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Resumo: O processo inclusivo vem sendo o palco das discussões sobre Educação Especial,
trazendo consigo uma responsabilidade social e educacional de combate à exclusão. Nessa
necessidade aligeirada, as representações políticas nos levam à busca por uma inclusão plena e
absoluta, desconsiderando que o processo de in/exclusão sejam conceitos inseparáveis. Sob
essas pontuações, proponho pensar nesse trabalho as representações de professores e gestores da
região Oeste do Pará sobre a Educação Especial e as ações políticas e educacionais que
abrangem esse campo de atuação. As análises estão pautadas em conversas, fatos, relatos e
dados coletados em projetos de pesquisa os quais atuo e que estão diretamente ligados a
educação no contexto amazônico. Esse estudo não é algo pensado á priori, com objetivos
traçados e problemas definidos, pois entendo que a pesquisa é feita de intercorrências produtivas
não fixas. Dessa forma, me ancorando sob a perspectiva dos Estudos Culturais em educação
proponho pensar as discussões desse trabalho como produção de novas verdades sobre o campo
da Educação Especial.
Palavras Chaves: Educação Especial, Inclusão, Formação.
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with objectives and defined issues, because I believe that the research is made of productive
fixed no intercurrences. In this way, anchoring from the perspective of cultural studies in
education I propose thinking about discussions of this work as production of new truths about
the field of special education.
Keywords: Special Education, Inclusion, Training.
Introdução
Sob uma análise das concepções políticas educacionais, é possível
entender que a partir da década de 90 o Brasil passa a vivenciar um novo paradigma
cujo pressuposto está calcado na implementação de um sistema inclusivo em escolas
regulares. Esses direcionamentos legais podem ser revistos em documentos legais de
cunho mundial e nacional como a declaração de salamanca (1994), a política Nacional
de Educação Especial (1994), Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na
Educação Básica (2001), Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da
Educação Inclusiva (PNEEPEI/2008) e o decreto 7.611/2011.
Esses e muitos outros elementos políticos vêm ao longo da história promovendo
o processo inclusivo educacional e social no Brasil, atualizando conceitos, ditando
normativas e diretrizes que norteiam e exigem a efetivação desse sistema. O objetivo
principal passa a ser
Pesquisa nacionais apontam que esse processo tem estado sob suspeita de
gestores, professores e demais profissionais atuantes na área (PINHEIRO & COSTAS,
2012); (FABRIS, 2011). A inclusão educacional tem registrado outros efeitos os quais
deturpam os direcionamentos e expectativas políticas. Almeida (2002, p. 128) questiona
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Ainda nessa proposta política e respaldados pelo decreto 7.611 de 2011, define-
se o funcionamento do Atendimento Educacional Especializado (AEE) como um
recurso da Educação Especial para dar condições de acesso aos conteúdos curriculares
por meio de “programas de enriquecimento curricular, o ensino de linguagens e códigos
específicos de comunicação e sinalização, Ajudas Técnicas e Tecnologia Assistiva,
dentre outros.” (BRASIL/SEESP, 2008, cap. VI). O AEE deve ser um serviço
especializado ofertado na sala de recursos multifuncionais por profissional da Educação
Especial no contra turno da sala de aula regular. Esse serviço tem como “função
identificar, elaborar e organizar recursos pedagógicos e de acessibilidade que eliminem
as barreiras para a plena participação dos alunos, considerando suas necessidades
específicas” (BRASIL, SEESP, 2008 capt. VI).
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Esta justificativa esta pautada em uma norma social transparente, que produz
verdades consumidas e assumidas em determinados tempo/espaços. Tais verdades estão
no registro dessa norma que dita modos de ser na sociedade de controle. A inclusão
parece um dispositivo de normalização que impulsiona os sujeitos anormais a chegarem
o mai próximo possível dessa norma.
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Em 1993 o MEC lança o Plano Decenal de Educação para todos, pautado nos
pressupostos educacionais levantados na Declaração de Jontiem em 1990 na Tailândia.
Tais documentos legais, de cunho nacional e internacional, fazem previsões
significativas quanto à qualidade de ensino da educação e a formação de professores
para o exercício nesse sistema.
