nutrientes). Com a quebra dessas moléculas
químicas, veremos que a energia é liberada sob a forma de energia química e que é
armazenada pela célula, para que mais tarde ela possa utilizá-la para a realização
de trabalho. Alguns organismos utilizam como fonte de energia a luz – processam
e convertem-na em energia química, utilizada no metabolismo.

Esse tópico trata de alguns princípios que norteiam o metabolismo


(reações químicas) com produção de energia e, assim, podemos entender como
os microrganismos armazenam a energia liberada durante essas reações.

2 METABOLISMO CELULAR E FONTES DE ENERGIA DOS


MICRORGANISMOS
Para que possamos entender o metabolismo celular, precisamos saber
das necessidades nutricionais das células. Os elementos químicos necessários
para o crescimento celular são: carbono, nitrogênio, oxigênio, enxofre e fósforo.
Sabemos que todos os organismos requerem carbono na sua dieta alimentar e, em
geral, compostos orgânicos são todos aqueles que possuem carbono. O carbono
forma um tripé alimentar, que são os carboidratos, lipídeos e as proteínas, sendo
que essas últimas fornecem uma parte de energia, que serve como unidade básica
do material celular utilizado pela célula para o seu crescimento. Vamos ver mais
adiante que os seres heterotróficos retiram o carbono dos compostos orgânicos a

85
UNIDADE 2 | METABOLISMO E GENÉTICA MICROBIANA

partir do meio e o utilizam como sua fonte principal de energia, ou simplesmente


capturam organismos autotróficos ou mesmo heterotróficos. Já os organismos
autotróficos valem-se do carbono, capturando o CO2 do meio.

Outro elemento de importância na dieta alimentar dos organismos é o


nitrogênio, que é o elemento essencial para formação dos aminoácidos, ou seja,
as unidades que formam as proteínas. Os organismos eucariontes não possuem a
versatilidade das bactérias no uso do N (nitrogênio), pois algumas delas podem se
valer da fixação do nitrogênio atmosférico (N2) como meio de utilização ou se valem
de outros compostos nitrogenados, tais como: sais de amônia, nitritos, nitratos.
Existem aqueles que utilizam compostos orgânicos (aminoácidos e peptídeos). Os
outros elementos (hidrogênio, oxigênio, enxofre e fósforo) também são essenciais
para todos os organismos. O hidrogênio e o oxigênio compõem muitos outros
compostos orgânicos e fazem parte de uma molécula que é essencial para a vida –
a água (H2O). Temos no fósforo a importância de fazer parte da síntese de ácidos
nucleicos, além de compor a principal molécula energética, o ATP.

E
IMPORTANT

Caro acadêmico! Trifosfato de adenosina, adenosina trifosfato ou simplesmente


ATP, é um nucleotídeo responsável pelo armazenamento de energia em suas ligações
químicas. Você estudará este assunto na disciplina de Bioquímica. Vamos adiante!

Para a biossíntese de aminoácidos (metionina, cistina, cisteína), os


organismos utilizam-se do enxofre (S). Encontramos alguns desses elementos
tanto no ar como na água. Há íons inorgânicos, tais como fosfatos e sulfatos que,
de certa forma, podem suprir alguns dos principais elementos que fazem parte
dos nutrientes necessários aos microrganismos.

NOTA

Os microrganismos requerem outros elementos que são essenciais para o


metabolismo celular (zinco, manganês, sódio, ferro, molibdênio etc.), só que em quantidades
bem menores.

Como vimos anteriormente, todo organismo vivo gasta energia de


forma contínua para poder manter as diversas atividades celulares, cujas
moléculas são modificadas, rompidas ou ligadas entre si, para que mais tarde

86
TÓPICO 1 | CONCEITOS ESSENCIAIS DE METABOLISMO

sejam transformadas em outras. Podemos entender então que o metabolismo é


essa intensa e contínua atividade de transformações químicas que é realizada
pelos organismos vivos (Figura 50). Os processos metabólicos são comumente
classificados em dois tipos fundamentais. Num primeiro momento, as moléculas
altamente complexas são quebradas e convertidas em outras mais simples –
chamadas de reações de degradação. Em um segundo tipo de reação, o que se
percebe é que as moléculas mais simples unem-se para formar moléculas maiores
e bem mais complexas – chamadas de reações de síntese.

FIGURA 50 – CATABOLISMO E ANABOLISMO


Reação exergônica Reação endergônica
(libera energia) (requer energia)

• Respiração celular • Transporte activo


• Catabolismo • Movimento
• Anabolismo

ADP
Energia
+ Pi Energia

Sintese de ATP Hidrólise de ATP


a partir de ADP e para ADP e Pi
Pi requer energia. ATP libera energia.

FONTE: Disponível em: <http://biogilde.wordpress.com/2009/05/page/2/>.


Acesso em: 23 out. 2010.

Um exemplo de reação de síntese muito interessante é quando os


organismos, para formar proteínas, precisam da união de vários aminoácidos.
Quando quebram o glicogênio em moléculas menores de glicose, temos um
exemplo de uma reação de degradação. Portanto, todas as reações que necessitam
de energia para sintetizar moléculas mais complexas a partir de moléculas
simples são denominadas anabolismo (reações de síntese) (PELCZA; CHAN;
KRIEG, 1997a). Em contrapartida, reações que liberam energia através da quebra
de moléculas altamente complexas em moléculas mais simples são denominadas
catabolismo (PELCZA; CHAN; KRIEG, 1997a). Essa quebra é necessária para
que as moléculas produzidas possam ser reutilizadas como unidades básicas de
construção. As reações catabólicas fornecem ao organismo vivo toda a energia
necessária para que ele possa realizar todos os seus processos vitais, incluindo,
aqui, o movimento, o transporte de substâncias e a síntese de moléculas complexas
para o anabolismo. O que não se deve esquecer é que, por meio das reações
catabólicas, os organismos vivos obtêm a matéria-prima e a energia suficiente
à vida. As reações de degradação e síntese são processos opostos, porém, nos
microrganismos, esses processos vão interagir e vão acontecer simultaneamente
(Figura 51).
87
UNIDADE 2 | METABOLISMO E GENÉTICA MICROBIANA

FIGURA 51 – CONEXÃO ENTRE OS PROCESSOS DE DEGRADAÇÃO E SÍNTESE EM CÉLULAS


MICROBIANAS

Crescimento celular,
reprodução, manutenção
e movimento

Componentes celulares tais


como proteínas (enzimas),
DNA, RNA, carboidratos,
lípideos e estruturas celulares
complexas

DEGRADAÇÃO
Energia Sistema de Energia
SÍNTESE requerida armazenamento liberada
e trasnferência
Síntese de compostos
de energia
e estrutura celulares
(acoplamento) Quebra de substratos
ou nutrientes

Produtos da degradação
servem como unidades
básicas para a produção
dos compostos celulares

FONTE: Adaptado de: Pelczar, Chan e Krieg (1997a, p. 291)

Segundo Black (2002), todas as reações catabólicas envolvem a transferência


de elétrons, que permite a captura de energia em ligações altamente energéticas
no ATP e em moléculas similares. O ATP (adenosina trifosfato) é, sem dúvida,
o mais importante composto que transfere energia e o mais utilizado pelas
células, apesar de existirem vários compostos de transferência. Pode-se dizer
que, em relação a todos os seres vivos, os microrganismos possuem uma grande
versatilidade na obtenção de energia. Os diferentes microrganismos (Quadro 2)
possuem duas formas de obterem energia (alimento). Os autotróficos são aqueles
que sintetizam o seu próprio alimento – autoalimentação – e os heterotróficos são
os que não possuem essa capacidade de produção, ou seja, vivem na dependência
dos primeiros – alimentação externa.

88
TÓPICO 1 | CONCEITOS ESSENCIAIS DE METABOLISMO

QUADRO 2 – FORMAS PELAS QUAIS OS DIFERENTES MICRORGANISMOS TRABALHAM PELA


CAPTAÇÃO DE ENERGIA

Bactéria Características
Autotróficas Aquelas que obtêm seus átomos de carbono diretamente do gás CO2.
Aquelas que obtêm seus átomos de carbono a partir de moléculas
Heterotróficas
orgânicas capturadas no ambiente.
Fototróficas Aquelas que utilizam luz como fonte primária de energia.
Aquelas que dependem de reações de oxirredução de compostos
Quimiotróficas
inorgânicos ou de compostos orgânicos para obtenção de energia.
São capazes de produzir elas mesmas as substâncias orgânicas que
Fotoautotróficas lhes servem de alimento, tendo como fonte de carbono o CO2 e como
fonte de energia, a luz.
Utilizam luz como fonte de energia, mas não conseguem converter o
CO2 em moléculas orgânicas. Assim utilizando compostos orgânicos
Foto-heterotróficas que absorvem do meio externo como fonte de carbono para a
produção dos componentes orgânicos de sua célula. Essas bactérias
são anaeróbias.
Utilizam oxidações de compostos inorgânicos como fonte de energia
Quimioautotróficas para a síntese de substâncias orgânicas a partir do CO2 e de átomos de
H provenientes de substâncias diversas.
Utilizam moléculas orgânicas como fonte de energia e de átomos de
Químio-heterotróficas
carbono que ingerem como alimento.

FONTE: Disponível em: <http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:547iihhNb2


EJ:dorareviewschool.pbworks.com/f/Biology%2520Review%2520of%25202009%25201%2520an
o%2520do%2520Ensino%2520M%C3%A9dio.doc+MICRORGANISMOS+CAPTACAO+ENERGIA+
AUTOTROFICO+HETEROTROFICO+QUIMIO+FOTO&cd=5&hl=pt-br&ct=clnk&gl=br>. Acesso
em: 7 out. 2010.

A fotossíntese é um processo promovido pelos seres autotróficos e utiliza


como forma de captação energética por muitos microrganismos de vida livre (ou
seja, todos os microrganismos não causadores de doença). Todos os organismos
infecciosos estão no grupo dos químio-heterotróficos.

Mesmo que a energia exista em diversas formas, um tipo de energia é


utilizado universalmente pelos organismos vivos: a energia química. Em todas
as ligações químicas que compõem os nutrientes especiais, vamos encontrar
armazenada energia química. Para que os organismos possam utilizar essa
energia, é necessário que essas ligações sejam quebradas durante o processo
de degradação, ou seja, a quebra será realizada no nutriente ou em substratos
químicos (tanto pode ser um substrato orgânico (glicose) como um inorgânico
(amônia)). Quando acontece a quebra, a energia química é liberada. Pelczar,
Chan e Krieg (1997a) comentam que, em condições extremamente ótimas, poderá
haver, por parte das células bacterianas, a degradação de uma quantidade de
nutrientes que equivaleria ao seu próprio peso em poucos segundos.

89
UNIDADE 2 | METABOLISMO E GENÉTICA MICROBIANA

NOTA

A energia luminosa, também chamada de energia radiante, é utilizada por alguns


microrganismos que convertem essa energia em energia química, utilizando-a em funções
da própria célula.

Todo movimento realizado ao acaso pelas moléculas ou pelos átomos gera


a chamada energia térmica. Essa energia não pode ser utilizada pelos organismos
vivos. Um detalhe relevante é que certa quantidade de energia térmica se faz
necessária para que se possa ter uma reação química, ou seja, a maioria das reações
químicas que ocorrem nos seres vivos é realizada dentro de estreitos limites de
temperatura e, mesmo na presença de um catalisador (enzima), vai ocorrer em
uma velocidade rápida para que a vida possa ser mantida.

Já sabemos que as enzimas são proteínas especiais encontradas em todos


os organismos vivos. As enzimas agem como catalisadores – substâncias que,
em quantidades pequenas, aceleram uma reação, sem que os produtos finais da
reação química sofram qualquer modificação. Os catalisadores são recuperados
quimicamente intactos entre os produtos finais da reação. É bom lembrar que
aumentar a temperatura para acelerar uma reação química não seria viável para
os organismos vivos, pois a maioria das células morre quando há um aumento
excessivo na temperatura. Como já foi dito anteriormente, as reações químicas
nos seres vivos acontecem dentro de um limite muito estreito de temperatura, o
que vai exigir uma energia de ativação muito alta. Entende-se aqui por energia
de ativação a energia necessária para produzir uma reação química, porém, sob a
ação de um catalisador (enzima), haverá uma redução no valor da energia inicial,
fazendo com que aumente a velocidade da reação química. Para Black (2002, p.
104), “[...], portanto, as enzimas são necessárias para a sobrevivência das células
em temperaturas que elas possam suportar”.

E
IMPORTANT

Tanto a síntese de estruturas celulares como a degradação de nutrientes não


acontecem em uma só etapa. São várias as reações químicas envolvidas, sendo que cada
reação é catalisada por enzimas diferentes, ou seja, por enzimas específicas. Podemos afirmar
que os sistemas biológicos, bem como tudo o que existe no universo, seguem as leis gerais
da termodinâmica (1ª e 2ª Leis Físicas da Termodinâmica) (PURVES et al., 2002).

90
TÓPICO 1 | CONCEITOS ESSENCIAIS DE METABOLISMO

A primeira lei diz que a energia não é criada e nem destruída, ou seja,
nos processos físicos e químicos, a energia pode ser perdida ou ganha, sendo
transferida de um sistema para outro. Jamais poderá ser criada, muito menos
destruída. Para Purves et al. (2002, p. 97), entende-se por sistema “qualquer
parte do universo que contenha matéria e energia próprias. Um sistema fechado
é aquele que não troca energia ao seu entorno. Uma garrafa térmica, por exemplo,
não ganha e nem perde calor e, desse modo, o material em seu interior é um
sistema fechado”.

Já a segunda lei nos diz que nem toda a energia pode ser usada e a desordem
tende a aumentar, o que ocorre é uma dissipação da energia, ou seja, nenhum
processo, quer físico ou químico (reação), tem uma eficiência de 100% e boa parte
da energia liberada pelo processo não pode ser convertida em trabalho. Essa
energia é perdida para uma forma associada com a desorganização estrutural.
A energia dissipada, bem como a desorganização de estruturas organizadas,
passa a ser uma tendência natural e recebe o nome de entropia. Purves et al.
(2002) comentam que essa energia é perdida para uma forma associada com a
desordem. Os trabalhos mecânicos e químicos são realizados pelas atividades
celulares e demandam uma quantidade de energia. Temos como exemplo dois
tipos de trabalho: mecânico, a movimentação de cílios e flagelos; e químico, a
sintetização de macromoléculas, bem como todas as demais reações químicas que
requerem energia para acontecer.

Numa reação química, temos de um lado os reagentes e do outro lado o


produto final dessa reação química. Os átomos, através das ligações químicas,
formam moléculas que constituem a matéria. É através das energias de ligações
que teremos a energia necessária a ser utilizada pelas células para as atividades
vitais, ou seja, em todas as reações químicas ocorrerão quebras de ligações entre
os átomos das moléculas reagentes, liberando os átomos para um rearranjo em
combinações diferentes, gerando, com isso, as moléculas dos produtos. Em alguns
tipos de reação química, observamos que o total de energia que está presente nas
ligações químicas dos produtos é bem maior que aquela que existia nas ligações
químicas entre os átomos dos reagentes. Logo, para que essa reação possa ocorrer,
deverá acontecer a adição de energia ao sistema vindo de alguma fonte externa,
ou seja, essa reação irá absorver energia do ambiente – reação endotérmica ou
endergônica (PELCZAR; CHAN; KRIEG, 1997a). O que vamos observar em outros
tipos de reações químicas é justamente o contrário, em que o total de energia
encontrada nas ligações químicas dos produtos é muito menor do que aquelas que
existiam nas ligações entre os átomos dos reagentes. Esses tipos de ligações são
denominados exotérmicos ou exergônicos (PELCZAR; CHAN; KRIEG, 1997a).
Trocas de energia acontecem entre as células nos sistemas biológicos através de
transferências de elétrons ou pelas alterações no nível energético dos elétrons que
participam das ligações químicas. Observe a figura a seguir.

91
UNIDADE 2 | METABOLISMO E GENÉTICA MICROBIANA

FIGURA 52 – A(I) – REAÇÃO ENDERGÔNICA. B(I) – REVAÇÃO EXERGÔNICA. (II) –


HIDRÓLISE DO ATP

Energia
Produtos
transferida

Energia Catabolismo
Energia contida
nas moléculas
Reagentes
A

Decurso de reação
ADP+ P ATP + H2O

Energia
Reagentes transferida
Energia contida
nas moléculas

Produtos

Energia Anabolismo
Decurso de reação

FONTE: Disponível em: <http://biogilde.wordpress.com/tag/atp/>. Acesso em: 10


out. 2010.

E
IMPORTANT

Podemos dizer, então, que as reações exergônicas estão diretamente ligadas


à degradação de substratos químicos ou de nutrientes. Em contrapartida, as reações
endergônicas estão ligadas a toda síntese dos constituintes celulares.

Segundo Pelczar, Chan e Krieg (1997a), os organismos desenvolveram


um processo interessante chamado de acoplamento energético (Quadro 3), que
promove a ligação dessas reações.

92
TÓPICO 1 | CONCEITOS ESSENCIAIS DE METABOLISMO

QUADRO 3 – ACOPLAMENTO ENERGÉTICO

Reação exergônica libera energia

Parte da energia é armazenada em um composto de


trasnferência de energia

Os compostos de trasnferência de energia doam a


energia armazenada para uma reação endergônica.

FONTE: Pelczar, Chan e Krieg (1997a, p. 292).

A energia necessária para que a vida se mantenha é fornecida pela


degradação das moléculas orgânicas que os organismos utilizam como alimento.
A molécula de ATP (Figura 53) foi mencionada anteriormente, bem como o papel
que exerce para as células. Para Purves et al. (2002), todas as células vivas precisam
de ATP para poder captar, transferir e armazenar a energia livre altamente
necessária para poderem realizar o trabalho químico e também para manterem
as células. O ATP age como uma moeda de energia que circula dentro da célula e
custeia os gastos metabólicos.

FIGURA 53 – MOLÉCULA DE ATP

O O O

O P O P O P O CH2 Ribose Adenina

O O O
Grupo
fosfato

FONTE: Adaptado de: <http://ubezpieczenia-rybnik.pl/images/22.jpg>.Acesso em: 10


out. 2010.

Os organismos heterotróficos obtêm a energia livre dos seus processos


metabólicos ao desdobrarem as moléculas orgânicas complexas do meio ambiente.
É justamente nesses processos que a molécula de ATP desempenha um grande papel
central na transferência de energia livre dos processos exergônicos (catabolismo)
para os endergônicos (anabolismo). Durante o processo de catabolismo, as
moléculas dos nutrientes liberam energia, sendo depois armazenada de forma
temporária em um sistema de armazenamento de energia até o momento da sua
utilização. Quando houver necessidade da síntese de constituintes celulares, esse
sistema servirá também como um sistema de transferência de energia.
93
UNIDADE 2 | METABOLISMO E GENÉTICA MICROBIANA

A produção de ATP pelos microrganismos se dá pela fosforilação, que é a


adição de um grupo fosfato a um composto. Para a formação de ATP, é necessário
acontecer a fosforilação do ADP (ADP + P = ATP), ou seja, teremos a adição de
um grupo fosfato (P) à molécula. A energia fornecida para essa reação virá das
reações exergônicas. Essa adição (fosforilação) de um grupo fosfato ao ADP se
dará por três vias (PELCZAR; CHAN; KRIEG, 1997a):

a) Fosforilação em nível de substrato (nas fermentações): nesse tipo de processo


acontece a remoção de um grupo fosfato de um determinado composto
químico, sendo adicionado de forma direta à molécula de ADP.

b) Fosforilação oxidativa (na respiração): é um processo no qual a energia que


é liberada pela oxidação (Quadro 4) de nutrientes (compostos químicos)
é utilizada para a sintetização de ATP a partir da molécula de ADP. É bom
lembrar que no processo de oxidação acontece a liberação de energia, que é
tomada pelos microrganismos para a síntese de ATP.

c) Fotofosforilação (durante a fotossíntese): nesse processo, vamos ter a utilização


da energia da luz para a formação de ATP a partir da molécula de ADP.

QUADRO 4 – COMPARAÇÃO ENTRE OXIDAÇÃO E REDUÇÃO

OXIDAÇÃO REDUÇÃO
a) Ganho de elétrons.
a) Perda de elétrons.
b) Perda de oxigênio.
b) Ganho de oxigênio.
c) Ganho de hidrogênio.
c) Perda de hidrogênio.
d) Ganho de energia (armazena energia em
d) Perda de energia (libera energia).
compostos reduzidos).
e) Exotérmica = Exergônica (desprende energia
e) Endotérmica = Endergônica (necessita de
em forma de calor).
energia, como a do calor).

FONTE: Black (2002, p. 102)

Quando acontecem rearranjos de átomos dentro dos compostos químicos,


em alguns casos, temos como resultado um novo produto, que contém ligações
de fosfato com alto teor energético. Os rearranjos acontecem quando as células
degradam os nutrientes em compostos químicos e o grupamento fosfato, que está
envolvido na ligação, será transferido de forma direta para a molécula de ADP,
formando o ATP, que contém uma ligação fosfato com elevada porção energética.
Um exemplo desse processo é o da glicose, utilizada pela célula como nutriente,
que através de quebras e rearranjos moleculares dá origem a alguns compostos.
Esse processo é chamado de fosforilação em nível de substrato.

As fermentações acontecem em determinados microrganismos, que


podem ser anaeróbios obrigatórios ou anaeróbios facultativos (crescem na
ausência ou na presença de oxigênio). Esses organismos fermentadores, de
uma forma geral, estão presentes em ambientes onde as fontes de nutrientes
fermentativos são contínuas, como, por exemplo, os intestinos de animais e de

94
TÓPICO 1 | CONCEITOS ESSENCIAIS DE METABOLISMO

humanos. Mesmo sabendo que a fermentação é um processo de pouca eficiência


energética, a presença de bactérias nos compartimentos citados é muito grande.
Isso acontece porque, mesmo sendo um processo de pouca eficiência, ele produz
uma quantidade muito grande de ATP, se a disponibilidade de nutrientes
fermentativos que estão disponíveis é ilimitada. Em locais onde a quantidade de
nutrientes é muito baixa (superfícies de lagos sem poluição), os microrganismos
(heterotróficos) optam por um processo bem mais eficiente, que é a respiração
para poderem obter energia.

DICAS

Caro acadêmico! Para descontrair um pouco e relaxar, vamos mudar nossa


metodologia. Acesse o site: <http://biogilde.wordpress.com/tag/atp/>. Você encontrará uma
explicação mais aprofundada sobre este assunto, com figuras e um vídeo. Vale a pena conferir!

A respiração é a obtenção de energia por oxidação de substratos reduzidos.


Nas reações de oxidação ocorre a liberação de energia e vários organismos
conseguem desenvolver vias que permitem a sua utilização na síntese do ATP. Essa
síntese se dá através das reações de oxidação para a produção do ATP a partir do
ADP. Essas reações são chamadas de fosforilação oxidativa. Através de uma série
integrada de reações oxidativas em sequência, a energia é liberada (Quadro 5).

QUADRO 5 – ESQUEMA DE REAÇÕES DE OXIDAÇÃO SEQUENCIAL

Sistema de trasnporte de elétrons

A energia é armazenada temporariamente em


forma de força promotiva

A força promotiva fornece energia para a síntese


do ATP a partir do ADP.

FONTE: Pelczar, Chan e Krieg (1997a, p. 295)

95
UNIDADE 2 | METABOLISMO E GENÉTICA MICROBIANA

Entendemos por oxidação a perda de um ou vários elétrons de uma


molécula ou de um átomo, bem como a imediata transferência dos elétrons para
as moléculas e para os átomos receptores. Para Pelczar, Chan e Krieg (1997a), boa
parte das reações oxidativas que envolvem o meio biológico envolvem também a
perda de um átomo de hidrogênio de alguma molécula (Figura 54A). Segundo os
mesmos autores, esse átomo perdido possui um elétron adicionado ao seu próton,
ou seja, a molécula que perde um átomo de hidrogênio perde automaticamente
um elétron. A redução é o oposto da oxidação, ou seja, há ganho de elétrons –
ganho de átomos de hidrogênio (Figura 54B). Vale lembrar que, nas reações de
redução, não há liberação de energia, porém, essas requerem energia para que
possam ser elaboradas.

FIGURA 54 – TRANSPORTE DE ELÉTRONS. A – PERDA DE UM ÁTOMO DE HIDROGÊNIO.


B – GANHO DE ÁTOMOS DE HIDROGÊNIO

FONTE: Disponível em: <http://hyperphysics.phy-astr.gsu.edu/hbase/Biology/etrans.


html> Acesso em 22 mar. 2018 (adaptado).

Existe a utilização, por parte das células, da energia das reações oxidativas
para a sintetização de ATP, porém, não é apenas em uma única reação que
ocorre a liberação de grande quantidade de energia. Nesse processo, temos uma
via transportadora de elétrons em uma série integrada de reações oxidativas
sequenciais. Nessa série, há a liberação de energia de forma gradativa, em
muitas etapas, que a célula utiliza. Temos, então, um doador de elétrons ou,
simplesmente, um composto reduzido, que é um nutriente absorvido pela célula
ou um nutriente resultante da quebra, que foi absorvido pela célula. Além disso,
um aceptor final de elétrons (composto oxidado) é adquirido do meio em que a
célula está presente. Nas bactérias, o sistema de transporte de elétrons fica junto
à membrana citoplasmática, sendo que nas células eucarióticas, encontra-se na
membrana interna das mitocôndrias.

96
TÓPICO 1 | CONCEITOS ESSENCIAIS DE METABOLISMO

E
IMPORTANT

Vamos observar, então, que a energia é liberada a cada passo em uma série
sequencial de oxidação. Acontece que, apenas em algumas etapas, essa quantidade de
energia é liberada, porém, suficiente para a produção de ATP. Um detalhe interessante é que,
antes que aconteça a produção de ATP, a energia é primeiramente armazenada na forma de
força protomotiva.

Esse sistema de transporte de elétrons libera energia, que é utilizada para o


bombeamento de prótons para o exterior da célula, dessa maneira, o lado externo
da membrana fica com carga positiva e altamente ácida e o lado interno, com
cargas negativas (essa grande quantidade de prótons pode chegar a 100 vezes mais
em um lado da membrana). Podemos notar que através das membranas há uma
distribuição desigual de prótons, bem como de cargas elétricas. Isso representa
um armazenamento energético (energia potencial) – força protomotiva – que
é utilizada na síntese de ATP. Para que aconteça a liberação dessa energia, os
prótons deverão fluir para o lado onde estão menos concentrados. A membrana
trabalha como uma barragem, impedindo essa passagem, ou seja, está separando
grande concentração de prótons de um lado e uma pequena do outro. A existência
de canais específicos intermembranosos pode liberar o fluxo de prótons do lado
mais concentrado para o menos concentrado, que é tomado pela célula para
realização de trabalho. É uma grande estratégia da célula, pois, assim, realiza o
trabalho de fosforilação oxidativa do ADP para formação do ATP.

ATENCAO

Prezado acadêmico! As discussões aqui realizadas são apenas uma introdução


ao estudo de obtenção de energia. Você estudará detalhadamente esse conteúdo na
disciplina de Bioquímica.

Temos ainda outra forma de fonte de energia para a síntese de ATP. Esse
processo utiliza a luz como fonte energética e é denominado fotofosforilação. A luz
é a fonte principal para produzir a força protomotiva. É a partir da força que ocorre
a síntese do ATP. Como exemplo de organismos que realizam a fotofosforilação,
temos as cianobactérias, as algas e as plantas verdes. O processo acontece no
interior da célula desses organismos em estruturas celulares membranosas
especiais: os tilacoides (Figura 55), que, de acordo com o tipo de organismo,
podem ser encontrados em locais diferentes dentro da célula. Nas cianobactérias,
os encontramos soltos no citoplasma. Já nas algas e nas plantas verdes estão
contidos numa estrutura denominada granum, presente nos cloroplastos.
97
UNIDADE 2 | METABOLISMO E GENÉTICA MICROBIANA

FIGURA 55 – TILACOIDES PRESENTES EM CLOROPLASTOS DE CIANOBACTÉRIAS


Membrana
exterior
Membrana
interior

Estroma Estroma
lamela

Tilacoide

Espaço
intermembranal
Granum

FONTE: Disponível em: <http://www.bioapuntes.cl/apuntes/cloroplastos.


JPG>. Acesso em: 10 out. 2010.

Aqui também ocorre um sistema de transporte de elétrons para a síntese


de ATP, que é similar ao sistema transportador de elétrons descrito para a
fosforilação oxidativa.

UNI

Estamos chegando ao fim do primeiro tópico, no qual nos propomos a


compreender a obtenção de energia pelos microrganismos. E então, você conseguiu
apreender esses novos conhecimentos? Na sequência, há duas leituras complementares e as
autoatividades para revisão de conteúdo.

98
TÓPICO 1 | CONCEITOS ESSENCIAIS DE METABOLISMO

LEITURA COMPLEMENTAR 1

AGENTES MALÉFICOS NA FERMENTAÇÃO ALCOÓLICA: AS BACTÉRIAS

Junior Miranda Scheuer

A cultura da cana-de-açúcar pode abrigar várias estirpes de


microorganismos, e dentre estes, estão incluídos os maléficos, que prejudicam a
obtenção do álcool, como, também, do açúcar.

São muitos os fatores que contribuem para as infestações microbiológicas,


tais como: variedades suscetíveis, formas de colheita (manual, por queimada ou
crua, mecanizada), condições climáticas, tipos de transporte e armazenamento,
tempo ocorrido entre o corte e a industrialização, entre outros.

