Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
A Fundacao Da Norma
A Fundacao Da Norma
A Fundacao Da Norma
Chanceler:
Dom Dadeus Grings
Reitor:
Joaquim Clotet
Vice-Reitor:
Evilázio Teixeira
Conselho Editorial:
Antônio Carlos Hohlfeldt
Elaine Turk Faria
Gilberto Keller de Andrade
Helenita Rosa Franco
Jaderson Costa da Costa
Jane Rita Caetano da Silveira
Jerônimo Carlos Santos Braga
Jorge Campos da Costa
Jorge Luis Nicolas Audy (Presidente)
José Antônio Poli de Figueiredo
Jussara Maria Rosa Mendes
Lauro Kopper Filho
Maria Eunice Moreira
Maria Lúcia Tiellet Nunes
Marília Costa Morosini
Ney Laert Vilar Calazans
René Ernaini Gertz
Ricardo Timm de Souza
Ruth Maria Chittó Gauer
EDIPUCRS:
Jerônimo Carlos Santos Braga – Diretor
Jorge Campos da Costa – Editor-chefe
Ruth M. Chittó Gauer
A FUNDAÇÃO DA NORMA
para além da racionalidade histórica
Porto Alegre
2009
© EDIPUCRS, 2009
Capa: Vinícius de Almeida Xavier
Ilustração da capa: Universidade de Coimbra. Arquivo. Diploma da Fundação da
Universidade, 1290.
Diagramação: Stephanie Schmidt Skuratowski
Revisão linguística: do autor
CDD 340.1
A ajuda recebida para a escrita deste livro aconteceu de forma casual ela
chegou por meio de muitas pessoas em momentos diversos, de encontros e
debates, assim como de atividades acadêmicas desenvolvidas por conta de
disciplinas que ministrei em Programas de Pós-Graduação da PUCRS, nos quais
a contribuição dos alunos foi inestimável. Quero aqui mencionar, com ênfase, a
importância de meus colegas do Programa de Pós-Graduação em Ciências
Criminais por terem fornecido um terreno exemplar e generoso, o qual ajudou
enormemente o diálogo com o direito, a psiquiatria e a filosofia. O registro de
gratidão certamente não dimensiona a importância que esse grupo de
pesquisadores e amigos representa para minha vida acadêmica. A todos devo o
entendimento de que a ansiedade da incompletude acompanha a vontade de
compreender a complexidade do ato de escrever.
O projeto deste livro surgiu de reflexões iniciadas nos finais dos anos
oitenta, início dos noventa, durante o período em que escrevi minha tese, no
Instituto de História e Teoria das Ideias da Universidade de Coimbra, meu “lar”
acadêmico em Portugal. Tenho a satisfação particular em reconhecer a influência
crucial de ideias vindas de longas conversas e debates acadêmicos na outra
margem do Atlântico, especialmente com os Professores Doutores Fernando
Catroga e Rui Cunha Vide Martins. O mais relevante, no entanto, fruto de uma
longa convivência, foi o de terem-me proporcionado a condição para perceber que
a erudição deve receber o tempero do estilo.
SUMÁRIO
1
MERLEAU-PONTY, Maurice. De Mauss à Claude Lévi-Strauss, Os Pensadores, São Paulo, Abril
Cultural, 1975, p. 383-396.
2
MERLEAU-PONTY, op. cit., p. 363-365. A metafísica (e a metafísica nas ciências humanas)
emerge quando se põe o problema da alteridade. No entanto, ao contrário do pensamento francês
contemporâneo, que é herdeiro de uma problemática nitidamente merleaupontyana, a questão do
Outro e do Mesmo, da diferença e da identidade, levam a uma interrogação radical da
racionalidade estreita apresentada pelo saber ocidental. Para Merleau-Ponty, a antropologia,
tomando a alteridade como objeto, fornece à filosofia um instrumento para o alargamento da
razão, para a convivência dos incompatíveis, para um universal constituído por relações de
complementaridade. Sabemos que, contrariamente a essa tentativa, o pensamento francês
contemporâneo exacerbou a alteridade, rumou para as diferenças absolutas, cortes e rupturas que
dominam as práticas e teorias humanas, reagindo contra um certo hegelianismo presente em
Merleau-Ponty, e usando como arma o elogio da esquizofrenia derivada do mundo esquizofrênico.
