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Análise do estilo de Van Gogh

“A pintura esta na minha


pele... é um sol, uma luz, que eu só posso chamar de amarelo, porque não tem outra palavra... como o
amarelo é lindo!...”

Vincent Van Gogh (1853-1890)

Temática

O tema principal de seus primeiros trabalhos é o camponês. Entre 1881 e 1885, quando se iniciou na pintura,
Van Gogh pintou uma série de desenhos e quadros, cujo máximo momento foi Os comedores de batata. As
preocupações moralistas e religiosas do autor traduziram-se no profundo amor que sentia pelas personagens
humildes e desamparadas dos camponeses holandeses. Desde que havia tentado ser pregador religioso nas
minas de carvão do Borinage, a miséria destes havia impregnado sua imaginação e senso de solidariedade.
As telas são tecnicamente soturnas, de cores escuras, marrons e preto, dentro de uma tendência realista
social.

Sua temática posterior à chegada em Paris (1886) é totalmente determinada pelos seus objetivos estéticos e
técnicos. Se ele vê na cor a razão maior de sua expressão, verdadeiro veículo simbólico da espiritualidade,
Van Gogh vai pintar, por exemplo, girassóis, onde a explosão do amarelo parece um retrato exato de seu
turbulento universo espiritual. Se a pincelada redemoinhante é sua marca, serão os ciprestes e os trigais, por
exemplo, a expressão maior na natureza de seu ritmo gestual que ascende como chama.

O interesse pelo ser humano nunca o abandonou. Uma grande série de retratos, alguns deles verdadeiras
obras-primas, formam uma galeria de penetrante desvelar da alma alheia. Sem condescender com o
retratado, nem tampouco aviltá-lo, Van Gogh revela com carinho os desvãos da alma, por onde tantos se
deixam levar.

Assim, também, deve-se reservar atenção cuidadosa aos seus vários auto-retratos.
Como o outro grande mestre holandês, Rembrandt, Van Gogh vê no auto-retrato
uma forma de auto-conhecimento. Inúmeros, eles descrevem seus variados
sentimentos e momentos de vida. São um dos conjuntos de pinturas mais
angustiantes da história da arte. Um ponto é particularmente intenso: os olhos,
penetrantes, ao final da vida descrentes, não nos olham, mas atravessam pelo
observador em busca do espírito, da compaixão. (Na ilustração à esquerda, Auto-
retrato, 1886-7, óleo sobre cartão, Art Institute, Chicago).

A pincelada
Van Gogh intensificou a marca do pincel como recurso expressivo. O gesto criador foi valorizado
principalmente pelos românticos (Delacroix, por exemplo), os quais evitavam o acabamento polido das
superfícies das suas pinturas. Van Gogh recebeu esta qualificação técnica através da arte impressionista,
especialmente o uso pontilhista da cor de Seurat. Em seus últimos anos, Van Gogh chegou a empregar a
tinta diretamente do tubo sobre a superfície da tela, o que ocasionava um espesso impaste de tinta.

Aplicadas em cores puras, as pinceladas são justapostas lado a lado, em uma trama que, ao final de sua vida,
ganha um ritmo alucinante. Como verdadeiros jorros de tinta espatulada, as pinceladas eletrizam a superfície
da tela, movimentam os ciprestes, atormentam os auto-retratos. Uma imaginação exasperada e uma urgência
de sentimento move sua mão, o que atesta a imensa quantidade de quadros produzidos em pouco tempo. A
superfície rude resultante de tal técnica é, inesperadamente, o suporte ideal para uma alma tão apaixonada.
Ao invés de grosseira, sua pincelada é extasiante.

A cor
Cores demais vivenciamos em nosso dia a dia. Qualquer loja de material artístico vende tubos e tubos dos
mais variados matizes. Mas a cor de Van Gogh é mais do que esta variedade caótica de matizes. Olhando
suas pinturas, parece-nos que a profusão é a maior virtude. Ledo engano. Lendo seus escritos, especialmente
as cartas que deixou para o irmão, Theo, aprendemos que acreditava na ressonância profunda de cada matiz
na alma humana. Para Van Gogh, cada cor era o símbolo de uma paixão. (Na ilustração acima, Quatorze
girassóis em um vaso, 1888, óleo sobre tela, 93x73 cm, National Gallery, Londres Exemplo da intensidade
do uso da cor por Van Gogh).