A matéria-prima, quando presente na unidade fabril, vem carregada de


uma infinidade de microorganismos, que fazem parte de sua flora ou podem estar
presentes no solo, aderidos ao colmo, raízes e folhas e, caso a cana estiver suja,
velha, perfurada, pode favorecer o desenvolvimento dos micróbios ainda mais.

Na fase de extração, ou seja, obtenção do caldo, permite o desenvolvimento


de uma série de microorganismos, pois tem concentrações de açúcares, pH e
temperaturas favoráveis.

Os impactos sentidos dessa infestação é a floculação, consumo de açúcares


por bactérias, principalmente da espécie L. fermentum, provocando um aumento
do tempo de fermentação e redução de 15% no rendimento fermentativo.

As bactérias gram-positivas dos gêneros Lactobacillus, Bacillus e Leuconostoc


consomem a sacarose, que deixará de ser transformada em álcool ou açúcar,
provocando perdas no ART (Açúcar Redutor Total), consequentemente, prejuízos
na obtenção do produto. O resultado desse processo de consumo pelas bactérias
gera ácidos orgânicos e dextrana, além de outros compostos.

Cabe salientar que as rachaduras contidas no colmo da cana, oriundos


do crescimento da planta, são locais propícios para o desenvolvimento dos
microorganismos, que, posteriormente, vão minimizar o desenvolvimento das
leveduras, provocando uma produtividade inferior tanto do álcool quanto do açúcar.

O que fazer, então, com a infestação bacteriana? Monitoramento


microbiológico, que consiste em obter produtividade máxima de etanol a partir
dos açúcares fermentescíveis.

Na prática, a adoção de análises microscópicas e o uso adequado de


antibióticos, aliados ao controle de qualidade da cana, da água, tratamento
térmico do mosto, limpeza das moendas ou difusor e das tubulações, podem
contribuir para o máximo rendimento na produção do álcool e do açúcar.
99
UNIDADE 2 | METABOLISMO E GENÉTICA MICROBIANA

Tendências futuras mostram que se trabalhar com o mosto esterilizado,


pode inibir o desenvolvimento microbiológico, isolando as bactérias e, por este
motivo, as leveduras conseguem desenvolver melhor seu papel.

Esta técnica ainda não está implantada pelo seu elevado custo, mas a
questão da viabilidade, ou seja, maximização da produtividade pode acelerar a
adoção desta nova prática.

Tudo em prol do desenvolvimento do setor sucroalcooleiro!

FONTE: Disponível em: <http://www.webartigos.com/articles/11528/1/Agentes-Maleficos-na-


Fermentacao-Alcoolica--As-Bacterias/pagina1.html>. Acesso em: 10 out. 2010.

100
TÓPICO 1 | CONCEITOS ESSENCIAIS DE METABOLISMO

LEITURA COMPLEMENTAR 2

AULA PRÁTICA FERMENTAÇÃO

Material: açúcar, garrafa plástica pequena vazia, fermento biológico


(fresco ou seco), balão (bexiga) de borracha e água.

Como fazer:

Dissolver 2 colheres de sopa de açúcar em 1 copo de


água (volume aproximado para encher meia garrafa, enchendo-
se a garrafa toda pode haver extravasamento de espuma e líquido).
Adicionar 1 colher de chá rasa de fermento em pó. Transferir para a garrafa plástica.
Colocar a bexiga bem ajustada na boca da garrafa (se necessário reforce com um
elástico de escritório). Deixar repousar, ao abrigo da luz direta.

Resultado Esperado:

Após algum tempo (horas ou minutos, dependendo das condições), você


notará que a bexiga, antes vazia, encontra-se agora inflada.

Racional: O fermento biológico (não usar o químico, composto de


bicarbonato de sódio, que também libera CO2, mas por um processo não biológico)
é composto, na verdade, por microrganismos vivos (a levedura Saccharomyces
cerevisiae), armazenados secos ou prensados. Havendo disponibilidade de
carboidratos no meio (açúcar) e condições de multiplicação do microrganismo
(água), as leveduras realizam a fermentação do açúcar, a fim de produzir
energia para a sua própria sobrevivência e multiplicação. Durante o processo,
elas produzem álcool (etanol) e gás carbônico (CO2), que é liberado para o meio,
fazendo com que o balão se infle. Esse mesmo processo ocorre quando fazemos um
bolo, fazendo que a massa cresça. A granulosidade da massa (aqueles pequenos
furinhos ou espaços que encontramos na massa de bolos ou pães) é resultado da
infiltração do CO2 pela massa. Nos bolos que ficam “solados”, ocorre uma perda
desse CO2 antes do cozimento da massa (que depois de cozida fica “armada”,
como uma estrutura de concreto). O etanol, produzido em pequena quantidade,
é perdido durante o processo de cozimento (e por isso nós não ficamos bêbados
quando comemos bolo!). Na indústria de fabricação de bebidas o processo é o
mesmo, mas nesse caso dá-se preferência a microrganismos que produzam mais
álcool, e manipulam-se as condições (nutrientes, temperatura etc.), a fim de que
este seja obtido em maior quantidade. A bebida sofre então processos de filtragem
e purificação antes de ser consumida (cerveja, vinho) ou é destilada para aumentar
o teor de álcool na preparação (cachaça, uísque etc.). Existem evidências que os
antigos egípcios já produziam cerveja há cerca de 5.000 anos!

FONTE: Disponível em: <http://www.scribd.com/doc/23341083/Aula-Pratica-Fermentacao>.


Acesso em: 10 out. 2010.

101
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você estudou que:

• As várias reações químicas dos organismos vivos resultam na liberação de


energia, porém, outras requerem energia.

• Existem alguns microrganismos que utilizam a energia da luz, que é convertida


em energia química, nas suas funções celulares.

• Metabolismo é uma intensa e contínua atividade de transformações químicas,


que é realizada pelos organismos vivos.

• Reação de síntese ou anabolismo é quando moléculas mais simples se unem


para formar moléculas maiores e bem mais complexas.

• Reação de degradação ou catabolismo é quando moléculas altamente complexas


são quebradas e convertidas em outras mais simples.

• A energia requerida e utilizada de forma universal pelos organismos é a energia


química.

• Todos os organismos infecciosos estão no grupo dos químio-heterotróficos.

• As reações químicas que produzem energia são exergônicas.

• Aquelas reações químicas que requerem energia são endergônicas.

• Todo organismo necessita, para a sua sobrevivência, de energia. Além disso,


ele deverá ter a capacidade de utilizar a energia das reações exergônicas para
poder realizar reações endergônicas.

• O composto de transferência de energia da célula de maior importância é o ATP.

• O ATP é produzido por três mecanismos: pela fosforilação em nível de substrato;


fosforilação oxidativa e a fotofosforilação.

• Fosforilação em nível de substrato (nas fermentações) – acontece a remoção de


um grupo fosfato de um determinado composto químico, sendo adicionado de
forma direta à molécula de ADP.

• Fosforilação oxidativa (na respiração) – é um processo no qual a energia que é


liberada pela oxidação de nutrientes (compostos químicos) é utilizada para a
sintetização de ATP a partir da molécula de ADP.

• Fotofosforilação (durante a fotossíntese) – é a utilização da energia da luz para


a formação de ATP a partir da molécula de ADP.
102
AUTOATIVIDADE

1 Complete as lacunas das sentenças a seguir.

a) Catabolismo é a _______________ de nutrientes. Durante esse


processo é liberada _______________ das moléculas nutrientes.
b) A adição de um grupo fosfato a um composto é denominado
_______________.
c) Durante o funcionamento do sistema de transporte de elétrons, os íons
_______________ são bombeados através da membrana e se acumulam
em um dos lados. A distribuição desigual resultante desses íons
representa uma forma de armazenamento de energia denominada força
_______________, que pode ser utilizada para sintetizar o _______________.
d) Comparando a eficiência da fermentação com a respiração quanto à
produção de ATP, a _______________ é um processo mais eficiente.

2 “Pesquisador brasileiro desenvolve uma bactéria que


permite produzir álcool a partir do soro do leite e do bagaço
da cana.” (Revista “Ecologia”, dezembro/92). A produção do
álcool pela bactéria ocorrerá graças a um processo de:

a) ( ) Fermentação.
b) ( ) Combustão.
c) ( ) Fotólise.
d) ( ) Oxidação eletrônica.
e) ( ) Respiração aeróbia.

FONTE: Disponível em: <http://www.professor.bio.br/provas_topicos.


asp?topico=Carboidratos>. Acesso em: 26 nov. 2010.

3 Considerando-se os principais processos energéticos que


ocorrem nos seres vivos, podemos afirmar corretamente que:

a) ( ) O autotrofismo é uma característica dos seres clorofilados.


b) ( ) O heterotrofismo impossibilita a sobrevivência dos seres aclorofilados.
c) ( ) A fotossíntese e a respiração aeróbica são processos que produzem
sempre as mesmas substâncias químicas.
d) ( ) A fermentação é um processo bioquímico que não produz qualquer
forma de energia.

FONTE: Disponível em: <http://www.sabedoria.ebrasil.net/db/biologia/estudos/biologia/


biologiag/bot1.htm>. Acesso em: 26 nov. 2010.

103
4 Em relação aos tipos de reações, classifique as seguintes
sentenças em A (endergônica) e B (exergônica):

( ) O total de energia encontrado nas ligações químicas nos


produtos é menor do que aquelas que existiam nas ligações entre os
átomos dos reagentes.
( ) Ocorre a adição de energia ao sistema vindo de alguma fonte externa,
ou seja, essa reação irá absorver energia do ambiente.
( ) O total de energia que está presente nas ligações químicas dos produtos
é bem maior que aquela que existia nas ligações químicas entre os
átomos dos reagentes.
( ) Estão diretamente ligadas à degradação de substratos químicos ou de
nutrientes.

5 A produção de ATP pelos microrganismos se dá pela


fosforilação, que é a adição de um grupo fosfato a um
composto. Essa adição (fosforilação) de um grupo fosfato ao
ADP se dará por três vias. Associe as colunas:
I- Fosforilação em nível de ( ) É um processo no qual a energia que é
substrato. liberada pela oxidação de nutrientes
é utilizada para a sintetização de
ATP a partir da molécula de ADP.

( ) É o processo no qual se utiliza da


II- Fosforilação oxidativa. energia da luz para a formação de
ATP a partir da molécula de ADP.

( ) É o processo de remoção de um
III- Fotofosforilação. grupo fosfato de um determinado
composto químico, sendo adicionado
de forma direta à molécula de ADP.

104
UNIDADE 2 TÓPICO 2

GENÉTICA MICROBIANA E VARIABILIDADE

1 INTRODUÇÃO
Podemos dizer que um dos mais estimulantes campos das ciências biológicas,
por que não dizer de toda a ciência, é a genética, que estuda os mecanismos de
hereditariedade, ou seja, as características que são passadas de uma geração para
a outra. Nesse tópico, vamos estudar como as bactérias fazem a síntese do ácido
nucleico (DNA e RNA) e entender como estão envolvidas na síntese de proteínas,
visto que essas moléculas são a base da genética. Estudaremos também como
agem os genes (uma porção específica do DNA), que quando introduzidos em
bactérias, as transformam em fábricas proteicas, que são utilizadas na composição
de medicamentos, na produção de hormônios humanos, como do crescimento, a
insulina etc. Entender como os genes são regulados e/ou alterados quando sofrem
mutações. Vamos aprender que a informação hereditária em uma célula microbiana
é similar às encontradas nas células animais e vegetais, que estão arranjadas em
moléculas específicas, formando um código próprio de DNA e, com isso, podem
fazer cópias exatas e transmitir as informações para as próximas gerações.

2 MATERIAL GENÉTICO DE CÉLULAS PROCARIÓTICAS E


EUCARIÓTICAS
Todas as informações genético-hereditárias dos organismos vivos estão
armazenadas na molécula de DNA, entretanto, o material genético de alguns vírus
é o RNA. Para que possamos entender a transmissão das informações genéticas
de um organismo para os seus descendentes, temos que estudar a natureza dos
cromossomos e dos genes.

Fundamentalmente, o cromossomo é constituído por uma longa molécula


de DNA. O DNA é constituído por duas cadeias de nucleotídeos complementares
que estão emparelhados por meio de pontes de hidrogênio entre suas bases
nitrogenadas. Podemos dizer que os genes são constituídos por DNA e que
vão controlar todo o funcionamento da célula. Nas células bacterianas (células
procarióticas), encontramos os genes contidos em uma só molécula de DNA
circular, ou seja, a célula contém apenas um só cromossomo – é apenas uma única
molécula de DNA de fita dupla circular (as extremidades estão unidas). Outro
ponto interessante é que o cromossomo de uma célula procariótica não apresenta
membrana nuclear e está enrolado, espiralado e altamente compactado. As
células bacterianas, além de apresentarem um só cromossomo, possuem uma ou
mais estruturas moleculares de DNA, que são denominadas DNA plasmidial ou
plasmídios (Figura 56) – moléculas de DNA de fita dupla bem menor que os
cromossomos, podendo replicar de forma independente do cromossomo.
105
UNIDADE 2 | METABOLISMO E GENÉTICA MICROBIANA

FIGURA 56 – CÉLULA PROCARIÓTICA – CROMOSSOMO COM DNA


CIRCULAR E PLASMÍDIO

bacterium

plasmid

bacterial
chromosome

FONTE: Disponível em: <http://www.sobiologia.com.br/figuras/


Biotecnologia/plasmideo.jpg>. Acesso em: 10 out. 2010.

Uma das importâncias que os plasmídios possuem é a sua utilização na


engenharia genética. Já as células de microrganismos eucarióticos (protozoários,
algas e fungos) são compostas de vários cromossomos por núcleo (Figura 57),
sendo que cada um deles é um filamento longo constituído por uma única
molécula de DNA que está associada a histonas (proteínas).

FIGURA 57 – CROMOSSOMO DE CÉLULA EUCARIÓTICA


Cromática Núcleo
Telômero

Centrômero

Telômero
Célula

Histonas Pares de
bases
ADN (doble
hélice)

Gen
FONTE: Disponível em: <http://recursos.cnice.mec.es/biosfera/alumno/2bachillerato/
genetica/contenido6.htm>. Acesso em: 10 out. 2010.

106
TÓPICO 2 | GENÉTICA MICROBIANA E VARIABILIDADE

Podemos dizer, então, que os cromossomos das células eucarióticas são


lineares, enquanto os das células procarióticas são circulares e que as moléculas
de DNA eucariótico são bem mais longas do que os das células bacterianas. Por
fim, vamos encontrar nas células eucarióticas mais do que um cromossomo por
célula. Quanto ao número de cromossomos na célula, denominamos organismo
haploide (bactérias) aquele que possui um cromossomo de cada tipo e diploide
(maioria das células eucarióticas) o que possui dois cromossomos de cada tipo.

UNI

Caro acadêmico! No Livro Didático de Citologia estudamos divisão e


diferenciação celular, na qual pudemos observar a formação das células haploides e diploides.
Vale a pena relembrar!

3 DUPLICAÇÃO DO DNA OU ADN


Para que aconteça a transmissão da informação genética, é necessário, em
um primeiro momento, o processo de duplicação, ou seja, deverá acontecer a
realização de uma cópia que possa ser transportada pelos gametas até a fecundação,
para depois ser utilizada por um novo indivíduo. Podemos dizer, então, que a
duplicação (também chamada de replicação) é o processo pelo qual o DNA se
copia para poder ser transmitido aos novos indivíduos. A função desse processo
todo é fazer a cópia das sequências de nucleotídeos da molécula de DNA parental
(dupla fita) em duas moléculas de DNA-filhas (dupla fita). Todo esse processo é
chamado de duplicação semiconservativa (Figura 58) – pelo simples fato de que
cada molécula de DNA-filha conterá uma fita de molécula parental (original – fita
velha ou conservada) e uma fita de DNA nova sintetizada. Traduzindo todo o
processo, podemos dizer que cada uma das duas moléculas formadas conserva
uma das cadeias da molécula original (molécula-mãe) e, com isso, forma uma
nova cadeia, complementar àquela que lhe tinha servido de molde.

107
UNIDADE 2 | METABOLISMO E GENÉTICA MICROBIANA

FIGURA 58 – ESQUEMA DA DUPLICAÇÃO SEMICONSERVATIVA


5' 3'

3' 5'

5' 3' 5' 3'


FONTE: Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/
bookres.fcgi/hmg/ch1f8.gif>. Acesso em: 10 out. 2010.

Em células procariotas, a duplicação do DNA se inicia em um local


específico, no cromossomo circular, prosseguindo de forma simultânea nas
duas direções, formando duas forquilhas de duplicação, que são os locais em
que as duas fitas de DNA se separam para que haja a duplicação. Nesse ponto,
pode-se observar a movimentação em direções opostas das forquilhas em torno
da molécula circular até um eventual encontro das moléculas. As fitas parentais
estão separadas, na qual cada fita serve de modelo para a sintetização de
outra fita complementar. Em todo o processo, à medida que as bases de cada
cadeia vão desemparelhando das bases complementares, os nucleotídeos, que
estão livres pela célula, unem-se às bases, seguindo uma regra de pareamento
(emparelhamento), que é a seguinte: adenina emparelha-se com a timina (A - T) e
a citosina emparelha-se com a guanina (C - G). Os arranjos são mantidos por meio
das novas sínteses das fitas de DNA. Observe a figura a seguir:

108
TÓPICO 2 | GENÉTICA MICROBIANA E VARIABILIDADE

FIGURA 59 – CADEIA DE DNA


Fosfato
Guanina Açúcar

Adenina

Citosina

Timina

A molécula do DNA é composta por milhares de blocos. Estes são ligados em forma de uma escada em
helicoide. As bases são a Citosina, a Guanina; a Timina e a Adenina. As bases estão reunidas aos pares.
A Timina só se liga à Adenina, e a Citosina à Guanina. Qualquer base pode ocupar qualquer lugar na cadeia,
porém acompanhada de seu par.

FONTE: Disponível em: <http://www.saberweb.com.br/wp-content/uploads/imagens/genetica/


codigo-genetico/01g.jpg>. Acesso em: 10 out. 2010.

ATENCAO

Prezado acadêmico! Você estudará estrutura e composição química do DNA,


entre outros assuntos relacionados ao material genético, em outras disciplinas específicas do
curso, como Genética e Bioquímica.

Existem inúmeras enzimas que participam desse processo de duplicação.


Enzimas que têm a função de desemparelhar as duas cadeias de DNA,
promovendo a abertura da molécula que é duplicada, bem como a enzima que
tem a função de desenrolar a dupla-hélice, e outra que, através da catalisação, une
todos os nucleotídeos que estão emparelhados à cadeia-modelo, para promover
a formação de uma nova cadeia. Essa enzima, que promove a ligação dos
nucleotídeos, é denominada de DNA polimerase, pelo fato de formar polímeros
(muitos) de nucleotídeos.

109
UNIDADE 2 | METABOLISMO E GENÉTICA MICROBIANA

4 GENE E A TRANSCRIÇÃO GÊNICA – RNA OU ARN


As mensagens genéticas estão num ordenamento sequencial de
nucleotídeos específicos na molécula de DNA, orientando a produção de RNA e
proteínas componentes, essenciais para todas as células vivas. Podemos definir
gene como um pequeno fragmento da molécula de DNA, que contém a sequência
de nucleotídeos com a função de produzir uma determinada proteína. O gene
pode também corresponder a uma região especial de uma molécula de DNA,
podendo ser formado por dezenas de pares de nucleotídeos ou por milhares
deles. Para Pelczar, Chan e Krieg (1997a), as células produzem milhares de
proteínas, logo uma molécula de DNA contém milhares de genes que são um
para cada proteína. As células usam a informação contida no gene para produzir
uma determinada proteína (Figura 60). A forma como fazem isso é a seguinte
(PELCZAR; CHAN; KRIEG, 1997a):

a) A informação contida no DNA (gene) é copiada (“transcreve” seu código


molecular para ela) para uma de RNAm – ácido ribonucleico mensageiro. Esse
processo é denominado de transcrição.

b) O RNAm carrega a mensagem transcrita pelo DNA (gene) da região nuclear


para os ribossomos presentes no citoplasma.

c) São os ribossomos que traduzem a mensagem num processo em que a


informação que estava em código no RNAm passa a ser utilizada para produzir
uma determinada proteína a partir de aminoácidos.

FIGURA 60 – GENE E PRODUÇÃO DE PROTEÍNA


ARNm Tradução
Replicação
DNA (Síntese proteica)

Transcrição Ribossomo
(Síntese de ARNm)

Proteína

ADN ARNm Proteína

FONTE: Disponível em: <http://recursos.cnice.mec.es/biosfera/alumno/2bachillerato/


genetica/contenido6.htm>. Acesso em: 10 out. 2010.

110
TÓPICO 2 | GENÉTICA MICROBIANA E VARIABILIDADE

5 MUTAÇÃO
A palavra mutação significa mudança, ou seja, toda alteração que a molécula
de DNA possa sofrer. Essas alterações ocorrem nas sequências de nucleotídeos da
molécula de DNA e são responsáveis pelas mudanças nos padrões evolutivos, tanto
dos microrganismos como dos organismos superiores. Essas mudanças (mutações)
ocorridas nos microrganismos produzem diferentes linhagens (cepas) dentro
das espécies. Essas mudanças ocorridas no DNA durante as mutações afetam os
organismos como um todo, causando sérios problemas funcionais.

FIGURA 61 – MUTAÇÃO GÊNICA

Erro na
síntese

Mutação
5'
Replicação Replicação
do DNA do DNA
3'
DNA

1a. geração

2a. geração
FONTE: Disponível em: <http://www.sobiologia.com.br/conteudos/figuras/Citologia2/mutacao.
jpg>. Acesso em: 10 out. 2010.

As alterações podem ocorrer tanto em nível de genótipo como em nível de


fenótipo. Entende-se por genótipo tudo aquilo que se refere ao conjunto de genes do
organismo, ou seja, refere-se a toda informação genética que estará contida no DNA
do organismo. Já o fenótipo são todas as características que podem ser observadas
ou exibidas pelos organismos vivos. A mutação age diretamente na mudança do
genótipo e, dependendo da sua natureza, ela pode ou não ser expressa no fenótipo.

Entre os tipos de mutações, há dois tipos muito importantes (PELCZAR;


CHAN; KRIEG, 1997a): as mutações pontuais, que afetam uma única base no DNA
– substituição de bases em locais específicos ao longo do gene –, e as mutações
que afetam mais do que uma base na molécula de DNAm, denominada mutação
por deslocamento do quadro de leitura –essa mutação promove uma deleção ou
acontece uma inserção de uma ou várias bases na molécula de DNA. Esse tipo
de mutação impede a síntese de proteínas específicas, fazendo com que ocorra
a mudança tanto do genótipo quanto do fenótipo. As mudanças que ocorrem
frequentemente nos organismos fazem com que eles percam a capacidade de
realizarem a síntese de algumas proteínas. É importante saber que, na falta de
uma só proteína, pode ocorrer mudanças estruturais dos organismos, bem como
a alteração da sua capacidade de metabolizar uma determinada substância.
111
UNIDADE 2 | METABOLISMO E GENÉTICA MICROBIANA

LEITURA COMPLEMENTAR

TÉCNICAS DE MANIPULAÇÃO GENÉTICA

A engenharia genética permite manipular diretamente genes de


determinados organismos, possibilitando isolar e transferir genes responsáveis
pela produção de certas substâncias, para outros seres vivos que não produzam
essas substâncias, de modo a serem funcionais nesses seres.

DNA Recombinante

A técnica de DNA recombinante permite juntar na mesma molécula de


DNA genes provenientes de organismos diferentes, ou seja, possibilita retirar
genes de uma espécie e introduzir num microrganismo, que, posteriormente, vai
se multiplicar e assim produzir inúmeras cópias desse gene e, consequentemente,
o produto desse gene. É possível, por exemplo, introduzir um gene humano numa
bactéria, para que elas produzam uma determinada proteína humana.

O processo é simples e se baseia em dois tipos de enzimas, as enzimas de


restrição e a enzima DNA ligase. Utiliza-se uma enzima de restrição, que tem a
capacidade de selecionar zonas específicas do DNA e cortar a sequência nucleotídica
nesses locais específicos, para obter o gene de interesse de uma espécie. Esse gene
de interesse é posteriormente colocado num vector, ou seja, uma molécula capaz
de transportar um fragmento de DNA de um organismo para outro, como o DNA
dos vírus e os Plasmídios (fragmentos de DNA de forma circular existentes nas
bactérias). Para que o fragmento de DNA seja incorporado no vector, é necessário
que a mesma enzima de restrição que atua sobre o DNA atue sobre o vector, de
modo a criar uma sequência nucleotídica complementar. Finalmente, através da
enzima DNA ligase, os dois segmentos de DNA são ligados, produzindo uma
nova molécula estável – o DNA recombinante. Com a nova molécula de DNA
recombinante formada, o vector é introduzido num organismo receptor, que vai
passar a possuir aquele gene de interesse e a proteína formada por esse gene.

DNA complementar

A técnica do DNA complementar tem como objetivo facilitar a produção


de proteínas de seres eucariontes em microrganismos. Os microrganismos não
têm mecanismos de maturação do RNAm, portanto, quando se introduzem genes
de eucariontes nestes organismos, estes vão fazer a sua transcrição de forma
ininterrupta, ou seja, vão ler tanto os íntrons (zonas não codificadas de proteínas)
como éxons (zonas codificadas de proteínas), originando uma proteína diferente
da pretendida.

O DNA complementar baseia-se então em produzir uma molécula de


DNA constituída apenas por éxons, de modo a que quando for transcrita pelo
microrganismo pretendido, origine a proteína pretendida.

112
TÓPICO 2 | GENÉTICA MICROBIANA E VARIABILIDADE

Este processo é possível devido à ação da enzima transcriptase reversa,


que permite produzir DNA a partir de uma molécula de RNAm, e da enzima
DNA polimerase, que permite fazer uma cadeia complementar de uma cadeia de
DNA. Utiliza-se então a transcriptase reversa para fazer uma cópia de uma cadeia
de RNAm maturado e originar uma cadeia de DNA composta apenas por éxons.

Posteriormente usa-se o DNA polimerase para formar uma cadeia


complementar dessa cadeia de DNA, originando uma molécula estável. Com isto,
ao ser introduzida num microrganismo, vai produzir uma proteína de interesse.

PCR (Reação em Cadeia Polimerase)

A técnica de reação em cadeia da polimerase (PCR) veio possibilitar novas


estratégias de análises de genes no âmbito da tecnologia do DNA recombinante.
De um modo geral, a técnica PCR pode ser considerada como um meio de
clonagem e baseia-se na ampliação do DNA, replicando-o. O processo resume-se
em três fases.

A fase de desnaturação, onde o DNA é exposto a elevadas temperaturas,


na ordem dos 95º, originado a separação das duas cadeias.

De seguida vem a fase Hibridização, na qual as temperaturas descem até


aos 55º e são colocados os primers (iniciadores), que são fragmentos de DNA
ligados (hibridizados) no início de cada sequência alvo, nas cadeias originadas
na primeira fase por complementação de bases, para na terceira fase a enzima
utilizada reconhecer uma cadeia dupla.

Numa terceira fase é utilizado o DNA polimerase que identifica a zona onde
se localiza o primer e reconhece essa zona como dupla cadeia, e assim pode atuar,
replicando o resto da cadeia de DNA, ou seja, fazendo a elongação dos primers.

Bombardeamento de partículas

Segundo o método de bombardeamento, micropartículas de um metal


(tungstênio ou ouro) são revestidas por fragmentos de DNA contendo os genes
selecionados. Através de um aparelho (“canhão de genes”), as partículas são
aceleradas a altas velocidades e bombardeiam o tecido vegetal que vai sofrer a
transformação. As partículas penetram nas células e libertam os fragmentos de
DNA. As células da planta assimilam os genes e alguns passam a integrar o genoma.

FONTE: Adaptado de: <http://ogmespan.blogspot.com/2009/05/tecnicas-de-manipulacao-


genetica.html>. Acesso em: 10 out. 2010.

113
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico você estudou que:

• Uma célula bacteriana (procariótica) apresenta um cromossomo na forma de


uma molécula de DNA circular única, diferentemente da célula eucariótica,
que possui mais de um cromossomo linear.

• Toda a informação genética de uma célula é representada por uma sequência


de nucleotídeos do DNA e que é passada de geração para geração durante o
processo de duplicação (replicação) semiconservativa do DNA.

• As informações genéticas orientam a síntese de proteínas e algumas são enzimas


muito importantes para o metabolismo celular.

• O gene é um segmento de molécula de DNA que contém sequências de


nucleotídeos para a produção de proteínas específicas.

• A síntese proteica tem dois momentos em seu processo: a transcrição e a


tradução.

• Transcrição – transcreve a informação de um gene para o RNAm.

• Tradução – com a sequência determinada pelas bases do DNA que serviu de


modelo ao RNAm, vai acontecer a tradução gênica com a síntese de proteínas.

• Os microrganismos também exibem variabilidade em seus genótipos (conjunto


de genes) e em seus fenótipos – o que pode ser expresso pela célula.

• As alterações que ocorrem no patrimônio genético são denominadas de
mutações.

• Há dois tipos importantes de mutações: a pontual e mutações por deslocamento


do quadro de leitura.

114
AUTOATIVIDADE

1 Leia e complete a lacuna da seguinte sentença:


Um cromossomo de células eucarióticas, diferentemente do
cromossomo bacteriano, apresenta forma _______________.

2 Por que se diz que a duplicação do DNA é um processo


semiconservativo?

3 Explique por que a síntese das proteínas em uma célula é


chamada de tradução gênica.

