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Gramática e Literatura

para vestibular medicina


1ª edição • Belo Horizonte
2019

L C
LINGUAGENS, CÓDIGOS

2
e suas tecnologias
Gramática e Literatura
ENTRE LETRAS Lucas Limberti, Murilo de Almeida Gonçalves e Pércio Luis Ferreira
© Hexag Sistema de Ensino, 2018
Direitos desta edição: Hexag Sistema de Ensino, São Paulo, 2019
Todos os direitos reservados.

Autores
Lucas Limberti
Murilo de Almeida Gonçalves
Pércio Luis Ferreira

Diretor geral
Herlan Fellini

Coordenador geral
Raphael de Souza Motta

Responsabilidade editorial, programação visual, revisão e pesquisa iconográfica


Hexag Sistema de Ensino

Diretor editorial
Pedro Tadeu Batista

Editoração eletrônica
Arthur Tahan Miguel Torres
Claudio Guilherme da Silva
Eder Carlos Bastos de Lima
Fernando Cruz Botelho de Souza
Matheus Franco da Silveira
Raphael de Souza Motta
Raphael Campos Silva

Projeto gráfico e capa


Raphael Campos Silva

Foto da capa
pixabay (http://pixabay.com)

Impressão e acabamento
Meta Solutions

ISBN: 978-85-9542-147-9

Todas as citações de textos contidas neste livro didático estão de acordo com a legislação, tendo por fim único e exclusivo o
ensino. Caso exista algum texto, a respeito do qual seja necessária a inclusão de informação adicional, ficamos à disposição
para o contato pertinente. Do mesmo modo, fizemos todos os esforços para identificar e localizar os titulares dos direitos sobre
as imagens publicadas e estamos à disposição para suprir eventual omissão de crédito em futuras edições.
O material de publicidade e propaganda reproduzido nesta obra é usado apenas para fins didáticos, não representando
qualquer tipo de recomendação de produtos ou empresas por parte do(s) autor(es) e da editora.

2019
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CARO ALUNO

O Hexag Medicina é referência em preparação pré-vestibular de candidatos à carreira de Medicina. Desde 2010, são centenas de aprovações nos
principais vestibulares de Medicina no Estado de São Paulo, Rio de Janeiro e em todo Brasil. O material didático foi, mais uma vez, aperfeiçoado e seu conteúdo
enriquecido, inclusive com questões recentes dos relevantes vestibulares de 2019.
Esteticamente, houve uma melhora em seu layout, na definição das imagens, criação de novas seções e também na utilização de cores.
No total, são 103 livros, 24 cadernos de Estudo Orientado e 6 cadernos de aula.
O conteúdo dos livros foi organizado por aulas. Cada assunto contém uma rica teoria, que contempla de forma objetiva e clara o que o aluno realmente
necessita assimilar para o seu êxito nos principais vestibulares do Brasil e Enem, dispensando qualquer tipo de material alternativo complementar. Todo livro é
iniciado por um infográfico. Esta seção, de forma simples, resumida e dinâmica, foi desenvolvida para indicação dos assuntos mais abordados nos principais
vestibulares, voltados para o curso de medicina em todo território nacional.
O conteúdo das aulas está dividido da seguinte forma:
TEORIA
Todo o desenvolvimento dos conteúdos teóricos, de cada coleção, tem como principal objetivo apoiar o estudante na resolução de questões propos-
tas. Os textos dos livros são de fácil compreensão, completos e organizados. Além disso, contam com imagens ilustrativas que complementam as explicações
dadas em sala de aula. Quadros, mapas e organogramas, em cores nítidas, também são usados, e compõem um conjunto abrangente de informações para o
estudante, que vai dedicar-se à rotina intensa de estudos.
TEORIA NA PRÁTICA (EXEMPLOS)
Desenvolvida pensando nas disciplinas que fazem parte das Ciências da Natureza e suas Tecnologias e Matemática e suas Tecnologias. Nesses
compilados nos deparamos com modelos de exercícios resolvidos e comentados, aquilo que parece abstrato e de difícil compreensão torna-se mais acessível
e de bom entendimento aos olhos do estudante.
Através dessas resoluções é possível rever a qualquer momento as explicações dadas em sala de aula.
INTERATIVIDADE
Trata-se do complemento às aulas abordadas. É desenvolvida uma seção que oferece uma cuidadosa seleção de conteúdos para complementar o
repertório do estudante. É dividido em boxes para facilitar a compreensão, com indicação de vídeos, sites, filmes, músicas e livros para o aprendizado do aluno.
Tudo isso é encontrado em subcategorias que facilitam o aprofundamento nos temas estudados. Há obras de arte, poemas, imagens, artigos e até sugestões
de aplicativos que facilitam os estudos, sendo conteúdos essenciais para ampliar as habilidades de análise e reflexão crítica. Tudo é selecionado com finos
critérios para apurar ainda mais o conhecimento do nosso estudante.
INTERDISCIPLINARIDADE
Atento às constantes mudanças dos grandes vestibulares, é elaborada, a cada aula, a seção interdisciplinaridade. As questões dos vestibulares de
hoje não exigem mais dos candidatos apenas o puro conhecimento dos conteúdos de cada área, de cada matéria.
Atualmente há muitas perguntas interdisciplinares que abrangem conteúdos de diferentes áreas em uma mesma questão, como biologia e química,
história e geografia, biologia e matemática, entre outros. Neste espaço, o estudante inicia o contato com essa realidade por meio de explicações que relacio-
nam a aula do dia com aulas de outras disciplinas e conteúdos de outros livros, sempre utilizando temas da atualidade. Assim, o estudante consegue entender
que cada disciplina não existe de forma isolada, mas sim, fazendo parte de uma grande engrenagem no mundo em que ele vive.
APLICAÇÃO NO COTIDIANO
Um dos grandes problemas do conhecimento acadêmico é o seu distanciamento da realidade cotidiana no desenvolver do dia a dia, dificultando o
contato daqueles que tentam apreender determinados conceitos e aprofundamento dos assuntos, para além da superficial memorização ou “decorebas” de
fórmulas ou regras. Para evitar bloqueios de aprendizagem com os conteúdos, foi desenvolvida a seção "Aplicação no Cotidiano". Como o próprio nome já
aponta, há uma preocupação em levar aos nossos estudantes a clareza das relações entre aquilo que eles aprendem e aquilo que eles têm contato em seu
dia a dia.
CONSTRUÇÃO DE HABILIDADES
Elaborada pensando no Enem, e sabendo que a prova tem o objetivo de avaliar o desempenho ao fim da escolaridade básica, o estudante deve
conhecer as diversas habilidades e competências abordadas nas provas. Os livros da “Coleção vestibulares de Medicina” contêm, a cada aula, algumas dessas
habilidades. No compilado “Construção de Habilidades”, há o modelo de exercício que não é apenas resolvido, mas sim feito uma análise expositiva, descre-
vendo passo a passo e analisado à luz das habilidades estudadas no dia. Esse recurso constrói para o estudante um roteiro para ajudá-lo a apurá-las na sua
prática, identificá-las na prova e resolver cada questão com tranquilidade.
ESTRUTURA CONCEITUAL
Cada pessoa tem sua própria forma de aprendizado. Geramos aos estudantes o máximo de recursos para orientá-los em suas trajetórias. Um deles
é a estrutura conceitual, para aqueles que aprendem visualmente a entender os conteúdos e processos por meio de esquemas cognitivos, mapas mentais e
fluxogramas. Além disso, esse compilado é um resumo de todo o conteúdo da aula. Por meio dele, pode-se fazer uma rápida consulta aos principais conteúdos
ensinados no dia, o que facilita sua organização de estudos e até a resolução dos exercícios.
A edição 2019 foi elaborada com muito empenho e dedicação, oferecendo ao aluno um material moderno e completo, um grande aliado para o seu
sucesso nos vestibulares mais concorridos de Medicina.
Herlan Fellini
SUMÁRIO
ENTRE LETRAS
GRAMÁTICA
Aulas 11 e 12: Pronomes pessoais 7
Aulas 13 e 14: Pronomes demonstrativos e possessivos 15
Aulas 15 e 16: Pronomes relativos, interrogativos e indefinidos 21
Aulas 17 e 18: Numerais, preposições e interjeições 27

LITERATURA
Aula 6: Romantismo: Poesia - 1ª. Fase (Indianista) 37
Aula 7: Romantismo: Poesia e Prosa - 2ª. Fase (Byroniana) 51
Aula 8: Romantismo: Poesia - 3ª. Fase (Condoreira) / Teatro 61
Aula 9: Romantismo: Romance Indianista 69
Abordagem de GRAMÁTICA nos principais vestibulares.

FUVEST
Dentre os temas abordados neste caderno, os Pronomes apresentam grande incidência no ves-
tibular da Fuvest, sendo abordados não apenas em suas relações morfossintáticas, mas também
a partir de seus aspectos de uso coloquial.

LD
ADE DE ME
D
UNESP
U

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FAC

INA

BO
1963
T U C AT U Dentre os temas abordados neste caderno, os Pronomes apresentam incidência acima da média
no vestibular da Unesp, sendo cobrado quase que anualmente em seus exames.

UNICAMP
Dentre os temas abordados neste caderno, os Pronomes apresentam incidência relativa no vestibu-
lar da Unicamp, aparecendo com maior frequência em testes de segunda fase.

UNIFESP
Dentre os temas abordados neste caderno, os Pronomes apresentam incidência acima da média
no vestibular da Unifesp, sendo cobrado quase que anualmente em seus exames. Ainda são
muito comuns exercícios com usos de preposições.

ENEM/UFMG/UFRJ
Os temas abordados neste caderno apresentam baixa incidência na prova do ENEM, ocorrendo
algumas aparições de uso de pronomes pessoais.

UERJ
Dentre os temas abordados neste caderno, os Pronomes apresentam grande incidência no vesti-
bular da UERJ. De maneira mais esporádica, encontraremos questões sobre preposições.
1 2
1 1 Pronomes pessoais

Competências Habilidades
1, 6 e 8 1, 2, 3, 18 e 27
Geralt/Pixabay

L C
ENTRE LETRAS
Competência 1 – Aplicar as tecnologias da comunicação e da informação na escola, no trabalho e em outros contextos relevantes para
sua vida.
H1 Identificar as diferentes linguagens e seus recursos expressivos como elementos de caracterização dos sistemas de comunicação.
H2 Recorrer aos conhecimentos sobre as linguagens dos sistemas de comunicação e informação para resolver problemas sociais.
H3 Relacionar informações geradas nos sistemas de comunicação e informação, considerando a função social desses sistemas.
H4 Reconhecer posições críticas aos usos sociais que são feitos das linguagens e dos sistemas de comunicação e informação.
Competência 2 – Conhecer e usar língua(s) estrangeira(s) moderna(s) (LEM) como instrumento de acesso a informações e a outras
culturas e grupos sociais.
H5 Associar vocábulos e expressões de um texto em LEM ao seu tema.
H6 Utilizar os conhecimentos da LEM e de seus mecanismos como meio de ampliar as possibilidades de acesso a informações, tecnologias e culturas.
H7 Relacionar um texto em LEM, as estruturas linguísticas, sua função e seu uso social.
H8 Reconhecer a importância da produção cultural em LEM como representação da diversidade cultural e linguística.
Competência 3 – Compreender e usar a linguagem corporal como relevante para a própria vida, integradora social e formadora da
identidade.
H9 Reconhecer as manifestações corporais de movimento como originárias de necessidades cotidianas de um grupo social.
H10 Reconhecer a necessidade de transformação de hábitos corporais em função das necessidades cinestésicas.
Reconhecer a linguagem corporal como meio de interação social, considerando os limites de desempenho e as alternativas de adaptação para
H11
diferentes indivíduos.
Competência 4 – Compreender a arte como saber cultural e estético gerador de significação e integrador da organização do mundo e
da própria identidade.
H12 Reconhecer diferentes funções da arte, do trabalho da produção dos artistas em seus meios culturais.
H13 Analisar as diversas produções artísticas como meio de explicar diferentes culturas, padrões de beleza e preconceitos.
H14 Reconhecer o valor da diversidade artística e das inter-relações de elementos que se apresentam nas manifestações de vários grupos sociais e étnicos.
Competência 5 – Analisar, interpretar e aplicar recursos expressivos das linguagens, relacionando textos com seus contextos, mediante
a natureza, função, organização, estrutura das manifestações, de acordo com as condições de produção e recepção.
H15 Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção, situando aspectos do contexto histórico, social e político.
H16 Relacionar informações sobre concepções artísticas e procedimentos de construção do texto literário.
H17 Reconhecer a presença de valores sociais e humanos atualizáveis e permanentes no patrimônio literário nacional.
Competência 6 – Compreender e usar os sistemas simbólicos das diferentes linguagens como meios de organização cognitiva da
realidade pela constituição de significados, expressão, comunicação e informação.
H18 Identificar os elementos que concorrem para a progressão temática e para a organização e estruturação de textos de diferentes gêneros e tipos.
H19 Analisar a função da linguagem predominante nos textos em situações específicas de interlocução.
H20 Reconhecer a importância do patrimônio linguístico para a preservação da memória e da identidade nacional
Competência 7 – Confrontar opiniões e pontos de vista sobre as diferentes linguagens e suas manifestações específicas.
H21 Reconhecer em textos de diferentes gêneros, recursos verbais e não-verbais utilizados com a finalidade de criar e mudar comportamentos e hábitos.
H22 Relacionar, em diferentes textos, opiniões, temas, assuntos e recursos linguísticos.
H23 Inferir em um texto quais são os objetivos de seu produtor e quem é seu público alvo, pela análise dos procedimentos argumentativos utilizados.
Reconhecer no texto estratégias argumentativas empregadas para o convencimento do público, tais como a intimidação, sedução, comoção,
H24
chantagem, entre outras.
Competência 8 – Compreender e usar a língua portuguesa como língua materna, geradora de significação e integradora da organização
do mundo e da própria identidade.
H25 Identificar, em textos de diferentes gêneros, as marcas linguísticas que singularizam as variedades linguísticas sociais, regionais e de registro.
H26 Relacionar as variedades linguísticas a situações específicas de uso social.
H27 Reconhecer os usos da norma padrão da língua portuguesa nas diferentes situações de comunicação.
Competência 9 – Entender os princípios, a natureza, a função e o impacto das tecnologias da comunicação e da informação na sua vida
pessoal e social, no desenvolvimento do conhecimento, associando-o aos conhecimentos científicos, às linguagens que lhes dão suporte,
às demais tecnologias, aos processos de produção e aos problemas que se propõem solucionar.
H28 Reconhecer a função e o impacto social das diferentes tecnologias da comunicação e informação.
H29 Identificar pela análise de suas linguagens, as tecnologias da comunicação e informação.
H30 Relacionar as tecnologias de comunicação e informação ao desenvolvimento das sociedades e ao conhecimento que elas produzem
Pronome
Pronome é a palavra variável que, na linguagem, identifica os participantes da interlocução (pessoas do
discurso), os seres no mundo, além de eventos ou situações aos quais o discurso faça referência.
Os pronomes, em geral, operam em conjunto com os substantivos (nomes), podendo substituí-los, referen-
ciá-los ou, ainda, acompanhá-los em um processo qualificativo. Vejamos alguns exemplos:

O rapaz estava bravo, mas ele tinha toda a razão. (O termo ele substitui o substantivo rapaz.)
Essa é a moça que processou o gerente da loja. (O termo que faz referência ao substantivo moça.)
Aquele rapaz é bastante irritante. (O termo aquele acompanha e qualifica/especifica o termo rapaz.)

Por meio desses exemplos é possível perceber que os pronomes são uma classe de palavras que não possuem
significações pré-determinadas. Seus sentidos são, na maioria dos casos, dependentes de contextos que permitirão ao
leitor recuperar as referências dos pronomes utilizados nos processos comunicativos.
Tecnicamente, os pronomes exercem algumas relações semânticas condizentes às pessoas do discurso.
Essas funções são conhecidas como anafóricas (retomada de termos anteriormente mencionados), catafóricas
(prenuncia algo que será mencionado/dito) ou dêiticas (apontamento de coisas/pessoas que estão no mundo).
Essas funções são exercidas por todas as classes de pronomes, com exceção dos pronomes interrogativos e
indefinidos. Em nossa primeira aula, aprenderemos como realizar as classificações iniciais entre pronomes de tipo
substantivo e pronomes de tipo adjetivo, além de trabalharmos com os pronomes pessoais.

Pronomes substantivos x pronomes adjetivos


§§ Entende-se por pronome substantivo aquele que substitui um substantivo ao qual faz referência.
Exemplo: Aquilo o deixou constrangido. = A situação o deixou constrangido.

§§ Entende-se por pronome adjetivo aquele que acompanha um substantivo, atribuindo-lhe características.
Exemplo: Este carro é bastante potente.

Observação: A classificação dos pronomes em substantivos ou adjetivos não exclui as classificações de


origem (pessoal, demonstrativo, possessivo, relativo, indefinido e interrogativo) desses elementos.

Pronomes pessoais
Os pronomes pessoais são aqueles que substituem os substantivos. Nesse movimento, eles acabam por
evidenciar as pessoas do discurso. Quando temos de designar a pessoa que fala (1ª pessoa), usamos os pronomes
eu e nós. Para marcar as pessoas a quem nos dirigimos (2ª pessoa), usamos tu, vós e você(s). Já para apontar
para pessoas de quem se fala (3ª pessoa), utilizamos ele(s) e ela(s).
De acordo com o posicionamento nos processos sintáticos, os pronomes pessoais podem funcionar como:
§§ Caso reto: são pronomes pessoais que, em uma construção sintática, ocuparão a posição de sujeito ou
de predicativo do sujeito.
Exemplo: Eu fiquei bastante chateado.
A seguir, temos a lista de pronomes do caso reto em português:

1ª pessoa do singular eu
2ª pessoa do singular tu
3ª pessoa do singular ele / ela

9
1ª pessoa do plural nós
2ª pessoa do plural vós
3ª pessoa do plural eles / elas

Observação 1: Conforme se vê no quadro, apenas os pronomes pessoais retos de 3ª pessoa variam em


gênero. Os demais têm uma única forma para masculino e feminino.

Observação 2: Em Língua Portuguesa, é comum a omissão dos pronomes do caso reto, sem prejuízo do
entendimento da frase. Isso se dá pelo fato de as desinências verbais serem capazes de designar as pessoas
que estão sendo utilizadas na construção.
Exemplo: (Eu) Fiquei bastante chateado. (É possível localizar o “eu” pela desinência do verbo.)

§§ Caso oblíquo: são pronomes pessoais que, em uma construção sintática, ocuparão a posição de comple-
mento verbal (objeto direto ou indireto) ou complemento nominal.
Exemplo: Compraram-nos alguns presentes. (O pronome é complemento do verbo comprar.)

A seguir, temos a lista de pronomes do caso oblíquo em português:

1. Pronomes oblíquos átonos


Os pronomes oblíquos átonos são aqueles que possuem acentuação (tonicidade) fraca em relação às pala-
vras que os acompanham. Esses pronomes não são precedidos de qualquer preposição.
Pessoa Pronome oblíquo átono Equivalente no caso reto
1ª pessoa do singular me eu
2ª pessoa do singular te tu
3ª pessoa do singular o / a / lhe ele / ela
1ª pessoa do plural nos nós
2ª pessoa do plural vos vós
3ª pessoa do plural os / as / lhes eles / elas

Observação 1: Os pronomes o(s) e a(s) funcionam exclusivamente como substitutos de objetos diretos.
Observação 2: O pronome lhe funciona exclusivamente como substituto de complementos preposicionados.
Observação 3: Os pronomes me, te, nos e vos funcionam tanto como substitutos de objetos diretos
como de objetos indiretos.

Casos especiais de uso dos pronomes átonos


Os pronomes o(s) e a(s) podem assumir formas especiais quando acompanhados de verbos que possuam
as terminações -z, -s ou -r. Eles serão usados como lo(s) e la(s).
Exemplos: traz + o = trá-lo
empurrastes + o = empurraste-lo
beijar + a = beijá-la

Tratando-se de verbos que apresentam terminação com som nasal, os pronomes o(s) e a(s) assumem as
formas no(s) e na(s).
Exemplos: compram + o = compram-no
põe + a = Põe-na
detém + os = detém-nos
tem + as = Tem-nas

10
2. Pronomes oblíquos tônicos
Os pronomes oblíquos tônicos são aqueles que possuem acentuação (tonicidade) forte em relação às palavras
que os acompanham. Esses pronomes são precedidos por preposição (em especial a, para, de e com).
Pessoa Pronome oblíquo tônico Equivalente no caso reto
1ª pessoa do singular mim / comigo eu
2ª pessoa do singular ti / contigo tu
3ª pessoa do singular ele / ela ele / ela
1ª pessoa do plural nós / conosco nós
2ª pessoa do plural vós / convosco vós
3ª pessoa do plural eles / elas eles / elas

Observação 1: Alguns pronomes dessa lista são inéditos (mim, comigo, ti, contigo, conosco e con-
vosco) e, por esse motivo, são exclusivamente tônicos. Os repetidos (já vistos anteriormente) são aqueles
que podem atuar como tônicos ou átonos.
Observação 2: O pronome lhe funciona exclusivamente como substituto de objetos indiretos.
Observação 3: Em composições que exijam o uso da gramática normativa, as preposições nunca podem
introduzir pronomes pessoais do caso reto. Esse movimento só é permitido com pronomes pessoais do caso.
Exemplos: Não há mais nada entre mim e ti (certo)
Não há mais nada entre eu e ti. (errado)
Estão todos contra mim. (certo)
Estão todos contra eu. (errado)
Não vá sem mim. (certo)
Não vá sem eu. (errado)

Atenção: Essa regra passa por uma alteração no caso de haver, após o pronome, um verbo no infinitivo.
Nesse caso, o pronome estará funcionando como sujeito desse verbo. E como vimos anteriormente, quem
ocupa posição de sujeito em uma frase são os pronomes do caso reto.
Exemplo: Arrumaram um monte de encrencas para eu resolver.

