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SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO
DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS
RESUMO: Considerando que o letramento literário pode ser compreendido como o conjunto
de práticas sociais que usam o texto literário, como um dos recursos para trabalhar a inclusão
dos saberes necessários ao uso da norma padrão e acesso aos conhecimentos para os
multiletramentos, propõe-se como atividade de leitura Flicts, obra da literatura infanto-juvenil
do autor Ziraldo (2001), com turmas de 6ª série (7º ano), do Ensino Fundamental II. Para
execução do Projeto de Intervenção, adotamos um método que despertasse a curiosidade do
estudante em relação à história selecionada. Escolheu-se a técnica de sequência básica do
letramento literário proposto por Rildo Cosson (2007), que é constituído por quatro passos:
motivação, introdução, leitura e interpretação. Sendo Flicts um livro híbrido, para analisá-lo,
optamos pela proposta de Camargo (1995), o conceito de coerência intersemiótica, o qual
amplia o que seja coerência textual, para o estudo das relações entre imagem e texto na
ilustração de poesia infantil. A relação dialógica da literatura de Ziraldo com outras
linguagens artísticas e com os temas sociais contemporâneos nos leva a garantir o
aprimoramento das outras práticas, oralidade e escrita, e à construção de qualquer
conhecimento. Sendo assim, ressalta-se a importância de se explorar esse texto no Ensino
Fundamental II.
PALAVRAS-CHAVE: Letramento literário. Coerência intersemiótica. Flicts.
1 INTRODUÇÃO
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
O ato de comunicar-se faz parte da natureza humana e essa deve ser a origem do
impulso de contar histórias, transmitindo a outrem alguma experiência, que poderia ter
significado para todos. Dessa forma, surgiram as histórias orais e, posteriormente, as escritas.
Com a evolução da sociedade burguesa e o surgimento das instituições de ensino
bem como das novas ciências como a pedagogia e a psicologia, sentiu-se a necessidade de
inventar uma literatura especialmente voltada para o universo infanto-juvenil. Os primeiros
livros para crianças foram produzidos ao final do século XVII e durante o século XVIII.
Antes disso, não se escrevia para elas, porque não existia o conceito de “infância”. Hoje, essa
afirmação pode surpreender, todavia a concepção de uma faixa etária com interesses próprios
e necessitando de uma formação específica, só aconteceu em meio à Idade Moderna
(ZILBERMAN, 2003, p. 15).
Com a decadência do feudalismo e a ascensão da sociedade burguesa, terminou-se
com a repressão da criança que não tinha voz nem vez, houve uma mudança no padrão de
família e uma nova valorização da infância. A importância dada à criança gerou maior união
familiar e, igualmente, meios de controle do desenvolvimento intelectual infantil e
manipulação de suas emoções. E, para cumprir essa missão, houve uma reforma da escola, da
qual participou a invenção da Literatura Infantil (ZILBERMAN, 2003, p. 15).
A aproximação entre instituição escolar e o gênero literário colaborou para que a
literatura infantil se transformasse em um meio de intervenção pedagógica, tornando cada
menino, no ente modelar e útil ao funcionamento da engrenagem social (ZILBERMAN, 2003,
p. 16). A literatura infanto-juvenil, ao longo dos anos, vem adquirindo papel importante na
vida da criança e do adolescente, ao apresentarmos aqui a obra de Ziraldo, pretende-se que o
aluno recrie sua concepção de mundo e observe no contexto a integração da linguagem verbal
com outras linguagens. Segundo Soares, essa análise do universo literário só acontece
quando:
Analisa-se na ilustração acima referente à página 05, início da história, que mais da
metade da folha é dedicada à imagem de uma cor indefinida, imitando a aparência do ser ao
qual se refere, que é Flicts, adjetivada e descrita pelo narrador onisciente como sendo:
“muito rara e muito triste”, a imagem possui, ao mesmo tempo, a função representativa e
descritiva. A Figura 1 exibe a função narrativa, pois situa o ser no tempo e no espaço, na
qual a imagem vai se transformando, dando vida à personagem, como nos contos de fadas,
nas fábulas, apresentando ações por ela realizadas. A personagem busca um lugar para ficar,
nessa procura contínua, as imagens apresentam novos contextos. À medida que as cores vão
surgindo, todas apresentam uma desculpa para demonstrar que ali não tem lugar para Flicts.