4 O que são plasmídios?

5 Qual das alternativas a seguir apresenta a informação que nos


permite dizer que a replicação do DNA é semiconservativa?

a) ( ) Durante a divisão da molécula original somente uma das


fitas é copiada, a outra permanece inativa.
b) ( ) No início do processo replicativo, forma-se um total de seis fitas de
DNA.
c) ( ) As duas fitas de DNA parental são copiadas, originando moléculas
filhas com somente uma das fitas.
d) ( ) As enzimas que participam dos processos de replicação são somente
de origem materna.
e) ( ) No fim da replicação, cada uma das moléculas resultantes apresenta
a metade do número de pontes de hidrogênio.

FONTE: Disponível em: <http://www.vestibular1.com.br/simulados/biologia/dna.htm>.


Acesso em: 27 nov. 2010.

115
6 A mutação gênica, nos organismos eucariontes:

a) ( ) Constitui a principal fonte de variabilidade genética.


b) ( ) Ocorre exclusivamente pela ação de agentes mutagênicos.
c) ( ) Ocorre devido a alterações na molécula de DNA.
d) ( ) Origina somente combinações gênicas adaptativas.

7 Assinale a alternativa que indica o fator que conduz ao


surgimento de variabilidade gênica nova em uma população:

a) ( ) Mutação.
b) ( ) Fluxo gênico.
c) ( ) Seleção natural.
d) ( ) Recombinação gênica.

FONTE: Disponível em: <http://professor.bio.br/provas_questoes.


asp?section=Evolucao&curpage=13>. Acesso em: 27 nov. 2010.

116
UNIDADE 2 TÓPICO 3

BIOTECNOLOGIA

1 INTRODUÇÃO
Através da manipulação do material genético de alguns organismos,
pode-se, hoje, fazer qualquer transferência desse material de um organismo para
outro com consequências incríveis. Podemos utilizar as informações obtidas,
decorrentes das transferências do material genético entre os microrganismos,
e aplicá-las na indústria farmacêutica, alimentícia, na agricultura, na medicina
e nas áreas que apresentam problemas específicos de prevenção e tratamento
de doenças específicas. Essas técnicas são utilizadas por engenheiros genéticos
através do avanço do conhecimento da genética molecular, inaugurando uma
nova área da Biologia, que é a Biotecnologia. Vamos estudar, nesse tópico,
quais são esses mecanismos, através dos quais ocorrem as transferências e suas
consequências para a humanidade.

2 ENGENHARIA GENÉTICA – TRANSFERÊNCIA DE GENES


Desde os tempos mais remotos, o homem vem tentando melhorar a
produção de alimentos, visando aprimorar a qualidade, como também a sua
quantidade, através da seleção de inúmeras variedades de distintas espécies. A
forma como faziam, muitas vezes, não apresentava os resultados esperados. Há
alguns anos pouco se sabia sobre a seleção e combinação de informações genéticas.

Com o passar do tempo, vimos acontecer grandes avanços nos processos


de seleção. Boa parte desse progresso deve-se à capacidade tecnológica
desenvolvida pelo homem para modificar o DNA dos seres vivos. Uma das áreas
que mais contribuiu para que isso pudesse acontecer foi a Biologia Molecular,
com ajuda, é claro, de dois grandes cientistas, James Watson e Francis Crick, que
elucidaram estruturalmente a molécula de DNA (PELCZAR; CHAN; KRIEG,
1997a). A partir da década de 70, várias técnicas criadas para manipular o DNA
oportunizaram o surgimento de novos campos na área das ciências biológicas,
entre elas, a Engenharia Genética.

Podemos dizer que a Engenharia Genética é a tecnologia do DNA


recombinante, através da qual os cientistas, a partir de técnicas especiais, podem
fazer a identificação, o isolamento e a multiplicação de genes dos mais diferentes
organismos. Criou-se a possibilidade de extrair genes de um organismo qualquer
e introduzi-los em bactérias, instruindo-as a produzir substâncias que nunca

117
UNIDADE 2 | METABOLISMO E GENÉTICA MICROBIANA

haviam produzido antes. A transferência de genes provoca a movimentação das


informações genéticas entre os organismos. Essa transferência de genes acontece
como forma essencial do ciclo vital dos organismos e ocorre através da reprodução
sexuada, na grande maioria dos seres eucariontes. Não é o mesmo que acontece
com as bactérias, pois a transferência de genes não é uma parte essencial ao seu
ciclo de vida. Quando a transferência acontece, apenas parte dos genes cedidos
pela célula (doadora) é transferida para a outra célula (receptora) que participa
do processo.

Para Black (2002), esse processo é denominado de recombinação, pois


é uma combinação de genes (DNA) a partir de duas células diferentes, sendo
que a célula resultante é tida como recombinante. Nas bactérias, foi descoberta a
ocorrência de três formas de transferências de genes, porém nenhuma delas está
associada ao processo reprodutivo. São os seguintes mecanismos: transformação,
transdução e a conjugação. A importância da transferência de genes está no fato
de que aumenta de forma significativa a variabilidade genética dos organismos.
Quando a bactéria absorver moléculas de DNA que estão livres no ambiente,
conferindo-lhe características diferentes, estamos diante do mecanismo de
transformação (Figura 62).

FIGURA 62 – TRANSFORMAÇÃO BACTERIANA


Molécular de DNA livres
Molécula de
Célula bacteriana Molécula de DNA absorvida DNA
incorporada

Cromossomo

FONTE: Adaptado de: <http://www.nehmi-ip.com.br/services.php?serv=10&faq=23#25>. Acesso


em: 10 out. 2010.

No mecanismo de transdução (Figura 63), ocorre a transferência de genes


de uma bactéria para outra através de um vetor – os vírus. Quando algumas
partículas virais se formam no interior de uma bactéria infectada, pode acontecer
a incorporação de pedaços cromossomiais bacterianos. Acontecendo a infecção de
outras bactérias, esses vírus irão transmitir os genes bacterianos. Caso aconteça
que algumas dessas bactérias venham sobreviver a essa infecção virulenta,
poderá acontecer a recombinação de seus genes que foram trazidos pelo vírus e,
com isso, adquirir características genéticas novas.

118
TÓPICO 3 | BIOTECNOLOGIA

FIGURA 63 – TRANSDUÇÃO BACTERIANA


Bacteriófago Descendência viral
da infecção
Fago DNA

Célula
hospedeira

Cromossomo Nova célula A nova célula hospedeira


recebe DNA da hospedeira
Partícula original; não há infecção viral.
transdutora
FONTE: Disponível em: <http://www.nehmi-ip.com.br/services.php?serv=10&faq=23#25>. Acesso
em: 10 out. 2010.

Já no mecanismo da conjugação (Figura 64), as bactérias se unem através


de um canal tubular proteico ou pili, por onde ocorre a transferência de genes.

FIGURA 64 – CONJUGAÇÃO BACTERIANA


F+ doador F- receptor
Fator F
(plasmídio)

Cromossomo Pili

1) Células F+ e F- são 2) Uma cópia do fator de 3) Ambas as


aproximadas pelo pili da fertilidade é transferida células são
célula fértil (F+). para a célula receptora. agora F+.
FONTE: Disponível em: <http://www.nehmi-ip.com.br/services.php?serv=10&faq=23#25>.
Acesso em: 10 out. 2010.

Um dos primeiros plasmídios a serem descobertos foi o plasmídio F.


Muitos outros já foram descritos desde a sua descoberta e a grande maioria é
constituída por DNA circular, em dupla fita, sendo que nas bactérias é apenas um
cromossomo extra. Uma das características muito interessante é a sua capacidade
de autoduplicação, utilizando o mesmo processo que qualquer outro DNA. Eles
possuem funções distintas nas bactérias, o que acelerou o processo de identificação.
Essas funções incluem o controle da síntese de proteínas pelos plasmídios F
(fatores de fertilidade) que se autoarranjaram em pili de conjugação. Vamos ter,
assim, os plasmídios, que carregam genes e que fornecem resistência (plasmídios
de resistência (R)) a vários antibióticos e alguns metais pesados. Existem aqueles
que têm o controle da síntese de proteínas que destroem bactérias – bactericidas.
Outra forma de plasmídios são aqueles que induzem tumores em plantas.
Existem certos plasmídios que carregam genes que codificam certas funções não
essenciais ao processo de crescimento celular, sendo que o cromossomo contém
genes para funções essenciais.

119
UNIDADE 2 | METABOLISMO E GENÉTICA MICROBIANA

3 APLICAÇÃO INDUSTRIAL DA MICROBIOLOGIA


A Biotecnologia é uma área da Biologia que engloba conhecimentos de
Microbiologia, Bioquímica, Genética Molecular e outras áreas que dão suporte para
o seu desenvolvimento. Todos os conhecimentos adquiridos são aplicados para
transformar substâncias em produtos de interesse de mercado. Essa transformação
é realizada pela ação de um organismo vivo. Segundo Pelczar, Chan e Krieg (1997b,
p. 398), “[...] qualquer técnica que utilize um organismo vivo para sintetizar um
produto útil ou uma reação química desejável é um exemplo de biotecnologia”.
A Biotecnologia deu um grande salto devido aos estudos e ao desenvolvimento
da tecnologia do DNA recombinante, que puderam “criar” microrganismos que
passaram a sintetizar produtos de extrema valia. Hoje se trabalha com células
vivas ou com alguns componentes de sua maquinaria bioquímica para fazer o
que sempre fizeram, o de sintetizar os produtos necessários, fazer a degradação
de substâncias e, por último, trabalhar na produção energética.

Entre as células vivas mais utilizadas estão, sem dúvida, as dos


microrganismos unicelulares, figurando entre eles as bactérias e leveduras.
São milhares os produtos comerciais que são sintetizados pela manipulação de
microrganismos, que vão desde alimentos até vacinas. Os processos industriais
utilizados para a síntese desses produtos microbianos são muitos, e entre eles
destacamos: produção de substâncias farmacêuticas; produção de substâncias
químicas (solventes enzimas); suplementos alimentares (leveduras, bactérias e
algas); bebidas alcoólicas (vinho, cerveja); biocidas e vacinas.

Outra tecnologia muito desenvolvida atualmente é aquela que utiliza


alguns microrganismos para remoção de poluentes tóxicos do ambiente, tanto
do solo como da água (quando ocorre, por exemplo, algum acidente com navios
petroleiros). Esses poluentes são decompostos em substâncias mais simples
e menos tóxicas pela ação metabólica microbiana. Essa tecnologia utilizada é
denominada de biorremediação. Observe o quadro a seguir:

QUADRO 6 – DIVERSIDADE DE PRODUTOS E OS ORGANISMOS UTILIZADOS EM SUA PRODUÇÃO

Produtos Organismos
Solvente orgânico Acetona/butanol Clostridium acetobutylicum
Iniciadores de cultura e
Bactérias produtoras de ácido
fermento para alimentos e
lático ou leveduras de pão
Biomassa agricultura
Proteínas de organismo
Candida utilis
unicelular
Ácido cítrico Aspergillus niger
Ácidos orgânicos
Ácido lático Lactobacillus delbrueckii
Ácido glutâmico Corynebacterium glutamicum
Aminoácidos
Lisina Brevibacterium flavum

120
TÓPICO 3 | BIOTECNOLOGIA

Sorbitol para sorbose


Transformações por Acetobacter suboxydans
(vitamina C)
microrganismos
Esteroides Rhizopus arrhizu
Penicilinas Penicillium chrysogenum
Antibióticos Cefalosporinas Cephalosporium acremonium
Tetraciclinas Streptomyces aureofaciens
Polissacarídeos Goma xantana Xanthomonas campestres
extracelulares Dextran Leuconostoc mesenteroides
α-arnilase Bacillus amyloliquefaciens
Enzimas
Pectinases Aspergillus niger
B12 Propionibacterium shermanii
Vitaminas
Riboflavina Eremothecium ashbyii
Pigmentos β-caroteno Blakeslea trispora
Difteria Corynebacterium diphtheriae
Célula do rim de macaco ou
Poliometile
célula humana
Vacinas
Rubéola Célula do rim de hamsters
Hepatite B Leveduras recombinantes
Insulina Escherichia coli recombinante
Hormônio do crescimento Escherichia coli recombinante
Célula recombinante de
Eritropoietina
mamíferos
Proteínas terapêuticas
Célula recombinante de
Fator VIII-C
mamíferos
Anticorpos monoclonais Hibridomas

FONTE: Adaptado de: <http://www.nehmi-ip.com.br/services.php?serv=10&faq=23#2>. Acesso


em: 10 out. 2010.

DICAS

Você encontrará mais informações sobre as proteínas especiais que são úteis
inclusive na indústria, não apenas na área de alimentos, mas em muitos outros setores no
site <http://www1.univap.br/drauzio/index_arquivos/MBIIIL002.pdf>. Boa leitura!

121
UNIDADE 2 | METABOLISMO E GENÉTICA MICROBIANA

LEITURA COMPLEMENTAR 1

APLICAÇÕES DA TECNOLOGIA DOS ORGANISMOS GENETICAMENTE


MODIFICADOS TERAPIA GÊNICA

Uma das aplicações mais importantes dos organismos geneticamente


modificados é a terapia gênica, ou Geneterapia, que se baseia na introdução de
genes nas células e tecidos de indivíduos que possuam uma doença causada pela
deficiência desse gene, técnica comum em tratamento de doenças hereditárias.
Embora seja uma terapia em estado primitivo, tem revelado bons resultados.

Existem vários tipos de vírus, que são seres dependentes, ou seja, precisam
de outro ser para executarem o seu ciclo de reprodução, introduzindo o seu
material genético dentro das células do ser hospedeiro. Sinteticamente, os vírus
lançam o seu DNA para dentro das células hospedeiras, que, por sua vez, vão
beneficiar os mecanismos de transcrição e tradução dessas células hospedeiras
para produzir mais cópias do seu DNA e, por conseqüência, do vírus, infectando
assim célula após célula.

Facilmente se percebeu que um vírus seria um bom meio de levar genes ao


interior das células humanas, e assim surgiu a terapia gênica utilizando os vírus
como vetores. Para isso, utiliza-se a técnica do DNA recombinante, retirando o
vírus que causa a doença viral e introduz-se o gene de interesse a levar as células
humanas.

Com isto é possível introduzir um gene de interesse nas células somáticas


(já que de momento é ilegal aplicar a terapia gênica a células germinativas)
para corrigir uma doença provocada pela ausência ou defeito desse gene,
possibilitando, deste modo, a produção da substância correspondente a esse
gene, e tratar o distúrbio provado pela ausência dessa substância.

Como todos os Organismos Geneticamente Modificados (OGM) surgem


sempre umas possíveis desvantagens. Neste caso, da terapia genética, os distúrbios
provocados por mutações em apenas um gene têm grandes possibilidades de se
verificar eficiência na terapia genética, mas infelizmente, aqueles que são mais
frequentes (como doença cardíaca, Alzheimer e diabetes) são causados pela
combinação de vários genes, fator que se revela altamente problemático usando
a terapia genética.

O maior problema que surge do uso da terapia genética é, certamente, o


fato de poder ativar oncogenes, ou seja, se o gene é introduzido num local errado
do genoma, como, por exemplo, no lugar de um proto-oncogene ou de um gene
supressor de tumores, poderia induzir a um tumor.

122
TÓPICO 3 | BIOTECNOLOGIA

De qualquer forma, as expectativas atuais indicam que a terapia genética


não se limitará apenas a substituir ou corrigir defeitos nos genes, surgindo
assim possibilidades terapêuticas que estão a ser desenvolvidas para permitir a
libertação de proteínas que controlem níveis hormonais ou estimulem o sistema
imunitário. Com isto, a terapia genética é a esperança de tratamento para um
grande número de doenças até hoje consideradas incuráveis.

Vacinas

O plano de vacinação a que estamos sujeitos baseia-se no princípio de


funcionamento do sistema imunitário. Quando somos infectados por um agente
patogênico, este memoriza a infecção causada, para que numa segunda infecção
possa responder de uma forma mais rápida, mais intensa e mais prolongada ao
antígeno, não deixando assim este voltar a propagar. O objetivo das vacinas é
introduzir no nosso organismo o agente patogênico a que queremos ter imunidade,
para que numa possível infecção, o nosso sistema imunitário já conheça esse
agente patogênico e efetue uma resposta rápida, eliminando-o.

Para isso usamos a mesma técnica usada na terapia genética, a do DNA


recombinante, para modificar o DNA desse agente patogênico, retirando o
gene prejudicial e introduzindo-o no nosso organismo sem esse gene, com
isto, este agente patogênico vai chegar ao nosso sistema inativo (ou morto),
mas ativando a memória do sistema para uma possível infecção patogênica.
Sendo assim, nosso sistema imunitário vai identificar o organismo estranho
(apesar de inativo) e desenvolver anticorpos para esse organismo, para que
numa possível infecção por parte deste, criarmos uma resposta rápida e eficaz na
eliminação do agente patogênico.

Este método não é eficaz em todo o tipo de doenças, principalmente


causada por vírus, porque possui uma taxa de mutação muito elevada, como o
HIV. Ao ocorrer uma mutação, é como se surgisse um novo ser, e assim sendo,
para o nosso sistema imunitário, é outro agente patogênico.

De qualquer forma, as vacinas são vistas como o avanço médico de maior


sucesso na história da saúde pública e sem elas, muitas doenças, que no passado
matavam milhares de pessoas, continuariam a matar milhares de pessoas
anualmente.

Produção de Proteínas

A tecnologia do DNA recombinante permite, hoje em dia, criar proteínas


a partir de bactérias. O melhor exemplo é o da insulina. Os diabéticos precisam de
insulina para manter os seus níveis de açúcar no sangue em equilíbrio, insulina
essa que há uns anos atrás era extraída do pâncreas de porcos para poder fornecer
à população diabética. Essa tinha várias desvantagens, como a óbvia necessidade
de se ter de matar um elevadíssimo número de porcos para obter uma quantidade
significativa de insulina, juntando o fato de esta ainda poder originar alergias

123
UNIDADE 2 | METABOLISMO E GENÉTICA MICROBIANA

no receptor. O primeiro organismo geneticamente modificado foi uma bactéria


chamada Escherichia coli. Esta foi modificada de modo a integrar o gene human, o
responsável pela produção de insulina. Posto isto, a bactéria passaria a produzir
a insulina humana em doses industriais, uma vez que o processo de reprodução
das bactérias é muito reduzido. Assim, passaríamos a dispor das quantidades
de insulina suficientes para satisfazer a população mundial sem ter de sacrificar
milhares de porcos para esse efeito.

Para isto é introduzido o gene da insulina humano numa bactéria pela


tecnologia do DNA recombinante e assim esta bactéria passa a produzir esse
hormônio como se estivesse a “trabalhar para nós”.

FONTE: Adaptado de: <http://ogmespan.blogspot.com/2009/05/aplicacoes-da-tecnologia-dos-


organismos.html>. Acesso em: 10 out. 2010.

124
TÓPICO 3 | BIOTECNOLOGIA

LEITURA COMPLEMENTAR 2

TRANSGÊNICOS

A parte dos organismos geneticamente modificados mais conhecida é


os transgênicos. Desde que surgiram, os transgênicos têm sido alvo de grande
polêmica e debate, por um lado são apresentados como solução para a fome no
mundo, alterações climáticas, doenças e subnutrição… por outro lado, defende-
se que esta realidade pode ser bem diferente e ter consequências graves para a
saúde, sendo proibido em vários países.

A produção dos alimentos e plantas transgênicos é baseada na técnica


de DNA recombinante, ou seja, utiliza-se um vetor que transporte um gene de
interesse de um organismo para dentro das células de outro, e assim consegue-
se produzir um organismo que fique com as características daquele gene
transferido, sendo assim, somos capazes de produzir alimentos e plantas com as
características desejadas.

As principais e mais importantes culturas transgênicas existentes no


mundo encontram-se indicadas a seguir.

A soja é provavelmente o alimento transgênico que existe em maiores


quantidades pelo mundo (como o trigo). Existem vários tipos de soja transgênica,
dependendo do gene que se insere nesta, mas a mais conhecida e plantada é aquela
que recebeu um gene que lhe confere resistência a herbicidas. Esse gene é transferido
de uma bactéria existente no solo chamada de Agrobacterium tumefaciens.

O milho geneticamente modificado é também conhecido por milho


BT, pois o gene inserido na planta provém de uma bactéria chamada “Bacillus
thuringiensis”. Esta bactéria produz uma espécie de “veneno” que mata os insetos
após estes se alimentarem do milho. Esta técnica permite que deixe de haver
destruição dos campos por parte dos insetos, e assim deixa de ser necessário
percorrer os campos com um pulverizador tóxico.

O algodão é também um produto transgênico comercializado, em que


as enzimas introduzidas, (tais como a CrylA da bactéria Bacillus thuringiensis,
e a Nitrilase da bactéria Klebsiella pneumonize) oferecem uma maior resistência
contra larvas e contra herbicidas. O objetivo desta produção é reduzir as perdas
de algodão devido a ataques de insetos, e redução na utilização de herbicidas.

A canola é outro transgênico dos mais conhecidos e é uma planta de onde


é extraído o azeite de canola, que é utilizado na produção de biodiesel. O gene
inserido na canola adiciona a capacidade de resistência a vários tipos de pesticidas.
O gene é retirado de uma bactéria que possui resistência a vários produtos tóxicos,
o Bacillus amyloliquefaciens. Assim, quando a plantação for pulverizada, ocorre a
destruição da maior parte de pestes e não há modificação na canola.

125
UNIDADE 2 | METABOLISMO E GENÉTICA MICROBIANA

Um dos transgênicos mais falados é o arroz dourado, que possui dois


genes retirados de narcisos (plantas de inverno) e um gene retirado de uma
bactéria, estes codificam uma substância chamada betacaroteno, que é precursor
da vitamina A. Assim, o arroz é fortalecido com vitamina A, sendo considerado
como uma vantagem específica para os países subdesenvolvidos, que têm uma
alimentação com carência de vitaminas como esta.

FONTE: Adaptado de: <http://ogmespan.blogspot.com/2009/05/transgenicos.html>. Acesso em:


10 out. 2010.

126
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você estudou que:

• A Engenharia Genética, através da manipulação genética, altera determinadas


características de um organismo.

• A transferência de genes envolve o movimento de informação genética entre


os organismos e ocorre nas bactérias através da conjugação, transdução e
transformação.

• Quando a bactéria absorver moléculas de DNA que estão livres no ambiente,


conferindo-lhe características diferentes, chamamos de transformação.

• Quando ocorre a transferência de genes de uma bactéria para outra através de


um vetor – os vírus – é a transdução.

• Quando as bactérias se unem através de um canal tubular proteico, por onde


ocorre a transferência de genes, chamamos de conjugação.

• Os plasmídios são DNA extra, de fita dupla, circulares, que se autoduplicam,


carregando informações não essenciais ao crescimento celular.

• Os plasmídios R (resistência) carregam informações genéticas, conferindo-lhes


resistência a inúmeros antibióticos.

• Os microrganismos possuem a capacidade de produzir uma grande variedade


de substâncias, com alto valor comercial.

• A biotecnologia é a aplicação da tecnologia em microrganismos, produzindo


inúmeros produtos de grande utilidade ao homem.

• A biorremediação é uma tecnologia que visa a remoção de poluentes tóxicos do


ambiente.

127
AUTOATIVIDADE

1 O que é Engenharia Genética?

2 De acordo com os conhecimentos adquiridos através da


leitura deste caderno, qual foi a tecnologia utilizada para
limpar o litoral contaminado com o derramamento de óleo
do petroleiro EXXON Valdez, no Alasca?

3 Através da engenharia genética, os cientistas podem fazer


a identificação, o isolamento e a multiplicação de genes de
diferentes organismos. De acordo com o que foi estudado,
analise as afirmativas a seguir e classifique-as em V
(verdadeiras) ou F (falsas):

( ) Possibilita-se a introdução de genes de outro organismo em bactérias, a


fim de produzir substâncias que antes nunca haviam produzido.
( ) A transferência de genes acontece como forma essencial do ciclo vital
dos organismos, pois ocorre através da reprodução sexuada, na grande
maioria dos seres procariontes e eucariontes.
( ) Quando a transferência de genes acontece, apenas parte dos genes
cedidos pela célula (doadora) é transferida para a outra célula que
participa do processo (receptora).
( ) A importância da transferência de genes está no fato de que aumenta de
forma significativa a variabilidade genética dos organismos.

Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) A sequência correta é: V – F – V – V.
b) ( ) A sequência correta é: F – F – V – V.
c) ( ) A sequência correta é: V – V – F – F.
d) ( ) A sequência correta é: V – F – F – V.

4 Nas bactérias, foi descoberta a ocorrência de três formas de


transferências de genes, porém nenhuma delas está associada
ao processo reprodutivo. São os seguintes mecanismos:

a) ( ) Reprodução, replicação e recombinação.


b) ( ) Transferência, recombinação e transformação.
c) ( ) Conjugação, transformação e transdução.
d) ( ) Replicação, conjugação e transformação.

128
5 Com relação aos mecanismos de transferência de genes,
associe as colunas:
I– Conjugação. ( ) Quando a bactéria absorver
II– Transdução. moléculas de DNA que
III– Transformação. estão livres no ambiente, conferindo-lhe
características diferentes.
( ) Quando as bactérias se unem através
de um canal tubular proteico, por onde
ocorre a transferência de genes.
( ) Quando ocorre a transferência de genes
de uma bactéria para outra através de
um vetor – os vírus.
Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
a) ( ) A sequência correta é: I – II – III.
b) ( ) A sequência correta é: II – III – I.
c) ( ) A sequência correta é: II – I – III.
d) ( ) A sequência correta é: III – I – II.

6 Com relação aos produtos transgênicos, é correto afirmar que:

a) ( ) São organismos que possuem parte de sua informação


genética proveniente de outro ser vivo.
b) ( ) Encontram-se representados por seres vivos que durante o processo de
alimentação incorporam material genético dos organismos ingeridos.
c) ( ) São produtos indicados para pessoas com excesso de peso, pois
apresentam número reduzido de calorias.
d) ( ) Devem ser evitados, uma vez que, por apresentarem composição
química modificada, não são produtos biodegradáveis.

7 Um novo método para produzir insulina artificial utiliza


tecnologia de DNA recombinante. Os pesquisadores
modificaram geneticamente a bactéria Escherichia coli para
torná-la capaz de sintetizar o hormônio. A produção de
insulina pela técnica do DNA recombinante tem como consequência:

( ) O aperfeiçoamento do processo de extração de insulina a partir do


pâncreas suíno.
( ) A seleção de microrganismos resistentes a antibióticos.
( ) O progresso na técnica da síntese química de hormônios.
( ) Um impacto favorável na saúde de indivíduos diabéticos.
( ) A criação de animais transgênicos.

FONTE: Adaptado de: <http://www.souvestibulando.com.br/Quiz/vestibular/enem2009_


parte1.php>. Acesso em: 27 nov. 2010.

129
130
UNIDADE 3

CONTROLE DOS
MICRORGANISMOS E OS
PRINCIPAIS GRUPOS

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir desta unidade você será capaz de:

• diferenciar esterilização de desinfecção, bem como os termos usados para


descrever esses processos;
• entender os princípios importantes aplicados aos processos de esteriliza-
ção e desinfecção;
• conhecer os principais fatores que afetam a potência dos agentes antimi-
crobianos químicos e identificar as condições que podem limitar a eficiên-
cia de um agente microbiano;
• descrever, de uma maneira geral, como um agente antimicrobiano pode
matar ou provocar a inibição do crescimento dos microrganismos;
• caracterizar e listar cada grupo de microrganismos eucarióticos – fungos,
algas e os protozoários;
• definir vírus e discutir se é um ser vivo ou não;
• relacionar as características gerais dos vírus, bem como citar a composição
química das diferentes estruturas de uma partícula viral;
• descrever e caracterizar um bacteriófago;
• aplicar algumas metodologias para o ensino de Microbiologia para o Ensi-
no Fundamental e Médio.

PLANO DE ESTUDOS
Esta terceira unidade está dividida em quatro tópicos. Você encontrará, no fi-
nal de cada um deles, leituras complementares e atividades que contribuirão
para a compreensão dos conteúdos explorados.

TÓPICO 1 – FUNDAMENTOS DO CONTROLE MICROBIANO

TÓPICO 2 – VÍRUS

TÓPICO 3 – PRINCIPAIS GRUPOS DE MICRORGANISMOS EUCARION-


TES E PARASITAS

TÓPICO 4 – METODOLOGIAS PARA O ENSINO DE MICROBIOLOGIA

131
132
UNIDADE 3
TÓPICO 1

FUNDAMENTOS DO CONTROLE MICROBIANO

1 INTRODUÇÃO
A probabilidade em épocas passadas de adoecer e chegar à morte era muito
grande. A falta de higiene, ou melhor, o total desconhecimento da boa higiene
provocava sérios danos à saúde. A inexistência de bons antissépticos e antibióticos
podia fazer com que as infecções ficassem fora do controle. Um pequeno ferimento
poderia ser uma sentença de morte para a pessoa. A ação microbiana nesses tempos
era devastadora. Os alimentos eram preservados de forma incorreta, sem qualquer
técnica de armazenamento. Em pouco tempo, a ação bacteriana provocava sua
desintegração, tornando-se impróprios para o consumo.

No campo médico era ainda mais complicado, pois qualquer procedimento


cirúrgico não era cercado pelos cuidados que temos hoje. As salas de cirurgia não
possuíam qualquer tipo de assepsia, sendo um risco constante. Sabemos, hoje, que
uma higiene cuidadosa e a utilização de substâncias químicas são necessárias para
alcançar um eficiente controle das ações de vários microrganismos infecciosos.
Vamos abordar nessa Unidade as propriedades de inúmeros agentes químicos e
físicos muito utilizados para o controle de microrganismos em laboratórios, bem
como em hospitais e em nossos lares.

