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X ENCONTRO SOBRE CIÊNCIA,

TECNOLOGIA E GESTÃO DA
INFORMAÇÃO (ENEGI)
ISBN: 978-65-89739-00-5
2021

Anais do X ENEGI: Gestão da


Informação, desinformação
em tempos da Covid-19
ANAIS

ORGANIZADORES
Fábio Mascarenhas e Silva
Célio Andrade de Santana Júnior
Alexander Willian Azevedo

1
Ficha Catalográfica

E56a Encontro de Estudos sobre Ciência, Tecnologia e Gestão da Informação


(ENEGI) (10.: 2020 dez. 01-03: Recife, PE).
Anais do X ENEGI: gestão da informação, desinformação em
tempos da COVID-19 [recurso eletrônico] / Organização: Fábio
Mascarenhas e Silva, Célio Andrade de Santana Júnior, Alexander
Willian Azevedo. – Recife: Ed. Néctar, 2021.

Evento realizado pelo Departamento de Ciência da Informação (DCI)


da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
Inclui referências.
ISBN 978-65-89739-00-5 (E-Book)

1. Ciência da informação – Congresso. 2. Tecnologia da informação


Congresso. 3. Gestão do conhecimento – Congresso. I. Silva, Fábio
Mascarenhas (Org.). II. Santana Júnior, Célio Andrade de (Org.). III.
Azevedo, Alexander Willian (Org.). IV. Universidade Federal de
Pernambuco. Departamento de Ciência da Informação. V. Título.

020.63 CDD (23.ed.)

2
Organização
Fábio Mascarenhas e Silva
Célio Andrade de Santana Júnior
Alexander Willian Azevedo

Realização
InFoco Consultoria Júnior do Curso de Gestão da Informação da UFPE

Comitê Científico
Célio Andrade de Santana Júnior
Fábio Mascarenhas e Silva

Pareceristas
Alexander Willian Azevedo
Aline Santana do Nascimento Pereira
Alinny ALves de Paiva e Silva
Bianca Gabriely Ferreira Silva
Bruno Machado Trajano
Célio Andrade de Santana Júnior
Edilma Maria dos Santos Silva
Fábio Mascarenhas e Silva
Felipe Gabriel Gomes De Medeiros
Felipe Mozart de Santana Nascimento
Fernanda Carla da silva costa
Georgia Ramine Silva de Lira
Gleice Helena da Silva
Janaína Fernandes Guimarães Polonini
João Henriques de Sousa Júnior
Karen Isabelle dos Santos d'Amorim
Kézia de Lira Feitosa
Marcela Lino da Silva
Márcio Henrique Wanderley Ferreira
Natanael Vitor Sobral
Pablo Vinícius D'oliveira Menezes
Paula Wivianne Quirino dos Santos
Rúbia Wanessa dos Reis Cruz
Stphanie Sá Leitão Grimaldi
Tânia Regina de Brito
Valquíria Barbosa de Almeida

Integrantes da InFoco Consultoria Junior


Abdias Elias de Azevedo Neto
Andrew Santos de Souza
Carlos Eduardo da Costa Lima
Gabriel Barbosa da Silva
Gabriel Damasceno Rodrigues dos Santos
Quezia Adriane Santos
Stefany Barbosa de Lima Santana

3
PROGRAMAÇÃO DO X ENEGI (MODALIDADE REMOTA)
Links ativados para direcionamento da gravação do evento na Plataforma do YouTube

DIA 1 (01/12/2020)
19:00 as 19:15 – Abertura do Evento
Gabriel Barbosa da Silva - Presidente da InFoco
Prof. Antônio de Souza Silva Júnior - Chefe do Departamento de Ciência da Informação da UFPE
Prof. Alexander Willian Azevedo - Coordenador do Curso de Gestão da Informação
Prof. Fábio Mascarenhas e Silva – Organização do X ENEGI
19:15 as 20:15 – Info Talks:
Profª Maria Amália - Gestão da Informação e desinformação em tempos de COVID-19
20:15 as 20:30 - Intervalo
20:30 as 20:40 – Apresentação de Trabalho (GT5):
Emeide Nóbrega Duarte, Luciana Ferreira Costa, Rayan Aramis de Brito Feitoza & Rosilene Agapito da
Silva Llarena – Memória do Encontro Sobre Ciência, Tecnologia e Gestão.
20:40 as 20:50 – Apresentação de Trabalho (GT5):
André Romão, Carlos Silva & Ângela Holanda - DOPS-PE: um olhar arquivístico com restringes de
repressão
20:50 as 21:00 – Apresentação de Trabalho (GT5):
Simone Oliveira - The Aesthetics of Everyday Life: Family Photographs from the Late 19th and 21st
Century

DIA 2 (02/12/2020)
19:00 as 19:45 - Info Talks:
Anne Louise - entusiasta de machine learning, inteligência artificial
Rodrigo Linck - publicitário, designer, fotográfo e gestor da informação
19:45 as 20:00 - Intervalo
20:00 as 20:10 – Apresentação de Trabalho (GT3)
Edilson Teixeira Barbosa Filho & Luciana Ferreira Costa - Produtivismo Acadêmico: Percepções da
Ciência da Informação.
20:10 as 20:20 – Apresentação de Trabalho (GT3)
Marco Antonio Almeida Llarena, Danielle Harlene Da Silva Moreno, Maria Meriane Vieira Rocha &
Rosilene Agapito Da Silva Llarena – Política de informação e pós-verdade: Uma leitura em cenário
pandêmico.
20:20 as 20:30 – Apresentação de Trabalho (GT4)
Jully Porto Lopes Melo, Anelise Souza Rocha, Larissa Machado Vieira and Douglas Farias Cordeiro -
Desinformação, Fake News e Covid-19: uma análise do programa Saúde sem Fake News
20:30 as 20:40 – Apresentação de Trabalho (GT4)
Paulo Ricardo Silva Lima, João Rodrigo Santos Ferreira & Nelma Camêlo de Araujo – Ética e
empreendedorismo digital.
20:40 as 20:50 – Apresentação de Trabalho (GT4)
Priscilla Peixoto and Ronaldo Araújo - O influenciador digital na divulgação científica em tempos de
Covid-19

DIA 3 (03/12/2020)
18:00 as 18:10 – Apresentação de Trabalho (GT2)

4
Alexander Willian Azevedo – Contribuição do pensamento oriental na Gestão do Conhecimento.
18:10 as 18:20 – Apresentação de Trabalho (GT2)
Adelaide Helena Targino Casimiro & José Domingos Padilha Neto - Gestão do conhecimento durante a
pandemia de SARS-CoV-2: análise da literatura na Biblioteca Virtual de Saúde
18:20 as 18:30 – Apresentação de Trabalho (GT2)
Bárbara Carvalho Diniz, Alzira Karla Araújo da Silva & Elaine Cristina de Brito Moreira - Gestão de
documentos digitais na gestão da informação jurídica
18:30 as 18:40 – Apresentação de Trabalho (GT2)
Joana Ferreira de Araújo & Luciana Ferreira da Costa – Monitoria na Disciplina Metodologia do Trabalho
Científico na UFPB.
18:40 as 18:50 – Apresentação de Trabalho (GT2)
Suzana de Lucena Lira, Marco AntÔnio Llarena, Edcleyton Bruno Silva & Danielle Harlene Moreno –
Gestão Social do Conhecimento: Comunidades virtuais de prática em evidência
18:50 as 19:00 - Apresentação de Trabalho (GT2)
Ilka Maria Soares Campos & Eliane Bezerra Paiva – Usuário da Informação como protagonista da
gestão da informação e do conhecimento.
19:00 as 19:15 - Intervalo
19:15 as 19:25 – Apresentação de Trabalho (GT1)
Ana Paula Orico Marques Cassé, Tarlane Gomes Tenório Sales, Paulo Ricardo Silva Lima & Ronaldo
Ferreira de Araújo – Pesquisas sobre desinformação na base web of science: dados de produção e
orientação temática
19:25 as 19:35 – Apresentação de Trabalho (GT1)
Maria Clara Tavares da Silva & Nancy Sánchez-Tarragó - O Domínio da ética na organização e
representação do conhecimento.
19:35 as 19:45 – Apresentação de Trabalho (GT1)
João Rodrigo Santos Ferreira, Paulo Ricardo Silva Lima & Edivanio Duarte de Souza - A desordem da
informação no contexto da covid-19: a responsabilidade de atuação dos líderes de opinião
19:45 as 19:55 – Apresentação de Trabalho (GT1)
Renato Souza da Silva & Márcio Henrique Wanderley Ferreira – Produção científica em Ciência da
Informação no Nordeste: 2014 - 2019
19:55 as 20:05 – Apresentação de Trabalho (GT1)
Alzira Karla Araújo da Silva, Flávia de Araújo Telmo, Joana Ferreira de Araújo & Dâmaris Queila
Paredes Oliveira Domiciano – Inovação, aprendizagem e extensão universitária em rede social online.
20:05 as 20:15 – Apresentação de Trabalho (GT2)
Beatriz de Oliveira Barbosa & Thais Helen Do Nascimento Santos - Gestão de Documentos para a
eficiência administrativa: um estudo de caso na Universidade Federal de Pernambuco
20:15 as 20:30 - Intervalo
20:30 – Encerramento do Evento

5
REALIZAÇÃO DO EVENTO:

APOIO:

6
Sumário
GRUPOS TEMÁTICOS (GTs)
Os trabalhos foram definidos em Grupos Temáticos que são eixos estabelecidos com o
objetivo de organizar os artigos em temas específicos.

GT 1: Organização, Representação, Produção e Uso da Informação e do Conhecimento:

Pesquisas sobre desinformação na base web of science: dados de produção e orientação


temática..................................................................................................................................... 10
Ana Paula Orico Marques Cassé, Tarlane Gomes Tenório Sales, Paulo Ricardo Silva Lima &
Ronaldo Ferreira de Araújo
O Domínio da ética na organização e representação do conhecimento.....................................
20
Maria Clara Tavares da Silva & Nancy Sánchez-Tarragó
A desordem da informação no contexto da covid-19: a responsabilidade de atuação dos líderes
de opinião...................................................................................................................................
28
João Rodrigo Santos Ferreira, Paulo Ricardo Silva Lima & Edivanio Duarte de Souza
Produção científica em Ciência da Informação no Nordeste: 2014 – 2019................................
38
Renato Souza da Silva & Márcio Henrique Wanderley Ferreira
Inovação, aprendizagem e extensão universitária em rede social online...................................
49
Alzira Karla Araújo da Silva, Flávia de Araújo Telmo, Joana Ferreira de Araújo & Dâmaris
Queila Paredes Oliveira Domiciano

Contribuição do pensamento oriental na Gestão do Conhecimento...........................................


61

GT 2: Gestão da Informação e do Conhecimento nas Organizações:

Alexander Willian Azevedo


Gestão do conhecimento durante a pandemia de SARS-CoV-2: análise da literatura na
Biblioteca Virtual de
Saúde......................................................................................................................... 71
Adelaide Helena Targino Casimiro & José Domingos Padilha Neto
Gestão de documentos digitais na gestão da informação jurídica..............................................
81
Bárbara Carvalho Diniz, Alzira Karla Araújo da Silva & Elaine Cristina de Brito Moreira

7
Monitoria na Disciplina Metodologia do Trabalho Científico na UFPB........................................
90
Joana Ferreira de Araújo & Luciana Ferreira da Costa
Gestão Social do Conhecimento: Comunidades virtuais de prática em evidência....................
100
Suzana de Lucena Lira, Marco Antônio Llarena, Edcleyton Bruno Silva & Danielle Harlene
Moreno
Usuário da Informação como protagonista da gestão da informação e do conhecimento........
110
Ilka Maria Soares Campos & Eliane Bezerra Paiva
Gestão de Documentos para a eficiência administrativa: um estudo de caso na Universidade
Federal de Pernambuco...........................................................................................................
119
Beatriz de Oliveira Barbosa & Thais Helen Do Nascimento Santos
Produtivismo Acadêmico: Percepções da Ciência da Informação............................................
129

GT 3: Política de Informação, Qualificação e Atuação Profissional:

Edilson Teixeira Barbosa Filho & Luciana Ferreira Costa


Política de informação e pós-verdade: Uma leitura em cenário pandêmico..............................
139
Marco Antonio Almeida Llarena, Danielle Harlene Da Silva Moreno, Maria Meriane Vieira
Rocha & Rosilene Agapito Da Silva Llarena

Desinformação, Fake News e Covid-19: uma análise do programa Saúde sem Fake
News........................................................................................................................................ 150

GT 4: Tecnologias da Informação e Comunicação:

Jully Porto Lopes Melo, Anelise Souza Rocha, Larissa Machado Vieira and Douglas Farias
Cordeiro
Ética e empreendedorismo digital............................................................................................
160
Paulo Ricardo Silva Lima, João Rodrigo Santos Ferreira & Nelma Camêlo de Araujo
O influenciador digital na divulgação científica em tempos de Covid-19...................................
170
Priscilla Peixoto and Ronaldo Araújo

Memória do Encontro de Estudos sobre Ciência, Tecnologia e Gestão da Informação


(ENEGI)................................................................................................................................... 181

GT 5: Informação, Memória e Patrimônio: 8


Emeide Nóbrega Duarte, Luciana Ferreira Costa, Rayan Aramis de Brito Feitoza & Rosilene
Agapito da Silva Llarena
DOPS-PE: um olhar arquivístico com restringes de repressão.................................................
191
André Romão, Carlos Silva & Ângela Holanda
A estetização da vida cotidiana: fotografias de família do final do século XIX e
XXI........................................................................................................................................... 203
Simone Oliveira

GT 1
ORGANIZAÇÃO, REPRESENTAÇÃO, PRODUÇÃO E USO
DA INFORMAÇÃO E DO CONHECIMENTO

9
ANA PAULA ORICO MARQUES CASSÉ
E-mail: marquespaula100@gmail.com
PAULO RICARDO SILVA LIMA
E-mail: pauloricardoadmpublic@gmail.com
RONALDO FERREIRA DE ARAUJO
E-mail: ronaldo.araujo@ichca.ufal.br
TARLANE GOMES TENÓRIO SALES
E-mail: vieira.mlarissa@gmail.com

PESQUISAS SOBRE DESINFORMAÇÃO NA BASE WEB OF SCIENCE:


dados de produção e orientação temática

RESUMO: O compartilhamento em massa das informações na sociedade hodierna tem desencadeado


os fenômenos “desinformação” e “fake news”. Faz-se essencial tratar os temas com aprofundamento,
principalmente, no contexto científico, investindo-se em pesquisas comprometidas, instrumentos de
grande valor social com poder de consolidar instituições educacionais, organizações e, também,
influenciar e transformar comunidades inteiras. Este estudo apresenta um mapeamento bibliométrico
das produções científicas relacionadas aos temas “Disinformation”, “Fake News” e “Misinformation” na
base de dados internacional Web of Science. O percurso metodológico delimitou-se em uma pesquisa
exploratória, de abordagem quantitativa e qualitativa, utilizando-se da ferramenta bibliométrica
VOSviewer para a mineração e tratamento dos dados coletados no recorte temporal de 2015 a 2020. O
resultado da coleta recuperou o número de 996 artigos. Dos termos mais recorrentes recuperados dos
títulos dos artigos, formou-se uma rede de frequência, o que possibilitou a análise temática dos
principais clusters, constatando-se uma significativa interligação das temáticas com relevantes assuntos
sociais. Alerta-se para a necessidade de se assumir uma postura crítica perante o vultoso volume
informacional recebido, baseando-se na busca pela verdade, inscrita em informações validadas, e
amparando-se na justiça.
Palavras-chave: Disinformation; Fake News; Misinformation; Bibliometria; Web of Science

ABSTRACT: The mass sharing of information in today's society has triggered the “disinformation” and
“fake news” phenomena. It is essential to deal with the issues in depth, especially in the scientific
context, investing in committed research, instruments of great social value with the power to consolidate
educational institutions, organizations and, also, influence and transform entire communities. This study

10
presents a bibliometric mapping of scientific productions related to the themes "Disinformation", "Fake
News" and "Misinformation" in the international database of Web of Science. The methodological path
was defined in an exploratory research, with a quantitative and qualitative approach, using the
VOSviewer bibliometric tool for mining and processing the collected data, in the time frame from 2015 to
2020. The result of the collection recovered the number of 996 articles. Of the most recurrent terms
recovered from the titles of the articles, a frequency network was formed, which enabled the thematic
analysis of the main clusters, evidencing a significant interconnection of the themes with relevant social
issues. It warns of the need to take a critical stance in view of the large volume of information received,
based on the search for truth, inscribed on validated information, and supported by justice.
Keywords: Disinformation; Fake News; Misinformation; Bibliometrics; Web of Science

1 INTRODUÇÃO

Em tempos hodiernos, em que as tecnologias permeiam as ações humanas, a


massa informacional tem influenciado o modo como as pessoas e as organizações se
relacionam, o que tem sido palco de muitas discussões entre as diversas áreas do
conhecimento, principalmente nas ciências sociais e humanas, caracterizando a
denominada sociedade da informação. Nesse contexto, a célere criação e
disseminação da informação, principalmente por meio digital, desencadeou o
compartilhamento massivo de desinformação e notícias falsas (fake news). Partindo-se
dessa noção, Bauman (2001) compreende que essa sociedade da informação possui
fragilidades quanto ao uso dos conteúdos informacionais, muitas vezes, consumidos
por seus usuários de forma aleatória ou sem questionamento crítico, desenvolvendo-
se uma postura descompromissada com a validação e a veracidade. Na mesma
perspectiva, Lewandowsky et al. (2012) entendem que a sociedade contemporânea,
inserida em um cenário de utilização constante e crescente das ferramentas
tecnológicas por meio da internet, não faz uma análise criteriosa das informações,
muitas vezes expostas de forma desmedida, possibilitando erros na formação dos
conteúdos e promovendo a disseminação de desinformação e fake news, ocasionando
confusão e problemas de ordem social.
Faz-se essencial tratar os temas desinformação e fake news com
aprofundamento, principalmente no contexto científico, investindo-se em pesquisas
comprometidas com a veracidade dos fatos, que busquem explicar estes fenômenos e
suas influências na sociedade. A pesquisa científica desenvolve-se em um cenário de
trocas em que todo o conhecimento produzido e adquirido pelos pesquisadores deve
estar acessível a toda comunidade. Ao longo da história, muitos pesquisadores
enfrentaram desafios na busca de informações, dados e itens diversos para
subsidiarem suas pesquisas. Para Santos e Kobashi (2009) tais desafios vêm sendo
suplantados pela criação de métodos e técnicas de tratamento que permitem análises

11
e novas formas de visualização das informações, em suas diversas naturezas, com
base nos princípios estatísticos e/ou linguísticos. As produções científicas,
instrumentos de comunicação entre pesquisadores da ciência, disseminam
descobertas oriundas do conhecimento científico produzido, quando “[...] publicadas
em veículos de comunicação formal ou divulgadas em meios informais ou não
convencionais [...]”, transformam-se em comunicação científica registrada. Dessa
comunicação originam-se os estudos bibliométricos, cuja contribuição tem sido notória
para a história social do conhecimento (ARAÚJO; ALVARENGA, 2011, p. 53).
Nesse contexto, evidencia-se a bibliometria como a junção de variadas formas
de medição para a avaliação da ciência e dos fluxos da informação, possibilitando a
aplicação de métodos para a mensuração da produção de instituições de pesquisa,
comunidades específicas e pesquisadores, utilizando-se de técnicas avaliativas
quantitativas, qualitativas ou uma combinação de ambas (VANTI, 2002, p. 152-153).
Este estudo bibliométrico em andamento tem por objetivo mapear as produções
científicas relacionadas aos temas “Disinformation”, “Fake News” e “Misinformation” na
base de dados internacional Web of Science (WoS). O percurso metodológico delimita-
se em uma pesquisa exploratória na WoS, de abordagem quantitativa e qualitativa no
recorte temporal de 2015 a 2020.

2 TRABALHOS CORRELATOS

Apesar de a evolução tecnológica trazer inúmeros benefícios e mudanças no


contexto infocomunicacional, como a rapidez de informar e de ser informado, a
comodidade e a diminuição das barreiras de acesso à informação no ciberespaço, há
uma problemática de relevância social, que se refere à massificação de informações
adulteradas, promovida, sistematicamente, com a finalidade de desinformar e
transmitir informações intencionalmente falsas à população.
A desinformação associa-se à ideia de informação falsa, enganosa e/ou
imprecisa, podendo ser criada, intencionalmente, com a finalidade de gerar prejuízos a
terceiros, ou ainda ser fruto do desentendimento do emissor, quanto à assimilação de
determinado assunto (MOURA; FURTADO; BELLUZZO, 2019). Outrossim, pondera-se
que a desinformação não seria uma notícia necessariamente falsa, isso porque, muitas
vezes pode-se ocorrer a divulgação de informações, de forma deturpada, confusa e
desorganizada (BRISOLA; BEZERRA, 2018). Observa-se que, na literatura inglesa, a

12
temática desinformação possui distintas traduções, conhecidas como Misinformation
ou Disinformation, ambas com inclinações a informações falsas. A diferenciação ocorre
na intenção de quem disponibilizou a informação, no “[...] caso de misinformation o
autor não saberia que repassou inverdades, ao contrário de disinformation, em que a
falsidade já seria de conhecimento do autor antes de veicular a informação em
questão” (PINHEIRO; BRITO, 2015, p. 3).
Pontua-se que há uma mixórdia conceitual acerca do termo desinformação,
muitas vezes confundido com fake news. Segundo a Unesco (2019), apesar das
semelhanças entre as duas terminologias, há dificuldades para se encontrar um
significado direto e compreensível relacionado ao referido termo. Brisola e Bezerra
(2018) destacam que, apesar da similitude, nota-se que o propósito das fake news
relaciona-se com o controle da divulgação de notícias falsas, com a intenção em
disseminá-las de forma mentirosa, o que também pode trazer, como consequência, a
desinformação. Recuero e Gruzd (2019) associam a disseminação das notícias falsas
intencionais, principalmente, nas mídias digitais, realizada com diversas finalidades,
bem como interesses de ordem política, econômica e social. Tais notícias são
veiculadas com o intuito de atingir interesses de indivíduos ou grupos. Destaca-se, o
termo fake news por suas congruentes características de propagação, desde a
produção, formatação, até sua intenção negativa (BRISOLA; BEZERRA, 2018). No
campo de estudos da informação existem diversas práticas que se relacionam aos
temas desinformação e fake news. Zattar (2017) compreende que os sujeitos devem
possuir uma postura crítica ao receberem uma informação, observando a qualidade, a
relevância e a veracidade delas, para que assim seja possível frear a sua
disseminação na sociedade. A partir da produção do conhecimento, registrada e
apresentada, de forma estruturada pelas universidades, pode-se alcançar
comunidades e organizações de tal forma que possibilitem seus desenvolvimentos,
minimizando, assim, a insipiência de fenômenos como o curso negativo das notícias
no meio infocomunicacional (FERREIRA; SILVA, 2012).

3 MATERIAIS E MÉTODOS

Este resumo perfaz-se em pesquisa exploratória, de abordagem quantitativa e


qualitativa, utilizando-se do estudo bibliométrico como método de pesquisa
(PRODANOV; FREITAS, 2013). Os estudos bibliométricos são úteis para mapear um

13
campo científico e contribuem, estatisticamente, na avaliação das tendências de
crescimento da produção científica e na utilização de temáticas nas diversas áreas do
conhecimento (FONSECA, 1986 apud FIGUEREDO et al., 2020, p. 3). Para Café e
Bräscher (2008) a bibliometria é um método, constituído por leis e princípios
estatísticos, com fulcro no mapeamento da produção e produtividade científica.
Destaca-se, ainda, que “as estatísticas não constituem um fim em si mesmas, mas são
mobilizadas para analisar a dimensão coletiva da atividade de pesquisa e o processo
dinâmico da construção de conhecimentos”, outrossim, embora a bibliometria tenha
como fundamento métodos quantitativos, possui, também, métodos qualitativos de
análise (HAYASHI; HAYASHI; MARTINEZ, 2008, p. 139).
Com o avanço tecnológico, as bases de dados tornaram-se as ferramentas mais
utilizadas para busca e pesquisa de periódicos e produções científicas. Assis et al.
(2016, p. 3) salientam que esses instrumentos de pesquisa são produzidos por
serviços de indexação e resumo, oferecendo um número elevado de pontos de
acesso; busca por palavras-chave; suporte a pesquisas complexas por meio da
combinação de termos e a utilização dos operadores booleanos.
Sendo assim, no dia 12 de novembro de 2020, de acordo com o método
bibliométrico, esta pesquisa foi delineada em cinco etapas. Primeira etapa: realizou-
se a escolha da Web of Science (WoS) por ser uma base de dados interdisciplinar de
ampla indexação de periódicos de importância científica, o que possibilitou a
realização de análises quantitativa e qualitativa dos resultados obtidos, como também
por ser disponibilizada de forma gratuita por meio do acesso remoto via CAFe
(comunidade acadêmica federada) ao conteúdo assinado do Portal de Periódicos da
Capes para as instituições participantes (CAPES, 2020). Segunda etapa: efetuou-se a
busca das produções científicas indexadas na principal coleção da WoS, por meio do
operador booleano “OR”, cujos títulos trouxessem os descritores “Disinformation”,
“Fake News” ou “Misinformation”. A expressão utilizada para a busca foi “TÍTULO:
(MISINFORMATION) OR TÍTULO: (DISINFORMATION) OR TÍTULO: (FAKE NEWS)”,
delimitando-se, mediante filtros, o recorte temporal de 2015 a 2020 e o tipo de
documento “artigo”. Terceira etapa: realizou-se a coleta dos dados por intermédio de
planilha (.xls) e arquivo (.txt) gerados e exportados pela WoS para serem tabulados e
formatados no software Microsoft Excel. Quarta etapa: por intermédio da ferramenta
de visualização de dados bibliométricos VOSviewer (versão 1.6.15) foi possível realizar
a mineração dos termos mais recorrentes nos títulos do material coletado, viabilizando

14
a construção de uma rede, demonstrando as temáticas e suas relações com as
diversas áreas do conhecimento. Quinta etapa: procedeu-se às análises quantitativa e
qualitativa das temáticas nos principais clusters.

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

No recorte temporal analisado, recuperaram-se na WoS 996 artigos. A


quantidade de artigos publicados em 2020 (378), ano ainda não finalizado, supera a
dos anos anteriores 2019 (305), 2018 (154), 2017 (78), 2016 (40) e 2015 (41).
Ressaltam-se que os autores mais producentes sobre os temas “Disinformation”,
“Fake News” ou “Misinformation” foram Ecker, U.K.H (12), Lewandowsky, S. (10),
Pennycook, G. e Rand, D. G. (8) e Quattrociocchi, W. e Van Der Linden S (7), já os
países, destacam-se Estados Unidos (398), Inglaterra (103), Espanha (81), Canadá
(55) e Austrália (53) e quanto às áreas de pesquisa apresentam-se a Comunicação
(237), Psicologia (119), Lei Governamental (107), Ciência da Computação (103) e
Biblioteconomia e Ciência da Informação (78). Nos artigos recuperados por descritor,
Fake News trouxe 508 produções, Misinformation, 383, e Disinformation, 153.
Com o auxílio do software VOSviewer, criou-se uma rede (Grafo 1) que
representa a frequência dos termos mais recorrentes nos títulos das produções
científicas. A rede apresenta a relação das temáticas “Disinformation”, “Fake News” e
“Misinformation” com diferentes áreas do conhecimento e outros assuntos relevantes
para a sociedade da informação. Os clusters separam-se em grupos de termos
próximos, tendo suas cores apresentadas aleatoriamente. Na rede formada, foi
possível agregar a frequência das palavras em 23 diferentes clusters, destacando-se
seis principais, cujos itens e cores foram distribuídos em vermelho (18), verde (17),
azul (17), azul-piscina (12), verde-acinzentado (9) e azul-acinzentado (8).

Grafo 1 - Clusterização temática da produção científica sobre desinformação na Web of Science


(2015-2020)

15
Fonte: elaborado pelos autores (2020)

Os clusters vermelho e verde-acinzentado relacionam-se às temáticas “política”


e “comunicação”, abordando especificamente problemas infocomunicacionais,
principalmente na modalidade digital. Tais grupos correlacionam-se, notadamente,
com as áreas da Comunicação, Lei Governamental, Ciência da Computação e da
Informação em que os fenômenos desinformação e fake news são evidenciados nos
períodos de eleições presidenciais, no contexto pandêmico da Covid-19 e nas redes
sociais online (HATCHER, 2020; MARSDEN; MEYER; BROWN, 2020; LIU; HUANG,
2020). A abordagem desses grupos interliga e amplia o conhecimento dos referidos
fenômenos, dando espaço para discussões e debates relevantes, como a necessidade
de regulação (o uso de lei), entre outras ações, cujos objetivos perfazem na
minimização dos efeitos negativos causados pela desinformação e fake news.
O cluster verde demonstra especialmente o diálogo entre as áreas da
Comunicação, Ciências da Saúde, Biblioteconomia e Ciência da Informação,
evidenciando as discussões acerca do uso nocivo da Internet e das redes sociais
online para a divulgação de desinformação e fake news. Tal uso tem afetado a vida
das pessoas, pois esse tipo de informação alcança um exponencial número de
públicos em uma velocidade considerável, isso porque tanto a Internet por meio de
suas infinitas possibilidades de conexões, webs 2.0, 3.0, entre outras, e da facilidade
oferecida na ultrapassagem de barreiras geográficas, quanto as redes sociais online,
propiciam ampla interatividade, a geração e o compartilhamento de conteúdo.
Aproveitando-se dessas benesses, grupos organizados têm traçado campanhas de
16
desinformação multi-plataforma com intuitos diversos, demonstrando a necessidade de
se envidar esforços, no sentido de, pelo menos, minimizar essa disseminação
prejudicial para toda a sociedade (LUKITO, 2020). Destacam-se, da mesma maneira,
conteúdos desinformacionais nas searas infodêmicas, em que há sobrecarga de
informações produzidas nas mídias digitais sobre assuntos específicos da saúde,
salientando-se a crise da Covid-19 (CUAN-BALTAZAR et al., 2020; KAWCHUK, et al.,
2020). Nessa senda, no tema do cluster, apresentam-se fontes de referência que
podem ser utilizadas na coibição da divulgação de notícias falsas sobre saúde na
internet (CACHÁN-ALCOLEA; ABARCA; MARISCAL, 2020). Ademais, enfatiza-se o
relevante papel de desmascarar e filtrar a modelagem probabilística de persistência de
notícias falsas (hoax) em redes sociais online (COLUCCIA, 2020).
Os clusters azul e azul-acinzentado ambientam-se, também, na inter-relação de
diversas áreas do conhecimento, discutindo os efeitos e as formas de combate à
cultura do compartilhamento de fake news e misinformation nos contextos da
Neurobiologia (KIAT; BELLI, 2017), Psicologia (VOLZ, et al., 2017), Ciência da
Computação (FAUSTINI; COVÕES, 2020) e Comunicação (CORBU, et al., 2020).
Cumpre destacar, que as formas de combate às fake news baseiam-se principalmente
no desenvolvimento de softwares específicos com o objetivo de detectá-las nos
ambientes digitais. A busca pelo freamento de informações falsas nas plataformas
digitais, trata-se de um problema complexo que atinge a sociedade contemporânea
sob aspectos políticos, econômicos, sociais e culturais.
Ressalta-se que os termos inseridos nos diversos clusters não são
independentes, pois possuem relações entre si, numa rede de múltiplas conexões,
tendo em vista que fake news, disinformation e misinformation permeiam temáticas
nas inúmeras áreas do conhecimento e nas relações sociais.

5 CONCLUSÃO

As fakes news e a desinformação possuem uma forte influência no contexto da


sociedade informacional, gerando problemas de cunho social, econômico e político,
revelando, assim, a necessidade de uma postura crítica dos sujeitos conectados, para
que seja possível reduzir o seu compartilhamento, principalmente no ambiente digital.
A partir deste estudo bibliométrico, percebe-se uma considerável interligação
das temáticas Disinformation, Fake News e Misinformation, explicitada nas diferentes
perspectivas abordadas nas produções científicas analisadas. Os estudos alargam o

17
conhecimento acerca desses fenômenos, como também, abordam suas
consequências e discutem mecanismos e atitudes no intuito de minimizá-los. Motivos
de preocupação e prejuízo em todo o mundo, tais temas servem de alerta à sociedade
informacional para a necessidade de assumir uma postura crítica perante o
significativo volume informacional recebido, baseando-se na busca pela verdade,
inscrita em informações validadas, e amparando-se na justiça.

REFERÊNCIAS

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graduação brasileira de 1987 a 2007. Encontros Bibli: revista eletrônica de
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ZATTAR, M. Competência em informação e desinformação: critérios de avaliação do
19
conteúdo das fontes de informação. Liinc em revista, n. 2, v. 13, 2017.

20
MARIA CLARA TAVARES DA SILVA
E-mail: cclaratavares@gmail.com
NANCY SÁNCHEZ-TARRAGÓ
E-mail: nancita1973@gmail.com

O DOMÍNIO DA ÉTICA NA ORGANIZAÇÃO E REPRESENTAÇÃO DO


CONHECIMENTO

RESUMO: Pretende mapear a produção científica brasileira sobre ética no domínio da Organização e
Representação do Conhecimento. A pesquisa é bibliográfica com enfoque quali-quantitativo, com
aporte metodológico da análise de domínio e da bibliometria. A coleta de dados foi feita por meio de
um levantamento bibliográfico em três universos: a Base de Dados Referenciais de Artigos de
Periódicos em Ciência da Informação (BRAPCI), anais do Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência
da Informação (ENANCIB) e no capítulo brasileiro “Estudos Avançados em Organização do
Conhecimento” da International Society for Knowledge Organization (ISKO- BRASIL). Foram
recuperados 48 trabalhos. A busca caracterizou-se como regular ao longo dos anos, tendo crescimento
específico entre os anos 2017 e 2019. Os autores que mais tiveram publicações no domínio foram
José Augusto Chaves Guimarães, Fábio Assis Pinho e Suellen Oliveira Milani, com 13, 9 e 8
publicações, respectivamente. Já no ranking de instituições temos a UNESP, UNIRIO e UFMG
liderando os 3 primeiros lugares de instituições que mais aparecem na filiação dos autores da área.
Conclui-se que apesar de reduzida, as pesquisas no campo estão em crescimento e devem continuar
se aprofundando nos aspectos éticos na Organização do Conhecimento.
Palavras-chave: Ética; Organização e Representação do Conhecimento; Análise de Domínio.

Abstract: It intends to map the Brazilian scientific production on ethics in the domain of Knowledge
Organization and Representation. The research is bibliographic with a qualitative and quantitative
approach, with methodological support of domain analysis and bibliometrics. Data collection was
carried out by means of a bibliographic survey in three universes: Base de Dados Referenciais de
Artigos de Periódicos em Ciência da Informação (BRAPCI), annals of Encontro Nacional de Pesquisa
em Ciência da Informação (ENANCIB) and in the brazilian chapter “Estudos Avançados em
Organização do Conhecimento” of the International Society for Knowledge Organization (ISKO-
BRASIL). 48 publications were found. The search was characterized as regular over the years, with
specific growth between the years 2017 and 2019. The authors who had the most publications in the
domain were José Augusto Chaves Guimarães, Fábio Assis Pinho and Suellen Oliveira Milani, with 13,
9 and 8 publications, respectively. In the ranking of institutions, are UNESP, UNIRIO and UFMG leading
the first 3 places of institutions that most appear in the affiliation of the authors of the area. It is
concluded that despite being reduced, research in the field is growing and should continue to deepen
the ethical aspects in the Knowledge Organization.
Keywords: Ethic; Knowledge Organization and Representation; Domain Analysis.

INTRODUÇÃO

As classificações e demais instrumentos da Organização e Representação do


Conhecimento são e foram baseadas na expectativa da universalidade e da
objetividade da representação, ou seja, deveriam representar as coisas como elas
são em sua essência, sem subjugar e/ou impor. Desse modo, observamos ao longo
do tempo diversos impactos na esfera social resultantes da materialização de
preconceitos nesses instrumentos.
Nesse sentido, percebe-se a ascensão da ética nos debates críticos e estudos
da área mediante a escolha antiética no momento de representar determinados

21
assuntos. Guimarães (2000, p. 65) afirma que a ética se configura como um “estudo
do bem-fazer ou do bem-agir no âmbito da interação humana, pressupondo uma
concepção de homem como ser livre, autônomo e dono de suas próprias idéias e
atos”. Ela nos conduz a refletir sobre a dignidade do ser humano e a forma como eles
se comportam ao interagir uns com os outros, e em busca desse bem agir em
comunidade estabelecer um conjunto de valores morais que mais se enquadram
naquele momento, naquela comunidade e naquele contexto.
Assim, a criação de processos, produtos, instrumentos da ORC acaba por
refletir comportamentos e padrões éticos de determinadas comunidades discursivas,
literaturas específicas ou domínios. Sabendo que esses instrumentos carregam
padrões éticos e valores morais do ponto de vista daqueles que os constroem, e para
além disso, alguns se propõe a representar sujeitos em âmbito universal ocasionando
problemas de pluralismo ético-social, no qual vieses e preconceitos (MILANI, 2015)
entram em conflito no momento de representação desses sujeitos, observa-se que a
representação de um assunto/temática será feita de acordo com a concepção que os
criadores desses instrumentos têm do mundo.
Nessa perspectiva, assa pesquisa teve como objetivo mapear a produção
nacional sobre o domínio da ética na Organização e Representação do
Conhecimento, evidenciando as diversas interrogações críticas nos discursos dos
autores de Ciência da Informação no Brasil.wes\

1 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Essa pesquisa se caracteriza por ser uma pesquisa bibliográfica com enfoque
quali-quantitativo com aporte metodológico da Análise de Domínio (HJØRLAND,
2002), fazendo um estudo bibliométrico, considerado por Hjørland como um dos
métodos para realizar a análise de domínio. Como destaca Smiraglia (2011 apud
Guimarães, 2014, p. 15):
a análise de domínio caracteriza-se pelo estudo dos aspectos
teóricos de um dado entorno, geralmente representado por
uma literatura ou comunidade de pesquisadores, constituindo
um meio para a geração de novo conhecimento acerca da
interação de dada comunidade científica com a informação.
(SMIRAGLIA, 2011 apud GUIMARÃES, 2014, p. 15).

O papel da análise de domínio é de descrever o domínio dos estudos sobre


ética na Organização e Representação do Conhecimento, identificando tanto os

22
atores sociais que o conformam (autores, instituições, periódicos), quanto os temas
que eles desenvolvem. Para isso, compreendemos domínio como “um corpo de
conhecimento, definido social e teoricamente como o conhecimento de um grupo de
pessoas que compartilham compromissos ontológicos e epistemológicos” (Hjørland,
2017).
O mapeamento foi baseado no levantamento e análise de artigos e trabalhos
em três universos: i) Base de Dados Referencial de Artigos de Periódicos em Ciência
da Informação (BRAPCI); ii) Anais do Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da
Informação (ENANCIB); e iii) Série "Estudos Avançados em Organização do
Conhecimento " da International Society for Knowledge Organization (ISKO-BRASIL).
Para Ribeiro (2001, p. 47) “a análise de domínio pressupõe a identificação
clara dos limites e do contexto do assunto que está sob análise.” Sendo assim, as
delimitações se apresentam:

 Definição do domínio - a ética na Organização e


Representação do Conhecimento;
 Escopo e alcance - levantamento bibliográfico sobre a
produção brasileira na área, a fim de realizar um mapeamento
do que o país tem produzido sobre a temática;
 Exclusão - somente será considerada publicações que
abordem problemas na representação do conhecimento que
implicam marginalização e discriminações de grupos sociais;
 Propósito: descritivo.

2 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Foram recuperados 48 registros: 15 trabalhos nos anais do ENANCIB, 15


registros nos capítulos nacionais da ISKO e 18 artigos na BRAPCI.
Percebe-se que a abordagem do tema começou de forma dispersa e escassa,
pois entre os anos 2007-2017 apenas se publicaram 5 trabalhos no ENANCIB;
enquanto de 2017-2019 essa quantidade duplicou totalizando 10 trabalhos a mais
sobre essa temática. Já no capítulo brasileiro da ISKO a primeira publicação é datada
do ano de 2012, no volume 2 da série Estudos Avançados em Organização do
Conhecimento, seguida de 3 publicações no ano de 2013 no volume seguinte.
Constatou-se, após identificação dos trabalhos, que o volume 3 da série não
apresentou nenhum trabalho sobre a temática, uma ausência preenchida nos
volumes posteriores: no ano de 2017 com 2 trabalhos publicados no volume 4 e no
volume 5, em 2019, com 9 publicações, maior quantidade então.
23
A busca na BRAPCI caracterizou-se como a mais regular ao longo dos anos,
com o intervalo de, no máximo, 3 anos sem publicações sobre o assunto. A primeira
publicação recuperada foi do ano de 2004. Entre 2004 e 2019, foram publicados 18
trabalhos, tendo o pico de publicações nos anos de 2017 e 2018, ambos com 3
publicações em cada ano.
No Gráfico 1 se observa que é partir do ano de 2017 que aumenta a
produção, tanto em artigos quanto em trabalhos em eventos, sobre a temática para
um total de 32 publicações até 2019, tendo seu expoente entre os anos de 2017 -
2019 com o aumento de cerca de 70% de publicações.

Gráfico 1 – Comportamento da produção científica brasileira no domínio Ética na


Organização e Representação do conhecimento (2004-2019)

16

5
4 4
3
22 2
1 1
20042007200820092011201220132014201720182019

Publicações

Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados da pesquisa (2020).

2.1 AUTORIA E FILIAÇÃO

A identificação do conhecimento do domínio nos permite conhecer as práticas


de autoria, práticas de compartilhamento de ideia entre autores, as relações entre
grupos e rede de pesquisa, instituições, periódicos e eventos. Para representar a
quantidade de publicações por autor e instituição, elaboramos um ranking dos autores
com mais ocorrência na Tabela 1, ou seja, autores com 2 ou mais publicações (do
autor com mais publicações para o autor com menos publicações) e outro ranking na
Tabela 2, com a quantidade de publicações por instituição no domínio Ética na
Organização e Representação do Conhecimento.

24
Tabela 1 – Quantidade de Tabela 2 – Quantidade de
publicações por autor no domínio publicações por instituição no
Ética na Organização e domínio Ética na Organização e
Representação do Representação do
Conhecimento Conhecimento
AUTORIA FREQUÊNC INSTITUIÇÃ FREQUÊNC
IA O IA
GUIMARÃES,
13 UNESP 16
J.
A. C.
PINHO, F. A. 9 UNIRIO 14
MILANI, S. O. 8 UFMG 11
MIRANDA, M.
6 USP 9
L.
C. de.
ALMEIDA, C.
4 UFSC 7
C.
de.
LIMA, G. S. 4 UFF 6
MOURA, M. 4 UFPB 6
A.
NASCIMENTO,
F. A. 3 UFBA 5
FUJITA, M. S. L. 2 UFRJ 4
SILVA, A. P. da. 2 IBICT 3
SILVA, F. G. da. 2 UFPE 3
TRIVELATO, R.
M. da S. 2 UDESC 2
Fonte: Elaborado pelas autoras com base nos dados da pesquisa (2020).

O autor das publicações recuperadas destaca-se José Augusto Chaves


Guimarães com 13 publicações na área, entre 2007 e 2017, seguido por Fabio Assis
Pinho, com 9 publicações entre 2007 e 2019, e em terceiro lugar: Suellen Oliveira
Milani, com 8 publicações na área, entre 2008 e 2020. Esses registros também
revelam a relação e o trabalho nesta rede de colaboração que tem Guimarães como
orientador dos trabalhos de Pinho e Milani.
Já sobre a lista de instituições, totalizam 16 instituições brasileiras que
compõem a lista de instituições produtoras de conteúdo sobre ética na ORC, na qual,
a Universidade Estadual Paulista (UNESP), Universidade Federal do Estado do Rio
de Janeiro (UNIRIO) e a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) ocupam o
primeiro, segundo e terceiro lugar, respectivamente, com os maiores números de
ocorrência, ou seja, detendo certa de 70% das publicações na área. Isso coloca a
região sudeste do país como a mais destacada na produção de pesquisas nesse
domínio.

2.2 PERIÓDICOS

25
Os periódicos e eventos da área nos possibilitam visualizar um panorama das
pesquisas que estão sendo realizadas e publicadas no país de forma regular dada a
sua periodicidade. São 15 periódicos, nos quais apenas os dois primeiros lugares do
ranking publicaram acima de 2 pesquisas. Todos os demais publicaram apenas uma.

Tabela 3 – Periódicos com maior quantidade de artigos no domínio Ética


Organização e Representação do Conhecimento
Periódico Frequênc Anos
s ia de
publicaç
ão
Informação & Informação (UEL) 2004; 2007 e
3 2017
Liinc em revista (UFRJ) 3 2018
Logeion: filosofia da informação (IBICT) 1 2019
BIBLOS - Revista do Instituto de Ciências
1 2013 e 2014
Humanas e da Informação (FURG)
AtoZ: Novas Práticas em Informação e
1 2012
Conhecimento (UFPR)
Brazilian Journal of Information Science (UNESP) 1 2017
DataGramaZero (UFPB) 1 2011
Encontros Bibli: Revista Eletrônica de
1 2008
Biblioteconomia e Ciência da Informação (UFSC)
InCID: Revista de Ciência da
1 2019
Informação e Documentação (USP)
IRIS - Revista de Informação, Memória e Tecnologia
1 2014
(UFPE)
Perspectivas em Ciência da Informação (UFMG) 1 2009
Ponto de AcessO (UFBA) 1 2008
Revista ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina 1 2017
TransInformação (PUC Campinas) 1 2014
Fonte: Elaborado pelas autoras com base nos dados da pesquisa (2020).

A partir dos dados da tabela acima, verifica-se que os periódicos Informação &
Informação da Universidade Estadual de Londrina e Liinc em revista da Universidade
Federal do Rio de Janeiro lideram a lista de periódicos que mais detém publicações
sobre a temática. As regiões sul e sudeste do país mais uma vez se destacam pela
presença com a maioria de suas revistas preenchendo a lista de periódicos que mais
publicam pesquisas na área no Brasil.

2.3 CATEGORIAS TEMÁTICAS


Além dessas caracterizações, algumas categorias temáticas são amplamente
compartilhadas entre as pesquisas, tais como: conflitos éticos advindos do
reducionismo inerente à abordagem ocidental dos Sistemas de Organização do

26
Conhecimento (SOCs); discussões sobre bias/biases/vieses na ORC, discussões
sobre etnia/raça; discussões sobre religião; discussões sobre questões de gênero;
discussões sobre sexualidade, feminismos e demais discussões sobre conflitos éticos
e estudos abordando as incongruências dos SOCs.
Numa perspectiva geral, percebe-se que as categorias temáticas identificadas
são resultadas de uma visão eurocêntrica que serviu de alicerce para a criação dos
sistemas de Organização e Representação do Conhecimento. O eurocentrismo foi um
dos responsáveis pela geração de intolerância, preconceito e exclusão de cunho
cultural, religioso, étnico, político, social e econômico, assumindo diferentes
expressões no decorrer da história.
A colonização do saber, as relações de poder e de dependência que se
estabeleceram em decorrência do eurocentrismo são intimamente expostas nos
SOCs. Segundo Quijano (2014),

A colonialidade é um dos elementos constitutivos e específicos do


padrão mundial de poder capitalista. É baseado na imposição de uma
classificação racial/ étnica da população mundial como a pedra
angular do dito padrão de poder e opera em cada um dos planos,
áreas e dimensões, materiais e subjetivo, do cotidiano e em escala
social. (QUIJANO, 2014, pág. 285, tradução livre).

Dessa forma, todos os eixos da vida dos indivíduos passam a ser contados e
moldados a partir da vivência, cultura, costumes da hegemonia eurocêntrica e
estadunidense.
Os conflitos éticos também se estabelecem como forma de negação de
determinadas características ou valores, como por exemplo as questões de étnicas,
na qual grupos étnicos estão tendo sua existência sistematicamente negada nesses
instrumentos, assim como ocorre com as características no âmbito religioso, com
exemplos bastante conhecidos como nos sistemas de classificação, no qual
determinadas classes apresentação: “religiões cristãs vs. religiões não-cristãs”.
Explicitando que a escolha na classificação, para designar religiões, parte da
contraposição a uma religião, neste caso: a cristã (caso de categorização dicotômica).

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os problemas e conflitos éticos que observamos hoje, sempre existiram e são
decorrentes das relações que países colonizadores tem com o restante dos países
que foram colonizados. O domínio da ética na Organização e Representação do

27
Conhecimento está se estabelecendo como um campo promissor, mas ainda
incipientes, considerando o número reduzido de registros coletados. Os valores éticos
vigentes fazem a muitos questionar as limitações dos SOCs, principalmente ante a
representação decente da sociedade.
A pesquisa mostrou que grande parte dos estudos sobre esse mesmo tema
são associados aos métodos da Análise de Domínio, que contribui para que os
pluralismos, individualidades, subjetividades de cada comunidade discursiva e as
características desses grupos sejam levadas em conta, amenizando os problemas e
dilemas provocados pela aplicação de conceitos acríticos dos padrões universais nos
instrumentos da Organização e Representação do Conhecimento amplamente
usados nas bibliotecas no mundo todo.
É importante ressaltar que apesar desta pesquisa ter como objetivo mapear a
produção sobre o domínio da ética, as discussões que podemos fazer com base nos
resultados ainda não foram esgotadas e por isso é reiterada a necessidade de
estudos futuros que continuem os debates sobre essa temática e sobre os desafios
de ajustar seus instrumentos para que se tornem instrumentos eticamente aceitáveis
e/ou criar possibilidades externas as classificações que solucionem e proporcionem o
transpasse de obstáculos que a área necessita superar.

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29
JOÃO RODRIGO SANTOS FERREIRA
E-mail: joaorsferreira@gmail.com
PAULO RICARDO SILVA LIMA
E-mail: pauloricardoadmpublic@gmail.com
EDIVANIO DUARTE DE SOUZA
E-mail: edivanioduarte@gmail.com

A DESORDEM DA INFORMAÇÃO NO CONTEXTO DA COVID-19:


a responsabilidade de atuação dos líderes de opinião

RESUMO: O cenário pandêmico provocado pela disseminação do novo coronavírus, que vem
marcando o ano de 2020, intensificou discussões sobre as ambivalências da informação em meio ao
caos infocomunicacional, ocasionando assim uma desordem informacional, promovida, muitas vezes,
intencional ou não, por líderes de opinião e/ou por seus seguidores. Este trabalho busca discutir a
responsabilidade desses sujeitos como geradores, disseminadores e compartilhadores de informação,
no contexto pandêmico. Destarte, considera ser necessário que os líderes de opinião e usuários de
informação desenvolvam competências, informacional e midiática, bem como assumam uma postura
moral e ética para minimizar os efeitos da desordem informacional e promover a segurança social.
Palavras-chave: Competência em informação; Desordem da informação; Fake news; Líderes de
opinião; Pandemia.

ABSTRACT: The pandemic scenario caused by the spread of the new coronavirus, which has marked
the year 2020, intensified discussions about the ambivalences of information in the midst of
infocommunicational chaos, thus causing an information disorder, often promoted, intentionally or not, by
opinion leaders and / or by your followers. This paper seeks to discuss the responsibility of these
subjects as generators, disseminators and sharing of information, in the pandemic context. Thus, it
considers it necessary for opinion leaders and information users to develop Information and media
literacy, as well as to assume a moral and ethical stance to minimize the effects of informational disorder
and promote social security.
Keywords: Competence in information; Information disorder; Fake news; Opinion leaders; Pandemic.