Pronome reflexivo
Os pronomes pessoais oblíquos podem funcionar como pronomes reflexivos, indicando que o sujeito pratica
e também sofre a ação verbal.
Pessoa Pronome oblíquo àtono Equivalente no caso reto
1ª pessoa do singular me / mim eu
2ª pessoa do singular te / ti tu
3ª pessoa do singular se / si / consigo ele / ela
1ª pessoa do plural nos nós
2ª pessoa do plural vos vós
3ª pessoa do plural se / si / consigo eles / elas

Vejamos alguns exemplos de aplicação:


1. Eu não me incomodo com esses barulho.
2. Conhece a ti mesmo.
3. Pedro já refletiu consigo mesmo a respeito da briga.
4. Presenteamo-nos naquele dia.
5. Vós vos banhastes naquele rio.
6. Eles se beijaram de maneira apaixonada.

11
Pronomes de tratamento
Os pronomes de tratamento são utilizados em relações pessoais de comunicação e obedecem a uma regra de
utilização bem específica, conhecida como segunda pessoa indireta, regra na qual os pronomes são estruturados
a partir da 2a pessoa, mas concordam com a 3ª pessoa. Vejamos a tabela com os principais pronomes de tratamento:

Vossa Majestade V.M. reis e rainhas


Vossa Altleza V.A. príncipes e duques
Vossa Senhoria V.S.ª(s) tratamento cerimonioso
Vossa Santidade V.S. papa,
Vossa Excelência V. Ex.ª (s) grandes autorides e oficiais-generais

Vossa Eminência V. Ema.(s) cardeais


Vossa Reverendíssima V. Revma. (s)
sacerdotes e bispos

Observação 1: Também são pronomes de tratamento as formas o senhor, a senhora e você(s). As duas
primeiras formas são empregadas no tratamento mais respeitoso (em geral, com pessoas mais velhas), já a forma
“você(s)” é utilizada em tratamentos entre amigos (pessoas que já se conhecem, de idade próxima ou que sejam
mais novas).

Observação 2: Como dito anteriormente, embora os pronomes de tratamento marquem 2ª pessoa (vossa),
a concordância deve ser feita com verbo em 3ª pessoa.
Exemplo: Lembre-se que Vossa Reverendíssima estará no evento litúrgico desta noite.

Observação 3: A gramática normativa exige que se mantenha uma congruência entre os pronomes de
tratamento usados em composições textuais. Desse modo, se o texto começar tratando a pessoa por “tu”, deve-se
distribuir (e manter) as formas de tratamento correspondentes ao longo do texto (“teu” e “tua”).

Exemplos: Quando você chegar, eu te buscarei na estação. (errado)


Quando tu chegares, eu te buscarei na estação. (certo)
Quando você chegar, eu a buscarei na estação. (certo)

12
INTERATIVIDADE

LER E OUVIR

Letra e Música Ela disse adeus (Paralamas do Sucesso)

Observe os pronomes da canção abaixo e procure identificar a razão de seus empregos.

Ela disse adeus (Paralamas do Sucesso)

Ela disse adeus


(Now the deed is done
As you blink she is gone
Let her get on with life
Let her have some fun)

Ela disse adeus, e chorou


Já sem nenhum sinal de amor
Ela se vestiu, e se olhou
Sem luxo, mas se perfumou
Lágrimas por ninguém
Só porque é triste o fim
Outro amor se acabou

Ele quis lhe pedir pra ficar


De nada ia adiantar
Quis lhe prometer melhorar
E quem iria acreditar
Ela não precisa mais de você
Sempre o último a saber

13
Estrutura Conceitual

MORFOLOGIA

PRONOMES

PRONOMES SUBSTANTIVOS E PRONOMES ADJETIVOS

Pronomes Pessoais

14
1 4
3 1 Pronomes demonstrativos
e possessivos

Competências Habilidades
1, 6 e 8 1, 2, 3, 18 e 27
Geralt/Pixabay

L C
ENTRE LETRAS
Competência 1 – Aplicar as tecnologias da comunicação e da informação na escola, no trabalho e em outros contextos relevantes para
sua vida.
H1 Identificar as diferentes linguagens e seus recursos expressivos como elementos de caracterização dos sistemas de comunicação.
H2 Recorrer aos conhecimentos sobre as linguagens dos sistemas de comunicação e informação para resolver problemas sociais.
H3 Relacionar informações geradas nos sistemas de comunicação e informação, considerando a função social desses sistemas.
H4 Reconhecer posições críticas aos usos sociais que são feitos das linguagens e dos sistemas de comunicação e informação.
Competência 2 – Conhecer e usar língua(s) estrangeira(s) moderna(s) (LEM) como instrumento de acesso a informações e a outras
culturas e grupos sociais.
H5 Associar vocábulos e expressões de um texto em LEM ao seu tema.
H6 Utilizar os conhecimentos da LEM e de seus mecanismos como meio de ampliar as possibilidades de acesso a informações, tecnologias e culturas.
H7 Relacionar um texto em LEM, as estruturas linguísticas, sua função e seu uso social.
H8 Reconhecer a importância da produção cultural em LEM como representação da diversidade cultural e linguística.
Competência 3 – Compreender e usar a linguagem corporal como relevante para a própria vida, integradora social e formadora da
identidade.
H9 Reconhecer as manifestações corporais de movimento como originárias de necessidades cotidianas de um grupo social.
H10 Reconhecer a necessidade de transformação de hábitos corporais em função das necessidades cinestésicas.
Reconhecer a linguagem corporal como meio de interação social, considerando os limites de desempenho e as alternativas de adaptação para
H11
diferentes indivíduos.
Competência 4 – Compreender a arte como saber cultural e estético gerador de significação e integrador da organização do mundo e
da própria identidade.
H12 Reconhecer diferentes funções da arte, do trabalho da produção dos artistas em seus meios culturais.
H13 Analisar as diversas produções artísticas como meio de explicar diferentes culturas, padrões de beleza e preconceitos.
H14 Reconhecer o valor da diversidade artística e das inter-relações de elementos que se apresentam nas manifestações de vários grupos sociais e étnicos.
Competência 5 – Analisar, interpretar e aplicar recursos expressivos das linguagens, relacionando textos com seus contextos, mediante
a natureza, função, organização, estrutura das manifestações, de acordo com as condições de produção e recepção.
H15 Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção, situando aspectos do contexto histórico, social e político.
H16 Relacionar informações sobre concepções artísticas e procedimentos de construção do texto literário.
H17 Reconhecer a presença de valores sociais e humanos atualizáveis e permanentes no patrimônio literário nacional.
Competência 6 – Compreender e usar os sistemas simbólicos das diferentes linguagens como meios de organização cognitiva da
realidade pela constituição de significados, expressão, comunicação e informação.
H18 Identificar os elementos que concorrem para a progressão temática e para a organização e estruturação de textos de diferentes gêneros e tipos.
H19 Analisar a função da linguagem predominante nos textos em situações específicas de interlocução.
H20 Reconhecer a importância do patrimônio linguístico para a preservação da memória e da identidade nacional
Competência 7 – Confrontar opiniões e pontos de vista sobre as diferentes linguagens e suas manifestações específicas.
H21 Reconhecer em textos de diferentes gêneros, recursos verbais e não-verbais utilizados com a finalidade de criar e mudar comportamentos e hábitos.
H22 Relacionar, em diferentes textos, opiniões, temas, assuntos e recursos linguísticos.
H23 Inferir em um texto quais são os objetivos de seu produtor e quem é seu público alvo, pela análise dos procedimentos argumentativos utilizados.
Reconhecer no texto estratégias argumentativas empregadas para o convencimento do público, tais como a intimidação, sedução, comoção,
H24
chantagem, entre outras.
Competência 8 – Compreender e usar a língua portuguesa como língua materna, geradora de significação e integradora da organização
do mundo e da própria identidade.
H25 Identificar, em textos de diferentes gêneros, as marcas linguísticas que singularizam as variedades linguísticas sociais, regionais e de registro.
H26 Relacionar as variedades linguísticas a situações específicas de uso social.
H27 Reconhecer os usos da norma padrão da língua portuguesa nas diferentes situações de comunicação.
Competência 9 – Entender os princípios, a natureza, a função e o impacto das tecnologias da comunicação e da informação na sua vida
pessoal e social, no desenvolvimento do conhecimento, associando-o aos conhecimentos científicos, às linguagens que lhes dão suporte,
às demais tecnologias, aos processos de produção e aos problemas que se propõem solucionar.
H28 Reconhecer a função e o impacto social das diferentes tecnologias da comunicação e informação.
H29 Identificar pela análise de suas linguagens, as tecnologias da comunicação e informação.
H30 Relacionar as tecnologias de comunicação e informação ao desenvolvimento das sociedades e ao conhecimento que elas produzem
Pronomes possessivos
São pronomes que transmitem à pessoa gramatical a ideia de posse sobre algo.
Exemplo: Este dinheiro é meu.

Pessoa Pronomes possessivos Equivalente no caso reto


1ª pessoa do singular meu(s) / minha(s) eu
2ª pessoa do singular teu(s) / tua(s) tu
3ª pessoa do singular seu(s) / sua(s) ele / ela
1ª pessoa do plural nosso(s) / nossa(s) nós
2ª pessoa do plural vosso(s) / vossa(s) vós
3ª pessoa do plural seu(s) / sua(s) eles / elas

Algumas relações semânticas dos possessivos


§§ Pode funcionar como um marcador de indefinição de um substantivo.
Exemplo: A empresa tem lá seus problemas, mas ainda oferece um bom salário.
§§ Pode indicar conjectura numérica (especulação sobre algum número).
Exemplo: Ele já deve ter seus 50 anos.

§§ Pode indicar afetividade.


Exemplo: Olha aí! É o meu guri. (Chico Buarque)
Observação: Há casos em que o pronome oblíquo lhe funciona como pronome possessivo (quando puder
ser substituído por seus/suas).
Exemplo: Vão lhe roubar as joias. = Vão roubar suas joias.

Pronomes demonstrativos
São utilizados para evidenciar o posicionamento de uma palavra em relação a outras palavras, ou em
relação a um contexto. Esses eventos se dão em relações espaciais, temporais e sintáticas.
§§ Os pronomes demonstrativos dividem-se em dois grupos: os variáveis e os invariáveis.
§§ Variáveis: este(s), esta(s), esse(s), essa(s), aquele(s), aquela(s)
§§ Invariáveis: isto, isso, aquilo

Relações espaciais
§§ O pronome este e suas variantes indicam que, espacialmente, o item/objeto está perto de quem fala.
{{ Exemplo: Usarei este lápis (aqui) mesmo.

§§ O pronome esse e suas variantes indicam que, espacialmente, o item/objeto está perto de quem ouve.
{{ Exemplo: Usarei esse lápis (aí) mesmo.

§§ O pronome aquele e suas variantes indicam que, espacialmente, o item/objeto está afastado tanto de
quem fala, quanto de quem ouve.
{{ Exemplo: Usarei aquele lápis (ali) mesmo.

17
Relações temporais
§§ O pronome este e suas variantes devem ser utilizados para indicar tempo presente em relação ao momento
em que se fala.
{{ Exemplo: Esta noite eu vou ao shopping / Neste mês chove bastante.

§§ O pronome esse e suas variantes devem ser utilizados para indicar tempo passado mais recente ou futuro
em relação ao momento em que se fala.
{{ Exemplo (passado): Esse aumento da crise ocorreu em todos os países da América do Sul.

{{ Exemplo (futuro): Nessa reunião definiremos os parâmetros de venda.

§§ O pronome aquele e suas variantes devem ser utilizados para indicar tempo passado distante em relação
ao momento em que se fala.
{{ Exemplo: Naquela época ainda havia telefones de rua, chamados de orelhões. / Aquelas praças cos-

tumavam ser seguras.

Relações Sintáticas
§§ O pronome este e suas variantes são utilizados para anunciar/adiantar o que será dito na sequência frasal
ou para remeter a um termo imediatamente anterior (recém mencionado).
{{ Exemplo (anunciando informação): O maior problema está neste relatório: ele não dá conta de explicar

todos os problemas
{{ Exemplo (retomando termo recente): Não sei se eu adquiro uma moto ou um carro. Acho que este (último =

carro) é um pouco mais seguro.


§§ O pronome esse e suas variantes são utilizados para retomar um termo, uma ideia ou uma oração já mencionados.
{{ Exemplo: Duas vezes por ano, o Sol atinge sua maior declinação em latitude. Esse fenômeno é conhe-

cido como solstício.


§§ O pronome aquele e suas variantes são utilizados para retomar um termo mais distante entre dois apresentados
em uma sentença (Em geral ele é trabalhado em conjunto com o pronome este, que retomará o item mais próximo).
{{ Exemplo: Na empresa há dois funcionários que se destacam – Pedro e Rogério. Este pelo sua organização,

e aquele pela sua eficiência.

18
INTERATIVIDADE

ACESSAR

Sites “Este” ou “esse”? Tanto faz!

brasiliarios.com/colunas/66-marcos-bagno/578-este-ou-esse-tanto-faz

19
Estrutura Conceitual

MORFOLOGIA

PRONOMES

PRONOMES SUBSTANTIVOS E PRONOMES ADJETIVOS

Pronomes Possessivos

Pronomes Demonstrativos

20
1 6
5 1 Pronomes relativos,
interrogativos e indefinidos

Competências Habilidades
1, 6 e 8 1, 2, 3, 18 e 27
Geralt/Pixabay

L C
ENTRE LETRAS
Competência 1 – Aplicar as tecnologias da comunicação e da informação na escola, no trabalho e em outros contextos relevantes para
sua vida.
H1 Identificar as diferentes linguagens e seus recursos expressivos como elementos de caracterização dos sistemas de comunicação.
H2 Recorrer aos conhecimentos sobre as linguagens dos sistemas de comunicação e informação para resolver problemas sociais.
H3 Relacionar informações geradas nos sistemas de comunicação e informação, considerando a função social desses sistemas.
H4 Reconhecer posições críticas aos usos sociais que são feitos das linguagens e dos sistemas de comunicação e informação.
Competência 2 – Conhecer e usar língua(s) estrangeira(s) moderna(s) (LEM) como instrumento de acesso a informações e a outras
culturas e grupos sociais.
H5 Associar vocábulos e expressões de um texto em LEM ao seu tema.
H6 Utilizar os conhecimentos da LEM e de seus mecanismos como meio de ampliar as possibilidades de acesso a informações, tecnologias e culturas.
H7 Relacionar um texto em LEM, as estruturas linguísticas, sua função e seu uso social.
H8 Reconhecer a importância da produção cultural em LEM como representação da diversidade cultural e linguística.
Competência 3 – Compreender e usar a linguagem corporal como relevante para a própria vida, integradora social e formadora da
identidade.
H9 Reconhecer as manifestações corporais de movimento como originárias de necessidades cotidianas de um grupo social.
H10 Reconhecer a necessidade de transformação de hábitos corporais em função das necessidades cinestésicas.
Reconhecer a linguagem corporal como meio de interação social, considerando os limites de desempenho e as alternativas de adaptação para
H11
diferentes indivíduos.
Competência 4 – Compreender a arte como saber cultural e estético gerador de significação e integrador da organização do mundo e
da própria identidade.
H12 Reconhecer diferentes funções da arte, do trabalho da produção dos artistas em seus meios culturais.
H13 Analisar as diversas produções artísticas como meio de explicar diferentes culturas, padrões de beleza e preconceitos.
H14 Reconhecer o valor da diversidade artística e das inter-relações de elementos que se apresentam nas manifestações de vários grupos sociais e étnicos.
Competência 5 – Analisar, interpretar e aplicar recursos expressivos das linguagens, relacionando textos com seus contextos, mediante
a natureza, função, organização, estrutura das manifestações, de acordo com as condições de produção e recepção.
H15 Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção, situando aspectos do contexto histórico, social e político.
H16 Relacionar informações sobre concepções artísticas e procedimentos de construção do texto literário.
H17 Reconhecer a presença de valores sociais e humanos atualizáveis e permanentes no patrimônio literário nacional.
Competência 6 – Compreender e usar os sistemas simbólicos das diferentes linguagens como meios de organização cognitiva da
realidade pela constituição de significados, expressão, comunicação e informação.
H18 Identificar os elementos que concorrem para a progressão temática e para a organização e estruturação de textos de diferentes gêneros e tipos.
H19 Analisar a função da linguagem predominante nos textos em situações específicas de interlocução.
H20 Reconhecer a importância do patrimônio linguístico para a preservação da memória e da identidade nacional
Competência 7 – Confrontar opiniões e pontos de vista sobre as diferentes linguagens e suas manifestações específicas.
H21 Reconhecer em textos de diferentes gêneros, recursos verbais e não-verbais utilizados com a finalidade de criar e mudar comportamentos e hábitos.
H22 Relacionar, em diferentes textos, opiniões, temas, assuntos e recursos linguísticos.
H23 Inferir em um texto quais são os objetivos de seu produtor e quem é seu público alvo, pela análise dos procedimentos argumentativos utilizados.
Reconhecer no texto estratégias argumentativas empregadas para o convencimento do público, tais como a intimidação, sedução, comoção,
H24
chantagem, entre outras.
Competência 8 – Compreender e usar a língua portuguesa como língua materna, geradora de significação e integradora da organização
do mundo e da própria identidade.
H25 Identificar, em textos de diferentes gêneros, as marcas linguísticas que singularizam as variedades linguísticas sociais, regionais e de registro.
H26 Relacionar as variedades linguísticas a situações específicas de uso social.
H27 Reconhecer os usos da norma padrão da língua portuguesa nas diferentes situações de comunicação.
Competência 9 – Entender os princípios, a natureza, a função e o impacto das tecnologias da comunicação e da informação na sua vida
pessoal e social, no desenvolvimento do conhecimento, associando-o aos conhecimentos científicos, às linguagens que lhes dão suporte,
às demais tecnologias, aos processos de produção e aos problemas que se propõem solucionar.
H28 Reconhecer a função e o impacto social das diferentes tecnologias da comunicação e informação.
H29 Identificar pela análise de suas linguagens, as tecnologias da comunicação e informação.
H30 Relacionar as tecnologias de comunicação e informação ao desenvolvimento das sociedades e ao conhecimento que elas produzem
Pronomes indefinidos
São palavras que fazem referência à 3a pessoa do discurso, dando-lhe caráter indeterminado, vago ou impreciso
Exemplo: Alguém quebrou os copos da minha cristaleira.

Percebe-se que o termo alguém refere-se a uma terceira pessoa (de quem se fala), mas não somos capazes
de lhe atribuir identidade (a informação é vaga, imprecisa).

Pronomes que exercem essas funções


Nenhum, nenhuns, nenhuma(s), todo(s), toda(s), um, uns, uma(s), vários, várias, outro(s), outra(s), pou-
co(s), pouca(s), algum, alguns, alguma(s), bastante(s) (= muito, muitos), demais, mais, menos, muito(s), muita(s),
qualquer, quaisquer, qual, que, quanto(s), quanta(s), tal, tais, tanto(s), tanta(s).
Os pronomes indefinidos podem ser classificados como variáveis ou invariáveis

Variáveis
Singular Plural Invariáveis
Masculino Feminino Masculino Feminino
algum alguma alguns algumas
nenhum nenhuma nenhuns nenhumas alguém
todo toda todos todas ninguém
muito muita muitos muitas outrem
pouco pouca poucos poucas tudo
vário vária vários várias nada
tanto tanta tantos tantas algo
outro outra outros outras cada
quanto quanta quantos quantas
qualquer quaisquer

Pronomes relativos
São aqueles que recuperam nomes anteriormente mencionados, estabelecendo com estes relação.
Exemplo: A escola tem um calendário que possui muitos feriados

No exemplo apresentado, o pronome “que” recupera o substantivo calendário (o antecedente).

