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4 FICHA DE AVALIAÇÃO FORMATIVA 2


Luís de Camões, Rimas

NOME:   N.O:   TURMA:   DATA:

GRUPO I

Parte A
Leia o vilancete «De que me serve fugir», de Luís de Camões, que se apresenta de seguida.

mote seu
De que me serve fugir
de morte, dor e perigo,
se me eu levo comigo?

voltas
Tenho-me persuadido,
5 por rezão conveniente,
que não posso ser contente,
pois que pude ser nacido.
Anda sempre tão unido
o meu tormento comigo
10 que eu mesmo sou meu perigo.

E se de mi me livrasse,
nenhum gosto me seria;
que, não sendo eu, não teria
mal que esse bem me tirasse.
15 Força é logo que assi passe:
ou com desgosto comigo,
ou sem gosto e sem perigo.

Apresente, de forma clara e bem estruturada, as suas respostas aos itens que se seguem.

1 
Procure explicar de que forma o mote desta composição apresenta a temática da angústia
existencial.

2 
Indique a causa da insatisfação do sujeito poético. Comprove a sua resposta com transcrições
textuais.

3 
Caracterize o estado de espírito do eu do poema, justificando com excertos do texto.

4 
Comente a expressividade da rima entre os vocábulos «perigo/comigo», repetida ao longo
do vilancete, tendo em conta a conclusão apresentada pelo eu lírico.

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Parte B
Leia o soneto «Oh! Como se me alonga, de ano em ano», de Luís de Camões, que se apresenta de seguida.
Em caso de necessidade, consulte as notas.

Luís de Camões, Rimas


Oh! Como se me alonga, de ano em ano,
a peregrinação1 cansada minha!
Como se encurta, e como ao fim caminha
este meu breve e vão2 discurso humano3!

5 Vai-se gastando a idade e cresce o dano4;


perde-se-me um remédio, que inda tinha;
se por experiência se adivinha5,
qualquer grande esperança é grande engano.

Corro após este bem6 que não se alcança;


10 no meio do caminho me falece7,
mil vezes caio, e perco a confiança.

Quando ele foge, eu tardo; e, na tardança,


se os olhos ergo a ver se inda parece8,
da vista se me perde e da esperança.

(1) peregrinação: viagem realizada por um devoto religioso até um local considerado sagrado; percurso longo e fatigante.
(2) vão: inútil.
(3) discurso humano: percurso de vida.
(4) dano: prejuízo, humilhação, desgosto.
(5) se por experiência se adivinha: se a experiência de vida ensina a prever o que acontece.
(6) bem: felicidade.
(7) f alece: morre, desaparece.
(8) p arece: aparece

Apresente, de forma clara e bem estruturada, as suas respostas aos itens que se seguem.

1 
Este soneto constitui uma reflexão pessimista do eu lírico acerca da sua experiência de vida.
1.1 Apresente as duas definições para a vida que são referidas pelo sujeito poético na primeira quadra,
explicando o seu significado.

2 
Confirme a presença de uma antítese entre as formas verbais do verso 1 e do verso 3, tendo em
conta o tema do poema.

3 
Identifique os recursos estilísticos presentes no primeiro terceto e refira-se à sua expressividade.

GRUPO II
Leia atentamente o texto que se segue.

DEPRESSÃO
A perturbação depressiva
Qualquer um de nós conhece alguém (familiar ou amigo) que tem ou já teve depressão. Isto dá-nos
logo à partida uma ideia — ainda que subjetiva — da enorme prevalência desta doença. A depressão é
uma doença que afeta ao longo da vida cerca de 15 % a 20 % das mulheres e aproximadamente metade
dessa percentagem no caso dos homens (dados da APA1, 1994). Atinge praticamente todas as idades, desde
5 as crianças aos idosos, e tem implicações sociais marcadas, tendo-se tornado um verdadeiro problema de

saúde pública face ao elevado número de pessoas atingidas.

(1) APA: American Psychiatric Association — Associação Americana de Psiquiatria.

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A doença interfere significativamente com a forma de sentir, pensar e agir. As suas características aca-
bam por se refletir no relacionamento interpessoal, nomeadamente na estrutura familiar, provocando
muitas vezes situações de conflito e incompreensão. Existem também consequências económicas, quer
Luís de Camões, Rimas

10 individuais quer ainda para a própria sociedade, uma vez que esta patologia pode causar uma grande inca-

pacidade para o trabalho, conduzindo a um absentismo laboral habitualmente prolongado. Mas a depressão
tem as suas maiores consequências a nível individual, visto ser causadora de um grande sofrimento psíquico
que, infelizmente, em muitos casos, leva ao desespero e ao suicídio.
Atualmente, as pessoas aceitam com maior facilidade pedir ajuda ao psiquiatra, em comparação com
15 o que acontecia há alguns anos. Houve, por isso, uma diminuição do estigma associado à psiquiatria, que é
cada vez mais vista como uma especialidade médica como outra qualquer. Por outro lado, admite-se com
maior facilidade que se está deprimido ou, pelo menos, as pessoas estão mais sensibilizadas para a doença,
já que ela é abordada frequentemente pelos vários meios de comunicação social. Estes dois fatores levam
a que haja um maior número de casos diagnosticados de depressão.
20 Nos últimos anos, tem havido uma maior atenção e sensibilização para as doenças mentais por parte
dos colegas de clínica geral, detetando-se por isso mais casos que, no passado, não eram diagnosticados e
muitas vezes se escondiam por detrás de queixas físicas. As inovações terapêuticas nesta área têm sido
significativas. O aparecimento de novos antidepressivos, mais seguros e mais bem tolerados, acabou por
generalizar o seu uso entre os médicos não especialistas. O marketing dos laboratórios na promoção dos
25 seus produtos e o aparecimento frequente deste tema nos meios de comunicação social poderão ter con-

tribuído também para um aumento da utilização destes tratamentos.