1 INTRODUÇÃO
O cenário pandêmico do novo coronavírus, que marca o ano de 2020,
intensificou discussões sobre o poder da informação, verdadeira e falsa, em meio à
desordem de informação. Com efeito, a guerra de versões sobre o vírus
desconhecido, sobretudo, acerca das formas de prevenção e contenção invadiu os
principais canais de comunicação, popularizou conceitos como desinformação e fake
news, evidenciou a desordem informacional e vulnerabilizou a sociedade. Esse
contexto sofreu forte interferência das Tecnologias Digitais de Informação e
Comunicação (TDICs), na medida em que redimensionaram as formas de produção,
consumo e comunicação da informação e mitigaram as barreiras de espaço e tempo,
dando aos processos infocomunicacionais alto poder de alcance e penetrabilidade.

30
Neste cenário, discute-se a responsabilidade de líderes de opinião que têm
habilidade de influenciar, inspirar, comandar e motivar, e possuem alta capacidade de
atrair respeito e admiração. Esses líderes, autoridades religiosas, dirigentes políticos,
celebridades do mundo do entretenimento e blogueiros, entre outros, costumam
exercer forte influência naqueles que os aceitam e os seguem.
As competências em informação e em mídia, ou apenas competências
infocomunicacionais, são capazes de orientar as ações e reações das pessoas
perante às dificuldades impostas, a promoção de valores morais e ético, e a
ponderação acerca da atuação de líderes de opinião geradores e disseminadores de
informações, bem como daqueles que as recebem e as compartilham.
Considerando que, numa sociedade que valoriza a informação, um cenário
caótico se constrói a partir de inverdades e de atuações oportunistas. Então,
problematizar o papel do líder de opinião, agente de manifestações públicas com
potencial de causar desordem de informação, pode contribuir para o desenvolvimento
de uma postura social mais crítica e, consequentemente, combater ou minimizar o
caos informacional e a insegurança social.
Por reunir publicações de cunho científico e documentos que não foram tratados
científica e analiticamente, o resumo traz uma revisão bibliográfica e documental,
acerca do papel dos líderes de opinião no contexto pandêmico, numa abordagem
qualitativa, por buscar compreender subjetivamente os fenômenos comportamentais
relativos ao objeto de estudo (LAKATOS; MARCONI, 2019).

2 A DESORDEM DA INFORMAÇÃO NO CONTEXTO PANDÊMICO

O cenário pandêmico provocado pela disseminação da COVID-19 vem sendo


marcado por contradições, incertezas e insegurança, principalmente, em decorrência
da ampla disseminação de informações e especulações acerca do novo coronavírus.
Após um ano da confirmação da doença, em Wuhan, na China (OMS, 2020), ainda
não se tem informações precisas sobre a forma mais eficaz para conter, tratar e/ou
curar doença. Contudo, um número crescente de informações sobre a doença e seu
causador é veiculado nos principais canais de comunicação de massa.
Neste ambiente conturbado, a propagação das fake news e,
consequentemente, da desinformação encontrou terreno fértil, resultando em um

31
descontrolado desarranjo informacional. A partir de Recuero e Gruzd (2019), observa
que fake news e desinformação estão correlacionadas, pois têm por base conteúdos
falsos. Nessa perspectiva, Botei (2017), esclarece que a disseminação de informações
falsas para manipular e desinformar existiu em todos os períodos históricos, ratifica a
relação entre esses e evidencia alguns efeitos negativos.
A discussão é mais complexa do que os termos sugerem, principalmente, ao
considerar o contexto regido pelas TDICs que redimensionaram as tradicionais mídias
de comunicação, disponibilizaram novos canais, dinamizaram os fluxos
infocomunicacionais e fragilizaram as barreiras de tempo e espaço.
Wardle e Derakhshan (2017) subdivide a desordem informacional em
desinformação, informação incorreta e má-informação. Ao distinguir esses
desarranjos, os autores relacionam a desinformação e a informação incorreta à
veiculação de conteúdos falsos sendo que, no primeiro caso, são criados
deliberadamente com intenção de prejudicar terceiros e, no segundo, não há intenção
de causar dano. Já a má-informação refere-se a informações verdadeiras, porém,
nocivas, uma vez que também são usadas para infligir danos.
Para melhor entender a motivação da desordem da informação e cogitar
possíveis soluções, Wardle e Derakhshan (2017) recomendam considerar três
elementos, a saber, o agente, a mensagem e o intérprete. Os autores chamam a
atenção para as pessoas que estão criando e distribuindo aqueles tipos de conteúdo e
o que as motiva a isso; para o tipo, o formato e/ou as características da mensagem,
uma vez que estes elementos refletem muito sobre a intenção do agente; e para ação
e reação dos sujeitos que recebem a mensagem.
Ao se buscar entender os problemas relacionados à desordem informacional, é
preciso considerar não apenas o teor das mensagens, mas também a intenção por
trás delas, pois, independentemente de sua veracidade ou falsidade, elas trazem
consigo as intenções de seu produtor. Ademais, o medo e a insegurança que
compõem o cenário pandêmico são capazes de desestabilizar a capacidade de
discernimento dos indivíduos acríticos e torná-los vulneráveis aos oportunistas que
manifestam seus interesses e vontades através das mensagens que disseminam.
Em virtude da alta disseminação de incertezas provocada pelo caráter falso ou
especulativo, muitas vezes, sem cunho científico, das informações relativas ao novo
coronavírus, nota-se que um quadro pandêmico se mostra altamente favorável à
32
propagação da desordem da informação. Com efeito, buscar entender, monitorar e
moderar as ações dos agentes, das mensagens e dos intérpretes revela-se uma
solução para evitar ou minimizar possíveis desequilíbrios infocomunicacionais.
O respaldo do líder de opinião e o elevado nível de engenhosidade das fake
news as transferem credibilidade e torna árdua a efetivação do monitoramento e da
moderação. Oliveira e Souza (2018, p. 18) entendem que as notícias falsas mais
prejudiciais são “[...] aquelas que passam pelo crivo da crítica superficial ou possuem
intermediadores ditos de confiança, seja pela posição social que ocupam ou por sua
legitimidade naturalmente concebida pela maior parte da população [...]”. Além disso,
vale destacar que a ação e a reação moderadas dos agentes dependem também de
seus valores morais e éticos, visto que isso norteará suas intenções.

4 LÍDERES DE OPINIÃO: ATUAÇÃO E RESPONSABILIZAÇÃO

O conceito de líderes de opinião está muito atrelado ao ambiente


organizacional, e, mais especificamente, à pessoa responsável por políticas de gestão
e comunicação. (TUZZO; FIGUEIREDO, 2013). Complementarmente, Lacombe e
Heilborn (2008) compreendem que, no campo da administração, o líder é aquele que
busca se relacionar bem com os seus liderados, orientando-os e os motivando,
ganhando assim respeito e admiração pelos seus esforços.
Numa perspectiva mais ampla, Nunes et al. (2018, p. 58) esclarecem que “O
conceito de liderança de opinião se refere à capacidade de influência de um indivíduo
em uma rede social.” Assim, um líder de opinião precisa ter uma aceitação de
determinado grupo, e conseguir influenciá-lo através de uma ideologia específica, seja
política, econômica, social, religiosa ou cultural, entre outras. Destacam-se aí
autoridades religiosas, dirigentes políticos, celebridades e influenciadores digitais.
Com o advento das mídias digitais, estes líderes passaram a fazer uso dos
recursos infocomunicacionais para conquistar novos seguidores e ampliar sua rede de
interações. A noção de “líderes de opinião” se aproxima dos “influenciadores digitais”.
Ocorre que as redes digitais transformaram muitos indivíduos comuns em líderes de
opinião e isso, sem desconsiderar eventuais pontos positivos, pode trazer
consequências negativas para seu grupo de seguidores ou para a sociedade.

33
Muitos desses líderes não têm qualquer tipo de formação e assumiram esse
posto pela aparência, pelo uso de marcas ou pelo seu modo de abordagem. A grande
questão é que eles têm liberdade para se posicionar sobre algo que não tem
competência, como, por exemplo, saúde, segurança e educação.
Ao assumir o cargo presidencial e entendendo o grau da máxima
responsabilidade sobre a nação, o eleito presidente brasileiro não manteve uma
postura exigida conforme a probidade do cargo e posição. Diante disso, foi
reproduzido o comportamento inadequado e inesperado diante uma situação onde a
desfortuna, desespero e incredulidade são reportados como consequência de atos
impensáveis transmitidos pelo atual presidente. Desde o início da pandemia, este líder
tem utilizado as redes sociais eletrônicas para minimizar os efeitos e os riscos do
vírus, ao tratar o patógeno como “gripezinha” ou “resfriadinho” (BBC, 2020), e alertar
seus seguidores sobre supostas fraudes dos números de casos e de mortes
provocadas pela COVID-19.
Comportamento semelhante a este foi assumido pelo pastor brasileiro Silas
Malafaia, cujas ações excederam demasiadamente suas atribuições precípuas de líder
religioso e conselheiro espiritual e assumiram uma postura insalubre diante do quadro
pandêmico, criando uma corrente de descrença no que se refere à existência do novo
coronavírus e dos casos noticiados no país. Sem crivo científico, as mensagens
veiculadas pelo pastor em seus perfis nas redes sociais foram apagados, pelas
referidas redes, por se tratar de conteúdo desinformativo (BARRETTO; MATSUI,
2020).
Ações dessa natureza têm potencial de ludibriar os seguidores, fazendo com
que os mesmos não acolham as medidas básicas de proteção, gerando a sensação
de algo passageiro e não perigoso, contrariando as orientações das Secretarias
Estaduais de Saúde, do Ministério de Saúde e da Organização Mundial de Saúde
(OMS). O fato é que acompanhado de tais atitudes o número de casos no Brasil
aumentou significativamente, agravando o quadro pandêmico e colocando o país entre
as maiores taxas de letalidade do mundo. Isso coloca esses líderes de opinião numa
posição crítica, cuja irresponsabilidade concorre com a saúde e a segurança da
coletividade.
Há no Brasil e no mundo inúmeros líderes que não acreditam naquilo que vem
sendo proferido pelas autoridades no assunto e as descredibilizam. Em 17 de outubro
34
de 2020, o influenciador digital e preparador físico ucraniano Dmitriy Stuzhuk veio a
óbito por complicações oriundas do coronavírus (BRITO, 2020). Antes disso, o
influenciador vinha fazendo uso das redes eletrônicas afirmando que o vírus não
existia. Importante destacar que, apenas no Instagram, o influenciador possuía mais
de um milhão de seguidores. Isso demonstra que muitas pessoas tinham interesse no
seu trabalho e nos seus conteúdos, tomando-o como uma pessoa de referência.
Esses, como tantos outros líderes de opinião, usam os canais sociais
eletrônicos e alcançam inúmeras pessoas em um curto tempo, ampliando seu poder
de atuação. Um fato agravante é que o contexto pandêmico exige das pessoas tomar
decisões e reações imediatas, privando-as do tempo necessário para avaliar as
informações que as afetam ou para monitorar e moderar as ações de seus produtores.
Isso pode interferir na capacidade individual e coletiva de discernimento, abrindo
precedentes para atuações oportunistas e manipuladoras.
Nessa senda, Cesar e Saldanha (2019, p. 179) entendem que “O cotidiano
ambientado pela mídia facilita a transformação da informação difundida pelo líder em
opinião que pode vir a orientar o liderado por meio de um processo de assimilação,
baseado na confiança e, no caso dos religiosos, também na fé.”. Por isso, é essencial
destacar a importância das competências do sujeito, informacionais e/ou midiáticas,
como importantes instrumentos norteadores das ações e reações de cada um deles.

5COMPETÊNCIAS INFOCOMUNICACIONAIS: DA POSTURA CRÍTICA À


RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA

O indivíduo competente, no domínio infocomunicacional, possui um conjunto de


conhecimentos, habilidades, atitudes e valores que o torna apto para enfrentar as
adversidades que lhes são impostas.
As TDICs colocam a sociedade num processo de midiatização caracterizado,
por Dudziak, Ferreira e Ferrari (2017), como forte papel atribuído aos meios
infocomunicaionais, que moldam os processos e os discursos da comunicação, bem
como a sociedade onde essa. Nesse contexto, as mídias são apresentadas como
espaços que viabilizam a comunicação e o desenvolvimento de redes sociais entre os
diversos usuários conectados pela Internet. (LIMA; FREIRE, 2014).

35
O processo de midiatização passou a exigir da sociedade maior competência
para absorver e manusear o aparato tecnológico utilizado nos processos
infocomunicacionais e para lidar com o alto volume de informações que circula.
Dudziak, Ferreira e Ferrari (2017, p. 220) entendem que esse tipo de
competência “[...] incorpora tanto o conhecimento da estrutura, economia e função dos
sistemas de mídia de massa na sociedade quanto habilidades analíticas para ‘ler’ o
conteúdo estético e ideológico das mensagens de mídia.”. Isso permite ampliar o
entendimento de competência midiática e inferir que o sujeito deve estar preparado
para lidar não somente com o suporte tecnológico e suas consequências, mas
também com as informações inscritas e mediadas por tais suportes.
Assim, à competência midiática, deve-se somar a competência em informação,
que, no entendimento de Dudziak (2010), é resultado da mobilização de um conjunto
de conhecimentos, habilidades, atitudes e recursos direcionados às ações que
identificam e definem a informação necessária para a resolução de problemas, o
preenchimento de lacunas informacionais e a tomada de decisões.
O ambiente digital passou a exigir coordenação entre essas duas esferas
complementares, visto que muitos sujeitos precisam enfrentar os desafios impostos
pelo aparato tecnológico e pelo intenso fluxo infocomunicacional. Torna-se deficiente
aquele que possui domínio das tecnologias usadas nesses processos e não tem
competência para julgar o conteúdo das informações, e vice-versa.
O sujeito parcialmente competente estaria vulnerável às informações falsas e se
tornaria mais um elemento acrítico a serviço da desordem e do caos. É o que
acontece, por exemplo, quando um líder de opinião veicula uma fake news e seus
seguidores compartilham sem ao menos questionar sua veracidade. Ocorre que,
apesar de ter acesso à informação, os seguidores não têm a competência necessária
para julgá-la, e, se a tem, faltam-lhes os freios morais e éticos.
A aproximação entre essas competências resulta no desenvolvimento de
sujeitos mais capacitados para viver numa sociedade marcada pelo intenso fluxo
infocomunicacional. “A competência em informação e a competência midiática podem
ser úteis para que as pessoas saibam como acessar, avaliar e usar a informação
presente nas mídias.” (OTTONICAR; BELLUZZO, 2018, p. 47-48).
As competências infocumunicacionais tornam-se, então, pré-requisitos
essenciais ao razoável posicionamento dos sujeitos perante os infortúnios favorecidos
36
pela desordem de informação às bases que asseguram a manutenção do exercício da
cidadania, visto que aqueles que as possuem podem ter a postura crítica para agir em
favor de seus anseios pessoais e/ou em prol da coletividade.
Como forma de promover a melhor atuação dos sujeitos, soma-se àquelas
competências a evocação de valores morais e éticos, que devem balizar as ações
tanto daqueles que produzem e disseminam informações, quanto daqueles que as
recebem e as compartilham.
É importante esclarecer, a partir de Martins (1996), que a ética é uma
fundamentadora de princípios da vida, enquanto a moral se refere ao conjunto de
regras de condutas para que os sujeitos possam conviver dentro de um domínio
sociocultural. Há de se analisar a ética como uma ação reflexiva dos sujeitos e suas
interações, ao passo que a moral cuida em prover as regras de convivência.
Pensar numa postura moral e ética no ambiente digital é considerar, pelos
menos, os produtores e os receptores de conteúdo. No discutido contexto pandêmico,
por exemplo, se munidas de valores morais e éticos, as ideias e ações dos líderes de
opinião passariam por filtros que poderiam desencorajar sua postura manipuladora e
oportunista. Da mesma forma, esses mesmos valores conduziriam as reações dos
liderados, munindo-os de sensatez perante as atitudes de seus líderes ou das
consequentes adversidades.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O avanço tecnológico redimensionou as formas de interação no meio digital e


proporcionou aos sujeitos diferentes experiências infocomunicacionais. Estas
ganharam novas proporções no contexto pandêmico oriundo da propagação da Covid-
19, doença causada pelo novo coronavírus, que vem assolando o ano de 2020 em
proporções mundiais, gerando insegurança, medo e caos generalizados.
Parte desse caos é resultado da intensa propagação de notícias falsas
veiculadas, principalmente, pelos canais eletrônicos de informação e comunicação.
Outra parte é resultado da atuação de alguns líderes de opinião, que fizeram uso
indevido dos recursos infocomunicacionais para propagar informações falsas ou
infundadas sobre o patógeno e seus efeitos, e manipular os seus admiradores.
O cenário pandêmico abre portas para a atuação oportunista e manipuladora. É
necessário que os sujeitos envolvidos nesses processos, líderes e liderados,
37
independentemente de suas crenças e convicções, desenvolvam competências
informacional e midiática, para melhor utilizar os veículos infocomunicacionais,
discernir, de forma razoável, entre o benéfico e o maléfico para a sociedade, assumir
uma postura moral e ética responsável e, enfim, respeitar os anseios coletivos.
A responsabilidade maior, contudo, no contexto de discussão, deve ser dos
líderes de opinião, pois têm amplo poder para influenciar e mobilizar a coletividade
acrítica e, portanto, têm também maior responsabilidade sobre os efeitos da desordem
da informação, da pandemia e, extensivamente, do caos social.

REFERÊNCIAS

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framework-for-researc/168076277c. Acesso em: 28 nov. 2020.

39
RENATO SOUZA DA SILVA
E-mail: renatinhho2016@gmail.com
MÁRCIO HENRIQUE WANDERLEY FERREIRA
E-mail: marcio.wferreira@hotmail.com

PRODUÇÃO CIENTÍFICA EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO NO


NORDESTE: 2014 - 2019

RESUMO: Propõe partir do universo da produção científica nordestina em ciência da informação,


restrita ao período analisado. Discorre sob a ótica da produção dos trabalhos produzidos, considerando
a importância para a Ciência da Informação. Discute o problema de pesquisa a partir de um
questionamento sobre como se comporta essa produção, qualitativamente, em relação à produção
nacional. Objetiva identificar a produção cientifica e analisá-la sob um ponto de vista avaliativo, em
relação numérica, diante das fichas de avaliação dos órgãos de fomento. Descreve os dilemas impostos
na produção nacional, e apresenta uma análise dos dados quantitativos disponíveis no Lattes, entre
eles os de alguns indicadores que compõem a amostra. Adota uma pesquisa exploratória de natureza
aplicada com abordagem quali-quantitativa. Utiliza os códigos lattes dos pesquisadores dos Programas
de Pós-graduação do Nordeste, da área da Ciência da informação. Adota a ferramenta scriptlattes
v8.13, como ferramenta de coleta automática de dados dos currículos lattes, limitado ao período entre
2014 e 2019. Conclui que os dados apresentados das principais produções científicas nordestinas estão
crescendo, e que os programas vêm se consolidando como agentes atuantes na pesquisa em Ciência
da Informação Brasileira.

Palavras-chave: Análise bibliométrica. Ciência da informação. Nordeste. Produção cientifica.

Abstract: It proposes to start from the universe of national scientific production in information science,
restricted to the analyzed period. It discusses from the perspective of the production of the works
produced, considering the importance for Information Science. It discusses the research problem based
on a question about how this production behaves, qualitatively, in relation to national production. It aims
to identify scientific production and analyze it from an evaluative point of view, in numerical relation, in
view of the evaluation forms of the funding agencies. It describes the dilemmas imposed on national
production, and presents an analysis of the quantitative data available in Lattes, including those of some
indicators that make up the sample. It adopts exploratory research of an applied nature with a qualitative
and quantitative approach. It uses the lattes codes of researchers from the Graduate Programs in the
Northeast, in the area of Information Science. It adopts the scriptlattes tool v8.13, as a tool for automatic
data collection of the lattes curricula, limited to the period between 2014 and 2019. It concludes that the
data presented from the main Northeastern scientific productions are growing, and that the programs
have been consolidating themselves as active agents in research in Brazilian Information Science.

Keywords: Bibliometric Analysis. Information Science. Northeast. Scientific production

1 INTRODUÇÃO

A produção cientifica nacional necessita de motivações e incentivos para que


não caia no descaso. Importante é saber que a educação superior brasileira,
40
principalmente no âmbito público das universidades federais, em sua base, é
composta por alunos que na sua grande maioria, são advindos das classes sociais
mais baixas da população, e que geralmente enfrentam muitas dificuldades para
adentrar ao ensino superior.
Nesse cenário, os futuros pesquisadores do país, que geralmente são alunos
de classes desfavorecidas, enfrentam inúmeras dificuldades para entrar e continuar no
ensino superior, existindo muitas barreiras que dificultam sua permanência. Neste
sentido, torna-se dificultoso uma política de produção científica que incentive aos
novos alunos à entrarem e continuarem na carreira docente. De acordo com o censo
da educação de 2018, o Brasil tinha 296 Instituições de Educação Superior (IES)
públicas, o que representa 87,9% da rede de ensino pública, enquanto as instituições
privadas somam 2.152 (MEC, 2017).
Portanto, percebe-se um ambiente de dificuldades, nos quais a macroestrutura
acaba retirando parte do incentivo de muitos alunos a continuarem estudando pela
própria ausência de incentivos públicos fornecidos aos alunos (como bolsas e
auxílios), assim como pelo contínuo desmonte da rede púbica (universidades) que
vem se tornando cada vez mais precária. Outro fator preocupante é a forma como os
alunos se sentem desmotivados ao estudarem em instituições públicas, que em muitos
momentos, não necessariamente formam para o mercado, tornando a rede privada
mais atrativa. Esses fatores tornam ainda mais difícil o percurso daqueles alunos que
sonham com um futuro melhor ao saírem do ensino médio e almejam cursar um
ensino superior.
Partindo dos princípios anteriormente observados, o objetivo geral deste
trabalho é analisar a produção cientifica dos programas de pós-graduação em Ciência
da Informação no Nordeste. Ao apresentar o objetivo geral é importante enumerar os
objetivos específicos, que podem ser definidos como: 1- Apresentar a produção
científica nos PPGCI do Nordeste; 2- Refletir sobre os dados apresentados
comparando com a ficha de avaliação da CAPES; 3- Observar o comportamento da
produção ao longo do período estudado. A busca por apresentar esses dados pode
significar um incentivo na motivação dos agentes que a compõem e produzem ciência
nessa área. Em suma, acrescente-se que inúmeras dificuldades estruturais se
apresentam diante dessa incumbência. Distribuindo-se, o trabalho foca em realizar
uma breve análise da ciência da informação, dos dilemas e conflitos impostos à
41
produção. Para tanto, identificar essa produção é o que representa a maior
objetividade deste trabalho, cujo problema que norteia é exatamente a comparação
dessa produção com relação a sua quantidade e qualidade, aferindo seus aspectos de
inovação e compromisso com novas descobertas. Para entender melhor o problema,
conceitos pertinentes a produção cientifica, suas nuances, e os dados colhidos
indicam um maior afunilamento exploratório.

2 PRODUÇÃO CIENTÍFICA EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO

Analisar como o fenômeno da produção cientifica em ciência da informação se


apresenta em seus momentos históricos do universo acadêmico brasileiro, levando em
consideração as influências que recebe do meio ambiente, se faz necessário uma
melhor compreensão do que ele significa hoje. Denota-se que há necessidade de se
conhecer como se origina essa produção, quais suas categorias e representações se
realiza na oportunidade de melhor desencadeamento das ideias e significado prático.
(DURACH; KEMBRO; WIELAND, 2017).
O conceito mais aproximado deste fenómeno, indica uma aproximação de seus
aspectos mais técnicos que pode ser encontrado nos indicadores relativos a respeito
da produção em ciência e tecnologia, os quais são disponibilizados através do
Ministério da Ciência e Tecnologia anualmente. Tais aspectos são, na maioria,
adquiridos em maior amplitude quando realizados em atividades laborais.
Em suma, a multidisciplinaridade da Ciência da Informação é aceita neste
contexto em que a informação se verifica mais acessível principalmente nesses
tempos em que tecnologia da informação e comunicação dominam a difusão de
conhecimentos aos usuários.
Assim, entende-se que o conjunto das descobertas da tecnologia da
informação, é mais bem conhecido, através dos resultados que são auferidos dos seus
maiores significados. Trata-se de uma rica fonte de conhecimentos os momentos de
suas aplicações em apoio ao ensino e a pesquisa, facilitando acesso a variados tipos
de conhecimentos (VASCONCELOS; SANTOS, 2019).
Contudo, os maiores dilemas do avanço do conhecimento ainda são
econômicos, e infelizmente, a exclusão digital concorre entre os que mais podem atuar
negativamente no sentido de suas aplicações não serem maiores e nem mais

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qualitativas, pode-se tomar como base os problemas do acesso devido seu pouco
investimento em face da educação brasileira com relação à pesquisa.
Concorrem igualmente para essas dificuldades, as relações administrativas que
podem conter e apresentar alguns conflitos entre os agentes envolvidos nos
programas de bolsas do governo, principalmente em intercambio. Contudo, a maioria
das equipes envolvidas nesse tipo de trabalho podem ser multidisciplinares e
apresentaram diferentes pontos de vista as serem trabalhados pela gestão (COSTA;
CONCEIÇÃO, 2017).
Outrossim, a gestão de Tecnologia da Informação, por exemplo, deve
estabelecer as regras que a equipe de pesquisa vai utilizar e direcionar. Além disso,
devem ser definidas diretrizes para a realização do trabalho em conjunto a fim de obter
uma maior sinergia e harmonia no desenvolvimento de atividades coletivas de
pesquisa, de modo a dividir os custos de algumas pesquisas que necessitam de
investimento constantemente (UFRN, 2019).
Incumbe, da mesma forma, levar em consideração os aspectos de ordem
financeira, principalmente de alunos que vieram das classes menos favorecidas da
sociedade brasileira, ou seja, dos que sempre cursaram seu nível superior tendo de
trabalhar, pois a cada dia, está cada vez mais complicado a utilização e
disponibilidade de maiores somas de tempo exclusivo para pesquisa, a fim de ofertar
uma excelente produção nesse aspecto.
Tecnicamente, informa-se que o fenômeno da tecnologia da Informação se faz
estabelecido no vértice da especialização, não podendo admitir um nível menor nos
currículos de seus agentes (UFRN, 2019). Existe ainda a necessidade de se continuar
com as capacitações no sentido se estar sempre atualizando a equipe, em face das
novas técnicas e equipamentos disponíveis o mercado, sendo observada uma
cronologia que absorva os seguintes momentos históricos, de acordo com Moura e
Queiroz (2015):
a) de 1962 até 1969 - aparecimento da Ciência da Informação, com primeiras
perspectivas discursiva. Considera-se o início da classificação denominada conceitos
e definições;
b) de 1970 a 1989 - busca de princípios, metodologia e teorias particulares com
delimitação do terreno epistemológico, abaixo de modificações das novas tecnologias;

43
c) de 1990 em frente - estabilização da classificação denominada e de
princípios, meios e teorias; perspectiva discursiva da natureza e relações
interdisciplinares.
O campo de escrita acadêmica (revistas e periódicos) se trata de um novo
dilema a ser perseguido pelos alunos que trabalham e estudam ao mesmo tempo,
principalmente em regiões com maiores problemas sociais como o Nordeste brasileiro.
Pois a apresentação das novas tecnologias, cada vez mais necessárias no
desenvolvimento de um trabalho científico, exige aprimoramento de atuações diante
das demandas que são cada vez mais complexas e requerem uma dedicação mais
exclusiva do aluno.
Em um sentido mais amplo, as demandas são sempre remodeladas de acordo
com cada tipo de pesquisa a ser realizado. No âmbito exterior, a organização
acadêmica que cuida dessa atividade é remodelada a cada contexto histórico e
precisou se adaptar as novas exigências das pesquisas brasileiras, as quais sempre
permearam dificuldades com relação a incentivos governamentais (UFC, 2019).
Neste sentido, há experiencias de ensino que dependem no sentido mais social,
de aceitar a possibilidade de atuação diante de demandas de acessibilidade como os
atendimentos especializados a certos alunos, que em algumas instituições federais de
ensino, recorrem a assistência acadêmica (assistência social) para pagar aluguel,
alimentação etc. (MOREIRA; MUELLER; VILAN FILHO, 2020).
Com base no que foi proposto pela UFC (2019), observam-se os destaques que
deram para a Ciência da Informação um caráter científico e social: a) Revistas
científicas; b) Bancos de dados; c) Recursos da Internet; d) Comunidades científicas;
e) Empresas e comunidades profissionais de pesquisa; e) Cursos e elementos de
ensino em Ciência da Informação.
A sociedade possui o direito de receber dessa atividade o melhor atendimento
disponível, portanto, um manejo que deve ser realizado diante das possíveis
mudanças de comportamento e readaptação do ambiente externo da pesquisa, em
que se necessita de ações governamentais que possam motivar a entrada de maiores
investimentos no ensino superior e na pesquisa, os quais se tornam dilemas que
geram conflitos na produção cientifica nacional, os quais serão abordados com maior
ênfase no próximo subtópico.

44
3 DILEMAS E CONFLITOS IMPOSTOS NA PRODUÇÃO CIENTÍFICA NACIONAL

Após conhecer os principais momentos e significados que o fenômeno coloca


diante desta compreensão, pode-se avançar em direção a saber quais os dilemas
que podem desencadear algumas limitações como os conflitos trazidos pela
continuidade de tais entraves.
Percebe-se que diante de tantas flexibilidades, em uma sociedade que os
meios de produção não conseguem abarcar grande parte da população disposta a
trabalhar, muitos podem se tornar descrentes das universidades e acabam passando
a um ensino puramente técnico, como os cursos de capacitação após o ensino
médio, menos onerosos e mais rápidos para se adentrar imediatamente ao mercado
de trabalho.
Quando se fala em histórico da educação superior e da pesquisa cientifica, se
refere a uma série de acontecimentos que são considerados fatos importantes no
desenvolvimento de algum projeto categoria dessa população estudantil no Brasil.
Adiante, o princípio que norteava a produção cientifica em ciência da
informação no Brasil, antes da reforma do ensino com a BNCC, sempre foi baseado
na contribuição da sociedade civil.
Inicialmente, Bonelli (2017) declara que uma lógica capitalista tem
predominado ante a lógica profissional o que ocorre com a multiplicação de
estabelecimentos para ensino superior, resultando numa docência convencionada a
um modelo híbrido e bastante fragmentário.
A maioria das análises refletidas a respeito da expansão de maior participação
das multidisciplinaridades na docência em Ciência da Informação vem enfatizando a
dimensão estrutural para as práticas de gênero. Destaca-se atualmente a
segregação, assim como a incorporação de maiores diversidades. (BONELLI; 2017).
Nos liames menos tradicionais dos estudos em Ciência da informação, imagina-
se que:
[...] A convivência das gerações e das diferenças na docência
influencia a todos, mesmo que seus membros sejam posicionados em
espaços opostos no jogo de força, o encontro e o embate de corpos
marcados pelas diferenças modificam as formas de agir e pensar nos
grupos estabelecidos e nos que ingressaram depois nas carreiras. A
positividade dessa contingência sustenta a esperança desconfiada na
emancipação, com a ideia de que emancipadas, tais diferenças
possam se tornar imperceptíveis em vez de invisíveis [...] (BONELLI,
2017, p. 118).
45
Ao contrário, descreve-se que o encontrado na análise da clientela dos cursos
de CI, não se observam na correspondência acentuada entre os índices
socioeconômicos e os desempenhos prévios e finais dos discentes. (UFAL, 2019)
Os autores ainda discutem a respeito da demanda por consumidores para se
formarem nos cursos, a qual tem crescido em virtude da facilidade com que se
abrem tais cursos, o que concorrem de forma desproporcional com a qualidade do
ensino, em alguns casos, observando que:
o aumento da oferta de cursos de graduação no país após a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional, em 1996, e a precariedade
a que essa formação tem-se sujeitado, conforme apontado por
Freitas (2000), a discussão em torno da formação de competências
profissionais do bacharel entra em uma agenda de pesquisa
interdisciplinar, principalmente no que se refere aos campos
interdisciplinares (PAIVA, 2011, p.3-4).

Entende-se mais uma vez que a diversidade de formação entre membros do


corpo docente seja uma das maiores expressões da docência do ensino superior na
atualidade e que tal característica possa ser vista em diversas instituições de ensino.
Devido a seu poder estruturador, a interdisciplinaridade concretiza-se como uma
condição fundamental do ensino e da pesquisa na sociedade contemporânea
promovendo a capacitação dos alunos em termos de enfrentar e solucionar
problemas na atualidade (PAIVA, 2011).

4 METODOLOGIA
Para atingir ao objetivo geral proposto nesta pesquisa, é necessário descrever o
percurso metodológico utilizado no seu alcance. Para isso, de acordo com Gil (2009),
a pesquisa apresenta-se como sendo exploratória, utilizando-se de um caráter quali-
quantitativo, com base nos estudos métricos da informação. Aplica-se, portanto, um
estudo bibliométrico com a utilização dos dados dos pesquisadores da plataforma
lattes e de repositórios da amostra, em seguida realiza discussões e reflexões sobre a
interação com a literatura, que se dispõe das análises, permitindo uma maior
identificação do universo da produção nordestina em ciência da informação no período
analisado.
Para a coleta de dados, utilizou-se os códigos dos currículos lattes de 114
pesquisadores dos PPGCI de 7 instituições do Nordeste, os professores foram
46
escolhidos de acordo com a seguinte divisão: 14 do PPGCI/UFPE; 12 do PPGCIUFC;
21 do PPGCI/UFBA; 12 do PPGCI/UFAL; 17 do PPGIC/UFRN; 25 do PPGCI/UFPB; 13
do PPGCI/UFS. Os códigos Lattes foram utilizados no software scriptlattes que extraiu
os dados dos currículos da plataforma lattes do CNPq. O período escolhido para
coleta e análise foi de 2014 a 2019. Após a coleta dos dados, foram consultados os
dados sobre as produções e orientações dos docentes.
Optou-se por apresentar 2 gráficos principais que pudessem facilitar a
compreensão dos resultados obtidos. No gráfico 1 será possível verificar a produção
de artigos em periódicos científicos. Esses dados de produção são importantes pois
dimensionam o fluxo de produção acadêmica dos pesquisadores, e indica,
quantitativamente, como ocorre essa produção ao longo do período analisado. Já no
gráfico 2, identificarão os resultados da quantidade de dissertações orientadas e
finalizadas pelos orientandos dos pesquisadores. Esses dados podem indicar o índice
de formação de novos mestres na Ciência da Informação Nordestina ao serem
comparados a nível nacional.

5 ANÁLISE DOS RESULTADOS


De acordo com resultados obtidos após a coleta de dados, observa-se o
primeiro gráfico relativo à produção de artigos em periódicos:

Gráfico 1 – Produção total em Artigos de periódicos no período

Fonte: dados da pesquisa (2020)

No gráfico 1 é possível identificar que nos últimos 6 anos existe uma tendência
no acréscimo da produção científica em artigos de periódicos pelos pesquisadores dos
PPGs. Percebe-se que de 2015 a 2018 a produção total ficou acima de 200 artigos por
ano. Ressalta-se que a pesquisa foi aplicada em novembro de 2019, e por isso, muitos
47
dados do referido ano não foram compilados. As razões que podem indicar um
aumento da produção científica neste quesito, ao longo do período, podem ter relação
com as necessidades dos programas em se adequar às exigências da CAPES, para
permitir a continuidade do seu funcionamento. Os programas necessitam de uma
produção científica mínima, para receberem investimento e ainda crescerem em suas
avaliações quadrienais. Neste caso, um dos pontos mais importante identificados nas
fichas de avalição da CAPES, são as publicações qualificadas do Programa por
docente permanente. Dessa maneira, existe uma necessidade quantitativa de uma
produção crescente e constante ao longo do tempo para que os programas continuem
atuando nas suas atividades de Ensino e Pesquisa.
Em seguida, podem ser observados os dados de produção de dissertações de
mestrado no período:
Gráfico 2 – Total de dissertações produzidas

Fonte: dados da pesquisa (2020)

Os resultados do gráfico 2 indicam que a quantidade de dissertações


defendidas nos programas se manteve estável ao longo do período, tendo um
pequeno aumento em 2016. Assim como na produção científica qualificada, a
quantidade de dissertações defendidas por docente permanente de cada programa é
um indicador relevante utilizado pela CAPES como critério de avaliação nos PPGS.
Dessa maneira, a quantidade de dissertações e sua distribuição pela quantidade de
docentes é um critério relevante que deve ser levando em consideração por cada
pesquisador atuante.
48
Um dos fatores que pode justificar o aumento da quantidade de trabalhos
defendidos em 2015 e 2016 é a maior quantidade de bolsas de mestrado que existia
naquela época. A bolsa como incentivo financeiro permitiu que uma maior quantidade
de mestrandos se formasse, pois, a segurança financeira durante todo o período de
desenvolvimento dos estudos, acaba se tornando uma razão para estimular a
continuidade e o término da pesquisa.
Outro ponto importante, é que os números de dissertações defendidas vêm se
mantendo estáveis, próximo à 100 dissertações defendidas por ano. Estrategicamente
esse valor pode influenciar os indicadores de produção científica da área, como as
publicações em periódicos e eventos importantes, já que a qualidade das dissertações
defendidas pode ser mensurada pelas publicações além de outros indicadores
pertinentes à Ciência da Informação, como a publicação no Encontro Nacional em
Ciência da Informação (ENANCIB). Portanto, os índices de produção e orientação
concluídas nos programas de pós-graduação do nordeste devem continuar crescendo
para que cada vez mais os programas se estabeleçam como Programas reconhecidos
em todo o Brasil.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com o objetivo de identificar a produção cientifica do Nordeste brasileiro,


durante 6 anos, a pesquisa analisou sob um ponto de vista comparativo os dados
numéricos da produção regional em CI. Para tanto, foi necessário apresentar os
conceitos de produção cientifica em ciência da informação, sendo oportuno colocar
algumas categorias que identificam essa produção no que se refere aos aspectos
teóricos que a identificam.
Os principais resultados apontaram que a produção científica qualificada vem
crescendo ao longo do período, e que os índices de orientação concluídas veem se
mantendo estáveis. Neste sentido, os PPGS em CI do Nordeste estão se consolidando
como protagonistas na consolidação da pesquisa em CI no Brasil. Dessa maneira,
essa consolidação dos programas na CI brasileira pode trazer benefícios e maiores
investimentos de pesquisa para esses locais.
Trabalhos futuros buscarão analisar outros dados relevantes para os PPGs
que são avaliados pelas fichas de avaliação da CAPES. Uma proposta possível seria

49
comparar os dados coletados na plataforma lattes com as avaliações fornecidas pela
CAPES, e verificar a consolidação dos programas na CI brasileira.

REFERÊNCIAS

BONELLI, Maria da Gloria. Docência do direito: fragmentação institucional, gênero e


interseccionalidade. Cad. Pesqui., São Paulo, v. 47, n. 163, p. 94-120, mar. 2017.
Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-
15742017000100094&lng=en&nrm=iso.
COSTA, Maurício José Morais; DA CONCEIÇÃO, Valdirene Pereira. O Estado da Arte
da produção científica em Catalogação nas regiões Norte e Nordeste. Revista
Brasileira de Biblioteconomia e Documentação, v. 13, n. esp. p. 2198-2217, 2017.
Disponível em: https://rbbd.febab.org.br/rbbd/article/view/979.
DURACH, C.F.; KEMBRO, J.; WIELAND, A. A New Paradigm for Systematic Literature
Reviews in Supply Chain Management. Journal of Supply Chain Management, v. 53
n. 4, 67–85. 2017.
GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 2009.
MOREIRA, Jonathan Rosa; MUELLER, Suzana Pinheiro Machado; VILAN FILHO,
Jayme Leiro. Produção científica dos membros dos grupos de pesquisa das áreas de
Informação no Brasil. Informação & Informação, v. 25, n. 1, p. 1-20, 2020. Disponível
em: http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/informacao/article/view/35885/pdf.
UFAL. Universidade Federal de Alagoas. Repositório Filtros de pesquisa em
publicações de ciência da informação. 2019.
UFC. Universidade Federal do Ceará. Repositório Institucional UFC: Filtros de
pesquisa em publicações de ciência da informação. 2019.
UFRN, Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Repositório institucional,
Filtros de pesquisa em publicações de ciência da informação. 2019.
VASCONCELOS, J. R.; SANTOS, J. A. B. dos. Propriedade intelectual na pós-
graduação das universidades federais do nordeste: indicadores bibliométricos. RDBCI:
Revista Digital de Biblioteconomia e Ciência da Informação, Campinas, SP, v. 17,
2019.

50
ALZIRA KARLA ARAÚJO DA SILVA
E-mail: alzirakarlaufpb@gmail.com
FLÁVIA DE ARAÚJO TELMO
E-mail: flaviaaraujo.t@gmail.com
JOANA FERREIRA DE ARAÚJO
E-mail: joanah028@gmail.com
DÂMARIS QUEILA PAREDES OLIVEIRA DOMICIANO
E-mail: dqparedes@gmail.com

INOVAÇÃO, APRENDIZAGEM E EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA EM


REDE SOCIAL ONLINE

Resumo: A extensão universitária, um dos pilares das Universidades, precisou ser reinventada durante
a pandemia do Coronavírus (Covid-19), através de práticas inovadoras de aprendizagem como o uso
das redes sociais online, que constituíram uma base forte de compartilhamento de informações neste
cenário. Assim, o estudo mapeou as ações de inovação e aprendizagem por meio das redes sociais
online dos projetos de extensão do Departamento de Ciência da Informação da Universidade Federal da
Paraíba. Para tanto, partiu de uma pesquisa descritiva e documental, com abordagem qualiquantitativa,
utilizando-se de coleta de dados por meio de questionário eletrônico com os(as) coordenadores(as) dos
referidos projetos de extensão. Para as análises, fez-se uso de inferência crítico-reflexiva. Nos
resultados, caracterizaram-se os projetos e o perfil dos(as) coordenadores(as) e identificaram-se as
ações de inovação e aprendizagem em ambientes de redes sociais online, destacando-se o Instagram,
Facebook, podcast, lives, sites, Linktree, drive e uso de plataformas como o Google Meet. Conclui-se
que a inovação na extensão universitária foi impulsionada pelo uso de ferramentas digitais para
compartilhamento de conteúdo científico em plataformas remotas e redes sociais online, fomentando o
aprendizado e endossando as redes sociais como aliadas na efetivação dessas ações.

Palavras-chave: Inovação; Aprendizagem; Extensão universitária; Rede social online.

Abstract: University extension, one of the columns of University needed to be reinvented whilst the
Coronavirus pandemic (Covid-19), through innovative practices learning such as the use of online social
51
networks, which constituted a strong base of information in this scenario. Thus, the study mapped the
innovation actions and learning trough online social networks and the extension projects of the
Department of Information Science at the Federal University of Paraíba. Therefore, it started from a
descriptive and documentary research, with qualitative approach, using data collection through an
electronic questionnaire with the coordinator's of the referred extension projects. For the analyses,
critical-reflective inference was used. In the results, the projects and the profile coordinators were
characterized and the innovation and learning actions were identified in online social networking
environment, highlighting Instagram, Facebook, podcast, lives, sites, Linktree, drive and use of platforms
like Google Meet. It is concluded that innovation in the university extension was driven by the use of
digital tools for sharing scientific content in remote platforms and online social networks, fostering
learning and endorsing social networks as allies in the effectuation of these actions.

Keywords: Innovation; Learning; University Extension; Online social network.

1 INTRODUÇÃO
No recente contexto da pandemia do Coronavírus (Covid-19), as ações de
ensino, pesquisa e extensão foram reinventadas e intensificaram-se como basilares ao
processo de ensino e aprendizagem e de pertencimento institucional.
A comunidade científica e acadêmica, imbuídas do desejo de colaborar,
compartilharam conhecimentos em redes sociais e apresentaram-se como essenciais
no “novo normal”. Aulas, lives, eventos e atividades em plataformas remotas de
comunicação, vídeos em redes sociais e podcasts, por exemplo, tornaram-se
indissociáveis e fundamentais para o ensino, a pesquisa e a extensão.
“As redes sociais possuem uma característica importante na relação ensino-
aprendizado: a colaboração entre os seus participantes.” (REINERT et al., 2010, p. 7).
Afinal, são espaços sociais favoráveis ao compartilhamento e ao ensino-
aprendizagem, colaborando com a inovação pedagógica (ZENHA, 2014/2016).
No tocante a extensão na Universidade Federal da Paraíba a Pró-Reitoria de
Extensão (PROEX/UFPB) publicou uma Instrução Normativa para readequação dos
projetos, com base no uso das ferramentas digitais (UNIVERSIDADE..., 2020). Neste
ínterim, questiona-se: Quais as práticas inovadoras de aprendizagem foram
idealizadas ou adotadas pela extensão durante a pandemia, considerando as redes
sociais online, para prosseguimento e aprimoramento de suas atividades?
Para responder esta pergunta, realizou-se uma pesquisa de campo que primou
pelos projetos de extensão coordenados por docentes do Departamento de Ciência da
Informação do Centro de Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Federal da
Paraíba (DCI/CCSA/UFPB) vigentes em 2020.
Mapearam-se ações de inovação e aprendizagem por meio das redes sociais
online dos projetos de extensão do DCI/CCSA/UFPB. Para tanto, caracterizaram-se os
52
projetos e o perfil dos(as) coordenadores(as); compararam-se ações planejadas antes
da pandemia e as adaptações para o período pandêmico e; identificaram-se ações de
inovação e aprendizagem em ambientes de redes sociais online.
Discute-se a respeito de aprendizagem e inovação na extensão universitária,
interação e gestão de conteúdos nas redes sociais online. Colabora-se, portanto, para
mapear ações e conteúdos criativos que, certamente, representam práticas valiosas
de inovação e gestão de conteúdos e de compartilhamento em redes.

2 APRENDIZAGEM E INOVAÇÃO NA EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA


A extensão “[...] promove a interação transformadora entre as instituições de
ensino superior e os outros setores da sociedade, por meio da produção e da
aplicação do conhecimento, em articulação permanente com o ensino e a pesquisa.”
(BRASIL, 2018, p. 1-2).
Na UFPB, a PROEX/UFPB por meio da Coordenação de Programas e Ação
Comunitária (COPAC) mantém o Programa de Bolsas de Extensão (PROBEX) e o
Fluxo Contínuo de Extensão (FLUEX) e; através da Pró-Reitoria de Extensão e
Assuntos Comunitários (PRAC) por meio da Coordenação de Extensão Cultural
(COEX), mantém o Programa UFPB no seu Município (UFPB-NSM).
Estas atividades oferecem aos discentes aprendizagens indissociáveis de uma
formação ética, humana e social, pautadas na prerrogativa das Diretrizes da Extensão
na Educação Superior que primam pelos princípios de: interação dialógica da
comunidade acadêmica com a sociedade; formação cidadã pela vivência
interprofissional e interdisciplinar; construção e aplicação de conhecimentos e
atividades acadêmicas e sociais; articulação entre ensino/extensão/pesquisa;
interculturalidade, por meio de diálogo com os setores da sociedade brasileira e
internacional; compromisso social; reflexão ética; enfrentamento das questões da
sociedade brasileira; produção e construção de conhecimentos para o
desenvolvimento social, equitativo e sustentável. (BRASIL, 2018).
Nesse contexto, o termo inovação rompe conceitos e práticas preestabelecidos,
influenciando como as pessoas se comportam e aprendem. A inovação social,
segundo Franz, Hochgerner e Howaldt (2012, p. 4), é a "maneira como as pessoas
decidem, agem e se comportam, isoladamente ou em conjunto".

53
A inovação social é “uma intervenção iniciada pelos atores sociais, para atender
a uma aspiração, satisfazer uma necessidade, aportar uma solução ou beneficiar uma
oportunidade de ação, a fim de modificar as relações sociais” (BOUCHARD;
LÉVESQUE, 2010, p. 6-7, tradução nossa). Na extensão, os professores precisaram
inovar em ações didático-pedagógicas.

3 INTERAÇÃO E GESTÃO DE CONTEÚDOS NAS REDES SOCIAIS ONLINE


As redes sociais online têm ocasionado mudanças no comportamento social,
seja em novas formas de publicar conteúdos, gerar conhecimento, obter informações,
estabelecer parcerias, entretenimento e fundamentar opiniões.
O Relatório Digital 2020 October Global Statshot, produzido em parceria com a
Hootsuit e a We Are Social, aponta que 4,66 bilhões (60,00%) de pessoas usam a
Internet e 4,14 bilhões são usuários de mídia social. Um crescimento anual de mais de
12,00% e de 2 milhões de usuários por dia em três meses. (KEMP, 2020).
As redes sociais online são ambientes com potencial para estabelecer diálogos,
laços sociais, troca de experiências, elaboração de práticas e aplicação de novas
metodologias de ensino. A dinâmica relacional nesses ambientes amplia as
possibilidades de aprendizado, interação e colaboração, tornando-as aliadas na
produção de conteúdo, compartilhamento e busca por conhecimento. Desse modo, os
meios digitais têm enorme potencial para o ensino, se considerados como formas de
cultura e comunicação (SILVA; SERAFIM, 2016).
Marteleto e Silva (2015) afirmam que, no novo contexto de comunicação no
campo científico, os pesquisadores precisam firmar diálogos de diferentes disciplinas e
atores. Para Recuero (2009), a constituição dessas redes se dá por atores sociais com
interesses em comum de obter conexões, responsáveis pelos vínculos relacionais,
agrupamento, colaboração e dinâmica nessas organizações sociais.
O uso de redes sociais online e, principalmente, a sua manutenção, ainda é um
desafio para instituições de ensino. Afinal, não é apenas acessar a Internet, mas
manusear ferramentas, gerenciar as redes com periodicidade e compartilhar
conteúdos de interesse dos atores que constitui a rede. O novo cenário de pandemia
impulsionou o interesse em ampliar vínculos e formas de aprendizado remotas.

4 METODOLOGIA
54
A pesquisa caracterizou-se como descritiva e documental, pois descreve os
fatos que se pretende observar (PRODANOV; FREITAS, 2013), neste caso, as ações
inovadores e de aprendizagem empenhadas pelos projetos de extensão vinculados ao
DCI/CCSA/UFPB. Alicerçado em uma abordagem qualiquantitativa, os dados obtidos
foram analisados conforme opiniões e vivências expressas e também representados
segundo números e percentuais.
A pesquisa documental baseou-se nos sete projetos coordenados por docentes
do DCI/UFPB vigentes em 2020, sendo seis na modalidade PROBEX, inseridos nas
áreas de Comunicação (1), Cultura (2), Direitos Humanos e Justiça (1) e Educação (2);
e um UFPB no Seu Município inserido na área de Educação (1).
Um questionário online, elaborado no Google Formulário, com perguntas
abertas e fechadas, foi enviado para os(as) seis coordenadores(as) por e-mail e
recebido entre outubro e novembro de 2020, obtendo-se 100,00% de resposta.
Identificou-se: a) perfil dos(as) coordenadores(as) - nível acadêmico e área de
formação; b) perfil dos projetos - tempo que vem sendo desenvolvidos e
interdisciplinaridade nessa composição; c) redes sociais online – tipo de rede social,
conteúdo compartilhado, ações planejadas e adaptações no período pandêmico,
pontos favoráveis e desfavoráveis dessa adaptação e; d) ações inovadoras - de
aprendizagem e interação em redes sociais online. A análise ocorreu a partir de
inferência crítico-reflexiva.

