By soraya.mm
http://www.pedagogiaaopedaletra.com/2010/11/28/a-educacao-infantil-na-visao-
socialista-de-karl-marx/ em 17.02.2011
1. INTRODUÇÃO
Uma das mais estranhas ironias da História é não haver limites para os erros de
interpretação e as deturpações das teorias, mesmo numa época de acesso irrestrito às
fontes. Não há exemplo mais drástico desse fenômeno do que o acontecido com a teoria
de Karl Marx nos últimos decênios. São constantes as referências a Marx e ao marxismo
na imprensa, nos discursos de políticos, em livros e artigos escritos por ‘respeitáveis’
cientistas sociais e filósofos, e com raras exceções parece-nos que poucos leram ou
sequer viram uma única linha escrita por Marx.
Por impregnar assim tão profundamente a existência dos homens, a questão educacional
vem ao longo da história ocupando lugar central em todas as obras de autores que
defendem ser a educação – seja ela formal ou informal – que dá ao homem subsídios
para que possa construir sua criticidade, e aprofundar valores e atitudes compatíveis
com os direitos humanos e promover reflexões a cerca de temas tais como, saúde,
moradia, condições de trabalho, inclusive, relações entre burgueses e proletários, pois
não podemos esquecer que vivemos numa sociedade de classes, onde a grande parcela
da população é dominada por uma minoria que usufrui da força de trabalho do operário
para obter lucros exorbitantes, enquanto o trabalhador sofre por vender sua força de
trabalho para, no máximo, continuar trabalhando.
Assim, a educação aparece como instrumento para o conhecimento e também para a
transformação da sociedade e do mundo. Este é o potencial e o caráter revolucionário da
educação. O proletariado, por si só, não conquista sua consciência de classe, sua
consciência política, justamente pelo fato de ter sido privado desde o início dos meios
que lhe permitiriam consegui-lo. Por isso, há a necessidade de um processo educativo
pautado em um projeto político e pedagógico definido e voltado aos interesses da
grande maioria excluída. Aí é que surge o papel estratégico da escola, dos educadores e
intelectuais, os quais, em nosso entender, são decisivos para a construção da consciência
de classe do trabalhador.
RESUMO
Marx, na opinião de muitos estudiosos, formulou uma linha de ação concreta sem
utopias, para revolucionar definitivamente este mundo, para torná-lo um mundo justo e
igualitário, sem miséria, um mundo voltado para quem realmente o faz, um mundo dos
TRABALHADORES. Ele analisou a sociedade capitalista de um modo científico,
mostrando que os capitalistas, detentores dos meios de produção, exploram os
trabalhadores se apropriando da Mais-Valia (trabalho que o operário faz sem receber
por isso – o que é a maior parte do trabalho). Gerando assim a fome, miséria,
desigualdade, enfim, classes sociais cada vez mais antagônicas, de um lado os
explorados (a grande maioria da população) e de outro os exploradores (em menor
número, mas, com um poder econômico gigantesco). Dessa forma clara, Marx, expôs a
o sistema de exploração capitalista, por isso Marx e os companheiros são tão
combatidos pela imprensa burguesa dos países Capitalistas. (LIMA, 2005)
Ainda de acordo com Lima (2005), ao iniciar o estudo de Marx, nunca é demais
acentuar que a polêmica partidária dificultou o acesso à obra; muitos escritos
considerados secundários permaneceram inéditos até à edição MEGA de 1927-32 e,
ainda em vida, a pessoa histórica de Marx desapareceu debaixo da figura mítica. Nos
marxistas da primeira geração e nos da revolução russa, cresceu a lenda que não valia a
pena conhecer o filósofo precoce que, apenas a partir de 1845 desenvolvera as
verdadeiras intuições no Manifesto e em O Capital, e que foi fundador da 1ª
Internacional. Debateu-se, depois, se o verdadeiro Marx era o de Bernstein, Kautsky,
Rosa Luxemburgo ou Lenine. Só após o Instituto Marx-Engels-Lenine de Moscovo e os
sociais-democratas alemães desenterrarem os manuscritos dos arquivos começou uma
interpretação séria na qual se destacam as obras de S.Landshut e J.P. Mayer Der
historische Materialismus. Die Frühschriften, 2 vols., Leipzig, 1932.
A nosso ver a contribuição de Marx para nossa compreensão da sociedade foi imensa.