Como o interior do Café noturno, as personagens são descritas não pela sua aparência exterior, mas pelos
contrastes de cores complementares que habitam seu universo interior, subjetivo. Assim o par vermelho e
verde das paredes e do teto, intensificados pelo amarelo do piso, não permite a entrada de ar neste ambiente
de perdição. Tudo está em suspenso, até mesmo a luz parece ter dificuldades em disseminar-se, ficando
imóvel, próxima à lâmpada a gás.

Parece que o amarelo tinha a sua preferência. Predomina o amarelo na maioria de suas grandes obras, assim
como é amarelo o trigal que pintou nos últimos dias antes de suicidar-se. O Trigal com corvos é uma síntese
de amarelo sobre o qual pairam os urubus pretos em revoada, preto que é a ausência da cor, ausência da luz
e da vida.

Os comedores de batata

Van Gogh pinta esta tela em Nuenen, onde sua família morou por algum
tempo. Pretendia retratar a dura realidade da vida camponesa, sua
humildade e dignidade. Van Gogh realizou diversos estudos preparatórios
para esta obra, não só da composição mas, também, dos personagens
individualizados. Utiliza-se de poucas cores, variadas nos contrastes de
claro e escuro. A tinta aplicada é espessa, com a pincelada talhando cada
figura como se fosse feita de madeira. (Na ilustração à direita, Os
comedores de batata, 1885, óleo sobre tela, 82x114 cm, Vincent van Gogh
Museum, Amsterdã).

O café noturno

Era um café situado na praça Lamartine, estabelecimento muito comum na


Paris da época, dormitório para bêbados, mendigos e prostitutas. Van Gogh
viveu ali durante algum tempo antes de se alojar na Casa Amarela. A
posição do observador é bastante elevada, o que amplia a sensação de
profundidade das linhas do piso. Também a posição da mesa de bilhar,
perpendicular à linha de base do quadro, aprofunda o efeito de perspectiva.
(Na ilustração à esquerda, O café noturno, 1888, óleo sobre tela, 70x89 cm,
Yale University Art Gallery).

O uso das cores complementares puras, especialmente o contraste entre vermelho e verde, torna o ambiente
abafado, um universo fechado em si mesmo pela força das cores. Até mesmo a luz parece ter dificuldade em
se movimentar pelo ar entumecido, ficando "ancorada", próxima aos lampiões.

Das mesas visíveis, duas estão cobertas de copos e garrafas vazios, o que indica uma hora avançada da noite
(o relógio marca 0h:14), em que muitos dos frequentadores já foram embora do bar. Três mesas estão
ocupadas e, em duas delas, na extrema esquerda e direita da pintura, as pessoas nada consomem. Pela sua
postura corporal, parece que já se acomodam para passar a noite, dormindo debruçados sobre as mesas. Ao
fundo um casal conversa e bebe. À direita, um homem bebia e, ao que parece, levanta-se para posar para o
artista. Olha para ele fixamente.

As personagens são dispostas distantes umas das outras para aumentar a sensação de isolamento e solidão.
Van Gogh escreveu a seu irmão que procurou expressar neste quadro "as terríveis paixões humanas com o
vermelho e o verde", e que um café "é um lugar onde uma pessoa pode arruinar-se, enlouquecer ou cometer
um crime".

A noite estrelada

A Noite Estrelada é uma pintura de


Vincent van Gogh feita em 1889 com a
utilização da técnica óleo sobre tela e que
tem dimensões de 73,66 x 92,08
centímetros. O artista de origem holandesa
fazia parte da escola pós-impressionista e
criou a obra quando tinha 37 anos, época e
que se encontrava em um asilo localizado
em Saint-Rémy-de-Provence (comuna
francesa), onde produziu mais de 150
quadros. A tela pode ser vista no Museu de
Arte Moderna de Nova York (EUA).

O quadro A Noite Estrelada foi criado com


elementos da memória de Van Gogh, sendo
que a maioria de suas obras foi pintada com
a observação de paisagens. Enquanto esteve
no asilo, o artista holandês dedicou-se à
pintura das paisagens que viu em Provence. Naquele período, o pintor rompeu com sua fase impressionista,
apresentando um estilo bastante característico, em que predominam fortes tons primários como o amarelo,
que tinha significados próprios para Van Gogh.

O pintor levou três noites para terminar A Noite Estrelada. No quadro, observa-se uma paisagem que faz
uma metamorfose de elementos reais com as memórias de Van Gogh, como uma típica igreja da Holanda.
Uma das características marcantes da obra é a diferença entre o céu turbulento e cheio de curvas e a
tranquilidade do vilarejo. "A noite é muito mais viva e colorida do que o dia", disse o pintor sobre a obra.