5 RESULTADOS: EXTENSÃO, APRENDIZAGEM E INOVAÇÃO EM REDE SOCIAL


ONLINE
O levantamento sobre o perfil dos(as) coordenadores(as) de projetos de
extensão do DCI/UFPB, apontaram que, concernente a graduação 50,00% (3) são
graduados em Biblioteconomia, 33,33% (2) em Arquivologia e 16,67% (1) em Ciências
Sociais. Quanto à pós-graduação 66,66% (4) possuem mestrado e doutorado em
Ciência da Informação, 16,67% (1) apenas mestrado em Ciência da Informação e
16,67% (1) apenas graduação (Arquivologia).
Aprofundando-se no perfil dos projetos, destacou-se que 57,14% (4) dos
projetos vêm sendo desenvolvidos há um ano, ou seja, são projetos novos, 14,28% (1)
há dois anos, 14,28% (1) há três anos e 14,28% (1) há quatro anos. Levantou-se

55
interdisciplinaridade entre os colaboradores(as) nas áreas de Arquivologia,
Biblioteconomia, Direito, Gestão Pública, História, Letras, Pedagogia e Saúde.
Os resultados sobre as redes sociais online revelaram que todos os projetos
possuem rede social, entre as quais se apresentaram: Instagram com 28,00% (7),
Facebook 20,00% (5), YouTube 16,00% (4), Twitter 12,00% (3), Site 12,00% (3),
WhatsApp 4,00% (1), Linktree 4,00% (1) e Google Drive 4,00% (1).
Percebeu-se a predominância do Instagram, usado por todos os projetos,
seguido do Facebook, para divulgação das ações de extensão, mas também o uso de
novas dinâmicas como o WhatsApp, Linktree e Google Drive para compartilhar
conteúdos. Este dado corrobora com o Relatório Digital 2020 October Global Statshot
no qual constatou o uso mais frequente dessas duas redes sociais online.
Quanto aos conteúdos compartilhados nessas redes sociais, têm-se
informações a respeito de eventos e fatos relevantes nas áreas de Ciência da
Informação (Projeto A); posts, informações sobre eventos e ações desenvolvidas
(Projeto B); vídeos, fotos, áudios relacionados às etapas do projeto (Projeto C);
Gestão Documental e retirada de RG's no Estado da Paraíba (Projeto D);
planejamento, escrita científica, normalização no padrão ABNT e apresentação de
trabalhos voltados para estudantes do ensino superior (Projeto E) e médio (Projeto G);
orientações arquivísticas e informações relevantes sobre a Covid-19 (Projeto F).
O conteúdo é compartilhado segundo “informações sobre eventos [...]” (Projeto
A); em formato de “posts [...]” (Projeto B); “vídeos, fotos, áudios relacionados às etapas
do projeto” (Projeto C), apresentando informações importantes como, por exemplo,
“[...] sobre a retirada de RG'S no Estado da Paraíba” (Projeto D). Além destes, também
se verificaram informação com formato de “[...] lives, depoimentos em áudios,
perguntas e respostas, esclarecimento de dúvidas, enquetes nos stories, artes com
divulgação das ações, fotos com registros das ações [...]” (Projeto E); otimizando a
“divulgação sobre o projeto [...]” (Projeto F) e, por fim, “[...] postagens do tipo mapa
mental e conceitual, diário de estudos, vídeo em lettering, post-it e challenge no
aplicativo TikTok [...]” (Projeto G). Esses resultados demonstram a variedade e a
dinamicidade dos formatos de publicação.
De acordo com Zenha (2014/2016, p. 22), “[...] a aprendizagem acontece no
momento em que os usuários dos grupos se propõem a trocar e compartilhar

56
informações a respeito de um assunto para realizar uma determinada finalidade [...].”
Esta troca fica evidente nas redes e formatos utilizados pelos projetos de extensão.
Identificaram-se as ações previstas e as estratégias adotadas durante a
pandemia para dar continuidade à execução dos projetos, conforme Quadro 1.

Quadro 1: Comparativo de ações dos projetos de extensão do DCI/CCSA/UFPB no período


pré e pandêmico COVID-19.

PROJETO/PROGRAMA/ÁREA AÇÕES PLANEJADAS AÇÕES ADAPTADAS


PRÉ-PANDEMIA PERÍODO PANDÊMICO

Projeto A: Compartilhamento As ações sempre foram As ações sempre foram previstas para
das mídias virtuais do previstas para acontecer acontecer na Internet.
Laboratório de Tecnologias na Internet.
Intelectuais – LTi. (PROBEX-
Comunicação)

Projeto B: Ações emergenciais Várias ações Adotamos o atendimento remoto CF


nos acervos arquivísticos da presenciais, inclusive à prefeitura de Guarabira e aos campi
UFPB: intervenções para viagens para visitar os do interior e João Pessoa e atividades
salvaguardar e preservar a campi do interior e de preparação de relatórios, artigos,
memória institucional. algumas prefeituras. reuniões online pelo Google Meet.
(PROBEX-Cultura)

Projeto C: Organizar para Atividades presenciais. Todas.


acessar: preservando a
memória institucional por meio
das práticas arquivísticas nos
arquivos do Centro de Ciências
Sociais Aplicadas da UFPB.
(PROBEX-Cultura)

Projeto D: Gestão documental Construção de uma O Instagram do projeto passou a ser um


no arquivo do núcleo de Política de Gestão dos canais de comunicação por parte
identificação civil e criminal Documental para o da equipe para com a população
(NUICC) do Instituto de Polícia Arquivo mencionado. paraibana e o NUICC/IPC-PB. Lives,
Científica da PARAÍBA artes e reuniões de forma remota,
(IPC/PB). (PROBEX-Direitos passaram a ocorrer.
Humanos e Justiça)

Projeto E: DESCOMPLICA Oficinas presenciais e Oficinas e reuniões por meio de


TCC: normas, estratégias e produção de conteúdos plataformas remotas, oficinas em
dicas para elaboração de nas redes sociais. formato de lives no Instagram e
trabalhos de conclusão de YouTube, dicas em vídeos,
curso. (PROBEX-Educação) compartilhamento de conteúdo em drive
e criação de Linktree para
compartilhamento, criação de modelos
de trabalhos acadêmicos para
disponibilizar no site.

Projeto F: Orientações de Nosso projeto já foi As orientações arquivísticas que seriam


práticas arquivísticas para elaborado ancorando-se presenciais, passaram a ser realizadas
instituições de saúde na cidade nas TICs, foram através do Google Meet.
de João Pessoa-PB. (PROBEX- necessárias poucas

57
Educação) adaptações.

Projeto G: Descomplica ensino Oficinas presenciais em Reuniões por meio de plataformas


médio: dicas, estratégias e escolas do ensino médio remotas; participação remota na
padrões para trabalhos e produção de plataforma das escolas; criação de
escolares. (UFPB no seu conteúdos nas redes canal no YouTube; compartilhamento
Município-Educação) sociais. de conteúdo no Instagram, por meio de
ferramentas dinâmicas como o TiKTok
e vídeos; criação e compartilhamento
de conteúdo por drive e Linktree;
elaboração de cartilha com todas as
dicas postadas e disponibilização em
site do projeto; envio de e-mail para as
escolas que seriam contempladas com
as dicas desenvolvidas para uso dos
professores e envio aos alunos pela
plataforma das escolas.
Fonte: Dados da pesquisa - 2020.

Percebeu-se a migração das atividades presenciais para o formato online com


vistas a dar continuidade às ações extensionistas no período pandêmico da COVID-
19. Neste sentido, reuniões, visitas, palestras, oficinas, outrora realizadas in loco,
passaram a ser ofertadas de forma remota. Soma-se a isso, o uso de lives para
promoção do conteúdo e alcance do público alvo, produção de material dinâmico
como mapas mentais, Google Forms e vídeos. Essa possibilidade denotou a
diversidade de formatos para disponibilizar conteúdo e estimular a interação.
Segundo Costa et al. (2017), a inovação é agente incentivador de mudança,
criatividade, soluções e gestão empreendedora que, na educação, alavanca a
pesquisa e gera a construção de conhecimento.
Identificaram-se como pontos favoráveis da adaptação das ações durante a
pandemia “O contato com novas aplicações tecnológicas e a forma de reinterpretar e
repensar algumas atividades [...]” (Projeto B); a “Flexibilidade de horário [e] Menor
custo operacional” (Projeto C), fomentando “[...] a possibilidade de desenvolvimento de
diversas atividades entre a equipe, o público a ser servido pelo projeto, bem como com
professores e pesquisadores de outras instituições [...]” (Projeto D).
Essas possibilidades aferiram “Maior dinamicidade e ampliação de alcance das
ações. Aumento da visibilidade das ações para o projeto [...]” (Projeto E), ampliando o
alcance do público alvo (Projeto F) e permitiram também empregar “[...] Melhor uso do
tempo [...]” (Projeto G).

58
Os pontos desfavoráveis indicaram “As demandas urgentes e o pouco tempo
para adaptar os projetos” (Projeto B), o “Distanciamento social” (Projeto C); “[...] a não
execução do projeto in loco [...]” (Projeto D) e ter que “Aprender a usar diversas
ferramentas tecnológicas rapidamente [...]” (Projeto E). Soma-se a isso, a necessidade
de “[...] Possuir várias plataformas e aplicativos [...” (Projeto G). Um dos(as)
coordenadores(as) acredita “[...] que houve a adaptação necessária, o início foi mais
complexo, agora não vejo pontos desfavoráveis” (Projeto F).
Apesar das dificuldades, percebeu-se que foi possível adaptar e desenvolver as
ações de extensão remotamente. Assim, o estímulo à interação e ao aprendizado
através das redes sociais online foi promovido por meio do “público [que] curte e
compartilha posts [...]” (Projeto A); dos “convites de participação, divulgação” (Projeto
B), das “Oficinas, lives abertas” (Projeto C); das “Enquetes [...] stories com conteúdos
interativos, lives com chat ao vivo, respostas às dúvidas pelo direct do Instagram,
postagens dinâmicas com texto e áudio [...]” (Projeto E).
Essa dinamicidade instiga o público alvo a acompanhar e interagir com os
projetos, “Através de orientações realizadas por metodologias dinâmicas possíveis de
serem aplicadas com o uso da tecnologia [...]” (Projeto F). Além disso, percebeu-se a
preocupação em utilizar-se de “[...] legendas das postagens com texto claro e uso de
linguagem descomplicada [...]” (Projeto G), estimulando a construção de diálogos nos
comentários e facilitando a compreensão do conteúdo compartilhado.
Por fim, têm-se as ações inovadoras para aprendizagem e interação com os
conteúdos em redes sociais online, destacando-se: “Palestras online, uso do Google
Forms” (Projeto B), “Planejamento e execução de lives, artes informativas [...],
reuniões e oficinas de forma remota” (Projeto D), “Lives no Instagram e YouTube,
compartilhamento de conteúdo por vídeos, drive, Linktree [...] site, podcast” (Projeto
E), além disso, o “Uso do YouTube para comunicação, compartilhamento de
conteúdos no Instagram [...] como mapas mentais e conceituais, diário de estudos,
vídeos em lettering, post-it e challenges no aplicativo TikTok, compartilhamento do
drive e criação do Linktree e [...] cartilha [...].” (Projeto G).

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A inovação e aprendizagem dos projetos de extensão do DCI/CCSA/UFPB,
ancoradas nas adaptações exigidas pela pandemia da COVID-19, destacaram os
59
ambientes de redes sociais online como propícios para interações sociais acadêmicas
e científicas entre grupos de interesses comuns, através do compartilhamento de
conteúdo em formatos dinâmicos, como as lives, vídeos explicativos e artes,
indicativos de como a extensão universitária se reinventou durante a pandemia. As
redes sociais contribuíram para continuidade das ações extensionistas e possibilitaram
a geração de conteúdo digital em formatos diversos.
Entre as redes sociais online destacaram-se Instagram, Facebook, YouTube,
Twitter, Site e a ampliação de estratégias de interação e compartilhamento com a
utilização do WhatsApp, Linktree e Google Drive. Em relação às ações inovadoras
sobressaíram-se lives, vídeos, YouTube, Linktree e Drive, challenges do TikTok, artes
e vídeos em lettering e conteúdos em podcast, fortalecendo a inovação na forma de
compartilhar conteúdo científico em rede social online.
Ressalta-se a importância de estudos que ampliem a identificação do uso das
redes sociais para inovação e aprendizagem na extensão universitária, de modo que
mais ações inovadoras possam ser descobertas e compartilhadas.

REFERÊNCIAS
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COMMUNICATION AUX LE RENCONTRES DU RÉSEAU INTERUNIVERSITAIRE DE
L'ÉCONOMIE SOCIALE ET SOLIDAIRE, Luxemburgo, 2010. Anais [...]. Luxemburgo:
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Nº 7, de 18 de dezembro de 2018. Estabelece as Diretrizes para a Extensão na
Educação Superior Brasileira e regimenta o disposto na Meta 12.7 da Lei nº
13.005/201, que aprova o Plano Nacional de Educação – PNE 2014-2024 e dá outras
providências. Brasília: Câmara de Educação Superior, 2018.
COSTA, H. K. D. S. et al. Inovação e empreendedorismo como caminhos para novos
modelos de ensino/aprendizagem. Informação & Informação, Londrina, v. 22, n. 3, p.
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FRANZ, H. W.; HOCHGERNER, J.; HOWALDT, J. Challenge Social Innovation:
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em: https://datareportal.com/reports/digital-2020-october-global-statshot. Acesso em:
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MARTELETO, R. M.; SILVA, M. V. P. Redes, campo científico e processos de
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Eduel, 2015. p. 41-58.
60
PRODANOV, C. C.; FREITAS, E. C. Metodologia do trabalho científico [...]. 2. ed.
Novo Hamburgo: Feevale, 2013.
RECUERO, R. Redes sociais na internet. Porto Alegre: Sulina, 2009.
REINERT, M. et al. Rede Social como ferramenta de ensino-aprendizagem em sala de
aula. In: ENCONTRO DA ANPAD, 34., 2010, Rio de Janeiro. Anais [...]. Rio de
Janeiro, 2010.
SILVA, F. S.; SERAFIM, M. L. Redes sociais no processo de ensino e aprendizagem
[...]. In: SOUSA, R. P. et al. (org.). Teorias e práticas em tecnologias educacionais.
Campina Grande: Eduepb, 2016. p. 67- 98.
TOMAÉL, M. I.; ALCARÁ, A. R.; CHIARA, I. G. D. Das redes sociais à inovação.
Ciência da Informação, Londrina, v. 34, n. 2, p. 93-104, maio/ago. 2005. Disponível
em: http://revista.ibict.br/ciinf/article/view/1094. Acesso em: 12 nov. 2020.
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA. Conselho Superior de Ensino, Pesquisa e
Extensão. Resolução nº 61/2014, de 23 de dezembro de 2014. Altera a Resolução nº
09/1993 do CONSEPE, que regulamenta as atividades de Extensão da UFPB e dá
outras providências. João Pessoa: CONSEPE, 2014.
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA. Pró-Reitoria de Extensão. Instrução
Normativa N. 02/2020. Dispõe sobre normas, procedimentos e prazos para a gestão
e realização de Atividades de Extensão enquanto vigorarem as recomendações de
isolamento social no enfrentamento à Pandemia de Coronavírus (Covid-19). João
Pessoa: PROEX/UFPB, 2020.
ZANCANARO, A. et al. Redes sociais na educação a distância: uma análise do projeto
e-nova. DataGramaZero, [S.l.], v. 13, n. 2, abr. 2012.
ZENHA, L. Redes sociais online: o que são as redes sociais e como se organizam?
Caderno de Educação, Pelotas, n. 48, v. 1, p. 9-23, 2014/2016.

61
GT 2
GESTÃO DA INFORMAÇÃO E DO CONHECIMENTO NAS
ORGANIZAÇÕES

62
ALEXANDER WILLIAN AZEVEDO
E-mail: alexander.azevedo@ufpe.br

CONTRIBUIÇÃO DO PENSAMENTO ORIENTAL NA


GESTÃO DO CONHECIMENTO

Resumo: O estudo apresenta uma reflexão do pensamento oriental em relação a gestão do


conhecimento, tendo como base a concepção de teóricos que estudam a relevância dessa prática
gerencial. É apresentado o contexto das origens históricas da gestão do conhecimento reconhecendo
os pressupostos assumidos pelos japoneses e chineses. O percurso metodológico partiu da
necessidade de examinar a gestão do conhecimento presente na conjuntura teórica e documental. O
estudo indicou como principal resultado que a concepção oriental de gestão do conhecimento é
complexos e está atrelada ao processo de criação, transferência e a aplicação do conhecimento nas
organizações, assumindo um conceito resultante das experiências e práticas cotidianas nas
organizações.
Palavras-chave: Gestão do Conhecimento, Pensamento Oriental, Gestão.

Abstract: The study presents a reflection of oriental thinking in relation to knowledge management,
based on the conception of theorists who study the management practice. The context of the historical
origins of recognition recognition management is presented, the assumptions made by the Japanese and
Chinese. The methodological path started from the need to examine the knowledge management
present in the theoretical and documentary conjuncture. The study indicated as a main result that the
oriental conception of knowledge management is complex and is linked to the process of creation,
transfer and application of knowledge in associations, assuming a concept resulting from everyday
experiences and practices in associations.

63
Keywords: Knowledge Management, Oriental Thinking, Management .

1 INTRODUÇÃO

Com o advento da chamada sociedade do conhecimento, atrelada ao que se


denominou como quarta revolução industrial, os estudos da gestão do conhecimento
têm acentuado em debate estimulados sobre o que Capurro (2011) chamou de
indústria do conhecimento. Nesse cenário que foi inserido a concepção de como usar
o conhecimento como ativo intangível e as possibilidades de converte-lo em vantagens
competitivas.
Nessa perspectiva que a gestão do conhecimento (GC) foi desenvolvida no
pensamento oriental com os princípios de orientam na produção de saberes nas
organizações, a partir deste, à produção de produtos e serviços inovadores. Para
entender os fundamentos do conhecimento pensados na gestão do conhecimento,
seus principais teóricos dialogaram com modo oriental da cultura organizacional,
considerando que estudiosos como Nonaka e Takeuchi (1997; 2008), advertiam que
na conjuntura das empresas modernas, até então, estavam desconsiderando a
importância do conhecimento das pessoas e que era preciso defrontar com um novo
paradigma organizacional. Vale destacar que o termo gestão do conhecimento surgiu
inicialmente, como disciplina acadêmica, no trabalho de Nonaka (1991).
Nesse cenário que Nonaka (1994) buscou apresentar que havia diferenças
entre a tradição ocidental e a oriental, ou seja, enquanto ocidente ressaltava a
separação entre sujeito e objeto, os orientais enfatizavam o conhecimento como
sobremodo individual, proveniente das experiências pessoais que não poderiam ser
facilmente explicitadas, já que códigos de linguagens não expressariam
adequadamente as crenças, intuições e valores subjetivos.
As experiências compartilhadas é uma das atividades realizada no convivo
natural das pessoas, exceto nas empresas, onde aparentemente esta atividade que
gera conhecimento precisa ser estimulada, sendo este uma das principais ação da
GC. Em síntese, o conhecimento das pessoas tem uma importância vital para a
competitividade das empresas, conforme Drucker (1993, p.37), já afirmava que a "[...]
questão central do executivo moderno é ser capaz de usar o conhecimento para criar
novos produtos e serviços", e na história da sociedade o conhecimento apresentou
como algo que somente é gerado ou absorvido com a prática do aprendizado.
64
Dentro deste contexto, o presente estudo teve como objetivo principal em
apresentar o contexto histórico e teórico da gestão do conhecimento nos moldes da
tradição oriental. O pensamento oriental revela ensinamentos além do processo de
aprendizagem para execução de trabalhos e a relação com a GC, demonstrando a
importância da criação do conhecimento como fator essencial para êxito de gerar
vantagens competitivas.

2 PERCURSO METODOLÓGICO

O procedimento metodológico adotado foi a pesquisa bibliográfica de natureza


qualitativa e exploratória. Segundo Mintzberg (2003), a pesquisa bibliográfica utiliza
fontes constituídas por material já elaborado, constituído por livros, artigos científicos,
anais de congressos e não se dedica à coleta de dados in natura, ou seja, não se
configura como uma simples transcrição de ideias, pois é explicitado o contexto
histórico visando recuperar a evolução de uma abordagem, que nesse estudo é a GC.
O percurso metodológico constou primeiramente de uma revisão bibliográfica
do termo principal, ou seja, a gestão do conhecimento. Logo após foi feito uma análise
teórica do desenvolvimento e utilização da GC que se aplica pensamento oriental.

3 O PENSAMENTO ORIENTAL E A GESTÃO DO CONHECIMENTO

Com a revolução industrial alterou-se o pensamento, desenvolvimento e as


formas que os trabalhadores artesanais exerceriam suas atribuições, mudando o
ambiente de trabalho e implantando divisão, controle de operações e processos, além
de orientar a produção de acordo com as necessidades do mercado. Praticamente
esse foi o cenário observado pelo teórico escocês do liberalismo econômico Smith
(2009), em sua obra: A riqueza das nações.
Atualmente o principal recurso requisitado pelas organizações é o
conhecimento que segundo Toffler (1995, p. 108), “[...] todos os sistemas econômicos
estão instalados sobre uma base de conhecimento. Todas as empresas dependem da
preexistência deste recurso socialmente constituído”.
Cada vez mais as organizações empresariais inseridas na chamada sociedade
do conhecimento estão tendo a designação de integrar o conhecimento especializado
nas tarefas comum, semeando os “trabalhadores do conhecimento” (NONAKA;
65
TAKECUCHI, 2008). Partindo desse pressuposto e observando êxito da gestão
conhecimento nas organizações governamentais e privadas orientais, a cultura milenar
e o sucesso advindo do método de inovação, aprendizagem, criatividade e motivação
através de condutas apoiadas em pensadores antigos, colaboraram para que GC
torna-se uma prática gerencial requisitada nas empresas ocidentais
Esse modelo esteio da aplicação de preceitos da GC pode ser observado no
livro Arte da Guerra de Tzu (2013), escrito há 2.500 anos, ou nos Analectos de
Confúcio também conhecidos como Diálogos de Confúcio de 500 a.C. (LAU, 2007). Na
atualidade, é apresentado os estudos da motivação humana de Kondo (1994), na
gestão da qualidade de Ishikawa (1993), Deming (1990), Juran (1994), Miyauchi
(1987), na gestão do conhecimento, Nonaka e Takecuchi (1997; 2008), Nonaka e
Konno (1998).
A GC é definida como aquilo que as empresas fazem para tirar o máximo
proveito dos recursos do conhecimento, incluindo o conhecimento explícito e tácito. A
literatura especializada em GC aponta que o sucesso atual do oriente na guerra
mercadológica com produtos de alta qualidade e valor agregado, é reflexo das bases
plantadas no passado que propiciaram o sucesso da GC.
O pensamento oriental referenciado nesse estudo está basicamente
relacionado ao chinês e japonês, ou seja, os limites geográficos discutido traz a luz
civilizações e suas influências culturais milenar (FIORI, 2007).
Devido à dificuldade linguística de tradução e interpretação de textos, um
pequeno número de obras atribuídas à antiguidade do mundo oriental e sua forma
compreensão do conhecimento chegou tardiamente ao ocidente, confrontando as
diferenças culturais do pensamento ocidental judaico-cristão (GRANET, 1997).
Na tradição chinesa, os monges taoístas e confucionista entendiam que o
propósito do conhecimento era o autoconhecimento, ou seja, deveria ser usado para o
crescimento pessoal, autossatisfação, educação, sabedoria de levar as pessoas ao
aprendizado individual.
Esse pressuposto cultural contribuiu para o desenvolvimento oriental na
atualidade, onde a educação e conhecimento são elementos centrais do sucesso das
organizações (privadas e públicas), que corroborou para China ser a segunda potência
econômica mundial, com maior crescimento econômico do mundo e o Japão a terceira
economia mundial, líder nas áreas de pesquisa científica, médica e no
66
desenvolvimento tecnológico, de acordo com ranking da economia mundial 2019,
divulgado pelo banco mundial (TWB, 2020).
Nesse prisma, abordaremos os aportes históricos e teóricos chinês e japonês
para a base da gestão do conhecimento compreendida na atualidade

4 A GESTÃO DO CONHECIMENTO NO CONTEXTO CHINÊS

A ascensão no desenvolvimento econômico da China aliado à tendência da


globalização e suas relações comerciais entre os países ocidentais e orientais nas
últimas décadas tem atraído a atenção tanto de pesquisadores no discurso
acadêmico, quanto no discurso profissional sobre os possíveis efeitos do êxito de suas
organizações com a prática da gestão do conhecimento.
A China apresenta-se na atualidade como um novo ator com poder econômico,
político e militar capaz de influenciar a geopolítica mundial pós-queda da União das
Repúblicas Socialistas Soviéticas (FIORI, 2007). Nesse prisma, existe uma
característica peculiar e inovador na cultural chinesa no contexto organizacional: o
“guanxi”, que se refere as conexões sociais, empresariais e organizacionais em rede
buscando alcançar vantagem competitivas. No estudo sobre o guanxi são encontradas
diversas abordagens de análise e uma delas é GC.

Figura 1: Representação guanxi em mandarim

Fonte: Dados do estudo (2020).

A dinâmica do guanxi tem relação direta com a gestão do conhecimento, pois


permite que conhecimento seja gerado, compartilhado/e ou socializado em empresas
chinesas, buscando promover o aprendizado, a confiança pessoal e melhorar o
desempenho empresarial (FU; TSUI; DESS, 2015).
Autores como Child e Tse (2001), Yang e LI (2008), Perks, Kahn e Zhang
(2009) destacam que o “guanxi” influência positivamente a integração e socialização

67
do conhecimento organizacional entre pessoas e departamentos de empresas para
geração de pesquisa e desenvolvimento de novos produtos e serviços. Assim,
percebe-se a importância desta construção cultural para o mercado chinês,
considerando a inovação que o guanxi pode proporcionar.
Desta forma, as empresas chinesas visam compreender e utilizar o guanxi para
ganhar vantagem competitivas sobre os concorrentes na geração de conhecimento,
bem como no gerenciamento desse ativo intangível. De acordo Peng e Luo (2000), o
guanxi por tratar-se de relações ou conexões sociais com base em interesses e
benefícios mútuos, as relações entre pessoas acontecem em ambientes recíprocos
para troca de conhecimento.
Assim, existe uma necessidade de aprofundamento de estudos sobre o guanxi
e sua relação com gestão do conhecimento entendimento no ocidente, visando
absorção dos aspectos teóricos e metodológicos ainda pouco compreendidos.

5 GESTÃO DO CONHECIMENTO NO PENSAMENTO JAPONÊS

A abordagem japonesa sobre os conceitos da gestão do conhecimento


distingue fundamentalmente do ocidente que é orientado nas tecnologias de
informação. A GC tem em sua base conceitual significativamente influenciada na
cultural japonesa que se torna, em muitos casos, de difícil compreensão por meio da
linguagem ocidental utilizando termos claros, objetivos e sem ambiguidades.
Como supracitado, a gestão do conhecimento tem diversas abordagens,
metodologias e técnicas, entretanto, os especialistas em GC japoneses destacam que
as pessoas são detentoras e criadoras do conhecimento, ou seja, são responsáveis
por gerar inovação a partir dos espaços de compartilhamento.
A concepção de espaços de compartilhamento do conhecimento, conhecido
como “Ba”, foi originalmente proposto pelo filósofo japonês Nishida (1970) e
desenvolvido por Shimizu (1995), e pode ser traduzido para o português como “lugar”,
introduzido na GC por Nonaka e Konno (1996).
Segundo Nonaka e Konno (1998) o “Ba” é um espaço/lugar partilhado para a
emergência de relações individuais e organizacionais. Esse espaço poderá ser físico
como um escritório ou outros local de trabalho, e mental a partir de experiências
compartilhadas ou a combinação dos dois. Para os autores, o diferencia da pratica do
Ba são as interações humanas buscando a criação de conhecimento.
68
O Ba dentro de uma perspectiva ocidental, é lugar/espaço compartilhado
carregado de significado que integra trocas de dados, de informação requisitada, de
opinião, de colaboração mobilizados por um propósito comum em vista de converge
em conhecimento.
Sob esta perspectiva, Nonaka e Konno (1998) relatam que não há criação sem
lugar, ou seja, o conhecimento não pode ser separado do “Ba”, pois, do contrário,
torna-se informação. Portanto, existem quatro tipos de "Ba" e cada um deles
corresponde a uma etapa do modelo SECI, que são: (1) socialização; (2)
externalização; (3) combinação e (4) internalização. A conversão dos conhecimentos
parte de quatro modos como demonstrado na Figura 2.
Tratando das quatro etapas do modelo SECI, é possível observar o BA em
diferentes singularidades: sua emergência, a socialização que fornece, a interação
sistemática que permite e, finalmente, o efeito como agente para internalização do
conhecimento. O BA associa dos componentes tácito onde as experiências,
sentimentos, emoções, e as imagens mentais são compartilhados.
O BA oferece no contexto para a socialização um espaço para os indivíduos
transcenderem seus limites dentro de um amplo espectro de suas capacidades que
envolve o cuidado, o amor, a confiança e a responsabilidade, e além dessa relação
interindividual, existe uma relação coletiva que se abre para as práticas, os valores, os
processos, a cultura e o clima que serão compartilhados (NONAKA; TEECE, 2001).

FIGURA 2: Modelo SECI – Espiral do conhecimento

Fonte: Nonaka e Konno (1998)

69
Na fase da externalização, segundo Nonaka e Takeuchi (2008) é a articulação
do conhecimento tácito em conceitos explícitos, na medida em que o conhecimento
tácito se torna explícito (tácito para explícito) expresso por meio de metáforas,
analogias, conceitos, hipóteses ou modelos.
Já a combinação, tem como princípio a padronização do conhecimento, em
manuais ou guias de trabalho e incorporá-lo a um produto (explícito para explícito). A
internalização, conforme se verifica no espiral do conhecimento, ocorre quando novos
conhecimentos explícitos são compartilhados na organização e outras pessoas
começam a utilizá-los para aumentar, estender e reenquadrar seu próprio
conhecimento tácito (explícito para tácito) (NONAKA; TAKEUCHI, 1997).
Para Nonaka e Takeuchi (2008), nas organizações o conhecimento pode ser
explícito e tácito, indicando o interesse dos autores orientais pelo modelo proposto por
Polanyi (1958; 1966). O conhecimento explícito é formal, sistemático e objetivo,
podendo ser manifesto em palavras, números ou sons e compartilhado na forma de
dados, fórmulas científicas e recursos visuais, entre outras formas.
Já o conhecimento tácito está relacionado a ações pessoais, indutiva e
circunstancial, “enraizado nas ações e na experiência corporal do indivíduo, assim
como nos ideais, valores ou emoções que ele incorpora” (NONAKA e TAKEUCHI,
2008, p. 19).
O conhecimento tácito e explicito apesar das diferenças conceituais, Nonaka e
Takeuchi (2008) compreendem que ambas podem interagir entre um e outro, ou seja,
o conhecimento tácito precisa ser convertido em explícito para que seja validado e
transformado e gerar inovação almejado pelas organizações. Assim, na abordagem
oriental o conhecimento representa um ativo sensível e valioso para organização, pois
permitem combinar e converter experiências em conhecimentos.
Para Nonaka e Takeuchi (2008) existem duas dimensões da criação do
conhecimento: uma epistemológica, na qual se encontram o conhecimento explícito e
o conhecimento tácito; a outra ontológica, cuja premissa é que o conhecimento só
pode ser criado pelo indivíduo, para então ser sucessivamente ampliado pela rede de
interações, podendo tornar-se caracterizada como grupal, organizacional ou
interorganizacional.
Nessa perspectiva é possível observar que o conhecimento é o elemento
essencial como fonte de vantagem competitiva que necessita ser gerenciado nas
70
organizações na visão japonesa, referendando o pressuposto de que o conhecimento
existente nas pessoas é um recurso indispensável pelas organizações que tem
recebido investimentos como capital intelectual.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

No contexto apresentado do pensamento chinês e japonês, destacou-se a


valorização do conhecimento como uma cultura organizacional que permitiu que
ambas nações gerassem espaços de redes, transferências e aplicação do
conhecimento articulando os princípios da gestão do conhecimento.
Ao retomar o pensamento oriental na GC, buscou-se o guanxi e SECI como
possíveis modelos dinâmicos que descrevem as formas de como ocorre o
conhecimento compreendido quando se leva em consideração as abordagens
contemporâneas realizadas pela gestão que repensou os modos da produção e do
trabalho e, por extensão, o papel do conhecimento.
Hoje o principal recurso organizacional tem como base o conhecimento que no
pensamento oriental deixa evidente que por si só não produz inovação, tornando um
elemento ou ação gerenciada quando é integrado a um processo, produto ou
procedimento estratégico.

REFERÊNCIAS

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ADELAIDE HELENA TARGINO CASIMIRO


E-mail: adelaide_helena@hotmail.com
JOSÉ DOMINGOS PADILHA NETO
E-mail: neto-padilha@hotmail.com

GESTÃO DO CONHECIMENTO DURANTE A PANDEMIA DE SARS-


COV-2: ANÁLISE DA LITERATURA NA BIBLIOTECA VIRTUAL DE
SAÚDE

RESUMO: Esta pesquisa objetiva analisar os artigos presentes na BVS sobre GC e caracterizá-los
quanto aos autores, palavras-chave e as tendências de estudos. A literatura científica aborda vários
exemplos da aplicação da GC nas organizações públicas, entre as quais podemos destacar as
organizações da saúde pública. A área de saúde humana não é restrita aos cuidados diretos nesta
espécie, mas sim, toda a conjuntura política, social, organizacional e individual que envolve este
humano. É um estudo com objetivos exploratório e descritivo, que utilizou a bibliografia como principal
fonte de dados, uma coleta Bibliométrica e sua abordagem é qualitativa e quantitativa. O principal
instrumento para coleta e análise dos dados foi o Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and
Meta-Analyse (PRISMA). As buscas ocorreram no período entre 13 a 15 de outubro de 2020 na
Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), onde recuperamos 16 artigos pertinentes a este estudo. Os
resultados apontam que os autores formam parcerias para publicação de um artigo sobre GC e saúde e
em seguida essa relação é dissolvida; também, indicam a interdisciplinaridade que a GC agrega ao
conhecimento científico, bem como seu potencial de aplicabilidade em outras áreas além da Ciência da
Informação, em especial aquelas ligadas à saúde humana como medicina, enfermagem, odontologia,
psicologia, entre outras.

Palavras-chave: Gestão do Conhecimento; Biblioteca Virtual de Saúde; COVID-19; SARS-CoV-2.

73
Abstract: This research aims to analyze the articles present in the VHL on KM and characterize them as
to the authors, keywords and study trends. The scientific literature addresses several examples of the
application of KM in public organizations, among which we can highlight public health organizations. The
area of human health is not restricted to direct care in this species, but rather, the entire political, social,
organizational and individual context that involves this human. It is a study with exploratory and
descriptive objectives, which used the bibliography as the main source of data, a Bibliometric collection
and its approach is qualitative and quantitative. The main instrument for data collection and analysis was
the Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyze (PRISMA). The searches took
place from October 13 to 15, 2020 at the Virtual Health Library (VHL), where we retrieved 16 articles
relevant to this study. The results show that the authors form partnerships to publish an article on KM
and health and then this relationship is dissolved; they also indicate the interdisciplinarity that KM adds to
scientific knowledge, as well as its potential for applicability in areas other than Information Science,
especially those related to human health such as medicine, nursing, dentistry, psychology, among
others.

Keywords: Knowledge Management; Biblioteca Virtual de Saúde; COVID-19; SARS-CoV-2.

1 INTRODUÇÃO

Paralelamente aos estudos acadêmicos sobre a Gestão do Conhecimento (GC),


que cresceram exponencialmente após o seu surgimento no contexto científico, as
empresas passaram a considerar as contribuições da academia e investiram, também,
em iniciativas de GC, atribuindo empiricidade às teorias e proposições nascidas no
campo científico e resultando em um feedback aos pesquisadores, que retroalimentam
tais respostas em novas pesquisas, gerando um ciclo contínuo de experimento e
vivência, por meio da teoria e prática da GC nos diversos âmbitos organizacionais
(CORRÊA et al, 2017).
A pesquisa científica, enquanto instrumento humano que se destina à promoção
do autoconhecimento da espécie e a disseminação de conhecimentos que contribuam
com a evolução da vida em sociedade, também desempenha o papel determinante de
atuar na gerência de crises com o intento de sanar os problemas que acorrem à vida
social.
Neste enquadramento, o mundo se viu, no ano de 2020, acometido por uma
grande crise humanitária e de saúde pública, que foi a pandemia de SARS-CoV-2
(nome oficial do vírus, que significa severe acute respiratory syndrome coronavirus 2
ou síndrome respiratória aguda grave de coronavírus 2), e as instituições científicas se
viram obrigadas a mobilizar estudos que venham a sanar tal problema, criar
mecanismos que auxiliem a sociedade a se adaptar a essa nova realidade, bem como
amparar os profissionais que trabalham diretamente com a realidade pandêmica em
organizações da saúde.

74
A exemplo dos estudos que podem contribuir para essa nova realidade no
âmbito organizacional, sobretudo nas organizações de saúde, que atuam diretamente
com a problemática exposta, temos os estudos sobre a GC, que possuem o intento de
criar mecanismos que promovam a criação, internalização e compartilhamento de
conhecimentos individuais em nível organizacional, que venham a contribuir com o
desenvolvimento do capital intelectual, resultando em uma eficácia dos serviços de
combate à pandemia por estas organizações.
Dessa forma, foi feita a seguinte indagação: nos artigos de periódicos
indexados na Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), quais as tendências de estudos
em GC estão sendo utilizadas na área de saúde? Para responder esta
problemática, objetivamos analisar os artigos presentes na BVS sobre GC e
caracterizá-los quanto aos autores, palavras-chave e as tendências de estudos.

2 A GESTÃO DO CONHECIMENTO E A SAÚDE PÚBLICA

O presente trabalho adota uma perspectiva voltada exclusivamente para a GC,


todavia, para compreendermos os estudos desta disciplina sob o prisma da CI, é
preciso resgatar os primórdios dos estudos sobre a GI na área, tendo em vista que a
CI aborda tais disciplinas de forma integrada.
Sendo assim, os estudos sobre GI tiveram o seu início a partir da criação do
conceito de Gerência de Recursos Informacionais (GRI) por Robert S. Taylor, na
década de 1960. Este conceito ganha notoriedade na década de 1980 com a adoção
da PRA/1980 (Paperwork Reduction Act) pela Federal Paperwork Comission dos EUA,
dando início, assim efetivamente, aos estudos sobre a informação como um recurso
organizacional, cujo ciclo de vida poderia ser gerenciado de forma integrada às
decisões estratégicas da organização (BARBOSA, 2008).
Desde o seu surgimento, a GI passou por consideráveis evoluções em suas
aplicações práticas e em seu campo de estudos, tendo Gonçalves e Araújo (2013), de
acordo com a bibliografia produzida na CI e áreas afins, dividido tais avanços em
quatro gerações, sendo para este trabalho a mais relevante a quarta geração, ou a
geração da GC.
Prusak (2001), observa três causas à época que levaram ao surgimento e
necessidade de uma GC nas organizações, sendo elas: a globalização, a onipresença
75
da computação e a visão da empresa centrada no conhecimento. Este momento de
transição paradigmática entre modelos de gestão, que conduziu o rumo das
organizações à adoção de uma nova gestão organizacional centrada no conhecimento
de seus indivíduos como insumo estratégico para a obtenção de vantagem
competitiva, se caracteriza como um marco à época para as organizações e para a
ciência, levando ao início dos estudos sobre a GC por diversas áreas do
conhecimento.
O crescimento rápido dos estudos sobre GC levou a disciplina a ser
considerada como modismo por parte da comunidade científica da época de seu
surgimento. Barbosa (2008), ao mencionar os resultados de pesquisa dos estudiosos
Ponzi e Koenig (2002), que mensurava o crescimento dos estudos sobre a GC nos
anos de 1996 a 2001, apontava para uma quebra dessa crença que se tinha acerca do
objeto de estudo como um modismo, bem como apontava as principais áreas do
conhecimento que dispunham dos maiores números de publicações. O autor alega
que em 1996 os artigos sobre GC apareciam apenas em publicações das áreas de
Ciência da Computação, Administração e Negócios, no entanto, a partir de 1999, eles
passaram a ser encontrados também nas áreas de Engenharia, Psicologia, Energia,
Ciências Sociais, Pesquisa Operacional, Planejamento e Desenvolvimento,
Biblioteconomia e, finalmente, CI.
Assim como distintas áreas do conhecimento se apropriaram da GC como
objeto de estudo, demonstrando assim, a sua natureza interdisciplinar, ela também
passou a ser aplicada a contextos organizacionais distintos, que não se resumiam
apenas ao modelo privado. A literatura científica aborda vários exemplos da aplicação
da GC nas organizações públicas (que não visam lucro financeiro), a dizer das
organizações da saúde.

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Este é um estudo com objetivos exploratório e descritivo, abordagem qualitativa


e quantitativa, que utilizou a bibliografia como principal fonte de dados, este sendo
indicado por Lakatos e Marconi (2017) como um tipo de pesquisa documental indireta
que permite a interpretação crítica de determinado material. Em consonância com esta

76
fonte, utilizamos a coleta Bibliométrica como uma técnica que permite inferir
estatisticamente a bibliografia científica sobre determinado tema.
O principal instrumento para coleta e análise dos dados foi o Preferred
Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyse (PRISMA) ou em tradução
livre os Itens principais de relatório para revisões sistemáticas e meta-análises. A
recomendação PRISMA consiste em uma lista de checagem com 27 itens que quanto
mais for seguida, maior confiabilidade metodológica agrega a pesquisa. Quem utiliza a
revisão sistemática se beneficia ao entrar em contato com uma pesquisa menos
sujeita a vieses e que pode apresentar estimativas mais próximas da verdade
(GALVÃO; PANSANI, 2015). No que concerne a seleção dos trabalhos, apresentamos
na Tabela 1.

Tabela 1: Resultados na BVS


E xc l usã o Ex cl us ã o E xc l usã o
Te rmos de bus c a Re s ul ta dos S el eç ã o
(dupl i c a ta ) (ti po) (pe rti nê nc ia )
"Gestão do
conhecimento" AND 4
coronavírus
"Knowledge
management" AND 14
coronavirus
Gestão do 36 24 44 16
conhecimento AND 25
coronavírus
Knowledge
management AND 77
coronavirus
To ta l 1 20
Fonte: Dados da pesquisa, 2020.

As buscas indicadas na Tabela 1, ocorreram no período entre 13 a 15 de


outubro de 2020 na Biblioteca Virtual de Saúde. Esta fora escolhida tendo em vista
sua relevância para a área de medicina à nível nacional e internacional, além de
abrangerem outras áreas do conhecimento correlatas como enfermagem, psicologia,
fisioterapia, entre outras; possuir extenso acervo e ter seu conteúdo com acesso
aberto, que facilitou a leitura e download dos artigos pertinentes.
Os termos de buscas utilizados foram: "Gestão do conhecimento" AND
coronavírus, "Knowledge management" AND coronavirus, Gestão do conhecimento
AND coronavírus, e, Knowledge management AND coronavirus. As aspas foram

77
utilizadas para dar maior precisão aos resultados. A julgar a multiplicidade de idiomas
que a respectiva base indexa, utilizamos os termos em português e inglês. Um critério
de exclusão aplicado foi de que apenas artigos de periódicos foram elegíveis, tendo
em vista que este é o formato mais utilizado pelos pesquisadores em razão da rapidez
da divulgação com os pares. (MARCONI; LAKATOS, 2017)
Inicialmente foram recuperados 120 trabalhos, após a exclusão de duplicatas
(36 artigos que apareceram mais de uma vez) e de 24 que não eram artigos de
periódicos, foram identificados que 16 destes possuíam pertinência com o escopo
deste trabalho, formando nossa amostra. Portanto os resultados apresentados neste
artigo, são um recorte da literatura sobre o tema.

4 RESULTADOS E ANÁLISES DOS DADOS

Os 16 artigos que serviram como insumo para este estudo, tiveram 58 autores e
apenas um deles voltou a trabalhar o assunto. Barry Robson (Royal Society of
Medicine, Reino Unido) foi autor dos artigos publicados em 2020 “The use of
knowledge management tools in viroinformatics: example study of a highly conserved
sequence motif in Nsp3 of SARS-CoV-2 as a therapeutic target” e “Computers and
viral diseases: preliminary bioinformatics studies on the design of a synthetic vaccine
and a preventative peptidomimetic antagonist against the SARS-CoV-2 (2019-nCoV,
COVID-19) coronavirus”, ambos publicados na renomada revista Computers in Biology
and Medicine, este periódico também é o único que aparece mais de uma vez nesta
amostra. Podemos perceber as relações de autoria e colaboração entre os 58 autores
na Figura 1.

Figura 1: Relações de coautoria

78
Fonte: Dados da pesquisa, 2020.

Utilizamos o aplicativo VOSviewer, para ilustrar as relações entre os autores de


um texto e a destes com os demais autores da temática. Com isto, percebemos que
nesta amostra não são formadas redes de cooperação para desenvolvimento de
pesquisas na área. O que ocorre são parcerias de coautorias para publicação de um
artigo na temática, e em seguida essa parceria é dissolvida e/ou os pesquisadores
mantêm seus esforços em outros campos científicos. O resultado apresentado na
Figura 1 é um fenômeno comum, observado quando se analisa redes de coautoria,
contudo ao se analisar uma amostra maior tais relações possivelmente apresentem
configurações diferentes.

Figura 2: Palavras-chave incidentes

79
Fonte: Dados da pesquisa, 2020.

A Figura 2 foi desenvolvida tendo por base o vínculo entre as 76 palavras-chave


indicadas nos textos, gerando 109 conexões. Nela é possível perceber uma relação
central dos termos Coronavirus, COVID-19, Humanos e Knowledge (tradução de
conhecimento), indicando que estas são as palavras-chaves relevantes para a
temática e possuem conexões fortes entre si e com as demais. Por outro lado, temos
as palavras-chave biomedical research, peer review e Covid-19 pandemic, que não
possuem vínculos com os três termos centrais e, portanto, podemos inferir que foram
resultados de trabalhos isolados dentro da amostra estudada.
Após a coleta e análise dos dados bibliométricos, foi realizada a leitura integral
dos 16 artigos que compõem o escopo deste trabalho, de modo que identificamos que
14 foram escritos originalmente no idioma inglês e dois em português. Bem como,
percebemos alguns pontos de convergência entre as técnicas que envolvem a GC e o
atual cenário de pandemia.
Os autores Agarwal et al. (2020); Amestoy (2020); García-Gil e Velayos-Amo
(2020); Renjun et al. (2020) indicam que é preciso que todos os envolvidos direta ou
indiretamente com situação tenham preparo psicológico prévio para que possam lidar
diretamente com uma crise sanitária como a do Covid-19, ou seja, ter inteligência
emocional é imprescindível quando passamos por momentos críticos, para os
enfermeiros e médicos que estão diretamente em contato com pacientes com Covid-
19, isso se torna ainda mais importante. A GC é indicada para que o líder auxilie sua
equipe na gestão de emoções, colaborando com um ambiente agradável e
minimizando o desgaste de todos. Entre as práticas indicadas estão: cultivo de
pensamentos positivos, meditação, cuidados com a saúde física e distanciamento de
informações excessivas sobre a pandemia.

80
Já os autores Carley, Horner, Body e Mackway-Jones (2020); Coutinho e
Padilla (2020) demonstram que as informações que chegam para aqueles que lidam
diretamente com pacientes com Covid-19 são inúmeras e, as vezes, conflitantes,
gerando um aumento da carga de trabalho por destes (GONZÁLEZ-AGUÑA et al.,
2020). Por outro lado, durante uma crise sanitária é imprescindível que, não apenas os
profissionais da área, como a população em geral compreenda os protocolos de saúde
pública e tenham meios de aplicá-los no dia-a-dia. Portanto, cabe aos líderes
governamentais, políticos e institucionais (HANNEY et al.) orientarem corretamente e
seguirem os protocolos adequados para evitarem o aumento de casos tendo em vista
o fácil contágio (Mahomed, 2020; Putrino et al., 2020).
Um outro ponto de convergência entre os autores, é de que a tecnologia é
fundamental em todo o processo relacionado à Covid-19, desde a detecção de casos
até a elaboração de vacinas. Kassaye et al. (2020) criaram um sistema que pode
auxiliar nesse rastreio de casos, Fusco et al. (2020) indicaram a aplicação de
blockchain e de inteligência artificial para a contenção do risco de novas “ondas” de
Covid-19, Robson (2020a; 2020b) usou a GC com inteligência artificial na descoberta
do genoma do Covid-19, e, por fim, Wexner, Hoyt e Cortés-Guiral (2020); Yan, Zou e
Mirchandani (2020) avaliaram que apenas pelo uso da GC o gestor conseguiu instituir
uma nova cultura organizacional para tornar mais rápida a comunicação entre
funcionários de um hospital.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O desenvolvimento deste trabalho ajuda na percepção da interdisciplinaridade


que a Gestão do Conhecimento agrega ao conhecimento científico, bem como seu
potencial de aplicabilidade em outras áreas além da Ciência da Informação, em
especial aquelas ligadas à saúde humana como medicina, enfermagem, odontologia,
psicologia, entre outras. Tivemos como resultado uma percepção da afinidade de
assuntos desenvolvidos entre os 16 artigos pertinentes.
Como limitação do trabalho é importante indicarmos que a pesquisa foi
desenvolvida durante a crise sanitária, e que, portanto, outros estudos serão
elaborados e publicados nos anos seguinte, indicando que a GC poderá ser abordada
e aplicada por outros vieses, sendo melhorada a cada novo estudo.

81
Concluímos este artigo com a convicção de que o objetivo proposto foi
alcançado e a problemática respondida, sem, no entanto, com a intenção de esgotar o
tema, mas sim, trazer à luz da ciência um conteúdo que viabilizará novas pesquisas,
de modo a indicar ao leitor os principais autores e textos disponíveis na literatura
científica sobre GC e a atual crise sanitária decorrente da pandemia de SARS-CoV-2.

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BÁRBARA CARVALHO DINIZ


E-mail: dinizbarbara6@gmail.com
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ALZIRA KARLA ARAÚJO DA SILVA
E-mail: alzirakarlaufpb@gmail.com
ELAINE CRISTINA DE BRITO MOREIRA
E-mail: elainemoreir@gmail.com

GESTÃO DE DOCUMENTOS DIGITAIS NA GESTÃO DA


INFORMAÇÃO JURÍDICA
Resumo: Ressalta a importância e o impacto da gestão de documentos arquivísticos digitais para uma
efetiva gestão da informação do Sistema de Processo Judicial Eletrônico, do Tribunal Regional do
Trabalho da 13ª Região. Objetiva analisar a existência da gestão documental no sistema do referido
Tribunal, por meio do e-Arq Brasil. Metodologicamente, classifica-se como uma pesquisa exploratória e
descritiva, documental e de campo e faz uso de entrevista como técnica de coleta de dados. Os
resultados são demonstrados por meio de quadros comparativos e analisados com base na análise de
conteúdo. Conclui que o sistema apresenta aspectos positivos nas ações iniciais da gestão de
documentos, porém, as fases de avaliação, destinação e eliminação de documentos, não é cumprida,
ocasionando acúmulo de massa documental que pode prejudicar as etapas e fluxo informacional do
sistema, comprometendo o julgamento processual e a perda de memória organizacional.

Palavras-chave: Gestão de documentos arquivísticos digitais; Gestão da Informação; Processo Judicial


Eletrônico; Tribunal Regional do Trabalho 13ª Região.