Como vimos, três situações são relevantes no texto híbrido com relação à
escrita. Nota-se que Flicts (2001) encaixa-se na terceira situação proposta por Camargo
(1995), segundo a qual o mesmo tópico é desenvolvido em várias estrofes.
Partindo da ideia de que o enunciado contribui para os sentidos do texto, a grafia,
em Flicts (2001), é como um objeto integrador entre imagem e cor, no qual o leitor vai
descobrindo o enredo à medida que vai lendo, criando um universo novo em relação ao
diferente. Na interação com a fantasia, a imaginação desperta valores espirituais,
desencadeia sonhos, o gosto artístico, desenvolvendo todas as suas potencialidades em
relação à arte. Amplia a capacidade expressiva e contribui para a formação da consciência
linguística.
Os recursos linguísticos de que se vale o poeta como a aliteração (que consiste na
repetição do mesmo som) e a personificação (que dá vida a seres inanimados), fazem com
que o texto ganhe alto valor poético. A primeira destaca-se nos versos: “... o frágil e/ feio/ e
aflito/ Flicts” (ZIRALDO, 2001, p. 11); a segunda aparece no 6º verso: “não/ tinha/ a/ força/
do/ Vermelho” (ZIRALDO, 2011, p. 07) - ver Figura 2.
A presença do mítico e do simbólico na escrita atinge seu grau máximo de
expressividade, por intermédio das cores, simbolizando as crenças, a cultura, o respeito que
o homem conquistou no decorrer de sua existência.
Destaca-se, assim, a importância deste texto e de seu autor para a literatura infanto-
juvenil brasileira. Sendo sua obra objeto de estudo e pesquisa por profissionais da educação,
o texto literário Flicts (2001) norteou todas as estratégias de ação para a implantação deste
projeto, sendo analisado tanto pela teoria proposta por Cosson (2007), quanto pela de
Camargo (1995).
3 ANÁLISE DOS RESULTADOS
A clientela escolar cresce e ainda é baixo o número de leitores, isso faz com que
professores de Língua Portuguesa preocupem-se em desenvolver métodos de abordagens para
que os alunos se interessem em ler. Nesse sentido, a escola é o espaço intermediário da leitura
e da formação de leitores. Para que a escola, então, cumpra sua função, é fundamental
proporcionar aos educandos aulas lúdicas, pois é uma das melhores maneiras de despertar
neles o gosto de ler. Ressalva-se, no entanto, que interpretar literatura ainda é privilégio de
poucos, cabe, assim, ao professor leitor, por meio de exemplo, ser o mediador, provocando
nos alunos a vontade de realizar leituras significativas.
Para a execução do Projeto de Intervenção, seguimos o método de sequência básica
do letramento literário proposto por Rildo Cosson, que é constituído de quatro passos:
motivação, introdução, leitura e interpretação (COSSON, 2007, p. 54-64). Organizamos os
planos de aulas em uma unidade didática.