No ensaio Em toda e em nenhuma parte, Merleau-Ponty se refere à China vista em uma fotografia
e à China vivida pelos Chineses – a primeira é exótica, pitoresca, distante, porque diferente; a
segunda é uma outra maneira de alcançar uma relação com o ser, um projeto social e político que
também nos diz respeito e por intermédio do qual nos comunicamos com o que é diferente de nós
e que, conosco, forma a unidade de uma “universalidade oblíqua”. A abertura de Les Mots e les
Choses mantém a China vista em sua distância fotográfica: a enciclopédia borgiana, rompendo o
que é familiar ao nosso pensamento, determina a impossibilidade definitiva de alcançar o outro.
3
BAUMER, Franklin L Baumer, O Pensamento Europeu Moderno, v. I, Vila Nova de Gaia, Edições
70, 1990, p. 39.
4
BAUMER, Franklin L. O Pensamento Europeu Moderno, v. I, Vila Nova de Gaia, Edições 70,
1990, p. 39; Maurice Merleau-Ponty, Elogio da Filosofia, p. 38. O pensamento ocidental tem-se
caracterizado por desvalorizar ontologicamente a imagem e psicologicamente a função da
imaginação. Em muitos momentos a imaginação é vista como responsável por erros e falsidades.
Bergson, ao abrir novas dimensões para um continuun da consciência, ensaia uma ruptura, mas
esta, segundo Gilbert Durand (As Estruturas Antropológicas do Imaginário, São Paulo, Martins
Fontes, 1997), não se estabelece, pois ele ainda reduz a imagem à memória, uma espécie de
contador da existência, que funciona mal no abandono do sonho, mas que volta a organizar-se
pela atenção perceptiva da vida. Tanto a tendência de miniaturização da imagem quanto a
recordação dela comentem o erro de “coisificar” a imagem e seu dinamismo, alienando a sua
função principal que é conhecer, mais do que ser. Durand acredita que, em Bergson, a imagem
sempre aparece como sombra do objeto, ou ainda como um objeto fantasma, sem consequências.
Sendo assim, os objetos imaginários sempre foram tomados como duvidosos, como fomentadores
do erro. A desvalorização da imagem não corresponde, de modo algum, ao papel que ela
desempenha no campo das motivações culturais. As teorias que falam sobre a imagem, para
Durand, destroem-na, pois são uma teoria da imaginação sem imagens.
5
BERGSON, Henri, Matéria e Memória, São Paulo, Martins Fontes, 1999, p. 290. No entanto, é
preciso lembrar que Bergson postulou a existência de uma misteriosa intuição e assim permitiu
transferir o espírito ao coração das coisas a fim de fundar a sua unidade. Para Arthur Miller,
Bergson convidou todo mundo a transpor o objetivismo e o tédio do reino enigmático, o ‘balanço
vital’. Eis o motivo que levou Miller a afirmar que o autor foi o filósofo dos artistas do início do
século XX. No entanto, a gênese traçada pelas obras de Bergson revela que “é a nossa própria
história que contamos a nós mesmos, um mito (grifo nosso), natural através do qual exprimimos o
nosso acordo com todas as formas de ser. Não somos a pedra mas ela entra na nossa vida, se
mexe, desenvolve seu íntimo, se revela a si própria através de nós. O que julgamos ser
coincidência é coexistência” (Intuitions de Génie: images et crétivité dans les sciences et les arts,
Paris, Flammarion, 1996, pp. 369-370).
6
MERLEAU-PONTY, Maurice. De Mauss à Claude Lévi-Strauss. In: Os Pensadores. São Paulo:
Abril Cultural, 1975. P. 368
7
MAUSS, Marcel. Sociologia e Antropologia, v. I, São Paulo, E.P.U./EDUSP, 1974.
8
MAUSS, Marcel, op. cit., p. 363-365.
9
PAZ, Otávio. Claude Lévi-Strauss ou o Novo Festim de Esopo, São Paulo, Perspectiva, 1977, p.
8.
10
MAUSS, Marcel. Sociologia e Antropologia, v. I, São Paulo, E.P.U./EDUSP, 1974.
11
SAUSSURE, Ferdinand. Curso de linguística geral, Lisboa, Dom Quixote, 1995.