Abstract: It emphasizes the importance and the impact of the management of digital archival
documents for an effective information management of the Electronic Judicial Process System, of the
Regional Labor Court of the 13th Region. It aims to analyze the existence of document management in
the system of that Court, through e-Arq Brasil. Methodologically, it is classified as exploratory and
descriptive, documentary and field research and uses interviews as a data collection technique. The
results are demonstrated through comparative tables and analyzed based on content analysis. It
concludes that the system presents positive aspects in the initial actions of document management,
however, the phases of evaluation, destination and elimination of documents, is not fulfilled, causing
accumulation of documentary mass that can harm the stages and information flow of the system,
compromising the procedural judgment and loss of organizational memory.

Keywords: Management of digital archival documents; Information management; Electronic Judicial


Process; Regional Labor Court of the 13th Region.

1 INTRODUÇÃO

O poder judiciário brasileiro vem buscado alternativas para que a justiça seja
mais célere e eficiente, visto o congestionamento processual existente. Desta forma, o
Conselho Nacional de Justiça (CNJ) criou, em parceria com alguns tribunais, o
software do Sistema de Processo Judicial Eletrônico (PJe), constituindo-se uma
solução para a padronização da gestão e tramitação de processos judiciais eletrônicos
nos tribunais do país (BRASIL. CONSELHO..., 2010).
Nesse contexto, a Gestão da Informação (GI) além de tratar a informação
registrada em todas as etapas, tem por intuito promover a obtenção de conhecimento

84
adquirido tanto pelas pessoas que trabalham e consultam os documentos na unidade,
bem como pela organização que detém tal patrimônio informacional (GRÁCIO, 2012).
Sabe-se que os documentos arquivísticos são essenciais para obtenção de
informação e de conhecimento, que propiciam valor às organizações, sendo uma
premissa básica da gestão da informação. Admite-se que a gestão de documentos
deve ocorrer não apenas em meio físico, mas é essencial no meio digital para
preservar as características do documento e as informações nele contidas.
O Sistema PJe se destaca enquanto ferramenta indispensável para o
gerenciamento, tramitação e armazenamento dos processos judiciais dos tribunais de
justiça brasileiros, que o adotaram como solução eletrônica processual, e que a gestão
de documentos digitais e a gestão da informação são mecanismos eficazes e
intrínsecos para o adequado armazenamento, busca, recuperação, uso,
compartilhamento e preservação de processos.
O estudo analisa a existência da gestão documental no sistema PJe do Tribunal
Regional do Trabalho (TRT) da 13ª Região, por meio do documento e-Arq Brasil. Para
tanto, aborda a importância da gestão de documentos como base para gestão da
informação; realiza pesquisa documental e de campo sobre gestão documental em
meio digital no sistema PJe; e compara a existência e o cumprimento dos principais
requisitos da gestão de documentos digitais do e-Arq Brasil em relação ao sistema
PJe.
Este resumo expandido está dividido em introdução, gestão de documentos
digitais e gestão da informação no poder judiciário, procedimentos metodológicos,
apresentação dos resultados, e considerações finais e referências.

2 GESTÃO DE DOCUMENTOS DIGITAIS E GESTÃO DA INFORMAÇÃO NO


PODER JUDICIÁRIO
Os documentos arquivísticos detém informação orgânica registrada, que de
acordo com Rosseau e Coutore (1998), é aquela que decorre das atividades e funções
das instituições, ou seja, elaboradas, enviadas e/ou recebidas pela organização.
Assim, originam o arquivo institucional, independente do suporte ou idade documental.
Partindo desta perspectiva e considerando o crescimento e a consolidação das
informações e documentos em formato digital, Flores, Rocco e Santos (2016) afirmam
que as tecnologias da informação e comunicação transformaram o meio de
armazenamento da informação e os documentos em uma questão autêntica no meio
85
digital e na preservação do acervo arquivístico, bem como no acesso à informação.
Desta forma, o tratamento dos documentos acompanha a evolução digital.
Considerando os estudos a respeito da gestão da informação e sua relação
com a gestão dos documentos arquivísticos, percebe-se que o percurso que vai do
tratamento da informação ao seu armazenamento. Consequentemente, o acesso
rápido e preciso, requer a criação de um sistema tecnológico que possibilite a gestão
eficaz e o controle de entrada e saída dos documentos ou a permanência de tais
documentos no sistema.
Quando relacionado a processos jurídicos, informatizar os documentos tornou-
se uma necessidade emergente e essencial para gestão de arquivos e da informação.
“A trajetória do processo de informatização arquivística nas instituições judiciárias vem
sendo construída, praticamente através de ações mais práticas”. (SOUZA NETO,
2014, p. 103).
Os documentos jurídicos têm uma especificidade no que se refere a acesso e
sigilo. Desta maneira, criar um sistema eletrônico que gerencie os processos e
possibilitem o armazenamento e acesso à informação de forma diferenciada e segura
é um fator primordial para a gestão da informação e a gestão documental. 
Neste contexto, “os arquivos são extremamente relevantes no processo de
construção da memória coletiva, uma vez que nele estão registros de fatos e
acontecimentos passados”, construídos socialmente. (CASTELLINI, 2017, p. 46). A
introdução e evolução das ferramentas de tecnologia da informação no campo
pragmático arquivístico incitou a produção de documentos digitais com a finalidade de
viabilizar a criação, edição, exclusão, difusão e acesso as informações registradas nos
ambientes digitais, que resultou na rápida disseminação da informação. (SANTOS;
FLORES, 2018, p. 32)
A gestão da informação arquivista possibilita um planejamento estratégico e
estrutural para digitalização de documentos em sistemas informatizados com base em
políticas institucionais de preservação, memória e descartes. Assim, a existência da
gestão de documentos arquivísticos em meio digital nos sistemas judiciários é
essencial para gerenciar a informação de forma integrada e eficiente no cumprimento
das etapas de gerenciamento por meio das tecnologias.

3 METODOLOGIA
86
A pesquisa caracterizou-se quanto aos objetivos como exploratória e descritiva,
do tipo documental e de campo e com abordagem qualitativa, utilizando-se da análise
de conteúdo como técnica de análise de dados.
Na fase exploratória envolveu levantamento bibliográfico e realizou entrevista
para melhor compreensão do objeto investigado (PRODANOV; FREITAS, 2013). O
levantamento de literatura explorou os temas gestão de documentos arquivísticos
digitais, gestão da informação e sistema de processo judicial eletrônico. Já a entrevista
realizou-se com um membro da Comissão Permanente de Avaliação e Destinação de
Documentos (CPAD) do TRT 13ª Região.
Na fase descritiva os fatos sobre o objeto foram observados, descritos, classificados e
interpretados sem interferência do pesquisador na situação (ANDRADE, 2010). O
estudo descreveu as funções do sistema em relação à gestão de documentos e as
necessidades e observações relatadas pelo entrevistado.
A pesquisa documental permitiu examinar as fontes de informação primária
(GIL, 2002) sobre o PJe, tais como resoluções, cartilhas e manuais sobre o sistema e
a gestão de documentos no poder judiciário. Em campo obteve-se informações sobre
o problema o qual se desejava obter uma resposta, solução ou validar uma hipótese
(PRODANOV; FREITAS, 2013). Por isso, além do levantamento da literatura, foi-se ao
campo de pesquisa que consistiu no Fórum Trabalhista Maximiano Figueiredo – TRT
13ª Região, localizado na cidade de João Pessoa, para verificar e visualizar o que
ocorria no ambiente e objeto estudado.
A abordagem qualitativa por trabalhar “[...] com um universo dos significados, motivos,
das aspirações, das crenças, dos valores e das atitudes” (MINAYO, 2009, p.21),
favoreceu a análise sobre o tema proposto, os documentos que se referiam ao PJe
enquanto sistema de gerenciamento de informações e documentos, tal como o
discurso do entrevistado.
Por fim, na fase de análise de dados utilizou-se a análise de conteúdo
conceituada por Bardin (2006) como um conjunto de diversas técnicas de análise de
comunicações registradas em documentos, discursos políticos, anúncios, falas em
entrevista, ou seja, tudo que envolve a linguística. Assim, os dados analisados foram
divididos por categorias a partir da temática central da gestão arquivística de
documentos digitais para melhor compreensão dos resultados.

87
4 RESULTADOS

A partir dos resultados, organizou-se em quadros comparativos, divididos pelas


categorias das fases da gestão de documentos arquivísticos digitais. Destarte, também
foram inseridos comentários e inferências em relação aos resultados. Ressalta-se que,
por oportuno, nem todas as fases da gestão de documentos abordadas pelo e-Arq
Brasil foram citadas e analisadas nesta pesquisa, porém para este relato, fez-se um
recorte dos elementos basilares da gestão documental, quais foram: captura de
documentos e avaliação, temporalidade e destinação.

4.1 CAPTURA DE DOCUMENTOS


Compreende as ações de registro, classificação, indexação, atribuição de
restrição de acesso e arquivamento. Sua finalidade é identificar o documento como
arquivístico e demonstrar a relação orgânica deste com outros documentos (BRASIL.
CONSELHO..., 2011). O Quadro 1 demonstra ações de captura no Sistema
Informatizado de Gestão Arquivística de Documentos (SIGAD) e PJe.

Quadro 1: Ações de captura no SIGAD e PJe.


Ações de captura de um SIGAD Ações de captura no PJe
Registro: atribuição de um número Todos os itens documentais, que compõem
identificador do documento, bem como um processo, possuem um número de
inserção de metadados. identificação, chamado ID. Os metadados
dos itens documentais, correspondem a
data e horário de inserção, modificações e
a quem inseriu, alterou, excluiu os itens.
Classificação: atribuição de um código ao Cada processo recebe um número (código)
documento, relacionado com o assunto a único para identificar e recuperar o
que se refere, baseado na tabela de processo posteriormente.
temporalidade institucional.
Indexação: inserção de termos para O sistema PJe não dispõe de recursos de
auxiliar o processo de descrição indexação no que tange ao vocabulário
documental por meio de vocabulário controlado e tesauro.
controlado, tesauro ou tabela de
classificação.
Atribuição de restrição ao acesso: Os processos judiciais podem ser
análise e classificação para atribuir caráter considerados ostensivos ou sigilosos
sigiloso ou ostensivo à informação. Define (correm em segredo de justiça). No caso
quais usuários poderão ter acesso à dos sigilosos, apenas a vara judicial
informação, documentação. responsável, bem como as partes
processuais podem tramitar e ter acesso ao
processo. Vale ressaltar que mesmo os
processos ostensivos, podem possuir itens
documentais com acesso restrito.
Arquivamento: armazenamento do O arquivamento das informações e
88
documento digital, devendo garantir processos judiciais é feito pelo sistema PJe.
identificação única, organicidade, Os processos que já foram encerrados, ou
recuperação e segurança. arquivados provisoriamente, ficam numa
parte do sistema intitulada “arquivo
provisório” ou “arquivo definitivo”.
Fonte: Baseado em Brasil. Conselho Nacional de Arquivos - 2011; PJe CSJT - 2020; Dados da
pesquisa - 2020.

No que tange a etapa de captura, o sistema PJe cumpre quase todas as ações desta
fase. No entanto, a partir da análise dos dados coletados, percebeu-se a ausência da
indexação, a falta de uma área específica para elaborar descrições sobre os
processos judiciais, cabendo apenas aos metadados oferecerem um resumo sobre
alguns detalhes do processo.
Além do mais, os processos arquivados tanto provisoriamente, quanto em definitivo,
apesar de estarem separados, ocupam a mesma plataforma/espaço de
armazenamento. Contudo, percebeu-se que o alinhamento e correspondências
positivas nas ações de captura e também de classificação e restrição de acesso.

4.2 AVALIAÇÃO, TEMPORALIDADE E DESTINAÇÃO


Esta fase corresponde a um dos núcleos basilares da gestão de documentos, em que
estes são avaliados, a partir da tabela de temporalidade, aguardando destinação final:
eliminação ou guarda permanente. Em um SIGAD esta etapa tem como finalidade
identificar os prazos de guarda e destinação dos documentos previstos no momento
da captura e do registro, devendo estar de acordo com a tabela de temporalidade e
destinação da instituição (BRASIL. CONSELHO..., 2011).

Quadro 2: Ações de avaliação, temporalidade e destinação no SIGAD e PJe.


Ações de avaliação, temporalidade e Ações de avaliação, temporalidade e
destinação em um SIGAD destinação no PJe
Retenção de documentos: é a guarda por Os processos judiciais que ainda estão
tempo determinado dos documentos no tramitando, ou seja, aguardando uma
arquivo corrente da entidade, órgão ou solução ficam disponíveis e podem ser
departamento que o gerou. buscados e visualizados no sistema PJe.
Transferência: passagem do documento Na opção de arquivamento, ou seja,
do arquivo corrente para o arquivo quando o processo judicial já foi encerrado
intermediário, aguardando o prazo para sua ou é arquivado de forma provisória, são
destinação final (eliminação ou guarda dadas três opções: arquivar carta; arquivo
permanente). provisório; e arquivo definitivo. Existe um
“espaço” no sistema para separar cada um
desses tipos de arquivamento.
Eliminação: após avaliação dos valores Pode haver eliminação de peças
documentais, os documentos desprovidos processuais, podendo ser restauradas. Não

89
de valor secundário são eliminados. há eliminação de processos.
Recolhimento: os documentos que são No sistema PJe não há recolhimento dos
avaliados com valor secundário, de acordo processos avaliados como secundário, pois
com a legislação/jurisdição arquivística do não existe a política e prática de avaliação
órgão a qual pertence. Os documentos e destinação dos processos.
recolhidos devem vir acompanhados de
instrumentos que lhe identifiquem.
Fonte: Baseado em Brasil. Conselho Nacional de Arquivos - 2011; PJe CSJT - 2020; Dados da pesquisa
- 2020.

Por mais que as etapas, ações e tarefas sejam de fundamental importância


para uma gestão de documentos eficaz, é na avaliação e destinação de documentos
que há uma tarefa essencial e basilar para o cumprimento efetivo da gestão
documental. A avaliação e destinação de documentos têm como objetivos redução da
massa documental, agilidade na recuperação das informações e documentos,
racionalização da produção e do fluxo documental, eficiência administrativa e liberação
do espaço físico (BERNARDES, 2002).
Evidencia-se que, apesar desta fase ser crucial para o cumprimento da gestão
documental, as ações que compreendem a avaliação, eliminação e recolhimento são
inexistentes no PJe, ocasionando acúmulo de massa documental em meio virtual.
Ademais, não há definição e atribuição de valores a uma possível documentação que
possua valor histórico, social e de memória para o Tribunal e a sociedade em geral, já
que inexiste avaliação documental, bem como um repositório confiável e adequado
para a custódia e armazenamento de tal documentação.
Santos e Flores (2018) corroboram sobre a importância de que após a fase de avaliar
quais documentos possuem valor secundário, ou seja, quais documentos devem ser
preservados, estes devem migrar para um repositório que possuem a função de
preservar os documentos de forma autêntica e proporcionar o acesso a longo prazo,
sendo corretamente interpretada pelos usuários. Em relação a este assunto, o
entrevistado (membro da CPAD do TRT 13ª Região) fez o seguinte relato:

Quadro 3: Relato sobre a ausência de gestão e avaliação documental.


De 2014 pra cá , o MEMOJUTRA [Fó rum Nacional Permanente em Defesa da Memó ria e da
Justiça do Trabalho ] vem questionando ao Conselho Superior da Justiça do Trabalho que se
crie uma aba específica de gestã o documental, para trabalhar com a documentaçã o já
acumulada [...]. Dentre os documentos arquivados, a maioria já foi arquivado de forma
definitiva. Esses documentos estã o armazenados numa base junto aos processos que estã o
tramitando também. E essa documentaçã o está sem nenhum tratamento arquivístico, sem
nenhum cuidado de se preservar essas informaçõ es em um sistema de repositó rio.
Fonte: Dados da pesquisa – 2020.

90
Percebe-se pelo relato do entrevistado, que não só ele, como também o
MEMOJUTRA, bem como os profissionais da informação do poder judiciário, em
especial os da justiça do trabalho, têm pressionado os desenvolvedores do software
PJe para modificações e inclusões de critérios e etapas da gestão de documentos
para além de propiciar a eficiência do acesso às informações, garantir a preservação e
autenticidade dos processos ao longo do tempo.
O entrevistado também relatou que a Comissão de Avaliação de Documentos do
referido Tribunal utiliza a tabela de temporalidade, bem como realiza a destinação de
documentos, seja para eliminação ou para guarda permanente. No entanto, como já
se sabe, os processos judiciais eletrônicos não são avaliados, impossibilitando sua
eliminação ou guarda permanente de forma a garantir sua autenticidade e acesso a
longo prazo, visto a falta de repositório confiável e estratégias de preservação digital.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa analisou aspectos da gestão documental no sistema de


tramitação, gerenciamento e armazenamento de processos judiciais, PJe, do Tribunal
Regional do Trabalho – TRT 13ª Região. Ao longo da análise, percebeu-se a adoção
de alguns requisitos propostos pelo e-Arq Brasil, que se referem à gestão documental
em ambientes digitais. No entanto, uma parte crucial, a qual trata da avaliação,
destinação e preservação das informações e documentos, estão ausentes, podendo
comprometer a gestão e fluxo da informação, principalmente no que tange à busca,
recuperação, acesso às informações e documentação autêntica ao longo do tempo,
bem como o armazenamento adequado (repositórios confiáveis).
Conclui-se que as tecnologias são essenciais, em especial nas instituições que
prestam serviços a sociedade, no intuito de promover justiça, igualdade e soluções
efetivas. Todavia, é preciso reconhecer que apenas os aspectos e recursos de
hardware e software não são capazes sozinhos de lidar com a complexidade da
informação e dos documentos arquivísticos. Faz-se necessário integrar-se com a
gestão e políticas de informação para promover um ambiente adequado, que não só
ofereça eficácia no armazenamento e recuperação da informação, mas também e,
especialmente, na preservação da memória organizacional e social.

91
REFERÊNCIAS

ANDRADE, M. M. Introdução à metodologia do trabalho científico: elaboração de


trabalhos na graduação. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2010.
BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Persona, 2006.
BRASIL. CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. PJE - Processo Judicial Eletrônico.
Brasília: Conselho Nacional de Justiça, 2010. Disponível em:
https://www.conjur.com.br/dl/manual-processo-judicial-eletronico-cnj.pdf. Acesso em:
04 abr. 2019.
BRASIL. CONSELHO NACIONAL DE ARQUIVOS. e – ARQ Brasil: Modelo de
Requisitos para Sistemas Informatizados de Gestão Arquivística de Documentos. 1.1
Versão. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2011. Disponível em:
http://www.siga.arquivonacional.gov.br/images/publicacoes/e-arq.pdf. Acesso em: 29
jan. 2020.
BERNARDES, I. P. Como avaliar documentos de arquivo. São Paulo: Arquivo do
Estado de São Paulo, 1998.
CASTELLINI, I. R. B. Arquivos na Justiça do Trabalho: Perspectivas a partir do
Encontro Nacional da Memória da Justiça do Trabalho. 2017. Dissertação (Mestrado)
84 f. – Programa de Pós-Graduação em Gestão de Documentos e Arquivos,
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2017.
FLORES, D.; ROCCO, B. C. B; SANTOS, H. M. Cadeia de Custódia para documentos
arquivísticos digitais. Acervo, Rio de Janeiro, v. 29, n. 2, p. 117-132, jul./dez. 2016.
GIL, A.C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2003.
GRÁCIO, J. C. A. Preservação Digital na Gestão da Informação: um modelo
processual para as instituições de ensino superior. São Paulo: Cultura Acadêmica,
2012.
MINAYO, M. C. O desafio da pesquisa social. In: MINAYO, M. C; DESLANDES, S.;
GOMES, R. (org.). Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. 28. ed. São Paulo:
Vozes, 2009. p.9-29.
PJE CSJT. Detalhes do processo 2.0. 2020. Disponível em:
https://pje.csjt.jus.br/manual/index.php/Detalhes_do_processo_-_PJe_2.0.
PRODANOV, C. C; FREITAS, E.C. Metodologia do Trabalho Científico: métodos de
pesquisa e do trabalho acadêmico. 2. ed. Novo Hamburgo: Feevale, 2013.
ROSSEAU, J. Y; COUTURE, C. Os fundamentos da disciplina arquivística. Lisboa:
Dom Quixote, 1998.
SANTOS, H. M.; FLORES, D. A obsolescência do conhecimento em preservação
digital. Ciência da Informação em Revista, Maceió, v. 5, n. 1, p. 41-58, jan./abr.
2018.
SOUZA NETO, M. P. Da automatização à virtualização: apontamento arquivísticos
sobre processo judicial eletrônico. Arquivo & Administração, Rio de Janeiro, v.13,
n.1-2, jun./dez. 2014.

92
JOANA FERREIRA DE ARAÚJO
E-mail: joanah028@gmail.com
LUCIANA FERREIRA DA COSTA
E-mail: lucianna.costa@yahoo.com.br

MONITORIA NA DISCIPLINA METODOLOGIA DO TRABALHO


CIENTÍFICO NA UFPB
RESUMO: Na esfera das atividades de ensino em universidades encontra-se a monitoria acadêmica
que oportuniza a autonomia e a formação dos monitores, instiga o desenvolvimento de competências,
habilidades e conhecimentos, entre eles, sobre a gestão da informação. Nesse contexto, o objetivo
desta pesquisa é analisar a atividade de monitoria desenvolvida na disciplina Metodologia do Trabalho
Científico do Curso de Graduação em Biblioteconomia da Universidade Federal da Paraíba, a partir da
relação com a Gestão da informação. Metodologicamente, a pesquisa é bibliográfica, descritiva e de
campo, com abordagem quantitativa e qualitativa. A coleta dos dados deu-se pela aplicação de
questionário via Google Forms. Os resultados, apontam a adoção de estratégias baseadas nos
princípios de gestão da informação e do conhecimento a fim de facilitar a experiência de monitoria e
aferir melhor interação na relação docente-monitora-discentes, entre elas: reuniões de orientação;
participação em sala de aula; plantão de dúvidas presencial; acompanhamento online via WhatsApp;
reuniões de estudo; elaboração de material e organização de gincanas. Conclui que a monitoria auxilia
sobremaneira na formação acadêmica dos estudantes que a recebem. Ademais, permite ao monitor o
aprendizado sobre o fazer docente, permitindo perceber, também, a importância da gestão da
informação no processo de ensino-aprendizagem.

Palavras-chave: Monitoria Acadêmica; Metodologia do Trabalho Científico; Gestão da Informação.

Abstract: In the sphere of teaching activities at universities, there is academic monitoring that provides
the autonomy and training of monitors, instigating the development of competences, skills and
knowledge, among them, on information and knowledge management. In this context, the objective of
this research is to highlight the importance of information and knowledge management in the monitoring
activity developed in the discipline Methodology of Scientific Work. Methodologically, the research is
bibliographic, descriptive and field, with a quantitative and qualitative approach. Data collection took
place by applying a questionnaire via Google Forms. The results point the adoption of strategies based
on the principles of information and knowledge management in order to facilitate the monitoring
experience and measure better interaction in the teacher-monitor-student relationship, among them:
orientation meetings, participation in a classroom. classroom, face-to-face doubts; online monitoring via
WhatsApp; study meetings preparation of material and organization of competitions. It concludes that the
monitoring helps a lot in the academic formation of the students who receive it. In addition, it allows the
monitor to learn about teaching, allowing to realize, also, the importance of information and knowledge
management in the teaching-learning process.

Keywords: Academic Monitoring; Methodology of Scientific Work; Information Management.

1 INTRODUÇÃO
As atividades de ensino, pesquisa e extensão constituem o tripé fundamental
das universidades brasileiras, portanto deve-se empregar a elas igual importância em
sua execução por parte das Instituições de Ensino Superior (IES) (ORTEGA, 2016).
Na esfera das atividades de ensino, especificamente, encontram-se as práticas de
monitoria, que permitem a aproximação entre o discente monitor e o fazer docente, por
meio do apoio e acompanhamento de atividades de ensino e aprendizagem,
93
observando e auxiliando no planejamento, organização e exercício das atividades
propostas no Plano da disciplina (VICENZI et al., 2016).
A monitoria, segundo Garcia, Silva Filho e Silva (2013), compreende um
trabalho pedagógico em que o professor orienta e é apoiado pelo discente monitor –
escolhido com base no domínio de conteúdo e experiência em determinada área do
conhecimento –, auxiliando o professor no processo de ensino-aprendizagem da
classe em que estão atuando. Cabe salientar, todavia, que o monitor não substitui o
papel do docente, mas o ampara e participa ativamente de algumas atividades, dentro
e fora da sala de aula, desenvolvendo habilidades e competências (CENTRO
UNIVERSITÁRIO SÃO JUDAS, 2018).
Nesse ínterim, soma-se à monitoria a aplicação do processo de gestão da
informação, como estratégia capaz de aferir mais qualidade, eficiência e eficácia no
ensino e aprendizagem, permitindo alcançar maiores índices de satisfação e
assimilação dos conteúdos, tendo em vista a preocupação com relação à abordagem
e materiais ofertados, agregando valor à informação compartilhada e propiciando um
ambiente de troca de informações e aprendizado de forma constante e significativa.
(TARAPANOFF, 2006).
Nesse contexto, empreendeu-se pesquisa com o objetivo de analisar a
atividade de monitoria acadêmica desenvolvida no âmbito da Disciplina de
Metodologia do Trabalho Científico (MTC) do Curso de Graduação em Biblioteconomia
da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) 1, a partir da relação com a Gestão da
Informação.

2 A DISCIPLINA METODOLOGIA DO TRABALHO CIENTÍFICO E A MONITORIA


ACADÊMICA
A produção de pesquisas científicas e a elaboração de trabalhos são atividades
imprescindíveis para a formação acadêmica de estudantes de IES. Nesta feita,
destacam-se os conhecimentos necessários para essa construção, atentando-se aos
aspectos estéticos e técnicos que caracterizam as produções intelectuais acadêmico-
científicas (BARROS; MENDES, 2012).
Pensando nisso, tem-se a oferta da disciplina Metodologia do Trabalho
Científico (MTC), ou similares, com vistas a suprir os discentes do conhecimento
1
Atividade realizada durante dois semestres letivos 2018.2 e 2019.1
94
teórico e prático sobre os aspectos que regem o desenvolvimento de pesquisas
científicas, métodos e técnicas, além de todo o instrumental para normalização de
trabalhos acadêmicos. Barros e Lehfeld (2007) destacam a importância dessa
disciplina ao introduzir o aluno no estudo e aprendizado esperados durante sua
jornada no ensino de nível superior.
Contudo, para além das instruções a respeito da estrutura, normalização e
métodos da pesquisa, também visa apontar conceitos, a natureza do conhecimento
científico, o sentido da formação universitária e da prática da pesquisa, associando-as
de forma crítico-reflexiva, a partir de análises e (re)construções de respostas e
saberes. (BARROS; MENDES, 2012).
Neste sentido, a monitoria acadêmica é realizada em disciplinas como a de
MTC, e busca aproximar o aluno do fazer docente, oportunizando a autonomia e a
formação dos monitores, estimulando a integração entre estudantes e professores por
meio do apoio e acompanhamento de atividades de ensino e aprendizagem. Para
além disso, a monitoria promove apoio ao seu público-alvo, ou seja, aos estudantes
que a recebem (CENTRO UNIVERSITÁRIO SÃO JUDAS, 2018). Portanto, tem a
finalidade de contribuir com o desenvolvimento da competência pedagógica e no
auxílio aos estudantes na compreensão e na produção de conhecimento (CHAVES et
al., 2020). Dentre as estratégias para tornar a monitoria mais efetiva, e potencializar o
aprendizado, tem-se a compreensão do processo de gerenciamento da informação.

3 GESTÃO DA INFORMAÇÃO E MONITORIA ACADÊMICA


A Gestão da Informação (GI), volta-se para os processos que envolvem a
identificação das necessidades dos usuários, obtenção das informações necessárias,
tratamento e organização para posterior distribuição e utilização. Essa sistemática
objetiva identificar e potencializar os recursos de informação dispostos, aferindo
eficiência e eficácia (DAVENPORT; PRUSAK, 1998; TARAPANOFF, 2006).
Muitos pesquisadores se debruçaram sobre os estudos desse processo e,
apesar de apresentarem diferentes pontos de vista em relação as etapas que o
compõe, percebe-se uma concordância sobre os estágios de: identificação das
exigências, ou necessidades dos usuários; obtenção da informação necessária;
distribuição e utilização, aqui tratados na perspectiva de Davenport e Prusak (1998).

95
Este processo, ao ser executado desde o início das atividades de monitoria,
permite a definição sistemática das metas a serem atingidas e alinham as ações com
vistas a atender as demandas dos alunos da disciplina MTC; egressos do ensino
médio que, comumente, não tiveram contato com o conteúdo programado, fato que
pode implicar o enfrentamento de dificuldades ao longo de sua formação acadêmica.

3 METODOLOGIA
Caracteriza-se como pesquisa bibliográfica e de campo, realizada em ambiente
acadêmico, uma vez que faz uso de “[...] técnicas específicas, que têm o objetivo de
recolher e registrar, de maneira ordenada, os dados sobre o assunto em estudo [...]”
(ANDRADE, 2010, p. 131). A coleta dos dados, referente ao corpo discente atendido
na monitoria (realizada entre 12 de fevereiro e 14 de outubro de 2019) em questão, foi
realizada por meio da aplicação de um questionário online, elaborado na plataforma
Google Forms, composto por perguntas abertas e fechadas. As questões subsidiaram
caracterizar os sujeitos quanto a idade e a disciplina MTC quanto a relevância, ao nível
de dificuldade de compreensão e aplicabilidade. Vale ressaltar que, para o
desenvolvimento desta pesquisa, optou-se por preservar a identidade dos
respondentes.
Em paralelo, para levantamento das atividades desenvolvidas pela monitora,
utilizou-se o registro de frequência mensal, submetida ao Sistema Integrado de Gestão
de Atividades Acadêmicas da UFPB (SIGAA/UFPB), em que são pormenorizadas as
ações executadas, por esta razão é, também, uma pesquisa documental. A
representação dos resultados seu deu por meio de gráficos, característica que
emprega as abordagens quantitativa e qualitativa. A análise se deu a partir de reflexão
crítico-reflexiva sobre os dados obtidos, expostos no item a seguir, em associação às
práticas e informações utilizadas, com os estágios de GI propostos por Davenport e
Prusak (1998).

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
A priori, faz-se salutar as atividades empenhadas pela monitora durante o
período de execução do Projeto de Monitoria. Ao iniciar as práticas fora feita uma
reunião, momento em que a docente supervisora e monitora conversaram a respeito
do programa da disciplina, observando o planejamento do conteúdo programado
96
segundo as necessidades de informação dos alunos, as metodologias de ensino e
avaliação a serem adotadas; momento que se enquadra no primeiro estágio do
processo de GI proposto por Davenport e Prusak (1998).
A partir desta reunião permaneceu acordada a realização de um Plantão de
Dúvidas presencial, uma hora antes da aula, nas terças e quintas, a fim de atender às
demandas dos discentes e enfatizar os pontos nos quais sentem mais dificuldade;
além do acompanhamento online através da criação de um grupo no WhatsApp, o
qual foi intensamente utilizado na interação entre discentes e monitora, destacando o
apoio das Tecnologias de Informação e Comunicação no ensino-aprendizagem. Esse
acompanhamento busca estender o processo de identificação das necessidades por
todo o período de monitoria, uma vez que, através dos diálogos, é possível perceber
os pontos que precisam ser reforçados e as informações necessárias para sanar suas
dúvidas.
Houve, ainda, a participação da monitora como ouvinte em sala de aula; guia
em visitas dirigidas aos setores essenciais como: coordenação do curso, Biblioteca
Setorial, Departamento de Ciência da Informação, Laboratório de Informática e
Laboratório Biblioteca Escola, ação denominada “Tour Acadêmico”; correção de
atividades extraclasse; auxílio aos alunos, por meio de reunião de estudos e ensaios
para apresentações de seminários (Figura 1). As ações desenvolvidas, por sua vez,
encontraram-se em consonância às experiências mencionadas por Vicenzi et al.
(2016), Centro Universitário São Judas (2018) e Chaves et al. (2020).

Figura 1: Reunião de estudo e ensaio de seminário.

Fonte: Arquivo pessoal – 2019.

Destaca-se, por fim, a organização de exercícios e dinâmicas, desenvolvidas a


partir de uma competição em grupos. A primeira etapa consistiu na resolução de
questões sobre a Norma Brasileira da Associação Brasileira de Normas Técnicas
(NBR/ABNT) 6023:2018, percebida como principal dificuldade enfrentada pelos
alunos. Para tanto, fora necessário identificar as informações necessárias, obtê-las,
tratá-las e organizá-las de acordo com um formato mais atrativo para os discentes,
97
compreendendo, consecutivamente, os estágios de obtenção, tratamento e
organização da informação no processo de GI.
A atividade supracitada contou pontos para as equipes, de acordo com a
quantidade de acertos. A segunda etapa da competição foi feita em formato de sorteio
de perguntas sobre as normas estudadas na última unidade da disciplina de MTC, que
deveriam ser respondidas no tempo de um minuto, a partir de consulta às normas da
ABNT, a fim de que os discentes desenvolvessem habilidades no manuseio das
normas da ABNT (Figura 2).

Figura 2: Dinâmicas de aprendizagem.

Fonte: Arquivo Pessoal – 2019.

Por fim, solicitou-se a elaboração, criativa, de uma apresentação que ilustrasse


os conhecimentos adquiridos e ressaltasse a importância da disciplina frente a
instrução na construção de trabalhos acadêmicos de qualidade, estágio que
compreende a utilização da informação, última etapa do processo de GI. Dentre os
trabalhos de criação solicitados, podemos citar o folder explicativo e um poema,
conforme ilustram as imagens a seguir.

Figura 3: Poema e folder.

98
Fonte: Arquivo Pessoal – 2019.

Quanto aos resultados obtidos no questionário aplicado em relação aos


discentes e a disciplina MTC, obtivemos 16 participantes que responderam em tempo
hábil para a execução desta pesquisa, sendo a maioria (62,5%) do sexo feminino, e
outros (37,5%) discentes do sexo masculino. A amostra contou com alunos entre 18 e
41 anos de idade, em sua totalidade (100%) lotados no curso de Biblioteconomia da
UFPB. Observou-se que, quanto a relevância desta disciplina frente a orientação da
construção de trabalhos acadêmicos, 87,5% julgam ser “muito relevante”, uma vez que
oferta conteúdos e conhecimentos necessários para a compreensão, elaboração e
normalização de suas produções acadêmicas.
Quando questionados se sentiram dificuldade em compreender e aplicar o
conteúdo visto na disciplina, 43,8% julgam ter sentido dificuldade em níveis medianos,
e entre os fatores que podem ter causado esta dificuldade, segundo os respondentes,
estão o pouco contato com as temáticas durante o ensino médio (50%), o fato de
considerarem o conteúdo complexo (50%) e a participação em muitas disciplinas
durante o período (1%). O Gráfico 1 ilustra os dados obtidos.

Gráfico 1: Fatores que podem ter dificultado.

99
Fonte: Dados da pesquisa – 2019.

A respeito da aplicabilidade do conteúdo em outras disciplinas, 100% dos


respondentes julgam possível a aplicabilidade, por meio da elaboração de trabalhos
acadêmicos (100%), na melhora da escrita científica (56,3%) e no incentivo ao
pensamento crítico (31,3%), dados apresentados no Gráfico 2. Este resultado reflete a
importância da disciplina MTC na instrumentalização dos estudantes, na elaboração
dos trabalhos que desenvolverão em outras disciplinas ao longo da graduação.

Gráfico 2: Aplicação do conteúdo.

Fonte: Dados da pesquisa – 2019.

Os resultados dão conta da participação efetiva da monitora nas atividades


pedagógicas empenhadas em conjunto com a professora supervisora, bem como a
percepção dos alunos e possíveis dificuldades enfrentadas nesse processo. Ademais,
os resultados permitem evidenciar o emprego dos estágios de GI na monitoria
acadêmica como estratégia para otimizar o desempenho dos discentes, estimulando,
portanto, o aprendizado significativo e transformador.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa objetivou analisar a atividade de monitoria acadêmica desenvolvida


na disciplina MTC do Curso de Graduação em Biblioteconomia da UFPB, a partir da
relação com a Gestão da Informação. Considera-se que o objetivo proposto foi
alcançado, visto que se trouxe, aqui, a partir dos atores da pesquisa, os discentes da
disciplina, a partir da aplicação de questionário, descrição e discussões acerca das
atividades desenvolvidas, dos desafios enfrentados tanto pelos discentes quanto pela
100
monitora. Para além disso, discutiram-se as estratégias de ensino-aprendizagem
estabelecidas, destacando sua dinamicidade e adoção das estratégias de GI para
melhor atender às necessidades dos discentes.
Considerando os achados da pesquisa, percebeu-se os conhecimentos
adquiridos pelos discentes da disciplina com base nas práticas e atividades
desenvolvidas pela monitoria, em linha com a proposta da disciplina devidamente
registrada no Projeto Político do Curso (PPC). Em rigor, cumpre destacar que a
experiência na atividade de monitoria pode ser uma mais valia para preparar o aluno
monitor para a educação continuada e, especialmente, para atuação na docência. Isto
porque a participação no programa de monitoria propicia a aproximação do fazer
docente, desperta para os desafios deste fazer, as habilidades e competências
necessárias ao exercício da profissão. Ademais, possibilita ao monitor postura
empática, proativa, criativa, dentre outras características essenciais para uma boa
formação acadêmica e profissional. A performance do monitor, certamente, constitui-
se como exemplo aos discentes atingidos pela monitoria, os quais demonstram
interesse para esta atividade, evidenciando o desejo de ser monitor também.
Em linha de conclusão, compreende-se que os estágios do processo de GI,
associados às ações de monitoria, permitem um planejamento estratégico, conferindo
maior índice de eficácia e efetividade, tendo em vista a preocupação com as
demandas dos discentes e a tomada de decisão consciente sobre os conteúdos a
serem abordados e métodos de ensino-aprendizagem empregados na disciplina.

REFERÊNCIAS

ANDRADE, M. M. Introdução à metodologia do trabalho científico. 10. ed. São


Paulo: Atlas, 2010.
BARROS, A. J. S.; LEHFELD, N. A. S. Fundamentos de metodologia científica. 3.
ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007.
BARROS, D. S.; MENDES, R. S. A disciplina Metodologia do Trabalho Científico do
curso de Biblioteconomia da Universidade Federal do Maranhão e sua contribuição na
produção científica. Biblionline, João Pessoa, v. 8,
n. 2, p. 49-63, 2012. Disponível em: http://www.brapci.inf.br/index.php/res/v/16344.
Acesso em: 04 jan. 2020.
CENTRO UNIVERSITÁRIO SÃO JUDAS. Por que fazer monitoria na faculdade.
Unimonte: Centro Universitário São Judas, 2018. Disponível em:

101
https://www.unimonte.br/blog/por-que-fazer-monitoria-na-faculdade/. Acesso em: 27
nov. 2020.
CHAVES, U. S. B. et al. Relato de experiência da utilização de metodologias ativas na
prática da monitoria de um curso de Enfermagem. Research, Society and
Development, [S.l.], v. 9, n. 9, p. 1-15, 2020. Disponível em:
https://www.rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/7303/6470. Acesso em: 27 nov.
2020.
DAVENPORT, T. H.; PRUSAK, L. Ecologia da informação: por que só a tecnologia
não basta para o sucesso na era da informação. São Paulo: Futura, 1998.
GARCIA, L. T. S.; SILVA FILHO, L. G.; SILVA, M. V. G. Monitoria e avaliação formativa
em nível universitário: desafios e conquistas. Perspectiva, Florianópolis, v. 31, n. 3, p.
973-1003, set./dez. 2013. Disponível em:
https://periodicos.ufsc.br/index.php/perspectiva/article/view/2175-
795X.2013v31n3p973/27746. Acesso em: 23 out. 2019.
ORTEGA, L. M. Programa Empreendedorismo-Escola: influenciando a universidade
por meio do tripé ensino, pesquisa e extensão. Revista de Administração,
Contabilidade e Economia da Fundace, Ribeirão Preto, v. 7, n. 1, p. 118-132, 2016.
Disponível em:
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TARAPANOFF, K. Informação, conhecimento e inteligência em corporações. In:
TARAPANOFF, k. (org.). Inteligência, informação e conhecimento. Brasília: IBICT;
UNESCO, 2006. cap. 1.
VICENZI, B. et al. A monitoria e seu papel no desenvolvimento da formação
acadêmica. Revista Ciência em Extensão, São Paulo, v. 12, n. 3, p. 88-94, 2016.
Disponível em: https://ojs.unesp.br/index.php/revista_proex/article/view/1257/1254.
Acesso em: 27 nov. 2020.

102
SUZANA DE LUCENA LIRA
E-mail: suzanallira@hotmail.com
MARCO ANTÔNIO A. LLARENA
E-mail: llarenaifpb@gmail.com
EDCLEYTON BRUNO SILVA
E-mail: biblioebfs@yahoo.com.br
DANIELLE HARLENE MORENO
E-mail: danielleharlene@gmail.com

GESTÃO SOCIAL DO CONHECIMENTO: Comunidades virtuais de


prática em evidência

RESUMO: Aborda a comunidade prática como estratégia da Gestão do Conhecimento no contexto


social de aprendizagem e compartilhamento do conhecimento na área de Ciência da Informação. A
conjectura pandêmica atual evidencia o processo de construção emergente do “novo normal”, onde as
pessoas conseguem interagir virtualmente e partilhar práticas no desenvolvimento de suas atividades.
Objetiva analisar as publicações sobre comunidades virtuais de prática nos últimos anos em artigos da
Ciência da Informação. Trata-se de pesquisa bibliográfica, descritiva e exploratória, visando analisar as
características das comunidades virtuais de prática. Quanto aos procedimentos é classificada como
quanti-qualitativa. A pesquisa foi realizada no Portal de Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento
de Pessoal de Nível Superior, em busca de materiais para a construção da fundamentação teórica e
fontes de informação que abordavam pesquisas em outras fontes relacionadas à comunidade virtual de
prática. Os resultados apontam que o termo ‘virtual’ não é um diferencial, pois a tendência é o uso da
comunidade de prática efetivada pela mediação tecnológica. Os artigos selecionados demonstram
representatividade da temática em periódico de Gestão do Conhecimento. Há uma regularidade de
produção no tema nos últimos anos. As categorias analisadas pontuam conceito, área, objetivo e
inovação da comunidade virtual de prática.

Palavras-chave: Ciência da Informação. Gestão do Conhecimento. Comunidades de Prática.


Comunidades Virtuais de Prática.

103
SOCIAL KNOWLEDGE MANAGEMENT: Virtual Communities of
practice in evidence
Abstract: This paper approaches the Communities of practice as a Knowledge Management strategy in
the social context of learning and sharing knowledge in area of Information Science. The current
pandemic conjecture highlights the emergent construction process of “new normal”, where people are
able to interact virtually and share successful practices in development of their activities. Aims to analyze
the publications on virtual communities of practice in recent years in paper of Information Science. This
is a bibliographic, descriptive and exploratory research, aiming to analyze the characteristics of virtual
communities of practice. As for procedures, it is classified as quanti-qualitative. The research was carried
out on Journals Portal of the Coordination for Improvement of Higher Education Personnel, in search of
materials for construction of theoretical foundation and sources of information that addressed research in
other sources related to virtual community of practice. The results show that the term ‘virtual’ is not a
differential, as the trend is the use of the community of practice effected by technological mediation. The
selected articles demonstrate representativeness of theme in Knowledge Management journal. There
has been a regularity of production on theme in recent years. The analyzed categories score concept,
area, objective and innovation of virtual community of practice.

Keywords: Information Science. Knowledge Management. Communities of Practice. Virtual


Communities of Practice.

1 INTRODUÇÃO

A Gestão do Conhecimento (GC) tem por finalidade identificar o conhecimento


presente em organizações, sejam elas, pública, privada, social, do terceiro setor,
acadêmica, ou sob qualquer denominação e tipo de instituição. É realizada por meio
das pessoas que as constituem, as quais possuem uma visão de mundo, desenvolvida
por meio de suas capacidades individuais e grupais, que ao manifestá-las nas
organizações, para execução de suas atividades laborais, promovem o
compartilhamento de conhecimentos e estes se incorporam ao conhecimento
organizacional.
Após a identificação do conhecimento existente na organização, o papel do
gestor do conhecimento delineia-se em: mapeá-lo; estabelecer estratégias para
identificar sua presença; estimular seu desenvolvimento; aplicar técnicas de
exteriorização; promover o seu compartilhamento; e criar ferramentas de interação. É
preciso gerir o conhecimento, para que ele se desenvolva, conforme a espiral
idealizada pelos autores Nonaka e Takeuchi (1997), com o intercâmbio entre o
conhecimento tácito e o conhecimento explícito, numa interação social. É o que se
pode chamar de gestão social do conhecimento (GSC), numa dimensão inovadora da
Gestão do Conhecimento, para inserir o “como se deve aprender”, uma vez que a
sociedade atual, em contexto pandêmico, requer dos indivíduos a capacidade de se

104
reinventar, de desaprender e aprender novamente. É a revalorização do processo de
aprendizagem e de aquisição de conhecimento reconhecidos como poderosas
ferramentas dessas “novas formas de gestão social do conhecimento” (POZO, 2004,
p. 36).
A Ciência da Informação (CI) tem uma forte dimensão social e humana, acima e
para além da tecnologia, como estabelece Saracevic (1999). A informação envolve a
motivação pessoal e a intencionalidade, sempre conectadas com um horizonte social,
do qual fazem parte a cultura e as ações desempenhadas. Na conjuntura pandêmica
atual, a aprendizagem de forma virtual torna-se emergente para construção de um
“novo normal”, onde as pessoas podem interagir virtualmente, trocar ideias, construir
conhecimentos juntos e partilhar práticas bem sucedidas no desenvolvimento de suas
atividades. Por conseguinte, faz-se necessário estudar as comunidades virtuais de
prática (VCoP), para se analisar a tendência evolutiva desta estratégia de Gestão do
Conhecimento na Ciência da Informação. Para tanto, vislumbra-se o questionamento:
Como está configurado na Ciência da Informação o comportamento da temática
comunidade virtual de prática nos últimos anos?
Portanto, define-se como objetivo analisar as publicações sobre comunidades
virtuais de prática nos últimos quatro anos (2016 - 2020) em artigos indexados nos
periódicos de Ciência da Informação.

2 GESTÃO DO CONHECIMENTO E COMUNIDADES DE PRÁTICA

Ao estabelecer as subáreas desenvolvidas pela CI, Araújo (2018, p. 43)


considera a quarta subárea, a de gestão, como aquela que evidencia a Gestão do
Conhecimento, considerando a importância da informação “que está na mente das
pessoas que pertencem à organização”, não a que existe como entidade física,
material. Esta se refere ao conhecimento explícito, que já circula na organização e
pode ser apreendido.
O conhecimento organizacional, sob a visão de Nakano e Fleury (2005) possui
duas vertentes, uma “cognitiva” e a outra como processo, em que a criação é
resultado da interação pessoal, “construtivista”, das relações interpessoais, em que a
GC é direcionada às pessoas, suas interações e comunicações interpessoais. É nesse
escopo que a CoP surge como estratégia para a GSC.

105
As CoP’s para Lira (2019, p. 25) são consideradas estratégias utilizadas pela
GC para favorecer o compartilhamento de conhecimento, formadas por grupos de
pessoas que em “meio presencial ou virtual, podem expor ideias e experiências,
partilhar problemas e juntos encontrar soluções”.
Nos anos 1990, Lave e Wenger (1991) definiram CoP como grupo de pessoas
que compartilham um interesse ou uma paixão por um tópico, e que aprofundam seu
conhecimento pela interação numa base continuada. Com o passar do tempo, muitos
autores foram desenvolvendo outras conceituações e, até 2014, as autoras Wilbert,
Dandolini e Steil (2018) identificaram definições e contextos de utilização das CoP’s,
revelando elementos comuns na caracterização destas, tais como: informalidade nas
relações, voluntariedade na adesão, regularidade de interações, e intencionalidade de
aprendizagem pessoal ou de resolução de problema na organização. Essas
características permanecem nas conclusões a que chegaram, com as atualizações
realizadas pelas autoras no período de 2014 a 2017. Elas complementam que o
engajamento mútuo, o empreendimento conjunto e o repertório compartilhado são os
três elementos descritos por Wenger (1998), a continuar dimensões imprescindíveis
para a CoP.
Em entrevista a Omidvar e Kislov (2014, p. 269), Wenger-Trayner explica que
“se pessoas aprendem juntas, o resultado é uma comunidade de prática”, confirma a
importância da abordagem de aprendizagem como um fenômeno decorrente da
interação social na concepção de CoP’s, numa gestão social do conhecimento.
Parafraseando Vinícius de Morais, famoso pela frase “A vida é a arte do encontro”,
pode-se afirmar que “compartilhar é a arte do encontro”.
As autoras Wilbert, Dandolini e Steil (2018, p. 112) concluem que a pesquisa
sinalizou uma adoção gradual da mediação tecnológica, em que “as CoP’s serão
sinônimas de VCoP’s, e o adjetivo “virtual” passa a não acompanhar o termo CoP
como um diferencial”. Nesse caso, justifica-se a quantidade de artigos recuperados em
número pouco expressivo, uma vez que o termo ‘virtual’ foi elemento destacado na
presente pesquisa.
Para definir a Comunidade Virtual de Prática, primeiramente deve-se entender
que as Comunidades de Prática são realizadas por pessoas que compartilham o seu
conhecimento. Logo a VCoP, de acordo com Jones (1997), é uma espécie de espaço

106
público de comunicação e de conteúdos gerados pelos membros que interagem como
agentes de intercâmbio social.
Essa reunião de pessoas em torno de objetivos comuns tem sido alvo de
pesquisadores que investigam grupos, equipes e utilizam interações tecnológicas,
transcendendo as barreiras temporais e geográficas, pelo que as CoP’s passaram a
ser designadas por VCoP’s (WILBERT, 2015).
Wilbert (2015, p.52) apresenta algumas definições de VCoP a partir de pesquisa
na Scopus em que a expressão “comunidade(s) virtual de prática” é explicitada nos
artigos, seja no título, resumo ou palavras-chave. Por meio da Figura 1, considerando
as palavras contidas nos conceitos, é possível visualizar na nuvem de tags o destaque
da palavra “online”, sinalizando a importância da web para conexão entre os membros.

Figura 1 - Nuvem de Tag sobre os conceitos de VCoP

Fonte: Adaptado de WILBERT (2015)

As VCoP’s têm conquistado espaço na literatura e nas organizações como


potenciais auxiliadoras em processos de inovação, com aplicação, a exemplo da
adoção de novos procedimentos cirúrgicos, possibilitados com o auxílio dessa
ferramenta (WILBERT et al, 2017).