O quadro é dividido em face horizontal por uma linha e na vertical pelo cipreste. A comuna francesa
apresenta-se ao longe, com casas bem pequenas, contrastando densamente com o cipreste visto em 1º plano.
Foi pintado de forma curvilínea e as pinceladas integram-se de maneira ritmada acima da superfície da
imagem. Causando uma sensação agitada de espiritualidade e luz, a cidade, o cipreste o e céu fantástico se
integram plenamente.

De acordo com Frayze-Pereira, no livro "A criação Trágica: Van Gogh" (editora Vozes): "No confronto
entre o céu reconstituído e o céu pintado por Van Gogh, os astrônomos confirmaram a colocação exata das
estrelas e a posição da lua na tela, revelando a objetividade da observação de Van Gogh com relação à
natureza".

A Noite Estrelada influenciou criadores de outros campos artísticos como a música o cinema. Fundindo o
quadro do pintor holandês à cidade de Paris, foi lançado o pôster de divulgação do filme do cineasta Woody
Allen, "Meia Noite em Paris". O compositor Don McLean, na canção chamada "Vincent" (referência ao
artista holandês), buscou inspiração na pintura de Van Gogh.
Eu tenho um pouco de girassol. (Van Gogh)

Uma luz, que na falta de palavra melhor, não posso


denominá-la de outro modo, senão amarela. (Van Gogh
sobre os girassóis)

Para superar esse elevado tom de amarelo a que cheguei


neste verão, tiver de superar limites. (Van Gogh em carta ao
irmão Theo)

“Curiosa e estranha a predileção de Van Gogh pelos


girassóis... Flores ambivalentes, sob a luz intensa do sol são
altivas e soberbas. Brilham no mais esplêndido amarelo.
Quando surge a penumbra seguida da escuridão se fecham e
debruçam sobre si mesmas como fetos em útero materno.
Únicos parecem ter momentos de vida e morte ,euforia e
depressão,no movimento constante de girar pela luz e fechar-
se na escuridão. Visto pelo espectro de vida do artista defini
suas alternâncias de humor como ,os girassóis de Van Gogh”.

Ao se falar sobre a obra de Vincent van Gogh, logo vem à nossa mente os seus belos girassóis. O artista
holandês não foi o primeiro a eleger tão belas flores como tema, mas, sem dúvida, nenhum outro pintor deu-
lhes tamanha vitalidade e força, como o fez Van Gogh.

A famosa série de girassóis (sete quadros com um número de três, cinco, doze e quinze girassóis) exigiu
muita dedicação e urgência do pintor, pois, se as flores eram colocadas num vaso de manhã cedo,
murchavam ao fim de algumas horas. Como Van Gogh tinha como característica a rapidez com que pintava,
era recompensado pela velocidade ao pintar seus girassóis. Nenhum outro pintor poderia captar a beleza, que
ele imprimia em suas telas, resultante da presteza de seu olhar diante da transitoriedade das flores. O
amarelo dos girassóis vinha carregado da mais pura magia, com se nele estivessem agregados pedaços do
sol.

O girassol sempre esteve ligado à simbologia, representando fecundidade, vida e nostalgia, em função de sua
relação com o astro-rei. Como um ser devoto, ele se ajoelha diante do sol, acompanhando-o na sua trajetória
de vida, recebendo a luz que dele emana com abundância. Apenas na sua maturação, o girassol cessa a sua
reverência, paralisando-se na posição da nascente. Talvez seja por isso que Van Gogh tenha se encantado
tanto com os girassóis.

Embora o artista tenha dado início à temática dos girassóis, na cidade de Paris, abandonando as tonalidades
do cinza, e buscando uma escala de cores mais vivas, foi em Arles, para onde partira em busca de
luminosidade, que encontrou a explosão do amarelo, ou seja, foi onde encontrou a mais alta nota amarela,
que já vinha buscando na capital parisiense.

Quando observamos a série de girassóis de Van Gogh, somos tomados pela exuberância da cor amarela, que
invade toda a tela, diante de nossos olhos extasiados. Ali também encontramos os tons vermelhos, azuis e
verdes, que parecem ter a função de apenas realçar a luminosidade do amarelo.