Existem várias abordagens no tratamento da depressão, desde a atuação farmacológica, à psicoterapia
individual ou em grupo, e, mais recentemente, à estimulação magnética transcraniana. Independentemente
da estratégia terapêutica escolhida, é importante referir que os tratamentos para a depressão não visam
30 apenas a melhoria do humor e do estado geral, procurando ainda restabelecer o indivíduo em termos de

funcionamento social e prevenir futuras recorrências da doença.


Dr. Pedro Afonso (professor auxiliar convidado de psiquiatria na Faculdade de Medicina da UL;
professor convidado no Instituto de Ciências da Saúde da UCP)
http://medicopsiquiatra.pt/temas-clinicos/depressao/,
consultado a 14-11-2014 (com adaptações).

1 
Para responder a cada um dos itens de 1.1 a 1.5, selecione a opção correta. Escreva, na folha
de respostas, o número de cada item e a letra que identifica a opção escolhida.
1.1 O título e o subtítulo do texto ajudam o leitor a
(A) prever que o assunto desenvolvido é a depressão.
(B) sintetizar as características da depressão.
(C) confirmar que a depressão é um tipo de perturbação psíquica.
(D) obter informação acerca da perturbação depressiva.
1.2 No que diz respeito à estrutura do texto, o autor hierarquizou os tópicos da seguinte forma:
(A) caracterização do universo da doença, consequências, argumentação e conclusão.
(B) definição, efeitos, aceitação social e terapêutica proposta.
(C) definição, apresentação de fontes, aceitação social e conclusão.
(D) caracterização do universo da doença, efeitos, aceitação social e terapêutica.
1.3 A expressão «(dados da APA, 1994)», (linha 4), remete para uma nota de rodapé que tem
a função de
(A) explicitar que os dados se referem a uma recolha efetuada em 1994.
(B) adicionar informação sobre a percentagem de homens que sofre de depressão.
(C) explicitar o significado da sigla que foi apresentada no texto principal.
(D) referir que a origem dos dados é um documento da APA publicado em 1994.

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1.4 O nível de língua e o vocabulário utilizado indicam que o público-alvo do texto
(A) é obrigatoriamente especializado na perturbação em torno da qual o artigo assenta.
(B) necessita de informações precisas sobre o desenvolvimento da perturbação depressiva.

Luís de Camões, Rimas


(C) é alargado e fica a conhecer o essencial sobre o desenvolvimento da perturbação depressiva.
(D) é alargado e fica a conhecer detalhes sobre a aceitação da especialidade de psiquiatria por
médicos de clínica geral.
1.5 Na frase «Estes dois fatores levam a que haja um maior número de casos diagnosticados
de depressão» (linhas 18 e 19), o vocábulo «fatores» refere-se
(A) à consciência que os doentes têm do seu estado e à facilidade com que pedem ajuda.
(B) à aceitação da psiquiatria como especialidade médica e à facilidade com que os doentes pedem
ajuda.
(C) à aceitação da psiquiatria como especialidade médica e às campanhas dos media.
(D) à consciência que os doentes têm do seu estado e à sensibilização levada a cabo pelos meios
de comunicação social.

2 Responda aos itens apresentados.


2.1 N
 o soneto «Oh! Como se alonga, de ano em ano», o vocábulo «discurso» tem o significado
de percurso, caminho. Escreva duas frases em que este vocábulo tenha outras aceções.
2.2 Classifique as funções sintáticas presentes na seguinte expressão:
«O aparecimento de novos antidepressivos, mais seguros e mais bem tolerados, acabou por
generalizar o seu uso entre os médicos não especialistas.» (linhas 23 a 24)
2.3 Releia as frases que se seguem e classifique o tipo de orações subordinadas que contêm.
a) «uma vez que esta patologia pode causar uma grande incapacidade para o trabalho»
(linhas 10-11)
b) «que, infelizmente, em muitos casos, leva ao desespero e ao suicídio» (linha 13)
c) «que é cada vez mais vista como uma especialidade médica» (linha 16)

GRUPO III
«De facto, o que é muito fácil de documentar nas Rimas de Camões é […] o desejo e o terror da morte;
o antagonismo entre a experiência e a teoria, entre o conhecimento e o acontecimento, a impossibilidade
de conciliação dos contrários […] a agitação e o desequilíbrio psicológicos; o desassossego espiritual,
a inquietação e a desconfiança, o pessimismo existencial […]»
Daniela Barbosa Conceição, Pregnância da(s) Crise(s) na Obra de Camões [dissertação de mestrado],
Coimbra, FLUC, 2010, pp. 34 e 35.

Tendo em conta a afirmação apresentada e com base na sua experiência de leitura da lírica camoniana,
desenvolva uma apreciação crítica sobre os poemas camonianos que se centram na temática da reflexão
sobre a vida pessoal do sujeito poético. Construa um texto bem estruturado, com um mínimo de cento
e vinte e um máximo de cento e cinquenta palavras e cite, pelo menos, dois poemas.

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