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

107
Trata-se de uma pesquisa, conforme sugere Gil (2010), caracterizada como
bibliográfica, do tipo descritiva, e de cunho exploratório, visando analisar o
comportamento das VCoP’s. Quanto aos procedimentos da pesquisa, pode ser
classificada como quanti-qualitativa, uma vez que usa mensuração de dados
quantitativos e analisa qualitativamente os resultados.
A pesquisa foi realizada no Portal de Periódicos da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Optou-se pela “busca
avançada”, utilizando as expressões: “Virtual Communities of Practice” (mais inclusão
do elemento booleano AND) e “Information Science”, em busca de identificar as
comunicações que estão relacionadas à temática no campo da Ciência da Informação.
A busca também foi realizada por meio dos termos em língua portuguesa, utilizando as
seguintes técnicas: “qualquer” (título; assunto); termos exatos; data de publicação dos
últimos quatro anos (entre os anos de 2016 e 2020). A análise utilizou como critérios
artigos que apresentassem as expressões no título, no resumo ou nas palavras-chave.
A busca recuperou 10 (dez) artigos, sendo 09 (nove) em língua inglesa e 01
(um) em língua portuguesa, conforme Quadro 1. O tratamento dos dados foi realizado
de forma manual com o emprego de planilha Excel para formatação de quadros,
figuras e gráficos apresentados.
A categorização dos dados baseou-se em aspectos que caracterizam VCoP’s
em desenho baseado na pesquisa de Wilbert et al. (2017, p.115), cujos dados dos
estudos selecionados foram analisados quanto a: a) conceito de VCoP; b) área do
conhecimento; c) objetivo da comunidade virtual; d) CoP como apoio à inovação.
Foram analisados também os periódicos e o número de publicações por ano. A análise
permitiu a elaboração de considerações acerca do objeto proposto.

4 RESULTADOS E ANÁLISES DOS DADOS

A partir da coleta dos artigos identificados no Portal de Periódicos da CAPES, o


levantamento obtido resultou nos artigos abaixo descritos. Apresenta-se o quadro 1
com os autores, o título, o periódico e o ano de publicação, bem como as categorias
identificadas nos artigos relativos à VCoP.

Quadro 1– Artigos e Categorias identificadas sobre comunidades virtuais de práticas –


2016-2020
AUTOR/ TÍTULO/ PERIÓDICO/ ANO DE PUBLICAÇÃO
108
1.PEETERS; PRETORIUS. Facebook or fail-book: Exploring “community” in a virtual community of
practice. Cambridge University Press. 2020.
a) Conceito de VCoP b) área da c) objetivo da comunidade d) VCoP como apoio à
VCoP inovação
A criação colaborativa Sites de Como os alunos Incorporação de atribuições
no trabalho e redes desenvolvem um senso de online e offline e a inclusão de
experiências de sociais e comunidade em uma VCoP professor online resultam em
aprendizagem da Web e que efeito isso pode ter na níveis de sucesso ao
2.0 interação e aprendizagem estabelecer diálogo
colaborativo nas VCoPs
2.MAVRI; IOANNOU; LOIZIDES. A Cross-organizational Ecology for Virtual Communities of
Practice in Higher Education. International Journal of Human–computer Interaction. 2020.
O tipo e o nível de Comunid. Apoiar a aprendizagem Projeto de configurações de
adoção de tecnologia, interorgani social no ensino superior tecnologias semelhantes para
com foco na zacional, CoPs nos currículos formais
perspectiva do aluno universida de seus respectivos Designs
de e
indústria
3.PEÑARROJA et al. The influence of organizational facilitating conditions and technology
acceptance factors on the effectiveness of virtual communities of practice. Behaviour &
Information Technology. 2019.
Uma plataforma de ONG Influência das condições Senso de comunidade virtual
intranet facilitadoras para criar,
compartilhar, armazenar, e
usar o conhecimento sobre
sua prática
4.WANG et al. Motivation factors of knowledge collaboration in virtual communities of practice: a
perspective from system dynamics. Journal of Knowledge Management. 2019.
Colaboração do Colaboraç Desvelar a dinâmica Política regulamentar em
conhecimento nas inter- ão de interativa entre fatores de VCoPs
relações dinâmicas no conhec. na motivação da colaboração
ambiente virtual de Wikipedia do conhecimento em VCoPs
comunidades de prática a partir de uma perspectiva
de sistema dinâmico
5.YADA; HEAD. Attitudes Toward Health Care Virtual Communities of Practice: Survey Among
Health Care Workers. Journal of medical Internet research. 2019.
Plataforma online e Ambiente Explorar como a motivação Fornecer uma visão sobre a
tecnologias de cuidado e a capacidade afetam as melhor forma de projetar e
relacionadas em saúde atitudes em relação ao uso posicionar tais sistemas para
de VCoPs encorajar seu uso eficaz
6.OGBAMICHAEL; WARDEN. Information and knowledge sharing within virtual communities of
practice. South African Journal of Information Management. 2018.
Criar um novo modo de Compart. Otimizar o Um modelo de fluxo de ciclo
aprendizagem e Conhecim. compartilhamento de de vida de conhecimento
plataforma de nas conhecimento entre as estendido é proposto
desenvolvimento de empresas partes interessadas
conhecimento
7.KOMOROWSKIA; HUUB; DELIGIANNISB. Twitter data analysis for studying communities of
practice in the media industry. Telematics and Informatics. 2018.
Comunidades online Mídia A comunidade física de Oferece extensão geográfica;
são caracterizadas por social, prática para a mídia dá autonomia temporal; e
um domínio como o profissional é um encontro pode ser usado para
compartilhado, uma Twitter de desenvolvedores de diversificar as práticas
comunidade ativa e videogames, que usa o
compartilhada de Twitter como instrumento
práticas para aprendizagem e
formação de VCoP
8.ANTONACCI, G et al. It is rotating leaders who build the swarm: social network determinants of
109
growth for healthcare virtual Communities of practice. Journal of knowledge management. 2017.
Plataforma web de Área de Mais pessoas irão ingressar Novas ferramentas analíticas
comunicação online em saúde em uma comunidade se sua são apresentadas, juntamente
três dimensões de estrutura for mais com o uso de métricas de
interações sociais centralizada, líderes mais interação inovadoras, que
(conectividade, dinâmicos e linguagem podem influenciar o
interatividade e uso da usada nas postagens, crescimento da comunidade,
linguagem) menos complexa como liderança rotativa
9.LARA, B. et al. Knowledge management through two virtual communities of practice
(Endobloc and Pneumobloc). Health Informatics Journal. 2017.
Uma rede virtual Endocrino As seções mais populares Comunidades virtuais de
existente baseada na e pneumo foram o e-Blog e a seção de prática são viáveis na prática
web 2.0 pertencente ao de e-Consultas em ambas as clínica da vida real
Sistema Único de hospitais VCoP’s
Saúde local
10.RIMÁ; GARCIA; TARGINO. Comunidades de práticas virtuais dos técnicos administrativos em
educação de instituições de ensino superior. Informação em Pauta. 2017.
Grupo que amplia e Técnicos As ações saem do campo Atualização e a gestão dos
desenvolve administrat virtual e se materializam conteúdos gerados
conhecimentos entre os ivos em como consequência da
componentes de várias educação união e do engajamento dos
regiões e diferentes IES envolvidos
brasileiras
Fonte: Resultado de pesquisa

Observa-se que em cada um dos títulos dos artigos resultantes da pesquisa é


possível identificar a ‘comunidade virtual de prática’. Em apenas um verifica-se o termo
“media industry”, para caracterizar como ‘virtual’ a CoP evidenciada no artigo em
comento. Quanto aos periódicos em que foram publicados os artigos sobre VCoP
destaca-se o ‘Journal of knowledge management’, no qual foi publicado dois artigos, o
que demonstra a representatividade dessa temática na área de GC. Em relação ao
ano das publicações no período tem-se uma regularidade, entre 20% e 30% de
produção a cada ano sobre a especificidade da temática de comunidade virtual de
prática na área de Ciência da Informação.
Quanto às categorias identificadas que representam as VCoP’s, têm-se as
percepções coletadas nos resumos dos artigos. Em relação ao conceito de VCoP,
identifica-se como uma plataforma, um ambiente virtual, uma rede de comunicação
online para compartilhamento e aprendizagem. Quanto à área da comunidade
percebe-se atuação na web, em universidade, indústria, ONG, área de saúde e
empresas. No que se refere ao objetivo da VCoP tem-se a percepção de alunos sobre
interação e aprendizagem social, uso do conhecimento na prática, motivação para
colaboração do conhecimento, união e engajamento dos envolvidos. Em relação ao
uso de VCoP como apoio à inovação, percebe-se a incorporação de atribuições online,

110
configuração de tecnologia à CoP, senso de comunidade virtual, política regulamentar
de VCoP, melhor forma de projetar sistema para uso eficaz, ciclo de vida do
conhecimento, oferece extensão geográfica, autonomia temporal, diversifica práticas,
novas ferramentas viáveis de VCoP e gestão de conteúdos gerados nas VCoP’s.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo objetivou analisar a tendência evolutiva das comunidades


virtuais de prática, como estratégia de Gestão do Conhecimento na Ciência da
Informação, pelo que situou a temática nas publicações em periódicos nos últimos
anos, uma vez que se intensificou seu uso em virtude do contexto atual de pandemia.
A possibilidade da GSC é reconhecida na estratégia de VCoP por meio da
interação social. Os resultados apresentados demonstram que a temática está sendo
desenvolvida, com perspectiva de abrangência em diversas áreas de conhecimento,
identificada como uma variante da CoP mediada pela tecnologia.

REFERÊNCIAS

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ILKA MARIA SOARES CAMPOS


E-mail: ik.campos@uol.com.br
ELIANE BEZERRA PAIVA
E-mail: paivaeb@gmail.com

USUÁRIO DA INFORMAÇÃO COMO PROTAGONISTA DA GESTÃO


DA INFORMAÇÃO E DO CONHECIMENTO

RESUMO: Na gestão da informação e do conhecimento os usuários da informação têm um


papel predominante nos ambientes internos e nos processos estratégicos das organizações. O
objetivo do estudo é refletir sobre o usuário da informação como protagonista da Gestão da Informação
e do Conhecimento nos ambientes internos das organizações. A pesquisa caracteriza-se como
bibliográfica, exploratória e descritiva e abordagem qualitativa. Os fundamentos teóricos da pesquisa
são oriundos da Ciência da Informação e se baseiam nos conceitos de usuário da informação,
protagonismo e Gestão da Informação e do Conhecimento. Conclui-se que os usuários que atuam nas
organizações necessitam se apoderar de informações e exercer seu protagonismo para delinear
estratégias de Gestão da Informação e do Conhecimento.

Palavras-chave: Usuário da Informação; Protagonismo; Gestão da Informação e do Conhecimento.

ABSTRACT: In Information and Knowledge Management, information users have a predominant role in
internal environments and in the strategic processes of organizations. The aim of the study is to reflect
about information user as a protagonist of Information and Knowledge Management in the internal
113
environments of organizations. The research is characterized as bibliographic, exploratory and
descriptive with qualitative approach. The theoretical foundations of the research are originated from
Information Science and are based on the concepts of information user, protagonism, and Information
and Knowledge Management. It is concluded that users which act in organizations need to seize upon
information and to exercise their protagonism to delineate strategies of Information and Knowledge
Management.

Keywords: Information user; Protagonism; Information and Knowledge Management.

1 INTRODUÇÃO

Nos tempos atuais a informação tem desempenhado um papel cada vez mais
central na vida social, cultural e política. A informação tornou-se um bem valioso e
estratégico para as pessoas e organizações. Entretanto, o grande desafio é a
qualidade da informação acessada e como selecionar a informação obtida para
diferentes usos.
Santos e Valentim (2014) referem que a dinâmica dos fluxos informacionais é
determinante para a efetividade das organizações e ressaltam a importância dos
processos relacionados à gestão da informação e do conhecimento.
Os fluxos informacionais são “[...] etapas que compreendem os momentos de
interação e transferência da mensagem entre um emissor e um receptor”
(RODRIGUES; BLATTMANN,2011, p. 47). Assim, as pessoas, os usuários da
informação, são os atores nesse processo que se inicia a partir de uma necessidade
de informação e termina no seu uso.
[...] o sujeito que atua socialmente em ambientes e práticas
relacionados à informação também se caracteriza como sujeito da ação
protagonista, tanto porque apoia toda essa dinâmica, quanto porque
sua própria ação interfere nesse processo (GOMES, 2017, p. 28)

O objetivo do presente estudo é refletir sobre o usuário da informação como


protagonista da gestão da informação e do conhecimento nos ambientes internos das
organizações. Entende-se que a informação é um recurso estratégico competitivo que
deve ser gerenciado para subsidiar as ações de tomada de decisão. Cabe aos
usuários internos exercerem sua ação protagonista ao implantar a gestão da
informação e do conhecimento nas organizações.
A pesquisa caracteriza-se como bibliográfica, exploratória e descritiva e
abordagem qualitativa. Os fundamentos teóricos da pesquisa são oriundos da Ciência

114
da Informação e se baseiam nos conceitos de usuário da informação, protagonismo e
gestão da informação e do conhecimento.

2 SOBRE USUÁRIO DA INFORMAÇÃO E PROTAGONISMO SOCIAL

A literatura apresenta uma multiplicidade termos utilizados para se referir a


usuários de sistemas de informação, tais como usuário da informação, usuário
potencial, usuário real, usuário interno, usuário externo, cliente, dentre outros (NÚÑEZ
PAULA, 2000).
Mais recentemente Correia (2014) propõe o uso do termo ‘interagente’ em
substituição ao termo ‘usuário’, argumentando com base em dados de uma pesquisa
bibliográfica sobre a presença do termo ‘interação’ na literatura sobre estudos de
usuários no Brasil. Entretanto o termo ‘interagente’ ainda é pouco utilizado na literatura
dos estudos de usuários.
Sanz Casado (1994) concebe o usuário como o indivíduo que necessita de
informação para o desenvolvimento de suas atividades. Assim, todas as pessoas são
usuárias da informação, pois, no cotidiano, ao desenvolverem diferentes atividades
(por exemplo: estudar, trabalhar, divertir-se) necessitam de informação.
Concorda-se com Núñez Paula (2000) quando refere que existe uma série de
critérios para nomear e classificar usuários da informação, mas deve-se ficar atento
porque os termos provêm de linguagens profissionais diversas e de diferentes épocas
o que exige precaução para definir o termo a ser utilizado em nosso discurso. Assim,
na presente pesquisa, o termo usuários da informação refere-se aos usuários internos:
as pessoas que trabalham na organização e se vinculam, direta ou indiretamente, ao
atendimento da missão e dos objetivos estratégicos dessa organização e utilizam
informação.
A temática ‘usuários’ insere-se na Ciência da Informação numa das suas teorias
contemporâneas, denominada ‘Estudos sobre os sujeitos’ (ARAÚJO, 2018).
Inicialmente, os estudos de usuários da informação emergem na literatura como
“levantamentos bibliotecários” ou como enquetes sobre leituras. O marco inicial desses
estudos foram os estudos de uso de bibliotecas públicas realizados na Escola de
Chicago na década de 1930 (CUNHA; AMARAL; DANTAS, 2015).

115
Rolim e Cendón (2013) referem dois momentos marcantes para a emergência
dos estudos de usuários: os estudos da Escola de Chicago, na década de 1930 e os
estudos de 1948 da Conferência da Royal Society quando foram apresentados dois
trabalhos sobre as necessidades de usuários de informação científica.
Ao longo do tempo, os estudos de usuários centraram sua atenção em
diferentes tipos de usuários: físicos, tecnólogos, administradores, professores,
estudantes, dentre outros. Esses estudos realizaram-se sob diferentes abordagens
(CUNHA; AMARAL; DANTAS, 2015).
Essas abordagens dialogam com os paradigmas da Ciência da informação,
defendidos por Capurro (2003). Na abordagem tradicional, centrada na unidade de
informação, o usuário é um sujeito passivo, um mero utilizador dos sistemas de
informação. Nela predominam os estudos quantitativos. Essa abordagem vincula-se
ao paradigma físico da Ciência da informação. A abordagem alternativa corresponde
ao paradigma cognitivo da Ciência da informação e é centrada no usuário da
informação. Emergem nessa abordagem os estudos de necessidades de informação,
de comportamento informacional e metodologias qualitativas. A abordagem
sociocultural considera os sujeitos como inseridos em mundos construídos
socialmente. Caracteriza-se pelo uso de diversos aportes teóricos, sobretudo das
Ciências Sociais e Humanas como a Etnometodologia, Fenomenologia, Hermenêutica,
Interacionismo Simbólico, entre outros. A informação é considerada uma construção
coletiva. Essa abordagem corresponde ao paradigma social da Ciência da informação
e surgem, então, os estudos das práticas informacionais. (TANUS, 2014).
A presente pesquisa volta sua atenção para os usuários internos de
organizações e o protagonismo social.
[...] O protagonismo tem relação conceitual com o sócio-interacionismo
e com o paradigma social da CI ao deslocar seus atores para o papel
principal, por revelar uma dimensão pessoal e ao mesmo tempo plural
de convivência com o outro, com a comunidade a qual pertence,
promovendo ações de diversos níveis, inclusive informacionais, e
potencializado uma dinâmica social e cultural no seu contexto, e na
sociedade (FARIAS; VARELA, 2018, p.35).

Ser protagonista implica intervir na realidade, apropriar-se de informações,


identificar saberes, implantar ações que visem à produção/criação de significado e
estimular o compartilhamento de conhecimento nas organizações.

116
3 USUÁRIO DA INFORMAÇÃO COMO PROTAGONISTA DA GESTÃO DA
INFORMAÇÃO E DO CONHECIMENTO

As organizações em busca de desenvolvimento e inovação vêm ampliando em


um processo evolutivo o reconhecimento da necessidade de informação e
conhecimento e o papel primordial do usuário de informação.
A relação da gestão da informação e do conhecimento se complementa e se
entrelaça nos ambientes internos das organizações como estratégias nos seus
processos. Logo, faz-se necessário ressaltar que o conhecimento tem origem nas
pessoas, o que tornam os usuários como protagonistas da gestão da informação e do
conhecimento em uma organização.
Nesse viés, Frade et al (2003, p. 56), ressaltam que “a necessidade e a oferta
de informação nas empresas são tão desarticuladas que a relação entre as pessoas
deve ser cada vez mais valorizada e imprescindível para o desenvolvimento do
conhecimento tecnológico e estratégico”. Na gestão da informação a tecnologia tem
um papel de extrema relevância nos aspectos que envolvem o armazenamento,
acesso e uso da informação, assim como na gestão do conhecimento as pessoas,
processos e tecnologias, coadunam as estratégias organizacionais.
As organizações ainda caminham a passos lentos ou obscuros no
protagonismo dos usuários da informação. Os ambientes internos possuem uma
amplitude de conhecimentos e caminhos a serem traçados para identificar e
compartilhar inúmeros saberes. Lucas, Felício, Farias e Steinbach (2006, p. 3),
ressaltam que, “o conhecimento gerado precisa ser gerenciado, pois é a base para o
capital intelectual de uma empresa. O conhecimento é um fluxo constante, no qual os
profissionais registram e compartilham experiências e conhecimentos”. O
conhecimento quando compartilhado pode abrir portas estratégicas quando a
valorização dos usuários existir em uma sociedade que cresce nesse contexto.
Duarte, Lira e Lira (2014, p. 271) destacam que
A sociedade evolui, partindo de um patamar de conhecimento que vai
se acrescentando à medida que ele é registrado e passado adiante,
para que aquele que vem depois possa usufruir o que já se consolidou.
O conhecimento não é estático. Cada vez que ele é registrado, ou seja,
aquilo que foi construído na mente do conhecedor, e explicitado por
meio do registro em suporte informacional, passa a ser conhecimento
explícito ou informação. Uma vez que esse conhecimento é
internalizado por outrem, alimentado pela visão de mundo daquele que

117
o está adquirindo, modifica-se a estrutura de conhecimento
preexistente e se converte em novo conhecimento numa dinâmica que
nunca se iguala ao conhecimento anterior.

O conhecimento por não ser estático comprova a importância do usuário da


informação na renovação e criação de novas estratégias. O gerenciamento da
informação se faz presente por meio de seus fluxos de documentos auxiliando no
suporte na tomada de decisões, assim como no desenvolvimento dos processos
organizacionais. Corroborando, Oliveira e Bertucci (2003, p. 9) evidenciam que “o
gerenciamento da informação se tornou um instrumento estratégico necessário para
controlar e auxiliar decisões, através das melhorias no fluxo da informação, do
controle, análise e consolidação da informação para os usuários”. Percebe-se que a
gestão da informação e a gestão do conhecimento são elementos de apoio e suporte
nas tomadas de decisões das organizações. Por outro lado, a existência do
conhecimento só se dará por meio das pessoas, os usuários da informação.
Carvalho e Longo ressaltam que
gerenciar as informações, como recurso dentro das organizações,
implica verificar as necessidades informacionais e passar pela coleta,
armazenamento, distribuição, recuperação e uso da informação. Torna-
se, assim, necessário buscar metodologias e ferramentas para coletar
e registrar dados a fim de possibilitar a elaboração e o tratamento da
informação, sua análise e contextualização, gerando conhecimento,
para subsidiar o processo decisório (2002, p. 114).

A gestão da informação (GI) e a gestão do conhecimento (GC) se diferem nos


seus fluxos de informação. Valentim (2008) considera que GI desenvolve suas ações
essencialmente nos fluxos formais de informação. Na GC, a autora, ressalta que
essencialmente as atividades estão nos fluxos informais que se concentram nas
pessoas como capitais intelectuais. Para Stewart (2002, p.31) “O conhecimento e a
informação estão embutidos cada vez mais em todos os nossos produtos de uso
cotidiano”.
O usuário de informação se insere neste contexto como principal elemento
detentor do conhecimento tácito nas organizações nos aspectos que envolvem desde
a origem aos processos estratégicos.
Infere-se nesse caminho que
a gestão da informação (GI) atua no âmbito no conhecimento explícito,
enquanto a gestão do conhecimento (GC) atua no âmbito do
conhecimento tácito. Ambas são aliadas e se complementam, pois a

118
gestão do conhecimento utiliza métodos, técnicas e instrumentos que
levam os sujeitos a compartilharem, socializarem e sistematizarem o
conhecimento (SARDELARI; CASTRO FILHO; HENRIQUE, 2016, p. 5).

Nesse ínterim, as estratégias apresentadas por Davenport e Prusak (1998) se


inserem no protagonismo dos usuários da informação na GI e GC, quando eles
consideram que o compartilhamento do conhecimento por ocorrer por meio de fluxos
informais em conversas no cafezinho, bebedouros, cantinas ou outros ambientes
internos, ocasionam situações oportunas de encontros para partilha de saberes,
experiências, ideias, inovações. Esses locais informais podem promover a liberdade
de diálogos. Em contrapartida, essas oportunidades só serão irão ocorrer e serem
válidas se a confiança e a parceria possam ser estímulos de motivação para as
pessoas.
É oportuno destacar aqui o conceito de gestão do conhecimento de Duarte
(2003, p.283): “a gestão do conhecimento consiste na integração de processos
simultâneos desde a criação ao uso pleno do conhecimento, viabilizado pela cultura de
aprendizado e de compartilhamento no ambiente das organizações”.
Nos aspectos formais na GI, o uso, armazenamento, o acesso e reuso da
informação perpassam por estruturas que envolvem tecnologias e outros recursos que
necessitam de aprendizagem para seu domínio pleno. Nesse ínterim, a GI tem como
seu principal objetivo “identificar e potencializar os recursos informacionais de uma
organização e sua capacidade de informação ensiná-la a aprender e adaptar-se às
mudanças ambientais” (TARAPANOFF, 2001, p.44).
A construção do conhecimento só existirá de forma plena se reconhecer o
relacionamento sinérgico entre o conhecimento tácito/pessoal e o explícito nos
ambientes internos de uma organização (CHOO, 2011). Renomada autora em gestão
da informação e conhecimento, Valentim (2008, p. 19), evidencia que “um
conhecimento construído por um indivíduo alimenta a construção do conhecimento
coletivo e, por outro lado, o conhecimento coletivo alimenta a construção do
conhecimento individual em ambientes organizacionais”. Assim, quando isso ocorrer
os processos sociais serão capazes de possibilitar novos conhecimentos por meio dos
usuários.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
119
O papel do usuário da informação possui uma relevância muito grande para a
devida efetivação da gestão da informação e do conhecimento. Os ambientes internos
perpassam por processos organizacionais a cada momento no desenvolvimento de
suas atividades tendo como protagonistas os usuários.
Refletir nessa perspectiva de gerenciamento da informação e do conhecimento
com o protagonismo dos usuários de informação, explicita também o
compartilhamento como fator que evidencia possibilidades de relações que juntas se
complementam. Para Sveiby (1998, p. 27) “o conhecimento e a informação crescem
quando são compartilhados; uma ideia ou habilidade compartilhada com alguém não
se perde, dobra”. Logo, se justifica o papel dos usuários de informação como
fundamental para a disseminação do conhecimento, assim como a necessidade e uso
da informação nos ambientes internos das organizações.
Conclui-se que os usuários que atuam nas organizações necessitam se
apoderar de informações e exercerem seu protagonismo para delinear estratégias de
gestão da informação e do conhecimento.

FINANCIAMENTO

O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de


Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES), código de
financiamento 001.

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BEATRIZ DE OLIVEIRA BARBOSA


E-mail: beatrizoliveiira60@gmail.com
THAIS HELEN DO NASCIMENTO SANTOS
E-mail: thais.hnsantos@gmail.com

122
GESTÃO DE DOCUMENTOS PARA A EFICIÊNCIA ADMINISTRATIVA:
UM ESTUDO DE CASO NA UNIVERSIDADE FEDERAL DE
PERNAMBUCO.

RESUMO: A Universidade Federal de Pernambuco é uma instituição de ensino superior que possui
grande relevância para o Estado, assim como para o país. Em suas atividades diárias são produzidas
vastas quantidades de informações, sejam de cunho administrativo, seja de cunho técnico-cientifico.
Desse modo, faz-se necessária a aplicação de procedimentos arquivísticos aos documentos, tendo em
vista o gerenciamento eficiente destes. Nesse contexto, o objetivo deste estudo é o de explorar como
ocorre a gestão de documentos na UFPE, a partir de informações coletadas com as unidades do
Protocolo e do Arquivo Geral. Em termos metodológicos, a pesquisa configura-se pela abordagem
quanti-qualitativa, bem como pelas tipologias exploratória e descritiva. A coleta de dados ocorreu
através de entrevistas do tipo semi-estruturada com servidores técnico-administrativos do Protocolo e
do Arquivo Geral. Como resultado, identificamos que a gestão de documentos ocorre na UFPE,
necessitando da padronização dos procedimentos por todos os setores da instituição.

Palavras-chave: Gestão de documentos; Protocolo; Arquivo Geral; Universidade Federal de


Pernambuco.

ABSTRACT: The Universidade Federal de Pernambuco is a higher education institution that has great
relevance for the state, as well as for the country. In their daily activities, vast amounts of information are
produced, whether administrative or technical-scientific. Thus, it is necessary to apply archivistics
procedures to documents, with a view to their efficient management. In this context, the objective of this
study is to explore how records management occurs at UFPE, based on information collected from the
Protocol and General Archive units. In methodological terms, the research is configured by the quanti-
qualitative approach, as well as by the exploratory and descriptive typologies. Data collection took place
through semi-structured interviews with technical-administrative servers of the Protocol and the General
Archive. As a result, we identified that records management takes place at UFPE, requiring
standardization of procedures by all sectors of the institution.

Keywords: Records management; Protocol; General Archive; Universidade Federal de Pernambuco.

1 NTRODUÇÃO

A gestão de documentos surge em meados dos anos 1950, “[...] decorrente


da impossibilidade de se lidar com o número, cada vez mais expressivo, de
documentos produzidos pelas administrações públicas americanas e canadenses”
(MORENO, 2008, p. 76). O resultado deste processo de administração dos
documentos, segundo Jardim (1991), é a informação no local certo, na hora certa,
para a(s) pessoa(s) certa(s), com o menor custo possível.
A Lei Nº 8.159/91, que dispõe sobre a Política Nacional de Arquivos Públicos
e Privados, estabelece em seu artigo 3º:
Considera-se gestão de documentos o conjunto de
procedimentos e operações técnicas referentes à sua
produção, tramitação, uso, avaliação e arquivamento em fase
corrente e intermediária, visando a sua eliminação ou
recolhimento para guarda permanente (BRASIL, 1991, on-line).

123
A Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) é uma instituição de ensino
superior que possui grande relevância para o Estado, assim como para o país. Em
suas atividades diárias são produzidas vastas quantidades de informações, sejam de
cunho administrativo, seja de cunho técnico-cientifico. Desse modo, faz-se
necessária a aplicação de procedimentos arquivísticos nos acervos da instituição
para que a documentação produzida e/ou recebida obtenha o gerenciamento
adequado e possa auxiliar no cumprimento dos objetivos institucionais. Outrossim,
no âmbito da administração pública, a gestão de documentos é um compromisso
fundamentado na Constituição Federal (artigo 216, §2º), na já mencionada Lei Nº
8.159/91, bem como na Lei Nº 12.527/11 que é referente ao acesso à informação.
Nesse contexto, o objetivo deste trabalho é o de explorar como ocorre a
gestão de documentos na UFPE, a partir de informações coletadas com as equipes
do Protocolo e do Arquivo Geral. Este estudo é um desdobramento da pesquisa
PIBIC intitulada ‘Por um sistema de arquivos da Universidade Federal de
Pernambuco: do mapeamento à proposta’, desenvolvida entre 2019 e 2020.

2 GESTÃO DE DOCUMENTOS

A gestão de documentos pauta-se no tratamento e na organização da


documentação, tendo em vista o rápido acesso à informação para subsídio às
tomadas de decisão. Nas palavras de Moreno (2008, p. 73), “entende-se que a
gestão de documentos ou gestão documental é o trabalho de assegurar que a
informação arquivística seja administrada com economia e eficácia; que seja
recuperada de forma ágil e eficaz [...]”.
Existem três fases básicas da gestão de documentos, sendo elas: a produção,
a utilização e a destinação. Paes (2004) argumenta que a produção de documentos
é referente à elaboração dos documentos em razão das atividades de um órgão ou
setor. A utilização dos documentos, por sua vez, inclui as atividades de protocolo, de
expedição, de organização e de arquivamento dos documentos, assim como a
elaboração de normas de acesso à documentação e à recuperação da informação.
Já na fase de destinação, ocorre a avaliação dos documentos com o intuito de
estabelecer prazos de guarda e destinação final (eliminação ou recolhimento para a
guarda permanente) (PAES, 2004).
Tais atividades possuem por base a Teoria das Três Idades, definida como
124
“[...] a qual os arquivos são considerados arquivos correntes, arquivos intermediários
ou permanentes, de acordo com a frequência de uso por suas entidades produtoras
e a identificação de seus valores primário e secundário” (ARQUIVO NACIONAL,
2005, p. 160). Os arquivos correntes são constituídos dos documentos
frequentemente utilizados. Já os documentos da fase intermediária, não são
utilizados com tanta frequência e aguardam a sua destinação final, isto é, a
eliminação ou recolhimento para a fase permanente. Os documentos de idade
permanente possuem um caráter histórico e/ou comprobatório e, por isso, não são
eliminados (PAES, 2004).
A classificação e a avaliação são as principais funções da gestão de
documentos (BERNARDES; DELATORRE, 2008). A classificação “recupera o
contexto de produção dos documentos, isto é, a função e atividade que determinou a
sua produção e identifica os tipos/séries documentais” (BERNARDES;
DELATORRE, 2008, p. 9). Já a avaliação é o “processo de análise de documentos
de arquivo que estabelece os prazos de guarda e a destinação, de acordo com os
valores que lhes são atribuídos” (ARQUIVO NACIONAL, 2005, p. 41). A
operacionalização da classificação e da avaliação ocorre por meio do plano de
classificação e da tabela de temporalidade e destinação de documentos,
respectivamente. No caso da UFPE, existem tais instrumentos de gestão de
documentos, como é o caso do código de classificação e tabela de temporalidade
das atividades-meio da Administração Pública Federal, regulamentados pela
Resolução nº 45, de 14 de fevereiro de 2020 do Conarq, bem como o código de
classificação e tabela de temporalidade das atividades-fim das Instituições Federais
de Ensino Superior, sendo a sua aplicabilidade normalizada pela Portaria do MEC nº
1.261, de 23 de dezembro de 2013.
Bernardes e Delatorre (2008, p. 7) argumentam que:

As falhas nos sistemas de controle da produção e tramitação


dos documentos, a acumulação desordenada e a falta de
normas e procedimentos arquivísticos comprometem a
qualidade das atividades rotineiras, uma vez que dificulta o
acesso à informação, onera o espaço físico e aumenta os
custos operacionais.

Dessa forma, a ausência de métodos e procedimentos da gestão de


documentos pode desencadear implicações nas tomadas de decisão e na eficiência

125
dos processos administrativos. Destarte, é imprescindível a aplicação dos
procedimentos da gestão de documentos em uma instituição de ensino superior,
tanto para o tratamento e organização dos registros decorrentes das atividades-
meio, quanto das atividades-fim.

3 METODOLOGIA

Para este trabalho foi utilizada a abordagem de pesquisa quanti-qualitativa ou


mista. Esta abordagem tem o intuito de fundir os dados numéricos, tendo por base a
Estatística, e a análise do contexto e das características do assunto estudado
(HERNÁNDEZ SAMPIERI; FERNÁNDEZ COLLADO; BAPTISTA LUCIO, 2013).
Além disso, a pesquisa caracteriza-se pelas tipologias exploratória e
descritiva. Segundo Hernández Sampieri, Fernández Collado e Baptista Lucio (2013,
p. 101), “os estudos exploratórios são realizados quando o objetivo é examinar um
tema ou um problema pouco estudado”, tendo em vista ampliar pesquisas já
existentes e/ou fomentar novas perspetivas de investigação. Os estudos de tipologia
descritiva, com base nos mesmos autores, “buscam especificar propriedades,
características e traços importantes de qualquer fenômeno que analisarmos.
Descreve tendências de um grupo ou população” (HERNÁNDEZ SAMPIERI;
FERNÁNDEZ COLLADO; BAPTISTA
LUCIO, 2013, p. 102). O estudo ora apresentado colabora com a ampliação das
pesquisas acerca da gestão de documentos, tomando por base a descrição do caso
da Universidade Federal de Pernambuco.
Assim, o lócus da pesquisa é a UFPE. Especificamente, a coleta de dados
ocorreu com as equipes do Protocolo e do Arquivo Geral. As atividades do Protocolo
referem-se a fase inicial dos documentos, isto é, a sua produção e/ou recebimento,
ao passo que o Arquivo Geral é a unidade que trata a documentação intermediária e
permanente da instituição.
O instrumento de coleta de dados utilizado foi a entrevista. Richardson (2015,
p. 207) argumenta que “a entrevista é uma técnica importante que permite o
desenvolvimento de uma estrita relação entre pessoas. É um modo de comunicação
no qual determinada informação é transmitida de uma pessoa A a uma pessoa B”.
Existem três tipos de entrevistas, sendo elas: a entrevista dirigida ou estruturada, a
entrevista guiada ou semi-estruturada e a entrevista não diretiva ou não-estruturada.
126
A tipologia de entrevista adotada neste trabalho foi a semi-estruturada, em razão de
ser mais flexível nos questionamentos, contribuindo, assim, para a obtenção de mais
informações disponibilizadas pelos participantes.
As entrevistas com os servidores responsáveis pelo Protocolo e pelo Arquivo
Geral foram marcadas por e-mail e realizadas através da plataforma Google Meet. A
entrevista com o Protocolo Geral ocorreu no dia 22 de agosto de 2020 e teve 41
minutos e 15 segundos de duração, com a participação de um servidor da unidade.
Já a entrevista com a equipe do Arquivo Geral foi realizada no dia 27 de agosto do
mesmo ano, tendo 1 hora, 29 minutos e 59 segundos de duração e contou com a
participação de três servidores. Em ambos os casos, utilizamos roteiros contendo 14
perguntas.

4 ANÁLISE DOS DADOS

Universidade Federal de Pernambuco possui unidades de arquivo que tratam


da documentação institucional desde sua fase inicial (corrente) até a fase
intermediária e permanente, são elas: o Protocolo e o Arquivo Geral,
respectivamente. Estas unidades são essenciais para a realização da gestão de
documentos na UFPE, o que motivou a exploração do caso por meio das entrevistas
com as referidas equipes.
O Protocolo Geral é uma coordenação imprescindível para a instituição. É
através dessa unidade que o tratamento da documentação é iniciado. O servidor
técnico-administrativo responsável pela unidade arquivística ressalta tal ponto: “eu
considero como uma porta de entrada [...] da questão das comunicações, toda
informação externa [...]” (DADOS DA PESQUISA, 2020). A coordenação conta com
seis servidores técnico-administrativos designados para o local, sendo um arquivista
e os demais assistentes e auxiliares administrativos (informação verbal) 1.
Segundo os dados obtidos na entrevista (2020), são diversas as atividades
desempenhadas pelo setor: recebimento, criação e cadastro dos documentos,
comunicação institucional, bem como são realizadas orientações aos demais setores
da universidade em relação ao tratamento dos documentos (informação verbal) 2.

1
Entrevista concedida por 1, Entrevistado. Coordenação de Protocolo Geral. [jul. 2020]. Entrevistador: Beatriz de Oliveira
Barbosa. Recife, 2020. 1 arquivo mp4. (41min15s).

127
2
Ibidem, 2020.
3
Ibidem, 2020.
4
Ibidem, 2020.

Na unidade são utilizados os instrumentos da gestão de documentos, isto é, o


código de classificação e a tabela de temporalidade das atividades-meio da
Administração Pública Federal, bem como o plano de classificação e tabela de
temporalidade das atividades-fim das Instituições Federais de Ensino Superior
(informação verbal)3. O código de classificação e a tabela de temporalidade e
destinação de documentos relativos às atividades-meio do Poder Executivo Federal
teve a sua atualização publicada no primeiro semestre do ano de 2020. A UFPE está
em diálogo com outras instituições brasileiras para operacionalizar a atualização
destes instrumentos (informação verbal)4.
Com a implementação do SIPAC (Sistema Integrado de Patrimônio,
Administração e Contratos) na UFPE, ocorrido em 2019, houve a automatização de
algumas atividades do Protocolo. Nesse contexto, o servidor ressalta que são
solicitadas alterações no sistema, quando necessário, e os profissionais de
Tecnologia da Informação se organizam para tentar atendê-las (informação verbal) 5.
O entrevistado ressalta que o maior desafio enfrentado pela unidade é a
questão das orientações. Muitos setores não buscam ajuda em relação ao processo
de registro e acabam cometendo equívocos, o que gera retrabalho para o Protocolo.
Diante disso, é defendida a necessidade da padronização das atividades
arquivísticas, com o intuito de incentivar as pessoas para a colaboração e a
aplicação da gestão de documentos (informação verbal)6.
O Arquivo Geral também é uma unidade arquivística crucial para a
universidade. Esta é responsável pelo gerenciamento da documentação de fase
intermediaria e permanente. Além disso, tem o intuito de preservar a memória
institucional e auxiliar no processo de decisão através dos documentos que estão
sob sua custódia (UFPE, 2020). O processo de coleta de dados nesta unidade
contou com a participação de três servidores técnico-administrativos7.

5
Entrevista concedida por 1, Entrevistado. Coordenação de Protocolo Geral. [jul. 2020]. Entrevistador: Beatriz de Oliveira

128
Barbosa. Recife, 2020. 1 arquivo mp4. (41min15s).
6
Ibidem, 2020.
7
Os entrevistados estão indicados como AG1, AG2 e AG3.
8
Entrevista concedida por AG1, Entrevistado; AG2, Entrevistado; AG3, Entrevistado. Coordenação de Arquivo Geral. [jul.
2020]. Entrevistador: Beatriz de Oliveira Barbosa. Recife, 2020. 1 arquivo mp4. (1h29min59s).

As atividades realizadas pelo Arquivo Geral abrangem a aplicação dos


códigos de classificação e das tabelas de temporalidade, a atuação na Comissão
Permanente de Avaliação de Documentos (CPAD), a reclassificação dos
documentos e processos (quando for preciso), a operacionalização do processo de
destinação final de documentos (recolhimento para a guarda permanente ou
eliminação). Ademais, fazem orientações a outros setores no que diz respeito à
classificação, aos prazos de guarda e à destinação final dos documentos, assim
como recebem pesquisadores que buscam informações na documentação histórica
e cultural do arquivo e realizam visitas técnicas. Atualmente, a unidade conta com
seis servidores técnico-administrativos e cinco bolsistas designados para o local
(informação verbal)8.
Em relação ao SIPAC, os entrevistados afirmam que um dos entraves no uso
do sistema é a classificação incorreta dos documentos (DADOS DA PESQUISA,
2020). Tal situação, tem como consequência, o retrabalho para o Arquivo Geral. O
entrevistado AG1 ressalta que o SIPAC não é um Sistema Informatizado de Gestão
Arquivística de Documentos (SIGAD)9. Ele é um sistema de registro de documentos
que possui diversos módulos, entre eles, o de protocolo. De forma complementar, o
entrevistado AG3 ressalta que é necessário um software para os documentos de
idade permanente, tendo em vista o acesso à longo prazo, ou seja, a preservação
digital dos registros (informação verbal)10.
Embora sejam aplicados os instrumentos de classificação e de avaliação dos
documentos, bem como ocorram as orientações para a realização da gestão de
documentos em diferenciados setores, o entrevistado AG1 diz que “[...] tem muitas
coisas para serem feitas” (DADOS DA PESQUISA, 2020). Outrossim, o entrevistado
AG3 ressalta a importância do trabalho conjunto entre os setores da instituição,
principalmente com a área de Tecnologia, para a realização de uma gestão de
documentos eficiente na UFPE (informação verbal) 11.

129
9
O SIGAD consiste em “[...] um conjunto de procedimentos e operações técnicas, característico do sistema de gestão
arquivística de documentos, processado por computador. Pode compreender um software particular, um determinado número
de softwares integrados, adquiridos ou desenvolvidos por encomenda, ou uma combinação destes” (CONARQ, 2011,
p. 10). O e-ARQ Brasil estabelece os requisitos mínimos para um SIGAD.
10
Entrevista concedida por AG1, Entrevistado; AG2, Entrevistado; AG3, Entrevistado. Coordenação de Arquivo Geral. [jul.
2020]. Entrevistador: Beatriz de Oliveira Barbosa. Recife, 2020. 1 arquivo mp4. (1h29min59s).
11
Ibidem, 2020.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo buscou explorar as atividades de gestão de documentos


desenvolvidas na Universidade Federal de Pernambuco, especificamente, por meio
do Protocolo e do Arquivo Geral. Como resultado, identificamos que a gestão de
documentos está presente na instituição. No entanto, ainda é enfrentado o desafio
da padronização dos procedimentos e operações arquivísticas por todos os setores
da universidade. A gestão arquivística de documentos, de forma padronizada,
viabilizará todos os benefícios mencionados por Moreno e Calderon (2005), tais
como: maior agilidade na recuperação da informação para a tomada de decisão,
manutenção dos documentos ú t e i s à organização (mínimo essencial), menor
espaço útil para acondicionamento dos documentos e a racionalização dos
processos, desde a produção à avaliação documental.

REFERÊNCIAS

. Resolução Nº 45, de 14 de fevereiro de 2020. Revoga as Resoluções nº 14,


de 24 de outubro de 2001; nº 21 de 4 de agosto de 2004 e nº 35, de 11 de dezembro
de 2012. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 20 fev. 2020.
1, Entrevistado. Coordenação de Protocolo Geral. [jul. 2020]. Entrevistador:
Beatriz de Oliveira Barbosa. Recife, 2020. 1 arquivo mp4. (41min15s).
AG1, Entrevistado; AG2, Entrevistado; AG3, Entrevistado. Coordenação de
Arquivo Geral. [jul. 2020]. Entrevistador: Beatriz de Oliveira Barbosa. Recife, 2020.
1 arquivo mp4. (1h29min59s).
ARQUIVO NACIONAL (Brasil). Dicionário Brasileiro de Terminologia
Arquivística. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2005.
BERNARDES, I. P.; DELATORRE, H. Gestão documental aplicada. São Paulo:
Arquivo Público do Estado de São Paulo, 2008.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 10
nov. 2020.
BRASIL. Lei Federal Nº 12.527, de 18 de novembro de 2011. Regula o acesso a

130
informações previsto no inciso XXXIII do art. 5 o, no inciso II do § 3o do art. 37 e no §
2o do art. 216 da Constituição Federal; altera a Lei no 8.112, de 11 de dezembro de
1990; revoga a Lei no 11.111, de 5 de maio de 2005, e dispositivos da Lei no 8.159,
de 8 de janeiro de 1991; e dá outras providências. Diário Oficial da União, 18 nov.
2011.
BRASIL. Lei Federal Nº 8.159, de 8 de janeiro de 1991. Dispõe sobre a política
nacional de arquivos públicos e privados e dá outras providências. Diário Oficial da
União, Brasília, DF, 9 jan. 1991.
BRASIL. Portaria MEC Nº 1.261, de 23 de dezembro de 2013. Diário Oficial da
União, 24 dez. 2013. Disponível em: <
http://pesquisa.in.gov.br/imprensa/jsp/visualiza/index.jsp?jornal=1&pagina=11&data=
24/12/2013>. Acesso em: 10 nov. 2020.
CONARQ (CONSELHO NACIONAL DE ARQUIVOS). BRASIL. e-ARQ Brasil:
Modelode Requisitos para Sistemas Informatizados de Gestão Arquivística de
Documentos. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2011.

131
GT 3
POLÍTICAS DE INFORMAÇÃO, QUALIFICAÇÃO E
ATUAÇÃO PROFISSIONAL
EDILSON TEIXEIRA BARBOSA FILHO
E-mail: edilsonteixeira48@gmail.com
LUCIANA FERREIRA COSTA
E-mail: lucianacarioca@gmail.com

PRODUTIVISMO ACADÊMICO: PERCEPÇÕES DA CIÊNCIA DA


INFORMAÇÃO

RESUMO: Este estudo objetiva analisar a percepção sobre o fenômeno do produtivismo acadêmico
pelos docentes do núcleo docente permanente dos Programas de Pós-Graduação em Ciência da
Informação em funcionamento nas regiões Norte, Nordeste e Centro-oeste do Brasil.
Metodologicamente, a pesquisa é bibliográfica e descritiva, pautando-se na abordagem qualitativa.
Utiliza o questionário como instrumento de coleta de dados. Os dados obtidos são tratados e
descritos à luz do arcabouço teórico. Como resultado, aponta que os docentes investigados, em sua
maioria, percebem o produtivismo acadêmico como uma realidade de exigências de grandes
proporções em suas atividades e que a ênfase recai nas questões quantitativas da produção
científica. Conclui que a lógica produtivista altera o modo de vida dos docentes, confirmando que o
produtivismo acadêmico pode afetar não apenas a performance no trabalho, mas reverberar em
sérios problemas de saúde, a exemplo da ansiedade, do estresse e da síndrome de Burnout ou
síndrome do esgotamento profissional que são atualmente responsáveis pelo afastamento do
trabalho por determinado período de tempo. Transtornos que podem ter se agravado mais ainda com
a pandemia de COVID-19 neste ano de 2020.

Palavras-chave: Produtivismo acadêmico; Percepção dos docentes; Programa de Pós-graduação


em Ciência da Informação; Brasil.

Abstract: This research aims to analyze the perception of academic productivism on the activities
developed by professors linked to the Graduate Programs in Information Science in Brazil,
emphasizing the ongoing programs in the North, Northeast and Center-West regions of the country.
Metodologically, this research nature is bibliographic and descriptive, anchored in the qualitative
approach. The data collection is done through the application of a questionnaire, with data processed
from the cientific literature. The results reveal that the majority of the investigated group recognizes the
demands and emphasis on the quantitative aspect of scientific production and the perception of the
productivist logic on their way of living.It concludes, confirming that the productivism can affect not
only the work, but can also cause health problems such as anxiety, stress and the Burnout syndrome
responsable for taking time off work for a certain period of time. Disorsders that way have worsened
even more with the COVID-19 pandemic this year 2020.

Keywords: Academic productivism; Perception of professor; Graduate Program in Information


Science; Brazil.

1 NOTAS INTRODUTÓRIAS

Como um recorte de uma pesquisa maior realizada no âmbito da Iniciação


Científica (2019-2020), a pesquisa em relato teve como objetivo analisar a
percepção dos docentes do núcleo docente permanente dos Programas de Pós-
Graduação em Ciência da Informação no Brasil acerca do produtivismo acadêmico.
A ênfase recaiu sobre os programas em funcionamento nas regiões Norte, Nordeste
e Centro-oeste do país.

133
O conhecimento científico, na sociedade contemporânea, convertido em
capital intelectual, vem ganhando cada vez mais destaque, sendo esse produzido,
essencialmente, nas instituições públicas de ensino superior no Brasil por meio da
pesquisa acadêmica. Com vistas a impulsionar a produção desse conhecimento as
agências de fomento estabelecem critérios de avaliação que põe em relevo a
quantidade das publicações. Desse modo, os docentes de cursos de graduação e,
sobretudo, com vinculação à pós-graduação, acumulam cada vez mais volume de
trabalho, frustrações e, em alguns casos, adoecem devido as exigências em termos
numéricos. Com olhar voltado aos agravantes ocasionados por esse fenômeno no
meio acadêmico, identificam-se estudiosos e suas publicações, a exemplo dos
brasileiros Curty (2010), Pimenta (2015), Sampaio (2016) e Andrade, Cassundé e
Barbosa (2019) e dos portugueses Santiago e Carvalho (2015), que descortinam as
consequências do fenômeno - produtivismo acadêmico - que se mostram mais
evidentes no contexto da pós-graduação devido aos critérios das agências de
avaliação e de fomento que regulam os PPG.
Inegavelmente, os programas de pós-graduação (PPG) são considerados loci
privilegiados de práticas científicas, produção de conhecimento e formação de alto
nível (VELLOSO; VELHO, 2001), daí o interesse em investigar a temática
produtivismo acadêmico, na área da Ciência da Informação, no contexto dos PPG.
Assim, a questão que norteou a pesquisa foi: Qual a percepção dos docentes do
núcleo permanente dos PPG em Ciência da Informação acerca do produtivismo
acadêmico?
No presente estudo, de modo a responder esta questão e atingir o objetivo
proposto, empreendeu-se a pesquisa em relato de modo a
aprofundar o conhecimento sobre o tema do produtivismo acadêmico, fenômeno
presente em todas as áreas do conhecimento, a fim de elucidar como este vem
reverberando não apenas no contexto laboral, mas na vida e na saúde dos
docentes.

2 PRODUTIVISMO ACADÊMICO

Com propagação nos Estados Unidos da América (EUA) na década de 1950


por meio da expressão “Publish or perish” (publicar ou perecer) (ALCADIPANI,
2011), o termo produtivismo acadêmico diz respeito à publicação como objetivo final

134
do trabalho intelectual (ALVES, 2014). Para além disso, demonstra o risco que
intelectuais, cientistas e acadêmicos corriam se não cumprissem as metas impostas
pelos órgãos de financiamento, pelas universidades e pelo mercado.
A máxima publish or perish é o símbolo da pressão social para que
intelectuais, cientistas e acadêmicos publiquem cada vez mais, e seu decanto é
também um símbolo de decadência visível da universidade como instituição do
saber, onde o pensamento reflexivo e competente é substituído pelo culto à
produtividade sem critérios (CURTY, 2010).
Conceituando produtivismo acadêmico, Trein e Rodrigues (2011) o concebem
como, a partir de sua materialização em artigos, como “fetiche-conhecimento-
mercadoria” que contribui para o “mal-estar” da academia brasileira. A adoção do
produtivismo acadêmico, em solo brasileiro, remete ao final dos anos 1970 e, de
forma legitimada, aos anos 1990 (GODOI; XAVIER, 2012).
Na perspectiva de Rego (2014), o produtivismo acadêmico é encarado como
a obrigação do pesquisador de publicar, quase que exclusivamente, em periódicos a
fim de ser avaliado, já que as publicações nas revistas geram indicadores de
qualidade do pesquisador, apesar da relevância questionável das publicações.
Por sua vez, Camargo Jr. (2014) aborda que esse fenômeno se caracteriza
pela pressão exercida junto aos pesquisadores para publicar sempre e cada vez
mais. Essa obrigação por produzir pode chegar a níveis insustentáveis e
insuportáveis, impactando negativamente não só a qualidade das publicações, mas
a vida e a saúde dos profissionais acometidos por esse fenômeno.
Inclusive, sobre o exposto até aqui, destaca-se uma polêmica reportagem
publicada no jornal Folha de São Paulo, em fevereiro de 1988, que divulgou o que
ficou conhecida como “a lista dos improdutivos”. A lista foi elaborada com base na
relação de 1.108, de 4.398 professores da Universidade de São Paulo (USP), que
1
não apresentaram produção científica nos anos de 1985 e 1986 . Este fato colocou
a produção docente como pauta em reflexões e debates intelectuais (SAMPAIO,
2016).
É de fato que a pesquisa é a dimensão mais prestigiada entre as demais
atividades – ensino, extensão e gestão - que fazem parte do trabalho docente. Esse
prestígio se deve às contribuições que o capital intelectual trouxe para os sistemas
produtivos, fazendo com que docentes/pesquisadores ganhassem maior visibilidade
social (NÓVOA, 2007; VOSGUERAU; ORLANDO; MEYER, 2017).