Classificação dos pronomes relativos


Variáveis
Invariáveis
Masculino Feminino
o qual os quais a qual as quais quem
cujo cujos cuja cujas que
quanto quantos quanta quantas onde

Observação 1: Os pronomes que, o qual, os quais, a qual e as quais são equivalentes, com o detalhe
de que o que é invariável, cabendo em qualquer circunstância, e os demais necessitarão de um substantivo
já determinado.
Exemplo: Esta é a garota com a qual conversei.

23
Observação 2: Para evitar ambiguidades e outros problemas de sentido, o pronome relativo onde deve
ser utilizado para recuperar lugares físicos/localidades (regiões, cidades, ambientes etc.).
Exemplo: Este é o armazém onde estocamos os produtos.

Observação 3: O pronome relativo cujo não realiza a recuperação de um antecedente, mas aponta para
uma relação de posse com o consequente.
Exemplo: A mulher cuja a casa foi invadida já está em segurança.

Observação 4: O pronome quem faz referência a pessoas e vem sempre precedido de preposição.
Exemplo: Aquele é o sujeito a quem devo muito dinheiro.

Pronomes interrogativos
São pronomes utilizados nas formulações de perguntas diretas ou indiretas. Fazem referência direta aos
pronomes de 3ª pessoa. Os principais pronomes interrogativos são que, quem, qual e quanto (e suas variações).
Entende-se como pergunta direta aquela em que o pronome interrogativo é colocado no início do questionamento
(temos sinal de interrogação ao final da pergunta). Já a pergunta indireta é aquela em que o pronome interrogativo
aparece em outra posição na frase, que não o começo (não há sinal de interrogação).

Pergunta direta Pergunta indireta


Quanto custou a reforma da casa? Gostaria de saber quanto custou a reforma da casa.

24
INTERATIVIDADE

LER

Livros
Pronomes: morfossintaxe e semântica - Danniel Carvalho
e Dorothy Brito

O livro surge da problemática do que é “pronome”, geralmente


utilizado para referir a diferentes conjuntos de itens, tais como:
os pronomes pessoais, demonstrativos, interrogativos, indefinidos,
relativos, entre outros, mas cuja definição tradicional é considerada
insatisfatória. Com o objetivo principal de contribuir com as
discussões sobre pronome, o volume reúne trabalhos sobre os
mais diversos aspectos dessa categoria gramatical, sendo fruto de
pesquisas desenvolvidas nos últimos anos por pesquisadores ligados
à área, versando acerca de aspectos morfossintáticos e semânticos
da categoria pronome, em suas principais e mais recentes vertentes
do estudo, além de aspectos relacionados ao processo de percepção
pelo falante-ouvinte e das relações socioculturais dos pronomes.

25
Estrutura Conceitual

MORFOLOGIA

PRONOMES

PRONOMES SUBSTANTIVOS E PRONOMES ADJETIVOS

Pronomes Indefinidos

Pronomes Interrogativos

Pronomes Relativos

26
1 8
7 1 Numerais, preposições
e interjeições

Competências Habilidades
1, 6 e 8 1, 2, 3, 18 e 27
Free-Photos/Pixabay

L C
ENTRE LETRAS
Competência 1 – Aplicar as tecnologias da comunicação e da informação na escola, no trabalho e em outros contextos relevantes para
sua vida.
H1 Identificar as diferentes linguagens e seus recursos expressivos como elementos de caracterização dos sistemas de comunicação.
H2 Recorrer aos conhecimentos sobre as linguagens dos sistemas de comunicação e informação para resolver problemas sociais.
H3 Relacionar informações geradas nos sistemas de comunicação e informação, considerando a função social desses sistemas.
H4 Reconhecer posições críticas aos usos sociais que são feitos das linguagens e dos sistemas de comunicação e informação.
Competência 2 – Conhecer e usar língua(s) estrangeira(s) moderna(s) (LEM) como instrumento de acesso a informações e a outras
culturas e grupos sociais.
H5 Associar vocábulos e expressões de um texto em LEM ao seu tema.
H6 Utilizar os conhecimentos da LEM e de seus mecanismos como meio de ampliar as possibilidades de acesso a informações, tecnologias e culturas.
H7 Relacionar um texto em LEM, as estruturas linguísticas, sua função e seu uso social.
H8 Reconhecer a importância da produção cultural em LEM como representação da diversidade cultural e linguística.
Competência 3 – Compreender e usar a linguagem corporal como relevante para a própria vida, integradora social e formadora da
identidade.
H9 Reconhecer as manifestações corporais de movimento como originárias de necessidades cotidianas de um grupo social.
H10 Reconhecer a necessidade de transformação de hábitos corporais em função das necessidades cinestésicas.
Reconhecer a linguagem corporal como meio de interação social, considerando os limites de desempenho e as alternativas de adaptação para
H11
diferentes indivíduos.
Competência 4 – Compreender a arte como saber cultural e estético gerador de significação e integrador da organização do mundo e
da própria identidade.
H12 Reconhecer diferentes funções da arte, do trabalho da produção dos artistas em seus meios culturais.
H13 Analisar as diversas produções artísticas como meio de explicar diferentes culturas, padrões de beleza e preconceitos.
H14 Reconhecer o valor da diversidade artística e das inter-relações de elementos que se apresentam nas manifestações de vários grupos sociais e étnicos.
Competência 5 – Analisar, interpretar e aplicar recursos expressivos das linguagens, relacionando textos com seus contextos, mediante
a natureza, função, organização, estrutura das manifestações, de acordo com as condições de produção e recepção.
H15 Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção, situando aspectos do contexto histórico, social e político.
H16 Relacionar informações sobre concepções artísticas e procedimentos de construção do texto literário.
H17 Reconhecer a presença de valores sociais e humanos atualizáveis e permanentes no patrimônio literário nacional.
Competência 6 – Compreender e usar os sistemas simbólicos das diferentes linguagens como meios de organização cognitiva da
realidade pela constituição de significados, expressão, comunicação e informação.
H18 Identificar os elementos que concorrem para a progressão temática e para a organização e estruturação de textos de diferentes gêneros e tipos.
H19 Analisar a função da linguagem predominante nos textos em situações específicas de interlocução.
H20 Reconhecer a importância do patrimônio linguístico para a preservação da memória e da identidade nacional.
Competência 7 – Confrontar opiniões e pontos de vista sobre as diferentes linguagens e suas manifestações específicas.
H21 Reconhecer em textos de diferentes gêneros, recursos verbais e não-verbais utilizados com a finalidade de criar e mudar comportamentos e hábitos.
H22 Relacionar, em diferentes textos, opiniões, temas, assuntos e recursos linguísticos.
H23 Inferir em um texto quais são os objetivos de seu produtor e quem é seu público alvo, pela análise dos procedimentos argumentativos utilizados.
Reconhecer no texto estratégias argumentativas empregadas para o convencimento do público, tais como a intimidação, sedução, comoção,
H24
chantagem, entre outras.
Competência 8 – Compreender e usar a língua portuguesa como língua materna, geradora de significação e integradora da organização
do mundo e da própria identidade.
H25 Identificar, em textos de diferentes gêneros, as marcas linguísticas que singularizam as variedades linguísticas sociais, regionais e de registro.
H26 Relacionar as variedades linguísticas a situações específicas de uso social.
H27 Reconhecer os usos da norma padrão da língua portuguesa nas diferentes situações de comunicação.
Competência 9 – Entender os princípios, a natureza, a função e o impacto das tecnologias da comunicação e da informação na sua vida
pessoal e social, no desenvolvimento do conhecimento, associando-o aos conhecimentos científicos, às linguagens que lhes dão suporte,
às demais tecnologias, aos processos de produção e aos problemas que se propõem solucionar.
H28 Reconhecer a função e o impacto social das diferentes tecnologias da comunicação e informação.
H29 Identificar pela análise de suas linguagens, as tecnologias da comunicação e informação.
H30 Relacionar as tecnologias de comunicação e informação ao desenvolvimento das sociedades e ao conhecimento que elas produzem
Numeral
Numeral é a classe de palavra que se relaciona diretamente com o substantivo, atribui-lhe quantidade,
situa-o em determinada sequência e com ele mantém vínculo morfossintático.
Exemplo: Os cinco ingressos devem ser distribuídos aos vencedores.
(cinco é um atributo numérico do substantivo ingressos)

O numeral traduz em palavras as quantidades indicadas pelos números. Se a expressão for escrita apenas
em números, não será tratada de numerais, mas de algarismos.

Exemplos:
Ele foi aprovado em primeiro lugar.
(primeiro é o algarismo empregado para formar numerais escritos)

Usei um quarto do meu salário para pagar as contas.


(um quarto é o algarismo empregado para formar numerais escritos)

IMPORTANTE! Algumas palavras são consideradas numerais, se denotarem ideia de quantidade, propor-
ção ou ordenação.

Passou-se uma década até alcançarmos a democracia.


Comprei meia dúzia de ovos para o bolo.

Classificação de numerais
§§ Cardinais: indicam contagem, medida.
Exemplo: A medida do quarto é de trinta metros.

§§ Ordinais: indicam a ordem ou o lugar da coisa ou pessoa numa série dada.


Exemplo: Verifique o segundo contato da agenda.

§§ Multiplicativos: indicam multiplicação da coisa ou pessoa, quantas vezes a quantidade dela foi aumentada.
Exemplo: Apareceu um triplo de convidados a mais que o esperado.

§§ Fracionários: indicam parte de um inteiro da coisa ou pessoa.


Exemplo: Dois terços dos alunos foram aprovados na primeira fase da prova.

Emprego de “ambos” e “ambos os”


São considerados numerais e significam “um e outro” e também “os dois” (ou “uma e outra” e “as duas”).
São empregados para retomar pares de seres anteriormente mencionados. Se empregarmos ambos/ambas em
função adjetiva, ou se antecederem um substantivo, devem vir seguidos de artigo (o, a, os, as). No entanto, se em
função substantiva, dispensa-se o artigo.
Exemplos:
Os dois estudantes, ambos repetentes, tinham grandes dificuldades de aprendizado.
Gosto de meus irmãos; ambos os dois.

29
Emprego de “meio” como numeral adjetivo As preposições são invariáveis, ou seja, não se fle-
xionam em gênero, número ou grau. Mas elas se contraem
Meio(s) e meia(s) são numerais adjetivos que com outras palavras, como vimos no exemplo anterior. Ao
acompanham substantivos. Por esse motivo, obedece- se juntar ao artigo, elas passam a estabelecer concordância
rão às regras de concordância nominal (concordam em em gênero e número com essas palavras. Importante lem-
gênero e número com esse substantivo). brar que não se trata de uma variação própria da preposi-
Exemplos: ção, mas da palavra com a qual ela se funde.
Agora é meio dia e meia. (metade da hora) A relação estabelecida pelas preposições pressu-
Meia taça de vinho já me deixa bêbado. põe um primeiro elemento – chamado antecedente – e
um segundo – chamado consequente. Aquele é o que
Empregos especiais dos numerais exige a preposição, também chamado termo regente; o
segundo é o termo regido por ela, também chamado de
Quando há a necessidade de se atribuir carac- termo regido pela preposição.
terísticas numéricas a figuras importantes, como papas, O antecedente ou termo regente de preposição
reis, imperadores, séculos ou partes de uma obra, em- pode ser:
pregam-se os ordinais até o décimo elemento. Daí em §§ Substantivo: bloco de cimento.
diante, deve-se empregar os cardinais, desde que o nu- §§ Adjetivo: contente com o desempenho.
meral venha seguido do substantivo. §§ Advérbio: preciso imediatamente de um curativo.
§§ Pronome: quem de vocês fez isso?
Ordinais > cardinais
§§ Verbo: gostar de matemática.
João Paulo II (segundo)
Tomo XVI (dezesseis)
D. Pedro II (segundo)
Classificação das preposições
Capítulo XX (vinte) §§ Essenciais – palavras que atuam exclusivamen-
Século VIII (oitavo) te como preposição. São elas: a, ante, após, até,
Século XX (vinte) com, contra, de, desde, em, entre, para, perante,
por, sem, sob, sobre.
Exceção: para designar leis, decretos e porta-
§§ Acidentais – palavras de outras classes gra-
rias, emprega-se o ordinal até nono, e o cardinal a par-
maticais que atuam como preposições. São elas:
tir do décimo elemento.
como, conforme, consoante, durante, exceto, fei-
Artigo 1º (primeiro)
to, mediante, segundo.
Artigo 9º (nono)
Artigo 10 (dez)
Valor semântico das preposições
Preposição Do ponto de vista semântico (do sentido), as pre-
posições são divididas em dois grupos: as relacionais e
A preposição é utilizada para estabelecer re- as nocionais.
lações de sentido entre dois ou mais termos de uma
oração. Trata-se de um processo de conexão entre os Preposições relacionais
elementos que foram ligados pela preposição.
São aquelas exigidas por algum termo antece-
Exemplo: Comprou os bilhetes da rifa com o dente (verbo, substantivo, adjetivo ou advérbio), e que,
troco do lanche, (da: contração da preposição “de” por conta disso, não acrescentam qualquer valor semân-
com o artigo “a” / com: preposição isolada / do: con- tico à sentença. As preposições relacionais introduzem o
tração da preposição “de” com o artigo “o”) objeto indireto ou o complemento nominal.

30
Exemplos: Eu necessito de ferramentas. (de Comprei uma mesa de madeira. (matéria)
ferramentas = objeto indireto / não há sentido expresso Aquele livro é de Marcelo. (posse)
pela preposição) Devemos ingerir vários copos de água durante
Ele é essencial para a empresa. (para a empre- o dia. (conteúdo)
sa = complemento nominal / não há sentido expresso
pela preposição) Preposição EM
Ligue à noite, pois já estarei em casa. (lugar)
Preposições nocionais O relógio é feito em ouro. (matéria)
Temos que discutir todo o tema em vinte mi-
São aquelas que acrescentam valor semântico à nutos. (tempo)
sentença. As preposições nocionais introduzem o adjun- Formou-se em Sociologia. (especialidade)
to adnominal e o adjunto adverbial.
Exemplos: Essas terras são de grandes fazen- Preposição PARA
deiros (a preposição “de” transmite ideia de posse) Ele foi convidado para dar uma palestra. (finalidade)
Os rapazes viajaram para Pernambuco (a prepo- Ele viajou para a França. (destino)
sição “para” transmite ideia de destino ou direção)
Preposição POR
Preposições nocionais mais recorrentes Comprei o livro no sebo por apenas vinte reais. (preço)
A reunião acontecerá por Skype. (meio)
Preposicão A Viajamos por muitas cidades. (lugar)
A persistirem os sintomas, o médico deve ser Ele faz isso por medo de ser demitido (causa).
consultado. (condição) Ficarei aqui por uns três meses (tempo)
Nas férias passadas, viajamos a Brasília. (destino)
As provas devem ser feitas a lápis. (instrumento) Locuções prepositivas
Preposição COM São duas ou mais palavras empregadas
Os moradores estão preocupados com as fortes com a função de uma única preposição. Nelas,
chuvas. (causa) a última palavra do conjunto é sempre uma pre-
Amanhã sairei com meu tio. (companhia) posição essencial: acerca de, apesar de, a respeito
Amanhã será o jogo do Palmeiras com o Corin- de, de acordo com, graças a, para com, por causa de,
thians. (oposição) abaixo de, por baixo de, embaixo de, adiante de, diante
Ele me agrediu com uma bacia. (instrumento) de, além de, antes de, acima de, em cima de, por cima
Ele estava atrasado; caminhava com pressa. (modo) de, ao lado de, dentro de, em frente a, a par de, em lugar
Iremos a sua formatura com certeza. (afirmação) de, em vez de, em redor de, perto de, por trás de, junto
Só poderemos continuar o projeto com os devi- a, junto de, por entre.
dos investimentos. (condição)
Contração de preposições
Preposição DE
Saímos de casa cedo. (origem) No português, fica vetada a contração de prepo-
Falaram bastante de você na festa. (assunto) sições com artigo em casos em que o substantivo que
Ele veio de avião, pois achou que era mais antecede a preposição estiver funcionando como sujeito
rápido. (meio) de algum verbo posterior.
Ele desmaiou de cansaço. (causa)
O jogador se moveu de costas para acertar Exemplo (contração autorizada): Temos que
a bola. (modo) entender as razões do rapaz (o substantivo rapaz não é
Eles voltaram de noite. (tempo) sujeito).

31
Exemplo (contração vetada): Temos que en-
tender as razões de o rapaz desistir do curso (o subs-
tantivo rapaz é sujeito do verbo “desistir”. Isso proíbe a
junção de preposição com artigo).

Interjeição
Interjeição é a palavra invariável que manifesta
sensações, emoções, sentimentos, ordens, chamamentos
ou estados de espírito, revelando as reações das pessoas.

Classificação
§§ Admiração ou surpresa: Puxa! Vixe! Caram-
ba! Nossa! Céus! Eita!
§§ Alegria: Viva! Oba! Que beleza! Eba!
§§ Aplauso: Viva! Bravo! Parabéns!
§§ Chamamento: Alô! Ei! Oi! Psiu! Socorro!
§§ Concordância: Claro! Certo! Ok!
§§ Dor: Ai! Ui! Ah! Oh!
§§ Lamento: Que pena! Ai coitado!
§§ Saudação: Olá! Oi! Adeus!
§§ Silêncio: Silêncio! Basta! Chega!

32
INTERATIVIDADE

LER

Livros
Interjeição: um fator de identidade cultural do brasileiro -
Adriana Leite do Prado Rebello

Este livro demonstra como as interjeições devem ser descritas e


utilizadas pedagogicamente no trabalho com o português como
língua não materna, a fim de proporcionar ao aluno estrangeiro
uma aprendizagem que vise à sua competência comunicativa.

33
Estrutura Conceitual

Gramática Normativa

Formação de Palavras

Classes de Palavras

Advérbio Preposição Interjeição Numeral

Classes Classe
invariáveis variável

34
Abordagem de LITERATURA nos principais vestibulares.

FUVEST
A maior parte das questões de literatura da Fuvest refere-se às obras obrigatórias. Neste caderno,
você encontrará alguns desses exercícios de anos anteriores sobre o ROMANTISMO no Brasil.

LD
ADE DE ME
D
UNESP
U

IC
FAC

INA

BO
1963
T U C AT U Como a Unesp não possui uma lista obrigatória de livros, os exercícios deste vestibular contem-
plam os conhecimentos das escolas literárias, bem como de seus principais representantes. Neste
caderno, estão presentes questões sobre o ROMANTISMO no Brasil.

UNICAMP
A maior parte das questões de literatura da Unicamp refere-se às obras obrigatórias. Embora ne-
nhuma obra contemple o período estudado, compreendê-lo para uma visão geral é essencial.

UNIFESP
Como a Unifesp não possui uma lista obrigatória de livros, os exercícios deste vestibular contem-
plam os conhecimentos das escolas literárias, bem como de seus principais representantes. Neste
caderno, estão presentes questões sobre o ROMANTISMO no Brasil.

ENEM/UFMG/UFRJ
Neste caderno, você encontra algumas questões acerca da poesia romântica no Brasil. Como
o Enem não possui uma lista obrigatória de livros, os exercícios deste exame contemplam os
conhecimentos da escola literária, bem como de seus principais representantes.