No final desta Unidade você encontrará uma breve introdução a algumas


metodologias que poderão ser empregadas na prática docente da disciplina de
Microbiologia para o Ensino Fundamental e Médio.

2 AGENTES FÍSICOS E QUÍMICOS


Há muito tempo, nossos antepassados utilizavam diferentes métodos de
armazenamento de alimentos. A secagem e a salinização, bem como o cozimento
dos alimentos eram técnicas utilizadas para controlar as ações de deterioração
bacteriana. Alguns desses métodos ainda hoje são utilizados, mas alguns deles
evoluíram, resultando em uma enorme variedade de métodos atualmente
disponíveis. Tanto os que manipulam os alimentos como os microbiologistas
possuem hoje várias técnicas de controle, optando sempre por aquela que melhor
se adapte à sua situação particular, seguindo sempre os princípios da fisiologia
microbiana descobertas pela pesquisa científica moderna.

133
UNIDADE 3 | CONTROLE DOS MICRORGANISMOS E OS PRINCIPAIS GRUPOS

Vimos, em momentos anteriores (Unidade 1 – Tópico 1 – Teoria da


geração espontânea – abiogênese), que a comunidade científica havia descoberto a
existência de pequenos organismos (“animais”) capazes de provocar a deterioração
alimentar e também o fato de crescerem em ambientes naturais. Constatou-se,
naquele momento, que a fervura tinha o poder de matar grande parte desses
pequenos organismos, tendo como exceção as bactérias formadoras de esporos,
que apresentavam uma fantástica resistência ao calor. Outras descobertas
aconteceram e, entre elas, está a de que os pequenos organismos (microrganismos)
poderiam morrer pela ação de várias substâncias químicas ou serem simplesmente
removidos, tanto do ar como dos líquidos, através de aparelhos filtrantes especiais.
Todas essas descobertas foram utilizadas pelas indústrias alimentícias, de vinho
e de cerveja. Os filtros utilizados eram à base de algodão, sendo que as altas
temperaturas eram utilizadas nos processos de fermentação. Um dos produtos
químicos muito utilizado para a destruição de microrganismos do ar foi o fenol.
Foi graças à sensibilidade da classe médica em defender as técnicas de limpeza (a
lavagem das mãos e prática de esterilização dos equipamentos cirúrgicos) que esses
procedimentos foram também incorporados pelos hospitais durante o século XIX.

Vamos encontrar agentes químicos que são aplicados em objetos, que


denominaremos desinfetantes; e aqueles que são aplicados em tecidos vivos,
antissépticos. Todo procedimento em que ocorrer a morte ou a remoção total dos
microrganismos em um material qualquer, bem como de um objeto, denominamos
esterilização. Para Black (2002), todos os procedimentos de esterilização bem
executados asseguram até mesmo a morte dos endósporos bacterianos, que são
altamente resistentes, bem como a morte de esporos de fungos. Na contramão
do processo de esterilização na qual ocorre a morte do agente patogênico,
encontramos um processo que visa somente a redução do número desses
organismos patogênicos tanto em objetos como em materiais, sem que represente
qualquer tipo de ameaça de doença. A esse processo denominaremos desinfecção.

QUADRO 7 – TERMOS RELACIONADOS À ESTERILIZAÇÃO E À DESINFECÇÃO

Termo Definição
Esterilização A destruição ou remoção de todos os microrganismos num material ou objeto.
A redução dos microrganismos patogênicos a um número que eles não
Desinfecção
apresentem nenhum risco de causar doença.
Um agente químico que pode seguramente ser usado externamente em tecidos
Antisséptico
vivos para destruir microrganismos ou para inibir seu crescimento.
Um agente químico usado em objetos para destruir microrganismos. A maioria
Desinfetante
dos desinfetantes não mata os esporos.
Um agente químico tipicamente usado em equipamentos de manipulação de
Sanitizador alimentos e utensílios culinários para reduzir o número de bactérias de modo a
satisfazer os padrões da saúde pública.
A sanitização pode ser realizada através de uma simples lavagem com sabão e
Agente
detergente.
Bacteriostático Um agente que inibe o crescimento de bactérias.
Um agente capaz de matar rapidamente os micróbios; alguns desses agentes matam
Germicida
efetivamente certos microrganismos, mas somente inibem o crescimento de outros.

134
TÓPICO 1 | FUNDAMENTOS DO CONTROLE MICROBIANO

Bactericida Um agente que mata bactérias. A maioria destes agentes não mata os esporos.
Viricida Um agente que mata vírus.
Fungicida Um agente que mata fungos.
Esporicida Um agente que mata os endósporos bacterianos ou os esporos fúngicos.

FONTE: Black (2002, p. 296)

ATENCAO

Não confunda esterilização com desinfecção. Muito embora ambos os processos


levem à morte de microrganismos, eles são diferentes.

De uma forma geral, podemos dizer que agentes antimicrobianos podem


ser tanto agentes físicos quanro agentes químicos. Para Pelczar, Chan e Krieg
(1997a), os aspectos fundamentais que existem e são aplicados às duas classes de
agentes incluem o padrão de morte da população microbiana após ser exposta a
um agente microbicida; as condições que influenciam a eficiência de um agente
antimicrobiano; e, por último, a forma pela qual um agente antimicrobiano
provoca lesões nas células microbianas.

A atuação de um agente antimicrobiano para provocar a inibição, bem


como a morte de um microrganismo, ocorre de várias maneiras. O conhecimento
de todo o mecanismo de ação de um determinado composto possibilita que se
predetermine mais efetivamente em que condições esse composto atuará. Uma
consequência positiva para esse fato é que assim se pode saber que espécies de
microrganismos são mais sensíveis ao composto.

Sabemos que uma célula em equilíbrio é aquela que se mantém fisiológica


e estruturalmente íntegra, ou seja, ela deve manter todas as suas funções
metabólicas. Qualquer alteração na sua estrutura ou na sua fisiologia, como, por
exemplo, rompimento da membrana celular ou da parede celular, alteração do
estado físico do citoplasma ou a inativação das enzimas, causará a morte celular.

Entre os agentes físicos muito utilizados e que possuem a maior eficiência


na destruição de microrganismos é o aquecimento. É o meio de esterilização de
maior preferência para todos os materiais que não sofrem qualquer dano pela ação
do calor. A temperatura possui uma maior penetração nos materiais densos, bem
diferente dos agentes químicos, que não possuem essa facilidade de penetração.
As formas de aplicações do calor variam e pode-se utilizá-lo em condições úmidas
– na forma de vapor ou água ou na forma de calor seco. A incineração (reduzir a
cinzas pela ação do fogo) é uma forma extrema de utilização do calor para matar
os microrganismos.

135
UNIDADE 3 | CONTROLE DOS MICRORGANISMOS E OS PRINCIPAIS GRUPOS

Quando falamos de destruir microrganismos que provocam problemas


aos alimentos e sérias doenças no homem e a outros grupos de organismos, temos
que analisar quais os métodos que se tornam mais eficientes. Vamos encontrar no
calor úmido uma maior eficiência (utiliza-se para eliminar os microrganismos as
formas de vapor, água aquecida com temperaturas abaixo do ponto de ebulição
ou água fervente) em relação ao calor seco, isso tudo porque o calor úmido atua
na desnaturação proteica, bem como na sua coagulação, afetando proteínas
(enzimas) extremamente importantes para os microrganismos. Já o calor seco age
diretamente nos constituintes orgânicos celulares, oxidando-os e provocando,
com isso, uma queima lenta das células. Disso tudo, o que podemos concluir
é que o processo de desnaturação proteica das células acontece num tempo de
exposição e de temperatura bem menores daqueles exigidos pelo método da
oxidação. Segundo Pelczar, Chan e Kreig (1997a, p. 194), “[...] os endósporos de
Bacillus anthracis são destruídos entre 2 e 15 min pelo calor úmido a 100 ºC, mas
com o calor seco leva mais de 180 min a 140 ºC para conseguir o mesmo resultado”.

ATENCAO

Caro acadêmico! Para entender melhor, observe o quadro a seguir, no qual foi
feita uma comparação dos dois métodos de destruição de esporos bacterianos: calor úmido
e calor seco.

QUADRO 8 – TEMPOS DE DESTRUIÇÃO DE ALGUNS ESPOROS BACTERIANOS – CALOR ÚMIDO


E SECO

CALOR ÚMIDO CALOR SECO


ESPÉCIE DE
BACTÉRIAS Temperatura Tempo de morte Temperatura Tempo de morte
(oC) (min) (oC) (min)
140 Acima de 180
Bacillus 100 2 – 15
160 180
anthracis 105 5 – 10
180 9 – 90
100 300 – 500 120 50
Clostridium
110 32 – 92 130 15 – 35
botulinum
115 10 – 40 140 5
100 5 – 45
120 50
Clostridium 110 5 – 27
130 15 – 35
perfringens 115 4
140 5
120 1
100 5 – 90 130 20 – 40
Clostridium
105 5 – 25 140 5 – 15
tetani
160 12

FONTE: Adaptado de: Pelczar, Chan e Krieg (1997a, p.194)

136
TÓPICO 1 | FUNDAMENTOS DO CONTROLE MICROBIANO

Em um sistema fechado, que apresente um volume constante e um


aumento de pressão, podemos ter um aumento na temperatura. Esse sistema
descrito é utilizado dentro dos métodos de altas temperaturas – calor úmido –
quando utilizamos o vapor d”água sob pressão para eliminar microrganismos,
sendo o mais usado e de fácil aplicação. Fica muito evidente que, na prática, esse
método é o que fornecerá altas temperaturas em relação aos demais que não
utilizam os vapores com pressão ou simplesmente usam a água fervida.

E
IMPORTANT

A autoclave é um aparelho muito utilizado em laboratórios de Microbiologia, em


que a água é aquecida sob pressão, alcançando altas temperaturas (atingindo temperaturas
superiores a 100 ºC em poucos minutos), suficientes para matar esporos, organismos
vegetativos e também para provocar o rompimento estrutural dos ácidos nucleicos virais.

FIGURA 65 – FUNCIONAMENTO DE UMA AUTOCLAVE


Válvula de escape
Vapor entrando Válvula de Válvula que controla a entrada
(para remover
na câmara segurança Manômetro de vapor na câmara
o vapor após a
esterilização)

Vapor Porta

Câmara de
vapor

Ar

Prateleira perfurada Tela de


sedimentos

Termômetro

Válvula automática é controlada por Regulador de pressão


termostato e se fecha em contato para fornecimento de
com o vapor quando o ar se esgota vapor
Saída de Fornecimento
resíduos de vapor
FONTE: Adaptado de: <http://diverge.hunter.cuny.edu/~weigang/Images/07-02_autoclave_1.jpg>.
Acesso em: 10 out. 2010.

137
UNIDADE 3 | CONTROLE DOS MICRORGANISMOS E OS PRINCIPAIS GRUPOS

Black (2002) nos lembra de que nesse procedimento não é o aumento da


pressão e sim a elevação da temperatura que mata os microrganismos. A simples
fervura tem pouca eficácia na destruição de todos os tipos de esporos, porém
destrói a maioria das células vegetativas de bactérias e fungos, podendo até
paralisar vírus.

ATENCAO

A esterilização feita pelo método de calor seco (ex.: forno) é utilizada em objetos
de metal e vidrarias, sendo muito satisfatória (talvez o único) na esterilização de substâncias
à base de óleos e também pós. Vale lembrar que o calor seco possui uma penetração muito
lenta nas substâncias do que o calor úmido.

No século XIX, o cientista francês Louis Pasteur realizou alguns


experimentos sobre os microrganismos que redundaram num processo que
foi denominado de pasteurização - é um tratamento que controla o calor que é
inserido no sistema. Ele se utilizou do aquecimento lento em temperaturas baixas
na intenção de destruir os microrganismos que deterioravam os vinhos franceses
(PELCZAR; CHAN; KRIEG, 1997a). Pelo processo da pasteurização, ocorria a
destruição dos organismos que provocavam acidificação do vinho (deterioração
do vinho – Acabava por azedar o vinho), sem alcançar a esterilização. Para
Pelczar, Chan e Krieg (1997a, p. 195), “temperaturas de esterilização têm efeitos
adversos em muitos alimentos, e tratamentos alternativos devem ser utilizados
para reduzir a contaminação microbiana nestes materiais”. O método da
pasteurização provoca a morte das células vegetativas de vários microrganismos,
porém ele não esteriliza. Esse método mata alguns patógenos (Mycobacterium e a
Salmonella) que podem estar presentes no leite e em seus derivados e na cerveja. O
que ocorre na pasteurização é, como já foi comentado, a eliminação das células de
microrganismos patogênicos vegetativas, fazendo com que se possa prolongar e
manter a qualidade de um determinado produto. Porém, as indústrias alimentícias
procuram evitar altas temperaturas, uma vez que pode haver alterações no valor
nutritivo, no sabor e no aspecto dos produtos (derivados do leite, sucos em geral
(vegetais e de frutas).

138
TÓPICO 1 | FUNDAMENTOS DO CONTROLE MICROBIANO

FIGURA 66 – PROCESSO DE PASTEURIZAÇÃO

Leite

Água quente Água fria


Aquecimento Resfriamento
FONTE: Disponível em: <http://static.infoescola.com/wp-content/uploads/2010/02/
pasteurizacao.jpg>. Acesso em: 10 out. 2010.

E
IMPORTANT

Você já deve ter comprado leite de vaca em saquinho ou leite diretamente


ordenhado. Sabemos da importância da fervura desse leite, pois a possibilidade de
contaminação por microrganismos é muito alta. É necessário, portanto, ferver o leite de vaca
para eliminar possíveis bactérias. É aí que acontece um grande erro. Quando o leite atinge
a temperatura próxima dos 80 oC forma uma película que impede a saída do vapor, fazendo
com que o leite transborde. Muitas vezes, desligamos o fogo para que isso não ocorra. Nessa
temperatura, o leite ainda não ferveu, consequentemente, os microrganismos ainda não
morreram. O que se deve fazer então? Quando essa película se formar, deve-se retirá-la
com uma colher ou espátula para sair o vapor. Logo o leite começará a ferver e borbulhar,
atingindo a temperatura ideal para a eliminação dos microrganismos.

Outro processo utilizado é o congelamento, que inibe, geralmente, o


metabolismo dos microrganismos. Ele é utilizado na preservação de alimentos,
em espécimes laboratoriais (age como bloqueador de forma efetiva no crescimento
microbiano) e em drogas. O fato é que em baixas temperaturas não ocorre a
morte dos microrganismos e sim a dormência por um período muito grande nos
materiais congelados.

ATENCAO

A fervura elimina os microrganismos e o congelamento apenas os mantêm inativos.

139
UNIDADE 3 | CONTROLE DOS MICRORGANISMOS E OS PRINCIPAIS GRUPOS

Existem outros tipos de controle microbiano na preservação de alimentos.


Através da emissão de radiações na forma de ondas eletromagnéticas, a saber: radiação
ionizante, luz ultravioleta, radiação de micro-ondas e pela intensidade da luz visível.

FIGURA 67 – AÇÃO DA LUZ ULTRAVIOLETA C NO MICRORGANISMO


Plásmidos

Membrana Plasmática
Citoplasma Mesosomas

Parede Celular

AÇÃO DO Material Genético


ULTRAVIOLETA

Ribosomas
FONTE: Disponível em: <http://www.akarilampadas.com.br/aplicacoes/introducao-a-luz-
ultravioleta-uvc.php>. Acesso em: 10 out. 2010.

FIGURA 68 – DANO FOTOQUÍMICO NO DNA DO MICRORGANISMO


CAUSANDO O EFEITO DESINFETANTE

FONTE: Disponível em: <http://www.rafaelgontijo.com.br/radiacao.html>.


Acesso em: 22 mar. 2018.

Temos também um processo utilizado desde o século. XIX, nos tempos


de Pasteur, que é a filtração. Para que aconteça a esterilização pelo processo de
filtragem, deverá haver filtros com poros microscópicos. Os filtros que eram
utilizados no passado para remoção de bactérias da água potável eram feitos de
porcelana. Hoje, estão sendo substituídos por filtros de membrana de celulose,
também denominados membranas filtrantes. Esses filtros possuem poros

140
TÓPICO 1 | FUNDAMENTOS DO CONTROLE MICROBIANO

microscópicos que impedem a passagem de microrganismos. São utilizados


para coletar amostras microbianas através da separação de diferentes tipos de
microrganismos e também, em larga escala, na análise microbiológica da água.

Entendemos como agentes antimicrobianos as substâncias químicas que


são utilizadas para a inibição do crescimento de microrganismos, causando a sua
morte. Segundo Black (2002), a potência, ou eficácia de um agente antimicrobiano
químico é influenciada pelo tempo, pela temperatura, pelo pH e concentração.

São os sabões e detergentes que possuem a propriedade de removerem


os micróbios, as substâncias oleosas e a sujeira. O hábito de lavar as mãos é
muito importante, porque o simples atrito mecânico aumenta sua ação e, com
isso, previne a disseminação de doenças entre pacientes em hospitais, clínicas,
em estabelecimentos de alimentação e também no círculo familiar. Uma atitude
simples é, após o enxágue das nossas mãos ou de qualquer objeto, lavarmos
também com uma solução de álcool a 70%. Porém, é bom lembrar que não vamos
nos livrar por completo de todos os organismos patogênicos. Outros compostos
químicos são usados em pequeníssimas quantidades para inibirem o crescimento
bacteriano, entre eles, destacamos os metais pesados: mercúrio (mertiolate), cobre
(sulfato de cobre) e prata (nitrato de prata).

A utilização de halogênios como o cloro (ácido hipocloroso), adicionado


à água, irá controlar de forma efetiva a proliferação de microrganismos na
água potável. Outros agentes químicos muito importantes são os álcoois que,
ao serem misturados com água, provocam a desnaturação proteica e eliminam
agentes microbianos vegetativos na superfície da pele, porém, não são capazes de
eliminar os endósporos. Existem muitos outros agentes químicos que possuem
propriedades antimicrobianas específicas, entre eles estão: agentes alquilantes,
fenóis, agentes oxidantes e corantes.

141
UNIDADE 3 | CONTROLE DOS MICRORGANISMOS E OS PRINCIPAIS GRUPOS

LEITURA COMPLEMENTAR 1

CONSERVAÇÃO PELO CALOR

Adriano Costa Camargo

O uso de calor para conservar alimentos tem por objetivo a redução da


carga microbiana e a desnaturação de enzimas. Vários tipos de tratamento térmico
podem ser aplicados, a depender da termossensibilidade do alimento e da sua
suscetibilidade à deterioração, bem como da estabilidade requerida do produto
final. Um tratamento térmico seguro deve ser selecionado com base no binômio
tempo-temperatura requerido para inativar os microrganismos patogênicos e
deterioradores mais termorresistentes em um dado alimento e da embalagem
(AZEREDO, 2004). Existem diferentes tipos de tratamento pelo calor, desde os
mais conhecidos, como a pasteurização e a esterilização, até os menos conhecidos
da grande população, como o branqueamento.

Pasteurização

O método da pasteurização leva este nome em homenagem a Louis Pasteur,


o primeiro a perceber que havia a possibilidade de inativação de microrganismos
deterioradores em vinho por meio da aplicação de calor. A pasteurização tem
como objetivo principal a destruição de microrganismos patogênicos associados ao
alimento em questão. Um objetivo secundário é aumentar a vida de prateleira do
alimento, reduzindo as taxas de alterações microbiológicas e enzimáticas. Os produtos
pasteurizados podem conter, ainda, muitos organismos vivos capazes de crescer, o
que limita sua vida de prateleira. Assim, a pasteurização é, muitas vezes, combinada
com outros métodos de conservação e muitos produtos pasteurizados são estocados
sob refrigeração (POTTER; HOTCHKISS, 1995). Microrganismos patogênicos são os
que causam doenças a quem ingere o alimento, por meio da ingestão de alimento
contendo carga microbiana ou toxinas produzidas pelos microrganismos.

Existem três tipos de pasteurização:

• pasteurização lenta, na qual utilizamos temperaturas menores durante maior


intervalo de tempo. Este tipo é melhor para pequenas quantidades de leite, por
exemplo, o leite de cabra. A temperatura utilizada é de 65 ºC durante trinta minutos;

• pasteurização rápida, na qual utilizamos altas temperaturas durante curtos


intervalos de tempo. É mais utilizada para leite de saquinho, do tipo A, B e
C. A temperatura utilizada é de 75 ºC durante 15 a 20 segundos; na literatura,
frequentemente, encontramos este tipo de pasteurização com a denominação
HTST (High Temperature and Short Time), alta temperatura e curto tempo;

• pasteurização muito rápida, na qual as temperaturas utilizadas vão de 130 ºC


a 150 ºC, durante três a cinco segundos, este tipo é mais conhecido como UHT
(Ultra High Temperature) ou longa vida.
142
TÓPICO 1 | FUNDAMENTOS DO CONTROLE MICROBIANO

Esterilização Comercial

Para alimentos, quando dizemos esterilização, estamos nos referindo, na


verdade, à esterilização comercial, ou seja, não atingimos a temperatura que tornaria
o alimento completamente estéril. Se isso ocorresse, o alimento tratado não se tornaria
interessante para o consumo do ponto de vista nutricional e sensorial. Segundo Potter
& Hotckiss (1995), a esterilização comercial refere-se a um tratamento térmico que
inativa todos os microrganismos patogênicos e deterioradores que possam crescer
sob condições normais de estocagem. Os alimentos comercialmente estéreis podem
conter um pequeno número de esporos bacterianos termorresistentes, que não se
multiplicam no alimento. A maior parte dos alimentos enlatados é comercialmente
estéril, tendo uma vida de prateleira de pelo menos dois anos. Mesmo após períodos
mais longos de estocagem, sua deterioração, geralmente, ocorre devido a alterações
não microbiológicas. Para reduzirmos os danos sensoriais e nutricionais aos
alimentos tratados pelo calor, o melhor é submetermos os alimentos ao menor tempo
de exposição ao calor que for possível e utilizarmos temperaturas mais altas. Isso
minimiza as possíveis perdas nutricionais e sensoriais e atinge bons resultados no
que se refere à segurança microbiológica.

Branqueamento

Na parte de frutas e hortaliças o branqueamento é frequentemente utilizado.


Este tratamento térmico tem a finalidade de inativar enzimas que poderiam
causar reações de deterioração, como o escurecimento. As reações enzimáticas são
responsáveis por alterações sensoriais e nutricionais, principalmente no período de
estocagem. Algumas das razões que justificam a necessidade de inativação enzimática
previamente a diferentes tipos de processamento são as seguintes (FELLOWS, 1998):

• No caso de produtos a serem congelados, a temperatura de congelamento


geralmente utilizada durante a estocagem (-18 ºC) não inibe totalmente a
atividade enzimática.

• Os processos de desidratação, geralmente, não utilizam temperaturas suficientes


para inativar enzimas, requerendo um branqueamento prévio para inativá-las.

• Nos processos de esterilização, o tempo necessário para que a temperatura de


processo seja atingida, especialmente quando se utilizam recipientes de grandes
dimensões, pode ser suficiente para permitir que ocorra atividade enzimática.

O branqueamento tem outros efeitos como o de reduzir a carga microbiana


inicial do produto. Além disso, o branqueamento promove amaciamento de
tecidos vegetais, facilitando envase e remove ar dos espaços intercelulares,
auxiliando, assim, a etapa de exaustão (retirada do ar do produto e do espaço
livre das embalagens, antes do fechamento). A remoção de ar pode, ainda, alterar
o comprimento da onda da luz refletida no produto, como ocorre em ervilhas,
que adquirem uma cor verde mais brilhante (AZEREDO, 2004).
FONTE: CAMARGO, Adriano Costa. Laboratório de Irradiação de Alimentos e Radioentomologia.
Disponível em: <http://www.cena.usp.br/irradiacao/cons_calor.html>. Acesso em: 17 out. 2010.

143
UNIDADE 3 | CONTROLE DOS MICRORGANISMOS E OS PRINCIPAIS GRUPOS

LEITURA COMPLEMENTAR 2

ALIMENTOS: OS TOP 5 DA CONTAMINAÇÃO


Yara Achôa

Quem nunca teve um mal-estar, acompanhado de dor de barriga e vômitos


depois de comer alguma coisa na rua?

Só no ano passado, o Centro de Vigilância Epidemiológica (CVE), do


governo do Estado de São Paulo, notificou 7.253 casos de doenças transmitidas
por água e alimentos (DTA) – tendo como agentes bactérias como a Salmonella e a
Escherichia coli, entre outras. Desse total, foram 384 surtos e seis óbitos.

O perigo que pode estar no carrinho de cachorro-quente e no restaurante


próximo ao trabalho também pode ser encontrado na geladeira de casa.

“Todos os alimentos são de risco se preparados sem higiene e/ou mantidos


sem refrigeração ou aquecimento adequado”, alerta Maria Bernadete de Paula
Eduardo, diretora da Divisão de Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar do
Centro de Vigilância Epidemiológica/SES-SP.

Na rua, alguns alimentos exigem cuidado dobrado antes de serem


colocados no prato, ainda mais quando não se conhece a sua procedência. Confira
os cinco alimentos mais relacionados a riscos de contaminação nas ruas:

Ovo: pode abrigar a bactéria Salmonella, que causa diarreia, febre e vômitos, e
até óbito em crianças, gestantes e pessoas com o sistema imunológico debilitado. “O
maior risco é ingerir o ovo mal cozido (com a gema mole) ou cru (usado em alguns
preparos como a maionese)”, alerta a nutricionista Patrícia Ramos, coordenadora
do Serviço de Nutrição do Hospital Bandeirantes, de São Paulo.

Segundo o biomédico Roberto Figueiredo, o Dr. Bactéria, um em cada


200 ovos em uma granja pode conter a Salmonella. A dica é optar pelo produto
pasteurizado. “O processo de pasteurização elimina a bactéria”, diz o especialista.
Acontece que na rua nem sempre é possível confiar na procedência do alimento.

“Se o ovo estiver contaminado, a alta temperatura do cozimento será capaz


de eliminar o microrganismo”, completa a nutricionista Jaqueline Bernardini, da
Clínica Medicina Integrada, de São Paulo.

Folhas: larvas e bactérias podem estar escondidas entre as folhas verdinhas


expostas nas travessas dos restaurantes a quilo. “Só lavar com água não basta.
É preciso realizar uma desinfecção química para eliminar os microrganismos”,
explica a nutricionista Patrícia Ramos. Isso significa que antes de serem oferecidas
ao consumo, as verduras devem ficar mergulhadas por pelo menos 15 minutos em
uma mistura de água e água sanitária (hipoclorito de sódio) – para cada litro de
água, uma colher de sopa de água sanitária de boa procedência e não odorizada.
144
TÓPICO 1 | FUNDAMENTOS DO CONTROLE MICROBIANO

Não é o caso de eliminar a salada do prato, claro. “Mas fique atento à


higiene do local e às condições de preparo e armazenamento dos alimentos”,
reforça Maria Bernadete de Paula Eduardo, do CVE.

Carnes: espetinhos, churrasquinhos, sanduíches de carne assada podem


conter a bactéria Clostridium perfringens, causadora de cólicas e diarreia. Esse
microrganismo é resistente muitas vezes até ao cozimento. “A carne deve ser
armazenada sempre em temperatura inferior a cinco graus. Na hora de consumir,
opte pela preparada na hora e bem passada, sendo mantida acima de 60 graus”,
ensina Dr. Bactéria.

Cachorro-quente: o problema principal está na salsicha, que pode conter


a bactéria Listeria monocytogenes. Após sua ingestão, costumam aparecer diarreia
e fortes cólicas abdominais, por 24 horas. Não é indicado consumir a salsicha que
esteja fora de refrigeração, crua ou aquela mergulhada há horas na panela do
carrinho de cachorro-quente, a não ser que a água emane vapores, isto é, esteja
acima de 60 graus.

“Ela deve ser cozida na hora e por cinco minutos após levantar fervura”,
aconselha Dr. Bactéria. Cuidado ainda com o purê que acompanha o sanduíche:
por ser preparado com leite e muitas vezes ficar exposto inadequadamente –  o
que também pode causar problemas.

Maionese: para passar a ideia de saborosa e sem aditivos químicos, muitos


comerciantes oferecem a “maionese caseira”. Além do risco da contaminação
pelo uso de ovos crus no preparo, a falta de higiene da embalagem (bisnagas)
e a refrigeração inadequada transformam o alimento em uma bomba de
contaminação.

“Nunca coma maionese feita com ovos crus ou em embalagens que ficam
fora da geladeira. Prefira os sachês industrializados para maionese, mostarda e
catchup”, diz Maria Bernadete.

Em casa, nem a segurança do lar está imune aos microrganismos. Aliás,


pesquisas apontam que a maior parte dos casos de contaminação acontece dentro
de casa. Conheça os top 5 da contaminação residencial.

Sobras do almoço: aquele arroz com feijão que sobrou do almoço podem
ficar para o jantar e até para o dia seguinte, desde que manipulados de maneira
adequada. “Tire das panelas, acondicione-os em outro recipiente e leve-os à
geladeira”, ensina Jaqueline Bernardini.

“Pode guardá-los até mesmo quentes. Isso não estraga a geladeira, nem
a comida”, diz Dr. Bactéria. Mas até que esfriem, mantenha o recipiente aberto.
“Aquelas gotículas de água que se formam na tampa (umidade) podem facilitar a
proliferação de bactérias”, completa a nutricionista.