12
MALINOWSKI, Bronislaw. Journal d’ethnographe, Paris, Ëditions Du Seuil, 1985.
13
RADCLIFFE-BROWN, Alfred. El método de la antropologia social, Barcelona, Anagrama, 1975.
14
PAZ, Otávio. op. cit., p. 17.
15
PAZ, Otávio, op. cit., p. 19
16
LÉVI-STRAUSS, Claude. Raça e história, Lisboa, Presença, 1952, p. 133.
17
LÉVI-STRAUSS, Claude. As Estruturas Elementares do Parentesco (1949), Petrópolis, Vozes,
1982, pp. 70-71.
18
MICELA, Rosaria. Antropologia e Psicanálise, São Paulo, Brasiliense, 1984.
19
LÉVI-STRAUSS, Claude. (Org.), La Identidad, Paris, Grasset, 1977, pp. 11-39.
20
MERLEAU-PONTY Maurice. De Mauss à Claude Lévi-Strauss, op. cit. p. 365-366.
21
MERLEAU-PONTY Maurice. De Mauss à Claude Lévi-Strauss, op cit.
22
ELIAS, Norbert. A sociedade dos indivíduos, Rio de Janeiro, Zahar, 1997, pp. 13-79.
23
TOCQUEVILLE, Aléxis de. O Antigo Regime e a Revolução, Brasília, UNB, 1979.
24
SOUZA, Jessé; OËLZE, Berthold. (Orgs.), Simmel e a Modernidade, Brasília, Editora da UNB,
1998.
25
ELIAS, Norbert, op. cit.
26
DUMONT, Louis. O Individualismo: uma perspectiva antropológica da ideologia moderna, Rio de
Janeiro, Rocco, 1985.
27
FOUCAULT, Michel. A Verdade e as Formas Jurídicas, Rio de Janeiro, Ed. Nau, 1999.
28
FOUCAULT, Michel, op. cit., p. 27; 142.
29
LEVI-STRAUSS, Claude, Antropologia estrutural dois, Rio de Janeiro, Tempo Brasileiro, 1976,
p. 14.
30
LEVI-STRAUSS, Claude, op. cit., pp. 14-15.
31
LEVI-STRAUSS, Claude, op. cit., pp. 14-15.
32
LEVI-STRAUSS, Claude, op. cit., pp. 14-15.
33
LEVI-STRAUSS, Claude, op. cit., pp. 16-17.
34
LEVI-STRAUSS Claude, op. cit., pp. 17, 18, 19.
35
LEVI-STRAUSS Claude, op. cit., p. 22.
36
GEERTZ, Clifford, Entrevista de Victor Aiello Tsu com Clifford Geertz originalmente publicada na
Folha de São Paulo de 18 de fevereiro de 2001.
37
GEERTZ Clifford, Nova Luz sobre a Antropologia, São Paulo, Jorge Zahar, 2001.
38
GEERTZ Clifford, Entrevista de Victor Aiello Tsu com Clifford Geertz originalmente publicada na
Folha de São Paulo de 18 de fevereiro de 2001.
39
KELSEN Hans, In: SHIRLEY, Robert W. Antropologia jurídica, São Paulo, Saraiva, 1987, p. 10.
40
SHIRLEY, Robert W. Antropologia jurídica, São Paulo, Saraiva, 1987, p. 10
41
VATTIMO, Gianni, op. cit., p. 71-92.
42
GAUER, Ruth M. Chittó. O reino da estupidez e o reino da razão.Rio de Janeiro: Lúmen & Júris,
2006.
43
GASSET, José Ortega y, Meditações do Quixote, São Paulo, Livro Ibero-Americano, 1977, p.
162. Ver ainda La rebelión de las massas (1930), Obras, v. VI, Madrid, Alianza Editorial, 1946.
44
GASSET, Ortega y, op. cit.
45
SOUZA, Jessé; OËLZE, Berthold. (Orgs.), Simmel e a Modernidade, Brasília, Editora da UNB,
1998, p. 10.
46
MAUSS, Marcel, Sociologia e Antropologia, v. I, São Paulo, EPU/EDUSP, 1974, p. 234.
47
MAUSS, Marcel, Sociologia e Antropologia, v. I, op cit. p. 234.
48
MAUSS, Marcel, Sociologia e Antropologia, v. II, São Paulo, EPU/EDUSP, 1974, p. 131-132.