Seu pensamento não é o sistema abrangente desenvolvido por alguns de seus seguidores
sob o nome de MATERIALISMO DIALÉTICO. A própria natureza dialética da sua
abordagem dá a esse pensamento um caráter experimental e aberto. Além disso,
registra-se com freqüência uma tensão entre o Marx ativista político e o Marx estudioso
de economia política. Muitas de suas previsões sobre o futuro do movimento
revolucionário não se confirmaram até agora. Mas a ênfase que atribuiu ao fator
econômico na sociedade e sua análise das classes sociais tiveram, ambas, enorme
influência sobre a história e a sociologia.
3. A DIALÉTICA MARXISTA
Marx acusou Feuerbach, afirmando que seu humanismo e sua dialética eram estáticas: o
homem de Feuerbach não tem dimensões, está fora da sociedade e da história, é pura
abstração. É indispensável segundo Marx, compreender a realidade histórica em suas
contradições, para tentar superá-las dialeticamente. A dialética apregoa os seguintes
princípios: tudo relaciona-se (Lei da ação recíproca e da conexão universal); tudo se
transforma (lei da transformação universal e do desenvolvimento incessante); as
mudanças qualitativas são conseqüências de revoluções quantitativas; a contradição é
interna, mas os contrários se unem num momento posterior: a luta dos contrários é o
motor do pensamento e da realidade; a materialidade do mundo; a anterioridade da
matéria em relação à consciência; a vida espiritual da sociedade como reflexo da vida
material. (CULTURA BRASILEIRA, 2005)
Para a autora acima, a dialética que aparece no pensamento de Marx surge como uma
tentativa de superação da dicotomia, da separação entre o sujeito e o objeto. No entanto,
a dialética surgiu, na história do pensamento humano, muito antes de Marx. Em suas
primeiras versões, a dialética foi entendida, ainda na Grécia antiga, como a arte do
diálogo, a arte de conversar. Sócrates emprega este conceito para desenvolver sua
filosofia. Platão utiliza, abundantemente, a dialética em seus diálogos. A verdade é
atingida pela relação de diálogo que pressupõe minimamente duas instâncias, mas até
aqui o diálogo acontece sob um princípio de identidade, entre os iguais. Entretanto, tal
posicionamento foi precedido por uma visão distinta encontrada principalmente em
Heráclito, filósofo grego que viveu de 530 a 428 a.C. Para este, a conversa existe
somente entre os diferentes. A diferença é constituidora da contrariedade e do conflito.
Não é a concórdia que conduz ao diálogo, mas a divergência, isto é, a exacerbação do
conflito. (NOVELLI; PIRES, 1996)
Para Konder (1981), desde então já se afirmava que a lógica dialética é uma
possibilidade de compreensão da realidade como essencialmente contraditória e em
permanente transformação, em contraposição à lógica formal, estática, que não aceita a
contradição e o conflito.
Mas é com Hegel, filósofo alemão que viveu de 1770 a 1831, que a dialética retoma seu
lugar como preocupação filosófica, como importante objeto de estudo da filosofia.
Partindo das idéias de Kant (1724-1804) sobre a capacidade de intervenção do homem
na realidade, sobre as reflexões acerca do sujeito ativo, Hegel tratou da elaboração da
dialética como método, desenvolvendo o princípio da contraditoriedade afirmando que
uma coisa é e não é ao mesmo tempo e sob o mesmo aspecto. Esta é a oposição radical
ao dualismo dicotômico sujeito-objeto e ao princípio da identidade. Por isso Hegel
preconiza o princípio da contradição, da totalidade e da historicidade. (NOVELLI;
PIRES, 1996)
Podemos perceber que, a lógica formal não consegue explicar as contradições e amarra
o pensamento impedindo-lhe o movimento necessário para a compreensão das coisas.
Se o mundo é dialético (se movimenta e é contraditório) é preciso um Método, uma
teoria de interpretação, que consiga servir de instrumento para a sua compreensão, e
este instrumento lógico pode ser o método dialético tal qual pensou Marx.
A reinterpretação da dialética de Hegel (colocada por Marx de cabeça para baixo), diz
respeito, principalmente, à materialidade e à concreticidade. Para Marx, Hegel trata a
dialética idealmente, no plano do espírito, das idéias, enquanto o mundo dos homens
exige sua materialização. (PIRES, 1997)
Começamos com o termo “comunismo”. Embora esta palavra possa se referir tanto ao
sistema político, social e econômico, quanto à doutrina, é mais comum considerar
“comunismo” como uma organização política que pretendeu concretizar o ideal
comunista da propriedade coletiva e do planejamento centralizado da vida de toda a
comunidade. Nesse sentido, costuma-se remontar a Platão para identificar a primeira
formulação teórico-política do ideal comunista. (NOSELLA, 1992)
O triste espetáculo que se abria aos olhos inconformados dos humanistas no final do
século XVI e no início do XVII era, em síntese, o seguinte:
Podemos dizer, portanto, que de certa forma, a importante função que a criança exerce
na inicial acumulação do capital faz com que a sociedade, pela primeira vez na história,
a tome a sério, mesmo que fosse, infelizmente, para explorá-la como força produtiva
barata.