145
UNIDADE 3 | CONTROLE DOS MICRORGANISMOS E OS PRINCIPAIS GRUPOS

A geladeira doméstica geralmente trabalha a 10 graus: nessa temperatura


é capaz de conservar a comida por 24 horas. Se estiver a cinco graus, o prazo
se estende até três dias. Agora, se a sobra foi grande e não será consumida
rapidamente, melhor congelar.

Frios: retire-os da embalagem original e coloque-os em recipientes com


tampas. Na hora de se servir de uma fatia, utilize um garfo, evitando manipular
o alimento com as mãos. “Consuma-os em até dois dias”, sugere a nutricionista
da Clínica Medicina Integrada. Ranço e gosma na superfície dos frios significam
microrganismos em ação – e problemas de contaminação na certa se forem ingeridos.

Bolo de aniversário: geralmente recheados e preparados com leite e ovos,


eles costumam ficar expostos, enfeitando a mesa do aniversariante.

“Esse tipo de alimento não pode ficar mais de duas horas em temperatura
ambiente, sob o risco de favorecer a proliferação de bactérias e toxinas”, alerta
Dr. Bactéria.

Mas o risco maior está na hora de apagar as velinhas. “O aniversariante


assopra e espalha gotículas de saliva cheias de Staphylococus aureus, que podem
produzir toxinas que provocam intoxicações com náuseas e vômitos.

Palmito: ao comprar o produto, verifique as informações da embalagem: o


rótulo deve conter a data de validade, o número do lote e os dados do fabricante.
Um alimento de má procedência pode conter a toxina botulínica, bactéria
transmissora do botulismo, doença que pode levar à morte.

“Palmito em conserva só deve ser adquirido de marca e estabelecimentos


confiáveis. Por ser um vegetal mole, ele não resiste a altas temperaturas e para
que não venha desenvolver a toxina botulínica deve ser preparado industrialmente
com quantidades de ácido e sal adequadas. As conservas clandestinas, caseiras ou
adquiridas em beira de estrada são de extremo risco”, avisa Maria Bernadete, do
CVE. E antes de consumi-lo em casa, a recomendação é fervê-lo durante 10 minutos.

Enlatados: o cuidado aqui é com a embalagem. “As latas têm um verniz


interno, que preserva seu conteúdo. Pequenas batidas podem romper essa
proteção e comprometer o alimento”, diz a nutricionista Patrícia Ramos. É
importante também higienizá-las (lavar com água e detergente) antes de abri-las.

“Ao abrir, verifique se não contém bolhas, como se estivesse fermentado.


Drene a água e consuma ou prepare imediatamente. Se não for utilizar todo
conteúdo da lata, retire da embalagem, coloque em outro recipiente com tampa,
marque a data e consuma em até três dias”.

FONTE: Adaptado de: <http://delas.ig.com.br/bemestar/alimentos+os+top+5+da+contaminacao/


n1237772907747.html>. Acesso em: 17 out. 2010.

146
RESUMO DO TÓPICO 1

Neste tópico, você estudou que:

• Podemos matar, inibir ou remover microrganismos utilizando agentes físicos


ou um agente químico.

• Agentes microbicidas matam os microrganismos, sendo que os agentes


microbiostáticos apenas inibem o seu crescimento.

• As condições do ambiente determinam a eficiência do agente antimicrobiano,


tais como: a temperatura, o pH, o tempo e a concentração.

• Um dos mais eficientes agentes antimicrobianos é a temperatura, que pode


ser utilizada na forma de calor úmido – vapor sob pressão, água fervente ou
a pasteurização. Utilizamos também o calor seco, para a esterilização pelo ar
quente ou incineração.

• Utilizam-se baixas temperaturas para o armazenamento de amostras


laboratoriais de microrganismos.

• As radiações também são utilizadas como microbicidas.

• As membranas filtrantes removem os microrganismos e, por isso, são utilizadas


para esterilizar substâncias fluidas.

• Os agentes químicos antimicrobianos possuem uma denominação terminológica


específica, que indica se esses agentes matam ou simplesmente inibem o
crescimento dos microrganismos.

147
AUTOATIVIDADE

1 Os métodos mais utilizados para a esterilização, geralmente,


são obtidos por:

I- Calor seco (estufa).


II- Calor úmido (vapor sob pressão em autoclave).
III- Pasteurização.
IV- Congelamento.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As afirmativas I e III estão corretas.
b) ( ) As afirmativas II e IV estão corretas.
c) ( ) As afirmativas I e II estão corretas.
d) ( ) As afirmativas III e IV estão corretas.

2 Qual a diferença entre esterilização e desinfecção?

3 Quais microrganismos são destruídos no processo de


esterilização?

a) ( ) Somente fungos e bactérias.


b) ( ) Somente vírus e bactérias.
c) ( ) Somente esporos, bactérias e fungos.
d) ( ) Fungos, bactérias, esporos e vírus.

4 Com base no quadro 8 do Livro Didático, para esterilizar


instrumentos contaminados pela bactéria Clostridium
perfringens, pelo calor seco, a estufa deverá manter uma
temperatura de:

a) ( ) 120 °C, durante 2 horas.


b) ( ) 140 °C, durante 1 hora.
c) ( ) 130 °C, durante 1 hora.
d) ( ) 120 °C, durante 50 minutos.

148
5 “Processo de eliminação de vírus, fungos e formas vegetativas
de bactérias, porém não seus esporos” é o conceito de:

a) ( ) Esterilização.
b) ( ) Desinfecção.
c) ( ) Viricida.
d) ( ) Esporicida.

6 Explique como ocorre o processo da pasteurização e quais


são seus principais objetivos.

7 Associe as colunas de acordo com os tipos de pasteurização:

I- Pasteurização lenta ( ) Temperaturas utilizadas


II- Pasteurização rápida de 130 ºC a 150 ºC, durante
III- Pasteurização muito rápida três a cinco segundos.
( ) Altas temperaturas durante curtos
intervalos de tempo.
( ) Temperaturas menores durante maior
intervalo de tempo.

149
150
UNIDADE 3
TÓPICO 2

VÍRUS

1 INTRODUÇÃO
Convivemos com os vírus desde o nosso nascimento. Em boa parte da
nossa vida, o nosso corpo é invadido por diferentes tipos de vírus, que utilizam as
nossas células para se multiplicar, levando-as, muitas vezes, à morte. Na história
da humanidade, conhecemos grandes epidemias de microrganismos e, entre elas,
os vírus possuem um lugar de destaque pelos danos causados (gripe espanhola,
pólio, HIV, Ebola, dengue, varíola, febre amarela etc.).

Muitos dos vírus que imaginávamos estarem eliminados são hoje uma
preocupação para os cientistas, pois começam a reaparecer e causar sérios
problemas à saúde pública, denominando-os de vírus reemergentes. Pouco se
sabe o motivo do reaparecimento, mas já se podem prever as consequências. Hoje,
a pesquisa científica nos dá um melhor entendimento das doenças provocadas
pelos vírus, bem como da sua estrutura e todo o seu processo de replicação. As
consequências de todo esse conhecimento é o aumento da habilidade dos cientistas
para desenvolver metodologias para aprimorar o controle e a erradicação de
todas as infecções virais.

Neste tópico, abordaremos as características morfológicas, as estruturas,


a forma de replicação, o comportamento dos vírus e algumas doenças causadas
por eles.

2 CARACTERÍSTICAS GERAIS
Como já mencionamos anteriormente, nosso convívio com os vírus vem
desde o nosso nascimento. Durante toda a nossa vida, tipos diferentes de vírus
invadem o nosso corpo, causando-nos sérios problemas de saúde. Algumas
células do nosso corpo vão possuir alguns vírus em estado de latência (inativo
– período de incubação de uma doença), que podem ficar em estado de repouso
absoluto durante toda a vida ou podem se multiplicar, provocando infecção
viral. Estão amplamente distribuídos no meio ambiente, causando infecções em
animais, vegetais, fungos e em alguns microrganismos (bactérias).

151
UNIDADE 3 | CONTROLE DOS MICRORGANISMOS E OS PRINCIPAIS GRUPOS

Os vírus são agentes infecciosos extremamente pequenos e impossíveis


de serem observados na microscopia óptica (PELCZAR; CHAN; KRIEG, 1997a).
Não são considerados células, pois, ao contrário de todos os outros seres vivos,
não apresentam organização celular. Por isso, não possuem citoplasma, organelas
ou núcleo. As atividades metabólicas não serão realizadas, tampouco a sua
multiplicação, quando estiverem fora das células hospedeiras. Devido ao fato de
não terem a capacidade de replicação fora de uma célula hospedeira, existem
muitas controvérsias em relação aos vírus. Por isso, uma parte da comunidade
científica aponta os vírus como sistemas moleculares autorreplicativos não vivos.
Em contrapartida, outras correntes de cientistas consideram os vírus como uma
forma de vida extremamente simples. Temos uma certeza: eles possuem ácidos
nucleicos e o mesmo processo de codificação genética que as outras espécies de
vida possuem.

Mesmo possuindo todo esse aparato genético, os vírus são desprovidos


de toda a maquinaria bioquímica, altamente necessária para poderem traduzir
as informações nele codificadas. A falta desses componentes químicos provoca
a dependência dos vírus por células que lhes sirvam de hospedeiras, para que
possam comandar a maquinaria celular para a sua multiplicação, ou seja, os vírus
tornam-se parasitas intracelulares obrigatórios, atuando como “piratas celulares”.
Quando a célula é invadida por um vírus, passa a funcionar exclusivamente na
produção de novos vírus. Essa invasão feita pelos vírus em células (infecção
celular) causa sérias alterações nos processos metabólicos da célula, podendo
causar a sua morte.

FIGURA 69 – EXEMPLOS DE VÍRUS

FONTE: Disponível em: <https://image.freepik.com/vetores-gratis/seis-tipos-de-


virus-no-fundo-branco_1308-3293.jpg>. Acesso em: 22 mar. 2018.

152
TÓPICO 2 | VÍRUS

Os vírus apresentam, em relação às células procarióticas e eucarióticas,


algumas diferenças importantes. Os dois tipos de células possuem tanto DNA
quanto RNA, porém, os vírus contêm somente um tipo de ácidos nucleicos –
RNA ou DNA, jamais os dois tipos ao mesmo tempo. Os vírus que possuem RNA
são chamados de retrovírus. Outro ponto interessante que iremos observar é que
as células crescem e se dividem, já os vírus não possuem essa característica.

Os vírus são constituídos por um cerne de ácido nucleico e por um


revestimento proteico denominado capsídeo (Figura 70). No capsídeo encontramos
proteínas virais (protômeros), que, em grupos, formam os capsômeros. Podemos
encontrar capsídeos com várias dezenas de capsômeros, sendo que o número
total de capsômeros que forma o capsídeo é uma característica de grupo de vírus.

FIGURA 70 – CAPSÍDEO
Envoltura
Envelope lipídico
Capsídeo Capsômero
Proteína
viral
Protômero
Ácido Ácido
nucleico nucleico

FONTE: Adaptado de: <http://www.biologia.edu.ar/viruslocal/images/estruc1.gif>. Acesso em:


17 out. 2010.

Um dado interessante é que a maioria das proteínas virais se agrupa


de forma espontânea, gerando um capsídeo simétrico – assumindo a forma
icosaédrica – ou também a forma helicoidal. Para Pelczar, Chan e Krieg (1997a,
p. 380), “[...] há vírus com simetria complexa ou indefinida. Por exemplo, os
arenavírus e os poxvírus possuem capsídeo com simetria irreconhecível”.

FIGURA 71 – MORFOLOGIA DOS VÍRUS. A – SIMÉTRICO. B – HELICOIDAL.


C – COMPLEXO

FONTE: Adaptado de: <http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/virus/


imagens/virus81.jpg>. Acesso em: 17 out. 2010.

153
UNIDADE 3 | CONTROLE DOS MICRORGANISMOS E OS PRINCIPAIS GRUPOS

Certos vírus apresentam uma membrana que é formada por uma


bicamada lipídica, denominada envelope. Quando o vírus apresentar uma
estrutura completa, incluindo seu envelope, caso tenha um, denomina-se vírion.

FIGURA 72–VÍRION – VÍRUS ENVELOPADO

Glycoproteins
Envelope

Tegument
Capsid
ds DNA

FONTE: Adaptado de: <http://www.healthcare.uiowa.edu/labs/grose/images/


VIRION.GIF>. Acesso em: 17 out. 2010.

Como já foi comentado anteriormente, há uma grande diferença em


relação às formas de vida celular que possui os dois ácidos nucleicos em cada
célula. Outra diferença é que o genoma das células de organismos superiores
(animais e vegetais) apresenta um DNA de dupla-fita, enquanto que o genoma
viral é constituído por DNA ou RNA, sendo de dupla-fita ou de uma só fita. Os
grupos virais apresentam uma variação na quantidade de ácidos nucleicos.

Além do ácido nucleico, encontramos outros componentes químicos nos


vírus e o principal deles é a proteína. Os vírus possuem uma capa proteica, porém
muitos outros possuem dentro do capsídeo algumas enzimas (com exceção de
alguns vírus, as mais comuns são as polimerases), que são liberadas no interior
da célula após os vírus efetuarem o seu desnudamento. A função dessas enzimas
é atuar no processo de replicação do ácido nucleico dos vírus. Segundo Pelczar,
Chan e Krieg (1997a, p. 383), “[...] sem uma polimerase viral, o RNA viral não
poderia ser transcrito e o vírus não seria replicado. Os retrovírus possuem uma
enzima [...] que sintetiza a fita de DNA, utilizando um genoma de RNA viral como
molde”. Encontramos no vírus uma enorme variedade de compostos lipídicos,
incluindo aqui os fosfolipídios, glicolipídios etc. Na grande totalidade dos vírus,
há carboidratos, já que a molécula de ácido nucleico é constituída por ribose ou
desoxirribose. Nos vírus com envelope (Figura 73) verificamos espículas que são
constituídas por glicoproteínas.

154
TÓPICO 2 | VÍRUS

FIGURA 73 – ESPÍCULAS

Espículas

F O N T E: A d a p t a d o d e : < h t t p : / / b l o g d o d i t o . co m . b r / w p - co n t e n t /
uploads/2009/11/blog-virus.jpg>. Acesso em: 17 out. 2010.

As formas de classificação dos vírus adotadas antes do conhecimento da


estrutura e das suas propriedades químicas eram bem diferentes das que são usadas
hoje. Boa parte dos cientistas fazia a classificação dos vírus baseando-se no tipo de
hospedeiro que eles infectavam ou simplesmente pelo tipo de estruturas atingidas
no hospedeiro. Assim, tínhamos os vírus bacterianos (vírus que infectam bactérias
– bacteriófagos (Figura 71C)) e os vírus que infectavam plantas e animais. Os
vírus animais foram agrupados de acordo com o tipo de tecido que atacavam – os
vírus que infectavam a pele eram classificados dermotrópicos; os que infectavam
os tecidos nervosos eram os neurotrópicos; os que atacavam as vísceras (órgãos
digestórios) eram classificados de viscerotrópicos; e os que provocavam infecções
dos pulmões (sistema respiratório) eram os pneumotrópicos.

2.1 REPLICAÇÃO
O processo de replicação viral é muito variado. Sabemos que estando fora
da célula hospedeira, os vírus não apresentam qualquer atividade metabólica e,
com isso, não têm a capacidade de reprodução pelos processos característicos
de outros microrganismos. O processo de replicação viral acontece quando os
componentes proteicos e o seu ácido nucleico são reproduzidos no interior dos
hospedeiros mais sensíveis. O vírus coordena todo o processo metabólico da
célula hospedeira, redirecionando-a, para que ela produza novos vírions em vez
de deixá-la trabalhar normalmente na produção de um novo material celular.

O vírus, de uma maneira geral, percorre algumas etapas em que ele possa
acelerar o processo de produção de mais vírions. Essas etapas, denominadas ciclos
de replicação, começam pela adsorção, que é o momento em que ele se fixa às
células hospedeiras. Numa próxima etapa, temos a penetração, ou seja, é a entrada
de seu genoma nas células hospedeiras. Dentro das células hospedeiras, o próximo
passo é fazer a síntese dos novos materiais de ácidos nucleicos, bem como a síntese
das proteínas do capsídeo e todos os outros componentes. O vírus promove tudo
isso, utilizando-se da maquinaria bioquímica (metabólica) das células. Com a
155
UNIDADE 3 | CONTROLE DOS MICRORGANISMOS E OS PRINCIPAIS GRUPOS

síntese, os vírus organizam novos componentes, que são sintetizados em vírions


completos. Esse processo é denominado de maturação. Com a maturação feita,
vamos para o último ciclo em que ocorre a saída dos novos vírions das células
parasitadas (hospedeiras). Essa fase do ciclo, de forma geral, provoca morte (lise)
das células hospedeiras, porém isso nem sempre acontece. Segundo Pelczar, Chan
e Krieg (1997a, p. 384), “[...] o local específico para a montagem e maturação do
vírus dentro da célula é característico para cada grupo de vírus. Uma vez montado
e maduro, os vírions são liberados da célula hospedeira”.

UNI

Caro acadêmico! Observe a figura a seguir para entender melhor o processo de


replicação viral.

FIGURA 74 – REPLICAÇÃO VIRAL

Absorção

Entrada

Replicação

Montagem

Liberação

FONTE: Disponível em: <http://www.brasilescola.com/upload/e/


lisogenico.jpg>. Acesso em: 17 out. 2010.

Numa comparação entre a replicação dos vírus animal e vegetal com a


replicação nos fagos de bactérias (bacteriófagos), existem muitas diferenças. Os fagos
dos vírus animal e vegetal divergem quanto ao seu mecanismo de penetrar na célula
hospedeira. Estando no interior das células animais e vegetais, os vírus divergem
também dos fagos na hora da síntese e na reunião dos novos componentes virais pelo
156
TÓPICO 2 | VÍRUS

fato da existência das diferenças entre as células procarióticas de uma bactéria com
as células eucarióticas dos animais e dos vegetais. Outros pontos de divergências
são quanto ao processo de maturação e liberação, bem como o efeito nas células
hospedeiras de animais e vegetais, que são totalmente diferentes dos fagos.

NOTA

Em dois países da Europa, no século passado, deu-se a descoberta dos


bacteriófagos. A primeira observação feita foi em 1915, na Inglaterra, pelo cientista Frederic
Twort. Dois anos mais tarde (1917), Felix d’Herelle, na França, deu o nome de bacteriófagos
(“comedores de bactérias”) a esses organismos que infectavam bactérias.
FONTE: SOUZA, Jeanette Beber de. Avaliação de métodos para desinfecção de água
empregando cloro, ácido peracético, ozônio e o processo de desinfecção combinado
ozônio/cloro. 2006. 176 p. Tese (Doutorado em Hidráulica e Saneamento) - Escola de
Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2006

FIGURA 75 – BACTERIÓFAGO

Capsideo proteico

Cabeça
DNA

Colar

Bainha da cauda

Núcleo

Cauda Fibras da cauda

FONTE: Adaptado de:<http://2.bp.blogspot.com/_vRkjCuX1CA0/SomzYqq4pQI/A


AAAAAAAAYQ/5hAmSVv6m74/s400/27-27f.jpg>. Acesso em: 17 out. 2010.

Como a grande maioria dos vírus, os bacteriófagos possuem a parte


interna (cerne) de ácido nucléico, que está envolvido por um capsídeo proteico
com a função de proteger o genoma das ações prejudiciais das nucleases e de
outras substâncias. Com relação ao genoma dos bacteriófagos, encontramos uma
só molécula de ácido nucleico, podendo ser DNA – uma só fita ou dupla fita. O
DNA pode ser linear ou circular, sendo que o RNA será linear de uma só fita (fita
única). Estruturalmente, os bacteriófagos podem ser simples ou complexos. Os
157
UNIDADE 3 | CONTROLE DOS MICRORGANISMOS E OS PRINCIPAIS GRUPOS

bacteriófagos designados por T2, T4 e T6 são os fagos T (T = tipo). Esses fagos não
apresentam envelopes e são complexos, além de possuir como material genético o
DNA de fita dupla. Dentre todos os fagos, o mais estudado é o T4, que apresenta,
na sua estrutura morfológica, um capsídeo em forma de cabeça, colar e cauda. O
DNA está empacotado na sua cabeça poliédrica, ligada a uma cauda espiralada.
Esse fago é considerado parasita intracelular obrigatório da Escherichia coli.

FIGURA 76 – REPRODUÇÃO VIRAL DO FAGO T4

REPRODUÇÃO VIRAL - CICLO LÍTICO DO FAGO T4


PENETRAÇÃO
ADESÃO Depois de fixado o virus inicia a
O vírus reconhece proteinas da cápsula ou da perfuração da parede celular da célula
parede bacteriana e se liga a ela. hospedeira e injeta o seu DNA
no citoplasma da célula bacteriana.

Parede
bacteriana
Cromossomo
bacteriano
Célula
hospedeira DNA do fago

Fago T4
Fibras proteicas
da cauda do fago
Parede bacteriana

Membrana plasmática
da célula bacteriana

Citoplasma bacteriano

BIOSSÍNTESE DE PROTEÍNAS VIRAIS


O DNA virai comanda a síntese dos componentes
virais (proteinas que formarão novos virus).

MATURAÇÃO DOS VÍRUS DENTRO DA CÉLULA


Com a síntese proteica e com a duplicação do
DNA do vírus, novos vírus são montados (como
um lego) dentro da célula bacteriana.

LISE BACTERIANA E LIBERAÇÃO DOS VÍRIONS


A célula hospedeira rompe-se, ou seja é lisada, e os
novos virions são liberados no meio ambiente, indo
então atacar outras bactérias.

FONTE: Adaptado de: <http://1.bp.blogspot.com/_dQyn47khNo4/S7DLjAD28lI/


AAAAAAAAAOc/Uz1uHZTKI6s/s1600/03_30_01.jpg>. Acesso em: 17 out. 2010.

158
TÓPICO 2 | VÍRUS

A classificação dos bacteriófagos não segue uma regra em particular. Os


cientistas determinam apenas códigos ou designações, sendo que essa forma
serve a algumas necessidades práticas dos laboratórios para nomearem grupos
de entidades infecciosas.

Quanto ao ciclo de vida dos bacteriófagos, podemos dizer que existem dois
tipos principais, que são: lítico (Figura 76) – também chamado de virulento – e
temperado ou avirulento. Os bacteriófagos com ciclo lítico provocam a destruição
das células bacterianas, ou seja, o vírion se replica e a célula hospedeira bacteriana
se rompe. Com o rompimento, ocorre a liberação dos novos fagos para infectar
outras células hospedeiras bacterianas. Esse fato não acontece com os bacteriófagos
temperados, pois não destroem as células hospedeiras bacterianas. O que ocorre
nessa infecção é que o ácido nucleico do vírus é incorporado ao genoma da célula
hospedeira, replicando-se na célula hospedeira bacteriana de geração em geração,
sem provocar o rompimento (lise) da célula. Todo esse processo é chamado de
ciclo lisogênico, que ocorre somente nos bacteriófagos de DNA de fita dupla. Em
certas situações e em gerações adiante, o bacteriófago pode provocar o ciclo lítico
de forma espontânea e romper as células hospedeiras bacterianas.

Após vários estudos sobre as doenças de animais e de plantas, os cientistas


acabaram por descobrir alguns outros agentes infecciosos não tanto comuns, que
foram denominados de viroides e príons. Esses agentes infecciosos chamaram
a atenção porque possuem algumas características dos vírus, porém as suas
estruturas são totalmente diferentes das estruturas virais.

Os viroides são agentes infecciosos que possuem os menores tamanhos


conhecidos até hoje. São encontrados somente em vegetais e causam várias
doenças, gerando sérios prejuízos à agricultura. Eles diferem dos vírus por não
possuírem uma capa proteica. Há viroides com RNA de fita dupla e RNA circular
de fita única. Já os príons são causadores de doenças com curso lento e progressivo,
que acaba sempre sendo fatal. Boa parte dessas doenças é caracterizada como
crônica, pois atacam o sistema nervoso central e seus períodos de incubação
podem ser horas, dias ou até anos. Esses quadros sugerem um agente infeccioso
do tipo viral não convencional, pois o lado incomum é a sua alta resistência à ação
da radiação ultravioleta e também ao calor.

Nos príons, é detectado apenas um componente que é a proteína e eles


não apresentam ácidos nucleicos. A única coisa que os assemelha aos vírus é a
sua reprodução, que também é feita dentro de uma célula hospedeira. Talvez a
codificação das proteínas dos príons seja feita por um gene do DNA normal de
um hospedeiro. Os príons não são vírus nem bactérias. São proteínas modificadas
do corpo. A maioria das doenças causadas pelos príons aparece na fase adulta e,
infelizmente, até o momento, são incuráveis. A infecção pelas proteínas patogênicas
pode se dar, mais comumente, de cinco formas: hereditariedade; uso de material
cirúrgico contaminado; consumo de carne de animais infectados; mutação eventual;
uso de hormônios. Algumas doenças detectadas no homem: Kuru, síndrome de
Gerstmann-Straussler-Scheinker (GSS), insônia familiar fatal (IFF), doença de
Creutzfeldt-Jakob (DCJ) e nova variante da doença de Creutzfeldt-Jakob (NVDCJ).

159
UNIDADE 3 | CONTROLE DOS MICRORGANISMOS E OS PRINCIPAIS GRUPOS

FIGURA 77– PRÍON NORMAL E PRÍON INFECCIOSO


Rogue Conformer
Normal Conformer
(speculative)

FONTE: Adaptado de:<http://bioquest.org/bedrock/problem_spaces/prion/


assets/prion_structure.jpg>. Acesso em: 17 out. 2010.

3 DOENÇAS CAUSADAS POR VÍRUS


Os vírus parasitas provocam muitas doenças nos seres vivos. Quando
invadem as células de um indivíduo, prejudicam todo o funcionamento normal
dessas células e, consequentemente, provocam doenças. A seguir, apresentaremos
um quadro com as principais doenças, transmissão, controle e seus sintomas.

QUADRO 9 – PRINCIPAIS DOENÇAS CAUSADAS POR VÍRUS NO HOMEM


Doença Transmissão Controle Sintomas
Saliva introduzida pela mordida de Vacinação de animais
Febre, mal-estar, delírios,
Hidrofobia animais infectados. O vírus penetra domésticos e aplicação de
convulsões, paralisia dos
(Raiva) pelo ferimento e instala-se no sistema soro e vacina em pessoas
músculos respiratórios.
nervoso. mordidas.

Injeção de
gamaglobulina em
pessoas que entram
Hepatite Gotículas de muco e saliva; Febre, anorexia, náuseas,
em contato com o
Infecciosa contaminação fecal de água e objetos. mal-estar, icterícia.
doente; saneamento,
cuidados com alimentos
ingeridos.

Parotidite (infecção das


Contato direto; objetos contaminados;
parótidas), com inchaço
gotículas de saliva. O vírus
abaixo e em frente das
Caxumba multiplica-se nas glândulas parótidas; Vacinação.
orelhas (pode tornar a
eventualmente localiza-se em outros
pessoa estéril se atingir os
órgãos, como ovários e testículos.
testículos ou os ovários).

160
TÓPICO 2 | VÍRUS

Gotículas de secreção expelidas pelas


Febre, prostração, dores
vias respiratórias. O vírus penetra
Gripe Nenhum. de cabeça e musculares,
pela boca ou pelo nariz, localizando-
obstrução nasal e tosse.
se nas vias respiratórias superiores.
Febre, prostração,
Gotículas de muco e saliva; contato
erupções cutâneas (em
direto. O vírus penetra pelas vias Aplicação de
Rubéola embriões provoca a
respiratórias e se dissemina através imunoglobulina.
morte ou deficiências
do sangue.
congênitas).
Gotículas de saliva; objetos
contaminados e contato direto. O
vírus penetra pelas mucosas das vias Febre alta e erupções
Varíola Vacinação.
respiratórias e dissemina-se através cutâneas.
do sangue; finalmente, atinge a pele e
as mucosas, causando lesões.
Contato direto e indireto com
secreções nasofaríngeas da pessoa Febre alta, tosse,
Sarampo doente. O vírus penetra pelas Vacinação vermelhidão por todo o
mucosas das vias respiratórias e corpo.
dissemina-se através do sangue.
Picada de mosquitos, entre os quais
se destaca o Aedes aegypti. O vírus Febre alta, náuseas,
Vacinação e combate
Febre penetra através da pele, dissemina-se vômitos, calafrios,
aos mosquitos
Amarela pelo sangue e localiza-se no fígado, prostração e pele
transmissores.
na medula óssea, no baço e em outros amarelada.
órgãos.
Alimento e objetos contaminados; Paralisia dos membros;
secreções respiratórias. O vírus em muitos casos ocorrem
penetra pela boca, multiplica-se no apenas febres baixas e
Poliomielite Vacinação.
intestino, dissemina-se pelo sangue e indisposição, que logo
instala-se no sistema nervoso central, desaparecem sem causar
onde destrói os neurônios problemas.
Uso de preservativos
nas relações sexuais e
Sangue, esperma e muco vaginal de agulhas descartáveis Febre intermitente,
contaminados. O vírus penetra ou esterilizadas; diarreia, emagrecimento
no organismo através de relações controle rigoroso, por rápido, inflamação
AIDS sexuais, uso de agulhas de injeção parte dos bancos de dos gânglios linfáticos,
contaminadas ou transfusões de sangue da qualidade doenças do aparelho
sangue infectado; ataca o sistema do sangue doado; ainda respiratório, infecções
imunológico. não existem remédios variadas, câncer de pele.
ou vacinas eficazes
contra a doença.