49
MAUSS, Marcel, op. cit.
50
BENVENISTE, Èmile, Le vocabulaire dês instituitions indo-européennes, v. I, Paris, Éd. Minuit,
1969, pp. 207-212.
51
MAUSS, Marcel, op. cit., pp. 135-136.
52
MAUSS, Marcel, op. cit., pp. 135-136.
53
MAUSS, Marcel, op. cit., pp. 133-138.
54
MAUSS, MarceL, op. cit., p. 139.
55
MAUSS, Marcel, op. cit., p. 140.
56
DUMONT, Louis, O individualismo. Uma perspectiva antropológica da ideologia moderna, Rio de
Janeiro, Rocco, 1985, pp. 12-16.
57
DESCARTES, René, Discurso do método, Lisboa, Edições 70, 1993, pp. 117-118.
58
DESCARTES, René, op. cit., pp. 80-85.
59
MAUSS, Marcel, Sociedad y ciências sociales. Obras III. Barcelona: Barral Editores, 1970, p.
320, 321.
60
GEERTZ, Clifford, A interpretação das culturas, Rio de Janeiro, Zahar Editores, 1978, p. 15.
61
LEIBNIZ, Gottfried W. Os Pensadores XIX, São Paulo, Abril Cultural, 1974, pp. 63-73.
62
DESCARTES, René, Os Pensadores XV, São Paulo, Abril Cultural, 1973, pp. 81-153.
63
LOCKE, John, Os Pensadores XVII, São Paulo, Abril Cultural, 1973, pp. 139-348.
64
Sobre a abordagem da Filosofia em Hobbes, Kant e Fichte consultar Louis Dumont, O
Individualismo: Uma perspectiva antropológica da ideologia moderna, Rio de Janeiro, Rocco,
1985.
65
GUSDORF, George, Les Sciences Humaines et la Pensée Occidentale. Les principes de La
Pensée ao Siècle des Lumières, v. IV, Paris, Payot, 1967, p. 183.
66
GOFFMAN, Erving, Estigma, Rio de Janeiro, Zahar, 1982. Além dessa obra todos os títulos
publicados pelo autor são importantes para o entendimento dos diferentes papéis sociais do
indivíduo moderno em uma perspectiva interacionista.
67
DUMONT, Louis, O individualismo, Rio de Janeiro, Rocco, 1985, pp. 269- 270.
68
BACHELARD, Gaston, Os Pensadores, São Paulo, Abril Cultural, 1973, pp. 756-758.
69
BACHELARD, Gaston, op. cit., p. 757.
70
BACHELARD, Gaston, Os Pensadores, op. cit. pp. 756-758.
71
Segundo DURAND: “Os bastiões de resistência dos valores do imaginário no seio do reino
triunfante do cientificismo racionalista foram o Romantismo, o Simbolismo e o Surrealismo. E foi
no cerne desses movimentos que uma reavaliação positiva do sonho, do onírico, até mesmo da
alucinação – e dos alucinógenos – estabeleceu-se progressivamente, cujo resultado, segundo o
belo título de Henri Ellenberger, foi a ‘descoberta do inconsciente’”. Gilbert Durand, Ensaio acerca
das ciências e da filosofia da imagem, Rio de Janeiro, Difel, 2001, p. 35.
72
Gilbert Durand, op. cit.
73
Sigmund FREUD, A Interpretação dos Sonhos, São Paulo, Imago, 2000.
74
LÉVI-STRAUSS, Claude, O Pensamento Selvagem, 3ª ed., São Paulo, Papirus, 2002.
75
CAILLOIS, Roger, O Mito e o Homem, Lisboa, Edições 70, 1986.
76
BASTIDE, Roger, Sociologia e Psicanálise, São Paulo, Companhia Editora Nacional, 1974.
77
DURAND, Gilbert, op. cit., p. 36.
78
DEVEREUX, Georges, Etnopsicoanálisis Complementarista, Buenos Aires, Amorrortu Editores,
1975.
79
LÉVI-STRAUSS, Claude, Antropologia Estrutural, Rio de Janeiro, Tempo Brasileiro, 1970, p.
224.
80
VICO, Giambattista, Os Pensadores, seleção, trad. e notas de Antonio Lázaro de Almeida
Prado, São Paulo, Abril Cultural, 1974.
