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RESUMO
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Bacharelanda em Filosofia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), tem
como tema de pesquisa método na Ethica Eudemia. E-mail para contato: mariane.oliveira@
ufrgs.br.
Mariane Farias de Oliveria
ABSTRACT preâm
Our goal in this work is consider the methodological prescription of EE I 6 and the preceding ponto
arguments that sustain it as a methodological preamble and also as a preamble of content. passag
Also we analyze the argumentative movement of I 6 and its relationship with other Aristotelian
concom
treatises. The thesis to be sustained is that the book I is a methodological and content preamble
of the Ethica Eudemia: so, the book I deal and provide the conceptual and methodological bem-vi
apparatus for the discussion of the good life and how we can acquire it. e disc
Keywords: Aristotle; Ethica Eudemia; Method. por
introdu
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Como Compreender EE I 6?...
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A tradução utilizada do livro I da EE é provisória e de autoria de Raphael Zillig e Inara Zanuzzi,
produzida em um seminário do PPG-Fil da UFRGS. As demais traduções são de minha autoria,
com base no original e na comparação com as traduções indicadas na bibliografia.
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apresentam aporias e requerem exame acerca de cada coisa e cada natureza, todas
algumas contribuem somente ao conhecer, outras dizem respeito também porque
à aquisição e à prática do objeto de estudo.” (1214a9-12). O filósofo está doente
engajado, em um primeiro momento, em discernir de que tipo é a investigação bom
em questão, trecho no qual parece implícita a distinção aristotélica entre as consid
ciências práticas, poiéticas e teoréticas (Metafísica E 1, 1025b18). Não será para
o caso, como é apresentado em seguida, que a investigação moral contribua uma
“somente ao conhecer”. É próprio dela contribuir também à aquisição e à no cas
prática do objeto de estudo. Woods (1996, p. 46) comenta que o tipo de “falam
investigação a ser seguido não é definido por seu tipo de objeto, mas sim pela 33).
finalidade daquele que investiga. Responder à pergunta “o que é a virtude?” Diferen
pode ser tomado como tanto como uma investigação teorética, de modo que ter
responder a essa pergunta não vise alcançar e praticar a virtude – mas defini- aceitáv
la --, quanto de maneira prática, de modo que a resposta a essa pergunta terá
de ser explanatória o suficiente para sabermos que tipo de coisa é a virtude, passív
como podemos adquiri-la e como e quando devemos praticá-la. Assim, o que passag
Aristóteles sugere, ao definir de que tipo é a investigação que se segue, faz
parte também do tipo de resposta que pretende dar aos objetos da filosofia há
moral. Em última análise, é uma indicação de como se delineia seu método conven
na filosofia moral. disputa
O capítulo 3 fornece duas contribuições à visão de um preâmbulo (1215a
metodológico a I 6: primeiramente, (I) Aristóteles distingue as opiniões que
devem ser analisadas das que não devem e nos explica por quê. Em seguida, ser
(II) faz um apontamento a respeito de como proceder através dessas opiniões. investi
Vejamos o primeiro passo. Como já fora estabelecido que tipo de (II)
investigação está em curso e já tendo no horizonte qual será seu objeto: investi
o que é o bem-viver e como alcançá-lo, é dito que torna-se inútil analisar é supo
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para as opiniões analisadas tanto contra elas, o que facilitará a clarificação não
dessas opiniões para seguir a investigação. Ora, tais observações carregam capítul
diversas semelhanças com o “método dos endoxa” de Barnes, que veremos preâm
a seguir, cuja tese é embasada pela suposição do conflito entre os endoxa –
as opiniões reputadas. 3 – ETH
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não seja? Para isso é preciso um método, cuja apresentação nos é dada no
capítulo seguinte, que defendemos aqui ser o ponto culminante a que este
preâmbulo da dimensão metodológica destina-se.
3 – ETHICA EUDEMIA I 6
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Portanto, poderíamos dizer que Aristóteles não esteja aqui referindo, ao dizer produz
“todos esses assuntos”, às opiniões reputadas apresentadas nos capítulos como
anteriores, mas ao objeto da ética enquanto tal, que ainda não lhe é “mais de
cognoscível em si mesmo”. Woods (1996, p. 71) comenta que não é somente que
ao caráter pré-filosófico dos outros que Aristóteles estaria aludindo, mas sim contras
para o caráter o obscuro do objeto ao início da investigação de qualquer da inve
um, inclusive a sua: “Aristóteles, ao falar da obscuridade e da imprecisão
das opiniões ordinárias tem em mente não apenas as imprecisões e outros com
problemas de suas formulações, mas também a falta de certeza que lhes Denye
é inerente em sua não refletida, pré-filosófica forma.” Embor
Sobre [2], estabelecer precisamente o sentido de martyriois algo
e paradeigmasi nesta passagem nos permitirá compreender o papel que os observ
endoxa devem desenvolver no tratado. Já tratamos das duas expressões tendên
como referindo a indícios e modelos, mas não analisamos ainda as razões é em c
para isso. Martyriois pode indicar também “testemunho”, “prova”, “evidência”, ou
mas acreditamos que, neste caso, o correto seja compreender a expressão coisa
como “indício” pois estará em consonância com a noção de phainomenon que (1993,
já vimos. É preciso tomar como indício aquilo que nos aparece porque este como p
é, epistemologicamente, o único ponto de partida disponível ao observador.
Aristóteles quer afastar o método de outros filósofos de partir de postulados e as
deles derivar o que pode ser conhecido. É preciso observar e buscar padrões entend
nos indícios para só assim poder confrontá-los e, como aqui estamos no as cois
contexto dos endoxa, clarificar essas opiniões. A expressão que acompanha
martyriois, paradeigmasi, comumente é traduzida como modelo ou paradigma. o objet
Modelo nos parece mais apropriado, uma vez que paradigmas costumam ser sua
entendidos como um espécime ou exemplo perfeito de algo com o qual os não
outros espécimes são comparados. Um modelo da investigação pode ser adquiri
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4 – CONSIDERAÇÕES FINAIS
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BIBLIOGRAFIA
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