135
Em contrapartida, a partir da pesquisa que as universidades e os docentes
envolvidos nessa atividade são avaliados. A forma de avaliação da pós-graduação
no Brasil intensifica o trabalho dos docentes/pesquisadores, promovendo um cenário
de exclusão, alienação e estranhamento no trabalho a partir de processos de
avaliação que se baseiam em critérios quantitativos de produção acadêmica
(SGUISSARD, SILVA JÚNIOR, 2009; VIZEU; MACADAR, GRAEML, 2014).
O modelo de avaliação valoriza prioritariamente a produção científica,
provocando o deslocamento da centralidade na docência para a centralidade na
pesquisa. Apesar de reconhecerem o caráter positivo da centralidade na pesquisa
no âmbito da pós-graduação, a literatura científica destaca alguns aspectos
negativos e não resolvidos do modelo de avaliação, como a “ausência de uma
fórmula razoável e rápida para avaliar a qualidade da produção científica em termos
de impacto social e científico dos produtos na qualidade de vida” e também a
situação do ““surto produtivista” em que a quantidade se institui em meta e o que
conta é publicar” reverberando na “banalização de formas legítimas de produção”
(KUENZER; MORAIS, 2005, p.1348).
Nas palavras de Pimenta (2014, p. 158) “é a produção de saberes reduzida à
corrida por publicação e aos pontos que gerar.” A autora discute que o sistema de
avalição da pós-graduação é basicamente alicerçado sobre as publicações. Ao
analisar os documentos de área para sua tese, Pimenta concluiu que esse “ranking”
torna as relações entre os docentes mais competitivas e ansiosas, uma vez que a
permanência dos professores nos PPG depende dos pontos somados no Currículo
Lattes durante o período de avaliação, antes trienal e atualmente quadrienal. Nesse
sentido, as metas estabelecidas geram pressão hierarquizada no âmbito da pós-
graduação, onde as pró-reitorias de pesquisa e pós-graduação são pressionadas
pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), que
por sua vez exercem pressão nos coordenadores, que cobram a produção do corpo
docente para garantir uma boa pontuação no sistema de avaliação (CAFÉ, 2017).
Renata Curty (2010, p. 34) disserta sobre a tônica da sociedade
contemporânea: “publicar a qualquer custo, publicar seja lá o que for publicar como
forma de sobrevivência profissional” e acredita que, em nome de pretensa
otimização da produtividade, a ascensão profissional obedece a parâmetros cada
vez mais quantitativos. Indo além, a autora acredita que é inevitável que a ênfase no
quantitativo, em se tratando da produção intelectual e científica, acentua o
desvirtuamento das universidades.

136
Diversos estudos apontam para o modelo de avaliação das agências de
fomento como um dos principais fatores para propagação do “surto produtivista”.
Sobre isso, Curty (2010, p. 60) acredita que “na academia o consenso sobre a
necessidade da avaliação, como processo contínuo, pode ser unânime”, mas
adverte que esta unanimidade é insustentável por não considerar as especificidades
de cada área do conhecimento, sendo vigente o estabelecimento de “critérios únicos
e unitários para avaliar programas e produções tão distintos”.

3 METODOLOGIA
A pesquisa possui natureza bibliográfica e descritiva, sob abordagem
qualitativa, e tem como recorte o enfoque na percepção dos docentes acerca do
produtivismo acadêmico.
Os atores da pesquisa foram os docentes do núcleo permanente dos PPG em
Ciência da Informação. O universo de atores totalizou 104 docentes e a amostra
totalizou 38 docentes, sendo está configurada pelos que responderam ao
instrumento de coleta de dados aplicado, que foi um questionário elaborado via
Google Forms, com garantia de anonimato do respondente. O questionário foi
enviado aos docentes para o seu e-mail pessoal e institucional, em maio de 2020.
A finalidade deste instrumento foi recolher dados sobre a percepção dos
atores acerca do produtivismo acadêmico. Compuseram a pesquisa oito programas
das regiões norte, nordeste e centro-oeste, a saber: Programa de Pós-Graduação
em Ciência da Informação da Universidade Federal do Pará (PPGCI/UFPA);
Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade Federal da
Bahia (PPGCI/UFBA); Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da
Universidade Federal de Sergipe (PPGCI/UFS); Programa de Pós-Graduação em
Ciência da Informação da Universidade Federal da Paraíba (PPGCI/UFPB);
Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade Federal de
Alagoas (PPGCI/UFAL); Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da
Universidade Federal de Pernambuco (PPGCI/UFPE); Programa de Pós-Graduação
em Ciência da Informação da Universidade Federal do Ceará (PPGCI/UFC);
Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade de Brasília
(PPGCINF/UnB).

137
A análise e interpretação dos dados se deu a partir das respostas dos
docentes, devidamente identificadas pelo código “D” seguida de numeração (de 1 a
38), as quais foram analisadas mediante cruzamento com a literatura.

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Ao analisar as respostas obtidas por meio da aplicação do questionário, é


possível notar a consonância entre as definições do produtivismo acadêmico
trazidas no aporte teórico e a percepção dos docentes sobre esse fenômeno.
Algumas das respostas a seguir ilustram estar em compasso com as definições
presentes na literatura:
É a valorização excessiva da produtividade e produção científica
publicada em livros, periódicos, anais, etc., deixando para
segundo plano os aspectos qualitativos desta mesma produção.
(D.36)

Tem se direcionado para a cobrança excessiva de produção,


focando cada vez mais na quantidade e menos na qualidade.
(D.34)

Já se tem conhecimento que a busca desenfreada pelo aumento da


quantidade de produção pode comprometer a qualidade da pesquisa desenvolvida
na academia de modo geral, nesse sentido, os docentes se posicionaram da
seguinte forma:

O produtivismo acadêmico, a meu ver, se constitui na prática


acadêmico-científica que tem como principal objetivo o
“crescimento” da produção, independente de outras variáveis
indispensáveis à qualidade dessa produção como, por exemplo,
“aderência”, “relevância”, “inovação”, “continuidade” e
“aplicação”, entre outras. (D.38)

Entendo como a produção voltada para resultados quantitativos


(quantidade de publicações), embora nem sempre seja
acompanhada de resultados qualitativos consistentes, que se
revertam no avanço do conhecimento. (D.22)

Até então, o método de avaliação das agências de fomento vem sendo


apontado como um dos principais indicadores da manutenção e propagação do
produtivismo acadêmico, conforme destacaram autores como Sguissar e Silva
Júnior (2009), Café (2017) e Vizeu, Macadar e Graeml (2014). Nas respostas os
docentes citam os instrumentos de avaliação e seus indicadores quantitativos:

138
A cobrança/valorização por/de uma quantidade de produção
exacerbada para atender critérios de órgãos de fomento como a
CAPES. (D.30)

A forma encontrada pelas agências de fomento de impor aos


pesquisadores a lógica de prestigiar a quantidade da produção
acadêmica em detrimento da qualidade dessa produção. (D.17)
[...] para os critérios da Capes, apesar de trabalhar muito, sou
considerada improdutiva pq tenho muito projeto, mas nem sempre
público (uma publicação ao ano). (D.2)

É de suma importância reconhecer que, além de mudar o modus operandi


de realizar pesquisa, o produtivismo também se caracteriza pelo acumulo de
funções por parte dos docentes (CURTY, 2010). Apesar de atividades como
orientação, liderança em grupo de pesquisa e participação como membro de corpo
editorial de periódicos, serem exigências conferidas a qualquer docente vinculado a
um PPG, deve-se considerar que, com a pressão imposta por produzir e mostrar
resultado, as atividades acumuladas tendem por intensificar o trabalho docente.
Esse contexto pode ser observado nas seguintes respostas:
[...] a cobrança do produtivismo faz com que o pesquisador acabe
por passar muito mais horas do que as "ditas" 40 horas
semanais em seu trabalho. Invadindo finais de semana, feriados,
recessos e quarentenas [...]. (D.30)

Na medida do possível vamos conciliando todas estas atividades.


Uma aula, uma orientação a um aluno de graduação ou de pós,
não pode ser prejudicada em função de outros afazeres. O caso é
que "temos que dar conta" e não raramente estamos trabalhando
praticamente o dia todo, 7 dias por semana para cumprir nossos
objetivos. (D.18)

Notam-se indícios de consequências para além do mundo laboral. Estresse,


saúde mental e qualidade de vida são termos cada vez mais recorrentes em estudos
sobre esse fenômeno. É notável a preocupação com a dimensão psicoemocional
vulnerabilizada pelas anomalias advindas da máquina produtivista. Então, a fim de
reforçar e verificar as consequências atestadas por autores como Godoi e Xavier
(2012), evidenciam-se as seguintes respostas:
[...] Essa discussão envolve outras questões negativas importantes
de serem discutidas, como a competitividade excessiva, baixa
qualidade de vida, stress, entre outros. (D.26)

Com certeza a lógica da produtividade exagerada implica


diretamente no tempo necessário para se dedicar a outras
atividades acadêmicas e também na própria qualidade de vida,
muitas vezes, interferindo no rendimento e na saúde mental.
(D.36)

139
[...] Esse espaço-tempo invadido passa a fazer parte da sua rotina
ocasionando estresse e distanciamento familiar. (D.6)

Entre os respondentes há aqueles que enfrentaram problemas de saúde e


sofrimentos psíquicos, como a síndrome de burnout que corresponde a uma
síndrome do trabalho, associada nos estudos de Pimenta (2014) ao produtivismo
acadêmico:
Tenho trabalhado todo dia, nem sei mais o que é final de semana,
férias ou feriados. Trabalho em casa, na universidade, em todo
lugar. Estou viciada em trabalho e doente. [...] Depois de adoecer
(sofri por muito tempo a síndrome de burnout), relativizei
bastante a minha postura acadêmica, e hoje não corroboro com
professores 'desesperados' em produção. Minha produção
científica é regular, e satisfatória. (D.25)

Em linhas de síntese das análises e discussões, é perceptível em uma das


respostas a postura de resistência à lógica produtivista:

[...] É uma lógica que precisa ser refutada, mas, a mim me parece
que a maioria virou uma manada de seres obedientes à histeria da
produção agônica e fria, em detrimento do hedonismo da pesquisa,
que liberta e alegra, sem roubar de nós a visão crítica do mundo e
de seus fenômenos. (D.8)

Percebe-se, na resposta supracitada, seu alinhamento com as reflexões de


Pimenta (2014), reafirmando a necessidade de buscar formas de resistir a lógica
produtivista e atestando que essa resistência passa a surgir entre os intelectuais.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente pesquisa teve como objetivo analisar a percepção dos docentes


do núcleo permanente dos PPG em CI das regiões norte, nordeste e centro-oeste
acerca do produtivismo acadêmico.
Por meio desta investigação, evidenciou-se que as atividades exercidas pelos
docentes sofrem pressão por “produtividade”, confirmando a tônica dos estudos
desenvolvidos por estudiosos que embasaram a discussão sobre o tema. Confirma-
se a intensificação das atividades atribuídas aos docentes que extrapolam a jornada
de trabalho na instituição, invadindo, portanto, o tempo livre e os finais de semana.
É evidente que, embora os docentes investigados reconheçam a
importância do sistema de avaliação da CAPES, consideram-no como um dos
principais motivos para a manutenção do produtivismo acadêmico. Acerca dos
critérios avaliativos das agências de fomento e avaliação da pós-graduação, é
140
possível notar, a partir dos docentes, a insatisfação quanto a ausência de equilíbrio
entre os critérios que faz com que outras atividades realizadas no âmbito dos PPG
tenham menos valor em relação à pesquisa científica, fazendo com que certos
docentes sejam considerados “improdutivos” apesar de exercerem tantas outras
funções. Não obstante, constatou-se a percepção por parte dos docentes de que o
produtivismo acadêmico pode afetar não só o trabalho, mas também acarretar
problemas de saúde como ansiedade, estresse e a síndrome de burnout. Tanto que
um(a) docente manifestou ter sofrido desta síndrome.
Em linhas de conclusão, é fato que o desgaste físico e emocional pode ter se
agravado com a pandemia de COVID-19, já que devido à necessidade do
distanciamento social ou físico, a condição de home office vem requerendo mais
horas diante do computador em aulas remotas, gravações, em realização de
palestras ou Lives nas mais diversas plataformas como o Google Meet, o Zoom, o
Instagram, o YouTube, dentre outras, isto porque as atividades de ensino, pesquisa,
extensão e gestão não cessaram com a pandemia, apenas passaram a ser
realizadas de modo online.

REFERÊNCIAS

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BARBOSA, Milka Alves Correira. Da liberdade à “Gaiola De Cristal”: sobre o
produtivismo acadêmico na pós-graduação. Perspectivas em Gestão &
Conhecimento, n. 1, v. 9, p. 169-197, 2019.
CAFÉ, Anderson Luis da Paixão. O controle e a regularidade na produção e na
difusão de conhecimento no campo científico interdisciplinar. 2017. 322f. Tese
(Doutorado MultiInstitucional e Multidisciplinar em Difusão do Conhecimento) -
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anomalias. Cadernos EBAPE.BR, v. 10, n. 2, p. 456-465, 2012.
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141
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VOSGERAU, Dilmeire Sant’Anna Ramos; ORLANDO, Evelyn de Almeida; MEYER,
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profissional de professores universitários. Educ. Soc., Campinas, v. 38, n. 138, p.
231-247, 2017.

MARCO ANTONIO ALMEIDA LLARENA


E-mail: llarenaifpb@gmail.com
DANIELLE HARLENE DA SILVA MORENO
E-mail: danielleharlene@gmail.com

142
MARIA MERIANE VIEIRA ROCHA
E-mail: meriane.vieira@gmail.com
ROSILENE AGAPITO DA SILVA LLARENA
E-mail: rosilenellarena@gmail.com

POLÍTICA DE INFORMAÇÃO E PÓS-VERDADE: UMA LEITURA EM


CENÁRIO PANDÊMICO

RESUMO: Aborda sobre a política de informação e pós-verdade realizando uma leitura do


cenário pandêmico. Este cenário nos apresenta a informação como protagonista na
construção de uma narrativa verdadeira e que possa contribuir, efetivamente, no combate
aos efeitos da Pandemia com o intuito de entender e disponibilizar informação confiável.
Esta pesquisa apresenta as seguintes características: a) quanto à sua natureza, tem
abordagem qualitativa; b) é bibliográfica quanto ao ponto de vista da abordagem do
problema, fazendo uso de fontes informacionais diversificadas, para alicerçar a
fundamentação teórica, sobretudo as da Base de Dados Referencial de Artigos de
Periódicos em Ciência da Informação (BRAPCI); c) é descritiva, quanto aos seus objetivos,
ao pautar os autores, as referências, os títulos e suas abordagens, no que versa os temas
relacionados à política de informação, pós-verdade e pandemia; e, d) quanto aos
procedimentos técnicos, a pesquisa caracteriza-se por análise de conteúdo (AC) simples,
pois, analisa os temas sinalizados numa perspectiva relacional, considerando o cenário
pandêmico e o contexto da sociedade da informação. Nos resultados constata-se a relação
entre a desinformação e a Pandemia e a urgência de políticas de informação que levem às
novas formas de ação e lutas no combate à desinformação.

Palavras-chave: Política de Informação; Pós-Verdade; Cenário Pandêmico.

ABSTRACT: It addresses information policy and post-truth by reading the pandemic


scenario. This scenario presents information as a protagonist in the construction of a true
narrative that can effectively contribute to combating the effects of Pandemic in order to
understand and provide reliable information. This research has the following characteristics:
a) as to its nature, it has a qualitative approach; b) it is bibliographic in terms of approach to
the problem, using diversified information sources, to support the theoretical foundation,
especially those of the Reference Database of Journal Articles in Information Science
(BRAPCI); c) it is descriptive, in terms of its objectives, when guiding the authors, references,
titles and their approaches, with regard to themes related to information policy, post-truth and
pandemic; and, d) as for the technical procedures, the research is characterized by simple
content analysis (CA), because it analyzes the themes highlighted in a relational perspective,
considering the pandemic scenario and the context of the information society. The results
show the relationship between disinformation and Pandemic and the urgency of information
policies that lead to new forms of action and struggles to combat disinformation.

Keywords: Information Policy; Post-Truth; Pandemic scenario.

1 INTRODUÇÃO

Desde o final de 2019 a humanidade vem enfrentando um dos seus maiores


desafios, pois, encontra-se ameaçada por um inimigo invisível e letal: o novo
coronavírus (o Severe Acute Respiratory Syndrome- Related Coronavirus 2 - SARS-

143
CoV-2) e sua doença consequente: a COVID-19. Diante de tal cenário pandêmico,
de comprometimento à saúde física e mental, e decorrentes sofrimentos e perdas
exponenciais, a sociedade da informação convive com uma avalanche de
(des)informações inquietantes em plena crise sanitária.
Neste panorama desafiador todas as atividades estão sofrendo modificações
para atenderem as demandas causadas pela excepcionalidade do momento,
essencialmente a partir da admissão oficial de pandemia pela Organização Mundial
da Saúde (OMS) nos idos de março de 2020. Por conseguinte, medidas sugeridas
e/ou determinadas pelas autoridades alteraram o quadro normal das ações,
sobretudo de mobilidade e proteção individual: quarentena, isolamento domiciliar,
isolamento físico, lockdown, distanciamento social, além do uso obrigatório de
máscaras em ambientes públicos.
O cenário emergente de incertezas e insegurança potencializadas por picos
de desinformação – enquanto a sociedade, por meio das pesquisas científicas, não
produz a esperada vacina e/ou define medicação/tratamento eficaz para combater a
COVID-19 – coloca a informação como protagonista na construção de uma narrativa
adequada e verdadeira que possa contribuir, efetivamente, no combate aos efeitos
da pandemia e com outros aspectos sociais (econômicos, políticos, educacionais
tec.) que, também, se encontram afetados por este e outros motivos.
Desse modo, se visualiza que a implantação de políticas de informação claras
e acessíveis à sociedade seja fundamental para combater, simultaneamente, dois
vírus: o causador da doença e o propagador de desinformação, inclusive com
narrativas negacionistas ao quadro pandêmico. Ademais, os profissionais da
informação devem exercer papel não apenas de mediador dessa informação, mas
contribuintes na construção de políticas de informação visando o despertar crítico, a
edificação da sociedade da informação por meio da boa utilização da informação, a
disseminação da informação confiável e a construção de cidadãos evolutivos e
coletivos no enfrentamento do momento de crise e na busca de soluções.
Nesse interim, fez-se necessário realizar uma revisão de literatura sobre
“políticas de informação”, enquanto consideração das macro e micropolíticas em
diferentes escalas espaciais (GONZÁLES DE GÓMEZ, 2002), e sobre a pós-
verdade como disseminação de notícias falsas (fake news) no ambiente on-line
(BEZERRA, CAPURRO E SCHNEIDER, 2017), relacionando-as ao momento
pandêmico. Tal procedimento fez-se importante para entender o contexto e sinalizar

144
disponibilidade confiável de informação, sobretudo neste cenário delineado pelo
SARS-CoV-2.
Para tanto, este manuscrito, além desta introdução, é composto de quatro
seções: as considerações teóricas enfocando realidade e perspectivas das políticas
de informação e pós-verdade em cenário pandêmico; a trilha metodológica; os
resultados e análise dos dados; e as considerações finais.

2 POLÍTICAS DE INFORMAÇÃO E PÓS-VERDADE: realidade e perspectivas

Discutir políticas de informação no cenário pandêmico, estabelecido no ano


de 2020, torna-se atividade de grande relevância, não apenas por alertarem para as
preocupações com a nova realidade e as desigualdades sociais decorrentes dela,
mas por supor soluções a toda problemática que se instaura no contexto, inclusive
daquelas oriundas por outra grande crise mundial que, também, cresce
exponencialmente: a da informação.
A crise informacional caracterizada por contextos de pós-verdade – onde as
informações são manipuladas para atender a certos interesses (políticos,
econômicos, religiosos etc.) – potencializa-se junto à pandemia do coronavírus e
implica a utilização de termos como desinformação, infodemia, fake news, pandemia
informacional entre outros. Este fato exalta a necessidade de políticas de informação
que aviltem a necessidade de soluções de problemas causados por situações
inclusas no espectro da pós-verdade, especialmente, as voltadas para a crise
sanitária atual.
Neste contexto, o objetivo das políticas de informação está em colocar à
disposição dos cidadãos maior número de informações, sejam elas culturais,
econômicas, governamentais (GONZÁLEZ DE GÓMEZ,1999) ou de saúde pública.
Sendo assim, busca resgatar a amplidão e complexidade de seu campo de ação
“[...] permitindo a consideração das macro e micropolíticas, bem como das políticas
locais, regionais, nacionais e globais” (GONZÁLES DE GÓMEZ, 2002, p. 67),
essencialmente, na crise sanitária global.
Para Munguambe e Freire (2016), uma política de informação deve ser
coerente e objetiva e orientanda às ações de informação. Portanto, no âmbito da
sociedade pode ser considerada como um conjunto de atuações e decisões
orientadas a conservar e a reproduzir ou modificar e substituir um regime de

145
informação. Nesse caso, podem ser tanto políticas tácitas ou explícitas, micro ou
macro políticas. Desse modo envolvem as tomadas de decisão e as práticas que
adaptam as condições sob as quais podemos aprender sobre os fatores
informacionais de interesse público do mundo em que vivemos, envolvendo,
também, os atores políticos e sociais, as instituições e seus processos
informacionais.
No contexto atual, essencialmente no cenário pandêmico, as políticas de
Informação adquirem nova dimensão entre as políticas públicas de modo a orientar
governos e lideranças em suas estratégias. Tornam-se, ainda mais relevantes
quando relacionadas ao desenvolvimento das áreas de informação com o objetivo
de redefinir os seus escopos e abrangências a fim refletir e superar com ações
concretas os contextos em tempos de pós-verdade.
O termo “pós-verdade” (post-truth) eleito em 2016 como “o termo do ano”,
pela Universidade de Oxford, diante do contexto de eleição presidencial nos Estados
Unidos e do Brexit (processo de saída da Grã-Betanha/Reino Unido da União
Europeia por meio do voto popular), “[...] se relaciona ou denota circunstâncias nas
quais fatos objetivos têm menos influência em moldar a opinião pública do que
apelos à emoção e a crenças pessoais”2.
Nesse contexto atual, o Oxford Dictionaries (2017) esclarece que a
informação e seu fluxo se caracterizam, no espaço da web, pela quantidade e
versatilidade expondo uma linha, cada vez mais tênue, que separa uma pessoa bem
informada de uma desinformada (ou mal informada). Isso contribui para o
fortalecimento de um fenômeno que parece ter renascido com força relevante nesse
ambiente: a era da pós-verdade, na qual o compartilhamento ininterrupto e
indiscriminado de informações pode transformar, por exemplo, a internet num
ambiente onde ‘inverdades’ se espalham com muita frequência e mais rapidamente
do que os fatos reais. Essas ‘inverdades’ ganham espaço, cada vez maior no
ambiente virtual, por meio da veiculação de notícias falsas (fake news).
Diante do exposto, percebe-se a relação entre os termos: de um lado dispõe-
se da política de informação que prioriza coerência e objetividade, orientando as
ações de informação para tomadas e decisão e, do outro lado, entende-se que a
pós-verdade sinaliza o momento em que a informação perpassa por um contexto de

2
Disponível em: < https://en.oxforddictionaries.com/word-of-the-year/word-of-the-year-2016. Acesso
em: 26 out. 2020.

146
desinformação e manipulação utilizando-se da internet, por meio das mídias e redes
sociais, para disseminação de mentiras causando enorme instabilidade na confiança
e opiniões públicas (ESCOBAR, 2017).
O entendimento dessa relação é de suma importância para que as políticas
de informação possam cumprir seu objetivo em colocar à disposição dos cidadãos o
maior número de informações possíveis, ao passo que se combate a desinformação,
em especial, diante desse cenário pandêmico desencadeado pelo SARS-CoV-2,
desde dezembro de 2019 (quando o primeiro caso do mundo foi registrado na
China). Tal cenário vem apresentando desdobramentos de várias naturezas,
inclusive de dificuldades de acesso às informações confiáveis para melhor entender
e combater os males da crise sanitária instalada.

2.1 POLÍTICAS DE INFORMAÇÃO E PÓS-VERDADE EM CENÁRIO PANDÊMICO

Ao serem implantadas, as políticas de informação visam satisfazer o seu


usuário de forma real utilizando-se de recursos como as competências em
tecnologia de informação e comunicação e observando a sua integração com a
sociedade. Sua implantação permite condições que registrem a organização da
informação e a produção do conhecimento. Porém, na edificada ‘sociedade da
informação’ percebe-se um movimento midiático consciente e veloz de
desinformação que vem transformando o mundo da informação em uma perigosa
armadilha, mediante as práticas de pós-verdade da qual poucos, provavelmente,
sabem escapar (CORRÊA; CUSTÓDIO, 2018).
Bezerra, Capurro e Schneider (2017) sinalizam que a atual disseminação de
notícias falsas (fake news) no ambiente on-line (em grande parte levada a cabo por
robôs digitais - bots), em um volume incomensurável de desinformação, tornou-se
um grande problema para as principais plataformas da internet que têm investido em
mecanismos para detectar e bloquear a visualização de páginas e perfis (de mídias
sociais como Twitter e Facebook, por exemplo) dedicados à viralização de tais
notícias.
Nesse sentido, com a pandemia do SARS-CoV-2 e seus desdobramentos,
inclusive de negação do vírus e seus males, entende-se que políticas de informação
claras e acessíveis, se fazem emergentes no combate eficaz das ações contrárias
ao controle dessa enfermidade que vem mudando as estruturas em todo o mundo.

147
Ademais, as políticas de informação servem como instrumento integrador podendo
ser compreendidas como um dos pilares fundamentais para ampliação da
visibilidade institucional no que se refere à produção do conhecimento e ao sentido
de pertencimento a uma narrativa verdadeira da experiência humanitária.
E a ciência com isso? Diante do problema da pós-verdade na ciência, Sousa
(2017) afirma que o conhecimento das necessidades de informação dos usuários e a
relação deles com a informação recebida nas redes sociais e por aplicativos de
mensagens, impulsionam o fazer diário dos profissionais da informação para a
mediação informacional. Deste modo, considerando o cenário pandêmico, a ciência
vem sendo negada por governos que sinalizam e/ou defendem políticas de
informação ‘negacionistas’ em relação às ciências em geral (essencialmente às
voltadas para a saúde) e dos procedimentos orientados, inclusive, pela Organização
Mundial da Saúde (OMS).
Nesse sentido, as políticas de informação, refletidas no contexto da Ciência
da Informação (CI), devem estar voltadas para as tomadas de decisão junto às
organizações sociais e para as práticas que adaptam as condições sob as quais
podemos aprender em relação aos fatores informacionais de interesse público,
incluindo-se os interesses que envolvem “a grande crise sanitária” e seus
desdobramentos. Além disso, devem envolver, também, os atores políticos e sociais,
as instituições e seus processos informacionais cujas decisões passem a compor as
agendas governamentais a fim de contribuir com as soluções dos problemas sociais,
econômicos, educacionais, pandêmicos etc. Desse modo, a informação acessível e
desinformação combatida podem potencializar a luta de superação no atual cenário
pandêmico.

3 TRILHA METODOLÓGICA

Esta pesquisa apresenta as seguintes características: a) quanto à sua


natureza, tem abordagem qualitativa; é bibliográfica quanto ao ponto de vista da
abordagem do problema, fazendo uso de fontes informacionais diversificadas, para
alicerçar a fundamentação teórica, sobretudo as da Base de Dados Referencial de
Artigos de Periódicos em Ciência da Informação (BRAPCI); b) é descritiva, quanto
aos seus objetivos, ao pautar os autores, as referências, os títulos e suas
abordagens, no que versa os temas relacionados à política de informação, pós-

148
verdade e pandemia; e, c) quanto aos procedimentos técnicos, a pesquisa
caracteriza-se por análise de conteúdo (AC) simples, pois, analisa os temas
sinalizados numa perspectiva relacional, considerando o cenário pandêmico e o
contexto da sociedade da informação.
Na BRAPCI (com filtro título, palavras-chave e resumo) foi realizada buscas
avançadas pelos termos: “política de informação”, “pós-verdade” e “pandemia”,
combinados em pares, usando elemento booleano AND e restrição de
temporalidade ao ano de 2020. A isto se justifica a necessidade em entender como
têm sido refletidas essas questões no próprio período de pandemia. Apenas a busca
pelos termos “Pós-verdade AND pandemia” revelou quatro artigos e um editorial.
Diante dessa limitação foram, também, analisados artigos minerados por meio de
buscas simples na web para contemplar a relação entre os termos “política de
informação” e “pandemia”. Portanto, a amostra encontrada foi analisada
considerando seus títulos, seus resumos e suas palavras-chave. A coleta dos dados
foi manual e atendeu aos critérios, anteriormente, discriminados, resultando em 5
artigos para análise.

4 RESULTADOS E ANÁLISE DOS DADOS

De acordo com especificado na “trilha metodológica” e a partir da coleta


realizada na BRAPCI, apresentamos no Quadro 1, os 5 artigos selecionados para
este estudo.

Quadro 1 – Pós-verdade e pandemia indexados na BRAPCI em 2020


Autores (Ano) Título Abordagem
1 - LIMA et al Emergência de saúde Discute os processos e dinâmicas informacionais em
(2020) pública global por torno da emergência global de saúde pública pela
pandemia de Covid-19 pandemia de Covid-19.
2 - BUFREM, L. A pandemia da Covid-19 Destaca informações como argumentos em defesa da
S. (2020) no Brasil: informações e manutenção e aprimoramento da estrutura pública de
contradições na atual apoio aos serviços de saúde, de modo especial,
conjuntura diante da emergência da pandemia do novo
coronavírus.
3 - SOUZA.; A economia solidária como Aponta a economia solidária como um importante
JúNIOR (2020) resposta à crise pandêmica conjunto de práticas no enfrentamento da pandemia
e fator de outro tipo de Covid-19. 
desenvolvimento
4 - PREGER, G. Cenários especulativos Apresenta em termos genéricos três cenários
F. pós-pandêmicos: a econômicos e sociais para o período de pós-pandemia
(2020) catástrofe sanitária e as do coronavírus: o velho normal, o novo normal e o
redes solidárias anômalo.
5- Informação e Aborda a importância da revista Informação e

149
BLATTMANN; transformação em época transformação em época de COVID-19 ÀGORA:
BAHIA (2020) de COVID -19 Arquivologia em debate contribui na Arquivística
brasileira com o pensar, a crítica, o saber-fazer.
Fonte: Dados da pesquisa, 2020.

A busca pelos termos “pandemia e pós-verdade”, nos trouxe os artigos


apresentados no quadro acima que traxeram como característica em suas
abordagens e títulos a maior incidência do termo que se refere à doença provocada
pelo coronavírus: a COVID-19. Nesse sentido, o termo “pandemia” fica implícito aos
assuntos relacionados à covid-19 (artigos) nos artigos 1, 2, 3 e 5; ou explícito,
diretamente, ou ainda representado por termos relacionados. Este último caso se
apresenta nos artigos 1,2 3. Eles tratam, diretamente, o termo ‘pandemia’. O artigo 4
expressa o termo “pós-pandêmicos” que sinaliza as situações, fatos e o
funcionamento deles após o momento pandêmico.
Já, quando se trata do termo “pós-verdade” relacionado à pandemia, não
foram encontrados nenhum registro científico na BRAPCI. Todavia, ao realizar a
análise dos artigos selecionados, percebeu-se algo em comum: o termo
“informação” apresenta-se como destaque no enfoque de processos e dinâmicas
informacionais (LIMA et al., 2020), nos argumentos em defesa da manutenção e
aprimoramento da estrutura pública de apoio aos serviços de saúde (BUFREM,
2020), e na possibilidade de transformação em época de COVID-19 (BLATTMANN;
BAHIA, 2020). E, de forma implícita, as abordagens dos artigos 1, 2 e 5 sinalizam a
importância de políticas de informação no combate à desinformação.
Num sentido mais específico, algumas abordagens chamam atenção: a da
economia solidária como resposta à crise pandêmica abordada no artigo 3; a
amplitude para as crises econômica e social abordada no artigo 4; e o respeito ao
pós-pandemia do coronavírus ao descrever cenários do velho normal, do novo
normal (durante o cenário pandêmico) e do anômalo. Nas três abordagens as
políticas de informação são citadas como relevantes, prioritariamente, quando
voltadas ao combate à desinformação em ambientes da web e em plataformas
digitais num cenário anômalo e improvável (PREGER, 2020).

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

É evidente que estudos desta natureza nem são conclusivos, nem exaustivos.
Envolvem conceitos complexos que demandam adaptação às realidades distintas e

150
pesquisas complementares. Logo, inexistiu, nesta investigação, a pretensão de
esgotar a discussão sobre o tema e sim contribuir para elas, em especial, no campo
da Ciência da Informação.
Constatou-se a necessidade em discutir, construir e efetivar políticas de
informação voltadas para a disseminação da informação verídica, eficaz e com
credibilidade e para a edificação de competências em informação que capacitem as
pessoas a engajar-se, criticamente, ao movimento de valorização da verdade. A
isso, junta-se a necessidade de fomento às novas formas de ação e lutas por meio
de políticas de informação que privilegiem mobilizações sociais, essencialmente,
aquelas voltadas para redes sociais.
Constatou-se, ainda, por meio da análise dos artigos minerados, que as
discussões sobre a relação entre a pandemia e a pós-verdade estão implícitas nos
conteúdos abordados pelos autores dos artigos. Porém, não se constata o assunto
diretamente nos títulos e resumos. O mesmo acontece ao discutir sobre as políticas
públicas de informação e sua relevância e efetividade no combate ao coronavírus e
às questões de pós-verdade e desinformação, relacionadas tanto à crise sanitária
atual quanto às questões de interesses políticos.

REFERÊNCIAS

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tempos modernos à era digital. Liinc em Revista, Rio de Janeiro, v.13, n.2, p. 371-
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151
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LIMA, C. R. M.; SáNCHEZ-TARRAGÓ, N.; MORAES, D.; GRINGS, L.; MAIA, M. R.
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PREGER, G. F. Cenários especulativos pós-pandêmicos: a catástrofe sanitária e as
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SOUSA, A. O papel do bibliotecário como mediador no contexto na era da pós-
verdade. Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação, v. 13, n. esp.
CBBD 2017.

152
GT 4
TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO

JULLY PORTO LOPES MELO


E-mail: jullyporto15@gmail.com
ANELISE SOUZA ROCHA
E-mail: anelisesrocha@gmail.com
LARISSA MACHADO VIEIRA
E-mail: vieira.mlarissa@gmail.com

153
DOUGLAS FARIAS CORDEIRO
E-mail: cordeiro@ufg.br

DESINFORMAÇÃO, FAKE NEWS E COVID-19: UMA ANÁLISE DO


PROGRAMA SAÚDE SEM FAKE NEWS

RESUMO: O advento e acessibilidade às tecnologias de informação e comunicação fizeram emergir


um problema que tem afetado a sociedade de uma forma notável e considerável: a circulação de fake
news. Governos e entidades privadas têm realizado esforços no enfrentamento a este problema,
através, por exemplo, de projetos de conscientização da sociedade e de programas de checagem de
fatos. Neste contexto, considerando o cenário da pandemia da Covid-19, tais ações acabam por
demandar uma maior atenção. Neste sentido, este artigo se propõe a realizar um estudo analítico,
utilizando análise de dados, para compreender o panorama das fakes news na área da saúde, a partir
de análises realizadas junto às publicações veiculadas pelo projeto do Saúde sem Fake News, do
Ministério da Saúde.
Palavras-chave: Covid-19; Fake news; Desinformação; Análise de Dados; Mineração de Textos.

Abstract: The advent and accessibility of information and communication technologies has raised a
problem that has affected society in a notable and considerable way: the circulation of fake news.
Governments and private entities have made efforts to tackle this problem, through, for example,
projects to raise awareness among society and fact-checking programs. Considering the Covid-19
pandemic scenario, such actions end up demanding greater attention. This paper proposes to carry
out an analytical study, using data analysis, to understand the panorama of fakes news in the health
area, based on analyzes carried out with the publications published by the project Saúde sem Fake
News, from the Brazilian Ministry of Health.
Keywords: Covid-19; Fake news; Misinformation; Data Analytics; Text Mining.

1 Introdução

A pandemia da Covid-19, que se alastrou pelo mundo em 2020, evidenciou


ainda mais a desordem informativa em torno de temáticas da saúde, cenário que
acontece desde há muitas décadas. A situação é ainda potencializada pelas
facilidades de acesso às tecnologias da informação e comunicação, fator este
característico da Web 2.0, na qual usuários deixaram de ser apenas consumidores
ou espectadores, e passaram a ser geradores ou disseminadores de
(des)informação, alcançando um cenário que se configura enquanto uma revolução
participativa democrática (SERRANO, 2013).
Este panorama é também acentuado por alguns fatores relacionados a
questões de cunho político e comunicacional, dentre eles, a confusão informativa
advinda de declarações de órgãos oficiais quanto ao manejo da doença; a
abordagem midiática a partir dessas contradições, visto que os diversos meios de
comunicação se encontram repletos de incertezas no que tange a noticiar uma
doença recente, que apresenta peculiaridades ainda não abarcadas pelos estudos
científicos; além das fake news que circulam comumente em torno de temas da

154
saúde, abrangendo o coronavírus como mais uma de suas pautas, repleta de
promessas não comprovadas de possíveis curas naturais e teorias
conspiracionistas. Todo este cenário está envolto pelas incertezas naturais que
rondam uma doença pouco conhecida, como é o caso da Covid-19.
Envolto neste ambiente que propicia a circulação de fake news, o Ministério
da Saúde criou, ainda antes do surgimento da pandemia da Covid-19, em 2018, um
projeto de enfrentamento à desinformação batizado como Saúde sem Fake News,
voltado ao esclarecimento e verificação de notícias falsas que circulam na Internet.
De acordo com relatório apresentado, durante o primeiro ano de atuação, o projeto
conseguiu realizar 11,5 mil atendimentos, contemplando um total de 104 registros
classificados como fake news (AGÊNCIA BRASIL, 2019), com destaque para temas
como: vacinação, alimentação e câncer (VIEIRA; SILVA; CORDEIRO, 2019).
A importância característica de ações de enfrentamento à desinformação é
algo fundamental e esperado, principalmente no âmbito da saúde e em situações
que demonstram uma maior sensibilidade, como o caso de uma pandemia. Diante
disso, para além das ações de combate, é interessante ainda compreender as
especificidades que permeiam as fakes news e sua circulação, dentro das quais, os
conteúdos que são veiculados e compartilhados. Neste sentido, este artigo tem
como proposta realizar um estudo exploratório e análise de padrões sobre o
conjunto de publicações disponibilizadas pelo projeto Saúde sem Fake News. Os
resultados alcançados apresentam as variações quantitativas temporais, assim
como os indicativos de termos e temas abordados nos conteúdos tratados pelo
projeto.

2 Desinformação, fake news e saúde

As redes sociais virtuais possuem um alto poder de promover a interatividade


e o encontro entre os indivíduos que as utilizam, conectando pessoas de todo o
mundo, independente da distância física que se encontrem umas das outras. Nesses
ambientes virtuais, os conteúdos circulam em uma velocidade vertiginosa, gerando
nos usuários uma necessidade de consumo rápido de tudo que lhes é oferecido,
corroborando para um cenário de insegurança informativa (RAMONET, 2013), já que
essas informações necessitam ser consumidas de forma imediata, pois,
provavelmente, perderão sua importância no momento seguinte. No âmbito da
desinformação, depara-se com um de seus principais produtos, as fake news, que,

155
de maneira literal, significam notícias falsas, possuindo um caráter deliberadamente
fraudulento, cuja falsidade pode ser verificada, e, além disso, imitam uma fonte
noticiosa legítima para aparentar credibilidade (ALLCOTT; GENTZKOW, 2017).
O consumo e replicação de conteúdos desinformativos, como as fake news,
provoca, diversas vezes, a eclosão de certas reações características de um cenário
da pós-verdadeiro, onde emoções como entusiasmo, desconfiança exacerbada e
medo fortalecem crenças pré-existentes e incitam muitos sujeitos a terem uma visão
romântica de processos políticos e sociais complexos (D’ANCONA, 2018).
Neste enquadramento, podem ser analisadas diversas questões acerca da
temática da saúde, que se mal compreendida, pode levar a comportamentos
geradores de risco, como a tomada de decisão em torno da não vacinação, a
ingestão de medicamentos sem acompanhamento médico e a adoção de
tratamentos alternativos, sem comprovação científica, em substituição aos
protocolos baseados nas melhores evidências. No contexto da Covid-19, os
comportamentos geradores de risco giram em torno da abstenção, por parte de
certos indivíduos, da obediência às medidas para evitar o contágio, como o uso da
máscara, do álcool em gel e a desobediência do isolamento social recomendado.
Em março de 2020, a OMS, Organização Mundial de Saúde, reconheceu o
estado de pandemia da Covid-19, situação a partir da qual surgiu a necessidade de
medidas de contenção do contágio e manejo da doença cujas nuances ainda eram
desconhecidas. Especialmente diante do cenário pontuado, a presente pesquisa se
faz necessária por se compreender que a desinformação na área da saúde é
potencialmente letal.

3 Metodologia

O objetivo principal deste artigo é realizar uma análise que possibilite a


compreensão do panorama das fakes news no contexto da saúde a partir da
aplicação de soluções de análise exploratória e mineração de textos, sobre o
conjunto de publicações do projeto Saúde Sem Fake News, do Ministério da Saúde.
Para tanto, os procedimentos metodológicos adotados estão baseados no processo
denominado de Descoberta do Conhecimento em Bases de Dados (do inglês,
Knowledge Discovery in Databases - KDD). O KDD, proposto por Fayyad et al.
(1996) é composto de cinco atividades, as quais possuem como principal

156
característica o fato de serem iterativas e interativas. As atividades que
compreendem o KDD são: seleção, pré-processamento, transformação, mineração
de dados e interpretação (RISTOKI; PAULHEIM, 2016).
Em consonância com o objetivo do artigo, a amostra de dados a ser
trabalhada se refere ao conjunto de dados das publicações veiculadas no portal do
projeto Saúde Sem Fake News, do Ministério da Saúde. É importante destacar que
os sites do Governo Federal passaram por uma reformulação e reestruturação,
nesse sentido, o novo portal do Ministério da Saúde não possui um link direto para
as análises publicadas no âmbito do referido projeto, sendo que as mesmas se
encontram disponíveis no espelho do portal anterior, ainda acessível 3.
As publicações foram extraídas através da utilização de uma solução
baseada em Web Scraping (MITCHELL, 2015), a qual permitiu, inicialmente, a
listagem íntegra de todas as publicações do projeto Saúde sem Fake news e,
posteriormente, a extração dos atributos de interesse: título, data de publicação e
texto.
Na etapa de pré-processamento foram utilizadas rotinas baseadas em
expressões regulares, para procedimentos de limpeza no sentido de remover
eventuais links presentes nos textos, e para classificação dos conteúdos nas
seguintes classes: Covid-19 Fake News, Covid-19 Verdade, Outros Fake News,
Outros Verdade. A identificação dos grupos foi feita com base na ocorrência de
termos como: covid, coronavírus, “é falso”, “é fake news”, “é verdade”, “não
compartilhe”.
Na etapa de transformação foram geradas duas saídas, uma primeira
seguindo o formato CSV (comma separated values), constando dos atributos de
identificação de data e de classes, e um segundo arquivo em formato textual,
utilizado como entrada para aplicação das soluções de mineração de texto.
A etapa de mineração de dados se refere a um conjunto de processos e
procedimentos que são utilizados, de forma algorítmica, para análise de bases de
dados, de forma encontrar padrões, tendências, associações, anomalias, entre
outros, podendo tanto ter seu foco em análises descritivas ou exploratórias
(AMARAL, 2016). No presente trabalho, é realizada inicialmente uma análise
exploratória do conjunto de dados, de modo a evidenciar a evolução temporal das
publicações realizadas junto ao projeto do Ministério da Saúde, em face das classes
3
https://antigo.saude.gov.br/fakenews/

157
identificadas, com destaque para o período que sucede a determinação de
pandemia por parte da Organização Mundial de Saúde (OMS). Além disso, os dados
textuais obtidos foram analisados através do software Iramuteq 4, possibilitando a
geração dos grafos de similitude para todas as classes identificadas. A partir da
obtenção dos resultados, os mesmos são interpretados em face das questões
abordadas previamente sobre desinformação e fake news, assim como fatores
relacionados a políticas públicas de saúde no âmbito do Brasil e do mundo, os quais
podem influenciar a potencialização deste tipo de fenômeno.

4 Resultados e discussões

A partir da aplicação dos procedimentos metodológicos definidos, foram


extraídos um total de 231 registros, publicados entre o dia 24 de Agosto de 2018 e
17 de Julho de 2020. Da totalidade de registros obtidos, 160 (69,2%) dizem respeito
ao compartilhamento de conteúdo classificados como fake news, enquanto 71
(30,8%) são identificados como conteúdos verídicos ou informativos. A Figura 1
apresenta a série temporal para essa distribuição, onde é possível observar que no
mês de Fevereiro de 2020 houve um crescimento considerável no número de
registros publicados, o que pode estar associado a um crescimento no número de
compartilhamento de conteúdo por usuários de redes sociais e aplicativos de troca
mensagens, assim como o crescimento no uso da Internet, motivado pelo
isolamento social e as medidas de restrição.
As publicações que não estão relacionadas à Covid-19 representam um total
de 149 registros, 64,6% da amostra de dados (Figura 2). Destes registros, 107
(71,8%) foram classificados como fake news, enquanto 42 (28,2%) como
informações verdadeiras. Por outro lado, para as publicações que se referem à
Covid-19, o número de registros aferidos foi de 82, totalizando 35,4% da base
(Figura 3). Entretanto, é importante destacar que em termos proporcionais, levando-
se em conta o período efetivo da pandemia da Covid-19, o número médio de
publicações da classe “Outros” é de aproximadamente 7,8 registros por mês,
enquanto para aquelas da classe “Covid-19”, esse valor é de aproximadamente
13,6%, o que vai ao encontro dos fatores previamente destacados da maior
circulação de dados e informações na rede mundial de computadores. Outro fator de

4
http://www.iramuteq.org/

158
destaque está ligado ao fato de que para os registros relacionados à Covid-19, 53
(64,6%) foram classificados como fake news, enquanto 29 (35,4%) como verdade.

Figura 1. Série temporal quantitativa classificada por tipo (“Covid” e “Outros”).

Fonte: dados de pesquisa.

Figura 2. Série temporal quantitativa categorizada por “fake news” e “verdade” (apenas classe
“Outros”).

Fonte: dados de pesquisa.

A partir da separação dos registros nas classes identificadas como “Covid-19”


(fake news e verdade) e “Outros” (fake news e verdade), foram gerados grafos de
similitude, através do uso do software de mineração de textos Iramuteq (Figura 4). É
possível observar, a partir do grafo da Figura 4-a, a existência de seis grupos
contendo os principais termos relacionados às fake news sobre a Covid-19.
Destacam-se, relativos à Figura 4-a, os grupos verde e azul, onde se localizam as
palavras mais usadas no âmbito pontuado, cujos vocábulos principais são “nariz” e
“mão”, respectivamente. O grupo verde aponta para uma grande quantidade de fake
news acerca das vias de contágio da Covid-19, que são as mucosas do nariz, da
boca e até mesmo dos olhos, as quais absorvem as gotículas respiratórias expelidas
por alguém infectado (ZHOU et al., 2020). Já o grupo azul contém a temática da
higiene para diminuir riscos de infecção, com termos que fazem parte do rol de

159
recomendações da Organização Mundial de Saúde para a higienização das pessoas
e dos objetos.

Figura 3. Série temporal quantitativa categorizada por “fake news” e “verdade” (apenas classe
“Covid”).

Fonte: dados de pesquisa.

Analisando-se o grafo da Figura 4-b, observa-se que, dentre os cinco grupos


de termos principais, os dois grupos em destaque coincidem com aqueles
mencionados no grafo da Figura 4-a, quais sejam, os grupos verde e azul, com seus
respectivos termos principais também coincidindo. É possível inferir, a partir disso,
que da mesma forma que chegaram fake news para o Ministério da Saúde quanto
às vias de contágio da Covid-19, têm circulado também informações confiáveis
sobre o mesmo aspecto da doença. Esses conteúdos apontados como verdadeiros
pelo órgão mencionado demonstram que há uma difusão de informações baseadas
nas evidências científicas mais confiáveis e, a partir deste cenário, é possível inferir
também que essa circulação se deve às iniciativas das agências de fact-checking.
O grafo da Figura 4-c aponta para as fake news com outro foco, sendo
possível inferir que o grupo base deste Grafo, de cor vermelha, tem como uma das
palavras centrais a “vacinação”, evidenciando a campanha de combate ao sarampo,
doença com surto no ano de 2019, bem como a campanha de vacinação promovida
pelo Ministério da Saúde em 2020, mesmo após ser considerada uma doença
erradicada em 2016. Outro grupo importante deste grafo, o sinalizado em verde
claro, aponta as palavras “presença”, “chumbo”, “bactéria” e “produto”, ligadas ao
grupo anterior, verde escuro, em que aparece o termo “vacina” em evidência. Esses
grupos evidenciam fake news que circulam, comumente, acerca dos possíveis
malefícios das vacinas. O grupo de cor amarela contém palavras como “Informação”,
“Mensagem”, “rede”, as quais incitam uma possível disseminação dessas fake news

160
por meio de redes de contatos, dando aos usuários que as recebem um certo grau
de confiança ao notar a presença da palavra “informação”, como forma de
comprovar uma mensagem fidedigna.
Finalmente, o grafo da Figura 4-d, onde os conteúdos sobre outros assuntos
foram classificados como verdadeiros, evidenciam informações detectadas como
verdadeiras ou informativas acerca do câncer (grupo vermelho), destacando também
as palavras “consumo”, “risco” e “evidências”, elucidando os fatores que podem levar
à referida doença. O grupo vermelho está diretamente ligado ao grupo azul, que
contém termos comumente encontrados em notícias sobre o desenvolvimento do
câncer, como fatores alimentares. O grupo roxo, que destaca os termos “saúde” e
“doença”, volta a falar sobre vacinação, entretanto, a presença da palavra
“recomendação” mostra que houve informações positivas sobre a temática em
questão, provavelmente suscitadas pelas campanhas de vacinação ocorridas no
período, que visam estimular o uso das vacinas como um ato de promoção da
saúde.