A motivação consiste em preparar o leitor para o contato com o texto, envolvendo-o
em atividades lúdicas de leitura, escrita e oralidade. O limite da motivação dentro dessa
1
Programa de Desenvolvimento Educacional, política pública de Estado regulamentado pela Lei Complementar
nº 130, de 14 de julho de 2010 que estabelece o diálogo entre os professores do ensino superior e os da educação
básica, através de atividades teórico-práticas orientadas, tendo como resultado a produção de conhecimento e
mudanças qualitativas na prática escolar da escola pública paranaense.
http://www.gestaoescolar.diaadia.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo= 20. Acesso em 30 de
setembro de 2013.
proposta é de uma aula. Considerando que Flicts (2001) é uma narrativa poética em versos
livres e cores que conta a história de uma cor com o mesmo título da obra. Para preparar os
alunos a conhecer o texto, demos explicações sobre a estrutura do gênero poético. Para
propiciar o entendimento da estrutura do texto, trabalhamos previamente com os poemas: A
Casa (1980, p. 68) e O Elefantinho (1980, p. 68) poesias de Vinícius de Moraes; Os
Carneirinhos (1964, p.19), O Mosquito Escreve (1964, p. 21), Ou isto ou aquilo (1964 p.72)
de Cecília Meireles, esse trabalho possibilitou a percepção dos recursos utilizados por esses
escritores. Depois da explicação da estrutura poética e dos exemplos com textos literários,
passamos a falar das cores, deixando que os alunos ponderassem sobre suas preferências, a
importância das cores para o visual de uma imagem, em obras de arte, na beleza da paisagem,
nas propagandas, nos filmes, novelas e outros.
Para iniciarmos os trabalhos, formamos grupos de alunos, explicando a técnica da
caixinha de música, ligamos o aparelho de som que foi circulando pelos grupos e, conforme
parava a música, cada grupo pegava as cores cujos nomes estavam escritos em papéis
embrulhados dentro da caixinha. Em seguida, o professor distribuiu as folhas de papéis
coloridos para os grupos e eles escreveram, conforme sua criatividade, pequenos poemas
sobre as cores que cada grupo pegou. Apresentaram sua produção para a turma, as quais
foram recolhidas e avaliadas, para compor o portfólio.
A introdução é o momento da apresentação do autor e da obra, é importante propor
a leitura do texto literário, fazer a propaganda do livro e expor a biografia do autor, fazendo
uma ligação entre obra/autor. Afinal, a história da vida do autor é uma entre outras situações
que acompanham o texto.
Para essa etapa, dividimos novamente a turma em grupos, destacamos a obra, objeto
de estudo, a qual lhes foi apresentada parte por parte por meio da técnica do texto fatiado,
dividida em quarenta e seis páginas. As apresentações foram realizadas em duas etapas, na
primeira, distribuímos a metade das peças e, em uma segunda etapa, os alunos conheceram o
final do texto.
Antes de conhecerem o fim da história, encaminhamos os alunos ao laboratório de
informática, onde fizeram uma pesquisa para conhecerem a vida e obra do autor, utilizamos
para isso a internet. Depois disso, fizemos a apresentação final do texto e eles associaram o
autor à obra. Percebeu-se em Flicts (2001) a originalidade, a beleza, o colorido das formas,
além disso, os alunos notaram que o escritor usou de todo seu conhecimento para construir o
texto.
Para a leitura mediamos o processo auxiliando o aluno em suas dificuldades,
inclusive aquelas relativas ao ritmo da leitura. Fizeram a leitura dos pedaços do texto até a
página vinte e três, orientamos como se lê um poema, deixamos que eles fizessem
interferências e observações que achassem necessárias. Antes da última parte do texto, os
discentes produziram um texto, a pedido da professora, para o final da história. Cada grupo
apresentou sua versão do final.
Em seguida, apresentamos o final da história, que foi distribuída em forma de
quebra-cabeça, cada grupo fez a leitura das partes do texto que pegaram, depois leram o
texto individualmente, fazendo as interferências necessárias. Na sequência, realizamos a
leitura da história para que eles percebessem o ritmo e os recursos utilizados pelo autor para
escrever o texto. A história completa ficou exposta em um mural para todos apreciarem e
lerem. Sugerimos também a leitura de outras obras de Ziraldo: O Menino Maluquinho
(1980), Uma professora Muito Maluquinha (2000), O Diário de Julieta, As Histórias Mais
Secretas Da Menina Maluquinha (2006), A turma do Pererê (2006) e outras obras que os
alunos conheceram pela internet.