81
VICO, Giambattista.. op cit.
82
DESCARTES, René, Discurso do Método, Brasília, Editora Universidade de Brasília, 1981, p.
36.
83
Ibid., p. 38.
84
COLLIGGWOOD, R. G. A Ideia de História, Lisboa, Editorial Presença, s/d, p. 88.
85
VICO, Giambattista, Os Pensadores, seleção, trad. e notas de Antonio Lázaro de Almeida
Prado, São Paulo, Abril Cultural, 1974.
86
Agradeço a contribuição do Professor Doutor Luiz Ricardo Michaelsen Centurião com quem
escrevi o capítulo ora apresentado o qual originalmente foi publicado na forma de artigo.
87
SAHLINS, Marshall, Cultura e Razão Prática, Rio de Janeiro, Zahar, 1979.
88
Sobre Razão Prática e Razão Simbólica, consultar: Marshall Sahlins, op. cit., e Clifford Geertz,
El antropólogo como autor, Barcelona, Paidos, 1989.
89
GEERTZ, Clifford, El Antropólogo Como Autor, Barcelona, Paidos, 1989. Ainda do mesmo autor,
ver A Interpretação das Cultura, Rio de Janeiro, Zahar, 1978.
90
A obra de Lévi-Strauss é fundamental para a compreensão de inúmeros trabalhos de
antropólogos brasileiros. Seu trabalho mais importante sobre o Brasil é Tristes Trópicos, Lisboa,
Edições 70 Ltda., 1986. Sobre a questão das raças, citamos o livro Raça e História, publicado pela
UNESCO em 1952.
91
ERIBOM, Didier e LÉVI-STRAUSS, Claude, De Perto e de Longe, Rio de Janeiro, Nova
Fronteira, 1990, pp. 31-33.
92
ODA, Ana Maria Galdini Raimundo, “A teoria da degenerescência na fundação da psiquiatria
brasileira: contraposição entre Raimundo Nina Rodrigues e Juliano Moreira”, Psychiatry On Line
Brazil, v. 6, n. 12, dez. 2001. Disponível em: http://www.polbr.med.br/arquivo/wal1201.htm. Acesso
em: 03 jan. 2002.
93
ODA, Ana Maria Raimundo, op.. cit.
94
WEGROCKI, Henry, “Crítica dos Conceitos Culturais e Estatísticos de Anormalidade”,
Kluckhohn e Murray, Personalidade na Natureza, na Sociedade e na Cultura, Belo Horizonte,
Itatiaia, 1965, p. 425. Como coloca Wegrocki: “Alguns tipos de personalidade deixam de encontrar
realização numa cultura, embora haja alguma razão para supor que poderiam ter florescido noutra.
Algumas culturas dão margem a uma variedade de ajustamentos pessoais; noutras, o indivíduo
que não se conforma ao modelo único é castigado de forma tão cruel que se torna neurótico ou,
talvez, no caso de ter predisposição constitucional, psicótico. O comportamento tido como anormal
numa cultura é socialmente aceitável noutra. Não faz muitos anos, os padrões de normalidade
pareciam prestes a desaparecer, em face de um total relativismo. Hoje, porém, concorda-se que
certos tipos de reação mental podem ser considerados anormais em qualquer sociedade”, op. cit.,
p. 423.
95
De modo semelhante, pode-se afirmar que o sistema de classificação elaborado no DSM – IV
corresponde a uma categorização etnocêntrica que não deixa de ser, ao nível do arbitrário, uma
representação que o homem ocidental faz de si mesmo. Não haveria uma “exterioridade” que
garantisse o caráter científico de tal classificação. Esta seria apenas fruto do arbitrário cultural,
oriundo de certas necessidades básicas do homem ocidental, e sua eficácia seria do tipo “eficácia
simbólica”.
96
“Neste sentido, a cura xamanística se situa a meio caminho entre nossa medicina orgânica e
terapêuticas psicológicas como a psicanálise. Sua originalidade provém de que ela aplica a uma
perturbação orgânica um método bem próximo dessas últimas. (...) os conflitos e as resistências
se dissolvem não por causa do conhecimento, real ou suposto, que a doente adquire deles
progressivamente, mas porque este conhecimento torna possível uma experiência específica, no
curso da qual os conflitos se realizam numa ordem e num plano que permitem seu livre
desenvolvimento e conduzem ao seu desenlace. Esta experiência vivida recebe na psicanálise o
nome de abreação”.LÉVI-STRAUSS, Claude, Antropologia Estrutural, Rio de Janeiro, Tempo
Brasileiro, 1970, pp. 204-224.