5 Considerações finais
A desinformação na área da saúde não é uma novidade dos dias atuais.
Entretanto, conforme pontuado neste artigo, trata-se de um fenômeno que se
ampliou devido à facilidade de interação entre os usuários das redes sociais virtuais.
Os resultados apontam que na temática da Covid-19, há um destaque para a
circulação de fake news relativas às vias de contágio da doença e também sobre as
medidas de higienização necessárias para frear a contaminação, de modo que ao
mesmo tempo em que as fake news se alastram, as ações informativas baseadas
em evidências científicas também têm circulado, especialmente aquelas ligadas às
iniciativas das agências de fact-checking, que têm atuado mais fortemente no
combate à desinformação neste período de pandemia. Por outro lado, nos registros
não relacionadas à Covid -19, observa-se que as fake news estão relacionadas
principalmente aos malefícios da vacinação, ou, para os conteúdos verídicos,
assuntos em torno de assuntos como câncer, alimentação e manutenção da saúde,
incluindo ainda o tema da vacinação, provavelmente derivado das campanhas de
incentivo ao uso das vacinas ocorridas no período pesquisado. Conclui-se que o
cenário evidenciado deixa patente a atualidade e a pertinência do assunto, o qual
deve motivar investigações futuras no sentido de compreender o papel da

161
informação baseada em evidências científicas no combate à desinformação
circulante nas diversas ambiências sociais.

Figura 4: Grafos de similitude.

a) Covid - fake news. b) Covid - verdade.

c) Outros - fake news. d) Outros - verdade.

Fonte: dados de pesquisa.

REFERÊNCIAS

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2020 [acesso em 15 jun 2020]. Disponível em:
https://www.paho.org/hq/index.php?
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pandemic&Itemid=1926&lang=en. Acesso em 13 nov. 2020.

PAULO RICARDO SILVA LIMA


E-mail: pauloricardoadmpublic@gmail.com
JOÃO RODRIGO SANTOS FERREIRA
E-mail: joaorsferreira@gmail.com
NELMA CAMÊLO DE ARAUJO
E-mail: nelma.araujo@ichca.ufal.br

163
ÉTICA E EMPREENDEDORISMO DIGITAL

RESUMO: O ciberespaço está repleto de possibilidades para que os empreendedores desenvolvam


negócios e alcancem melhores resultados na criação e comercialização dos seus produtos e serviços.
Todavia, muitas empresas têm utilizado de práticas antiéticas para alcançar o sucesso na corrida
competitiva, fazendo uso indevido de dados dos clientes. Diante do exposto, a presente discussão
aborda a ética no empreendedorismo digital. Para tanto, foi adotada a pesquisa bibliográfica de cunho
qualitativo. Infere que a ausência de preceitos morais e éticos pode gerar problemas para a
sociedade, e trazer transtornos para a empresa.
Palavras-chave: Ciberespaço. Ética Digital. Empreendedorismo Digital.

Abstract: Cyberspace is full of possibilities for entrepreneurs to develop businesses and achieve
better results in the creation and commercialization of their products and services. However, many
companies have used unethical practices to achieve success in the competitive race, misusing
customer data. In view of the above, this discussion addresses ethics in digital entrepreneurship. To
chieve this turpose, a qualitative bibliographic research was adopted. It infers that others of moral and
ethical precepts can create problems for a society, and bring inconvenience to the company.
Keywords: Cyberspace. Digital Ethics. Digital Entrepreneurship.

1 INTRODUÇÃO

O advento tecnológico reconfigurou as formas de comunicação e


proporcionou à sociedade uma interação em rede mais complexa, onde as pessoas
conseguem se comunicar, realizar transações e receber informações em tempo real,
na qual as barreiras de tempo e espaço não são empecilhos (CASTELLS, 1999).
Essas mudanças de ordem interacional chamou a atenção dos empreendedores que
viram nessa nova realidade um caminho para se investir e desenvolver negócios que
atendessem aos anseios dessa sociedade virtualmente conectada.
Nessa teia virtual de relações sociais, ocorrem inúmeras situações ligadas
aos empreendimentos digitais que são questionáveis sob a ótica da moral e da ética,
uma vez que, indiscriminadamente, as pessoas menos otimistas tendem a
interpretar o ambiente digital como uma “terra sem lei”.
Monteiro (2007) define o ciberespaço como um mundo não palpável, porque
está presente em potência, que existe em um local indefinido, desconhecido, cheio
de devires e possibilidades. Entretanto, entende-se que o ciberespaço é habitado
por seres humanos, ou por suas formas representativas também imateriais, porém
com a mesma carga de complexidade inerente a qualquer indivíduo. Ao discutir
sobre questões éticas nas redes sociais online, Capurro (2012) entende que este
ambiente reflete uma forma digitalmente reificada de um eu ou uma comunidade
compartilhar todos os tipos de preocupações, práticas, valores e regras de
comportamento do mundo físico. Dessa forma, objetivando estabelecer níveis

164
aceitáveis de convivência, é preciso que preceitos morais e éticos sejam importados
para o ciberespaço.
É certo que a evolução tecnológica trouxe inúmeros benefícios, e isso não
deve ser desconsiderado. Contudo, toda grande mudança exige ajustes e
adaptações, para que a nova realidade se enquadre da melhor forma possível aos
valores preexistentes da sociedade. Tal assertiva é ratificada, por exemplo, pelas
adaptações que o ordenamento jurídico brasileiro vem sofrendo para tratar, de forma
mais incisiva, sobre o uso da internet e do aparato digital enquanto ferramentas
infocomunicacionais. A lei 12.965, de 26 de abril de 2014, conhecida como Marco
Civil da Internet, impõe regras sobre a preservação da privacidade, dos dados
pessoais e segurança dos usuários de serviços digitais no Brasil.
Apesar dos valores morais e éticos permearem o mundo dos negócios, é
comum observar práticas contrárias a tais valores sendo cometidas pelas empresas,
principalmente no atual contexto que tem a informação como subsídio para o
desenvolvimento destas. É pacificado pela literatura que a informação é elemento
utilizado pelas estruturas organizacionais como potencial desenvolvedora de novas
políticas, como formas de desenvolver produtos e serviços, e como fator estratégico
de se angariar novos valores tanto no mundo físico quanto no ambiente virtual
(SCHNEIDER; PIMENTA, 2018).
Assim, o presente trabalho tem como objetivo discutir práticas antiéticas
aplicadas pelas empresas no ambiente digital a partir de um levantamento das
principais características desse espaço ocupado pelas empresas; apontando as
práticas antiéticas mais comuns no ambiente em discussão.
Logo foi desenvolvida uma pesquisa bibliográfica, que “[...] é um tipo
específico de produção científica: é feita com base em textos, como livros, artigos
científicos, ensaios críticos, dicionários, enciclopédias, jornais, revistas, resenhas,
resumos [...]” (LAKATOS; MARCONI, 2019, p.32). Assim, para compreender a
questão da ética nas organizações e no contexto digital, foram revisados autores
nacionais e internacionais que tratam da temática, uma vez que a preocupação com
a ética no ciberespaço é de relevância global.
No tocante aos objetivos suscitados, foi realizada uma abordagem qualitativa,
que como observado por Flick (2009, p.23) os principais aspectos desse tipo de
pesquisa se desdobra “[...] no reconhecimento e na análise de diferentes
perspectivas; nas reflexões dos pesquisadores a respeito de suas pesquisas como

165
parte do processo de produção de conhecimento; e na variedade de abordagens e
métodos.”.

2 DESENVOLVIMENTO

O ciberespaço surgiu com o advento das tecnologias da informação e


comunicação e está em constante alteração, pois, na medida em que as técnicas e
novos recursos inovadores são incrementados, as estruturas digitais tendem a
acompanhar a evolução. Isso significa que o espaço digital é mais dinâmico e
propício a contínuas mutações, consequentes da rápida evolução do aparato
tecnológico. Essa dinamicidade passa a exigir dos usuários constantes adaptações,
tornando-os mais vulneráveis, caso não consigam alcançar o ritmo evolutivo.
Para Lévy (1999, p. 17) “O termo ciberespaço especifica não apenas a
infraestrutura material da comunicação digital, mas também o universo de
informação que ela abriga, assim como os seres humanos que navegam e
alimentam esse universo.”. Do ponto de vista de Vega-Almeida e Arencibia-Jorge
(2019), o ciberespaço faz parte da realidade material, onde os espaços públicos são
recriados num universo digital que possibilita aos usuários maior acessibilidade a
informações, como também intensifica o uso da imaginação e liberdade para criar
conteúdos.
Na medida em que facilitou o fluxo infocomunicacional, o ciberespaço deu voz
aos indivíduos, tornou-os mais ativos. Isso resultou na massiva aceitação das novas
ferramentas e canais eletrônicos de comunicação. Segundo relatório do International
Telecommunication Union (2019, p.3, tradução nossa):

A contagem de usuários ativos de algumas redes sociais on-line e


comunidades de mídia agora é maior que as populações de muitas nações
soberanas. A partir de março de 2019, o número mensal de usuários ativos
do Facebook atingiu mais de 2,3 bilhões de pessoas em todo o mundo, e
mais de 1,5 bilhões de pessoas se registram no Facebook diariamente. O
Google tem mais de 1,5 bilhões de usuários ativos apenas pelo seu produto
de email (Gmail). Enquanto o WeChat (de propriedade da Tencent) que é a
maior plataforma de mídia social da China, com mais de 1 bilhão de
usuários mensais ativos. As plataformas de jogos também atraem a atenção
e participação de mais de 2 bilhões de usuários, com alguns jogos
individuais tendo dezenas de milhões de usuários ativos diariamente.

No que se refere ao empreendedorismo, este trata da capacidade de criar


negócios economicamente rentáveis, sendo os empreendedores os responsáveis
por geri-los, angariando esforços para um contínuo crescimento (LOPES; LIMA,

166
2019). São nos ambientes digitais que os empreendedores têm buscado o sucesso
organizacional. Através de páginas na web e perfis nas redes sociais eletrônicas, as
empresas alcançam maior visibilidade dos seus produtos e serviços, e
consequentemente cativam novos clientes (ROMO; ROMERO, 2017). Porém,
percebe-se que muitos gestores estão utilizando esses meios tecnológicos de forma
abusiva e invasiva, concorrendo assim para práticas imorais e antiéticas. Quando,
por exemplo, um internauta se depara com anúncios de produtos pesquisados
anteriormente nos sites que compõem a rede de comércio eletrônico, fica claro que
suas intenções de compra foram mapeadas. Isso, em muitos casos, acontece sem o
consentimento ou ciência do indivíduo, ferindo, no mínimo, princípios morais e
éticos. Esse tipo de situação invasiva pode gerar desconforto e consequente
insatisfação dos indivíduos.
Isso chama a atenção para a ação dos aplicativos capazes de capturar e
armazenar informações dos usuários, sem seu consentimento, gerando imensos
bancos de dados com informações pessoais que podem ser usadas para criar
produtos e serviços específicos para cada indivíduo, configurando uma forma
invasiva de manipulação. A empresa Google, por exemplo, está sendo processada
no Estado do Novo México, Estados Unidos, por acessar informações sigilosas e
individuais de alunos que utilizam a plataforma Google Education, como localização
geográfica, histórico de navegação, listas de contatos e gravações de voz, sem o
consentimento dos pais e das instituições de ensino, para fins publicitários (COX,
2020). Em 2018, o Grindr, aplicativo de relacionamentos homossexuais,
compartilhou, com outras empresas, dados de indivíduos portadores de HIV,
números telefônicos, e-mails e outras informações pessoais, como também fez uso
destes para desenvolver nova função no aplicativo que alerta o usuário para fazer o
exame de HIV a cada três e seis meses (BARIFOUSE, 2018). Os dois exemplos
evidenciam formas de violação e o uso indevido de dados de caráter pessoal e deixa
claro que valores morais e éticos devem nortear as ações dos aplicativos e de seus
desenvolvedores e usuários, visto que tais ações invasivas contrariam políticas de
segurança e de proteção de dados e ofendem direitos fundamentais.
No campo da filosofia, a ética está intrinsecamente ligada às atitudes
humanas dentro de um contexto social, “[...] é um conjunto de normas, princípios e
razões que um sujeito compreendeu e estabeleceu como diretriz de sua conduta.”
(CLAVO, 2008, p. 120). Nessa linha, os princípios internalizados pelo indivíduo

167
justificam uma ação e seus efeitos, e a ética se faz presente numa reflexão antes de
agir, como: a empresa tem responsabilidade social? Será que essa ação é benéfica?
Para quem?
No contexto administrativo, “[...] a ética nas organizações são normas morais
e pessoais aplicadas nas atividades e nos objetivos das empresas, caracterizando-a
como uma constituição a partir das pessoas que nas organizações atuam através de
suas crenças e princípios que aprenderam na sociedade.” (BERGAMASCO et al,
2017, p. 7). Como as organizações estão em constante interação com diversos
públicos, é necessário que estas adotem padrões éticos que visem satisfazer as
necessidades dos clientes e construir um ambiente produtivo e que respeite as
diversidades do capital humano, responsável pelo funcionamento do negócio.
O conceito de ética digital permeia uma série de implicações sociais, sendo o
maior desafio “[...] criar um equilíbrio que nos seja favorável nos inevitáveis
dualismos: claro – escuro; vantagem – desvantagem; ou, ainda, custo – benefício do
desenvolvimento tecnológico.” (MAGGIOLINI, p.586, 2014). Assim, esse equilíbrio
deve ser pensado de forma a atender todos os stakeholders, uma vez que os
preceitos éticos são capazes de provocar efeitos diversos nos lucros
organizacionais, na credibilidade e sobrevivência dos negócios no âmbito capitalista
(ASHLEY et al, 2005).
Existem algumas atitudes que são práticas comuns das empresas com sítios
virtuais que causam desconforto para os clientes e acabam sendo muitas vezes
invasivas, o que colabora para a insatisfação do público-alvo, a saber: o envio
demasiado de e-mail spam e violação dos dados dos clientes, por exemplo.
Para melhor ilustrar, basta pensar que quando se pretende fazer aquisições
de determinados serviços ou produtos numa loja virtual, o usuário é obrigado a criar
uma conta, para isso, ele deve informar alguns dados pessoais, a saber: e-mail,
nome completo, CPF, endereço, informações bancárias e telefone. De posse dessas
informações, visando ter maior abrangência de marketing, algumas instituições
começam a enviar e-mails de spam para os usuários, com ofertas diversas. Além
desta, tem ainda casos em que os aplicativos mapeiam os gostos e costumes dos
indivíduos e cedem esses dados para empresas que os usa para criar e oferecer
produtos e serviços com base no perfil de cada cliente.
O email spamming ou spam “[...] consiste na conduta de enviar mensagens
não solicitadas, geralmente publicitárias, por correio eletrônico, a uma massa de

168
usuários da rede.” (ZANELLATO, 2002, p.189). Esse tipo de mensagem
normalmente contém informações sobre os mais diversos temas, como conteúdo
educacional, propaganda de materiais digitais, entre outros. Apesar de parecer uma
atitude simples e inofensiva, essas mensagens podem conter vírus que acabam
danificando os sistemas computacionais do usuário, enchendo as caixas de e-mails
com conteúdo desnecessário e violando a privacidade das pessoas através de
cookies. É uma forma de invasão que pode também ser prejudicial.
Os cookies são ferramentas utilizadas para filtrar informações de usuários no
meio digital. De forma técnica,

Os cookies são pequenos programas colocados no computador do usuário


sem a sua permissão durante uma navegação no ambiente da Internet. Em
verdade, sem sequer seu conhecimento, visto que nenhum indicativo irá
suceder-se na tela do computador que possa vir a evidenciar a sorrateira
entrada daqueles programas de computador. Estes pequenos programas
ficam armazenados, assim, no próprio computador do usuário
(DRUMMOND, 2003, p. 98).

Um dos maiores problemas relacionados a invasão de privacidade, na


presente década, está na violação dos dados dos usuários de empresas digitais,
também denominado vazamento de informações ou perda de informações, que pode
ocorrer de forma intencional ou não, podendo ser de pessoal dentro da organização
ou não. De acordo com a pesquisa desenvolvida Symantec em 2012 sobre custo e
gestão de informação digital na América Latina, quatro em cada cinco empresas
informaram que já perderam informações importantes, sendo as principais causas: o
erro humano, falha de hardware, falha de software e extravio ou roubo de
dispositivos móveis (SYMANTEC, 2012).
Neste sentido, quando ocorre esse tipo de problema organizacional, há
também a violação da proteção da privacidade e dos dados pessoais conforme
estabelece a Lei nº 12.965 de 2014, conhecida como Marco Civil da Internet. Essa
violação também pode repercutir em penalidades nos âmbitos criminal e
administrativo.
O Código Penal Brasileiro, em seu art. 154-A, traz à baila que:
[...] Invadir dispositivo informático alheio, conectado ou não à rede de
computadores, mediante violação indevida de mecanismo de segurança e
com o fim de obter, adulterar ou destruir dados ou informações sem
autorização expressa ou tácita do titular do dispositivo ou instalar
vulnerabilidades para obter vantagem ilícita [...] (BRASIL,1940).

169
O indivíduo que cometer tal delito pode receber como pena a detenção, de
três meses a um ano, e multa. O supracitado código também prevê que, aquele que
comercializa, cria e distribui sistemas de invasão também são penalizados, podendo
receber um aumento de um sexto a um terço, se o delito resultar em perdas de
cunho econômico. Também se aumenta a pena de seis meses a dois anos,
culminando em multa, se da invasão forem obtidas informações sigilosas, como
segredos comerciais e industriais. (BRASIL, 1940).
Outro instrumento jurídico criado com a finalidade de proteger os dados e
direitos fundamentais dos cidadãos no âmbito digital é a Lei Geral de Proteção de
Dados (LGPD) de 2018. De acordo com a lei, os sujeitos responsáveis pelo controle
de dados pessoais e sensíveis, ao violarem as regras de proteção e segurança de
tais dados, podem sofrer penalidades de cunho administrativo, como por exemplo:
advertências, multas, infrações e até proibição do exercício de atividades
relacionadas a tratamento de dados. (BRASIL, 2018).
Diante disso, é notório observar que o Brasil conta com alguns instrumentos
legais que visam garantir a integridade dos dados dos usuários, bem como sua
privacidade, como forma de inibir a violação destes por quaisquer indivíduos ou
empresas.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com a massiva presença de pessoas no espaço digital, as empresas


aproveitaram para diversificar a forma de oferta de seus produtos, contudo, ainda há
grandes problemas quando se trata da moral e da ética no ambiente digital. A
violação de dados e informações de caráter pessoal através de ferramentas
tecnológicas tem gerado insegurança nos clientes. Nesse sentido, entende-se que
quando uma empresa não preza pela privacidade e segurança dos dados e
informações dos seus clientes, a tendência é que isso gere impactos negativos para
a rentabilidade do negócio.
Ter uma postura organizacional ética no ciberespaço é respeitar as
diferenças, a privacidade, assegurar que as informações dos usuários estejam
guardadas com segurança e entender que o uso ilegal de dispositivos para filtrar
informações sem o consentimento do usuário, além de antiético é também ilegal,
pois fere os direitos fundamentais resguardados nas normas brasileiras, e abre
precedentes para a aplicação de penas. Logo, para minimizar tais problemas, é

170
importante que sejam adotadas práticas de segurança e preservação de dados de
caráter pessoal; que sejam criadas políticas internas sobre a não violação do
conteúdo informacional dos clientes; e que sejam desenvolvidas formas de
marketing e propaganda menos invasivas.
Quanto às formas de manipulação, é preciso que valores morais e éticos
permeiem a atuação dos empresários do ciberespaço, para que os usuários/clientes
não sejam induzidos a agir de forma contrária aos seus anseios, movidos pela falta
de conhecimento ou pelo impulso.
Cultivar valores morais e éticos é parte da solução para a maioria dos
problemas ligados aos abusos cometidos no ciberespaço. Dessa forma, os
empreendedores não apelariam para o uso ferramentas eletrônicas para capturar e
utilizar dados e informações dos usuários sem seu consentimento.

REFERÊNCIAS
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Paulo: Saraiva, 2005.
BARIFOUSE, R. App de relacionamento gay Grindr compartilhou status de HIV
de usuários com empresas. BBC News Brasil, 03 abr. 2018. Disponível em:
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Ênfase em uma multinacional sob a perspectiva de gestores e de colaboradores.
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Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD). Disponível em:
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http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/Escola_Superior/Biblioteca/Cadernos_Tem
aticos/direito_e_internet.pdf. Acesso em: 20 out. 2020.

PRISCILLA NUNES PEIXOTO


E-mail: pripeixoto@gmail.com
RONALDO FERREIRA DE ARAÚJO
E-mail: ronaldfa@gmail.com

O INFLUENCIADOR DIGITAL NA DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA EM


TEMPOS DE COVID-19

RESUMO: A prática de influência digital surge para potencializar a criação de conteúdo pelo próprio
usuário através das mídias sociais. Por meio delas, o público autentica o sujeito como formador de
opinião e passa a compartilhar suas informações originadas em blogs, vídeos, fotos e podcasts. Essa
pesquisa objetiva mostrar a abordagem da Covid-19 sob a ótica do influenciador digital na plataforma
YouTube, a partir dos canais “Você Sabia?” e “Nostalgia”. A pesquisa qualitativa-descritiva, por meio
da análise de conteúdo, foi escolhida como método para se alcançar os resultados propostos. Os

173
dados mostram a preocupação dos criadores dos canais em alertarem a população com informações
e cuidados que auxiliem na prevenção contra o vírus. Conclui-se a importância das mídias sociais
como espaços para produção de conteúdo e disseminação de informações.
Palavras-chave: influenciador digital; divulgação científica; práticas informacionais; mediação da
informação.

ABSTRACT: The practice of digital influence arises to enhance the creation of content by the user
himself through social media. Through them, the public authenticates the subject as an opinion maker
and starts to share his information originated in blogs, videos, photos and podcasts. This research
aims to show Covid-19's approach from the perspective of digital influencer on YouTube platform,
from the channels “Você Sabia?” and "Nostalgia". Qualitative-descriptive research, through content
analysis, was chosen as a method to achieve the proposed result. The data show the concern of
channel creators in alerting the population with information and care to help prevent the virus. It
concludes the importance of social media as spaces for the production of content and dissemination of
information.
Keywords: digital influencer; scientific divulgation; informational practices; mediation of information.

1 INTRODUÇÃO

São muitos os desafios que a ciência enfrenta ano após ano e o surgimento
do coronavírus representa um deles; caracterizada atualmente como Covid-19, a
doença foi descoberta em 2019 (conforme sua nomenclatura) na China e desde
então se alastrou pela maioria dos países, atingindo o nível de pandemia. Alguns
institutos de pesquisa vêm desenvolvendo estudos em laboratórios que busquem
identificar a cura do vírus, evitando assim o aumento do número de mortos.
A quantidade exacerbada de informações nas mídias sociais e sites de
notícias a respeito do vírus tem gerado diversas interpretações, resultando no
compartilhamento constante de notícias falsas (ou fake news) pelos diversos meios
de comunicação, especificamente a Internet. Segundo dados de uma pesquisa feita
pela Avaaz5, aproximadamente 110 milhões de pessoas acreditam em pelo menos
uma fake news relacionada à pandemia, onde plataformas como WhatsApp e
Facebook são citadas como principais fontes de informação.
Apesar da atualização de informações divulgadas por cientistas e portais de
notícias, observa-se que ainda existem fatores que influenciam na recepção
negativa desse conteúdo pelo público leigo. Para auxiliar na mediação da
informação sobre o coronavírus, bem como diversos assuntos, os influenciadores
digitais participam como atores nos processos infocomunicacionais 6 ao
compartilharem conteúdos que são disseminados em suas redes sociais.

5
Estado de Minas. Coronavírus: fake news atinge 110 milhões de brasileiros. Disponível em
https://www.em.com.br/app/noticia/bem-viver/2020/05/21/interna_bem_viver,1149424/coronavirus-
fake-news-atinge-110-milhoes-de-brasileiros.shtml. Acesso em 6 nov. 2020;
6

174
Caracterizados pela interação e presença no ambiente digital com outros
usuários, essas personalidades se destacam pelo comportamento diferenciado,
adotando uma linguagem informal com a finalidade de conseguirem popularidade e
prestígio através de seus seguidores; diferente das celebridades tradicionais, os
influenciadores buscam levar conteúdo a um público segmentado, razão pela qual
atuam em vários nichos de mercado, desde o entretenimento ao meio
científico/acadêmico.
O portal da Revista Exame (2020)7 mostra um estudo publicado no periódico
BMJ Global Health explicando que um a quatro vídeos divulgados no YouTube
contém informações enganosas sobre o coronavírus. Utilizando sua popularidade,
os influenciadores buscam evitar a propagação de notícias falsas, além de
informarem sobre a mobilização de institutos de pesquisa para alcançarem a cura do
vírus.
O presente trabalho busca analisar o papel do influenciador digital na
disseminação de conteúdo acerca da Covid-19 no Brasil, durante o período da
pandemia. A escolha e análise de canais no YouTube se deu a partir de rankings
apresentados na plataforma SocialBlade, que mostram a sua relevância por meio
das principais métricas de mídias sociais.

2 O PROCESSO DE MEDIAÇÃO DO INFLUENCIADOR NA DIVULGAÇÃO


CIENTÍFICA

Com o passar dos anos, a ciência passou a se preocupar não apenas com
teorias e descobertas em laboratórios, mas também a qualidade dos conteúdos
divulgados para o público em geral. A razão é que o uso da linguagem adotada por
grupos específicos, quando não interpretada corretamente, dá margem para a
existência de ruídos na comunicação; em outras palavras, as pessoas leigas tendem
a ler ou escutar discursos tendenciosos interpretando a informação de forma
displicente.
Sobre a comunicação e a divulgação científica, Bueno (2010) trata a respeito
de suas diferenças: enquanto a comunicação científica busca restringir seu público
com a transferência de informações para cientistas e pesquisadores sobre teorias,

7
Portal Exame. Um a cada quatro vídeos sobre covid-19 no YouTube tem informação enganosa.
Disponível em: https://exame.com/tecnologia/um-a-cada-quatro-videos-sobre-covid-19-no-youtube-
tem-informacao-enganosa/. Acesso em 6 nov. 2020.

175
conceitos e inovações, a divulgação científica dirige-se às demais pessoas. Mais
especificamente, esta última trata da “[…] utilização de recursos, técnicas, processos
e produtos (veículos ou canais) para a veiculação de informações científicas,
tecnológicas ou associadas a inovações ao público leigo” (BUENO, 2009, p.162).
Uma das coisas que o autor cita é a importância da alfabetização científica
não se manter em um processo unilateral, mas ter como finalidade o diálogo ao abrir
espaço para a inserção de novas ideias originadas em debates. Além disso, deve
enfatizar a C&T inserindo a contribuição de instituições que patrocinam e investem
em inovações visando seu lucro.
Diante desse cenário, as mídias sociais funcionam como veículos de
comunicação on-line que, ao contrário dos meios tradicionais (ex.: jornal, televisão e
rádio), potencializam a interação entre usuários de diferentes lugares no mundo; é
graças a elas que o usuário pode manifestar suas opiniões livremente, utilizando as
plataformas digitais no compartilhamento desses conteúdos.
A cultura dos influenciadores mostra a necessidade de se gerar uma
compreensão maior acerca dos fatos científicos. Há uma certa dificuldade quanto à
aceitação da mensagem transmitida pela comunicação primária (entre cientistas e
pesquisadores) e a secundária (senso comum). Albagli (1996) explica as
observações de Tressel, acerca do aprendizado gradual do ser humano, que ocorre
a partir de experiências, conceitos e habilidades.

Frequentemente, ainda que o que uma criança observa ou vivencia


em um museu ou centro de ciência a fascine, isto pode não ser
imediatamente compreensível para ela. Posteriormente, no entanto,
quando ele ou ela recebe, na escola, uma explicação sobre aquele
fenômeno, o seu aprendizado torna-se mais fácil e menos abstrato
[...] (ALBAGLI, 1996, p. 401)

A assimilação de uma nova informação é um processo construído ao longo do


tempo e, por diversas vezes, requer a presença de um mediador; este realiza uma
ressignificação dos dados passando a inserir seus interesses individuais e opiniões
para, posteriormente, divulgá-los através das redes sociais. No ambiente digital, os
influenciadores digitais também atuam como mediadores ao trabalharem no
processo de busca, apropriação e disseminação de conteúdo.
Da mesma forma, as novas tecnologias surgem para estabelecer uma ação
intermediária entre o produtor de conteúdo e o público. Vivemos em um “manancial”

176
de dados e informações que requerem a presença do mediador, sendo este
pensado de acordo com o tipo de ambiente, perfil do mediando e gênero de
mediação (BORTOLIN; SANTOS NETO, 2015); para cada espaço (informacional,
cultural, educacional e social) podem ocorrer diversas mediações, visto que, como
relatado anteriormente, o sujeito é um ser pluralizado.
O processo de interferência em diversos contextos gerando novos
conhecimentos caracteriza as práticas informacionais, estudo mais recente sobre os
estudos de usuários. Nele compreendemos que o processo de busca pela
informação é uma prática social (SAVOLAINEN, 2007) que, por sua vez, representa
uma prática informacional. Em outras palavras, as ferramentas digitais não atuam de
forma isolada, mas trabalham criando uma interação entre as dimensões coletivas e
individuais que envolvem o comportamento humano.
A participação de seguidores no universo dos próprios influenciadores é um
exemplo dessa interação, sejam sugerindo conteúdos ou trazendo feedbacks e
compartilhando os vídeos em suas redes sociais; além disso, esses usuários
participam garantindo a autenticidade do próprio influenciador através das diversas
métricas.
Diante da popularidade desses indivíduos, muitas marcas vêm adaptando
seus discursos e contratando-os para divulgarem o seu propósito ao consumidor on-
line. A facilidade com que o discurso de um influenciador alcança determinada
quantidade de seguidores demonstra uma estratégia eficaz para o sucesso da
empresa. Isso porque há uma familiaridade entre seu discurso e as necessidades do
público.
Muitos influenciadores vêm trabalhando para aproximar a ciência do cotidiano
das pessoas. Existem inúmeros canais que abordam sobre assuntos de cunho
científico, onde alguns conseguem atrair muitos seguidores trazendo conteúdos de
difícil compreensão a partir da linguagem informal (CARVALHO, 2016). Nesse
aspecto, os youtubers se destacam pela utilização de recursos da plataforma;
segundo a autora, “cientistas e pesquisadores que possuem interesse e/ou
facilidade na comunicação audiovisual têm explorado essas ferramentas”.
Em contextos como a descoberta da Covid-19, a ciência vai além das
descobertas em laboratórios, buscando informar a população sobre a sua existência

177
e orientando sobre os cuidados necessários quanto ao contágio pelo vírus. Os meios
de comunicação tradicionais vêm exercendo seu papel, mas os influenciadores
mantêm uma linguagem mais fácil de ser assimilada pelo público leigo.

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Para alcance dos objetivos desse trabalho, optou-se pela pesquisa
qualitativa-descritiva, a partir da análise de conteúdo. Esse método é caracterizado
por Bardin (2011, p. 47) como sendo

um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando


a obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do
conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não)
que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de
produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens.

Foram escolhidos os Canais “Nostalgia” (criado por Felipe Castanhari) e


“Você Sabia?” (criado por Lukas Marques e Daniel Molo) responsáveis pela
produção de conteúdo humorístico, histórico, científico e voltado a curiosidades.
Ambos estão presentes em rankings da plataforma SocialBlade 8 (site de
rastreamento de estatísticas de mídias sociais), no tópico “Top 250 YouTubers in
Brazil sorted by Subscribers” (Os 250 melhores YouTubers do Brasil classificados
por assinantes) e, durante o pico da pandemia, trouxeram vídeos sobre pesquisas
científicas e outros fatos relacionados ao Coronavirus.
A seleção e análise de discursos orais em um grupo de vídeos, realizada
entre os dias 4 e 6 de novembro de 2020, permitiu identificar o comportamento
desses youtubers, seus discursos e as principais métricas de desempenho
encontradas no SocialBlade e na plataforma YouTube, sendo estes apresentados
em um quadro. A partir do recurso de transcrição de vídeos, verificou-se os termos
reincidentes durante a fala de cada influenciador para atestar os assuntos
relacionados à Covid-19 em todas as exibições.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A transcrição dos vídeos foi realizada utilizando o recurso “mixagem estéreo”,


uma função de fábrica presente em versões atuais do Windows, onde é possível
8
Dados do SocialBlade. Disponível em:
https://socialblade.com/youtube/top/country/br/mostsubscribed. Acesso em 12 nov. 2020.

178
captar todo áudio do computador com o auxílio de players, navegadores e
programas. Nesse caso, optou-se pelo Google Docs para armazenamento dos
textos. Posteriormente, cada transcrição foi inserida em um gerador de word cloud9
(ou nuvem de palavras), a fim de identificar a quantidade de palavras repetidas e se
elas estavam associadas a Covid-19.

Quadro 1: Grupo de vídeos escolhidos

TÍTULO CANAL VISUALIZAÇÕES COMENTÁRIOS LIKES DISLIKES


O CORONAVÍRUS Você 4.620.942 35.373 650.000 4.200
CHEGOU AO Sabia?
BRASIL?? - ENTENDA
O CASO!
A REALIDADE DE Você 2.898.977 11.698 414.000 3.400
MADHU, o livro de Sabia?
2013 que previu o
CORONAVÍRUS??
A CURA DO Você 3 015 062 18.687 424.000 2.500
CORONAVÍRUS Sabia?
O PIOR ESTÁ POR Nostalgia 2.743.738 +12.000 454.000 10.000
VIR: AS MAIORES
DÚVIDAS SOBRE O
CORONAVÍRUS
A ORIGEM DO Nostalgia 6.056.996 +19.000 157.000 8.200
CORONAVÍRUS
Fonte: Elaborada pelos autores

O quadro 1 mostra os principais vídeos dos dois canais: o primeiro aborda


sobre as primeiras notícias do coronavírus no Brasil, esclarecendo dúvidas e
trazendo informações sobre como se proteger; até então, os casos de contaminação
eram menores e acreditava-se que o vírus não teria um impacto tão significativo no
mundo (o vídeo foi postado em janeiro de 2020).
O segundo também foi produzido pelo mesmo canal e fala sobre o livro “A
Realidade de Madhu”, criado em 2013, que trata-se de um romance de ficção
científica onde a protagonista Madhu é abduzida por uma nave intergaláctica; o caso
é que, em uma determinada parte da obra, vemos uma previsão para 2020: a
existência de uma pandemia global. Além do livro, Lukas e Daniel falam sobre outras
teorias que apontariam para a Covid-19.

9
Gerador de Word Cloud. Disponível em https://www.wordclouds.com/. Acesso em 6 nov.
2020.

179
Alguns fatos presentes nos vídeos foi a preocupação de Lukas Marques e
Daniel Molo (“Você Sabia?”) se preocuparem em manter os cuidados, evitando
assim a contaminação de um membro da equipe; em determinado momento do
vídeo “A Cura do Coronavirus”10, os youtubers justificam o porquê de Lukas ser o
único a não utilizar a máscara durante as gravações:

Daniel Molo – A galera tá perguntando por que que o Dani está


usando a máscara e eu não. Basicamente é para um não contaminar
o outro; a gente poderia usar os dois as máscaras só que a voz do
Lucas fica muito abafada.
Lukas Marques - Não sai direito, mano; fica estourando a minha
voz, fica assim (som de voz abafada), sabe? E aí então, para não
prejudicar o vídeo, eu tô sem máscara para minha voz sair normal e
assim vocês conseguirem ouvir, né? Perfeitamente...
Daniel Molo - E eu tô com a máscara para incentivar vocês a
utilizarem as máscaras e a gente mostrar também nos vídeos que
estamos gravando com essas devidas precauções. [...] (MARQUES,
L; MOLO, D, 2020)

Vemos que, além de se prevenirem, os dois youtubers incentivam o público a


seguirem os protocolos de segurança contra o vírus; além disso, no mesmo vídeo,
Lukas e Daniel mostram detalhes sobre as pesquisas que estão sendo
desenvolvidas para a produção da vacina, a exemplo da companhia farmacêutica
Pfizer, da Universidade de Oxford (Inglaterra) e do Instituto Butantan (Brasil).
Seguindo o mesmo caminho, Felipe Castanhari fala sobre o surgimento da
Covid-19 e sua evolução ao longo do tempo. O influenciador ainda traz questões
relacionadas a transmissão do vírus, respondendo a algumas das perguntas mais
feitas pelos usuários. Em um de seus vídeos 11, alerta sobre os cuidados que os
seguidores devem ter ao acreditarem em notícias falsas:

[...] Além disso não há evidências que mostram que a vitamina C


vitamina D, de inhame, própolis, banhos quentes e frios, 30 minutos
de sauna e chá de erva doce ajuda a combater o novo coronavirus.
Isso tudo é fake news.

[...] Vários países estão pesquisando uma vacina, mas mesmo se


ela for de fato criada, ainda precisa passar por muitos testes; não é
simples assim “criou o negócio, vacina todo mundo”, não, não é.
Falando de forma direta, uma vacina pode demorar mais de um ano

10
MARQUES, L; MOLO, D. A Cura do Coronavírus. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=hlda8AdVIm0. Acesso em 6 nov. 2020.
11
CASTANHARI, F. O pior está por vir: as maiores dúvidas sobre o Coronavírus. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=cBuF9_YBaDM. Acesso em 6 nov. 2020.

180
para tá disponível para todo mundo. Uma coisa muito importante:
Cuba não desenvolveu nenhuma vacina pro coronavírus; se você ver
isso na internet, saiba que é fake news.
(CASTANHARI, 2020)

Sobre o quadro geral dos dois canais, as métricas de desempenho apontam


que o vídeo “O Coronavírus chegou ao Brasil?? – Entenda o Caso” (Você Sabia?) foi
o mais visualizado no canal, quando ainda existiam rumores sobre a presença do
vírus no Brasil; da mesma forma, o vídeo “A Origem do Coronavírus” teve maior
número de visualizações e maior participação do público com mais de 19 mil
comentários. Por outro lado, o número de likes foi menor em relação ao vídeo “O
pior está por vir: as maiores dúvidas sobre o Coronavírus”.
Mesmo com abordagens diferenciadas, o “Você Sabia?” e o “Nostalgia” são
canais de grande relevância na plataforma YouTube. Os conteúdos produzidos são
fruto do processo de mediação, uso e apropriação da informação, na medida em que
o usuário traz novos significados à mensagem, inserindo seu ponto de vista e
direcionando o público para realizar determinadas ações que vão além das métricas
de mídias sociais (“se inscreva no canal”, “deixe o joinha” etc.).

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho teve como objetivo mostrar o papel do influenciador


digital na divulgação científica, compartilhando e produzindo conhecimento aos
usuários acerca da Covid-19. Foram abordados pontos relacionados ao contexto das
ferramentas digitais, como a mediação da informação e as práticas informacionais,
além da diferenciação entre os termos “comunicação científica” e “divulgação
científica”.
Os canais “Você Sabia?” e “Nostalgia” trouxeram desde fatos curiosos a
pesquisas desenvolvidas sobre o coronavírus, esclarecendo diversas questões
sobre a sua proliferação e os cuidados necessários. As mídias sociais funcionam
como espaços onde o público se apropria da mensagem recebida, compartilhando-a
em suas redes.
Ainda assim, existe o cuidado quanto ao alcance de informações enganosas
e imprecisas relacionadas a cura da Covid-19, fato que vem levando as plataformas
digitais a tomarem medidas de restrição. As mídias sociais são fontes de informação

181
que, quando utilizadas de forma ética, promovem formatos de parceria entre
cientistas e influenciadores (neste caso, a partir de estudos no YouTube). Mesmo
sendo utilizadas para fins pessoais, é nítido ver que a rápida disseminação e o
alcance de informações nesse ambiente tornam-se uma vantagem para o maior
reconhecimento da ciência.

REFERÊNCIAS

ALBAGLI, Sarita. Divulgação científica: informação científica para a cidadania? Ci.


Inf., Brasília, v. 25, n. 3, p. 396-404, 1996.;
BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2011, 229 p.;
BUENO, W. C. Jornalismo científico: revisitando o conceito. In: VICTOR, C.;
CALDAS, G.; BORTOLIERO, S. (Org.). Jornalismo científico e desenvolvimento
sustentável. São Paulo: All Print, 2009. p.157-78.;
BUENO, W. C. Comunicação científica e divulgação científica: aproximações e
rupturas conceituais. Informação & Informação, v. 15, n. 1 Especial, p. 1-12, 2010.
CARVALHO, M. C. Divulgação Científica no Youtube: Narrativa e Cultura
Participativa nos Canais Nerdologia e Peixe Babel. In: XXXIX Congresso Brasileiro
de Ciências da Comunicação. São Paulo, Conteúdos Digitais.
SAVOLAINEN, R. Information Behavior and Information Practice: Reviewing the
"Umbrella Concepts" of Information-Seeking Studies. Library Quarterly, Chicago, v.
77 n. 2, p. 109-132. 2007.

182
GT 5
INFORMAÇÃO, MEMÓRIA E PATRIMÔNIO

183
EMEIDE NÓBREGA DUARTE
E-mail: emeide@hotmail.com
LUCIANA FERREIRA COSTA
E-mail: lucianacarioca@gmail.com
RAYAN ARAMIS DE BRITO FEITOZA
E-mail: rayanbritof@gmail.com
ROSILENE AGAPITO DA SILVA LLARENA
E-mail: rosilenellarena@gmail.com

MEMÓRIA DO ENCONTRO DE ESTUDOS SOBRE CIÊNCIA,


TECNOLOGIA E GESTÃO DA INFORMAÇÃO (ENEGI)
RESUMO: Aborda a memória do Encontro de Estudos sobre Ciência, Tecnologia e Gestão da
Informação, ao longo de 10 anos, a partir da produção científica que compõe o evento no período de
2010 a 2019. Quanto ao objeto de estudo, é considerada como pesquisa descritiva e documental. A
análise do corpus documental que perfaz 334 trabalhos se dá por meio dos seguintes indicadores: o
tipo de autoria dos trabalhos, identificação dos autores e das instituições mais frequentes nas edições
do evento e, por fim, as palavras-chave mais incidentes como representação dos temas mais
abordados nos trabalhos analisados. Os resultados indicam que expressiva quantidade de trabalhos é
em autoria múltipla, que há um núcleo de autores mais produtivos nas edições do evento, que a
Universidade Federal de Pernambuco e Universidade Federal da Paraíba têm forte presença e que
entre os 10 temas mais frequentes, Memória, Gestão da informação e Ciência da Informação são
bastante significativos em termos quantitativos. Conclui que o Encontro de Estudos sobre Ciência,
Tecnologia e Gestão da Informação é um evento consolidado e espaço de articulação e veiculação da
produção científica de pesquisadores da área da Ciência da Informação e afins.

Palavras-chave: Memória; Produção Científica; Encontro de Estudos sobre Ciência, Tecnologia e


Gestão da Informação - ENEGI.

184
MEMORY OF THE MEETING OF STUDIES ON SCIENCE,
TECHNOLOGY AND MANAGEMENT
Abstract: It addresses the memory of scientific production related to the Meeting of Studies on
Science, Technology and Information Management, based on scientific production that makes up the
event in the period from 2010 a 2019. As for the object of study, it is considered as descriptive and
documentary research. The analyse of the documentary that makes up 334 papers through the
following indicators: the type of authorship, identification of the authors and the most frequent
institutions and finally the most frequent keywords as representation of the tems. The results indicate
that a significant number of works are in multiple authorship, that there is a nucleus of more productive
authors in the editions of the event, that the Federal University of Pernambuco and the Federal
University of Paraíba have a strong presence and that among the 10 most frequent themes, Memory,
Information management and Information Science are quite significant in quantitative terms. It
concludes that the Meeting of Studies on Science, Technology and Information Management is a
consolidated event and space for articulation and dissemination of scientific production by researchers
in the field of Information Science and the related areas.

Keywords: Memory; Scientific Production; Meeting of Studies on Science, Technology and


Information Management – ENEGI.

1 INTRODUÇÃO

O desenvolvimento científico na sociedade torna-se eficaz a partir da


pesquisa e da comunicação de seus resultados, de modo que o conhecimento seja
difundido e produza efeitos nas áreas de conhecimento em que foi produzida. Essa
comunicação científica se dá por meio da publicação de livros, de artigos em
periódicos científicos, bem como em eventos que registram os trabalhos em anais.
Estes canais de comunicação científica acompanham os fenômenos atuais que
circundam os indivíduos e as instituições, a exemplo das Fake News ou
desinformação e da pandemia de COVID-19.
Nesse contexto, a área da Ciência da Informação (CI) tem o papel
preponderante de solucionar os problemas advindos da informação científica, que é
o de levar informação precisa, confiável, com rapidez e eficiência àqueles que dela
necessitam. É o que Saracevic (1996, p. 48) define como objeto da CI: “[...] os
problemas da efetiva comunicação do conhecimento e de seus registros entre os
seres humanos, no contexto social, institucional ou individual do uso e das
necessidades de informação”.
É importante salientar que, para além das discussões no contexto pandêmico,
como proposta trazida pelo Encontro de Estudos sobre Ciência, Tecnologia e
Gestão da Informação (ENEGI), neste ano de 2020, a CI visa elucidar problemas e

185
resoluções cujo objeto é a informação no contexto emergencial da pandemia de
COVID-19.
Considerando as abordagens anteriores e a atual, percebeu-se a
necessidade de refletir sobre a memória científica do evento, partindo da seguinte
questão: Qual a configuração dos trabalhos apresentados no ENEGI no período de
2010 a 2019? Para tanto, definiu-se como objetivo abordar a memória do Encontro
de Estudos sobre Ciência, Tecnologia e Gestão da Informação (ENEGI), a partir da
produção científica que compôs o evento no período de 2010 a 2019. O trabalho
está dividido em quatro seções além desta Introdução, as quais apresentam o
referencial teórico acerca da memória científica, seguido da metodologia e
posteriormente, dos resultados e as análises. Por fim, as considerações finais e as
referências.

2 MEMÓRIA CIENTÍFICA

A memória pode ser compreendida de diferentes maneiras, dependendo da


área de conhecimento em que é estudada, como a Psicologia, a Biologia, as
Ciências Humanas, as Ciências Sociais e Aplicadas, a Comunicação, como também
a Ciência da Informação. Nessa última, a memória é objeto de estudos para
(re)conhecer e significar papéis no âmbito da cultura, da identidade de indivíduos e
de grupos, de organizações, de instituições e da própria Ciência.
A memória no contexto da ciência, nomeadamente memória científica, pode
ser considerada como sinônimo de preservação da história, dos registros e/ou das
atividades realizadas no âmbito de pesquisas, dos produtos, dos documentos, dos
laboratórios, entre outros, que tendem a produzir conhecimento científico e,
consequentemente, são comunicadas entre os cientistas e a sociedade por meio de
canais formais e informais.
No bojo das discussões sobre o conceito de memória podemos considerar o
argumento de Halbwachs (2013) ao considerá-la como uma construção coletiva,
fruto de relações sociais, por diversos atores, a partir da intermediação dos grupos
sociais ou de referências do qual o sujeito pertence. As influências desses grupos se
revelam, também, no fazer científico, a partir da construção de marcas identitárias
de uma área de conhecimento, da produção da informação científica e na

186
consolidação dos registros de conhecimento que ficam para a sociedade (PRADO,
2018).
A memória científica, segundo Prado (2018), é formada a partir da
coletividade, ou seja, por meio das relações sociais que podem acontecer na
produção da ciência e essas relações podem ser especificamente oriundas de
grupos de pesquisa, por uma determinada comunidade acadêmica e, também, pela
comunidade científica. Para a autora, há diversos atores que participam dessa
dinâmica, como: pesquisadores, técnicos, funcionários de universidades, de centros
de pesquisa, acadêmicos (estudantes e professores), entidades que servem como
campo de exploração de pesquisa, autoridades acadêmicas, entre outros.
Nesse sentido, compreende-se que a memória científica, a partir das
influências de relações desses diversos atores, contempla a preservação e
manutenção do conhecimento gerado por meio da ciência. Essa, por sua vez, é
originada a partir do ethos científico, principalmente no princípio do comunismo
(MERTON, 2013) e do compartilhamento do conhecimento científico.
Considerando que o compartilhamento do conhecimento científico se dá por
meio de diversos canais formais e informais - eventos e seus anais, periódicos
científicos, livros, redes sociais científicas, entre outros, é fato que esses canais são
condutores de informações científicas relevantes para construção da memória
científica de uma determinada área ou campo que congregam e institucionalizam
uma determinada ciência.

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
O estudo é classificado como bibliométrico (ao apresentar as incidências e
características relacionadas aos autores) e como cientométrico (ao revelar as
tendências temáticas de estudos da área) e de natureza quali-quantitativa. A
investigação se caracteriza como pesquisa descritiva por analisar e descrever a
configuração da produção científica do ENEGI ao longo de suas edições (2010-
2019), trazendo à tona a memória do evento. Também se caracteriza por
bibliográfica e documental ao realizar o mapeamento dos anais do evento.
O estudo se deu por meio das seguintes etapas: a) Mapeamento dos anais a
partir de acesso às páginas web do evento; b) Descrição dos anais e dos Grupos de
Trabalho do evento; c) Levantamento e análise do corpus documental mediante os
seguintes indicadores: tipo de autoria dos trabalhos, se única ou múltipla; a

187
identificação dos autores com mais trabalhos no evento; as instituições mais
presentes no evento, enquanto vinculação institucional dos autores; os temas
evidenciados nos trabalhos a partir das palavras-chave mais incidentes.

4 RESULTADOS E ANÁLISES DOS DADOS

Nesta seção, apresentam-se os resultados e as análises acerca do ENEGI e


suas edições no período de 2010 a 2019.