UERJ
Neste caderno, você encontrará exercícios da UERJ nas aulas sobre as fases do Romantismo no
Brasil, sempre relacionados aos autores de literatura brasileira.
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0 6 Romantismo: Poesia
1ª. Fase (Indianista)

Competência Habilidades
5 15, 16 e 17
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L C
ENTRE LETRAS
Competência 1 – Aplicar as tecnologias da comunicação e da informação na escola, no trabalho e em outros contextos relevantes para
sua vida.
H1 Identificar as diferentes linguagens e seus recursos expressivos como elementos de caracterização dos sistemas de comunicação.
H2 Recorrer aos conhecimentos sobre as linguagens dos sistemas de comunicação e informação para resolver problemas sociais.
H3 Relacionar informações geradas nos sistemas de comunicação e informação, considerando a função social desses sistemas.
H4 Reconhecer posições críticas aos usos sociais que são feitos das linguagens e dos sistemas de comunicação e informação.
Competência 2 – Conhecer e usar língua(s) estrangeira(s) moderna(s) (LEM) como instrumento de acesso a informações e a outras
culturas e grupos sociais.
H5 Associar vocábulos e expressões de um texto em LEM ao seu tema.
H6 Utilizar os conhecimentos da LEM e de seus mecanismos como meio de ampliar as possibilidades de acesso a informações, tecnologias e culturas.
H7 Relacionar um texto em LEM, as estruturas linguísticas, sua função e seu uso social.
H8 Reconhecer a importância da produção cultural em LEM como representação da diversidade cultural e linguística.
Competência 3 – Compreender e usar a linguagem corporal como relevante para a própria vida, integradora social e formadora da
identidade.
H9 Reconhecer as manifestações corporais de movimento como originárias de necessidades cotidianas de um grupo social.
H10 Reconhecer a necessidade de transformação de hábitos corporais em função das necessidades cinestésicas.
Reconhecer a linguagem corporal como meio de interação social, considerando os limites de desempenho e as alternativas de adaptação para
H11
diferentes indivíduos.
Competência 4 – Compreender a arte como saber cultural e estético gerador de significação e integrador da organização do mundo e
da própria identidade.
H12 Reconhecer diferentes funções da arte, do trabalho da produção dos artistas em seus meios culturais.
H13 Analisar as diversas produções artísticas como meio de explicar diferentes culturas, padrões de beleza e preconceitos.
H14 Reconhecer o valor da diversidade artística e das inter-relações de elementos que se apresentam nas manifestações de vários grupos sociais e étnicos.
Competência 5 – Analisar, interpretar e aplicar recursos expressivos das linguagens, relacionando textos com seus contextos, mediante
a natureza, função, organização, estrutura das manifestações, de acordo com as condições de produção e recepção.
H15 Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção, situando aspectos do contexto histórico, social e político.
H16 Relacionar informações sobre concepções artísticas e procedimentos de construção do texto literário.
H17 Reconhecer a presença de valores sociais e humanos atualizáveis e permanentes no patrimônio literário nacional.
Competência 6 – Compreender e usar os sistemas simbólicos das diferentes linguagens como meios de organização cognitiva da
realidade pela constituição de significados, expressão, comunicação e informação.
H18 Identificar os elementos que concorrem para a progressão temática e para a organização e estruturação de textos de diferentes gêneros e tipos.
H19 Analisar a função da linguagem predominante nos textos em situações específicas de interlocução.
H20 Reconhecer a importância do patrimônio linguístico para a preservação da memória e da identidade nacional
Competência 7 – Confrontar opiniões e pontos de vista sobre as diferentes linguagens e suas manifestações específicas.
H21 Reconhecer em textos de diferentes gêneros, recursos verbais e não-verbais utilizados com a finalidade de criar e mudar comportamentos e hábitos.
H22 Relacionar, em diferentes textos, opiniões, temas, assuntos e recursos linguísticos.
H23 Inferir em um texto quais são os objetivos de seu produtor e quem é seu público alvo, pela análise dos procedimentos argumentativos utilizados.
Reconhecer no texto estratégias argumentativas empregadas para o convencimento do público, tais como a intimidação, sedução, comoção,
H24
chantagem, entre outras.
Competência 8 – Compreender e usar a língua portuguesa como língua materna, geradora de significação e integradora da organização
do mundo e da própria identidade.
H25 Identificar, em textos de diferentes gêneros, as marcas linguísticas que singularizam as variedades linguísticas sociais, regionais e de registro.
H26 Relacionar as variedades linguísticas a situações específicas de uso social.
H27 Reconhecer os usos da norma padrão da língua portuguesa nas diferentes situações de comunicação.
Competência 9 – Entender os princípios, a natureza, a função e o impacto das tecnologias da comunicação e da informação na sua vida
pessoal e social, no desenvolvimento do conhecimento, associando-o aos conhecimentos científicos, às linguagens que lhes dão suporte,
às demais tecnologias, aos processos de produção e aos problemas que se propõem solucionar.
H28 Reconhecer a função e o impacto social das diferentes tecnologias da comunicação e informação.
H29 Identificar pela análise de suas linguagens, as tecnologias da comunicação e informação.
H30 Relacionar as tecnologias de comunicação e informação ao desenvolvimento das sociedades e ao conhecimento que elas produzem
Contexto
O Romantismo surgiu no Brasil poucos anos Com a independência política em 1822, os in-
depois de nossa independência política (1822). Por isso, as telectuais e artistas da época passaram a dedicar-se ao
primeiras obras literárias e os primeiros artistas românticos projeto de criar uma cultura identificada com as raízes
se mostraram empenhados em definir um perfil da cultura históricas, linguísticas e culturais brasileiras.
brasileira, no qual o nacionalismo era o traço essencial. Além ser uma reação à tradição clássica, o
A história do Romantismo no Brasil se confunde Romantismo assumiu no Brasil a conotação de movimento
com a própria história política brasileira da primeira anticolonialista e antilusitano, de rejeição à literatura
produzida na época colonial em virtude do apego daquela
metade do século XIX. Com a invasão de Portugal por
produção aos modelos culturais portugueses.
Napoleão, a coroa portuguesa se mudou para o Brasil,
Um dos traços essenciais do nosso Romantismo é
em 1808, e elevou a colônia à categoria de Reino
o nacionalismo, que orientou o movimento e abriu-lhe um
Unido, ao lado de Portugal e Algarves. Em decorrência
leque de muitas possibilidades a serem exploradas, como o
disso, a colônia passou por uma série de mudanças:
indianismo, o regionalismo, as pesquisas histórica, folclórica
criação de escolas de nível superior, fundação de
e linguística, a crítica aos problemas nacionais – posturas
museus e bibliotecas públicas, instalação de tipografias comprometidas com o projeto de construção de uma
e circulação regular da imprensa. identidade nacional.
A dinamização da vida cultural da colônia e a A publicação da obra Suspiros poéticos e saudades
formação de um público leitor – mesmo que inicialmen- (1836), de Gonçalves de Magalhães, e considerada o marco
te só de jornais – criaram algumas condições necessá- inicial do Romantismo no Brasil. A importância dessa obra
rias para uma produção literária mais consistente do reside nas novidades teóricas de seu prólogo – em que
que as manifestações literárias dos séculos XVII e XVIII. Magalhães anuncia a revolução literária romântica.

39
As gerações do Romantismo O nacionalismo e o patriotismo predominam
em seus poemas, que exaltam aspectos característicos
da paisagem tropical, realçam o exotismo e a beleza
Tradicionalmente, são apontadas três gerações de
natural e exuberante em oposição à paisagem e à
escritores românticos. Essa divisão, contudo, compreende,
natureza europeias.
principalmente, os autores de poesia. Os romancistas não se
As obras de ambos encaram o indígena como
enquadram muito bem nessa divisão, uma vez que suas obras
elemento formador do povo brasileiro, bem como
apresentam traços característicos de mais de uma geração.
revelam forte religiosidade predominantemente católica,
§ Primeira geração: nacionalista, indianista e em oposição ao “paganismo” da poesia neoclássica
religiosa, com destaque pra Gonçalves Dias e ligada à tradição greco-latina. São de caráter amoroso,
Gonçalves de Magalhães. fortemente sentimental, fruto de relativa influência da
§ Segunda geração: marcada pelo “mal-do- lírica portuguesa, medieval, camoniana e romântica – de
século”, apresenta egocentrismo exacerbado, Garrett, principalmente.
pessimismo, satanismo e atração pela morte. Foi
bem representada por Álvares de Azevedo, Casimiro
Gonçalves de Magalhães
de Abreu, Fagundes Varela e Junqueira Freire.
§ Terceira geração: formada pelo grupo condoreiro, O médico, diplomata, poeta e dramaturgo
desenvolve uma poesia de cunho político e social. A Domingos José Gonçalves de Magalhães (1811-1882)
maior expressão desse grupo é Castro Alves. foi o iniciador do Romantismo na literatura brasileira.
Sua meta foi implantar a nova corrente literária no País,
com o apoio do imperador D. Pedro II.

Durante o Segundo Reinado, os românticos foram


firmando o projeto de uma literatura autenticamente
nacional, liberta da portuguesa. Houve três momentos no
desenvolvimento da poesia romântica brasileira, cujos poetas Suspiros poéticos e saudades
reúnem distintas gerações com características em comum.
Como o próprio nome aponta, o livro inaugural
Indianismo: primeira do Romantismo brasileiro divide-se em duas partes.
A primeira parte, denominada suspiros poéticos,
geração poética com 43 poemas, versa sobre diversos temas: a própria
poesia, o cristianismo, a mocidade, a fantasia, as
Compreendida entre os anos de 1836 e 1852, a
impressões sobre lugares, fatos e figuras históricas. Os
primeira geração contou com os poetas Gonçalves de
poemas, que são o exemplo do versejar ao gosto da
Magalhães e Gonçalves Dias. aventura, do novo e do exótico expressam a experiência

40
do eu em contato direto com a cultura erudita europeia,
sacralizada aos olhos dos românticos brasileiros. Dia da Liberdade!
A segunda parte, evocada em doze poemas, é Tu só dissipas hoje esta tristeza
Que a vida me angustia.
dedicada à saudade, à pátria, à família, aos amigos,
Tu só me acordas hoje do letargo
às pessoas, aos fatos e a lugares caros ao poeta e
Em que esta alma se abisma,
dele separados.
De resistir cansada a tantas dores.
Dois elementos temáticos dessa obra são notá- Ah! Talvez que de ti poucos se lembrem
veis: a substituição da mitologia pagã pela cristã e a Neste estranho país, onde tu passas
subjetividade lírica identificada com a pátria. Sem culto, sem fulgor, como em deserto
Caminha o viajor silencioso.
O início do Romantismo no Brasil Mas rápidos os dias se devolvem;
Suspiros poéticos e saudades é seu livro mais conhe- E tu, oh sol, que pálido me aclaras
cido e marca o início da nova fase na poesia brasileira. Ma- Nestas longínquas plagas,
galhães é também autor de duas peças: Antônio José ou O Brilhante ainda raiarás na Pátria,
poeta e A inquisição, considerada a primeira tragédia com E ouvirás meus hinos
assunto nacional. Foi encenada por João Caetano, melhor Em honra deste Dia, não magoados
Co’os fúnebres acentos da saudade.
ator do Romantismo. Olgiato é uma tragédia inspirada em
Publicado no livro Suspiros poéticos e saudades (1836).
um episódio da história de Milão (Itália). Poema integrante da série Saudades. In: RAMOS, Frede-
“A Confederação dos Tamoios” também é de sua au- rico José da Silva (Org.). Grandes poetas românticos do
Brasil. São Paulo: LEP, 1994.
toria; poema épico de temática indígena, cuja publicação
foi financiada pelo imperador D. Pedro II, em 1856.
Quase no fim da vida, Magalhães foi condecorado com
o título de visconde de Araguaia.
Gonçalves Dias
O maranhense Antônio Gonçalves Dias (1823-1864)
O dia 7 de setembro, em Paris era filho de pai português e mãe cafuza brasileira. Fez os pri-
meiros estudos em seu estado natal e, mais tarde, formou-se
Longe do belo céu da Pátria minha, em Direito na Universidade de Coimbra. Retornou ao Brasil
Que a mente me acendia,
em 1845, estabelecendo-se em São Luís.
Em tempo mais feliz, em qu’eu cantava
Das palmeiras à sombra os pátrios feitos; Em 1862, foi à Europa para tratar da saúde.
Sem mais ouvir o vago som dos bosques, Combalido pela tuberculose e reduzido à miséria,
Nem o bramido fúnebre das ondas, decidiu voltar ao Brasil, onde morreu em decorrência
Que n’alma me excitavam do naufrágio do navio em que viajava, já próximo da
Altos, sublimes turbilhões de ideias; costa maranhense.
Com que cântico novo Herdou de Gonçalves de Magalhães certo apego à
O Dia saudarei da Liberdade?
poesia harmônica do Neoclassicismo e dos primeiros ro-
Ausente do saudoso, pátrio ninho, mânticos portugueses. No entanto, imprimiu à sua poesia
Em regiões tão mortas, um tom particular – uma inalienável necessidade de aliar
Para mim sem encantos, e atrativos, o pensamento ao sentimento –, legando ao Romantismo
Gela-se o estro ao peregrino vate. brasileiro uma obra equilibrada, “a mais equilibrada poe-
Tu também, que nos trópicos te ostentas
sia romântica”, segundo Manuel Bandeira.
Fulgurante de luz, e rei dos astros,
Gonçalves Dias criou o indianismo romântico,
Tu, oh sol, neste céu teu brilho perdes.
impondo-se como uma das maiores figuras da nossa
literatura. Seus versos encerraram eloquência, lirismo,
[...]
grandiosidade e harmonia.

41
Suas obras poéticas são: Primeiros cantos, Segun- A obra revela “as marcas do Romantismo” – li-
dos cantos, Últimos cantos, Sextilhas de Frei Antão, Dicio- berdade formal (a primeiríssima delas) contida naquele
nário da língua tupi, Os timbiras; as teatrais são: Beatriz “menosprezo das regras de mera convenção”, respeito
Cenei, Leonor de Mendonça, Boabdil e Patkul. à imaginação e ao indivíduo e valorização das emoções
O indianismo marcou a primeira fase do romantis- e das circunstâncias, com todas as contradições que
mo no Brasil e os escritores focalizaram a figura do índio acaso proviessem.
idealizado. Além do índio enquanto um símbolo, as obras Tanto no Brasil como em Portugal, a obra rece-
desse primeiro momento também apresentavam caráter beu elogios. O escritor português Alexandre Herculano
nacionalista e patriótico e logo, a nomenclatura aplicada saudou o poeta de Primeiros cantos, colocando-o na
ao momento de "indianismo-nacionalismo". categoria de uma nova voz no contexto da literatura
brasileira. Herculano ainda observou que “salta à vista
a proposta de casar o coração com o entendimento; a
ideia com a paixão”.
“Canção do exílio” é um dos mais conhecidos
poemas de Gonçalves Dias, escrito em Coimbra, em ju-
lho de 1843.

Canção do exílio
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Primeiros cantos
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o sabiá.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar – sozinho, à noite –
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o sabiá.
Em 1846, os Primeiros cantos apareceram em
Não permita Deus que eu morra,
livros, numa edição financiada pelo próprio autor. No
Sem que eu volte para lá;
prólogo da obra, Gonçalves Dias explica que não obe-
Sem que desfrute os primores
deceu a nenhuma das regras tradicionais da poesia Que não encontro por cá;
porque menospreza “regras de mera convenção”. Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Adotou todos os ritmos da metrificação portuguesa e Onde canta o sabiá.
usou-os conforme melhor lhe pareceram.

42
CANTO DO PIAGA Ouve o anúncio do horrendo fantasma,
Ouve os sons do fiel Maracá;
I Manitôs já fugiram da Taba!
O' desgraça! ó ruína! ó Tupá!
O' Guerreiros da Taba sagrada,
O' Guerreiros da Tribo Tupi, III
Falam Deuses nos cantos do Piaga,
O' Guerreiros, meus cantos ouvi. Pelas ondas do mar sem limites
Basta selva, sem folhas, i vem;
Esta noite — era a lua já morta —
Hartos troncos, robustos, gigantes;
Anhangá me vedava sonhar;
Vossas matas tais monstros contêm.
Eis na horrível caverna, que habito,
Rouca voz começou-me a chamar. Traz embira dos cimos pendente
– Brenha espessa de vário cipó –
Abro os olhos, inquieto, medroso,
Dessas brenhas contêm vossas matas,
Manitôs! que prodígios que vi!
Tais e quais, mas com folhas; e só!
Arde o pau de resina fumosa,
Não fui eu, não fui eu, que o acendi! Negro monstro os sustenta por baixo,
Brancas asas abrindo ao tufão,
Eis rebenta a meus pés um fantasma,
Como um bando de cândidas garças,
Um fantasma d'imensa extensão;
Que nos ares pairando – lá vão.
Liso crânio repousa a meu lado,
Feia cobra se enrosca no chão. Oh! quem foi das entranhas das águas,
O marinho arcabouço arrancar?
O meu sangue gelou-se nas veias,
Nossas terras demanda, fareja...
Todo inteiro — ossos, carnes — tremi,
Esse monstro... – o que vem cá buscar?
Frio horror me coou pelos membros,
Frio vento no rosto senti. Não sabeis o que o monstro procura?
Não sabeis a que vem, o que quer?
Era feio, medonho, tremendo,
Vem matar vossos bravos guerreiros,
O' Guerreiros, o espectro que eu vi.
Vem roubar-vos a filha, a mulher!
Falam Deuses nos cantos do Piaga,
O' Guerreiros, meus cantos ouvi! Vem trazer-vos crueza, impiedade —
Dons cruéis do cruel Anhangá;
II Vem quebrar-vos a maça valente,
Profanar Manitôs, Maracás.
Porque dormes, ó Piaga divino?
Começou-me a Visão a falar, Vem trazer-vos algemas pesadas,
Porque dormes? O sacro instrumento Com que a tribo Tupi vai gemer;
De per si já começa a vibrar. Hão de os velhos servirem de escravos,
Mesmo o Piaga inda escravo há de ser!
Tu não viste nos céus um negrume
Toda a face do sol ofuscar; Fugireis procurando um asilo,
Não ouviste a coruja, de dia, Triste asilo por ínvio sertão;
Seus estrídulos torva soltar? Anhangá de prazer há de rir-se,
Vendo os vossos quão poucos serão.
Tu não viste dos bosques a coma
Sem aragem – vergar-se a gemer, Vossos Deuses, ó Piaga, conjura,
Nem a lua de fogo entre nuvens, Susta as iras do fero Anhangá.
Qual em vestes de sangue, nascer? Manitôs já fugiram da Taba,
O' desgraça! ó ruína! ó Tupá!
E tu dormes, ó Piaga divino!
(Publicado no livro Primeiros Cantos (1846). Poema
E Anhangá te proíbe sonhar! integrante da série Poesias Americanas.)
E tu dormes, ó Piaga, e não sabes,
E não podes augúrios cantar?!

43
Poesia indianista morte, convencendo a todos de sua coragem e bravura e
preservando, assim, sua honra e sua dignidade tupis.
Os indígenas foram considerados pelo Romantismo No Canto IV do poema I-Juca Pirama, o narrador
símbolo da jovem nação brasileira, razão pela qual passam a cede a voz ao índio tupi em seu canto de morte. Ele pede
figurar como heróis em diversas obras. O indianismo romântico aos timbiras que o libertem para cuidar do pai velho e cego.
é uma busca de raízes nacionais, uma procura no passado
histórico brasileiro, do mesmo modo como os europeus foram
às fontes medievais de sua formação histórica. IV
Na obra de Gonçalves Dias, o indígena aparece Meu canto de morte,
como tema renovador já nos Primeiros cantos, estendendo- Guerreiro, ouvi;
se aos Últimos cantos e também ao inacabado Os timbiras. Sou filho das selvas,
O poeta busca o elemento indígena nas florestas Nas selvas cresci;
longínquas, em memórias de florestas que imagina intocadas, Guerreiros, descendo
bem antes da aproximação do não indígena idealizado, forjado Da tribo Tupi.
nos moldes do “bom selvagem”, de Jean-Jacques Rousseau: Da tribo pujante,
“O homem nasce bom. A sociedade o corrompe”. Que agora anda errante
Por fado inconstante,
Guerreiros, nasci;
Sou bravo, sou forte,
Sou filho do Norte;
Meu canto de morte,
Guerreiro, ouvi.

Já vi cruas brigas,
De tribos imigas,
E as duras fadigas
Da guerra provei;
Nas ondas mendaces
Dois índios numa canoa. Auguste François Biard. Museu do Quai Branly.
Senti pelas faces
Paris. Os silvos fugaces

Com que me encontrei:


I-Juca Pirama O cru dessossego
Um dos mais conhecidos poemas indianistas é Do pai fraco e cego,
Enquanto não chego,
“I-Juca Pirama”, cujo título, em tupi, significa “o que
Qual seja – dizei!
é digno de ser morto”. O narrador do poema é o chefe
da tribo timbira, que conta aos jovens indígenas o Eu era o seu guia
drama do último descendente da tribo feito prisioneiro Na noite sombria,
dos timbiras. O guerreiro seria sacrificado e devorado A só alegria
Que Deus lhe deixou:
numa festa canibal. Pelo amor ao pai, já velho e cego, o
Em mim se apoiava,
prisioneiro implora ao chefe dos timbiras que o liberte
Em mim se apoiava,
para cuidar do pai. Julgando-o um covarde, o chefe
Em mim descansava,
timbira desiste do sacrifício e solta o prisioneiro.
Que filho lhe sou.
O jovem tupi se reencontra com o pai, que desco-
bre, pelos odores da tinta específica do ritual canibalesco
timbira, que o filho estivera preso. Indignado com o filho,
amaldiçoa-o violentamente. Ferido em seu orgulho, o jo-
vem tupi se põe a lutar sozinho contra os timbiras até a

44
Ao velho coitado E ter o coração em riso e festa;
De penas ralado, E à branda festa, ao riso da nossa alma
Já cego e quebrado, Fontes de pranto intercalar sem custo;
Que resta? – Morrer. Conhecer o prazer e a desventura
Enquanto descreve No mesmo tempo, e ser no mesmo ponto
O giro tão breve O ditoso, o misérrimo dos entes:
Da vida que teve, Isso é amor, e desse amor se morre!
Deixa-me viver! [...]
DIAS, Gonçalves. Poesia e prosa completa. Ob.cit.
Não vil, não ignavo,
Mas forte, mas bravo,
Serei vosso escravo:
Aqui virei ter.
Guerreiros, não coro
Do pranto que choro;
Se a vida deploro
Também sei morrer.
DIAS, Gonçalves. Poesia e prosa completas.
Rio de Janeiro: Nova Aguiar, 1998.

