Você está na página 1de 3

Os óleos essenciais e os aromas natalinos!

“Nada é mais memorável do que o aroma.


Um aroma pode ser inesperado,
momentâneo e fugaz, mas evoca um verão
de infância ao lado de um lago...”

Diane Ackerman

Provavelmente um dos pontos mais relevantes nos estudos sobre a Aromaterapia e o


uso dos óleos essenciais é o fato de que o nosso sistema olfativo está diretamente ligado
ao sistema límbico, que também é conhecido como o “cérebro emocional”, uma vez que
esse conjunto de estruturas é justamente responsável por todas as nossas respostas
emocionais e pelo comportamento (diretamente influenciado pelas nossas emoções) e
pela memória.

Portanto, ao inalarmos determinadas substâncias, seus aromas podem ser agradáveis


ou não e isso é uma questão muito peculiar de cada indivíduo.

Certa vez, durante a vivência olfativa com o óleo essencial de Lemongrass (cymbopogon
citratus), duas pessoas tiveram uma reação completamente diferente (e bem
interessante), que foi inclusiva evidenciada pela expressão facial de cada uma, onde uma
demonstrou satisfação e agradabilidade e a outra repulsa e incômodo. A primeira
comentou que esse aroma fez com que ela lembrasse do carinho da mãe, que sempre
fazia um chá de erva-cidreira todas as vezes antes das provas escolares, com o intuito
de ajudar a pessoa a se acalmar e estudar melhor. Uma memória de carinho, que
envolve afeto. Já a segunda explicou que aquele cheiro horrível a fazia lembrar do chá
que, desde criança e até agora, já adulta, o pessoal insiste em servir nos velórios da
família dela para acalmar os outros. O óleo essencial é o mesmo, o aroma que ambas
inalaram também era o mesmo e até mesmo a forma como esse aroma se apresentou
para ambas é igual: chá. No entanto, o significado que cada uma atribuiu a esse aroma
está diretamente relacionado com a lembrança que foi evocada e com a experiência
vivida.

Como estamos constantemente tendo novas experiências, o que foi assimilado pode ser
reforçado ou ressignificado e esse processo, como está associado ao sistema límbico,
perpassa pelas nossas emoções.

Todo final de ano temos uma nova oportunidade de vivenciar os festejos natalinos e
para um grupo de pessoas essa oportunidade é um motivo de muita alegria e para
outros pode simplesmente não haver motivo algum para comemorar e até mesmo para
se alegrar. A cada doze meses, ininterruptamente, voltaremos a esse mesmo ponto,
como ocorre com os términos/inícios de ciclos e novamente iremos nos deparar com
nossas lembranças, memórias, afetos e tudo mais o que este período traz consigo.
Interligado a esse aspecto, temos os aromas, que estão intimamente relacionados a essa
época do Natal.

A pesquisa realizada na República Checa², intitulada Gingerbread (semelhante a um pão


de mel) e alegria de Natal - revisão do papel potencial dos compostos semelhantes a
anfetaminas que elevam o humor, formados in vivo e em furno, reitera que as
especiarias típicas usadas no inverno europeu incluem noz-moscada, canela, cravo e
anis. Segundo o pesquisador, essas especiarias contêm compostos químicos que, de
acordo com pesquisas realizadas anteriormente, atuam como precursores metabólicos
das anfetaminas (substâncias que causam sensação de euforia, alegria, bem-estar),
embora tais reações não tenham sido relatadas em humanos. Por outro lado, os seres
humanos podem ser expostos a anfetaminas derivadas desses precursores “em forno”,
isto é, a formação ocorre durante o ato de cozinhar e assar, como por exemplo, na
preparação do pão de mel ou do famoso biscoito de Natal conhecido como Gingerbread
(os nórdicos também têm o seu biscoito de especiarias para essa época: Spekulaas). A
pesquisa declara que é possível que isso seja responsável, em parte, por elevar o humor
das pessoas no inverno e afirma que o papel dessas substâncias aromáticas, agindo
simplesmente como odores e evocando velhas memórias de invernos passados, não
pode ser ignorado. Tal alegação vai ao encontro da afirmação da escritora Diane
Ackerman na citação inicial: Nada é mais memorável do que o aroma.

Cada uma dessas especiarias responde pela matéria aromática de onde óleos essenciais
incríveis são extraídos: Noz Moscada (Myristica fragrans), Canela (Cinnamomum verum,
Cinnamomum zeylanicum), Cravo (Syzygium aromaticum, Eugenia caryophyllata) e Anis
– o estrelado (Illicium verum). Na Inglaterra, nessa época, é vendido um produto
chamado Seasonal Joy (Alegria Sazonal), que é um blend dos óleos essenciais de Cravo,
Laranja (Citrus aurantium), Noz Moscada e Canela para ser usado no aromatizador de
ambiente.

Aqui, nas regiões subtropicais, o sol do verão se encarrega de nos ajudar com a questão
do humor e assim como os europeus, americanos, canadenses – usamos essas
especiarias também, no “nosso” inverno, durante os festejos juninos.

Particularmente, o aroma de “panetone” é a representação do Natal e não só porque é


uma das tradições desse momento. Alguns Natais atrás, quando eu era criança, minha
mãe e minhas tias me levaram na fábrica de panetone da Visconti, que ficava no bairro
do Ipiranga-SP – uma experiência marcante! Quando senti aquele aroma tão gostoso
naquele lugar tão bonito... eu me lembro de pensar que aquele lugar só poderia ser o
paraíso! Pura alegria e êxtase! Porém, comprar as “essências” de aroma de panetone
não causam o mesmo efeito. Porque esse é um ponto crucial para se levar em
consideração – a quantidade que será utilizada! O produto sendo de qualidade, o foco
na arte de mesclar os aromas para criar algo extremamente agradável e atrativo ou gerar
o efeito totalmente contrário depende da quantidade usada - a dose! Vale a pena
lembrar disso ao formular o seu blend festivo!

Pensando nisso, especificamente para você - qual seria o aroma de Natal? Qual (quais)
memória esse aroma (aromas) desperta?

Namastê!

Profª. Kátia Veloso

Aromaterapeuta e Terapeuta Maha Lilah.

¹ACKERMAN, D. A Natural History of the Senses. New York: Vintage Books USA, 1990.

²Idle JR. Christmas gingerbread (Lebkuchen) and Christmas cheer-review of the potential
role of mood elevating amphetamine-like compounds formed in vivo and in furno. Prague
Med Rep. 2005;106(1):27-38. PMID: 16007907.

Você também pode gostar