Segundo Áries (1978), diz que nas sociedades pré-industriais, a criança era apenas uma
possibilidade (remota) de um dia ser um adulto e um cidadão, com nome próprio e
identidade individual de cidadão. A criança, naquelas sociedades, não representava
ainda uma subjetividade social. Só quando a criança se tornou força de trabalho
interessante para o capital, começou a ser contemplada pela legislação de forma
autônoma de sua família.
Foi uma legislação que, num primeiro momento, obrigou a criança a trabalhar e mais
tarde, após o desenvolvimento da grande industria, a liberou do trabalho. Os
movimentos e os programas socialistas utópicos ou pré-marxianos se organizam e
formulam programas sociais com base nessa realidade: ora os industriais urbanos
utilizavam inescrupulosamente a mão-de-obra infantil, ora a dispensavam quando a
maquinaria a substituísse. Num caso e no outro, as crianças eram exploradas,
abandonadas e malcuidadas (NOSELLA, 1991). Engels ilustra a situação com essas
palavras:
“Numa fábrica onde recentemente havia oitenta fiadores, não restam atualmente senão
vinte; os outros foram despedidos ou então ficaram reduzidos ao trabalho de uma
criança, por um salário de criança [...]. Atiram cada vez mais para a máquina o
verdadeiro trabalho, o trabalho fatigante, transformando assim o trabalho de adulto em
simples vigilância que também pode ser exercida por uma mulher fraca e mesmo por
uma criança, o que eles efetivamente fazem pelo terço ou metade do salário de um
operário. (ENGELS, 1986, p. 159-60).
[...] termo que “nos leva àquela que foi certamente a principal matriz intelectual das
primeiras críticas socialistas e comunistas modernas da sociedade, ou seja, o
iluminismo setecentista e, mais particularmente, o francês. (HOBSBAWM, 1980, p. 37).
De fato, o pensamento pedagógico rousseauniano não estabelece uma relação de
tranquila aceitação do progresso moderno. Ao contrário, mantém com o progresso das
ciências e das artes modernas uma relação bastante conflituosa, que influenciará vários
socialistas utópicos. Diz ele, por exemplo:
“Que partido deverei tomar nessa questão? [...] Como ousar censurar as ciências perante
uma das mais sábias companhias da Europa? Como louvar a ignorância numa Academia
célebre e conciliar o desprezo pelo estudo com o respeito pelos verdadeiros sábios? [...]
Mas não é em absoluto a ciência que maltrato, é a virtude que defendo” (ROUSSEAU,
1988, p. 137).
“As escolas socialistas e comunistas que floresceram no período que intercorre entre o
fim da Revolução Francesa e o ano de 1848 se distinguem claramente do programa
babuvista (de Babeuf) por causa da diferente maneira de conceber a passagem da velha
para a nova sociedade: isto é, uma passagem não violenta, pacífica, essencialmente na
base da convicção e pelo exemplo de novas comunidades harmoniosas fundamentadas
na cooperação e na fraternal união de seus membros. (BEDESCHI apud BOBBIO et al,
1990, p. 178)
O autor continua seu pensamento ao dizer que todas essas inúmeras iniciativas (e
muitíssimas mais), voltadas para a educação da criança, se desenvolveram, na primeira
metade do século XIX, inscritas ideologicamente no grande movimento socialista
francês, o sansimonismo. Esse movimento tomou sentido e força no clima cultural que
caracterizou o período das duas grandes revoluções (a industrial inglesa e a francesa) até
à restauração. O otimismo geral suscitado por aquelas revoluções e ainda pelas guerras
de independência (sobretudo, a americana, 1776), as esperanças acalentadas pelos
sucessos da indústria criavam uma expectativa política de novas e ousadas realizações,
de advento de uma nova sociedade e de um novo homem. Era um clima cultural
fecundo para o nascimento dos ideais e dos programas socialistas e comunistas.
Mesmo assim, chegara a hora de avaliar, com maior rigor científico, as razões desses
fracassos e estabelecer princípios educativos e programas escolares objetivos e viáveis.
A tarefa de agregar cientificidade ao socialismo utópico coube, sobretudo, a Marx e
Engels.
Em suma, para o capitalista não existe negociação objetiva entre o capital e o homem.