Em 1996 a Lei de Diretrizes e Bases Nacionais/ LDBN retoma esses desígnios
legais reforçando a urgência na formação de professores que já estão atuando no sistema
educacionais públicos o que poderá garantir, consequentemente, a melhoria da
qualidade de ensino.
É fato que esse avanço tem ocorrido a passos lentos na região pesquisada. Tal
concordância pode ser problematizada sob o viés dos Estudos Culturais em Educação.
Os sujeitos envoltos nessa cultura são produtos das práticas discursivas que ali
circulam, e de forma também circular produzem outros sujeitos pautados nos mesmos
significados que consomem. As representações ali produzidas parecem estar pautadas
em um conformismo com a situação sócio ambiental e educacional, sem apresentar
significativas reivindicações políticas, muitas vezes por falta de conhecimento sobre os
documentos legais que respaldam esses direitos.
Nessa mesma ordem funciona as questões de articulações pedagógicas na prática
docente. Há um significativo desconhecimento de gestão educacional nos espaços
escolares, conforme aponta a questão referente ao conhecimento e consulta ao Projeto
Político Pedagógico da Escola. Pelo menos 80% dos questionários analisados apontam
que os professores não tiveram acesso a tal documento, não tendo conhecimento se há
informações e/ou orientações quanto a Educação Especial. Não há diálogos
interdisciplinares e ou direcionamentos específicos sobre a real situação do processo
inclusivo na escola, o que inviabiliza o sucesso dessa proposta política social.
Em concordância com esses dados é possível citar discursos de professores
envolvidos no Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa. Esse empreendimento
do Ministério da Educação propõe um acordo entre Governo Federal, estados,
municípios e entidades na intenção e comprometimento de alfabetizar todas as crianças
até oito anos de idade. As Ações do Pacto são distribuídas em quatro eixos de atuação:
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Tal providência se apresenta como uma medida necessária para dar impulso ao
processo inclusivo, principalmente na região norte do País em que não há demanda
suficiente de formação e capacitação na área. No entanto, mesmo que seja uma
estratégia política necessária, não há a possibilidade e um trabalho minucioso, atencioso
e sólido no estudo de cada especificidade dos sujeitos da Educação Especial.
Pensando nessas questões o Projeto vinculado ao Programa de Extensão
Universitária (MEC/PROEXT, 2013) “A formação de professores para a implementação
de uma educação bilíngue para surdos”, o qual venho atuando como vice-coordenadora,
promoveu ao longo de 2013 cursos de formação para profissionais da região que atuam
ou intencionam atuar no campo da Educação de Surdos. Seguindo os pressupostos
legais do decreto 5.626 de 2005, o projeto ofertou ações e produções bibliográficas em
quatro eixos de estudo: Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS), Interprete de LIBRAS,
Instrutor de LIBRAS e Ensino da Língua Portuguesa para Surdos. Tais campos estão
diretamente vinculados à filosofia bilíngue da educação de surdos.
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Alem disso, o Educador Especial tem assumido outras funções como ensino da
LIBRAS, ação docente restrita ao instrutor de LIBRAS.
Agravando a situação desse cenário educacional, muitas escolas que não contam
com esses profissionais sobrecarregam o educador especial que, além de atuar em
funções diversas da área, não possui conhecimento em LIBRAS.
Tais constantes impedem que o funcionamento da proposta bilíngue na educação
de surdos possa ser efetivada. Diante disso os surdos da região, incluídos no sistema
regular de ensino, tem sido vítimas de uma representação política desorientada que vem
ignorando pressupostos legais os quais balizam direitos educacionais desses sujeitos.
Os professores envolvidos nas três pesquisas mencionadas relataram situações
da realidade inclusiva de suas escolas que confirma essa análise.
Ainda que haja um esforço político para que o sistema inclusivo seja posto em
funcionamento sob prerrogativas legais, o conceito de inclusão se filia ao de Educação
Especial, sendo abordados equivocadamente como sinônimos. Esses entendimentos
sobrepostos descaracterizam um trabalho de gestão participativa na escola, atribuindo
ao profissional da Educação Especial toda a responsabilidade de um sistema
educacional inclusivo.