FONTE: Adaptado de: <http://eveh.tripod.com/virus.html>. Acesso em: 17 out. de 2010.

E
IMPORTANT

A febre aftosa é uma doença contagiosa causada por vírus. Essa doença atinge
animais que são utilizados na nossa alimentação, como: bois, cabras, porcos e ovelhas. Nós
não desenvolvemos essa doença, porém podemos servir de veículo para a contaminação
desses animais.

161
UNIDADE 3 | CONTROLE DOS MICRORGANISMOS E OS PRINCIPAIS GRUPOS

LEITURA COMPLEMENTAR 1

PRÍONS: PROTEÍNAS ANORMAIS PROVOCAM DOENÇAS

Alice Dantas Brites

As proteínas são os componentes fundamentais dos seres vivos e são


responsáveis pela maioria de suas funções vitais. O nome “proteína” deriva do
grego protos, que significa “o primeiro” ou “o mais importante”. Só para citar
alguns exemplos, são proteínas as fibras que compõem nossos músculos, nossos
fios de cabelo e as enzimas que digerem o alimento que comemos. As proteínas
também catalisam as reações metabólicas e permitem a construção de outras
moléculas essenciais para a vida.

As proteínas são codificadas pelos genes presentes no DNA e são


compostas por uma série de aminoácidos. Os aminoácidos se unem através
de ligações chamadas de ligações peptídicas e formam uma longa cadeia
denominada polipeptídio.

Uma das proteínas produzidas normalmente pelos genes de todos os


animais é a proteína príon celular (ou PrPc). Esta proteína atua nas células
nervosas e, em condições normais, não provoca nenhum dano ao organismo.

Porém, devido a algumas doenças, chamadas de doenças priônicas, a PrPc


pode ter sua estrutura alterada, formando uma proteína modificada, chamada
príon. Os príons são capazes de provocar a alteração da conformação de PrPcs
normais, transformando-as em outros príons. Este processo gera uma reação em
cadeia que produz mais e mais príons. A forma como isso ocorre ainda não está
clara para os cientistas.

As primeiras menções aos príons surgiram na década de 1960, quando


cientistas formularam a hipótese de que algumas doenças poderiam ser causadas
por fragmentos de proteínas. Em meados dos anos 80, outro cientista conseguiu
isolar essa proteína. Foi então que a forma alterada da proteína passou a ser
chamada de príon, e a proteína a partir do qual o príon se forma de proteína
príon celular (PrPc).

As doenças priônicas podem atingir tanto humanos quanto animais. Elas


atacam o sistema nervoso, prejudicando suas funções normais e matando as
células nervosas.

Doença da vaca louca

Acredita-se que um mal que acomete bovinos, a doença da vaca louca, seja
uma doença provocada por príons. A doença da vaca louca é também conhecida
como encefalopatia espongiforme bovina (ou EEB).

162
TÓPICO 2 | VÍRUS

A EEB ataca o gado provocando a morte de células de seu sistema nervoso


central. Devido à degeneração celular, formam-se buracos no tecido cerebral e este
fica com um aspecto esponjoso, vindo daí o nome encefalopatia espongiforme. O
gado passa a apresentar comportamentos estranhos e acaba morrendo.

Um dos primeiros casos de EEB ocorreu na década de 1980. Acredita-se


que o gado tenha contraído a doença através da ingestão de ração contendo carne
de ovelhas contaminadas, ou seja, contendo o príon. O Reino Unido foi a região
mais afetada pela doença, que, na década de 90, atingiu o status de epidemia,
provocando a morte de milhares de animais.

A doença provocou grande queda na importação e no consumo de carne


bovina provenientes do Reino Unido. Como forma de conter a doença, em 1988,
no Reino Unido e, alguns anos depois, na Europa toda, foi proibido o uso de
ração bovina contendo carne de outros ruminantes.

Atualmente, as criações de gado do Reino Unido são constantemente


monitoradas para averiguar a presença de animais contaminados. Através desses
programas, verificou-se que a incidência da doença vem caindo a cada ano.

Acredita-se que a EEB esteja ligada a uma variação de uma doença


degenerativa do sistema nervoso humano, chamada de doença de Creutzeldt-
Jakob (ou vCDJ). Segundo a teoria mais aceita, o homem contrai a doença
principalmente através da ingestão de carne de animais infectados pela vaca
louca. Outra hipótese que já foi levantada é a de que a doença seja adquirida
devido a uma infecção viral. Essa infecção provocaria a produção de proteínas
anormais, ou seja, de príons.

Os principais sintomas desta variação da doença de Creutzeldt-Jakob


são alterações comportamentais, alucinações, perda de memória, convulsões,
dificuldades locomotoras e outros distúrbios neurológicos. O diagnóstico,
geralmente, é feito através de exames do líquido cefalorraquidiano, ressonâncias
eletromagnéticas do cérebro e biópsias de tecidos do sistema nervoso central.

Segundo a Organização Mundial de Saúde, o primeiro caso foi registrado


em 1996 e, até 2002, ocorreram cerca de 138 casos, sendo a maioria no Reino
Unido. Embora rara, a doença é fatal e ainda não existem tratamentos com eficácia
comprovada.

FONTE: Disponível em: <http://educacao.uol.com.br/biologia/prions.jhtm>. Acesso em: 17 out. 2010.

163
UNIDADE 3 | CONTROLE DOS MICRORGANISMOS E OS PRINCIPAIS GRUPOS

LEITURA COMPLEMENTAR 2

TRANSMITIR O VÍRUS PODE VIRAR CRIME TRÊS PROJETOS


QUE TRAMITAM NA CÂMARA TRATAM DE SEXO SEM O USO DA
CAMISINHA

Carolina Khodr

O Código Penal prevê cadeia para quem transmite doença por ato sexual.
Na Câmara, três projetos a respeito do assunto abordam os portadores de HIV. A
comunidade médica se divide sobre o tema, mas o Ministério da Saúde e ONGs
têm posição contrária.

Entre os crimes previstos no Código Penal, este certamente não é um dos


mais conhecidos, mas está lá, com todas as letras: pena de três meses a um ano
de prisão para quem transmitir doença por ato sexual. Apesar de constar na lei, a
criminalização de pessoas com HIV que fazem sexo sem proteção e disseminam
a doença ainda é um tema polêmico.

Pesquisa divulgada pela Universidade de São Paulo (USP), realizada com


cerca de dois mil médicos, mostra que 61% deles defendem que transmitir o vírus
da AIDS em relações sexuais sabendo da condição de portador é crime. Posição
não partilhada pelo Ministério da Saúde e por organizações não governamentais
que lutam contra a discriminação de portadores de HIV.

O presidente da Federação Nacional de Médicos, Cid Carvalhaes, explica


que, se a pessoa tem conhecimento de sua condição soropositiva e recebe
orientação sobre as precauções, mas, ainda assim, assume o risco e expõe outras
pessoas, deve ser punida por isso. “Não tem como defender a inocência nesse
caso”, afirma.

O especialista esclarece que não se trata de preconceito, mas de


responsabilidade. “A AIDS é uma doença altamente transmissível, grave e que
não tem cura, apenas controle. Por isso, os dois lados têm que se prevenir”.

FONTE: Disponível em: <http://www.clicrbs.com.br/anoticia/jsp/default2 jsp?uf=2&local=18&source=a


3077271.xml&template=4187.dwt&edition=15711&section=2002>. Acesso em: 17 out. 2010.

164
RESUMO DO TÓPICO 2

Neste tópico você estudou que:

• Os vírus são agentes infecciosos não celulares, com genomas que podem ser de
DNA ou RNA.

• Os vírus que possuem RNA são chamados de retrovírus.

• A replicação só acontece em células vivas, utilizando o metabolismo da célula


hospedeira para poderem produzir mais vírus, que infectam outras células.

• Os vírus possuem, na sua constituição central, o ácido nucleico, que é envolvido


por uma capa proteica, também chamada de capsídeo.

• A replicação viral acontece pela adsorção, penetração, síntese, maturação e
liberação.

• No início do século passado – 1915 e 1917 – descobrem-se os bacteriófagos


“comedores de bactérias”.

• Há dois tipos de fagos: lítico e lisogênico (temperado), sendo que no ciclo lítico
ocorre o rompimento da célula hospedeira bacteriana e no lisogênico pode
acontecer ou não o rompimento.

• Os viroides são considerados os menores agentes infecciosos até então


conhecidos e sua composição é só RNA, não possuindo proteínas ou qualquer
outro composto encontrado nos vírus.

• Os agentes infecciosos denominados príons são constituídos somente por


partículas de proteínas.

165
AUTOATIVIDADE

1 Conforme o que estudamos sobre vírus, classifique as


seguintes sentenças em V (verdadeiras) ou F (falsas):

( ) O vírus é o único ser vivo acelular.


( ) Seu material genético é exclusivamente o RNA.
( ) AIDS, raiva, tétano, coqueluche e sífilis são todas doenças causadas por vírus.
( ) Os vírus também causam várias doenças aos animais e às plantas.
( ) Os vírus não manifestam atividade vital fora da célula hospedeira.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) A sequência correta é: V – V – F – F – V.
b) ( ) A sequência correta é: F – V – V – V – V.
c) ( ) A sequência correta é: F – F – V – F – F.
d) ( ) A sequência correta é: V – F – F – V – V.

2 Um dos métodos mais eficientes para o combate de


doenças infecciosas disponibilizado pelos órgãos de saúde
é a vacinação. Dentre as doenças ocasionadas por vírus,
podemos relacionar as seguintes:

a) ( ) Gonorreia e raiva ou hidrofobia.


b) ( ) Cólera e meningite meningocócica.
c) ( ) Raiva ou hidrofobia e poliomielite.
d) ( ) Poliomielite e gonorreia.

3 Indique em qual dos seres vivos, citados a seguir, o ácido


desoxirribonucleico (DNA) e o ácido ribonucleico (RNA) não
ocorrem em um mesmo indivíduo:

a) ( ) Bactéria.
b) ( ) Protozoário.
c) ( ) Vírus.
d) ( ) Fungos.
e) ( ) Algas.

FONTE: Disponível em: <http://www.professor.bio.br/provas_topicos.asp?topico=V%EDrus>.


Acesso em: 27 nov. 2010.

166
4 Impressionados com a notícia do poder arrasador de como o
vírus Ebola vem dizimando uma certa população na África,
alguns alunos de um colégio sugeriram medidas radicais para
combater o vírus desta terrível doença. Considerando-se que
este agente infeccioso apresenta características típicas dos demais vírus,
assinale a alternativa que contenha a sugestão mais razoável:

a) ( ) Descobrir urgentemente um potente antibiótico que possa destruir a


sua membrana nuclear.
b) ( ) Alterar o mecanismo enzimático mitocondrial para impedir o seu
processo respiratório.
c) ( ) Injetar nas pessoas contaminadas uma dose maciça de bacteriófagos
para fagocitar o vírus.
d) ( ) Cultivar o vírus “in vitro”, semelhante à cultura de bactérias, para tentar
descobrir uma vacina.
e) ( ) Impedir, de alguma maneira, a replicação da molécula de ácido
nucleico do vírus.

FONTE: Disponível em: <http://www.questoesdevestibular.com/biologia/bioquimica/


bioquimica-_-questao-28-(ufv).html>. Acesso em: 27 nov. 2010.

5 O texto a seguir se refere a etapas do ciclo reprodutivo dos


vírus A.
O vírion A adere à célula hospedeira e injeta nessa célula o
seu DNA. Os genes virais são transcritos em moléculas de
RNA posteriormente traduzidas em proteínas virais. Essas proteínas
induzirão a multiplicação do DNA viral. Em seguida, já com a célula
hospedeira totalmente controlada pelo vírus, são produzidas proteínas
para a construção de cabeças e caudas virais, que se agregarão ao DNA
formando vírus completos. Cerca de 30 minutos após a adesão do vírion
à célula, ocorre a lise celular, com a liberação de centenas de vírions
maduros, aptos a reiniciar novo ciclo. De acordo com o texto, é correto
afirmar que:

a) ( ) A é um retrovírus.
b) ( ) A pode causar gripe.
c) ( ) A é um vírus envelopado.
d) ( ) A é um bacteriófago.

FONTE: Adaptado de: <http://www.portalimpacto.com.br/docs/Vest2010BioRinaldoAula04.


pdf>. Acesso em: 27 nov. 2010.

167
6 DNA pode facilitar a transformação de proteínas
envolvidas em doenças degenerativas. Estudos recentes
podem ajudar a entender como a proteína normal se
transforma em príon, o agente infeccioso responsável pela
transmissão de doenças espongiformes que atacam animais, inclusive o
homem.(Ciência Hoje, v. 30, n 179, p. 12-13).

Um exemplo de doença provocada pelo príon é:

a) ( ) A vaca louca.
b) ( ) A dengue.
c) ( ) A cólera.
d) ( ) O carbúnculo.
e) ( ) A influenza.

FONTE: Disponível em: <http://www.ucs.br/ucs/tplEventos/vestibular/vestibularverao2011/


concursosanteriores/2002inverno/provas/provainverno2002/biologia.pdf>. Acesso em: 27 nov.
2010.

7 Qual é a diferença entre vírus e viroide?

168
UNIDADE 3
TÓPICO 3

PRINCIPAIS GRUPOS DE MICRORGANISMOS


EUCARIONTES E PARASITAS

1 INTRODUÇÃO
Até agora nossas atenções estavam voltadas somente aos microrganismos
procarióticos, ou seja, às bactérias do Reino Monera, bem como aos organismos
acelulares, os vírus. Neste tópico, estudaremos os microrganismos eucariontes,
que também despertam interesse junto à comunidade científica pelo fato de
existirem milhares de espécies.

Os processos celulares e as formas dos microrganismos eucariontes são


muito variáveis, podendo ser divididos nos seguintes grupos: fungos, algas
e protozoários. Nesses grupos (Reinos), há um grande número de organismos
microscópicos, sendo que alguns fornecem alimentos, antibióticos e outros
causam sérias doenças. Esquemas de classificações específicos foram criados para
que pudessem auxiliar na compreensão das inúmeras formas de microrganismos
eucarióticos. Vamos notar que, muitas vezes, a classificação de um determinado
organismo num nível taxonômico não significa que ele está nesse nível para
sempre e que os microrganismos eucarióticos possuem complexos ciclos de vida,
processos reprodutivos alternativos, morfologia variável, são causadores de
doenças e importantes nos processos ambientais e econômicos.

2 FUNGOS
Num passado distante, os fungos foram considerados plantas que haviam
perdido as suas características funcionais, ou seja, perderam a clorofila e sem ela
não tinham a capacidade de realizar a fotossíntese. Por esse motivo, eles foram
incluídos no Reino Plantae. Em décadas mais recentes, as classificações admitem
que os fungos são diferentes dos outros grupos de seres vivos e passam a integrar
um reino próprio – o Reino Fungi (PELCZAR; CHAN; KRIEG, 1997a). Todos
os fungos são eucarióticos heterotróficos, isto é, não possuem capacidade de
sintetizar matéria orgânica, pois, ao contrário das plantas, são desprovidos de
clorofila. Alguns são saprofíticos – fungos que vivem sobre matéria orgânica em
decomposição.

169
UNIDADE 3 | CONTROLE DOS MICRORGANISMOS E OS PRINCIPAIS GRUPOS

Os fungos são muito importantes para o funcionamento dos ecossistemas,


já que fazem a reciclagem, digerindo matéria orgânica morta e resíduos orgânicos,
transformando-os em matéria inorgânica, que é reutilizada pelas plantas.
Diferente das células animais, os fungos possuem uma parede celular composta
de quitina, que é um polissacarídeo encontrado no exoesqueleto dos artrópodes.
Os fungos obtêm os alimentos por absorção, secretam enzimas digestórias sobre
o substrato que colonizam e depois absorvem as moléculas simples resultantes da
degradação enzimática do substrato, ao contrário dos animais, que os obtêm por
ingestão. Existem também os fungos parasitas que, para obterem os nutrientes
necessários, os absorvem de tecidos (tanto animais como vegetais) dos hospedeiros
vivos. Há os que vivem em mutualismo, que é uma espécie de relação benéfica
com outros organismos. Esses fungos que vivem associados a outros organismos
podem estar juntos às raízes de árvores, onde ajudam na absorção de sais e água.
Esta associação recebe o nome de micorrizas.

FIGURA 78 – MICORRIZAS – ASSOCIAÇÃO HARMÔNICA DE FUNGOS COM PLANTAS

Fungo
(Boletus)

Hifas del
hongo

Raízes do
pinheiro
Hifas (Pinus)
Raízes

MICORRIZAS

FONTE: Disponível em: <http://cdcc.usp.br/ciencia/artigos/art_20/colombiaimagem/


micorriza.jpg>. Acesso em: 17 out. 2010.

Outra forma de associação é entre o fungo (os mais comuns são os


ascomicetos) e as algas (clorofíceas unicelulares), originando os liquens. Nesse
caso, o fungo consegue água e umidade captada do ar, obtendo a matéria orgânica
(substâncias nutritivas) das algas.

170
TÓPICO 3 | PRINCIPAIS GRUPOS DE MICRORGANISMOS EUCARIONTES E PARASITAS

FIGURA 79 – LÍQUEN – ASSOCIAÇÃO DE ALGA E FUNGO

FONTE: Disponível em: <http://www.cameraviajante.com.br/l%C3%ADquen%20


c%C3%B3pia.jpg>. Acesso em: 17 out. 2010.

A grande parte dos fungos como, por exemplo, os bolores e os cogumelos,


são multicelulares, sendo que as leveduras são unicelulares. Os fungos produzem
esporos que são dispersos pela ação dos ventos.

Os fungos mais primitivos possuem as formas ameboides e outros


apresentam movimentos através de flagelos. Outra característica muito importante
de boa parte dos fungos é a de que eles promovem a síntese e o armazenamento
de glicogênio (polissacarídeo de reserva energética).

Os fungos multicelulares apresentam em sua constituição corporal


estruturas filamentosas microscópicas ramificadas denominadas hifas. A
formação de um conjunto de hifas forma o micélio (Figura 80), que constitui o
corpo do fungo. O formato de uma hifa é a de um tubo microscópico, que contém
o material celular do fungo.

171
UNIDADE 3 | CONTROLE DOS MICRORGANISMOS E OS PRINCIPAIS GRUPOS

FIGURA 80 – CONJUNTO DE HIFAS - MICÉLIO


Estrutura reprodutora

Estruturas produtoras
Hifas de esporas

Micélio
FONTE: Disponível em: <http://www.cientic.com/imagens/img_fungo2.
jpg>. Acesso em: 17 out. 2010.

Temos dois tipos de hifas: septadas e cenocíticas (Figura 81). As hifas


podem ser septadas devido à existência de septos transversais incompletos,
com delimitação dos compartimentos celulares. Dependendo do estágio do
ciclo sexual, esses compartimentos apresentam um ou dois núcleos. Quando
não existem septos (sem divisões transversais), ou seja, os tubos são contínuos
e estão preenchidos por substâncias citoplasmáticas com centenas de núcleos,
denominam-se hifas cenocíticas. Encontramos nas hifas uma parede celular, a
mesma das células das plantas, sendo que o seu principal constituinte é a quitina.

FIGURA 81 – TIPOS DE HIFAS. A – HIFAS SEPTADAS. B – HIFAS CENOCÍTICAS

FONTE: Disponível em: <http://mjbcienciasnaturales.blogspot.com/2009/10/reino-


fungi.html>. Acesso em: 17 out. 2010.

172
TÓPICO 3 | PRINCIPAIS GRUPOS DE MICRORGANISMOS EUCARIONTES E PARASITAS

O processo de reprodução dos fungos é assexuado por esporos. Os


esporos são formados por mitoses no interior de esporângios, que se diferenciam
nas extremidades das hifas. Todos os esporos assexuais, como os bolores, que não
são produzidos na parte interna dos esporângios, são denominados de conídios e
a sua formação se dá de duas formas: por fragmentação das hifas ou gemulação.

FIGURA 82 – CONIDIÓSPOROS – CONÍDIOS

FONTE: Disponível em: <http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/fungos/imagens/


fungos-78.gif>. Acesso em: 17 out. 2010.

A reprodução sexuada ocorre quando há a fusão das hifas de tipos sexuais


compatíveis ou somente entre células móveis. Após ter ocorrida a fusão nuclear e
a meiose é que são produzidos os esporos sexuais. Os fungos apresentam a fase
haploide (n) e a fase diploide (2n), porém exibem outra condição nuclear, que é a fase
dicariótica (n + n), na qual as hifas possuem dois núcleos haploides geneticamente
distintos. Os cogumelos (hifas especiais que crescem em agrupamentos compactos,
constituindo os corpos de frutificação) são estruturas macroscópicas produzidas
por muitos fungos, tudo por causa da sua reprodução sexuada.

Quanto à classificação, há grupos de fungos inferiores flagelados e


grupos de fungos terrestres. Os fungos inferiores flagelados estão divididos em
quatro grupos: Chytridiomycetes, Hyphochytridiomycetes, Plasmodiophoromycetes e
Oomycetes.

• Chytridiomycetes: os quitrídios são fungos que vivem no solo ou em água doce,


unicelulares, possuem hifas cenocíticas, podem ser parasitas ou saprófitas e
possuem um único flagelo posterior em seus esporos, tornando-os móveis. As
paredes celulares desses fungos são constituídas de quitina, sendo que algumas
também possuem celulose. Muitos possuem um ciclo de vida bastante complexo
com vários meios de desenvolvimento alternativo. Ex.: Chytridium olla.

173
UNIDADE 3 | CONTROLE DOS MICRORGANISMOS E OS PRINCIPAIS GRUPOS

FIGURA 83 – Chytridium olla

FONTE: Disponível em: <http://thm-a02.yimg.com/nimage/


d26b2d15db1a4828>. Acesso em: 21 out. 2010.

• Hyphochytridiomycetes: os hifoquitrídios, assim como os quitrídios, são fungos


que vivem na água doce e também no solo, são saprófitas ou parasitas, também
possuem um flagelo falso localizado na extremidade anterior. Produzem
zoósporos que nadam em direção ao novo hospedeiro ou substrato. Esse grupo
só se reproduz de forma assexuada. Ex.: Rhizidiomyces apophysatus.

FIGURA 84 – Rhizidiomyces apophysatus

FONTE: Disponível em: <http://folk.uio.no/klaush/hyph.gif>. Acesso em:


21 out. 2010.

174
TÓPICO 3 | PRINCIPAIS GRUPOS DE MICRORGANISMOS EUCARIONTES E PARASITAS

• Plasmodiophoromycetes: os plasmodioforomicetos são fungos parasitas


obrigatórios e heterotróficos. Atacam plantas, algas e outros fungos, causando-
lhes o aumento (hipertrofia) e a multiplicação (hiperplasia) anormal da célula
hospedeira, porém, muitos não causam prejuízos. Na reprodução, formam
zoósporos com dois flagelos anteriores. Ex.: Plasmodiophora brassicae, causador
das hérnias, principalmente nos repolhos.

FIGURA 85 – HÉRNIAS NAS RAÍZES DE REPOLHO CAUSADAS POR


Plasmodiophora brassicae

FONTE: Disponível em: <http://www.bitkisagligi.net/Crucifer/cruciferresim/


Plasmodiophora_brassicae.jpg>. Acesso em: 21 out. 2010.

• Oomycetes: os oomicetos são fungos filamentosos com micélio cenocítico.


Também são saprófitas ou parasitas aquáticos de algas e parasitas terrestres
de plantas. Para se alimentar, introduzem suas hifas no interior das células
hospedeiras. Os zoósporos possuem dois flagelos para locomoção. Ex.:
Phytophthora infestans, que causa doenças em batatas.

FIGURA 86 – ESPORÂNGIO DE Phytophthora infestans.

FONTE: Disponível em: <http://top-10-list.org/wp-content/uploads/2009/09/


Phytophthora-Infestans.jpg>. Acesso em: 21 out. 2010.

175
UNIDADE 3 | CONTROLE DOS MICRORGANISMOS E OS PRINCIPAIS GRUPOS

De modo geral, o ciclo de vida dos fungos inferiores flagelados consiste


em duas etapas: sexuada, com formação de gametas, e assexuada, com formação
de esporos.

A seguir, podemos observar o ciclo de vida dos Chytridiomycetes, que tem


duas etapas: a sexuada e a assexuada. Na fase sexuada, o gametângio, produtor
de gametas masculino e feminino, libera seus gametas haplóides, que se fundem
e formam um zigoto diploide biflagelado. Em condições adequadas, o zigoto
germina e dá origem a um esporófito, produtor de zoósporos. Os zoósporos
sofrem meiose, originando zoósporos haploides. Esses se desenvolvem, dando
origem a um gametófito. Na fase assexuada, o esporófito produz zoosporângios
que contém zoósporos diploides flagelados. Em condições adequadas, germinam
e dão origem a um novo esporófito.

FIGURA 87 – CICLO DE VIDA DE CHYTRIDIOMYCETES


Gametângio

Gametófito
Micélio

Gameta Gameta
Cisto

Fusão celular
Zigoto e nuclear
móvel Zoósporo
haplóide
Meiose
Cisto
Zoosporângio
Esporófito
Micélio

Cisto Zoosporângio

Zoósporo
diplóide
FONTE: Adaptado de: <http://microbewiki.kenyon.edu/images/thumb/1/13/
Carl34ChytridCycle3.jpg/300px-Carl34ChytridCycle3.jpg>. Acesso em: 21
out. 2010.

176
TÓPICO 3 | PRINCIPAIS GRUPOS DE MICRORGANISMOS EUCARIONTES E PARASITAS

Existem também os fungos terrestres que estão divididos em quatro


grupos: Zygomycetes, Ascomycetes, Basidiomycetese Deuteromycetes.

• Zygomycetes: os zigomicetos são fungos que possuem hifas cenocíticas, são


saprófitas, alguns são parasitas e se reproduzem sexuadamente, com a formação
do zigósporo. Também se reproduzem assexuadamente, com formação de
esporangiósporos, que se desenvolvem no interior dos esporângios. Não
possuem corpo de frutificação. Alguns zigomicetos são utilizados na fabricação
de molho de soja, ácidos orgânicos, drogas anti-inflamatórias e contraceptivas.
Ex.: Rhizopus stolonifer, o bolor preto do pão.

FIGURA 88 – CICLO DE VIDA DE ZYGOMYCETES


Detalhe da fusão Zigoto
de micélios sexualmente Fecundação
(zigosporângio)
compatíveis (fusão de hifas)
(2n)
(plasmogamia)

Esporângio

Esporos
(n) MEIOSE
Gametângios
de sexos
diferentes Esporângio
Esporos
(n)
Desenvolvimento
de um esporo
(n)
Reprodução
assexuada

Micélio

FONTE: Disponível em: <http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/fungos/imagens/fungos-92.


jpg>. Acesso em: 21 out. 2010.

• Ascomycetes: os ascomicetos incluem fungos com hifas septadas com um


ou mais núcleos. Seus esporos asse­xuais são normalmente conídios. Alguns
produzem corpo de frutificação denominado ascocarpo. Ascósporos são esporos
sexuados que se originam da fusão do núcleo de duas células contidos numa
estrutura em forma de saco, o asco. Dentro de cada asco há quatro ascósporos
(produto de duas células diploides), que sofrem mitose, formando oito células,
que se dispõem enfileiradas na ordem em que foram formadas. Ex.: leveduras
(Saccharomyces cerevisiae – fermenta pães e produz álcool em cervejas e vinhos).

177
UNIDADE 3 | CONTROLE DOS MICRORGANISMOS E OS PRINCIPAIS GRUPOS

FIGURA 89 – CICLO DE VIDA DE ASCOMYCETES


Ascocarpo
Conídeos
Dispersão Hifa dicariótica
Reprodução
Assexuada Germinação
Micélio
Anterídeo
Ascogônio
Conídeos Anterídeo
(Esporos) Ascogônio
PLASMOGAMIA

Linhagem
Reprodução Asco (dicariótico)
+ Linhagem
Sexuada
Hifa dicariótica
Micélio Núcleo diplóide
Germinação CARIOGAMIA
(zigoto)
Dispersão Oito
ascóporos Quatro núcleos
haplóides
Ascóporos

MEIOSE

Mitose

FONTE: Adaptado de: <http://www.thaigoodview.com/files/u19289/Ascomycota.jpg>. Acesso


em: 21 out. 2010.

E
IMPORTANT

Cariogamia é a fusão dos núcleos dos gametas masculino e feminino, que são
haploides, dando origem ao núcleo diploide zigoto ou ovo.

• Basidiomycetes: os basidiomicetos são fungos de hifas septadas. Esses fungos


possuem basídios que são estruturas reprodutivas onde ocorre a cariogamia.
Cada basídio produz quatro basidiósporos haploides por meio da meiose.
Esses basidiósporos haploides germinam e originam hifas. Hifas haploides se
unem e formam micélio dicariótico, que se diferencia em basidiocarpo ou em
um micélio produtor de basídios. Ex.: Cogumelos, orelhas-de-pau, bufa-de-
lobo, carvão, ferrugem.

178
TÓPICO 3 | PRINCIPAIS GRUPOS DE MICRORGANISMOS EUCARIONTES E PARASITAS

FIGURA 90 – CICLO DE VIDA DE BASIDIOMYCETES


Lamela
(ampliação) MEIOSE
Fusão de núcleos ZIGÓTICA
(fecundação)
R!