Ao pintar sua série de girassóis, Van Gogh tinha como objetivo decorar o seu ateliê, preparando-o para
receber o seu amigo, também pintor, Gauguin, pois sabia que ele também tinha predileção pelo tema. De
modo que as pinturas foram penduradas no quarto de hóspedes. O pintor holandês pensava em pintar muitos
outros quadros sobre girassóis, mas acabou não concretizando seu objetivo. Perfeccionista, Van Gogh só
considerou bons, dois dos quadros pintados, colocando neles a sua assinatura.
Van Gogh sempre deixou claro que Os Girassóis estavam inclusos entre as suas obras mais importantes,
pelo modo como os pintou, usando apenas uma gama de cor – o amarelo e sutis matizes de linhas vermelhas
e azuis. Todos os seus amigos conheciam o amor que ele nutria pelos girassóis. Adeline Ravoux, filha dos
donos da pensão, onde Van Gogh hospedava-se antes de dar fim à vida, assim se expressou, ao falar sobre
seu enterro:

Seus amigos trouxeram muitas flores amarelas, principalmente dálias e girassóis.

Segundo alguns diagnósticos não comprovados, Vincent van Gogh sofria de xantopsia (visão dos objetos em
amarelo) e, por essa razão, dava-se o exagero do amarelo em sua pintura. Outra teoria fala sobre o uso de
digitalis, receitado pelo doutor Cachet, que poderia ter ocasionado sua visão amarelada. E outros
documentos ainda relatam que, na verdade, ele era daltônico. Trocando em miúdos, quanto mais famoso é o
gênio, maior é o número de teorias.

Assim como o girassol transforma seu olhar apaixonado pela luz do sol que a tudo dá vida (…), a Arte da
Pintura, por inata inclinação, animada por um fogo sagrado, segue a beleza da Natureza. (Joost van der
Vondel, poeta holandês no século XVII)

Nota: Doze Girassóis numa Jarra (1888), acima.


É tida como uma das melhores e mais famosas obras do pintor holandês, tendo sido trabalhada com
pouquíssima cor, além do amarelo, façanha técnica quase inigualável. Encontra-se entre as telas mais
famosas do mundo. Tal sucesso e reconhecimento contrastam com a vida de Van Gogh, que sempre viveu
com extrema dificuldade e à margem da sociedade da época.

Pai Tanguy

Tela do período parisiense do pintor. Tanguy era um comerciante de arte, amigo


de Cézanne, Pissarro, Monet, entre outros. Tanguy conservou este retrato até o
final da vida, prova da amizade que reuniu a ambos. A salientar, na tela, o fundo,
atrás da personagem, recoberto de estampas japonesas, que desempenharam
importante papel nas artes européias do final do século XIX. Van Gogh as
admirava e chegou a ter uma coleção destas gravuras. A pincelada vigorosa e as
cores intensas são indicações de seu estilo maduro de pintar. (Na ilustração à
esquerda, Retrato de Pere Tanguy, 1887-8, óleo sobre tela, 92x75 cm, Museu
Rodin, Paris).

Retrato do Dr. Gachet

O dr. Gachet aqui retratado era um psiquiatra e pintor amador. Van Gogh trata-
se com ele, e pinta este belo retrato. O médico tem uma expressão melancólica,
os olhos azuis perdidos ao longe, amplificados pelo azul presente ao fundo.
Toda a composição baseia-se na presença de várias diagonais. Uma, a da mesa
sobre a qual debruça-se o personagem, é pintada de vermelho vivo e é quase
paralela à diagonal produzida pela inclinação da cabeça do médico. Seus dois
antebraços correspondem a duas diagonais paralelas, antagônicas à diagonal da
mesa. As pinceladas são dramáticas, pesadas, especialmente no casaco. (Na
ilustração à direita, Retrato do dr. Gachet, 1890-06, Museu d'Orsay).

O quarto do artista em Arles

Aqui estão as três versões que o artista pintou deste tema. Van Gogh escreveu a seu irmão: 'a contemplação
do quadro deve repousar a cabeça, ou melhor, a imaginação.' Todas as sombras são eliminadas e as cores
puras são modeladas através da aplicação da tinta espessa. A perspectiva conduz o olhar para dentro da
quarto e a janela, entreaberta, atrai a curiosidade do observador.

A amizade de Gauguin

Os dois artistas desenvolveram uma amizade tumultuada pelos temperamentos fortes


e obstinados. Os objetos sobre a cadeira de Gauguin parece que esperam pela volta
do amigo. As velas eram acesas nas portas das casas para iluminar o retorno dos que
haviam partido.

Fontes:
Frayze-Pereira, J. A. (1994). A criação Trágica: Van Gogh. In E. S. de Alencar, & A. Virgolim
(Orgs.), Criatividade, expressão e desenvolvimento. Petrópolis: Vozes.

http://www.auladearte.com.br/historia_da_arte/van_gogh.htm#ixzz3mHngrm7R
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Mestres da Pintura/ Editora Abril


Grandes Mestres da Pintura/ Coleção Folha

Van Gogh/ Editora Taschen


Van Gogh/ Girassol

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