A interpretação, de acordo com Cosson (2007), é a dialogia entre autor, leitor e
comunidade. Momento em que os alunos responderam questões de explanação oral, escrita,
caça-palavras, palavras cruzadas, exercícios para a prática intertextual por meio da leitura do
texto Flicts de Ziraldo (2001) e do texto O Patinho Feio de Andersen (1997) e exercícios de
produção de texto.
Outro elemento é a exposição da construção de sentido do texto à comunidade
escolar e familiar. Essa etapa realizou-se por meio de produção de texto e dramatização de
Flicts (2001). Para isso, montamos um texto coletivo para a execução da peça teatral, que foi
encenada pelos alunos participantes do projeto. Um dos colegiais interpretou Ziraldo
contando a história de sua vida e expondo as cenas da obra Flicts (2001) ao público presente.
Para que todo o grupo escolar e os convidados conhecessem o que foi desenvolvido
no projeto, os trabalhos diferenciados que compunham o portfólio foram expostos na Mostra
Literária e Cultural que organizamos.
O trabalho com o gênero textual poema nos levou a garantir o aprimoramento das
práticas de leitura, oralidade e escrita, bem como a construção do conhecimento, podendo ser
adaptada a outros gêneros.
Fizemos um trabalho em contra turno, com trinta alunos do 7º ano. Desses
educandos, vinte e sete terminaram o projeto, essa média foi satisfatória. Depois da
implementação do projeto, notou-se que os alunos passaram a ler mais, treinando a escrita,
registrando o que liam. O empréstimo de livros na biblioteca aumentou e, no trabalho em
grupo, faziam a propaganda das obras que liam para a turma. O processo de análise e crítica
das leituras passou a fazer parte do cotidiano escolar.
No período de implementação do projeto, transmitimos aos professores da Rede
Estadual de Ensino a nossa experiência em sala de aula, por meio do Grupo de Trabalho em
Rede (GTR), acontecendo assim uma troca de conhecimento entre nós, enriquecendo nossa
tarefa. O material construído ficou à disposição no portal, para que os docentes opinassem e
acrescentassem sua colaboração.
A preparação para o teatro empolgou os alunos, que não faltaram aos ensaios e se
uniram para que a apresentação fosse um sucesso. Isso prova que desenvolver atividades
lúdicas de leitura e interpretação com os alunos não é uma perda de tempo e, sim, um
trabalho educativo que ultrapassa os horizontes de expectativas do leitor.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
ALBERGARIA, Lino de. Ilustrações: FRANCO, Márcia. O patinho feio e outros contos de
Andersen. Belo Horizonte: Ed. Lê 2ª edição, 1997. (Coleção Arco da Velha).
BORDINI, Maria da Glória; AGUIAR, Vera Teixeira de. Literatura: a formação do leitor.
Alternativas metodológicas. 2ª Edição. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1993.
CAMARGO, Luís. Ilustração do Livro Infantil. Belo Horizonte: Lê, 1995. (Apoio)
COSSON, Rildo. Letramento literário: teoria e prática. São Paulo, SP. 1ª edição, 2ª
reimpressão: Contexto, 2007.
MACHADO, Ana Maria. Texturas: sobre leituras e escritos. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 2001.
MEIRELES, Cecília. Ou isto ou aquilo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 3ª edição, 1901-
1964.
PINTO, Ziraldo Alves. Flicts. São Paulo, SP. 42ª edição, Melhoramentos, 2001.
______. Diário da Julieta. As histórias mais secretas da Menina Maluquinha. São Paulo:
Editora Globo, 2006.
______. Uma Professora Muito Maluquinha. São Paulo: Editora Melhoramentos, 2000.
ZILBERMAN, Regina. A Literatura infantil na escola. São Paulo, SP. 11ª edição, Global,
2003.