Liberação
Zigotos dos
(2n) basidiósporos
Basidiósporos
(n)

Corpo de
frutificação
(basidiocarpo)

Germinação
Hifas dos
haplóides basidiósporos
(n)
Micélio
dicariótico

Fusão de micélios
Hifas compatíveis
dicarióticas

MEIOSE
Fusão nuclear R! Formação dos
(fecundação) basidiósporos

Basídio

Hifa dicariótica Zigoto Núcelos haplóides Basidiósporos


(2n) (n) (n)

FONTE: Disponível em: <https://estudandoabiologia.files.wordpress.com/2012/10/


basiodcarpo-1.jpg> Acesso em: 22 mar. 2018.

• Deuteromycetes: os deuteromicetos só se reproduzem assexuadamente, com


produção de esporos assexuais ou conídios que se desenvolvem em micélios
septados. Algumas espécies são conhecidas na indústria e na medicina. Para
Purves et al. (2002, p. 530), “os deuteromicetos não são considerados um filo, mas
sim um “grupo de espera” para espécies cuja posição ainda está por ser resolvida”.
Ex.: Aspergillus sp, decompositores de alimentos; Penicillium notatum, antibiótico
penicilina; Candida albicans, doença da mucosa da boca, vagina e trato alimentar.

FIGURA 91 – DEUTEROMYCETES

FONTE: Disponível em: <http://www.emlab.com/s/sampling/env-report-09-2006.


html>. Acesso em: 21 out. 2010.

179
UNIDADE 3 | CONTROLE DOS MICRORGANISMOS E OS PRINCIPAIS GRUPOS

A ação parasitária dos fungos nos vegetais causa inúmeros prejuízos


econômicos no campo, com a destruição de lavouras inteiras. As doenças causadas
pelos fungos aos seres humanos são denominadas de micoses. Geralmente as micoses
são causadas por mais de um organismo, sendo classificadas como: superficiais,
subcutâneas ou sistêmicas. As que atingem somente os tecidos queratinizados
da pele, cabelos e as unhas são denominadas superficiais. Toda aquela que
afetar as camadas da pele abaixo do tecido queratinizado e que pode haver uma
disseminação para vasos linfáticos é denominada subcutânea e, por último, temos
aquela que afeta órgãos internos, causando sérios danos, é denominada sistêmica.
Existem os chamados fungos oportunistas, que numa primeira impressão não
causam doenças, porém os indivíduos com o sistema imunológico abalado podem
adquiri-las, causando sérios problemas. Um exemplo são os pacientes com AIDS.

3 ALGAS
Os sistemas de classificação foram sofrendo modificações ao longo dos tempos,
causando alguns problemas para a classificação correta das algas. Alguns críticos do
sistema de classificação em cinco reinos dizem que elas não seguem a diretriz básica de
uma sistemática moderna, ou seja, não refletem os parentescos evolutivos.

A diretriz aponta que uma categoria taxonômica deve ser monofilética,


ou seja, em algum momento do passado, todos os seus representantes devem ter
tido um ancestral comum, de quem herdaram as características típicas da qual
compartilham e que faz com que possam ser distinguidos dos outros grupos.

FONTE: Disponível em: <http://www.moderna.com.br/pnlem2009/fazendo/manuais/manual_


biologia2.pdf>. Acesso em: 29 nov. 2010.

Recentemente, várias pesquisas apontam que o Reino Protoctista (protista)


é polifilético e seus representantes, de forma genérica denominados protozoários
e algas, possuem ancestralidades distintas. Para Purves et al. (2002), os protistas
não são um grupo monofilético, pois vários têm um vínculo mais íntimo com
os animais do que com outros protistas. Alguns apresentam mobilidade,
enquanto outros são sésseis; alguns são fotossintetizantes, enquanto outros são
heterotróficos; e a maioria é unicelular.

Apesar de alguns biólogos considerarem o termo incorreto, alguns


protistas são classificados como animais e são denominados protozoários, pois
apresentam nutrição heterotrófica por ingestão de alimentos. Outros protistas são
do tipo fotossintetizante, sendo denominados pelos biólogos como algas. As algas
vivem em ambientes marinhos, em água doce e também em terra firme, ocupando
superfícies úmidas. Algumas espécies são unicelulares (microscópicas) e outras
são multicelulares, que formam filamentos de grande porte, que lembram plantas.
Essas estruturas laminares ou compactadas fazem lembrar os caules e folhas das
plantas superiores. Denomina-se talo o corpo das algas multicelulares. Nesse grupo,
também existe muita discordância quanto aos detalhes da classificação. Para Pelczar,
180
TÓPICO 3 | PRINCIPAIS GRUPOS DE MICRORGANISMOS EUCARIONTES E PARASITAS

Chan e Krieg (1997a), alguns esquemas de classificação enumeram os principais


grupos das algas entre 4 a 13, entretanto, o que fica claro é que elas são classificadas
baseando-se no conjunto e na propriedade dos pigmentos apresentados; no
conjunto dos produtos de reserva e de armazenamento; no ponto de fixação e na
morfologia dos seus flagelos, bem como no seu tipo e número; na composição da
parede celular, na análise de sua composição química e características físicas; na
análise morfológica e nas características das células e talos.

De acordo com a classificação mais aceita, as algas estão divididas em seis


grupos:

• Chlorophyta: as clorófitas são algas verdes que vivem em ambientes de água


doce e algumas em ambientes marinhos. São uni ou multicelulares, com dois
ou mais flagelos iguais. Possuem clorofila e carotenoides. A parede celular é
composta por celulose e pectina.

FIGURA 92 – ALGAS VERDES

FONTE: Disponível em: <http://4.bp.blogspot.com/_PX_pdD_


qIS0/SdU4_-IFHPI/AAAAAAAAABo/ODBEbVp9N44/s1600-h/
Cosmarium+spp..jpg>. Acesso em: 21 out. 2010.

• Phaeophyta: as feófitas são algas marrons, que vivem em ambientes marinhos. São
multicelulares e macroscópicas. Produzem zoósporos com dois flagelos laterais.
Possuem clorofila e sua parede celular é composta de celulose com ácidos algínicos.

FIGURA 93 – ALGAS MARRONS

FONTE: Disponível em: <http://3.bp.blogspot.com/_PX_pdD_qIS0/


SdU6hEGzKhI/AAAAAAAAACQ/X9uQO24vd_o/s1600-h/feofita.jpg>.
Acesso em: 21 out. 2010.

181
UNIDADE 3 | CONTROLE DOS MICRORGANISMOS E OS PRINCIPAIS GRUPOS

• Rodophyta: as rodófitas são algas vermelhas que vivem no mar, porém, algumas
em água doce. São multicelulares e macroscópicas sem flagelo. Possuem clorofila,
carotenoides e ficoeritrina. Possuem parede celular composta de celulose e pectina.

FIGURA 94 – ALGAS VERMELHAS

FONTE: Disponível em: <http://www.unav.es/botanica/bpnvasc/


imagenes/ab/Gelidium%20pulchellum.jpg>. Acesso em: 21 out. 2010.

NOTA

A alga Gelidium (Figura 94) é produtora de uma substância gelatinosa conhecida


como ágar-ágar, muito utilizada pela indústria farmacêutica na fabricação de laxantes e
também empregada no preparo de meio de cultura para bactérias. Na fabricação de sorvetes
é utilizada a carragenina, substância retirada dessa alga.

• Chrysophyta: as crisófitas são algas douradas que vivem em ambiente marinho.


São unicelulares, com um ou dois flagelos. Possuem clorofila e carotenoides.
Sua parede celular apresenta compostos pécticos com material silicoso.

FIGURA 95 – ALGAS DOURADAS

FONTE: Disponível em: <http://2.bp.blogspot.com/_PX_pdD_qIS0/


SdU7js_gRgI/AAAAAAAAACg/qFwnu7aj-jI/s1600-h/Diatomea.jpg>.
Acesso em: 21 out. 2010.

182
TÓPICO 3 | PRINCIPAIS GRUPOS DE MICRORGANISMOS EUCARIONTES E PARASITAS

• Pyrrophyta: as pirrófitas são dinoflagelados que vivem em ambiente marinho


e de água doce. São unicelulares, com dois flagelos laterais. Possuem clorofila e
carotenoides e não possuem parede celular.

FIGURA 96 – DINOFLAGELADOS

FONTE: Disponível em: <http://1.bp.blogspot.com/_Y-RahU_


Thp8/S-coHyfMHKI/AAAAAAAAALU/uJfl6e-caVk/s1600/ceratium_
hirundinella+pirr%C3%B3fita.jpg>. Acesso em: 21 out. 2010.

NOTA

Caro acadêmico! Você já ouviu falar das marés vermelhas? Pois bem, quando
há um aumento da população de pirrófitas, acontece o fenômeno chamado maré vermelha.
Essas algas se multiplicam de forma exagerada no litoral, tornando a água do mar avermelhada.
Elas produzem uma grande quantidade de toxinas, que são eliminadas na água e provocam
a morte de tartarugas, peixes, focas, aves litorâneas e outros, podendo provocar intoxicações
nas pessoas que utilizarem esses animais como fonte alimentar.

• Euglenophyta: as euglenófitas são euglenoides unicelulares com um a três


flagelos e vivem em água doce. Possuem clorofila e carotenoides e também não
possuem parede celular.

FIGURA 97 – EUGLENOIDES

FONTE: Disponível em: <http://4.bp.blogspot.com/_PX_pdD_qIS0/


SdU7bWH_NYI/AAAAAAAAACY/mk30VO6f3RY/s1600-h/Euglena.
jpg>. Acesso em: 21 out. 2010.

183
UNIDADE 3 | CONTROLE DOS MICRORGANISMOS E OS PRINCIPAIS GRUPOS

Nas algas unicelulares, a forma básica de reprodução assexuada é a


divisão binária. Nas várias algas filamentosas, a reprodução se dá pelo processo
de fragmentação do talo. Pelo isolamento dos fragmentos, ocorre a multiplicação e
o crescimento das células que os constituem, regenerando-se em talos completos.
Ocorre também a zoosporia, que é a formação de células flageladas denominadas
zoósporos, que são liberados pela alga que os formou e nadam até se fixarem a
um substrato favorável, originando um novo talo.

4 PROTOZOÁRIOS
Os protozoários, na sua grande maioria, são aquáticos, ocupando
ambientes marinhos, água doce, ambientes lodosos e também terra úmida.
Podemos encontrar espécies parasitando o interior do corpo de animais
invertebrados e vertebrados, provocando, em muitos casos, sérias doenças.
Possuem características que se assemelham aos animais, que incluem a ausência
de parede celular, ingestão de alimentos e locomoção. Muitos deles obtêm
alimentos pela absorção de substâncias nutritivas dissolvidas, sendo que alguns
promovem a predação de bactérias e protozoários como fonte alimentar. Existem
protozoários de vida livre (ambiente marinho, água doce e solo), em simbiose
interna ou sobre hospedeiros vivos. Pelo antigo sistema de classificação, os
protozoários eram classificados pela presença ou ausência de uma organela de
locomoção. Mais uma vez, não existe unanimidade em aceitar os sistemas de
classificação propostos por ficologistas e protozoologistas, pois o mais novo
esquema de classificação inclui alguns grupos que ainda são reinvidicados por
micologistas e ficologistas como pertencentes aos fungos e algas. Neste tópico,
vamos estudar os principais grupos de protozoários que são de interesse da
Microbiologia, por serem parasitas causadores de doenças. Eles estão separados
pelos filos Rhizopoda, Zoomastigophora, Ciliophora e Apicomplexa.

• Rhizopoda: são protozoários de vida livre com presença ou ausência de


esqueleto externo ou interno. Realizam o movimento amebóide, que consiste
na emissão de uma porção da célula para uma direção. Reprodução assexuada
por fissão binária e sexuada com produção de gametas flagelados. Ex.: Amebas.

A amebíase é uma doença causada pela Entamoeba histolytica, que infecta o


homem e alguns primatas através da ingestão de água e alimentos contaminados,
mas também através de contato direto com objetos sujos e pessoas contaminadas.
Saneamento básico, tratamento de água e esgoto e higiene pessoal devem ser
considerados para se evitar a contaminação.

Após a ingestão do alimento contaminado, os cistos da ameba ingeridos


se transformam em trofozoítos, que invadem o intestino grosso, se reproduzem
por meio de sucessivas divisões e se alimentam de detritos e bactérias presentes,
causando a diarreia. Além do intestino grosso, podem invadir órgãos como fígado,
pulmões e cérebro. O diagnóstico é feito por exame de fezes nos casos mais brandos.

184
TÓPICO 3 | PRINCIPAIS GRUPOS DE MICRORGANISMOS EUCARIONTES E PARASITAS

FIGURA 98 – CICLO DE VIDA DA Entamoebahistolytica

Ingestão de comida
e água contaminada Cistos maduros

Infecção não invasiva


Cistos que saíram
através das fezes

Encistamento
Um trofozoíto com quatro
Cistos Infecção invasiva através núcleos emerge, se divide três
quadrinucleados da corrente sanguínea vezes e cada núcleo se divide
para o fígado, cérebro e uma vez para produzir oito
trofozoítos para cada cisto
pulmões

Trofozoítos migram para


o intestino grosso

Trofozoítos invadem
a mucosa do intestino

Cistos imaturos
Tropozoítos multiplicam-se
por fissão binária

Encistamento

FONTE: Adaptado de: <http://downloads.passeiweb.com/imagens/newsite/saladeaula/biologia/


protozoose_1_2.jpg>.Acesso em: 21 out. 2010.

• Zoomastigophora: são protozoários comensais, simbiontes e parasitas de forma


ameboide, com ou sem flagelos. A reprodução é assexuada por fissão binária e
sexuada em alguns grupos apenas. Ex.: Leishmania, Trypanosoma, Giardia, Trichomonas.

A leishmaniose é uma doença transmitida por um mosquito do gênero


Lutzomyia, conhecido popularmente como mosquito-palha, que se alimenta de
sangue. O parasita invade as células do sistema imunológico e se reproduz, causando
a morte das células e, em consequência, alguns sintomas como: aparecimento de
lesões na pele, nariz, boca e garganta, anemia, indisposição, febre, perda de peso.
Pode afetar vários órgãos, como: fígado, baço e medula óssea.

185
UNIDADE 3 | CONTROLE DOS MICRORGANISMOS E OS PRINCIPAIS GRUPOS

FIGURA 99 – FISSÃO BINÁRIA DE LEISHMANIA TROPICA

FONTE: Disponível em: <https://www.msu.edu/course/zol/316/ltroppro.


jpg>. Acesso em: 21 out. 2010.

Outra enfermidade é a doença de Chagas causada peloTripanosoma cruzi,


um protozoário que é transmitido através das fezes de insetos conhecidos como
barbeiro, por transfusão de sangue e transplante de órgão. Principais sintomas
são: febre ou inchaço ao redor do local da picada. Em casos mais graves, ocorre
infecção aguda no músculo cardíaco, dilatando o coração, prejudicando o
bombeamento do sangue, esôfago e cólon dilatados, dificultando a passagem dos
alimentos e das fezes. Observe a figura a seguir para entender melhor o ciclo de
vida desse protozoário:

FIGURA 100 – CICLO DE VIDA DO Trypanosoma cruzi


O insecto pica e defeca ao mesmo tempo. O os tripomastigotas invadem células onde se
No insecto tripomastigota passa à ferida nas fezes. transformam em amastigotas.
Barbeiro

Transforma-se em tripomastigotas No Ser Humano

Os amastigotas
multiplicam-se dentro das;
Multiplicam-se células assexualmente.
Os tripanossomas então
Tripanomastigotas invadem novas células em
sanguineos regiões diferentes do
são absorvidos por corpo que invadem e onde
novo insecto em se multiplicam como
Transformam-se em nova picada amastigotas.
epimastigotas no
intestino do insecto

Os amastigotas transformam-se em
Estágio infeccioso tripomastigotas e destroem a célula
saindo para o sangue
Estágio idiagnóstico

FONTE: Disponível em: <http://1.bp.blogspot.com/_j-OvtimvuT0/SwmKdx2qUVI/AAAAAAAAACg/


H6YwUAGqaD4/s1600/DOEN%C3%87A+DE+CHAGAS.JPG>. Acesso em: 21 out. 2010.

186
TÓPICO 3 | PRINCIPAIS GRUPOS DE MICRORGANISMOS EUCARIONTES E PARASITAS

A giardíase é uma infecção intestinal causada pelo protozoário Giardia


lamblia, que causa diarreia com forte cheiro em gatos, roedores, gado, homem,
entre outros. Além da diarreia, a pessoa contaminada sente fraqueza e cólicas
abdominais. A falta de saneamento básico e higiene contribuem para a
contaminação, que ocorre através da ingestão de água e alimentos contaminados
com cistos. Baratas e moscas podem transportá-los também. Já no estômago,
os cistos se transformam em trofozoítos e no intestino delgado se reproduzem.
Quando sofrem encistamento, são liberados pelas fezes do hospedeiro.

FIGURA 101 – Giardia lamblia

FONTE: Adaptado de: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/


commons/c/cd/Giardia_lamblia.png>. Acesso em: 21 out. 2010.

A tricomoníase é uma moléstia causada por um protozoário com quatro


flagelos, o Trichomonas vaginalis, apenas encontrado na forma trofozoítica. A
contaminação ocorre por meio do uso de roupas íntimas e toalhas da pessoa
contaminada e pelo ato sexual sem proteção. Provoca inflamação na vagina, com
fluxo e corrimento com ardência e coceira na vulva.

FIGURA 102 – Trichomonas vaginalis

FONTE: Adaptado de: <http://4.bp.blogspot.com/_N7j17XyIjFw/


S4zxZQuMFUI/AAAAAAAABFE/H_PG3tN8xi0/s320/trichom.gif>.
Acesso em: 21 out. 2010.

187
UNIDADE 3 | CONTROLE DOS MICRORGANISMOS E OS PRINCIPAIS GRUPOS

• Ciliophora: são protozoários que possuem cílios ou estruturas ciliares para sua
locomoção e obtenção de alimento. Muitos possuem boca. Em seu interior,
apresentam dois núcleos: um maior, responsável pelo metabolismo, e o menor,
pela reprodução. A reprodução é assexuada por fissão binária e sexuada sem
formação de gametas livres. Vivem em água doce, salgada e no solo. A maioria
é parasita ou de vida livre. Ex.: Paramecium – vida livre, Balantidium coli – único
parasita humano que causa disenteria.

FIGURA 103 – CICLO DE VIDA DO Paramecium

Dois paramécios se unem


e seus micronúcleos sofrem
meiose.
Micronúcleo
Micronúcleos

Degeneração do macronúcleo e Transferência recíproca do


de três micronúcleos. micronúcleo núcleo menor e fusão com
restante divide-se por mitose. micronúcleo original.

Separação dos parceiros. Ocorrem Três núcleos degeneram,


três divisões mitótocas consecutivas, quatro originam macronúcleos
resultando em oito núcleos. e um se divide mitoticamente.

Divisão dos paramécios Nova divisão dos paramécios.


e nova divisão mitótica Cada conjugante originou
dos micronúcleos. quatro descendentes.
FONTE: Disponível em: <http://3.bp.blogspot.com/_tedu3t1ygvA/S-rlAfgBSEI/
AAAAAAAAAJE/JJlicyK03Es/s1600/repro+paramecio.gif>. Acesso em: 21 out. 2010.

• Apicomplexa: são protozoários que não possuem organelas de locomoção,


porém conseguem se locomover por flexão do corpo, deslizamento ou
ondulações. Todas as espécies são parasitas. A reprodução é assexuada por
fissão múltipla e sexuada pela união dos gametas. Ex.: Toxoplasma, Plasmodium.

A toxoplasmose, conhecida como a doença do gato, é causada pelo


protozoário Toxoplasma gondii. A contaminação ocorre por ingestão de cistos
presentes em carnes de animais infectados (crua ou malpassada) e transmissão
intrauterina. Os principais sintomas são o surgimento de ínguas, febre, cansaço,

188
TÓPICO 3 | PRINCIPAIS GRUPOS DE MICRORGANISMOS EUCARIONTES E PARASITAS

dores nos músculos, dor na garganta, dores de cabeça, alterações visuais, manchas
vermelhas pelo corpo, urticária e aumento do baço e fígado. Evolui para uma
diminuição da lucidez e, em consequência, o coma.

FIGURA 104 – CICLO DE VIDA DO Toxoplasma gondii

Hospedeiro Definitivo Oocistos nas fezes


(gato) (cerca de 2 semanas)
Imunidade
Indivíduos Predação
Imunocompatentes

Oocistos esporilam (1-5 dias)


Contaminação ambiental

Hospedeiros Intermediários
(pequenos mamíferos, aves e répteis)

Contato e ingestão de carne Caixa de areia


contaminada com cistos Solo
Água
Vegetação
Cistos nos Alimentos
tecidos

Aborto ou danos fetais

Hospedeiros Intermediários Contato direito com


(animais de produção) a terra contaminada
FONTE: Disponível em: <http://sites.google.com/site/parasitovet/ciclotoxoplasma.
jpg>. Acesso em: 21 out. 2010.

O plasmódio é transmitido pela picada da fêmea do mosquito Anopheles,


que está presente na saliva e causa a doença malária. Os protozoários inoculados
são transportados pela corrente sanguínea até o fígado, onde começam a
reprodução assexuada, formando merozoítos. Em seguida, ocorre o rompimento
da célula e os merozoítos invadem as hemácias, transformando-se em trofozoítos,
que consomem a hemoglobina e se multiplicam, rompendo a hemácia e invadindo
outras. Após a reprodução assexuada, alguns parasitas desenvolvem a forma
sexuada, responsáveis pela transmissão da malária. Os mosquitos se contaminam
no momento da picada, ingerindo o sangue contaminado do hospedeiro humano.
Os principais sintomas são: febre, dor de cabeça, hemorragias, náuseas e fadiga.

189
UNIDADE 3 | CONTROLE DOS MICRORGANISMOS E OS PRINCIPAIS GRUPOS

FIGURA 105 – HEMÁCIAS INFECTADAS PELO Plasmodium vivax

FONTE: Disponível em: <http://webdoc.nyumc.org/nyumc/files/


communications/u3/Carlton_1.jpg>. Acesso em: 21 out. 2010.

NOTA

Caro acadêmico! Há muitas outras doenças causadas por protozoários. Se você


quiser conhecer, visite o site <http://www.brasilescola.com/doencas/doencas-causadas-
protozoarios.htm>. Nesse site, você encontrará todas as informações, além de imagens.

190
TÓPICO 3 | PRINCIPAIS GRUPOS DE MICRORGANISMOS EUCARIONTES E PARASITAS

LEITURA COMPLEMENTAR

A INFLUÊNCIA DOS MICRORGANISMOS NA ELEVAÇÃO DAS TAXAS


DE MORBIDADE E MORTALIDADE NOS DIAS DE HOJE

Os microrganismos, sejam os protozoários, fungos, bactérias, e ainda os


vírus, estão envolvidos em diferentes tipos de doenças. Por exemplo, há alguns
anos atrás jamais poderíamos imaginar que certos tipos de cânceres estariam
associados a tais seres microscópicos. No entanto, um dos ganhadores do Prêmio
Nobel de Fisiologia e Medicina 2008, Dr. Harald zur Hausen, foi agraciado
com esta honraria, justamente, por ter relacionado o câncer de colo de útero, o
segundo mais frequente em mulheres, com o papiloma vírus humano (HPV). Mas
não pensem que a associação entre microrganismos e câncer se encerra aí. Uma
bactéria conhecida como Helicobacter pylori, a qual é encontrada no estômago de
cerca de 2/3 da população mundial, é o principal fator de risco de úlcera péptica
e duodenal, aumenta, segundo estudos, o risco de câncer gástrico, linfoma de
tecido linfoide associado à mucosa, conhecido como linfoma de MALT, e ainda,
de câncer pancreático. Além disso, em certas circunstâncias, o câncer por si só
pode predispor o paciente a severas e recorrentes infecções. Por outro lado, a
neutropenia (que reflete um comprometimento do sistema imunológico) é
reconhecida há décadas como importante fator de risco para o desenvolvimento
de infecções em pacientes submetidos a certas quimioterapias. Portanto, é fato
amplamente conhecido, pela comunidade médica, que as doenças infecciosas
são importantes causas de mortalidade entre pacientes com diversos tipos de
neoplasias malignas.

As infecções de natureza respiratórias estavam, em 2005, na 5ª ou 6ª


posição entre as 10 principais causas de morte em nosso país, segundo dados do
Saúde Brasil 2007. Cabe acrescentar que através de um estudo recente da UNICEF/
OMS intitulado: “Pneumonia: the forgoten killer of children, 2006”, ficou constatado
que esta doença mata mais crianças do que qualquer outra, e estima-se que seja
responsável pela morte de cerca de 2 milhões de crianças a cada ano, em todo
o mundo, sendo as espécies bacterianas Streptococcus pneumoniae e Haemophilus
influenzae as principais responsáveis. Neste mesmo estudo foi estimado que 150
milhões de episódios de pneumonia devam ocorrer a cada ano, sendo que o
Brasil estaria em 5º lugar, junto com a Etiópia, com 4 milhões de casos. É preciso
salientar que não somente as crianças estão mais susceptíveis às pneumonias; os
indivíduos idosos também estão entre a população susceptível e, portanto, com
elevado risco para a doença e consequente mortalidade.

Vale lembrar, aqui também, outras importantes causas de morbidade e


mortalidade, as doenças hoje conhecidas como “infecções associadas a serviços
de saúde” (IASS), na qual se incluem as infecções hospitalares. Essas doenças
acometem pacientes, durante o curso de um tratamento que receberam para
debelar outra doença, em um estabelecimento que presta serviço de saúde.
Segundo os Centers for Diseases Control (CDC), nos Estados Unidos, as IASS

191
UNIDADE 3 | CONTROLE DOS MICRORGANISMOS E OS PRINCIPAIS GRUPOS

estão entre as 10 principais causas de mortalidade. Não devemos, em hipótese


alguma, sob pena de estarmos causando um erro grave, subestimar o impacto
de tais doenças em nosso meio. Estudos têm demonstrado que os índices dessas
infecções são maiores em países da América Latina e África. Acrescenta-se a esta
triste estatística o fato de que muitas dessas infecções, como as que ocorrem nos
hospitais, são causadas por bactérias resistentes a múltiplos antibióticos. Tal fato
dificulta, significantemente, a pronta prescrição pelos médicos de uma terapia
antibiótica eficaz, contribuindo assim para o aumento do número de óbitos e
desafia a humanidade para a descoberta de soluções urgentes e efetivas.

FONTE: Adaptado de: <http://www.microbiologia.ufrj.br/index.asp#destaque2>. Acesso em: 23


out. 2010.

192
RESUMO DO TÓPICO 3

Neste tópico, você estudou que:

• Os fungos são organismos saprófitos ou parasitas e, geralmente, possuem


micélio, que é uma massa organizada de hifas.

• A maioria dos fungos se reproduz tanto sexuada quanto assexuadamente e os


estágios sexuados servem para classificá-los.

• Os fungos possuem uma grande importância para os ecossistemas, pois agem


como decompositores e também são de interesse da saúde e da economia, por
serem parasitas. Causam doenças em plantas e animais.

• Quanto à classificação, os fungos inferiores flagelados estão divididos em


quatro grupos: Chytridiomycetes, Hyphochytridiomycetes, Plasmodiophoromycetes
e Oomycetes. Os fungos terrestres também estão divididos em quatro grupos:
Zygomycetes, Ascomycetes, Basidiomycetese Deuteromycetes.

• Algas são organismos unicelulares microscópicos fotossintéticos, sendo que


todos eles apresentam cloroplastos com pigmento clorofila e carotenoides.

• Algas microscópicas são divididas em clorófitas, feófitas, rodófitas, crisófitas,


pirrófitas e euglenófitas.

• Os protozoários são organismos microscópicos que apresentam características


semelhantes a dos animais. O critério utilizado para classificá-los é baseado nas
estruturas de locomoção e são divididos em Rhizopoda, Zoomastigophora, Ciliophora
e Apicomplexa. Alguns grupos são parasitas, causando danos à saúde humana.

193
AUTOATIVIDADE

1 Dentre as doenças infecciosas, algumas são há muito


conhecidas, como a leptospirose e a malária. Outras, como
a doença da vaca louca e a síndrome respiratória aguda
grave, só há pouco tempo foram identificadas. Os agentes
causadores das quatro doenças citadas são, respectivamente:

a) ( ) Protozoário, vírus, vírus e príon.


b) ( ) Protozoário, bactéria, vírus e príon.
c) ( ) Bactéria, protozoário, príon e vírus.
d) ( ) Bactéria, bactéria, protozoário e príon.

FONTE: Disponível em: <http://professor.bio.br/provas_vestibular.


asp?origem=Uerj&curpage=16>. Acesso em: 27 nov. 2010.

2 Na década de 1920, o bacteriologista Alexander Fleming,


cultivando linhagens de estafilococos, notou que uma das
placas de cultura, contendo colônias de bactérias, apareceu
contaminada por um tipo de fungo. Ao transferir o fungo para
um caldo nutritivo, Fleming verificou que nesse meio não se desenvolviam
vários tipos de bactérias, devido à ação de substâncias produzidas pelo fungo.
Esse trabalho foi um dos mais significativos deste século, pois permitiu aos
cientistas, posteriormente, a produção de:

a) ( ) Hormônios, utilizados no tratamento de doenças hereditárias.


b) ( ) Corticoides, utilizados no tratamento de doenças alérgicas.
c) ( ) Antibióticos utilizados no tratamento de doenças infecciosas.
d) ( ) Vacinas, utilizadas na imunização de doenças causadas por fungos e bactérias.
e) ( ) Soros, utilizados na imunização de doenças causadas por fungos e bactérias.