4.1 Descrição Analítica do Documento Anais do ENEGI

O documento analisado intitula-se Encontro de Estudos sobre Ciência,


Tecnologia e Gestão da Informação (ENEGI), evento realizado pelo Departamento
de Ciência da Informação da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). É um
documento bibliográfico secundário, produzido no nível da academia, sem controle
de editores comerciais. Quanto ao suporte é apresentado em meio eletrônico. Por
essas características é usualmente considerado na área de Ciência da Informação,
como literatura cinzenta (refere-se a tudo o que é produzido em formato impresso e
eletrônico).
Observa-se que o conteúdo das comunicações é atual, sendo baseado em
pesquisas concluídas há não muito tempo antes do encontro. O material bibliográfico
originado dos Anais, embora se baseie em apresentações orais, é registrado em
texto e publicado para divulgação com a comunidade. A coleção apresenta os
trabalhos completos, com exceção do ano de 2017 que apresentou resumos
expandidos. Considera-se o ENEGI uma conferência relevante na área de gestão na
CI constituindo-se como fonte de informação para as discussões sobre os temas
envoltos no evento. O evento iniciou no ano de 2010 como o I Encontro de Estudos
sobre Ciência, Tecnologia e Gestão da Informação e até o ano de 2019 preserva
esta denominação. A coleção, composta por nove encontros, realizados anualmente,
deixou de acontecer no ano de 2016. Em cada ano apresenta uma temática distinta,
em conformidade com o avanço da Gestão da informação no campo da CI. Os Anais
são descritos no Quadro 1:
Quadro 1 – Temas gerais da coleção dos anais do evento
Ano de
Títulos da coleção dos Anais do evento
Realização
2010 Gestão da informação: preservação da memória
2011 A gestão da informação na era do conhecimento

188
Tecnologias e métodos aplicados à gestão da informação em instituições
2012
públicas e privadas
A gestão da informação como fator de inovação e empreendedorismo ético-
2013
sustentáveis
Big Data e a era da contextualização dos dados para a competitividade
2014
organizacional
2015 A gestão da informação e do mercado de trabalho
2017 Sem definição do tema geral
2018 Sem definição do tema geral

2019 Gestão da informação, estratégia e inovação


Fonte: Coleção dos Anais do ENEGI (2010/2015, 2017/2019)

Os focos temáticos da Gestão da informação diversificam-se,


cronologicamente, na evolução do tempo, partindo da relação com a memória, com
a era do conhecimento, com as tecnologias, o empreendedorismo, big data,
mercado de trabalho e culmina com a relação da Gestão da informação com a
estratégia e a inovação. Os trabalhos, constantes do documento Anais do ENEGI,
são dispostos por Grupos Temáticos (GTs). Observa-se que os focos dos grupos
foram se alterando com o passar dos anos, conforme descrito no Quadro 2:

Quadro 2 - Grupos temáticos


Grupos Temáticos - 2010 Grupos Temáticos - 2019
GT1- Estudos históricos e epistemológicos da GT 1 - Organização, representação,
informação produção e uso da informação e do
conhecimento
GT2- Organização e Representação da Incorporado no GT1
Informação e do Conhecimento
GT3- Mediação, Circulação e Uso da Incorporado no GT1
Informação
GT4- Gestão da Informação e do GT 2 - Gestão da informação e do conhecimento nas
Conhecimento nas Organizações organizações
GT5- Política e economia da informação GT 3 – Políticas de informação, qualificação e atuação
profissional
GT6- Informação, Educação e Trabalho Incorporado no GT3
GT7- Produção e Comunicação da Incorporado no GT4
informação em C&T
GT8- Informação e Tecnologia GT 4 – Tecnologia da informação e comunicação
GT9 - Museologia, Patrimônio e GT 5 – Informação, memória e patrimônio
informação.
Fonte: Coleção dos Anais do ENEGI (2010/2015, 2017/2019)

Os temas foram se organizando em conformidade com a demanda e


incidência dos trabalhos submetidos. Em 2010 apresenta nove GTs, baseados nos
Grupos de trabalho da Associação de Pesquisa e Pós-graduação em Ciência
da Informação (ANCIB). Por se tratar de um evento na subárea de gestão da
informação e do conhecimento, os trabalhos submetidos não contemplavam todos
os grupos temáticos e, consequentemente, foram se ajustando. No ano de 2011

189
altera para sete grupos, em 2017, não informa os grupos temáticos e, em 2018,
passa para cinco grupos temáticos, permanecendo até o ano vigente de interesse da
pesquisa (2019). Percebe-se que o GT Gestão da Informação e do Conhecimento
nas Organizações permanece inalterado desde o início e, os outros ajustaram-se
nos seguintes: Organização, representação, produção e uso da informação e do
conhecimento; políticas de informação, qualificação e atuação profissional;
Tecnologia da informação e comunicação; e Informação, memória e patrimônio.
Entre os organizadores do evento no período 2010 a 2019 destacaram-se
alguns professores, nomeadamente sobressaem André Felipe de Albuquerque Fell
(4), Fábio Assis Pinho (4), Alexander Willian Azevedo (3), Luciana Paula Vital (2),
Fábio Mascarenhas e Silva (2), Célio de Andrade Santana Júnior (2), Sílvio Luiz de
Paula (2) e Nadi Helena Presser (2), conforme Quadro 3. Registra-se que no ano de
2011, na comissão organizadora aparecem os nomes de dois autores, além dos
organizadores.
Quadro 3 - Organizadores e dados gerais do ENEGI
Ano Nomes dos organizadores Editora ISBN
Fábio Assis Pinho
Luciana Paula Vital
2010 Néctar 978-85-60323-30-2
Alice Cristina do Sacramento;
Marcelo Gomes de Souza
Erick Dawson de Oliveira (autor)
Sílvio César de Castro (autor)
2011 Fábio Mascarenhas e Silva Néctar 978-85-60323-31-9
Guilherme Alves Santana
Luciana Paula Vital
André Felipe de Albuquerque Fell
2012 Fábio Assis Pinho Néctar 978-85-60323-42-5
Fábio Mascarenhas e Silva
Alexander Willian Azevedo
2013 André Felipe de Albuquerque Fell Néctar 978-85-60323-45-6
Fábio Assis Pinho
Alexander Willian Azevedo
2014 André Felipe de Albuquerque Fell Néctar 978-85-60323-50-0
Célio Andrade de Santana Júnior
Alexander Willian Azevedo
2015 André Felipe de Albuquerque Fell Néctar 978-85-60323-53-1
Célio de Andrade Santana Júnior
Antônio de Souza Silva Júnior
2017 Néctar 978- 85- 60323-57-9
Bruno Tenório Ávila
Sílvio Luiz de Paula Néctar 978-85-60323-57-9
2018
Nadi Helena Presser
Sílvio Luiz de Paula
2019 UFPE 978-85-415-1150-6
Nadi Helena Presser
Fonte: Coleção dos Anais do ENEGI (2010/2015, 2017/2019)

190
Percebe-se que os anais do evento, durante o período de 2010 a 2018, foi
realizado formalmente sob a responsabilidade da editora Néctar. A partir do ano de
2019 passou à responsabilidade da UFPE. Cada evento apresenta um número
distinto de International Standard Book Number (ISBN). Além destes dados
recuperados e apresentados sobre o evento Encontro de Estudos sobre Ciência,
Tecnologia e Gestão da Informação, os melhores trabalhos são publicados em
números especiais de periódicos da área de gestão e podem ser acessados nas
próprias coleções.

4.2 Memória das edições do ENEGI

A apresentação e a discussão dos resultados encontrados, acerca da


memória do ENEGI, fundamentam-se nas quatro variáveis descritas na metodologia,
de forma sucinta, visando atender os aspectos temporais de pesquisa em
andamento.
O total de itens nas edições do evento somou 334 trabalhos, sendo este total
distribuído da seguinte forma: 33 trabalhos em 2010, 29 em 2011, 44 em 2012, 43
em 2013, 37 em 2014, 38 em 2015, 12 em 2017, 35 em 2018 e 63 em 2019.
Verifica-se que a edição de 2019 foi a que apresentou o maior número de trabalhos.
Reforça-se que em 2016 não houve edição do ENEGI.
O mapeamento do tipo de autoria dos trabalhos revelou que a autoria múltipla
reflete em 81% (F=271) dos trabalhos, enquanto que a autoria única consta de 19%
(F=63). Por este resultado, observa-se que os autores seguem uma tônica já
consolidada da ciência, que é o trabalho em colaboração, normalmente com origem
em orientação de trabalhos de conclusão de curso (graduação, mestrado ou
doutorado), orientação de pesquisas de iniciação científica, de discussões em aula,
em grupos de pesquisa, dentre outras possibilidades.
No tocante aos autores dos 334 trabalhos, considerou-se viável determinar
um valor de corte que foi o fato do autor possuir a partir de cinco trabalhos no
evento. Assim, figuram com forte presença nas edições do evento, os seguintes
autores: André Felipe de Albuquerque Fell com 22 trabalhos, Marcos Galindo Lima
com 10, Luciana Ferreira da Costa com oito, Alexander Azevedo com sete trabalhos.
Em seguida, aparecem Renato Fernandes Correa, Guilherme Alves Santana,

191
Natanael Vitor Sobral, Célio Andrade Santana com seis trabalhos cada autor. Já
com cinco trabalhos cada, destacam-se os autores Emeide Nóbrega Duarte, Isa
Maria Freire e Marcio Bezerra da Silva.
Por sua vez, o levantamento das instituições mais incidentes no evento,
caracterizando as instituições dos autores dos trabalhos, seguiu o mesmo valor de
corte citado anteriormente, ou seja, incidência a partir de cinco. Assim, evidenciou-
se que as instituições mais presentes no evento foram a UFPE com 398 incidências,
seguida da UFPB com 79, Universidade Federal do Cariri (UFCA) com 31,
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) com 30, Universidade Federal
de Alagoas (UFAL) com 17, Universidade Federal do Maranhão (UFMA) com 10,
Universidade Federal de Goiás (UFG) com nove, Universidade Federal da Bahia
(UFBA) e Universidade de Brasília (UnB) com sete, cada, Universidade Federal
Rural de Pernambuco (UFRPE) e Universidade Estadual Júlio de Mesquita Filho
(UNESP) com seis, cada. Este resultado confirma os nomes dos autores
supracitados com maior número de trabalhos, sobretudo, oriundos da UFPE,
instituição que sedia o ENEGI, seguida da UFPB.
Por último, em relação às palavras-chave mais frequentes no corpus
documental analisado, levantou-se o total de 1.351 palavras-chave, reconhecendo
que estas traduzem o contexto dos trabalhos, ou seja, são representativas do
conteúdo dos mesmos, podendo ser uma atribuição livre dos autores dos
documentos ou, conforme estabelece a Norma 6028 – Resumo - da Associação
Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), extraídas de vocabulário controlado. Dito
isso, as 10 palavras-chave mais incidentes, em observância também ao valor de
corte de frequência a partir de cinco, foram: Memória (F= 49), Gestão da Informação
(F=43), Ciência da Informação (F=29), Repositório Institucional (F=14), Gestão do
Conhecimento (F=12), Museu (F=12), Informação (F=11), Redes Sociais (F=11),
Arquitetura da Informação (F=10), Tecnologia da Informação e Comunicação (F=10).
As palavras-chave descritas, bem como outras, são apresentadas na nuvem de
palavras em sequência:

Figura 1: Nuvem de palavras-chaves

192
Fonte: Elaborado a partir de Wordcloud.

Na Figura 1, percebem-se outras palavras-chave, além das supracitadas com


maior incidência, entre as quais: Blog (F=8), ENANCIB (F=8), Patrimônio cultural
(F=8), Bibliotecas (F= 8), Produção científica (F=8), Estudos de usuários (F=7), Uso
da Informação (F=6), Comportamento informacional (F=6), Preservação (F=6),
Epistemologia (F=5) e Usabilidade (F=5). Pode-se concluir que os conteúdos dos
trabalhos analisados estão em compasso com a proposta do evento, segundo sua
denominação, bem como com as Ementas dos GTs do ENEGI, sendo que, temas
como Memória, Gestão da Informação e Ciência da Informação apresentam-se
como os mais discutidos ao longo das edições.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pesquisa em relato objetivou abordar a memória do ENEGI a partir da
produção científica veiculada no evento entre 2010 e 2019. Constata-se que o
ENEGI é um evento consolidado e se configura como espaço de articulação e
veiculação da produção científica de pesquisadores da área da Ciência da
Informação e afins.
Identificou-se um núcleo de autores mais produtivos nas edições do evento,
com significativa participação em termos quantitativos. Os destaques em
participação do evento foram os autores pesquisadores com contribuições científicas
oriundas de Programas de Pós-graduação em CI das universidades nordestinas.
Tanto que, nessa linha, as instituições mais presentes no evento foram a UFPE, com
expressiva incidência, seguida da UFPB, UFCA e UFRN.
No bojo das discussões do evento, em linha com os grupos temáticos e
ementas deste, aparecem, a partir das palavras-chave, as temáticas Memória,
Gestão da Informação e Ciência da Informação como as mais fortemente incidentes
nos trabalhos analisados, embora outros temas figurem nas discussões do evento.

193
Em síntese, percebe-se que a tendência do ENEGI, realizado como “Estudos
sobre Ciência, Tecnologia e Gestão da Informação” é se expandir, considerando o
desenvolvimento do Grupo de Trabalho da ANCIB GT4- Gestão da Informação e do
Conhecimento, no contexto da Ciência da Informação.

REFERÊNCIAS

HALBWACHS, M. A Memória Coletiva. 2. ed. São Paulo: Editora Centauro, 2013.


MERTON, R. K. Ensaios de sociologia da ciência. São Paulo: Associação
Filosófica ScientiaeStudia/ Editora 34, 2013. 304 p.
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Unidade Multidisciplinar de Memória e Arquivo Histórico (UMMA) da UFSCar. 165 f.,
2018. Dissertação (Mestrado em Ciência, Tecnologia e Sociedade) - Universidade
Federal de São Carlos, 2018.
SARACEVIC, T. Ciência da informação: origem, evolução e relações. Perspectivas
em Ciência da Informação. Belo Horizonte, 1996.
ANDRÉ LUIZ DA SILVA ROMÃO
E-mail: romao.alsr@gmail.com
ÂNGELA HOLANDA VILELA
E-mail: anginhaholanda.31@gmail.com
CARLOS GABRIEL LUCENA DA SILVA
E-mail: gabriell_lucena@hotmail.com

DOPS-PE: um olhar arquivístico com restringes de repressão

RESUMO: Durante a Ditadura Militar no Brasil, houve momentos de estigma no controle social,
político e econômico, acarretada de acontecimentos sob modo de investigação, censura, repressão e
distintas de coerção perante a sociedade. No Estado de Pernambuco ocorreu à atuação do
Departamento Ordem Política e Social (DOPS), um órgão que tinha como o papel de silenciar de
maneira atroz aos indivíduos que poderiam vir a desempenhar ações contrárias as ideologias
estabelecidas pelo governo. Com isso, a pesquisa tem como objetivo realizar uma análise teórica
sobre o DOPS-PE, baseados em suportes informacionais da arquivologia. Sendo aplicado o método
dedutivo de caráter descritivo e explicativo, de cunho qualitativo, com delineamento de coleta de
informações exclusivamente de analise documental e bibliográfica, através de pesquisa minuciosa
durante o processo de elaboração dos resultados. Percebe-se que o DOPS–PE tem como pratica a
investigação, censura, repressão, disseminação e manipulação da informação, interferindo na
convivência da sociedade. Contudo o Departamento foi marcado por momentos de opressões, apesar
da fragilidade documental que aflige na reconstrução histórica social registrada nesse período.

Palavras-chave: Documento Arquivístico; DOPS-PE;Regime Militar.

Abstract:During the Military Dictatorship in Brazil, there were moments of stigma in social, political
and economic control, caused by events in the form of investigation, censorship, repression and
different forms of coercion before society. In the State of Pernambuco, the Department of Political and
Social Order (DOPS) took place, an organ whose role to atrociously silence individuals who may come
to opposing actions suchas ideologies related to the government. With this, the research aims to carry
out a theoretical analysis on the DOPS -PE, based on informational support of archivology. Being
applied the deductive method of descriptive and explanatory character, of qualitative nature, with

194
design of collection of information exclusively of documentary and bibliographic analysis, through
meticulous research during the process of elaboration of the results. It can be noticed that DOPS – PE
has as practice investigation, censorship, repression, dissemination and manipulation of information,
interfering in society's coexistence. However, the Department was marked by moments of oppression,
despite the documentary fragility that afflicts the social historical reconstruction recorded in that period.

Keywords:Archival Document; DOPS-PE; Military regime.

1 INTRODUÇÃO

Durante a ditadura civil-militar brasileira (1964-1985), os setores de oposição


aos governos militares foram bastante vigiados, censurados e reprimidos. Inúmeras
pessoas foram presas, muitas delas eram jovens que, independentemente de sexo,
se vincularam a organizações, partidos políticos e entidades estudantis para lutar em
prol da democracia (BRASIL, 2007).
Este período crucial no Brasil foi um dos mais horrendos da história. Vivia-se
sob a lógica da vigilância, censura e repressão, principalmente das informações ou
opiniões. Neste período surgia o Departamento de Ordem Política e Social de
Pernambuco (DOPS-PE) que exercia medidas preventivas e vigilâncias contra a
repressão ao comunismo. A informação é imprescindível, especialmente, para a
compreensão de tudo que envolveu o período ditatorial brasileiro e a influência do
DOPS neste período. Os acervos sobre a ditadura são ingentes, assim como o do
DOPS, por sua vez divididos em dois grandes grupos: funcionais (dossiês acerca de
vários temas de interesse político do DOPS-PE) e prontuários (referente a vidas de
uma determinada pessoa).
Quando evidenciamos a arquivologia neste aspecto, percebe-se que os
documentos arqueológicos são reconhecidos como instrumento de poder e
significado histórico imensurável. Os acervos ditatoriais e do DOPS encontram-se
diversos em plataformas digitais. Sites como Memória digitale Brasil Nunca Mais
possuem um acervo considerável sobre o tema. O National Archives and Records
Administration (NARA) definem o document arquivístico eletrônico como “any
information that is recorded in form that only a computer can process and that
satisfies the definition of a record” (NARA, 2005)12. O suporte físico e eletrônicosãoo
alicerce informacional para o conhecimento sobre este período tão sombrio, mas de
abrangente conhecimento.

12
“Qualquer informação que seja registrada em uma forma que somente um computador possa processar e que
satisfaça a definição de um documento/registro.” (tradução nossa).

195
A pesquisa tem como proposta apresentar analise teórica relacionada ao
DOPS-PE, baseando-se em pesquisas nestes suportes informacionais
arqueológicos evidenciando a importância da arquivologia no período histórico
brasileiro.
Adotou-se o método dedutivo em que é alicerçada uma pesquisa descritiva e
explicativa, com cunho de natureza qualitativa, com delineamento aderido em coleta
de informações exclusivamente em análise documental e bibliográfica. A partir dos
métodos, pode ser desenvolvida a construção do corpo teórico da
pesquisa,realizados pelos levantamentos de informações sobre o período do DOPS
no Estado de Pernambuco nos em meados das décadas de 30 á 60, mediante
aplicação de coleta de dados por intermédio de documentos arquivísticos eletrônicos
através do Brasil Nunca Mais e Memória Digital especifico ao objeto pesquisado e
também através de elementos biográficos de diversificadas interpretações com
embasamento em livros, portais de periódicos como:SCIELO, BRAPCI, CAPES,
dentre outros. Com isso, tendo finalidade de fundamentação teórica relacionadas ao
marco do DOPS-PE, apresentando um contexto histórico tão difícil, porém,
necessário para a construção de saberes em períodos em que pensamentos
retrógrados estão cada vez mais evidentes.

2 AS PRIORIDADES DA ARQUIVOLOGIA: A IMPORTÂNCIA DO ACESSO AO


DOCUMENTO ARQUIVÍSTICO
Entende-se por arquivo “documentos produzidos e recebidos no decurso das
ações necessárias para o cumprimento da missão predefinida de uma determinada
entidade coletiva, pessoa ou família.” (RODRIGUES, 2006). Todo e qualquer
documento arquivístico se baseiam em premissas para a produção, uso e
armazenamento. São quatro as propriedades da arquivologia:
I. O documento como prova de ato ou fato: no âmbito arqueológico, deve-se
entender o documento como verídico ou inverídico, sendo a questão
informacional consequência e, portanto, a prioridade fica em segundo plano.
II. Comunidade e público-alvo: em bibliotecas, museus ou âmbitos digitais, o
parâmetro para o documento arquivístico é especificar para onde depositar as
informações. Sendo para uma comunidade, deve-se focar nas ações e
funções desenvolvidas por seus utilizadores, assim como definir o seu público
alvo. Para um arquivo público, ou uma plataforma digital aberta a todo tipo de

196
público, os cidadãos terão acesso a documentos, fatos, fotos sobre a
ditadura, assim como é o Brasil Nunca Mais e o Arquivo Nacional.
III. Preservação :a prioridade principal da arquivologia é a preservação e
conservação dos documentos. Na arquivologia denomina-se a teoria das três
idades em que definem o tempo de vida do arquivo e assegura principalmente
seu aspecto de preservação. Sobre a Teoria das Três idades, Paes (2005,
p.21) classifica de primeira idade ou corrente, arquivo de segunda idade ou
intermediário e arquivo de terceira idade ou permanente.
Ainda sobre arquivos corrente, intermediário e permanente Lopes
(2004, p.118) observar:
Arquivo corrente: é aquele em que os documentos são frequentemente
utilizados [...]. Arquivo intermediário: neste momento os documentos não
estão mais em uso corrente, seu arquivamento é transitório e a função deste
arquivo é principalmente assegurar a preservação guardando
temporariamente e aguardando o cumprimento dos prazos estabelecidos
pelas comissões de análise sendo eliminado ou guardado definitivamente,
para fins de prova ou pesquisa. Arquivo permanente: no momento em que
os documentos ‘perdem’ seu valor administrativo, aumenta a sua
importância histórica [...]. Sua função é a de reunir, conservar, arranjar,
descrever e facilitar a consulta de documentos oficiais não-correntes,
tornando-os acessíveis e úteis no momento em que solicitados seja para
atividades administrativas ou históricas.

Sendo ainda, um aspecto importante para a preservação dos


documentos, a arquivologia utiliza-se da tabela de temporalidade como uma
definição para determinar um prazo específico para certos documentos,
alguns para serem guardados por mais tempo, outros nem tanto. Indolfoet al.
(1995,p.24). Listou os dados básicos que uma tabela de temporalidade deve
conter: Nome do órgão e da unidade administrativa; Espécie e assunto do
documento; Existência de vias e/ou reproduções em outros setores; Prazos
de guardas nos arquivos correntes e intermediários e Destinação;
Em 2002, o decreto 4.073 13, estabeleceu dentre as diretrizes do
CONARQ, o direito à preservação e acesso aos documentos de arquivos.
Hodiernamente, a preservação continua sendo o principal fator no meio

13
A finalidade do Decreto 4.073/2002 foi regulamentar a Lei nº 8.159. A normalização da lei veio onze
anos depois da sua publicação. O decreto define: I - estabelecer diretrizes para o funcionamento do
Sistema Nacional de Arquivos (SINAR), visando à gestão, à preservação e ao acesso aos documentos
de arquivo [...]. No artigo n° 10, o SINAR tem por finalidade e em sua primeira competência definir
que os documentos arquivísticos devem: I – promover a gestão, a preservação e o acesso às
informações e aos documentos na sua esfera de competência, em conformidade com as diretrizes e
normas emanadas do órgão central [...].

197
arquivístico e sendo esse o maior desafio e embate para a preservação
destes documentos em ambientes digitais.
IV. Sigilo e segurança: ainda que muitos documentos estejam abertos ao público,
vários se encontram em sigilo. É o caso, por exemplo, de documentos da
Biblioteca do Vaticano, ou do próprio acervo do DOPS. Muitos materiais se
encontram em segredos, ainda que inúmeros estejam liberados em
dispositivos digitais. Em cada uma das fases do ciclo vital dos documentos,
os sigilos devem ser modificados de acordo com os fatos ou atos que
atestam.
De acordo com Camargo (2009), os documentos de arquivo não diferem de
outros documentos pelo seu aspecto físico ou por ostentarem sinais especiais
facilmente reconhecíveis. Entende-se que além do fato do acesso informacional, o
documento arquivístico tem seu valor notório no processo de desenvolvimento na
sociedade e das atividades do poder publico ou privado.
Destarte, quando observamos os arquivos sobre ditadura, estamos
registrando em nosso hipocampo toda a informação registrada e contida no
documento arquivístico. O que ocorre não é uma supervalorização da arquivologia,
todavia, a sua necessidade para a história é inegável. É necessário compreender
que sem ela, nossa historicidade e nosso passado seriam meramente “invisíveis”. A
ditadura e o DOPS foram marcantes para a história do Brasil, e independentemente
de onde tenhamos acesso, a arquivologia está lá, intrinsecamente e
extrinsecamente.

3 DOPS-PE NO PERÍODO DE 1930 E 1958


No governo do Brasil foi criado nos meados na década de 30 o órgão
denominado como Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), “um dos mais
importantes órgãos do aparato repressivo da História Republicana Brasileira”
(AQUINO, 2001, p. 16), com o intuito de controlar as concepções de segurança na
ordem política e social, por meio de repressão e perseguição á qualquer ideologia
que expressa uma ação contraria ao regime instaurado durante o Estado Novo de
Getúlio Vargas e mais tarde na Ditadura Militar.
No Estado de Pernambuco as primeiras irrupções sobre o aparato repressivo
foram crucias na formação de Orgãos Administrativos que tinham como
funcionalidade realizar o controle preventivo do social. No final dos anos 1920 a

198
antiga Repartição Central de Polícia (RCP) atuava na segurança publica do estado,
de modo que paulatinamete estruturou o controle e a vigilância social no Estado,
tendo como serviço á censura às diversões públicas e nas ficalizações de casas de
cômodos e hotéis, trabalhos noturnos de mulheres e de jogos no geral.
Em meados 1930, ocorreu uma modelagem pormenorizada nos conjuntos de
serviços, tendo a centralização e reordenação das maquinas administrativas, sendo
originado na Revolução de 30 por Getúlio Vagas. Pernambuco era considerado um
dos estados problematicos com relação as ordem publicas, devido a revolucionarias
tradições presentes nos estados ao longo de sua trajetoria histórica. A Secretaria
de Segurança Pública (SSP-PE) criada estruturalmente no ano de 1931 tinha uma
adjecção ao Palácio dos Campos das Princesas, havendo ocupação de prédiosna
Rua da Aurora, próximo ao núcleo de comamando do governo. Neste local
promoviam diligência de controle e limpeza social com atos repressivos, devido a
grandes índices criminais de tipologias opostas as ordens políticas e sociais.Em um
cenário político providenciado em um sinal de alarde, Pernambuco continha grande
recorrência de crimes considerados subversivos, dando uma concepção policial nos
anos 1935, ao qual se deu a um movimento extremista.Neste mesmo ano, surge
um movimento Intentona Comunista em Pernambuco e em outros estados do Brasil
(Rio de Janeiro e Rio grande do Norte), considerado um divisor para as forças
armadas e órgãos de segurança. Com a tentativa de captura de poder pelo partido
comunista brasileiro, sendo reprimido, o Estado provês com propósitos de
severidade em punir atos considerados subversivos, lesivos à ordem e a segurança
nacional. A Lei nº 71, da Delegacia de Ordem Política e Social, sendo criada em 23
de dezembro de 1935, acabou surgindo devido a uma conjuntura que ameaçava o
status quo da ordem vigente e do Estado. O denominado Departamento de Ordem
Política e Social (DOPS), tornou-se um semblante do mais inibido órgão público,
realizando uma devassa no cotidiano dos indivíduos. Apresentando atribuições
como,
1.Proceder inquérito sobre crime de ordem política e social;
2. Exercer as medidas de polícia preventiva e controlar os
serviços cujos fins estivessem em conexão com a ordem
política e social;
3. Combater o comunismo. (Legislação Estadual de
Pernambuco Lei nº 71 DE 23/12/1935)

199
Com o seu surgimento, ocorreram alterações peculiares nas características
da Delegacia de Ordem Política e Social, entre elas: a permuta assídua nas
atribuições administrativas a distinguir de outros órgãos, especificamente as
funções regimentais ao longo de sua execução. A mutação ocorria diretamente em
conexão à conjuntura político-social de cada era, a modificação ocorrida em sua
estrutura administrativa excogitava a desordem social.
Foram ocorridas modificações nas nomenclaturas (Figura 01) e nos longos
percursos do organismo repressivo do Estado, quando se é citado os órgãos entre
os anos de 1935 a 1960, as delegacias se denominavam de DOPS.
Para a instalação de um regime de execução no Brasil, se dá início através
do que se procede a partir dos anos 60, com a ampliação e reorganização do órgão
onde ocorre a modificação ao se referir DOPS, que acaba se tornando
Departamento.
Figura 1 – Modificações das nomenclaturas do DOPS-PE

Fonte: http://obscurofichario.com.br

Os órgãos policiais especializados apresentavam características que


aduziam de grandes facetas, não se limitavam a restringir apenas a investigação,
realizavam coletas de provas, composição de inquéritos, emissões de mandados de
prisão e remetiam a jurisdições. Também realizavam atuações em pórtico de uma
tênue fronteira desunindo as ordem e desordem, agindo de modo legal nos

200
amparos das leis, porem outros infringiam os princípios legais, morais e éticos, na
busca de recolher confissões e provas, em busca de uma delação.

3.1. O modo de diligências do DOPS - PE

O DOPS-PE expunha obrigações divididas em atividades-meio (atribuída


em apoio ao órgão na funcionalidade nos setores pessoal, administrativa e entre
outros fatores) e atividades-fim (conectadas as funções de investigação, repressão
e censura, eram as principais competências órgão).As competências
apresentavam series de desmembramentos burocráticos, através das mesmas
sucederam as informações produzidas, coletadas, manipuladas e disseminadas as
instituições e pessoas, procriando documentos que pertence ao DOPS-PE. Em
todas as atividades-fim exibiam características peculiares como:

I. Investigação: Iniciava-se por suspeitas ou indícios que requeresse


comprovações, atividades eram executados por agentes (Figura 02)
que atuavam como investigadores, o método usado na necessidade
de coletar informações diagnósticas de atividades jurídicas e físicas,
também na averiguação de denúncias na indagação em informe, pista
e delações.

Figura 02- Carteira de identificação dos investigadores do DOPS- PE

Fonte: http://obscurofichario.com.br

Serviço se cedia no acompanhamento sistemático das informações, através


de execução de tarefas na busca do objeto de investigação na vigilância preventiva.

II. A Censura: O processo de controle político-cultural adotava


investigações de indícios ou existência de atividades nocivas que

201
indicasse subversão. Como aponta Leitão (2011, p.21),muitas vezes
desses exercicios, a expressão dessa luta assume formas cruéis:
tortura, morte, censura, fogueira, silêncio, esquecimento.Com a
realização dessas atividades teve como resultado a criação de
prontuários individuais e funcionais ( Figura 03), para suspeitos que
passavam a ser um objeto de constante vigilância e investigação,
devido a pratica de construção e formação de opiniões, adotado contra
os valores e normas estabelecidas pelo sistema.

III. Locais em Pernambuco como teatros, cinema, bares, casa noturno,


clubes, cabarés, bordeis, cassinos e entre outros espaços que ocorria
circuito de cultura do Recife.

Figura 03 - Ficha de João Virgínio

Fonte: https://www.researchgate.net/figure/Figura-3

IV. Repressão: no DOPS, a repressão era uma das ações dos agentes do
órgão, diversos seguimentos sociais passavam por essa inibição
principalmente os Movimento Estudantil (Figura 04), eram aplicadas
na existência de ações consideradas subversivas, ocorrendo
aberturas de prontuários aos envolvidos, com junções de provas
incriminatórias, no intuito de construir um dossiê-processo. As
Informações eram legitimadores pela repressão, pois o mecanismo de
poder do DOPS-PE infligia significados, a informação tornou se um

202
elemento que vai se gerado e transmitido em diversos órgãos oficias
de segurança e impregnando em instituições. Também as
informações chegavam a órgãos não oficias compostas por
colaboradores anônimos que operavam como informantes infiltrados
em repartições públicas de diversificadas instâncias de modo
camuflado
Essas ações realizavam vigilância dos órgãos de informação no intuito de
disseminar e manipular dados coletados, servindo como provas para legitimar os
esquadrinhamentos de indivíduos sobre desconfiança.
Os registros polícias construída pelas coletas era constituída através de
etapas como tratamento e difusão da informação, passavam se por uma series de
procedimentos burocráticos para seu registro e circulação desses informes pelos
órgãos de vigilâncias.

Figura 04 – Repressão à Manifestação Estudantil no Recife

Fonte: http://www.snh2015.anpuh.org

3.2 Controles em Pernambuco: mapa da vigilância

Em decorrência da Era Vargas no período da Segunda Guerra Mundial as


redes de vigilância se aperfeiçoaram, obtendo uma relevância significativa.
Mapeamentos de estrangeiros eram executados pela Delegacia de Ordem Política
e Social, com o propósito de registro das atividades considerando contraria a
soberania nacional. O controle dos estrangeiros dava início na vigilância da entrada
no país, por meio de acompanhamentos de respectivas atividades e preparo de
salvo-conduto para a circulação no território nacional. No Recife havia uma
crescente presença de trabalhadores estrangeiros, alguns marinheiros, fuzileiros e
fugitivos da Guerra, com esse cenário de contingência na capital pernambucana o
DOPS/PE intensificou as atividades e vigilância para os agentes.

203
O controle social conectado aos movimentos culturais em Pernambuco, os
artistas em ativação, passavam por fichamentos que propagavam comportamentos,
ideias, gêneros, descrições de atividades laborais e entre outros detalhes que não
deixavam de serem despercebido pelos agentes. Com esses registros relacionados
aos artistas (Figura 05) elaborados pelo DOPS/PE, fornecia se dados sobre a
extensão de onde trabalhavam.

Figura 05 – Artista investigados no período DOPS em Pernambuco

Fonte: https://www.diariodepernambuco.com.br

Em 1939 o Comissário Amaro Carvalho de Siqueira e o Delegado Edson


Moury ordenaram um misto de organograma e fluxograma, com propósito de
amplificar o controle social desempenhado pelo DOPS-PE. Oelemento cartográfico
(Figura 06), que era um mapa da vigilância e do Controle em Pernambuco,
construído por F.J.Lauria, apresenta detalhamento conciso e de dimensões
amplificadas das atividades socialmente monitoradas, construídas e praticadas
durante a Segunda Guerra Mundial.
Figura 06 – A carta cartográfica de controle de Vigilância em Pernambuco

Fonte: http://obscurofichario.com.br

204
Ao longo do período do funcionamento da DOPS/PE, órgãos observavam
diversos segmentos sociais, para execução de melhores práticas de controle e
vigilância, numa demonstração de que já detinham um alto nível de infiltração. A
carta cartográfica aduz uma análise no poder de articulação do organismo policial
durante o período de monitoramento das ações de vidas de indivíduos e coletivas.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
No Estado de Pernambuco o Departamento de Ordem Política e Social
(DOPS), ocorreram momentos de controle social marcadas por características
repressivas, pelo fato da presença de ideias que contradiziam e ameaçavam as
ideologias estabelecidas pela ordem social e política. Durante o período de gestão
do DOPS-PE, a funcionalidade administrativa e as intervenções nas rede de
informações instalada no país, foram pontos que tornaram marco presente na
história de Pernambuco, podendo ser resgatado através de registros arquivísticos.
Pode ser constatada a relevância frágil na preservação de documentos
arquivísticos perante o Estado. Em parte, essas informações relatam todo o contexto
autoritário ocorrido em alguns Estados inclusive o de Pernambuco durante o regime.
As documentações a respeito do DOPS - PE contém o papel de relatar fontes que
contribuem para a reconstrução histórica do passado recente e poder reavivar a
importância do conhecimento de uma sociedade.

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205
RODRIGUES. Ana Márcia Lutterbach. A teoria dos arquivos e a gestão dos
documentos. Perspect. ciênc. inf., Belo Horizonte, v.11 n.1, p. 102-117, jan./abr.
2006.
SILVA, Marcília Gama. DOPS: A Lógica da Vigilância e do Controle Político e Social
em Pernambuco entre 1930 e 1958. Recife: Editora da UFPE, 2014.

206
SIMONE ROSA DE OLIVEIRA
E-mail: simonerosa.ufpe@gmail.com

A ESTETIZAÇÃO DA VIDA COTIDIANA: FOTOGRAFIAS DE FAMÍLIA


DO FINAL DO SÉCULO XIX E XXI

RESUMO: Este artigo vem com a proposta de traçar algumas linhas a serem amadurecidas no
desenvolver de uma pesquisa sobre a estetização do cotidiano. Desde as impressões sobre as
fotografias de família do final do século XIX, onde o gosto era definido pela padronização estética dos
fotógrafos da época. Até essa nova roupagem estética do século XXI permeada pela forma de
experenciar o cotidiano das famílias. Seria uma nova estética do cotidiano?

Palavras-chave: Mídia Doméstica; Fotografias de Família; Cotidiano; Contemporaneidade; Memória.

Abstract: This article comes with the proposal to draw some lines to be matured in the development
of a research on the aestheticization of everyday life. From the impressions of family photographs of
the late 19th century, where taste was defined by the aesthetic standardization of photographers of the
time. Even this new aesthetic clothing of the 21st century permeated by the way of experiencing the
daily lives of families. Would it be a new everyday aesthetic?

Keywords: Domestic Media; Family Photos; Daily; Contemporaneity; Artist Capitalism; Memory.

1 INTRODUÇÃO

As imagens têm o propósito de representar o Mundo, mas ao fazê-lo,


entrepõem-se entre o Mundo e o Homem. O seu propósito é serem
mapas do Mundo, mas passam a ser biombos; o Homem, ao invés
de se servir das imagens em função do mundo, passa a viver em
função das imagens (FLUSSER, 1985, p.7).

Chegamos ao século XXI com a sensação que vivemos uma vida em função
das imagens como Flusser diz acima. Um mundo de múltiplas cores e
possibilidades, as mais diversas se comparado à monocromia do século XIX que
estampava rostos sisudos, poses e vestimentas que ostentavam um certo poder
hierárquico. Um bom exemplo são as fotografias das famílias aristocráticas de
engenho de Pernambuco do final do século XIX e início do século XX – eram rostos,
posturas, roupas e o próprio cenário (em sua maioria os estúdios fotográficos do
Recife). Essas fotografias eram transformadas em objeto decorativo, assim como os
móveis, cada família imprimia nessas coleções de imagens (que compunham seus
álbuns e porta-retratos das salas de estar) o retrato de si mesma, ou seja, deixavam
demarcado no campo do visível, uma estética que privilegiava a pose (tradição da
época devido à lentidão das chapas e o funcionamento dos aparelhos fotográficos)
com suas vestimentas elegantes em conjunto com os objetos que simbolizassem um
status social.

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Nas fotografias, do tipo carte-de-visite ornamentava móveis das casas de
família, mas também servia para presentear um ente querido. Seria uma forma de
representar cada família deixando sua marca na sociedade? Sendo assim, é
possível pensar a fotografia como consumo doméstico. O posicionamento
econômico dos retratados mostrava desde as vestimentas, a pose, o semblante
sisudo em cada rosto, o cenário de fundo, a disposição hierárquica de cada membro
da família na foto, os adereços, os objetos e, claro, havia também uma estética
predominante para demarcar “o cotidiano” na época.
O álbum ou os porta-retratos provocam essa nostalgia e estabelece uma
intimidade, um encontro entre os indivíduos que se conhecem ou que estão sendo
vistos pela primeira vez.

Figura 1 - João de Souza Pacheco e Belisia Neves Pacheco, grupo família

Autor: Alberto Henschel & Cia.


Notas: Coleção Francisco Rodrigues.
carte de visite, 8,8 x 5,4 cm 
Local: Recife, Pernambuco, Brasil
Palavras-chave: Casal
Fonte: FR-04108
Idioma: Português
Propriedade: Fundaj
Disponibilidade: Fundaj – Cehibra
Local Físico: FR-04108
Fundo Documental: Coleção Francisco
Rodrigues

Fonte: Coleção Francisco Rodrigues

Figura 2 - Adolpho Pereira Carneiro e Martina Pereira Carneiro, grupo família

208
Autor: C. Barza
Notas: Coleção Francisco Rodrigues.
carte de visite, 8,8 x 5,5 cm 
Local: Recife, Pernambuco, Brasil
Palavras-chave: Grupo
Fonte: FR-04104
Idioma: Português
Propriedade: Fundaj
Disponibilidade: Fundaj – Cehibra
Local Físico: FR-04104
Fundo Documental: Coleção Francisco
Rodrigues

Fonte: Coleção Francisco Rodrigues

Com a popularização dos aparelhos fotográficos que Flusser (1985, p.17, 36)
chamou de “patriarca de todos os aparelhos”, “o mais simples e relativamente o mais
transparente de todos os aparelhos,” a vida cotidiana parece está cada vez mais
‘fotografável’, surge uma necessidade de registrar tudo como forma de ‘provar’ a
existência e a presença num determinado acontecimento social: “eu estive ali”, “eu
fiz aquilo, realizei, participei”. Susan Sontag (2004, p.34,35) contribui nesse sentido
dizendo que “não seria errado falar de pessoas que tem compulsão pela fotografia
fazendo da própria experiência uma maneira de ver” e complementa: “hoje, tudo
existe para terminar numa foto” (SONTAG, 2004, p.35). Este comentário de Sontag
não poderia ser mais atual.
Já a fotografia do século XXI vem com uma linguagem própria, criativa, que
se beneficia dos recursos técnicos da era digital para compor estilos. O pensar
fotográfico a partir da realidade contemporânea veio mudando e é possível visualizar
o surgimento de uma nova forma de ver o cotidiano através das imagens. Seria uma
nova estética do cotidiano e do efêmero? Cruz e Araújo (2011, p.1) levantaram essa
hipótese com base em Chalfen (2002, p.143) que apresentou um estudo sobre mídia
doméstica. Aquela construída a partir de um consumo privado e pessoal, porém com
fins de consumo privado e pessoal. Estamos diante de formas mediadas de
comunicação audiovisual que promovem mudanças na forma de pensar a imagem.

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Nesse artigo, evidencia-se o processo social de comunicação visual mediado
pelo lar. E nesse terreno – o lar – torna-se um lugar possível para uma experiência
do cotidiano, um ambiente cheio de simbolismo pincelado com toques sutis de uma
intimidade que antes não era exposta, e a maioria de nós sequer imaginaria
registrar.

2 O CONSUMO PRIVADO DA MÍDIA DOMÉSTICA

Mike Featherstone (1995) diz que na era pós-moderna, existe uma certa
autonomia dos indivíduos em relação às suas escolhas, sendo assim, busca fazer
um entendimento do que seria o consumo em relação aos variados estilos de vida e
o surgimento de uma hierarquia do gosto. Para Featherstone (1995), estilo de vida
remete à individualidade, auto expressão e uma consciência de si estilizada. Seria o
estilo produzido pela mídia doméstica numa era de capitalismo artista? No livro, a
estetização do mundo – viver na época do capitalismo-artista, Lipovetsky e Serroy
(2015), explicam:
O capitalismo artista tem de característico o fato de que cria valor
econômico por meio do valor estético e experimental: ele se afirma
como um sistema conceptor, produtor e distribuidor de prazeres, de
sensações, de encantamento. Em troca, uma das funções
tradicionais da arte é assumida pelo universo empresarial. O
capitalismo se tornou artista por estar sistematicamente
empenhando em operações que, apelando para os estilos, as
imagens o divertimento, mobilizam os afetos, os prazeres estéticos,
lúdicos e sensíveis dos consumidores. O capitalismo artista é a
formação que liga o econômico à sensibilidade e ao imaginário; ele
se baseia na interconexão do cálculo e do intuitivo, do racional e do
emocional, do financeiro e do artístico (2015, 43).

Diante desse cenário, onde se misturam a estética do mercado e da própria


produção artística, o olhar sensível é estimulado, o capitalismo artista se manifesta
para proporcionar para seu consumidor a possibilidade de experimentar um contato
mais próximo com o cotidiano.
Um consumidor em busca de “pequenos prazeres, pelo desejo de viver
experiências agradáveis, de fruir bens de qualidade sensitiva, simbólica e estética”
(LIPOVETSKY; SERROY, 2015, p.329). A era pós-moderna apresenta uma
multiplicidade de escolhas entre os estilos de vida que possibilita o indivíduo ter mais
autonomia, não se prender a padrões pré-estabelecidos. Através dos avanços

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tecnológicos, os indivíduos se comunicam pelas afinidades de gosto, não somente
pelo poder aquisitivo. Porém, não significa que não haja mais distinção social.
Se retomar às fotografias do final do século XIX, aquelas, por exemplo, das
famílias de engenho da Coleção Francisco Rodrigues ilustradas neste artigo, é
perceptível que a estética não se dava pelo gosto, os indivíduos não tinham essa
multiplicidade, essa opção de escolher para expressar seu estilo próprio, mas
seguiam um padrão pré-estabelecido na época: fotografias do tipo carte de visite,
posturas, padrões, acessórios e roupas compunham o cenário da foto que iria
perpetuar nos álbuns de memória daquelas famílias.
Portanto, na contemporaneidade surge essa designação de capitalismo artista
de Lipovetsky e Serroy (2015) com o intuito de não apenas designar uma economia
estética, mas um indivíduo em constante movimento, consumidor da sua própria
arte. O bem de consumo é o próprio cotidiano embelezado pelo lúdico, pelas
sensações, pelo prazer de ser ou estar belo.
É comum no mercado fotográfico atual, profissionais envolvidos nessa
economia estética. Ofertas das mais variadas. O produto de consumo é o cotidiano.
Conhecidos como fotógrafos de eventos como casamento, batizado, festas de
aniversário, entre outras que irão captar imagens com poses e também os
“momentos descontraídos”. Mas, também aqueles com a proposta de fotografia
documental de família, aqueles que pretendem representar o cotidiano, da maneira
mais simples, casual.
Essa proposta diferencial da fotografia documental é muitas vezes
questionada pelo seu papel social de fato e confundida com a fotojornalismo. No
entanto, é uma vertente que aposta numa variedade de temas que vai desde o
social às fotografias de viagens, de guerra, entre outras. O propósito é se aproximar
de uma determinada realidade, trazer à tona um olhar mais profundo do outro. Um
trabalho poético, um gênero que herdou do fotodocumentarismo dos anos 30 a ideia
de um testemunho da verdade. O que os fotógrafos atuais estão propondo é um
trabalho documental que busca preservar esses “momentos únicos” do cotidiano de
famílias, livres das poses e formalidades outrora já conhecidas para oferecer um
álbum que pretende perpetuar as memórias afetivas através de imagens estáticas e
audiovisuais. A “ideia” é o trabalho livre, que agora não é o fotógrafo amador que
circula no âmago da família, mas alguém que vem de fora, que realiza uma pesquisa
prévia para realizar esse trabalho.

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Para fins de trazer essa temática para discussão, convém ilustrar com alguns
exemplos de fotografias de famílias de fotógrafos do Rio de Janeiro (Carolina Pires)
e São Paulo (RenatoDPaula):

Figura 3: Fotografias de família

Fonte: Carolina Pires, 2017

Figura 4: Fotografias de família

Fonte: Carolina Pires, 2017

Carolina Pires por ela mesmo – Fotografias têm cheiro de lembranças. Hoje é
só um retrato, amanhã, história. Eu fotografo tudo na minha vida, eu tenho a câmera
como minha testemunha. E é isso que eu adoro fazer! Vamos construir suas
memórias em forma de imagens? (PIRES, 2017)

Figura 5: Um dia na vida de...

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Fonte: Renato Dpaula, 2017

Figura 6: Um dia na vida de...

Fonte: Renato Dpaula, 2017

Renato Dpaula por ele mesmo - Existe uma mágica e uma beleza no dia a
dia das famílias que não precisam ser posadas ou fabricadas. Diferente do ensaio
de família dirigido, o conceito da fotografia de família documental é vocês serem
fotografados sem poses, um dia todo. Um Dia na Vida da sua família, documentando
tudo, seja na hora de preparar e tomar o café da manhã juntos, ler um livro com os
filhos, brincar, ir ao mercado fazer compras, preparar o almoço, enfim, aquilo que a
sua família é e faz no dia a dia. Eu trouxe para minha fotografia de família aquilo que
já existia na minha fotografia de casamento, uma fotografia documental cheia de
emoção e simplicidade que resgatará para as famílias momentos importantes da
vida delas. Mais do que fotos como um catálogo de moda, eu quero olhar pra trás e
ver fotos que retratem quem nós éramos de verdade (DPAULA, 2017).
Cenas do cotidiano dessas famílias que poderiam parecer corriqueiras e
banais são apresentadas nesses trabalhos como uma experiência estética. Embora,

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desde 1980 já foi possível constatar trabalhos espalhados pelo mundo, como de
Thomas Ruff , Patrick Faigenbaum, Andreas Gursky, entre outros cujos trabalhos
partiam da ideia de representação do real e do cotidiano nas diversas maneiras.
Sobretudo, sob o ponto de vista da arte como meio de refletir sobre o papel da
fotografia na representação do real na contemporaneidade. Um cotidiano estetizado,
capaz de transformar o modo de ver e de experenciar o mundo através das
imagens?

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esse novo cenário que se apresenta é de um mundo estético numa era de


capitalismo artista defendido por Lipovetsky e Serroy (2015). Por ora, cabe entender
que nesse contexto, a produção e consumo da mídia doméstica se misturam e dá
lugar ao que antes não era considerado relevante. Como bem lembra Batchen
(2008, p.121) quando se referiu ao gênero fotográfico, snapshot, salientou ser
constituído de “fotografias desinteressantes”, pois segundo ele não havia
características marcantes, uma vez que eram fotografias comuns.
As fotografias que representam o cotidiano de famílias desde o final do século
XIX e XXI como têm pano de fundo, o lar, lugar ideal para mergulhar nessa
experiência do cotidiano, um ambiente marcado pelo simbolismo, cercado de uma
intimidade que antes não era compartilhada ou sequer poderia imaginar registrar.
Sem dúvida, não há um ideal estético único para representar esse cenário, uma vez
que são inúmeros os modos de existência de cada ser social. Fixar-se num modelo
estético de existência voltada apenas para o consumo se distancia da possibilidade
de ter uma vida bela. Talvez fotografias como essas que foram ilustradas nesse
artigo nos conduzam a imaginar que seja possível no modo de produzir imagens não
se limitar às normas e ofertas de mercado para dar lugar a emoção do momento e
se deixar disponível para o inesperado e o instante e, quando menos se esperar, a
fruição do belo estará diante dos olhos e das mãos. Aperte o botão!
Fotografia de família é um produto materializado de uma prática social de
“salvaguardar” talvez uma nova memória coletiva que se formou num espaço afetivo.
Van Dijck (2007) faz-nos uma relação com as memórias culturais de cada indivíduo,
chamando-as de “memórias mediadas”, pois são mediadoras entre indivíduos e
coletividade, considerando as questões de identidade e de relacionamento

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interpessoal. As fotografias produzidas no ambiente doméstico, por exemplo, irão
compor um cenário de pequenas histórias “escolhidas” para dar entendimento a
novas e maiores histórias.
A estetização do cotidiano na era contemporânea é um fato e também está no
modo de produzir mídia doméstica. Surge uma nova estratégia estética com
finalidade mercantil nos diversos setores de consumo, inclusive o de imagem
(publicidade, jornalismo, design). Uma sociedade que busca a realização de si nas
sensações imediatas, nos prazeres, estetizando a própria vida, reinventando-se. O
ideal estético é o de uma vida feita de prazeres.
Para Tamisier (2007, p.9): “a fotografia contemporânea não nos faz mais
descobrir o mundo dos outros, mas sim ela se apresenta como uma imagem de
nossa visão, como o reflexo narcísico de nossa própria apreensão do mundo.” Com
base nisso, poder-se-ia dizer que está surgindo uma nova estética que busca o
entendimento do mundo do outro por meio do cotidiano na contemporaneidade?

REFERÊNCIAS

BATCHEN, Geoffrey. Snapshots. Art history and the ethnographic turn.


Photographies. Londres, v. 1, n. 2, p. 121-142, set. 2008.
CHALFEN, R. Snapshots “r” us: the evidentiary problematic of home media. Visual
Studies, v. 17, n. 2, 2002.
CRUZ, N. V.; ARAÚJO, C. Transcendendo o cotidiano: uma análise das fotografias
de família produzidas pela Cia de Fotos no Flickr. Matrizes (USP. Impresso) , v. 7, p.
265-279, 2013.
DIJCK, Jose Van. Mediated Memories. Standford: Stanford University Press, 2007.
DPAULA, Renato. Família – Documental. Disponível em:
<http://www.renatodpaula.com.br/umdianavida/>. Acesso em 05 out. 2017.
FEATHERSTONE, M. Cultura de consumo e pós-modernismo. São Paulo: Studio
Nobel, 2007.
LIPOVETSKY. G.; SERROY, J. A estetização do mundo: viver na era do
capitalismo artista. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.
PIRES, Carolina. Carolina Pires fotografia. Disponível em:
<http://www.carolinapires.com.br/contato/ >. Acesso em: 10 out. 2017.
SONTAG, Susan. Sobre fotografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.
TAMISIER, M. Sur la photographie contemoraine. Paris: L’Harmattan, 2007.

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