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Para a inclusão ser uma possibilidade real, os papéis exercidos nas escolas de
abrangência dessas pesquisas devem ser revistos e repensados conforme orientações
políticas. Sassaki (1997, p.117) lembra que
Ainda nesse campo analítico, foi possível observar nos discursos recorrentes dos
professores envolvidos nessas pesquisas, conceitos homogeneizantes da inclusão em
que a diferença é narrada sob o registro da anormalidade que define o público da
Educação Especial.
Embora os discursos políticos venham promovendo a obrigatoriedade da
inclusão sob diretrizes norteadoras de funções e ações, na realidade apontada nesse
estudo esses caminhos não tem sido percorridos linearmente. Esse funcionamento pode
ser um efeito do panorama cultural educacional em que esses professores se inserem. A
inclusão pautada nas representações recorrentes nas escolas dessa região amazônica esta
sendo corrompida e amortizada.
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Prosseguimentos finais
Minha opinião é que nem tudo é ruim, mas tudo é perigoso, o que não significa
exatamente o mesmo que ruim. Se tudo é perigoso, então temos sempre algo a fazer.
(FOUCALT, 1995, p. 256)
De acordo com Foucault, não pretendo com esse trabalho concluí-lo sob
expectativas de tempos ruins, mas sim de que “temos sempre algo a fazer”. A proposta
da educação inclusiva associada à Educação Especial tornou-se perigosa pelas
interpretações políticas e as representações consumidas pela escola. São esses perigos
de que trato nesse estudo.
Na ótica dos Estudos Culturais, os processos de significação dos sujeitos
organizam-se através das forças discursivas que se dão nas relações estabelecidas nesse
meio, sendo que “é justamente no discurso que vêm a se articular poder e saber”
(FOUCAULT, 2001, p.45). Dessa forma sendo a cultura um espaço de circulação
desses discursos e, portanto de significação, a escola torna-se um produto social das
práticas discursivas, lugar de excelência na invenção de sujeitos.
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sistema de ensino inclusivo. Portanto, justifica-se aqui uma proposta de produzir nos
discursos recorretes à constituição de outros significados sobre a Educação Especial e os
sujeitos, público alvo desse campo de atuação.
Dessa forma, projetos de cunho educacional que abrangem estudos e ações no
campo da Educação Especial se tornam uma importante estratégia discursiva para
reinventar saberes a serem consumidos pelos professores das regiões de abrangência. A
oferta de palestras informativas e de cursos formativos qualificados também se torna um
instrumento fundamental para fazer circular novos significados, e, portanto provocar
ações, mobilizações e enfrentamentos políticos frente aos resultados observados nesse
estudo.
As pesquisas mencionadas nesse estudo se colocaram de uma forma ou outra,
como protagonistas nesse processo de constituição de novos significados. A
universidade assume, portanto papel fundamental para colocar em funcionamento novos
discursos sobre o campo da educação especial. As ações propostas por meio desses
projetos permitiram uma breve análise do panorama inclusivo da região, no entanto, não
definem esse cenário. Portanto, em um processo construtivo de representações que
acionam conceitos, conhecimentos e aprendizagens, esses empreendimentos teóricos
continuam em funcionamento, e poderão ser ainda revistos, reavaliados e discutidos sob
esse viés político da Educação Especial.
Repensar os modos como a inclusão vem sendo narrada, é um caminho
inevitável. Ao aceitar que as fronteiras da diferença não poderão ser borradas e que “o
lugar da inclusão em nosso tempo ocupa o tamanho do lugar inventado para a exclusão”
(LOPES, 2007, p.18-19), poderemos produzir novos efeitos sobre o sistema inclusivo,
talvez menos homogeneizante.
Referências Bibliográficas
ALMEIDA, M. I. As alterações organizacionais e pedagógicas implementadas nos
sistemas de ensino: políticas de inclusão? Ed. Ponto de Vista, Florianópolis, n. 3/4, p.
119-129, 2002.
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LOPES, Maura Corcini. Surdez & Educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2007.
UNESCO. Declaração Mundial sobre Educação Para Todos. Plano de Ação para
Satisfazer as Necessidades Básicas de Aprendizagem. Jomtien, Tailândia - 5 a 9 de
março de 1990.
_________Declaração de Salamanca. Sobre Princípios, Políticas e Práticas na Área
das Necessidades Educativas Especiais. Salamanca, Espanha – 07 a 10 de julho de1994.