Assim, ou o homem passa a negar radicalmente o capital ou o capital negará
definitivamente o homem. Para o marxismo científico não existe a possibilidade da
dialética hegeliana da conciliação entre o capital e a subjetividade humana. Funciona
apenas a dialética da negação da negação. Consequentemente, só o proletariado
representa a subjetividade histórica que pode garantir o homem contra seu
aniquilamento e o socialismo é o seu único programa científico de auto-emancipação.
Por isso, o marxismo ortodoxo ou o socialismo científico não conseguiu perceber que a
educação infantil e a escola em geral, mesmo no âmbito dos Estados burgueses,
tomariam enorme impulso e desenvolvimento, muito além dos limites do trabalho fabril
e da escola profissional. Concluindo: o reducionismo escolar que é criticado ao
socialismo ortodoxo foi reflexo, na verdade, da aporia marxiana, criticada por muitos
analistas, a respeito da categoria trabalho.
Entretanto, apesar dos inegáveis limites do socialismo científico, é dele o grande mérito
de combinar ensino e produção. A partir de Marx, o trabalho produtivo passou a ser o
fundamento principal da pedagogia socialista, que também influenciou toda a pedagogia
progressista do século XX.
Força dos fatos, finalmente, obrigou a sociedade a reconhecer que a grande indústria,
desagregando o fundamento econômico da velha família e do trabalho familiar que lhe
correspondia, desagrega também as velhas relações familiares (patria potestas).
Precisou, finalmente, proclamar o direito dos filhos. (MARX apud MANACORDA,
1964, p. 98).
“Desgraçadamente, as crianças dos dois sexos não precisam de proteção contra ninguém
quanto contra seus próprios pais. O sistema de exploração ilimitada do trabalho infantil
em geral e do trabalho domiciliar em particular é mantido pelo fato dos pais exercitarem
sobre seus jovens e tenros rebentos uma autoridade arbitrária prejudicial, sem limites e
sem controle. Os pais não podem possuir o poder absoluto de tornar seus filhos meras e
simples máquinas de render algum salário semanal. Crianças e adolescentes têm direito
a serem protegidas pela legislação contra o abuso da autoridade paterna que arrebenta
precocemente sua força física e os rebaixa na escala dos seres morais e intelectuais.
(MARX apud MANACORDA, 1964, p. 98).
Consequentemente, a proibição do trabalho das crianças, que para Marx soava como
postura idealista e reacionária, para os pedagogos socialistas soviéticos era um
imperativo, sem com isso negar o princípio do trabalho industrial como fundamento
universal da pedagogia socialista.
6. CONCLUSÃO
Existem alguns textos que Marx, juntamente com Engels, redigiu sobre a formação e o
ensino em que a concepção de educação está articulada com o horizonte das relações
sócio-econômicas daquela época. Assim, para compreendermos qual sua perspectiva na
análise do fenômeno educativo precisamos passar pelo seu modo de compreender a
sociedade.
O que distingue o ser humano dos outros animais, conforme Marx, é o fato de ele, num
dado momento da história, começar a produzir os seus próprios meios de existência. O
que o ser humano coincide com “o que” e “como” ele produz. Ao contrário de Hegel,
para quem a consciência determina a vida concreta, real; em Marx é a vida concreta e
real que determina a consciência.
O que Marx mais critica é a questão de como compreender o que é o homem. Não é o
ter consciência (ser racional), nem tampouco ser um animal político, que confere ao
homem sua singularidade, mas ser capaz de produzir suas condições de existência, tanto
material quanto ideal, que diferencia o homem.
Pretendendo caracterizar não apenas uma visão econômica da história, mas também
uma visão histórica da economia, a teoria marxista também procura explicar a evolução
das relações econômicas nas sociedades humanas ao longo do processo histórico.
Haveria, segundo a concepção marxista, uma permanente dialética das forças entre
poderosos e fracos, opressores e oprimidos, a história da humanidade seria constituída
por uma permanente luta de classes.
7. REFERÊNCIA:
ENGUITA, Mariano F. A face oculta da escola. Porto Alegre: Artes Médicas, 1989.
__________. História das Idéias Pedagógicas. 4. ed. São Paulo: Ática, 1996.
OLIVEIRA, Pérsio Santos de. Introdução à Sociologia. 24. ed. São Paulo: Ática, 2002.
PONCE, Aníbal. Educação e luta de classes. São Paulo: Cortez e Autores Associados,
1981.
SILVA, T.T. (org). Trabalho, educação e prática social: por uma teoria da formação
humana. Porto Alegre: Artes Médicas, 1991.