97
Como coloca DEVEREUX, “(...) los primitivos disponen de dos importantes herramientas de la
investigación psiquiátricas: un inconsciente capaz de comunicarse con empatía con los neuróticos
y psicóticos, y facultades lógicas capazes de organizar en un sistema teórico las intuiciones
obtenidas de ese modo. Por esta razón jamás podemos saber con certeza si los datos de los
‘psiquiatras’ primitivos representan intuiciones científicas auténticas o si son simples fantasías,
derivadas de un modelo de pensamiento cultural. Empero, es preferible apartar el problema de la
validez intrínseca de los materiales psiquiátricos primitivos y tratar de demostrar únicamente que
están organizados en un conjunto teórico coerente, estructurado conforme a modelos culturales
del pensamiento.” Georges Devereux, Etnopsicoanálisis Complementarista, Buenos Aires,
Amorrortu, 1975, p. 255.
98
Observe-se que a noção de terror místico, indistintamente aplicada, no século passado, às
populações primitivas, ocorreu justamente no período em que o discurso oficial do Ocidente sobre
si mesmo estava passando por um forte processo de laicização. Parece que, a partir disso, as
culturas não ocidentais foram alvo de uma maciça projeção, que tem na atribuição a elas do terror
místico uma de suas características.
99
Assim, por exemplo, o processo de desintegração psicossocial que pode acompanhar certos
fenômenos migratórios, pode levar os migrantes a conceberem sua cultura tradicional, agora
ameaçada, como objeto transacional.
100
DEVEREUX, Georges, op. cit., pp. 76-77.
101
Uma interpretação diferente é dada por Devereux: “ 1) El comportamiento del indivíduo,
considerado como tal y no en función de su pertenencia a la sociedad humana, solo es
comprensible dentro de un marco de referencia específicamente psicológico y en los términos de
leyes psicológicas (...) 2) El comportamiento de un grupo, considerado como grupo y no
principalmente como agregado de indivíduos discretos, solo es comprensible en los términos de
un marco de referencia especificamente sociologista y de leyes culturales (...) Entre estos dos
extremos se sitúa una serie de fenômenos “fronterizos” o transicionales cuyo “lugar geométrico”
habitual es el pequeño grupo”. Georges Devereux, ob. cit., p. 115.
Mary Douglas é uma destas autoras que, quando com elas nos deparamos
na estante de livros, ficamos tentados a reler. Há alguns dias, isso ocorreu.
Deparei-me com Pureza e Perigo, 102 livro com o qual trabalhei na década de 70.
Relendo algumas passagens do livro, que destaquei há tanto tempo, verifiquei o
enfoque dado pela autora sobre as questões da pureza, do perigo, da impureza,
da sujeira. A ênfase no exame destas questões está vinculada à outra
problemática, não menos importante, que a autora trabalha, qual seja: a questão
da ordem. Pensei como a ordem fundamenta todo um padrão de comportamento,
que nem sempre costumamos relacionar à impureza e ao perigo. No entanto,
nada mais apropriado do que pensar na ordem para compreender a desordem,
assim como todo o tipo de discriminação. A sujeira é um fato que nos repugna,
temos horror a certos tipos de sujeira, passamos pensando o quanto é importante
a limpeza, a pureza e a ausência de qualquer perigo. Tudo o que nos cerca deve
estar imune à contaminação e à impureza, mesmo as mais microscópicas. A
ordem está colada à organização: todas as coisas em seus lugares e todos os
lugares com suas coisas igualmente ordenadas e purificadas.
A obsessão pela limpeza é configurada pela disciplina. Nada mais
importante para essa obsessão do que a busca desesperada pelo modelo que
retrate limpeza, normalmente associada ao belo. A beleza está vinculada à
aparência de limpeza do corpo, que deve estar livre de impurezas, isto é, com
ausência de resíduo, mesmo os mais microscópicos, como se isso fosse possível.