Marabá
Poesia lírica Eu vivo sozinha, ninguém me procura!
Acaso feitura
O lirismo amoroso sobressai nas baladas, canções
Não sou de Tupá!
e nos longos poemas de Gonçalves Dias, tudo numa
Se algum dentre os homens de mim não se esconde:
linguagem personalizada e bastante comedida, distante
– “Tu és”, me responde,
da tristeza que caracterizaria outras gerações românticas.
– “Tu és Marabá!”
Os temas de sua poesia lírica são abrangentes: a
– Meus olhos são garços, são cor das safiras,
pátria, a natureza, a grandiosidade divina, o preconceito
– Têm luz das estrelas, têm meigo brilhar;
e o desacerto amoroso.
– Imitam as nuvens de um céu anilado,
O poema “Se se morre de amor” é uma espécie – As cores imitam das vagas do mar!
de profissão de fé aos limites entre a paixão e o amor.
Se algum dos guerreiros não foge a meus passos:
Ele aponta diferenças, estabelece parâmetros e traz à
“Teus olhos são garços”,
tona a emoção com raciocínio. Responde anojado, “mas és Marabá:”
“Quero antes uns olhos bem pretos, luzentes,”
Se se morre de amor “Uns olhos fulgentes,”
“Bem pretos, retintos, não cor d’anajá!”
Se se morre de amor! – Não, não se morre,
Quando é fascinação que nos surpreende – É alvo meu rosto da alvura dos lírios,
[...] – Da cor das areias batidas do mar;
– As aves mais brancas, as conchas mais puras
Amor é vida; é ter constantemente
Alma, sentidos, coração – abertos – Não têm mais alvura, não têm mais brilhar.
Ao grande, ao belo; é ser capaz d’extremos Se ainda me escuta meus agros delírios:
D’altas virtudes, te capaz de crimes! – “És alva de lírios,”
Compreender o infinito, a imensidade, Sorrindo responde, “mas és Marabá:”
E a natureza e Deus; gostar dos campos, “Quero antes um rosto de jambo corado,”
D’aves, flores, murmúrios solitários; “Um rosto crestado”
Buscar tristeza, a soledade, e ermo, “Do sol do deserto, não flor de cajá.”

45
– Meu colo de leve se encurva engraçado,
– Como hástea pendente do cáctus em flor;
– Mimosa, indolente, resvalo no prado,
– Como um soluçado suspiro de amor! –

“Eu amo a estatura flexível! ligeira,


Qual duma palmeira,”
Então me respondem: “tu és Marabá:”
“Quero antes o colo da ema orgulhosa,
Que pisa vaidosa,”
“Que as flóreas campinas governa, onde está.”

– Meus loiros cabelos em ondas se anelam,


– O oiro mais puro não tem seu fulgor;
– As brisas nos bosques de os ver se enamoram,
– De os ver tão formosos como um beija-flor!

Mas eles respondem: “Teus longos cabelos,”


“São loiros, são belos,”
“Mas são anelados, tu és Marabá:”
“Quero antes cabelos, bem lisos, corridos,”
“Cabelos compridos,”
“Não cor d’oiro fino, nem cor d’anajá,”
E as doces palavras que eu tinha cá dentro
A quem nas direi?
O ramo d’acácia na fronte de um homem
Jamais cingirei:

Jamais um guerreiro da minha arazoia


Me desprenderá:
Eu vivo sozinha, chorando mesquinha,
Que sou Marabá!
DIAS, Gonçalves. Poesia e prosa completas.
INTERATIVI
A DADE

ASSISTIR

Filme Castro Alves - Retrato Falado do Poeta

A curta, mas marcante, vida do poeta Castro Alves (Bruno Garcia), cheia
de sucessos e infortúnios. Cruzando o Brasil com suas poesias e ideais.
O homem teve tanto um lado mulherengo e apaixonado, chegando
a ter um romance com a atriz portuguesa Eugênia Camara (Teresa
Freire), como uma forte presença política nas lutas pela Proclamação da
República e pela Abolição da Escravatura.

LER

Livros

A tradição afortunada - Afrânio Coutinho

O grande crítico literário de Afrânio Coutinho utiliza o texto intitulado


“A tradição afortunada” para dissertar sobre a nacionalidade
da literatura brasileira, ligada ao pensamento crítico. A ideia de
nacionalidade na Literatura Brasileira constitui o núcleo dinamizador
do pensamento crítico literário do século XIX.

Formação da Literatura Brasileira - Antonio Candido

Este livro abrange e analisa dois períodos de nossa literatura,


Arcadismo e Romantismo, considerados pelo autor decisivos para a
formação do que denomina sistema literário, isto é, a articulação de
autores, obras e públicos de maneira a estabelecer uma tradição.

47
OBRAS

Gravura O príncipe regente, D. João, Impressão Régia, 1808

Pinturas Independência ou Morte, Pedro Américo, M. Paulista, 1888

48
INTERDISCIPLINARIDADE

1808: Marco histórico da fuga de D. João, que fez da colônia a sede do império português com a chegada da Corte Por-
tuguesa. Instaura-se no Brasil a chamada “era da tipografia” e se cria a Imprensa Régia.

49
Estrutura Conceitual

ROMANTISMO NO BRASIL
1 AS TRÊS FASES DA POESIA
A obra Suspiros poéticos e saudades, publicada em 1836, foi
considerada a obra inaugural do Romantismo no Brasil. O autor
procurou criar e consolidar uma literatura nacional para o país.

2 “Minha terra tem palmeiras, onde canta o sabiá” é o primeiro


verso da famigerada Canção do exílio, publicada em 1857 no
livro Primeiros cantos. É um dos poemas líricos mais conhe-
cidos do poeta romântico brasileiro Gonçalves Dias.

3 Primeira geração: nacionalismo


O pano de fundo contextual é a Independência do Brasil. A
poesia buscava a utopia de nação, com aspectos histó-
ricos, linguísticos e culturais. Marcada pelo indianismo,
vinculava-se a elementos da natureza (flora e fauna) bra-
sileiros. O índio era o herói, um símbolo da ideia de Brasil.

Segunda geração: mal-do-século


4 Se iniciou por volta de 1850. O eu lírico volta-se mais para si e afasta-se
da realidade social à sua volta. A utopia volta-se para a ideia de morte.
Aborda o individualismo, o pessimismo e o apego aos vícios. Na poesia, os
sentimentos são exagerados e aparecem de forma idealizada. Os elemen-
tos como a noite, a melancolia, o sofrimento, a morbidez e o medo do amor
permeiam um eu lírico solitário e imerso a devaneios e idealizações.
Terceira geração: condoreirismo
5 Inspirada em Victor Hugo, a última geração do Romantismo brasileiro foca-
liza o aspecto social, sobretudo com as ideias abolicionistas e republicanas
que vinham à tona, e, junto com elas, o desejo de se libertar do Império.
É uma antecipação do Realismo, o condoreirismo se refere à figura do
condor, uma ave que tinha voo alto e livre, tal qual os poetas românticos
faziam em busca de defender seus ideais libertários.

50
0 7 Romantismo: Poesia e Prosa
2ª. Fase (Byroniana)

Competência Habilidades
5 15, 16 e 17
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L C
ENTRE LETRAS
Competência 1 – Aplicar as tecnologias da comunicação e da informação na escola, no trabalho e em outros contextos relevantes para
sua vida.
H1 Identificar as diferentes linguagens e seus recursos expressivos como elementos de caracterização dos sistemas de comunicação.
H2 Recorrer aos conhecimentos sobre as linguagens dos sistemas de comunicação e informação para resolver problemas sociais.
H3 Relacionar informações geradas nos sistemas de comunicação e informação, considerando a função social desses sistemas.
H4 Reconhecer posições críticas aos usos sociais que são feitos das linguagens e dos sistemas de comunicação e informação.
Competência 2 – Conhecer e usar língua(s) estrangeira(s) moderna(s) (LEM) como instrumento de acesso a informações e a outras
culturas e grupos sociais.
H5 Associar vocábulos e expressões de um texto em LEM ao seu tema.
H6 Utilizar os conhecimentos da LEM e de seus mecanismos como meio de ampliar as possibilidades de acesso a informações, tecnologias e culturas.
H7 Relacionar um texto em LEM, as estruturas linguísticas, sua função e seu uso social.
H8 Reconhecer a importância da produção cultural em LEM como representação da diversidade cultural e linguística.
Competência 3 – Compreender e usar a linguagem corporal como relevante para a própria vida, integradora social e formadora da
identidade.
H9 Reconhecer as manifestações corporais de movimento como originárias de necessidades cotidianas de um grupo social.
H10 Reconhecer a necessidade de transformação de hábitos corporais em função das necessidades cinestésicas.
Reconhecer a linguagem corporal como meio de interação social, considerando os limites de desempenho e as alternativas de adaptação para
H11
diferentes indivíduos.
Competência 4 – Compreender a arte como saber cultural e estético gerador de significação e integrador da organização do mundo e
da própria identidade.
H12 Reconhecer diferentes funções da arte, do trabalho da produção dos artistas em seus meios culturais.
H13 Analisar as diversas produções artísticas como meio de explicar diferentes culturas, padrões de beleza e preconceitos.
H14 Reconhecer o valor da diversidade artística e das inter-relações de elementos que se apresentam nas manifestações de vários grupos sociais e étnicos.
Competência 5 – Analisar, interpretar e aplicar recursos expressivos das linguagens, relacionando textos com seus contextos, mediante
a natureza, função, organização, estrutura das manifestações, de acordo com as condições de produção e recepção.
H15 Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção, situando aspectos do contexto histórico, social e político.
H16 Relacionar informações sobre concepções artísticas e procedimentos de construção do texto literário.
H17 Reconhecer a presença de valores sociais e humanos atualizáveis e permanentes no patrimônio literário nacional.
Competência 6 – Compreender e usar os sistemas simbólicos das diferentes linguagens como meios de organização cognitiva da
realidade pela constituição de significados, expressão, comunicação e informação.
H18 Identificar os elementos que concorrem para a progressão temática e para a organização e estruturação de textos de diferentes gêneros e tipos.
H19 Analisar a função da linguagem predominante nos textos em situações específicas de interlocução.
H20 Reconhecer a importância do patrimônio linguístico para a preservação da memória e da identidade nacional
Competência 7 – Confrontar opiniões e pontos de vista sobre as diferentes linguagens e suas manifestações específicas.
H21 Reconhecer em textos de diferentes gêneros, recursos verbais e não-verbais utilizados com a finalidade de criar e mudar comportamentos e hábitos.
H22 Relacionar, em diferentes textos, opiniões, temas, assuntos e recursos linguísticos.
H23 Inferir em um texto quais são os objetivos de seu produtor e quem é seu público alvo, pela análise dos procedimentos argumentativos utilizados.
Reconhecer no texto estratégias argumentativas empregadas para o convencimento do público, tais como a intimidação, sedução, comoção,
H24
chantagem, entre outras.
Competência 8 – Compreender e usar a língua portuguesa como língua materna, geradora de significação e integradora da organização
do mundo e da própria identidade.
H25 Identificar, em textos de diferentes gêneros, as marcas linguísticas que singularizam as variedades linguísticas sociais, regionais e de registro.
H26 Relacionar as variedades linguísticas a situações específicas de uso social.
H27 Reconhecer os usos da norma padrão da língua portuguesa nas diferentes situações de comunicação.
Competência 9 – Entender os princípios, a natureza, a função e o impacto das tecnologias da comunicação e da informação na sua vida
pessoal e social, no desenvolvimento do conhecimento, associando-o aos conhecimentos científicos, às linguagens que lhes dão suporte,
às demais tecnologias, aos processos de produção e aos problemas que se propõem solucionar.
H28 Reconhecer a função e o impacto social das diferentes tecnologias da comunicação e informação.
H29 Identificar pela análise de suas linguagens, as tecnologias da comunicação e informação.
H30 Relacionar as tecnologias de comunicação e informação ao desenvolvimento das sociedades e ao conhecimento que elas produzem
Ultrarromantismo ou geração byroniana

Algumas décadas depois da introdução do Romantismo no Brasil, a poesia ganhou novos rumos com o
aparecimento dos ultrarromânticos. Desvinculados do compromisso com a nacionalidade da primeira geração,
desinteressavam-se da vida político-social e voltavam-se para si mesmos, numa atitude profundamente pessimista.
Como forma de protesto contra o mundo burguês, viviam entediados e à espera da morte.

Influência de Goethe
A publicação do livro Os sofrimentos do jovem Werther (1774), de Johann Wolfgang von Goethe, na Ale-
manha, influenciou os escritores da segunda geração romântica brasileira. Sua história conta o triste suicídio de
Werther, quando vê findada sua chance de ser feliz ao lado de seu amor, a jovem Carlota.

O “mal-do-século”
Os jovens e estudantes de hoje encontram diferentes maneiras de protestar contra os valores sociais ou
o poder instituído. Alguns se organizam em associações ou agremiações estudantis e manifestam-se em jornais,
assembleias e passeatas.
Nas décadas de 1850 e 1860, jovens poetas universitários de São Paulo e do Rio de Janeiro se reuniram e
deram origem à poesia romântica brasileira, conhecida como Ultrarromantismo.
Sem acreditar nas ideias e valores que levaram à Revolução Francesa e sem ter nenhum outro projeto, essa
segunda geração romântica se sentia como uma “geração perdida”. A forma encontrada para expressar seu pessi-
mismo e sua inadequação à realidade foi, no plano pessoal, levar uma vida desregrada, dividida entre os estudos aca-
dêmicos, ócio, casos amorosos e leitura de obras literárias de Musset e Byron, escritores cujo estilo de vida imitavam.

53
No plano literário, essa geração se caracterizou O medo de amar
por cultivar o mal-do-século, uma onda de pessimismo
que se traduzia em atitudes e valores considerados de- O amor foi tratado pelos ultrarromânticos sob uma
cadentes na época, como atração pela noite, pelo vício perspectiva dualista, atração e medo, desejo e culpa. Se-
e pela morte. No caso de Álvares de Azevedo, o principal gundo Mário de Andrade, escritor e crítico modernista, os
representante do grupo, esses traços foram acrescidos ultrarromânticos temiam a realização amorosa. O ideal fe-
ainda de temas macabros e satânicos, o que o aproxima minino é associado a figuras incorpóreas ou assexuadas:
de Horace Walpole, escritor inglês que, alguns anos an- anjo, criança, virgem etc. As referências ao amor físico se
tes, tinha dado início ao romance gótico com O castelo dão apenas de modo indireto, sugestivo ou superficial.
de Otranto (1765). O poema a seguir, “Amor e medo”, do ultrar-
Os ultrarromânticos desprezam certos temas e romântico Casimiro de Abreu, deixa bastante claro seu
posturas da primeira geração, como o nacionalismo e o medo de amar.
indianismo; contudo, acentuam traços como o subjeti-
vismo, o egocentrismo e o sentimentalismo, ampliando No fogo vivo eu me abrasara inteiro!
a experiência da sondagem interior e preparando ter- Ébrio e sedento na fugaz vertigem
reno para a investigação psicológica que, três décadas Vil, machucava com meu dedo impuro
mais tarde, iria caracterizar o Realismo. As pobres flores da grinalda virgem!

Vampiro infame, eu sorveria em beijos


Lord Byron: ousadia e negação
Toda a inocência que teu lábio encerra,
O poeta inglês Lord Byron (1788-1824) foi um E tu serias no lascivo abraço
dos principais escritores do Romantismo europeu. Dividia Anjo enlodado nos pauis da terra.

a vida luxuosa das cortes entre a literatura e as mulheres,


Se de ti fujo é que te adoro e muito,
e escandalizou a Inglaterra com seu estilo boêmio de vida
És bela – eu moço; tens amor, eu – medo!...
e com suas relações amorosas extraconjugais. Foi ainda
CANDIDO, Antônio; CASTELLO, José A. Presença da lite-
acusado de pederastia e de manter relações incestuosas ratura brasileira. v. 2. São Paulo: Difel, 1968. p. 44.
com a irmã. Escreveu Don Juan e Jovem Haroldo.
Neste poema, o medo de amar se traduz no receio
de macular a virgem, no temor de entregar-se ao apelo dos
sentidos e ferir a pureza da mulher amada. A imagem de
“anjo enlodado” dá a medida exata do ideal feminino para
os românticos: mulher virgem, assexuada e incorpórea.
A seguir, os principais escritores do Ultrarroman-
tismo e suas produções:

§ Álvares de Azevedo (poesia lírica, contos e


teatro) – Lira dos vinte anos; Noite na taverna;
Macário.
§ Casimiro de Abreu (poesia lírica) – Primave-
ras.
§ Fagundes Varela (poesia lírica) – Cantos e fan-
tasias.
§ Junqueira Freire (poesia lírica) – Inspirações
do claustro.
Lord Byron

54
Álvares de Azevedo: a antítese personificada
Manuel Antônio Álvares de Azevedo nasceu em 12 de
setembro de 1831, em São Paulo. No entanto, foi no Rio de
Janeiro que fez o curso primário. Voltou à capital paulista para
cursar a Faculdade de Direito de São Paulo em 1848. Neste
período inicia sua produção poética e também os primeiros
sintomas de sua tuberculose. Foi estudante da melhor
qualidade e envolvido na vida literária, inclusive fundando, a
Revista Mensal da Sociedade Ensaio Filosófico Paulistano
Álvares de Azevedo desenvolveu obsessão pela
temática da morte, sobretudo por cinta da influência As faces de Ariel e Caliban
do conhecimento da doença que possuía, como se
As características intrigantes da obra de Álvaro
percebe em seus poemas e cartas que enviava aos seus
de Azevedo residem na articulação consciente de um
familiares e amigos.
projeto literário baseado na contradição que, talvez, ele
Foi um leitor aplicado do poeta inglês Lord Byron,
um dos motivos pelo qual sua geração foi chamada de experimentasse na adolescência. Enquadrada no dualismo
“byroniana”. Byron foi conhecido por seus escândalos que caracteriza a linguagem romântica, essa contradição é
amorosos, incesto e distúrbios morais com poemas evidente em sua principal obra poética, Lira dos vinte anos.
angustiados e pessimistas. A primeira e a terceira partes da obra revelam
No período localizado entre 1848 e 1851 um eu lírico adolescente, casto, sentimental e ingênuo.
publicoumuitas coisas entre poemas, cartas e artigos, A face de Ariel, a face do bem.
porém após seu falecimento surgiram suas “Obras
completas” compostas por: Lira dos vinte anos, Poesias Pálida, à luz da lâmpada sombria
diversas, O poema do frade e O Conde Lopo, e os poemas
narrativos de caráter dramático; Macário; A noite na Pálida, à luz da lâmpada sombria,
taverna, contos fantásticos; a terceira parte do romance Sobre o leito de flores reclinada,
Como a lua por noite embalsamada,
O livro de Fra Gondicário; além de artigos e 69 cartas.
Entre as nuvens do amor ela dormia!
O poeta do Romantismo tem poucas publicações,
apesar de muito conhecidas, pelo fato de morrer ainda Era a virgem do mar! na escuma fria
jovem no ano de 1852, passando as férias com a família Pela maré das águas embalada!
no Rio de Janeiro, sofreu um acidente de cavalo e após a Era um anjo entre nuvens d’alvorada
Que em sonhos se banhava e se esquecia!
operação veio a falecer no dia 25 de abril de 1852. Como
quem anunciasse a própria morte, no mês anterior escrevera Era mais bela! O seio palpitando...
a sua última poesia, sob o título “Se eu morresse amanhã”. Negros olhos as pálpebras abrindo...
Álvares de Azevedo (1831-1852) é a principal Formas nuas no leito resvalando...
expressão da geração ultrarromântica de nossa poesia. Não te rias de mim, meu anjo lindo!
Paulista, fez os estudos básicos no Rio de Janeiro e cursava Por ti – as noites eu velei chorando,
o quinto ano de Direito, em São Paulo, quando sofreu um Por ti – nos sonhos morrerei sorrindo!
acidente (queda de cavalo), cujas complicações o levaram HELLER, Bárbara; BRITO, Luís Percival L.; LAJOLO, Ma-
risa. Álvares de Azevedo. Seleção de textos. São Paulo:
à morte, antes de completar 21 anos. Abril Educação, 1982. p. 22. Literatura Comentada.
O escritor cultivou a poesia, a prosa e o teatro. Os sete
livros, discursos e cartas que produziu foram escritos em apenas
quatro anos, período em que era estudante universitário. O
conjunto de sua obra é de qualidade irregular, mas significativa
sob o ponto de vista da evolução da poesia nacional.