FONTE: Disponível em: <http://www.professor.bio.br/provas_vestibular_detalhe.


asp?universidade=Pucsp>. Acesso em: 27 nov. 2010.

3 Os fungos que conhecemos por champignons, vendidos no comércio


em embalagens de plástico ou vidro, pertencem ao grupo dos:

a) ( ) Ascomicetos.
b) ( ) Deuteromicetos.
c) ( ) Zigomicetos.
d) ( ) Oomicetos.
e) ( ) Basidiomicetos.

FONTE: Disponível em: <http://bioatuante.blogspot.com/2010/04/classificacao-e-


caracteristicas-dos.html>. Acesso em: 27 nov. 2010.

194
4 O mofo que ataca os alimentos, os cogumelos comestíveis e
o fermento de fazer o pão são formados por organismos que
pertencem ao Reino Fungi. Com relação a esse grupo, classifique
as seguintes sentenças em V verdadeiras ou F falsas:

( ) São organismos eucariontes, unicelulares ou pluricelulares, autotróficos


facultativos.
( ) O material nutritivo de reserva é o glicogênio.
( ) Em função da nutrição heterótrofa, esses seres podem viver em
mutualismo, em saprobiose ou em parasitismo.
( ) Alguns fungos são utilizados na obtenção de medicamentos.
( ) Nutrem-se por digestão extracorpórea, isto é, liberam enzimas digestivas
no ambiente, que fragmentam macromoléculas em moléculas menores,
permitindo sua absorção pelo organismo.
( ) Na alimentação humana são utilizados, por exemplo, na fabricação de
queijos, como o roquefort e o gorgonzola.
( ) Reproduzem-se, apenas, assexuadamente por meio de esporos,
formados em estruturas denominadas esporângios, ascos e basídios.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) A sequência correta é: F – V – V – V – V – V – F.
b) ( ) A sequência correta é: F – V – V – F – F – V – V.
c) ( ) A sequência correta é: V – F – F – V – V – F – F.
d) ( ) A sequência correta é: V – F – V – F – F – V – V.

FONTE: Adaptado de: <http://professor.bio.br/provas_topicos.asp?topico=Micologia%20


ou%20Micetologia&curpage=4>. Acesso em: 27 nov. 2010.

5 As marés vermelhas, fenômenos que podem trazer sérios


problemas para os organismos marinhos e mesmo para o
homem, são devidas:

a) ( ) À grande concentração de rodofíceas bentônicas na zona das marés.


b) ( ) Ao vazamento de petróleo, o qual estimula a proliferação de
diatomáceas marinhas.
c) ( ) À presença de poluentes químicos provenientes de esgotos industriais.
d) ( ) À reação de certos poluentes com o oxigênio produzido pelas algas
marinhas.
e) ( ) À proliferação excessiva de certas algas planctônicas – que liberam
toxinas na água.

FONTE: Disponível em: <http://www.vestibular1.com.br/exercicios/biologia_vegetal_seres_


vivos.htm>. Acesso em: 27 nov. 2010.

195
6 As afirmativas a seguir correspondem aos meios de
transmissão de algumas doenças causadas por protozoários:

I- Transmissão do protozoário através de relações sexuais.


II- Infecção através de fezes do inseto barbeiro, contaminadas com
protozoário, em lesões na pele.
III- Ingestão de cistos, eliminados com as fezes humanas contaminadas.
IV- Picada do mosquito do gênero Lutzomyia (mosquito palha), infectado
com protozoário.

Assinale a alternativa que indica, respectivamente, o nome das doenças


relacionadas a esses meios de transmissão:
a) ( ) Tricomoníase, doença de Chagas, giardíase e leishmaniose.
b) ( ) Doença de Chagas, leishmaniose, triconomíase e giardíase.
c) ( ) Leishmaniose, doença de Chagas, toxoplasmose e malária.
d) ( ) Toxoplasmose, doença de Chagas, malária e giardíase.
e) ( ) Tricomoníase, leishmaniose, giardíase e doença de Chagas.

FONTE: Disponível em: <http://www.scribd.com/doc/35797400/SIMULADO >. Acesso em:


27 nov. 2010.

196
UNIDADE 3
TÓPICO 4

METODOLOGIAS PARA O ENSINO DE MICROBIOLOGIA

1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico, neste tópico apresentaremos algumas metodologias
que poderão ser utilizadas no ensino de Ciências e Biologia, que envolvam a
Microbiologia, no Ensino Fundamental e Médio. Você deve ter notado que o
estudo da Microbiologia é bastante complexo, visto que os seres que compõem
esse grupo são microscópicos, requerendo, muitas vezes, o uso da imaginação.
Porém, isso não deve se tornar um obstáculo para a prática docente. Hoje,
temos acesso a vários recursos, sejam por meio de livros, internet, vídeos, sons,
projetores, laboratórios, entre outros. Sabemos que a realidade de algumas escolas
não é essa. Portanto, você encontrará, aqui, alternativas que não necessitam dessas
tecnologias para a realização de uma aula ilustrativa, dinâmica, despertando,
assim, o interesse do aluno para esse mundo microscópico.

É importante trabalhar a multidisciplinaridade. Você deve ter notado que,


além da Microbiologia, utilizamos conhecimentos da Genética, da Bioquímica, da
Zoologia, da Citologia e da Botânica.

Por se tratar de microrganismos, é interessante salientar a importância


desses seres microscópicos na nossa vida e no equilíbrio do ambiente, destacando
os benefícios de sua existência, sem se esquecer dos cuidados que devemos ter
para nos mantermos afastados de certas espécies patogênicas.

Uma das práticas que você poderá realizar em sala de aula está na Leitura
Complementar 2, da Unidade 2, Tópico 1, na qual você trabalhará com os fungos
presentes no fermento biológico: formação de gás carbônico através do processo
da fermentação e metabolismo.

Neste tópico, você encontrará ideias de como trabalhar aulas práticas em


sala de aula, utilizando materiais de fácil acesso, jogos didáticos para a fixação
dos conteúdos e saídas de campo. Você contará com alguns exemplos de cada
atividade para ser desenvolvida no ensino da Microbiologia.

197
UNIDADE 3 | CONTROLE DOS MICRORGANISMOS E OS PRINCIPAIS GRUPOS

2 AULAS PRÁTICAS
Poderíamos pensar que, para fazermos uma aula prática, necessitaríamos
de um laboratório, de um microscópio, certo? Não, exatamente. Podemos
realizar aulas práticas maravilhosas e instrutivas em sala de aula mesmo. Além
de chamar a atenção do aluno, ela proporciona um momento diferente, porque
se coloca a “mão na massa”; ou, como observador da prática, também resultará
num aprendizado eficaz, que será levado para casa, porque o aluno, muitas vezes,
realiza o experimento em casa e compartilha seus conhecimentos com a família.
Acompanhem as leituras complementares a seguir!

198
TÓPICO 4 | METODOLOGIAS PARA O ENSINO DE MICROBIOLOGIA

LEITURA COMPLEMENTAR 1

AULA PRÁTICA 1
CULTIVO DE MICRORGANISMOS

Materiais

• copos plásticos descartáveis;


• filme plástico de embalagem;
• açúcar;
• caldo de galinha;
• gelatina incolor em pó;
• água;
• cotonete.

Procedimentos

Dissolver 1 tablete de caldo de galinha em meio litro de água fervente (2


copos e meio), de acordo com as instruções do fabricante. Depois de tirar do fogo,
adicionar a gelatina incolor, pré-dissolvida em água fria, de acordo com instruções
do fabricante (use o dobro do recomendado, dois envelopes de gelatina em pó ou
o equivalente de gelatina em folha, para ficar mais consistente). Coloque mais
quatro colheres de sopa de açúcar e dissolva bem, mexendo com uma colher.
Assim que possível (ainda quente), transfira uma pequena quantidade para
os copos plásticos, tampando imediatamente (com tampa de plástico ou filme
plástico de embalagem, se você preferir). Coloque na geladeira para endurecer.
Depois de duro, use o cotonete para coletar amostras de onde você quiser (do
chão, da sua pele, dos dentes, do sapato, da superfície de plantas ou objetos),
esfregue rapidamente na gelatina e deixe repousar tampado, fora da geladeira e
protegido da luz direta.

Resultados esperados

Diferentes microrganismos (geralmente fungos filamentosos, bactérias


e leveduras) deverão crescer no meio de cultura. Você provavelmente poderá
constatar a degradação do meio e o aparecimento de colônias de microrganismos
de diferentes formas, texturas e cores. Às vezes é também notável o aparecimento
de odores, alguns bastante desagradáveis, produzidos pelos produtos excretados
pelos microrganismos.

Este meio de cultura barato e fácil de fazer pode permitir o crescimento de


uma infinidade de microrganismos, por conter elementos essenciais, como: sais,
carboidratos (açúcares), lipídios (gorduras), aminoácidos, proteína (gelatina)
etc. Você pode tentar comparar o crescimento de microrganismos em diferentes
meios, tirando o açúcar, por exemplo, ou o caldo de galinha. Os alunos podem ser
estimulados a coletarem amostras de diferentes locais.

199
UNIDADE 3 | CONTROLE DOS MICRORGANISMOS E OS PRINCIPAIS GRUPOS

FIGURA 106 – FUNGOS E BACTÉRIAS EM PLACAS DE PETRI


A B

FONTE: Disponível em: <http://revistapesquisa.fapesp.br/2014/01/13/memoria-


natalina/#>. Acesso em: 22 mar. 2018 (adaptado).

Para descartar o material, o ideal seria queimar as amostras ou, caso não seja
possível, colocar álcool 70% dentro dos recipientes e deixar por alguns minutos,
pelo menos. Depois dos microrganismos crescerem, a manipulação também
deve ser cuidadosa, pois você pode ter o crescimento concentrado de algum
organismo potencialmente patogênico. Esse tipo de procedimento é basicamente
o mesmo utilizado no isolamento de cepas específicas de microrganismos, seja
para investigação científica, médica ou seleção de microrganismos para utilização
industrial. Na década de 30, Alexander Fleming descobriu a penicilina ao notar que
um fungo que cresceu sobre um meio de cultura com bactérias inibia o crescimento
destas, secretando uma substância desconhecida no meio, a penicilina.

Temas que podem ser explorados

Comprovação da existência de microrganismos no ambiente e no nosso


organismo, observação de microrganismos sem microscópio, noções de higiene,
transmissão de doenças, metabolismo, seleção de microrganismos.

FONTE: Adaptado de: <http://www.scribd.com/doc/23341079/Aula-Pratica-Cultivo-de-


Microorganismos>. Acesso em: 24 out. 2010.

200
TÓPICO 4 | METODOLOGIAS PARA O ENSINO DE MICROBIOLOGIA

LEITURA COMPLEMENTAR 2

AULA PRÁTICA 2
DETECTANDO MICRORGANISMOS POR INDICADOR ÁCIDO-BASE

Materiais

• açúcar;
• água;
• algodão;
• canudinhos plásticos;
• funil;
• repolho roxo;
• panela;
• frasco de boca pequena com tampa;
• vasilha plástica.

Procedimentos

• Obtenção do extrato de repolho roxo (utilizado como indicador ácido-base).

Corte um repolho em pedaços pequenos. Coloque esses pedaços em uma


panela com água até cobri-los totalmente. Ferva em fogo brando até que a água
seja reduzida até, aproximadamente, metade do volume inicial. Coe a solução e
espere até que ela esteja totalmente resfriada. O ideal é armazená-la em geladeira.

Experiência

O aluno participante da experiência deverá lavar bem as mãos. Este aluno


tocará em vários objetos, como dinheiro, sola de sapato, maçaneta de banheiro etc.
Após essa etapa, em uma tigela com água e açúcar, o aluno deverá lavar bem suas
mãos e essa água deverá ser despejada dentro de três frascos de boca pequena
(ou tubos de ensaio) com a ajuda do funil. Para finalizar, deverão molhar um
pedaço de algodão no extrato de repolho roxo e o colocar dentro do frasco, sem
encostar o algodão no líquido existente no fundo do frasco. Esses frascos devem
ser fechados com a tampa (ou rolha). Deve-se esperar cerca de 48h para observar
o resultado. O mesmo procedimento deve ser adotado para um grupo controle,
no entanto, o voluntário deve lavar as mãos diretamente em uma tigela com água
e açúcar, sem tocar nos objetos potencialmente contaminados.

Resultados esperados

O resultado esperado é que a cor do algodão mude de roxo escuro para


avermelhado; com a mudança de cor, evidencia-se a existência de microrganismos
nas mãos aparentemente limpas. Visando tornar a experiência mais estimulante e
menos abstrata, sugerimos pedir para que um voluntário sopre, com o auxílio de
canudinho, dentro de um frasco com extrato de repolho roxo. Ele perceberá que
seu próprio metabolismo também modifica a coloração da substância.
201
UNIDADE 3 | CONTROLE DOS MICRORGANISMOS E OS PRINCIPAIS GRUPOS

FIGURA 107 – COLORAÇÃO DO ALGODÃO COM O EXTRATO DE


REPOLHO ROXO

FONTE: Disponível em: < https://manualdaquimica.uol.com.br/upload/


conteudo/images/o-indicador-acido-base-repolho-roxo-produzido-
apenas-pela-maceracao-vegetal-com-agua-5488cc5a7770a.jpg> Acesso
em: 22 mar. 2018.

Observações

• Essa experiência é tradicionalmente realizada utilizando-se o azul de bromotimol


como indicador ácido-base no lugar do extrato de repolho roxo. Nesse caso, o
resultado esperado é que a cor do algodão mude de azul para amarelo.

• Dentro do frasco, a água com açúcar fornece o alimento necessário para os


microrganismos se desenvolverem. Seu metabolismo libera gás carbônico,
tornando o ambiente do frasco ácido. Com isso, o extrato de repolho roxo
ou o azul de bromotimol, sensíveis à alteração de pH, mudam sua cor. Não
é necessário abordar o conceito de pH com os estudantes. Sugerimos apenas
ressaltar que os microrganismos modificam o ambiente do frasco, o que
promove uma transformação química que leva à mudança de cor.

• A utilização de repetições de um mesmo tratamento, bem como de um grupo


controle garantem maior confiabilidade aos experimentos.

Temas que podem ser explorados

Comprovação da existência de microrganismos no ambiente e no nosso


organismo, observação de microrganismos sem microscópio, transmissão de
doenças, metabolismo, introdução aos temas relacionados à saúde e higiene,
métodos de investigação científica, abordando os aspectos éticos.

FONTE: Adaptado de: <http://www.conhecer.org.br/enciclop/2008/microbiologia1.pdf>. Acesso


em: 24 out. 2010.

202
TÓPICO 4 | METODOLOGIAS PARA O ENSINO DE MICROBIOLOGIA

LEITURA COMPLEMENTAR 3

AULA PRÁTICA 3
COMO CONSERVAR OS ALIMENTOS

Materiais

• açúcar;
• amido de milho;
• copos de água plásticos;
• filme plástico;
• leite;
• óleo de cozinha;
• vinagre.

Procedimentos

Deve-se preparar o mingau. Para isso, coloque sob o fogo uma colher de
sopa de açúcar, três colheres de sopa de amido de milho e um copo de leite. Deve-
se dividir a quantidade de mingau feita em 15 copos plásticos. Três dos copos
serão o controle, ou seja, eles ficarão à temperatura ambiente. Os outros serão
submetidos a diferentes tratamentos: geladeira, com adição de óleo, com adição
de vinagre e tampado com filme plástico. A observação dos resultados deve ser
feita após aproximadamente uma semana.

Resultados esperados

Espera-se que em todos os copos, com exceção do que foi guardado na


geladeira, ocorra a grande proliferação de microrganismos. Poderemos observar
principalmente os fungos. A menor temperatura causa uma diminuição no
metabolismo dos microrganismos. Dessa forma, o processo de decomposição é
retardado na geladeira.

FIGURA 108 – COPOS COM PROLIFERAÇÃO DE MICRORGANISMOS

1 2 3 4 5
FONTE: Disponível em: <http://revistaescola.abril.com.br/ciencias/pratica-pedagogica/como-
ensinar-microbiologia-426117.shtml>. Acesso em: 29 out. 2010.

203
UNIDADE 3 | CONTROLE DOS MICRORGANISMOS E OS PRINCIPAIS GRUPOS

Temas que podem ser explorados

Comprovação da existência de microrganismos no ambiente, observação


de microrganismos sem microscópio, transmissão de doenças, metabolismo,
introdução aos temas relacionados à saúde e higiene, métodos de investigação
científica, abordando os aspectos éticos, problemas relacionados às perdas
de alimentos, o papel benéfico e fundamental do processo de decomposição
realizado por fungos.

FONTE: Adaptado de: <http://www.conhecer.org.br/enciclop/2008/microbiologia1.pdf>. Acesso


em: 24 out. 2010.

UNI

Observe, caro acadêmico, que as práticas citadas anteriormente são realizadas


sem o auxílio do microscópio, porém, se sua escola dispõe desse equipamento, existem
outras ideias para a visualização e classificação dos microrganismos. Em sites, você encontra
uma infinidade de ideias de aulas práticas para serem aplicadas em sala de aula. Com seus
alunos, por exemplo, você poderá fazer iogurtes e queijos. É só pesquisar e obter a receita.
São superfáceis de fazer.

DICAS

Alguns sites de apoio:


• <http://www.scribd.com/doc/23341090/Aula-Pratica-Observacao-de-Microorganismos>.
• <http://alunoca.io.usp.br/~coelho/disciplinas/microbio_marinha/relatorio_microbio.pdf>.
Nesses dois sites, você encontrará algumas práticas relacionadas a fungos, bactérias e vírus. E
No site da Revista Escola, você terá acesso a vários planos de aula. Visite-o e aproveite:
• <http://revistaescola.abril.com.br/template-busca.shtml?qu=microscopio>.

204
TÓPICO 4 | METODOLOGIAS PARA O ENSINO DE MICROBIOLOGIA

3 JOGOS DIDÁTICOS
A partir de agora, você conhecerá mais uma metodologia de ensino
aplicada em uma turma de 6ª série, com jogos didáticos elaborados pelos
próprios alunos. Essa metodologia também poderá ser aplicada com alunos do
Ensino Médio. Com o tema proposto, os alunos tiveram a tarefa de criar jogos
para melhorar a fixação e a aprendizagem referente aos seres microscópicos,
estimulando a leitura, o conhecimento e a criatividade das equipes.

Aproveite para refletir sobre o uso desse tipo de recurso na prática docente
e também para desenvolver seus próprios jogos didáticos. Você perceberá um
interesse maior do aluno em querer saber e conhecer mais sobre a Microbiologia.
Ao final do artigo, você encontrará sugestões de jogos em sites. O artigo a
seguir relata exatamente o que encontramos nas escolas: alunos sem interesse,
desmotivados, sem vontade de aprender.

PRÁTICA LÚDICA EM MICROBIOLOGIA PARA ALUNOS DO ENSINO


FUNDAMENTAL

Maria Elizabethe da Silva Ferreira


Hellen Kempfer Philippsen
Carlos Alberto Machado da Rocha
(Centro Federal de Educação Tecnológica do Pará – CEFET/PA)

INTRODUÇÃO

Alguns dos grandes problemas constatados entre os estudantes da


escola básica brasileira são: a indisciplina, a falta de interesse ou empenho
e, em consequência, a repetência ou mesmo a evasão, resultantes acima de
tudo do modelo sociopolítico. O rompimento desse modelo requer uma escola
mais atrativa, contextualizada e integrada no seio da comunidade através das
diversas áreas do conhecimento. Nesse contexto, o lúdico, através da criação
e prática de jogos, aparece como alternativa no desenvolvimento do processo
ensino-aprendizagem. O conteúdo de Microbiologia aparece pela primeira vez
no currículo para os alunos da 6ª série do Ensino Fundamental e, juntamente
com este, as dificuldades atribuídas principalmente aos nomes específicos de
alguns seres microbiológicos. Por isso a ideia da confecção e prática de jogos
surgiu a partir das necessidades e desejo de tornar facilitado o aprendizado,
respeitando, contudo, o objetivo do conteúdo.

METODOLOGIA

O trabalho foi desenvolvido na Escola Nossa Senhora do Perpétuo


Socorro, com uma turma de 28 alunos da 6ª série do Ensino Fundamental. A
turma foi dividida em quatro equipes de sete alunos, com o intuito de facilitar
o estudo dos quatro grupos de microrganismos (moneras, protistas, fungos

205
UNIDADE 3 | CONTROLE DOS MICRORGANISMOS E OS PRINCIPAIS GRUPOS

e vírus). Após a divisão das equipes, os alunos foram orientados a realizar


pesquisas e confeccionar jogos envolvendo as principais características, a
classificação, as funções vitais, as doenças causadas e a utilização desses
microrganismos pelo homem. As equipes tiveram o período de 28 de abril a 19
de maio de 2005 para realizar as pesquisas, confeccionar e apresentar os jogos.

RESULTADOS

No dia 19 de maio de 2005 as equipes apresentaram apenas em sala


de aula os seguintes jogos: dois ludos, sendo um confeccionado em isopor,
no formato de um fungo (cogumelo), e o outro confeccionado em papelão
recoberto por cartolina, com o formato do protozoário paramécio; um dominó,
no qual uma parte de cada pedra continha uma figura e a outra continha
alguma informação sobre microrganismos, sendo que a pedra seguinte trazia
uma figura ou uma informação referente à pedra anterior; um jogo de dados
com perguntas e respostas sobre os microrganismos.

CONCLUSÕES

Durante a apresentação dos jogos, foi possível perceber que o uso do lúdico
facilitou o processo de ensino-aprendizagem, à medida que abriu perspectivas
para a construção do próprio conhecimento; a partir de questões simples e reais,
possibilitou a abordagem do conteúdo de uma forma diferenciada e propiciou a
cooperação, a solidariedade e a participação de todos os alunos.

Palavras-chave: Jogos; Ciências; Microrganismos.

FONTE: Disponível em: <http://www.sbpcnet.org.br/livro/58ra/SENIOR/RESUMOS/resumo_3347.


html>. Acesso em: 24 out. 2010.

DICAS

Nesses sites, você encontrará vários jogos para ser aplicados em sala de aula.
Acesse:
• <http://silcordeirobio.blogspot.com/2010/01/projeto-microbiologia-para-todos.html>.
• <http://genoma.ib.usp.br/educacao/materiais_didaticos_jogos_Ponto_Critico.html>.

Aproveite!

4 RECURSOS AUDIOVISUAIS
Caro acadêmico, os filmes podem ser ótimos recursos audiovisuais para
serem utilizados na fixação do conteúdo, além de ser um recurso de fácil acesso.
206
TÓPICO 4 | METODOLOGIAS PARA O ENSINO DE MICROBIOLOGIA

Da mesma forma que as aulas práticas, o recurso audiovisual deve ser


utilizado para ilustrar algumas questões de difícil compreensão. Alguns filmes
como Resident Evil, Epidemia, Osmose Jones e muitos outros vídeos encontrados
em sites como you tube podem ser utilizados para o melhor entendimento dos
conteúdos trabalhados. O importante é sempre relacionar o filme ou o vídeo com
o conteúdo proposto.

Filmes em sala de aula não devem ser utilizados como passatempo, mas sim
como um recurso que permite uma compreensão mais ampla acerca dos assuntos
trabalhados. Se for necessário, interrompa o filme para uma breve conversa com
o objetivo de esclarecer dúvidas ou para registrar alguma informação.

Como exemplo para essa metodologia, utilizaremos o filme “Osmose


Jones” (Figura 109), um filme de fácil entendimento para ser utilizado no Ensino
Fundamental.

FIGURA 109 – FILME “OSMOSE JONES” - UMA AVENTURA PELO


CORPO HUMANO

FONTE: Disponível em: <http://www.sebodomessias.com.br/


loja/imagens/produtos/produtos/261609_998.jpg>. Acesso em:
29 out. 2010.

Esse filme trata de um construtor chamado Frank Pepperidge (Bill


Murray), que, repentinamente, pega um resfriado. Esse fato desencadeia uma
guerra dentro do seu corpo, que é conhecido por “Cidade de Frank”, e faz com
que uma célula branca (glóbulo branco), o policial Osmosis Jones (Chris Rock) e
uma pílula Drixorial (David Hyde Pierce) juntem suas forças a fim de eliminar
os vírus que estão dentro do corpo de Frank e ameaçam toda a “cidade” onde
vivem. O filme também oferece uma ilustração sobre o sistema imunológico e
células sanguíneas, assim como sistema respiratório e digestório.

FONTE: Disponível em: <http://www.filmesdecinema.com.br/filme-osmose-jones-3767/>. Acesso


em: 29 nov. 2010.

207
UNIDADE 3 | CONTROLE DOS MICRORGANISMOS E OS PRINCIPAIS GRUPOS

5 SAÍDAS DE CAMPO
Caro acadêmico, essa metodologia necessita de um planejamento, pois
envolve custos, visto que essa nossa proposta se localiza na cidade de São Paulo.
Nossa proposta é uma visita ao Museu de Microbiologia do Butantã, para que o
aluno tenha a oportunidade de conhecer e estimular sua curiosidade científica,
além de promover um melhor entendimento das ciências e também a divulgação
das atividades desenvolvidas pelo Instituto.

Encontraremos três ambientes no Museu: exposições com equipamentos,


painéis, modelos gigantes tridimensionais de microrganismos; auditório com
apresentação de palestras, filmes, vídeos que complementam as informações;
e laboratório com aparelhos e materiais, que possibilitam aos alunos ampla
interatividade através de experiências sob a orientação de monitores do Museu,
com utilização de microscópios. Essa é uma dica muito interessante de saída de
campo, principalmente para alunos do Ensino Médio, mas nada impede que os
do Ensino Fundamental possam desfrutar dessa atividade.

ATENCAO

O Museu de Microbiologia do Butantã fica localizado na Av. Vital Brasil, 1500,


no bairro Butantã, na cidade de São Paulo – SP. Caso você tenha interesse, o telefone para o
agendamento de visitas é (11) 3726-7222 – ramal 2155.

A saída de campo exige tempo, pois deve ser planejada e organizada para
que os objetivos sejam alcançados e não pode ser apenas um passeio, e sim, que
acrescente conhecimentos além dos que foram vistos em sala de aula.

208
RESUMO DO TÓPICO 4

Neste tópico, você estudou que:

• São muitos os recursos que você poderá utilizar na sua atividade didática.

• É muito importante trabalhar a multidisciplinaridade no ensino de qualquer


conteúdo ou disciplina.

• Tornar conteúdos mais didáticos, estimulantes e divertidos facilita o aprendizado


e fixa os conhecimentos mais facilmente, de uma forma mais prazerosa e menos
maçante para o aluno.

• Jogos, saídas de campo, aulas práticas e recursos audiovisuais são ótimas


ferramentas de ensino.

• É possível realizar aulas práticas sem um laboratório e sem microscópio.

• As atividades práticas são importantes e necessárias para preencher lacunas


deixadas durante a explanação do conteúdo, despertando, assim, a curiosidade
do aluno.

• Propiciar prazer ao aprendizado traz muitos benefícios, porém, muitas vezes


são desconhecidos ou ignorados pelos professores.

• É preciso utilizar outras ideias, inventar outras metodologias para tornar o


momento da aprendizagem mais eficaz.

209
AUTOATIVIDADE

1 Caro acadêmico! Agora é a sua vez de pôr em prática os


conhecimentos adquiridos no Caderno de Microbiologia.
Escolha um assunto dentro da Microbiologia e faça um
plano de aula dinâmico e atrativo para seus alunos de Ensino
Fundamental ou Médio. Bom trabalho!

210
REFERÊNCIAS
BARBOSA, H. R.; TORRES, B. B. Microbiologia básica. Rio de Janeiro: Atheneu, 1999.

BLACK, J. G. Microbiologia: fundamentos e perspectivas. 4. ed. Rio de Janeiro:


Guanabara Koogan, 2002.

BURNS. G. W. Genética: uma introdução à hereditariedade. 5. ed. Rio de


Janeiro: Interamericana, 1984.

CARNEIRO, J; JUNQUEIRA, L. C. V. Biologia celular e molecular. 7. ed. Rio de


Janeiro: Guanabara Koogan, 2000.

FERREIRA, J. C. T. Vultos da medicina: anatomia patológica. Ver. Fac. Ciênc.


Méd. Sorocaba, São Paulo, v. 5, n. 1, p. 72-74, 2003.

GAIESKY, V. L. da S. V. Ferramentas metodológicas para o estudo de problemas


de biologia do desenvolvimento. In: GARCIA, S. M. L.; FERNÁNDEZ, C. G.
Embriologia. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2001.

PELCZAR, M. J.; CHAN, E. C. S.; KRIEG, N. R. Microbiologia: conceitos e


aplicações. 2. ed. São Paulo: Makron Books, 1997a. v.1.

PELCZAR, M. J.; CHAN, E. C. S.; KRIEG, N. R. Microbiologia: conceitos e


aplicações. 2. ed. São Paulo: Makron Books, 1997b. v.2.

PURVES, W. K. et al. Vida: a ciência da biologia. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2002.

ROITMAN, I.; TRAVASSOS, L. R; AZEVEDO, J. L. Tratado de microbiologia.


São Paulo: Manole, 1991. v.1.

TORTORA, G. T.; FUNKE, B. R.; CASE, C. L. Microbiologia. Porto Alegre:


Artmed, 2000.

TRABULSI, L. R. Microbiologia. 3. ed. São Paulo: Atheneu, 1999.

UZUNIAN, A.; PINSETA, D. E.; SASSON, S. Biologia: introdução à biologia.


São Paulo: Gráfica e Editora Anglo, 1991.

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