55
Com esse comentário, o poeta introduz o leitor
no mundo de Caliban, representado principalmente
pelo poema “Ideias íntimas” e por uma série intitulada
“Spleen e charutos”. Embora não se incluam na Lira dos
vinte anos, aproximam-se desse grupo de textos os contos
de Noite na taverna e a peça teatral Macário. Os poemas
retratam um mundo decadente, povoado de viciados,
bêbados, prostitutas, andarilhos solitários sem vínculos e
sem destino. Observe essas atitudes neste versos:

Poema do frade
Estátua de Álvares de Azevedo, no Largo São Francisco, São Paulo.
Meu herói é um moço preguiçoso
Observe que o soneto “Pálida, à luz da lâmpada
Que viveu e bebia porventura
sombria” está organizado a partir de relações antitéticas: a
Como vós, meu leitor... se era formoso
escuridão e a claridade; a noite e o amanhecer; o ambiente
Ao certo não o sei. Em mesa impura
onírico (de sonho) e o real; a virgem pálida e distante e a Esgotara com lábio fervoroso
mulher corporificada e sensual; o amor e a morte. Como vós e como eu a taça escura.
Note ainda que, da primeira para a última estrofe, há Era pálido sim... mas não d’estudo:
um processo de materialização da mulher amada: no início, No mais... era um devasso e disse tudo!
ela é uma “virgem do mar” ou um “anjo”; depois, torna-se [...]
uma mulher sensual e nua na cama. Essa gradação ocorre Não quisera mirar a face bela
paralelamente à gradação da luz, conforme o dia amanhece. Nesse espelho de lodo ensanguentado!
Numa atitude tipicamente adolescente, o eu lírico, A embriaguez preferida: em meio dela
como um verdadeiro voyeur, observa de longe a mulher Não viriam cuspir-lhe o seu passado!
amada, sem ter com ela nenhum comprometimento. Como em nevoento mar perdida vela
Trata-se de um comportamento resultante do “medo de Nos vapores do vinho assombreado
Preferia das noites na demência
amar”, ligado à dúvida e ao prazer reprimido, e cuja
Boiar (como um cadáver!) na existência!
saída é a sublimação pela morte.
[...]
Quando se inicia a segunda parte da Lira dos
vinte anos, contudo, o leitor se depara com um segundo
prefácio da obra, com os seguintes dizeres: Na leitura de alguns trechos do poema “Ideias
íntimas”, entra-se na “terra fantástica” do mundo de
Caliban. O ambiente é um quarto de estudante, no
Cuidado, leitor, ao voltar esta página!
qual o jovem se entrega a uma viagem pelo interior
Aqui dissipa-se o mundo visionário e
platônico. Vamos entrar num mundo novo, terra
de si mesmo. Reconhece os objetos que formam seu
fantástica, verdadeira ilha Barataria de D. Quixote, pequeno mundo e a relação entre este e aqueles de
onde Sancho é rei; [...] modo que a solidão e o desarranjo do quarto são um
Quase que depois de Ariel esbarramos em Caliban. prolongamento da condição interior do eu lírico.
A razão é simples. É que a unidade deste livro
e capítulo funda-se numa binomia. Duas almas que Ideias íntimas
moram nas cavernas de um cérebro pouco mais ou I
menos de poeta escreveram este livro, verdadeira
medalha de duas faces. Ossian o bardo é triste como a sombra
Nos meus lábios onde suspirava a monodia Que seus cantos povoa. O Lamartine
amorosa, vem a sátira que morde. É monótono e belo como a noite,
CANDIDO, Antônio; CASTELLO, José A. Ob. cit., v. 2. p.14.
Como a lua no mar e o som das ondas...

56
Parece-me que vou perdendo o gosto, XIV
Vou ficando blasé, passeio os dias Parece que chorei... Sinto na face
Pelo meu corredor, sem companheiro, Uma perdida lágrima rolando...
Sem ler, nem poetar. Vivo fumando. Satã leve a tristeza! Olá, meu pajem,
Minha casa não tem menores névoas Derrama no meu corpo as gotas últimas
Que as deste céu d’inverno... Solitário Dessa garrafa negra...
Passo as noites aqui e os dias longos; Eia! bebamos!
És o sangue do gênio, o puro néctar!
Daí-me agora ao charuto em corpo e alma;
Que as almas do poeta diviniza,
O condão que abre o mundo das magias!
X
Vem. Fogoso Cognac! É só contigo
Meu pobre leito! eu amo-te contudo! Que sinto-me viver. Inda palpito,
Aqui levei sonhando noites belas; Quando os eflúvios dessas gotas áureas
As longas horas olvidei libando Filtram no sangue meu correndo a vida.
Ardentes gotas de licor doirado, Vibram-me os nervos e as artérias queimam,
Esqueci-as no fumo, na leitura Os meus olhos se escurecem
E no cérebro passam delirosos
Das páginas lascivas do romance...
Assomos de poesia... Dentre a sombra
Meu leito juvenil, da minha vida Vejo num leito d’oiro a imagem dela
És a página d’oiro. Em teu asilo Palpitante, que dorme e que suspira,
Eu sonho-me poeta, e sou ditoso, Que seus braços me estende...
E a mente errante devaneia em mundos Eu me esquecia:
Que esmalta a fantasia! Oh! Quantas vezes Faz-se noite: traz fogo e depois charutos
E na mesa do estudo acende a lâmpada...
Do levante no sol entre odaliscas
Álvares de Azevedo. Ob. cit., p.31-38.
Momentos não passei que valem vidas!
Quanta música ouvi que me cantava!
Quantas virgens amei! que Margaridas,
Que Elviras saudosas e Clarissas,
A ironia ou a terceira face de Álvares de Azevedo
Mais trêmulo que Faust, eu não beijava,
Mais feliz que Don Juan e Lovelace A ironia é um traço constante na obra poética de
Não apertei ao peito desmaiando! Álvares de Azevedo. Forma não passiva de ver a realidade, é
Ó meus sonhos de amor e mocidade, empregada pelo poeta como recurso para quebrar a noção
Por que ser tão famoso, se devíeis de ordem e abalar as convenções do mundo burguês.
Me abandonar tão cedo... e eu acordava Enquanto o lado Caliban do poeta se situa
Arquejando a beijar meu travesseiro?
em uma das linhas que compõem o Romantismo – a
XII linha orgíaca e satânica –, a ironia levada às últimas
consequências dos poemas de Álvares de Azevedo
Aqui sobre esta mesa junto ao leito
acessa um veio novo: o antirromântico, o que constitui
Em caixa negra dois retratos guardo.
Não os profanem indiscretas vistas. outro paradoxo. O mais romântico dos nossos românticos
Eu beijo-os cada noite: neste exílio lançou o germe da própria superação do Romantismo,
Venero-os juntos e os prefiro unidos ao ironizar algumas das atitudes mais caras à sua
– Meu pai e minha mãe. – Se acaso um dia geração, como a pieguice amorosa e a idealização do
Na minha solidão me acharem morto, amor e da mulher, como nos versos a seguir:
Não os abra ninguém. Sobre meu peito
Lancem-nos em meu túmulo. Mais doce
Será certo o dormir da noite negra
Tendo no peito essas imagens puras.

57
Apesar de ligado à segunda geração da poe-
sia romântica, Casimiro contribuiu para desanuviar o
É ela! É ela! É ela! É ela!
ambiente noturno que Álvares de Azevedo deixara ao
É ela! é ela! – murmurei tremendo,
morrer, sete anos antes.
e o eco ao longe murmurou – é ela!
Eu a vi... minha fada aérea e pura – Diferentemente da obra de Azevedo, em que o amor
a minha lavadeira na janela! se confunde com a morte, nos poemas de Casimiro o amor
Dessas águas furtadas onde eu moro se associa sempre à vida e à sensualidade. Contudo, essa
eu a vejo estendendo no telhado sensualidade – mais natural que em Álvares de Azevedo,
os vestidos de chita, as saias brancas;
porque é mais concreta – ainda não alcança maturidade,
eu a vejo e suspiro enamorado!
conserva-se ligada ao medo de amar, é sempre disfarçada,
Esta noite eu ousei mais atrevido
nas telhas que estalavam nos meus passos resultado de insinuações e do jogo de mostrar e esconder.
ir espiar seu venturoso sono, Sua poesia se destaca também pela abordagem graciosa
vê-la mais bela de Morfeu nos braços! de certos temas: infância, pátria, saudade, solidão, natureza,
Como dormia! que profundo sono!... amor, que agradavam ao público, já acostumado a eles.
Tinha na mão o ferro do engomado...
Como roncava maviosa e pura!...
Aproveitando-se de novidades introduzidas pela primei-
Quase caí na rua desmaiado! ra geração – variações métricas e rítmicas, forte musicalidade,
[...] emprego de uma língua brasileira –, a poesia de Casimiro se
Álvaro de Azevedo. Ob. cit., p. 44.
serve delas ao esgotamento, numa época em que tais inovações
já não eram ruptura, uma vez incorporadas ao gosto do público.
Certos aspectos da poesia de Álvares de Azeve-
Com o tratamento brando dado aos temas, a
do repercutem em poemas de poetas do século XX: a
poesia de Casimiro de Abreu não amplia nem modifica
ironia em Carlos Drummond de Andrade e o cotidiano
os horizontes do Romantismo brasileiro. A abordagem
em Manuel Bandeira. Essa convergência comprova a
mais natural da sensualidade é a inovação que ela pro-
importância e a atualidade de Álvares de Azevedo.
porciona, bem como contribui para a consolidação e
popularização definitiva do Romantismo entre nós.
Casimiro de Abreu: a poesia
bem-comportada Meus oito anos
Oh! que saudades que eu tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!

Como são belos os dias


Do despontar da existência!
– Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar é – lago sereno,
Casimiro de Abreu (1839-1860) é um dos poe-
O céu – um manto azulado,
tas românticos mais populares. Natural de Barra de São O mundo – um sonho dourado,
João, no Rio de Janeiro, escreveu a maior parte de sua A vida – um hino d’amor!
obra poética, Primaveras, em Portugal.

58
Que auroras, que sol, que vida, As falas sentidas que os olhos falavam,
Que noites de melodia Não quero, não posso, não devo contar!
Naquela doce alegria,
Depois indolente firmou-se em meu braço,
Naquele ingênuo folgar!
Fugimos das salas, do mundo talvez!
O céu bordado d’estrelas,
Inda era mais bela rendida ao cansaço,
A terra de aromas cheia,
Morrendo de amores em tal languidez!
As ondas beijando a areia
– Que noite e que festa! e que lânguido rosto
E a lua beijando o mar!
Banhado ao reflexo do branco luar!
A neve do colo e as ondas dos seios
Oh! dias de minha infância!
Não quero, não posso, não devo contar!
Oh! meu céu de primavera!
[...]
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã! Então nesse instante nas águas do rio
Em vez de mágoas de agora, Passava uma barca, e o bom remador
Eu tinha nessas delícias Cantava na flauta: –“Nas noites d’estio
De minha mãe as carícias O céu tem estrelas, o mar tem amor!” –
E beijos de minha irmã! – E a voz maviosa do bom gondoleiro
Repete cantando: – “viver é amar!” –
Livre filho das montanhas,
Se os peitos respondem à voz do barqueiro...
Eu ia bem satisfeito,
Não quero, não posso, não devo contar!
De camisa aberta ao peito,
– Pés descalços, braços nus – Trememos de medo... a boca emudece
Correndo pelas campinas Mas sentem-se os pulos do meu coração!
À roda das cachoeiras, Seu seio nevado de amor se intumesce...
Atrás das asas ligeiras E os lábios se tocam no ardor da paixão!
Das borboletas azuis! – Depois... mas já vejo que vós, meus senhores,
[...] Como fina malícia quereis me enganar;
Casimiro de Abreu. As primaveras. Aqui faço ponto; – segredos de amores
Publicado em 1859. Não quero, não posso, não devo contar!
Poesias completas de Casimiro de Abreu.
s.d. Rio de Janeiro: Ediouro, p.61-63.

Segredos
Eu tenho uns amores – quem é que os não tinha
Nos tempos antigos? – Amar não faz mal;
Fagundes Varela: uma poesia em transição
As almas que sentem paixão como a minha,
Que digam, que falem em regra geral. Fagundes Varela (1841-1875) nasceu em Rio
– A flor dos meus sonhos é moça bonita Claro, no estado do Rio de Janeiro. Estudou Direito em
Qual flor entreaberta do dia ao raiar; São Paulo, onde se casou com uma prostituta.
Mas onde ela mora, que casa ela habita, Dessa união nasceu um filho que veio a falecer com
Não quero, não posso, não devo contar!
apenas três meses de vida. Amargurado, entregou-se à vida
[...]
boêmia e ao álcool. Passou os últimos anos de vida longe
Oh! ontem no baile com ela valsando das grandes cidades, buscando refúgio na religião e no con-
Senti as delícias dos anjos do céu!
tato com a natureza e com pessoas simples. A poesia que
Na dança ligeira qual silfo voando
Caiu-lhe do rosto seu cândido véu! produziu nessa fase se reveste de preocupação espiritual.
– Que noite e que baile! – Seu hálito virgem Parte de sua obra poética mostra atitudes co-
Queimava-me as faces no louco valsar, muns ao grupo ultrarromântico, como pessimismo, so-
lidão e morte.

59
Cântico do calvário
À memória do meu filho morto a 11 de dezembro
de 1863.

Eras na vida a pomba predileta


Que sobre o mar de angústia conduzia
O ramo da esperança. Eras a estrela
Que entre as névoas do inverno cintilava
Apontando o caminho ao pegueiro
Eras a messe de um dourado estio
Eras o idílio de um amor sublime.
Eras a glória, a inspiração, a pátria,
O porvir de teu pai! – Ah! no entanto,
Pomba, – varou-te a flecha do destino!
Nos versos de “O exilado”, sobressai a sensação Astro, – engoliu-te o temporal do norte!
de ser um estranho entre as pessoas, de sentir-se só em Teto, – caíste – Crença, já não vives!
[...]
meio à multidão.
Mas não! tu dormes no infinito seio
Do Criador dos seres! Tu me falas
O exilado Na voz dos ventos, no chorar das aves,
O exilado está só por toda a parte! Talvez das ondas no respiro flébil!
Tu me contemplas lá do céu, quem sabe?
Passei tristonho dos salões no meio,
No vulto solitário de uma estrela.
Atravessei as turbulentas praças E são teus raios que meu astro esquecem!
Curvando ao peso de uma sina escura; Pois bem! Mostra-me as voltas do caminho!
As turbas contemplaram-me sorrindo, Brilha e fulgura no azulado manto,
Mas ninguém divisou a dor sem termos Mas não te arrojes, lágrima da noite,
Que as fibras de meu peito espedaçava. Nas ondas nebulosas do ocidente!
O exilado está só por toda a parte! Brilha e fulgura! Quando a morte fria
[...] Sobre mim sacudir o pó das asas,
Fagundes Varela Escada de Jacó serão teus raios
Por onde asinha subirá minh’alma.
Antonio Candido; José A. Castello. Op. cit., p.53-58.
Apesar da inclinação ao pessimismo, a obra de
Varela prenuncia rumos novos trilhados pela geração
seguinte. Em vez de egocêntrica, sua poesia se volta para
os problemas sociais e políticos do Brasil; há poemas que
fazem a defesa da pátria, do índio, da nacionalidade,
do fim da escravidão. Na forma, Varela introduz o tom
grandiloquente da oratória e a abundância de imagens,
inovações essas de conteúdo e de forma retomadas e
ampliadas por Castro Alves, poeta da terceira geração.
O poema “Cântico do calvário”, considerado a
obra-prima de Fagundes Varela, é dedicado ao filho morto,
aos três meses de idade. Vejamos alguns fragmentos:

60
0 8 Romantismo: Poesia
3ª. Fase (Condoreira) / Teatro

Competência Habilidades
5 15, 16 e 17
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L C
ENTRE LETRAS
Competência 1 – Aplicar as tecnologias da comunicação e da informação na escola, no trabalho e em outros contextos relevantes para
sua vida.
H1 Identificar as diferentes linguagens e seus recursos expressivos como elementos de caracterização dos sistemas de comunicação.
H2 Recorrer aos conhecimentos sobre as linguagens dos sistemas de comunicação e informação para resolver problemas sociais.
H3 Relacionar informações geradas nos sistemas de comunicação e informação, considerando a função social desses sistemas.
H4 Reconhecer posições críticas aos usos sociais que são feitos das linguagens e dos sistemas de comunicação e informação.
Competência 2 – Conhecer e usar língua(s) estrangeira(s) moderna(s) (LEM) como instrumento de acesso a informações e a outras
culturas e grupos sociais.
H5 Associar vocábulos e expressões de um texto em LEM ao seu tema.
H6 Utilizar os conhecimentos da LEM e de seus mecanismos como meio de ampliar as possibilidades de acesso a informações, tecnologias e culturas.
H7 Relacionar um texto em LEM, as estruturas linguísticas, sua função e seu uso social.
H8 Reconhecer a importância da produção cultural em LEM como representação da diversidade cultural e linguística.
Competência 3 – Compreender e usar a linguagem corporal como relevante para a própria vida, integradora social e formadora da
identidade.
H9 Reconhecer as manifestações corporais de movimento como originárias de necessidades cotidianas de um grupo social.
H10 Reconhecer a necessidade de transformação de hábitos corporais em função das necessidades cinestésicas.
Reconhecer a linguagem corporal como meio de interação social, considerando os limites de desempenho e as alternativas de adaptação para
H11
diferentes indivíduos.
Competência 4 – Compreender a arte como saber cultural e estético gerador de significação e integrador da organização do mundo e
da própria identidade.
H12 Reconhecer diferentes funções da arte, do trabalho da produção dos artistas em seus meios culturais.
H13 Analisar as diversas produções artísticas como meio de explicar diferentes culturas, padrões de beleza e preconceitos.
H14 Reconhecer o valor da diversidade artística e das inter-relações de elementos que se apresentam nas manifestações de vários grupos sociais e étnicos.
Competência 5 – Analisar, interpretar e aplicar recursos expressivos das linguagens, relacionando textos com seus contextos, mediante
a natureza, função, organização, estrutura das manifestações, de acordo com as condições de produção e recepção.
H15 Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção, situando aspectos do contexto histórico, social e político.
H16 Relacionar informações sobre concepções artísticas e procedimentos de construção do texto literário.
H17 Reconhecer a presença de valores sociais e humanos atualizáveis e permanentes no patrimônio literário nacional.
Competência 6 – Compreender e usar os sistemas simbólicos das diferentes linguagens como meios de organização cognitiva da
realidade pela constituição de significados, expressão, comunicação e informação.
H18 Identificar os elementos que concorrem para a progressão temática e para a organização e estruturação de textos de diferentes gêneros e tipos.
H19 Analisar a função da linguagem predominante nos textos em situações específicas de interlocução.
H20 Reconhecer a importância do patrimônio linguístico para a preservação da memória e da identidade nacional
Competência 7 – Confrontar opiniões e pontos de vista sobre as diferentes linguagens e suas manifestações específicas.
H21 Reconhecer em textos de diferentes gêneros, recursos verbais e não-verbais utilizados com a finalidade de criar e mudar comportamentos e hábitos.
H22 Relacionar, em diferentes textos, opiniões, temas, assuntos e recursos linguísticos.
H23 Inferir em um texto quais são os objetivos de seu produtor e quem é seu público alvo, pela análise dos procedimentos argumentativos utilizados.
Reconhecer no texto estratégias argumentativas empregadas para o convencimento do público, tais como a intimidação, sedução, comoção,
H24
chantagem, entre outras.
Competência 8 – Compreender e usar a língua portuguesa como língua materna, geradora de significação e integradora da organização
do mundo e da própria identidade.
H25 Identificar, em textos de diferentes gêneros, as marcas linguísticas que singularizam as variedades linguísticas sociais, regionais e de registro.
H26 Relacionar as variedades linguísticas a situações específicas de uso social.
H27 Reconhecer os usos da norma padrão da língua portuguesa nas diferentes situações de comunicação.
Competência 9 – Entender os princípios, a natureza, a função e o impacto das tecnologias da comunicação e da informação na sua vida
pessoal e social, no desenvolvimento do conhecimento, associando-o aos conhecimentos científicos, às linguagens que lhes dão suporte,
às demais tecnologias, aos processos de produção e aos problemas que se propõem solucionar.
H28 Reconhecer a função e o impacto social das diferentes tecnologias da comunicação e informação.
H29 Identificar pela análise de suas linguagens, as tecnologias da comunicação e informação.
H30 Relacionar as tecnologias de comunicação e informação ao desenvolvimento das sociedades e ao conhecimento que elas produzem
Condoreirismo: terceira geração (liberdade)
As décadas de 60 e 70 do século XIX representam um período
de transição na poesia brasileira. Mesmo com a sobrevivência de
muitos procedimentos da primeira e da segunda gerações, novidades
de forma e de conteúdo não faltam, dando origem à terceira geração
da poesia romântica, mais voltada para os problemas sociais e para
uma nova forma de tratar o tema amoroso.
Os poetas da terceira geração da poesia romântica brasileira
eram ligados à corrente condoreira ou hugoana, como é chamada
por influência do escritor francês Victor Hugo. Dentre eles estão Cas-
tro Alves, Pedro Luís, Pedro Calasãs e, até certo ponto, Sousândrade.
Ampliando as experiências de Fagundes Varela – que por
vezes supera o egocentrismo e volta-se para o mundo exterior –,
os condoreiros, comprometidos com a causa abolicionista e repu-
blicana, desenvolveram a poesia social. Seus poemas em tom gran-
diloquente, próximo da oratória, tinham a finalidade de convencer
o leitor-ouvinte e conquistá-lo para a causa defendida. O centro de
preocupação da linguagem se desloca do eu (emissor) para o assun-
to (abolição e república), o que representa uma mudança profunda,
considerando que o Romantismo é por natureza egocêntrico.
O nome condoreirismo dessa corrente se associa ao condor
ou a outras aves como a águia, o falcão e o albatroz, tomados como
símbolos dessa geração de poetas com preocupações sociais. Identi-
ficados com o condor – ave de voo alto e solitário, capaz de enxergar
à grande distância –, os poetas condoreiros se supunham também
dotados dessa capacidade, razão pela qual se obrigavam com o com-
promisso de poetas-gênios iluminados por Deus, de orientar os ho-
mens comuns para os caminhos da justiça e da liberdade.
No Romantismo europeu, os condoreiros se ocuparam espe-
cialmente com os operários da indústria e com os camponeses. Os
miseráveis, de Victor Hugo, é um dos melhores exemplos da literatura
condoreira da época.
No Brasil, o condoreirismo assumiu feições abolicionistas e
republicanas, em razão da força de trabalho predominantemente es-
crava e da decadência do Segundo Reinado. Nestes versos do poema
“O vidente”, Castro Alves se revela um liberal-cristão.

Quebraram-se as cadeias, é livre a terra inteira,


A humanidade marcha com a Bíblia por bandeira;
São livres os escravos, quero empunhar a lira,
Quero que est’alma ardente um canto audaz desfira,
Quero enlaçar meu hino aos murmúrios dos ventos,
As harpas das estrelas, ao mar, aos elementos!
O navio negreiro e outros poemas.
São Paulo: Saraiva, 2007. p. 72-73.

63
Castro Alves: a linguagem da
Castro Alves do Brasil, para quem cantaste?
paixão e o cantor dos escravos Para a flor cantaste? Para a água
Cuja formosura diz palavras às pedras?
Cantaste para os olhos, para o perfil cortado
Daquela que então amaste? Para a primavera?
[...]

– Cantei para os escravos, sobre os barcos


como o cacho escuro da vinha da ira
viajaram, e no porto o navio sangrou
deixando-nos o peso do sangue roubado.
Tradução de Cláudio Blanc. In: Castro Alves. O navio ne-
greiro e outros poemas. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 245.

Castro Alves (1847-1871), o “poeta dos escravos”, é A poesia social


considerado a principal expressão condoreira da poesia brasi-
leira. Nascido em Curralinho, hoje Castro Alves (BA), estudou Castro Alves soube conciliar as ideias de reforma
Direito em Recife e em São Paulo. Na evolução da poesia social com os procedimentos poéticos, sem fazer de sua
romântica brasileira, sua obra representa um momento de obra um mero panfleto político, risco que corre quem
pretende fazer arte engajada.
maturidade e de transição. Maturidade em relação a certas
Comparando Álvares de Azevedo a Castro Alves, há
atitudes ingênuas das gerações anteriores, como a idealiza-
entre eles pontos em comum. Aquele revela um desejo laten-
ção amorosa e o nacionalismo ufanista, substituída por pos-
te de transformar a realidade à qual não consegue integrar-
turas mais críticas e realistas. Transição porque a perspectiva
-se, enquanto este, que também deseja transformá-la, toma
mais objetiva e crítica com que trata a realidade aponta para
posição: conscientiza-se dos problemas humanos e busca de
o movimento literário subsequente, o Realismo.
fórmulas para solucioná-los na poesia lírica e social.
Castro Alves cultivou a poesia lírica e social, de
que são exemplos Espumas flutuantes e A cachoeira de
Paulo Afonso; a poesia épica Os escravos; e o teatro
Gonzaga ou Revolução de Minas.

Neruda saúda Castro Alves


Pablo Neruda (1904-1973), poeta chileno tam-
bém dedicado à poesia social, homenageia o poeta bra-
sileiro com “Castro Alves do Brasil”.
Engenho manual que faz caldo de cana. Aquarela sobre papel, 1822.
Jean-Baptiste Debret.

Em vez de apresentar uma visão idealizada e


ufanista da pátria, retrata o lado feio e esquecido pelos
primeiros românticos: a escravidão dos negros, a opres-
são e a ignorância do povo brasileiro.
Emprega uma linguagem grandiosa, com gosto
acentuado pelas hipérboles e pelos amplos espaços:
mar, céu, infinito, deserto. Com ela, supera a atitude
bem-comportada e superficial de Casimiro de Abreu em
busca do voo alto e do mergulho profundo.

64
Com inovações de forma e de conteúdo, a lin- O navio negreiro
guagem poética de Castro Alves prenuncia a perspectiva
crítica e a objetividade do Realismo. Mas mantém uma Trata-se de um poema épico-dramático que integra
linguagem essencialmente romântica, afinada com o a obra Os escravos. Ao lado de “Vozes d’África”, constitui
projeto liberal do Romantismo brasileiro e bastante car-
uma das principais realizações poéticas de Castro Alves.
regada emocionalmente, beirando os limites da paixão.
“O navio negreiro” denuncia a escravidão e o trans-
porte de negros para o Brasil. Foi escrito em 1868, quando já
vigorava a Lei Eusébio de Queirós há dezoito anos, que proi-
bia o tráfico de escravos, mas a escravidão no país persistia.
Sem a preocupação de escrever sobre a realida-
de imediata, o poema faz uma recriação poética das
cenas dramáticas do transporte de escravos no porão
dos navios negreiros, à luz em grande parte de relatos
de escravos da época com quem o poeta conviveu na
Bahia, quando menino.
Estes versos são da parte IV de “O navio negreiro”,
Castro Alves, “o poeta dos escravos” que descrevem o que se via no interior de um navio negreiro.
Eles nos fazem ver a cena como se estivéssemos num teatro.
Poesia engajada

Castro Alves é fundador da poesia social e enga-


O navio negreiro – parte IV
jada no Brasil. Engajada porque estava a serviço de uma Era um sonho dantesco... o tombadilho
causa político-ideológica à procura de uma arte de con- Que das luzernas avermelha o brilho,
testação e conscientização. No século XX, vários poetas Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros... estalar de açoite...
deram continuidade a essa tradição: Carlos Drummond
Legiões de homens negros como a noite,
de Andrade, Ferreira Gullar, Thiago de Melo e outros. A Horrendos a dançar...
música popular também cumpriu esse papel nas décadas
Negras mulheres, suspendendo às tetas
de 1960 e 1970, durante o regime militar, principalmente
Magras crianças, cujas bocas pretas
pela voz de Geraldo Vandré e Chico Buarque de Holanda. Rega o sangue das mães:
Outras, moças... mas nuas, espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoa vãs.
[...]
No entanto o capitão manda a manobra
E após, fitando o céu que se desdobra
Tão puro sobre o mar,
Diz do fumo entre os densos nevoeiros:
“Vibrai rijo o chicote, marinheiros!
Fazei-os mais dançar!...”
E ri-se a orquestra irônica, estridente...
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais!
Qual num sonho dantesco as sombras voam!...
E ri-se Satanás!...
(Espumas flutuantes. Rio de Janeiro: Ediouro, s.d. p. 184-5.)
Estátua de Castro Alves, Salvador (BA)

65
A poesia lírica
É noite ainda! Brilha na cambraia
Embora a lírica amorosa de Castro Alves conte- – Desmanchado o roupão, a espádua nua –
nha um ou outro vestígio do amor platônico e da ide- O globo de teu peito entre os arminhos
alização da mulher, de modo geral ela representa um Como entre as névoas se balouça a lua...
avanço decisivo na tradição poética brasileira: abando- Ai! Canta a cavatina do delírio,
na o amor convencional e abstrato dos clássicos e o Ri, suspira, soluça, anseia e chora...
amor cheio de medo e culpa dos românticos. Marion! Marion!... É noite ainda.
Em vez de “virgem pálida”, a mulher nos poemas Que importa os raios de uma nova aurora?!...
de Castro Alves é quase sempre um ser corporificado, parti- Como um negro e sombrio firmamento,
cipa ativamente do envolvimento amoroso. O amor é uma Sobre mim desenrola teu cabelo...
experiência viável, concreta, capaz de trazer tanto a felici- E deixa-me dormir balbuciando:
dade e o prazer como a dor. Portanto, o conteúdo da lírica Boa noite! – formosa Consuelo!...
do poeta é uma espécie de superação da fase adolescente Espumas flutuantes. Rio de Janeiro: Ediouro, s.d. p. 184-485.

do amor e o início de uma fase adulta, mais natural, que


aponta para a objetividade prenunciando o Realismo.
Sousândrade: precursor da modernidade
Boa noite O poeta Joaquim de Sousa Andrade (1833-1902), ou
Sousândrade, foi o mais original poeta do século XIX. Filho
Boa noite, Maria! Eu vou-me embora,
de fazendeiros, nasceu no Maranhão e estudou na França,
A lua nas janelas bate em cheio.
Boa noite, Maria! É tarde... é tarde... onde se bacharelou em Letras e Engenharia de Minas. Além
Não me apertes assim contra teu seio. da França, peregrinou pela Bélgica, Estados Unidos e Chile.
Estreou na literatura em 1857 com Harpas selva-
Boa noite!... E tu dizes – Boa noite,
Mas não mo digas assim por entre beijos... gens, por critério cronológico, poderia figurar tanto entre os
Mas não mo digas descobrindo o peito, poetas da segunda geração romântica quanto entre os da
– Mar de amor onde vagam meus desejos. terceira, graças ao teor abolicionista e republicano de alguns
Julieta do céu! Ouve... a calhandra textos. Entretanto, nenhum desses critérios é suficiente para
Já rumoreja o canto da matina. avaliar a contribuição de Sousândrade à poesia brasileira.
Tu dizes que eu menti?... Pois foi mentira... Incompreendido pelos críticos, pelos leitores e até
... Quem cantou foi teu hálito, divina! pelos familiares e consciente de sua condição, já firmava
É noite, pois! Durmamos, Julieta! em 1877, numa introdução ao canto VII de “Guesa erran-
Rescende a alcova ao trescalar das flores, te”, sua obra máxima: “Ouvi dizer já por duas vezes que o
Fechemos sobre nós estas cortinas... Guesa errante será lido cinquenta anos depois; entristeci
– São as asas do arcanjo dos amores. – decepção de quem escreve cinquenta anos antes”.
A frouxa luz da alabastrina lâmpada Dotado de uma compreensão mais crítica e
Lambe voluptuosa os teus contornos... abrangente do sentido da pátria e do indianismo vi-
Oh! Deixa-me aquecer teus pés divinos gentes na poesia de seus contemporâneos românticos,
Ao doudo afago de meus lábios mornos.. Sousândrade defendia uma nova civilização americana,
Mulher do meu amor! Quando aos meus beijos independente política e culturalmente. Seu americanis-
Treme tua alma, como a lira ao vento, mo crítico funde as três Américas e alude os aspectos
Das teclas de teu seio que harmonias, paradisíacos e infernais do continente. Assim como
Que escalas de suspiros, bebo atento! recupera as tradições indígenas amazonenses e colom-
Se a estrala d’alva os derradeiros raios bianas, aponta o câncer do mundo moderno, o inferno
Derrama nos jardins do Capuleto, financeiro de Wall Street, nos Estados Unidos.
Eu direi, me esquecendo d’alvorada: Avaliada pela crítica da época com os mesmos crité-
“É noite ainda em teu cabelo preto...”
rios que a produção dos românticos, a obra de Sousândrade
ficou marginalizada e esquecida durante longo tempo. Nas

66
últimas décadas do século XX, após a publicação de Revisão Observe que, metaforicamente, a República nas-
de Sousândrade, dos críticos literários Augusto e Haroldo de cente corresponde ao “Novo Éden”. A insegurança, as
Campos, ele passou a ser visto como um dos precursores da dúvidas e as dificuldades que Adão e Eva tiveram de en-
literatura moderna, ao lado de grandes nomes internacio- frentar, segundo o mito, são análogas às dos brasileiros,
nais como Charles Baudelaire e Edgar Allan Poe. que ousaram cometer o “pecado” de sonhar com a li-
Nestes fragmentos do poema “Novo Éden”, es- berdade política. A originalidade do poeta em suas cons-
crito entre 1888 e 1889, quando dos desdobramentos truções barroquizantes, cheias de inversões e de termos
políticos que levariam à Abolição da República, o poe- raros (“abrolho”, “cardo”) em suas imagens, com os
ma faz um paralelo entre o fim da monarquia e a queda substantivos duplos (“para-olhos”, “imagem-Deus”); em
de Adão e Eva do paraíso. sua musicalidade diferente da dos versos dos românticos;
e em hibridismo linguístico, que mistura palavras origi-
Banidos do paraíso: olhando para trás, nadas de várias línguas (“rosicler”, “carnariums”). As
D’espelho que se parte o relampaguamento sugestões eróticas do texto também chamam a atenção,
D’estampido seguido e que cegueira faz
aproximando o autor do poeta Castro Alves.
Que d’alma a dor profunda apaga no momento,
Viram... um lago! Ao longe... um monte!... nada mais.
[...]

Já era o pôr do sol: cansados do caminho,


Eva chorando, o abrolho, o cargo, a urtiga, o espinho,
Rastos dos pés sangrando: unidos se deitaram
Sem mais o encanto edêneo... Amar? Os céus olharam:
Os astros em fulgor, suas frontes em suor;
Travesseiro? Uma pedra. E os astros sempre rindo!...
Foi quando Prometeus não pôde mais; e trouxe;
Toda tristeza ante ele, os olhos reluzindo
Meiga, mortal, calada: ao colo da mulher,
No Éden do amor, o lar cosmopolita, achou-se
Imagem de Deus uno, à carne rosicler;
Forma flor, forma céus, para-olhos e para-almas,
Da Criação o amor em gêmeos, dois amores,
Corpo vibrantes dois, duas psíquicas palmas
Os corações em luz, carbariums, sangues, dores
E o ideal Prometeus, a ideal imagem-Deus.
[...]

Do Éden, foi, travesseiro a pedra e o leito


Entre abrolhos e espinhos, que os esposos
Casaram consolando-se: que apenas
Adolescência, puberdade, sonhos,
Ainda não mãos de Deus se perfazendo
Nervosos corpos do alvo seio d’Eva,
Risos, auroras, nos jardins houveram
De delícias, que têm da divindade,
Que Deus não deu ao irracional d’instintos,
Ao qual mandou procriar sem rir nem ciência.
[...]
Augusto e Haroldo de Campos. Revisão de Sousândrade.
2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1832. p. 381.

67
0 9 Romantismo:
Romance indianista

Competência Habilidades
5 15, 16 e 17
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L C
ENTRE LETRAS
Competência 1 – Aplicar as tecnologias da comunicação e da informação na escola, no trabalho e em outros contextos relevantes para
sua vida.
H1 Identificar as diferentes linguagens e seus recursos expressivos como elementos de caracterização dos sistemas de comunicação.
H2 Recorrer aos conhecimentos sobre as linguagens dos sistemas de comunicação e informação para resolver problemas sociais.
H3 Relacionar informações geradas nos sistemas de comunicação e informação, considerando a função social desses sistemas.
H4 Reconhecer posições críticas aos usos sociais que são feitos das linguagens e dos sistemas de comunicação e informação.
Competência 2 – Conhecer e usar língua(s) estrangeira(s) moderna(s) (LEM) como instrumento de acesso a informações e a outras
culturas e grupos sociais.
H5 Associar vocábulos e expressões de um texto em LEM ao seu tema.
H6 Utilizar os conhecimentos da LEM e de seus mecanismos como meio de ampliar as possibilidades de acesso a informações, tecnologias e culturas.
H7 Relacionar um texto em LEM, as estruturas linguísticas, sua função e seu uso social.
H8 Reconhecer a importância da produção cultural em LEM como representação da diversidade cultural e linguística.
Competência 3 – Compreender e usar a linguagem corporal como relevante para a própria vida, integradora social e formadora da
identidade.
H9 Reconhecer as manifestações corporais de movimento como originárias de necessidades cotidianas de um grupo social.
H10 Reconhecer a necessidade de transformação de hábitos corporais em função das necessidades cinestésicas.
Reconhecer a linguagem corporal como meio de interação social, considerando os limites de desempenho e as alternativas de adaptação para
H11
diferentes indivíduos.
Competência 4 – Compreender a arte como saber cultural e estético gerador de significação e integrador da organização do mundo e
da própria identidade.
H12 Reconhecer diferentes funções da arte, do trabalho da produção dos artistas em seus meios culturais.
H13 Analisar as diversas produções artísticas como meio de explicar diferentes culturas, padrões de beleza e preconceitos.
H14 Reconhecer o valor da diversidade artística e das inter-relações de elementos que se apresentam nas manifestações de vários grupos sociais e étnicos.
Competência 5 – Analisar, interpretar e aplicar recursos expressivos das linguagens, relacionando textos com seus contextos, mediante
a natureza, função, organização, estrutura das manifestações, de acordo com as condições de produção e recepção.
H15 Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção, situando aspectos do contexto histórico, social e político.
H16 Relacionar informações sobre concepções artísticas e procedimentos de construção do texto literário.
H17 Reconhecer a presença de valores sociais e humanos atualizáveis e permanentes no patrimônio literário nacional.
Competência 6 – Compreender e usar os sistemas simbólicos das diferentes linguagens como meios de organização cognitiva da
realidade pela constituição de significados, expressão, comunicação e informação.
H18 Identificar os elementos que concorrem para a progressão temática e para a organização e estruturação de textos de diferentes gêneros e tipos.
H19 Analisar a função da linguagem predominante nos textos em situações específicas de interlocução.
H20 Reconhecer a importância do patrimônio linguístico para a preservação da memória e da identidade nacional
Competência 7 – Confrontar opiniões e pontos de vista sobre as diferentes linguagens e suas manifestações específicas.
H21 Reconhecer em textos de diferentes gêneros, recursos verbais e não-verbais utilizados com a finalidade de criar e mudar comportamentos e hábitos.
H22 Relacionar, em diferentes textos, opiniões, temas, assuntos e recursos linguísticos.
H23 Inferir em um texto quais são os objetivos de seu produtor e quem é seu público alvo, pela análise dos procedimentos argumentativos utilizados.
Reconhecer no texto estratégias argumentativas empregadas para o convencimento do público, tais como a intimidação, sedução, comoção,
H24
chantagem, entre outras.
Competência 8 – Compreender e usar a língua portuguesa como língua materna, geradora de significação e integradora da organização
do mundo e da própria identidade.
H25 Identificar, em textos de diferentes gêneros, as marcas linguísticas que singularizam as variedades linguísticas sociais, regionais e de registro.
H26 Relacionar as variedades linguísticas a situações específicas de uso social.
H27 Reconhecer os usos da norma padrão da língua portuguesa nas diferentes situações de comunicação.
Competência 9 – Entender os princípios, a natureza, a função e o impacto das tecnologias da comunicação e da informação na sua vida
pessoal e social, no desenvolvimento do conhecimento, associando-o aos conhecimentos científicos, às linguagens que lhes dão suporte,
às demais tecnologias, aos processos de produção e aos problemas que se propõem solucionar.
H28 Reconhecer a função e o impacto social das diferentes tecnologias da comunicação e informação.
H29 Identificar pela análise de suas linguagens, as tecnologias da comunicação e informação.
H30 Relacionar as tecnologias de comunicação e informação ao desenvolvimento das sociedades e ao conhecimento que elas produzem
Contexto
No século XIX, o público consumidor da literatura romântica era eminentemente formado pela burguesia.
As origens populares dessa classe não condiziam com o refinamento da arte clássica, cuja compreensão exige co-
nhecimento das culturas grega e latina. A burguesia ansiava por uma literatura que enfocasse seu próprio tempo,
seus problemas e sua forma de viver. O romance relatava acontecimentos da vida cotidiana e dava vazão ao gosto
burguês pela fantasia e pela aventura. Tornou-se, por isso, o mais importante meio de expressão artística desse
segmento social.
Em algum aspecto, o romance substituiu a epopeia, um dos gêneros de mais prestígio da tradição clássica.
Contudo, alterou-lhe o foco de interesse. Enquanto a epopeia narra um fato passado – em geral um mito da cul-
tura de um povo –, o romance narra o presente, os acontecimentos comuns da vida das pessoas, numa linguagem
simples e direta.

Iracema (1881), de José Maria de Medeiros. Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro (RJ).

As origens do romance
A palavra romance tem origem do termo medieval romano, que designava as línguas usadas pelos povos
sob domínio do Império Romano. Essas línguas eram uma forma popular e evoluída do latim, bem como eram cha-
madas romance as composições de cunho popular e folclórico, escritas nesse latim vulgar, em prosa ou em verso,
que contavam histórias cheias de imaginação, fantasia e aventuras.

71
Como gênero literário, o romance foi se modifi- selva, o campo e a cidade, que deram origem, respecti-
cando até assumir as formas de romance de cavalaria, vamente, ao romance indianista e histórico (a vida pri-
romance sentimental e romance pastoral. Foi no século mitiva), ao romance regional (a vida rural) e ao romance
XVIII que a palavra romance tomou o sentido que tem urbano (a vida citadina).
hoje: texto em prosa, regularmente longo, que desen- O mais fértil ficcionista romântico brasileiro foi o
volve vários núcleos narrativos organizados em torno de
cearense José Martiniano de Alencar (1829-1877), cuja
um núcleo central e narra fatos relacionados a persona-
meta era formar uma literatura nacional autêntica.
gens, numa sequência de tempo relativamente ampla e
em determinado lugar ou lugares.
O romance indianista
Os primeiros romances, como se compreen-
de atualmente, surgiram na Europa, já identifica-
Enquanto o branco era identificado como o colo-
dos com o início da revolução romântica. Entre os nizador europeu, e o negro, como o escravo africano, o
primeiros, destacam-se Manon Lescaut, do abade índio era considerado o único e legítimo representante
Prévost (1731), e A história de Tom Jones, de Henry da América. Assim, o Romantismo brasileiro encontrou
Fielding (1749). no índio uma autêntica expressão de nacionalidade. O
indianismo alcançou algumas de suas melhores realiza-
ções na poesia e na prosa.
Vários fatores contribuíram para a implantação
do indianismo em nossa cultura, entre eles a existência
de uma tradição literária indianista do período colonial
– introduzida pela literatura de informação e catequé-
tica e retomada pela épica de Basílio da Gama e Santa
Rita Durão. A influência da teoria de Rousseau sobre o
bom selvagem encontrou no índio o representante mais
direto. Outro fator importante foi a adaptação que os
escritores brasileiros românticos fizeram da figura idea-
lizada do herói medieval. Como o Brasil não teve Idade
Média, seu “herói medieval” passou a ser o índio, o ha-
bitante do país no período pré-cabralino.

José de Alencar
O romance brasileiro e o romance indianista

e a busca do ideal nacional José de Alencar (1829-1877) foi o principal ro-


mancista brasileiro da fase romântica. Cearense, cursou
Direito em São Paulo (1850) e viveu a maior parte de
Nas décadas que sucederam a Independência
sua vida no Rio de Janeiro. Dedicou-se à carreira de ad-
do Brasil, os romancistas se empenharam no projeto de
vogado e atuou também como jornalista. Na política,
construir uma cultura brasileira autônoma, que exigia
foi eleito várias vezes deputado e chegou a ocupar o
dos escritores o reconhecimento da identidade de nos-
sa gente, da nossa língua, das nossas tradições e dife- cargo de Ministro da Justiça, que exerceu de 1868 a
renças regionais e culturais. Nessa busca, o romance se 1870. Candidatou-se a uma cadeira no Senado, mas
voltou para os espaços nacionais, identificados como a seu nome foi vetado. Por isso, encerrou sua vida pública
e dedicou-se inteiramente à literatura.

72
Sua vasta produção literária compreende vinte romances, oito
peças de teatro (como Mãe e O jesuíta, encenadas à época), crônicas,
escritos políticos e crítica literária. Em razão da abrangência de seus
romances, eles foram classificados de acordo com o tema.

 Romances indianistas: O Guarani (1857); Iracema (1865);


e Ubirajara (1874).

 Romances regionalistas: O gaúcho (1870); O tronco do


ipê (1871); Til (1871); e O sertanejo (1875).
 Romances históricos: As minas de prata (dois volumes:
1865 e 1866); Guerra dos mascates (dois volumes: 1871 e
1873); Alfarrábios (1873, composto de O garatuja, O ermitão
da Glória e A alma de Lázaro).
Em busca do “poema
 Romances urbanos (ou “perfis de mulheres”): Cin- nacional”
co minutos (1856); A viuvinha (1857); Lucíola (1862); Diva Assim escreveu José de Alen-
(1864); A pata da gazela (1870); Sonhos d’ouro; Senhora car sobre a importância da pesquisa
(1872); e Encarnação (1877). da linguística: “O conhecimento da
A produção diversificada de Alencar estava voltada para o língua indígena é o melhor critério
para a nacionalidade da literatura”.
projeto de construção da cultura brasileira, no qual o romance india-
Ele nos dá não só o verdadeiro estilo
nista ganhou papel de destaque em busca de um tema nacional e de
como as imagens poéticas do selva-
uma língua mais brasileira.
gem, os modos de seu pensamento,
As principais realizações indianistas em prosa de nossa litera- as tendências de seu espírito, bem
tura são os três romances de José de Alencar. Neles, o ambiente é como as menores particularidades
sempre a selva. Em O Guarani, o índio Peri vive próximo dos brancos; de sua vida.
em Iracema, o branco é que vive entre os índios; Ubirajara é o único É dessa fonte que deve beber
romance que trata apenas da vida entre os índios. o poeta brasileiro; é dela que há de
sair o verdadeiro poema nacional,
O Guarani: o mito da povoação tal como eu o imagino.
PROENÇA, M. Cavalcanti. Iracema. 2.
ed. (edição crítica). São Paulo: Edusp,
O Guarani, romance histórico-indianista, foi publicado pela 1979. p. 206.

primeira vez sob a forma de folhetim no Diário do Rio de Janeiro,


em 1857.
D. Antônio de Mariz, fidalgo português, muda-se para o Brasil
com a família: D. Lauriana, sua esposa; Cecília e D. Diogo, seus filhos;
e Isabel, oficialmente sobrinha do fidalgo, mas, na verdade, filha dele
com uma índia. Acompanha a família o jovem cavaleiro D. Álvaro de
Sá, além de muitos outros empregados.
A obra se articula a partir de alguns fatos essenciais: a devo-
ção e fidelidade do índio goitacá Peri à Cecília; o amor de Isabel por
Álvaro e o amor deste por Cecília. A morte acidental de uma índia
aimoré, provocada por D. Diogo, e a consequente revolta e ataque
dos aimorés, ocorre simultaneamente a uma rebelião dos homens de
D. Antônio, liderados pelo ex-frei Loredano, homem ambicioso e de-
vasso que queria saquear a casa e raptar Cecília.

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O trecho a seguir, retirado de O Guarani, trata do episódio em que toda a família de D. Antônio de Mariz
está aprisionada pelos aimorés, e Peri, a fim de salvar Cecília, enfrenta sozinho um exército de duzentos inimigos.

Mas o inimigo caiu no meio deles, subitamente, sem que pudessem saber se tinha surgido do seio da terra,
ou se tinha descido das nuvens.
Era Peri.
Altivo, nobre, radiante da coragem invencível e do sublime heroísmo de que já era tantos exemplos, o índio
se representava só em face de duzentos inimigos fortes e sequiosos de vingança.
[...]
Passando o primeiro espanto, os selvagens bramindo atiraram-se todos como uma só mole1, como uma
tromba do oceano, contra o índio que ousava atacá-los a peito descoberto.
Houve uma confusão, um turbilhão horrível de homens que se repeliam, tomavam e se estorciam; de cabeças
que se levantavam e outras que desapareciam; de braços e dorsos que se agitavam e se contraíam, como se tudo
isto fosse parte de um só corpo, membros de algum monstro desconhecido debatendo-se em convulsões.
[...]
O velho cacique dos Aimorés se avançava para ele sopesando a sua imensa clava crivada de escamas de
peixe e dentes de fera; alavanca terrível que o seu braço possante fazia jogar com a ligeireza da flecha.
Os olhos de Peri brilharam; endireitando o seu talhe, ficou no selvagem esse olhar seguro e certeiro, que não
o enganava nunca.
O velho aproximando-se levantou a sua clava e imprimindo-lhe o movimento de rotação, ia descarregá-la
sobre Peri e abatê-lo; não havia espada nem montante que pudesse resistir àquele choque.
O que passou-se então foi tão rápido, que não é possível descrevê-lo; quando o braço do velho volvendo a
clava ia atirá-la, o montante2 de Peri lampejou no ar e decepou o punho do selvagem; mão e clava foram rojar3
pelo chão.
[...]
Peri, vencedor do cacique, volveu um olhar em torno dele, e vendo o estrago que tinha feito, os cadáveres
dos Aimorés amontoados uns sobre os outros, fincou a ponta do montante no chão e quebrou a lâmina. Tomou
depois os dois fragmentos e atirou-se ao rio.
Então passou-se nele uma luta silenciosa, mas terrível para que pudesse compreendê-la. Tinha quebrado a
sua espada, porque não queria mais combater; e decidira que era tempo de suplicar a vida ao inimigo.
Mas quando chegou o momento de realizar essa súplica, conheceu que exigia de si mesmo uma coisa sobre-
-humana, uma coisa superior às suas forças.
Ele, Peri, o guerreiro invencível, ele, o selvagem livre, o senhor das florestas, o rei dessa terra virgem, o chefe
da mais valente nação dos Guaranis, suplicar a vida ao inimigo! Era impossível.
Três vezes quis ajoelhar, e três vezes as curvas de suas pernas distendendo-se como duas molas de aço o
obrigaram a erguer-se.
Finalmente a lembrança de Cecília foi mais forte do que a sua vontade.
Ajoelhou.
ALENCAR, José de. O Guarani. São Paulo: Ática, 1992. p. 220-222.

mole: imenso volume ou massa


montante: espada grande manejada com ambas as mãos para golpear o adversário pelo alto
rojar: deslizar, arrastar, lançar longe

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No cinema Cena do filme “O Guarani”.
Por que o negro não se tornou herói?

Inspirado no romance de José de Alencar, o longa Das três etnias que formaram o povo brasi-
“O Guarani” (1996. 91 min.) narra a história do amor leiro, apenas o índio se tornou herói na literatura
romântica. O branco, por identificar-se com o colo-
entre Peri (Márcio Garcia), um índio que se apaixona pela
nizador português, não poderia ser o herói nacional
jovem portuguesa Ceci (Tatiana Issa), na serra dos Ór-
naquele momento, viés em choque com o senti-
gãos (RJ). O relacionamento é proibido, mas de maneira
mento nacionalista e antilusitano após a Indepen-
idealizada a formação e miscigenação do povo brasileiro
dência. O negro representava o alicerce econômico
entre portugueses e índios acaba acontecendo sob o aval daquela estrutura social, a mão de obra escraviza-
do pai de Ceci, o fidalgo Dom Antônio de Mariz (Herson da e compelida ao trabalho.
Capri). Graças ao ataque dos índios Aimorés à fortaleza, Seria, portanto, um contrassenso econômi-
o fidalgo pede a Peri que fuja e salve sua filha. co e social elevá-lo à condição de herói, uma vez
que muitos escritores da época faziam parte da
classe dominante e compactuavam com o regime
escravocrata.
Desse modo, coube ao índio, isento de cono-
tações negativas, sociais e econômicas, o papel de
herói nacional em nossa literatura romântica.

Iracema

Em capítulos curtos, superpõem-se imagens e comparações de cunho poético para surgir o nascimento de
um mundo, que é o tema desse romance. Desenvolve-se no livro a lenda da fundação do Ceará e a história de
amor entre a índia Iracema e o português Martim. Guardadora dos segredos da Jurema, Iracema faz um voto de
castidade, que rompe ao tornar-se esposa de Martim.
Abandona sua tribo e segue com ele. Dá à luz um filho – Moacir –, símbolo do homem brasileiro miscigena-
do. Martim tem de partir para Portugal por um longo tempo. Quando regressa, encontra Iracema à morte. Enterra-a
ao pé de uma palmeira e retorna a Portugal, levando consigo o filho.

Além, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu Iracema.
Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna e mais longos
que seu talhe de palmeira.
O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado.
Mais rápida que a ema selvagem, a morena virgem corria o sertão e as matas do Ipu, onde campeava sua
guerreira tribo da grande nação tabajara, o pé grácil e nu, mal roçando alisava apenas a verde pelúcia que vestia
a terra com as primeiras águas.
Um dia, ao pino do sol, ela repousava em um claro da floresta. Banhava-lhe o corpo a sombra da oiticica,
mais fresca do que o orvalho da noite. Os ramos da acácia silvestre esparziam flores sobre os úmidos cabelos.
Escondidos na folhagem os pássaros ameigavam o canto.
Iracema saiu do banho; o aljôfar d’água ainda a roreja, como à doce mangaba que corou em manhã de
chuva. Enquanto repousa, empluma das penas do gará as flechas de seu arco, e concerta com o sabiá da mata,
pousado no galho próximo, o canto agreste.

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A graciosa ará, sua companheira e amiga, brinca junto dela. Às
vezes sobe aos ramos da árvore e de lá chama a virgem pelo nome;
outras remexe o uru de palha matizada, onde traz a selvagem seus
perfumes, os alvos fios do crautá, as agulhas da juçara com que tece a
renda, e as tintas de que matiza o algodão.
Rumor suspeito quebra a doce harmonia da sesta. Ergue a virgem
os olhos, que o sol não deslumbra; sua vista perturba-se.
Diante dela e todo a contemplá-la, está um guerreiro estranho,
se é guerreiro e não algum mau espírito da floresta. Tem nas faces o
branco das areias que bordam o mar; nos olhos o azul triste das águas
profundas. Ignotas armas e tecidos ignotos cobrem-lhe o corpo.
Foi rápido, como o olhar, o gesto de Iracema. A flecha embebida
no arco partiu. Gotas de sangue borbulham na face do desconhecido.
De primeiro ímpeto, a mão lesta caiu sobre a cruz da espada, mas
logo sorriu. O moço guerreiro aprendeu na religião de sua mãe, onde a
mulher é símbolo de ternura e amor. Sofreu mais d’alma que da ferida.
O sentimento que ele pôs nos olhos e no rosto, não o sei eu. Po-
rém a virgem lançou de si o arco e a uiraçaba, e correu para o guerreiro,
sentida da mágoa que causara.
A mão que rápida ferira, estancou mais rápida e compassiva o sangue que gotejava. Depois Iracema que-
brou a flecha homicida: deu a haste ao desconhecido, guardando consigo a ponta farpada.
O guerreiro falou:
– Quebras comigo a flecha da paz?
– Quem te ensinou, guerreiro branco, a linguagem de meus irmãos? Donde vieste a estas matas, que nunca
viram outro guerreiro como tu?
– Venho de bem longe, filha das florestas. Venho das terras que teus irmãos já possuíram, e hoje têm os meus.
– Bem-vindo seja o estrangeiro aos campos dos tabajaras, senhores das aldeias, e à cabana de Araquém,
pai de Iracema.
José de Alencar. Iracema.

Estátua de Iracema, na lagoa da Messejana, em Fortaleza (CE).

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INTERATIVI
A DADE

ASSISTIR

Filme O Guarani, Norma Bengell, 1996

O Guarani, uma superprodução do cinema brasileiro dirigida por


Norma Bengell e baseada no clássico romance de José de Alencar.
No Brasil do século 17, uma família de colonizadores portugueses,
cujo patriarca é Dom Antônio, vive numa fortaleza construída próxima
às terras dos índios Aimorés. A família e os índios, especialmente
Peri, da tribo dos Goytacazes, vivem em paz até serem perturbados
por Loredano, um ex-padre que lidera uma conspiração e provoca
a morte de uma Aimoré. A tribo revoltada massacra toda a família
portuguesa, porém há uma sobrevivente, Ceci, filha de Dom Antônio,
que consegue escapar graças à ajuda de Peri. Explode entre eles uma
paixão incondicional que irá unir as duas culturas.

LER

Livros
Macário, ou do Drama Romântico em Álvares de Azevedo -
Andréa Sirihal Werkema
Ao ocupar lugar destacado em nossa literatura, não só pela qualidade de
vários de seus textos, como por sua postura antinacionalista em tempos
de ufanismo e também por seu marcado pendor para o exame crítico
dos fenômenos estéticos, Álvares de Azevedo parece ser o protótipo do
intelectual romântico, que une ao recuo para dentro da subjetividade uma
preocupação com os processos inerentes ao fazer poético.

A Literatura no Brasil - Era Romântica - Afrânio Coutinho


Acompanhando a evolução da Literatura Brasileira, sempre em cadência com o
desenrolar dos acontecimentos históricos, para verificar o momento em que a
ficção, o poema, o conto, o ensaio alcançaram, na estrutura e na temática, uma
identidade brasileira, típica, peculiar, que se pudesse considerar como de nossa
terra, ´A Literatura no Brasil´ é um dos mais completos tratados de história
literária, apresentando a literatura como obra de arte, possuidora de valor
estético, encarada como um todo, autônoma, uma das grandes contribuições
ao estudo e à pesquisa da língua e da Literatura Brasileira pelo nível das
informações, fundamentos teóricos, crítica e história literária.

77
LER

Livros

Literatura Brasileira: dos primeiros cronistas aos últimos


românticos - Luiz Roncari
Em sua 2ª edição, revista e ampliada, ‘Literatura Brasileira - Dos Primeiros
Cronistas aos Últimos Românticos’, cobre o período que vai da chegada
dos portugueses ao Brasil, em 1500, até as últimas manifestações da
poesia romântica, no terceiro quartel do século XIX.

OBRAS

Pinturas Iracema, 1909. Antônio Parreiras, (1860-1937).

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CONSTRUÇÃO DE HABILIDADES

Habilidade 20 - Reconhecer a importância do patrimônio linguístico para a preservação da


memória e da identidade nacional.

Esta habilidade pressupõe que o aluno tenha conhecimento das concepções artísticas, no caso o
conceito de linguagem utilizada pelo autor. A construção dos procedimentos literários está ligada
aos fatores estéticos que podem levar em consideração a forma e/ou conteúdo do texto em rela-
ção à concepção artística do contexto.

modelo
(Enem) “Ele era o inimigo do rei” , nas palavras de seu biógrafo, Lira Neto. Ou, ainda , “um romancista que
colecionava desafetos azucrinava D. Pedro II e acabou inventando o Brasil”. Assim era José de Alencar (1829-
1877), o conhecido autor de O guarani e Iracema, tido como o pai do romance no Brasil. Além de criar clássicos
da literatura brasileira com temas nativistas, indianistas e históricos, ele foi também folhetinista, diretor de
jornal, autor de peças de teatro, advogado, deputado federal e até ministro da Justiça. Para ajudar na desco-
berta das múltiplas facetas desse personagem do século XIX, parte de seu acervo inédito será digitalizada.
(História Viva, n. 99, 2011.)
Com base no texto, que trata do papel do escritor José de Alencar e da futura digitalização de sua
obra, depreende-se que:
a) a digitalização dos textos é importante para que os leitores possam compreender seus romances.
b) o conhecido autor de O guarani e Iracema foi importante porque deixou uma vasta obra literária com
temática atemporal.
c) a divulgação das obras de José de Alencar, por meio da digitalização, demonstra sua importância para
a história do Brasil imperial.
d) a digitalização dos textos de José de Alencar terá importante papel na preservação da memória lin-
guística e da identidade nacional.
e) o grande romancista José de Alencar é importante porque se destacou por sua temática indianista.

anÁlise exPositiVa

Habilidade 20
A importância do escritor José de Alencar e de suas obras extrapolam o âmbito do texto, po-
rém não esquecem do mesmo. Em outras palavras, o aspecto linguístico é de suma importân-
cia, com a ideia de prosa poética, intensa adjetivação e processos de idealização discursiva
enquanto ponto de equilíbrio com o tema proposto: a idealização da nação e a constituição
de um projeto de literatura nacional. Neste sentido, a digitalização de seus textos permitirá
a preservação de aspectos linguísticos e da identidade nacional, revelando os valores e costu-
mes da época e contribuindo na constituição do patrimônio histórico-literário.
Alternativa D

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Estrutura Conceitual

ROMANTISMO NO BRASIL
1 A PROSA ROMÂNTICA
O autor cearense José de Alencar é importante para a literatura
brasileira, pois criou um projeto de literatura nacional que
abarcasse todas as faces da nação recém-independente da
metrópole portuguesa – a independência política do Brasil fora
proclamada em 1822.

Romance Urbano
Em uma espécie de antecipação
Romance Indianista
2 Teve como maior representante 3 da escola literária do Realismo, o
romance urbano ligava-se à vida
o romancista José de Alencar, e
social, principalmente no Rio de Ja-
como característica a idealização
neiro, descrevendo os tipos sociais
do índio, como herói brasileiro
e suas relações de interesse no
europeizado, nobre e valente.
meio urbano, mas apesar do olhar
Alencar é conhecido por ter produ-
mais crítico para o comportamento
zido a tríade indianista: Ubirajara,
da burguesia, principalmente, no
Iracema e O Guarani.
final a redenção das personagens
era completamente romântica.

Romance Regionalista
4 O retrato de um Brasil grandioso e que tinha como principal característica
a retratação da vida no interior do Brasil, seus costumes, seu modo de
falar etc. Sempre numa perspectiva patriarcal, coronelista e oligárquica,
vinculada ao Brasil oficial, mulheres e negros eram pormenorizados
ideologicamente no romance regionalista romântico.

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