A estética, nomeadamente no século XX, colou-se de tal modo à limpeza que a
transformou em uma obsessão. Desde a era vitoriana podemos observar esse
comportamento obsessivo, principalmente por meio das tarefas femininas.
Embora as casas e mesmo as ruas das cidades exalassem odores não muito
agradáveis, as mulheres tinham uma jornada diária de trabalho que hoje não
podemos sequer imaginar, ligada às tarefas da casa. O tempo de limpar, lavar,
passar, desinfetar, etc., ocupava mais de doze horas diárias de trabalho pesado e
estafante. Esse fato não iniciou no século XIX. Muito antes as questões de
102
DOUGLAS, Mary, Pureza e Perigo, São Paulo, Perspectiva, 1976, p. 56.
103
DOUGLAS, Mary, op. cit., p. 18
104
DUMONT, Louis, O individualismo. Uma perspectiva antropológica da ideologia moderna, Rio
de Janeiro, Rocco, 1985, pp. 270-274.
105
SÁ, Alexandre Franco de, Metamorfoses do poder, Coimbra, Ariadne Editora, 2004, pp. 34, 51-
52. (Coleção Sophia 002)
106
KELSEN, Hans, Teoria Pura do Direito, Trad. João Baptista Machado, 4 ed., Coimbra, Armênio
Amado, 1979.
107
SCHMIT, apud Alexandre Franco de Sá, op. cit.
108
BHABHA, Homi K., O Local da Cultura, Belo Horizonte, Editora UFMG, 2001, pp. 20-46.
109
BHABHA Homi K. op. cit.
110
BHABHA, Homi, op cit., pp. 25-26.
111
BHABHA, Homi, op cit., pp. 29, 59.
112
BHABHA, Homi, op. cit., pp. 65-68.
113
Para uma análise da complexidade do processo de enunciação, bem como da relação entre
emissor, mensagem e receptor, e suas interconexões com a teoria hermenêutica, sugere-se o
capítulo “Hermenêutica e Ciências Humanas”, no qual Luiz Eduardo Soares afirma que a
linguagem “antecede o sujeito, instaura com este uma dialética, na qual representa o universal,
aquilo que, oferecendo-se ao sujeito, o precede e sucede, o inclui — tornando-o possível — e o
exclui, prescindindo de sua intervenção para configurar-se em sua essencialidade universal, mas
que, simultânea e paradoxalmente, depende dele para existir, assumindo concretude nas
particularizações que ele realiza”. Luiz Eduardo Soares, O rigor da indisciplina, Rio de Janeiro,
Relume-Dumará, 1994, p. 45.
114
Ver BENJAMIN, Walter, “Sobre o conceito de história”, Walter Benjamin, Magia e técnica, arte e
política: ensaios de literatura e história da cultura, São Paulo, Editora Brasiliense, 1987.
115
FANON, apu BHABHA, Homi, op. cit., pp. 72-75.
116
BHABHA, Homi, op. cit., pp. 76-78.
117
Ver DESCARTES,René, Os Pensadores, São Paulo, Abril Cultural, 1973.
118
Ver LÉVI-STRAUSS, Claude, Antropologia Estrutural I, Rio de Janeiro, Tempo Brasileiro, 1970.
119
DURKHEIN, E, Reglas del metodo sociologico, Madrid, Morata, 1974.
120
BAUMER, Franklin, op. cit., p. 164.
121
BAUMER, Franklin, obp cit., p. 164.
Todo discurso é marcado por uma dada concepção do tempo que se insere
na lógica da narrativa. As regras de uma sociedade são construídas como bases
sociais estruturadas nas tradições narradas, que são transmitidas de geração
para geração. As sanções são aplicadas sempre que houver a transgressão de
qualquer norma, o limite é colocado como padrão social que visa impedir a quebra
de certas regras previamente definidas. A fixidez implica fugir da conjugação – a
norma diz. Se a norma regulamenta a sociedade ao evocar o limite previamente
construído, o ato social está inscrito em uma dinâmica diferenciada das premissas
regulatórias construídas pelas tradições. Nas sociedades simples o cumprimento
de regras sociais se faz de forma tradicional, o conhecimento de todas as normas
pela comunidade deve ser obrigatório, uma vez que não há o instrumento da
escrita, cabe aos antecessores transmitir esse conhecimento por meio da
narrativa. Um bom exemplo de manutenção do uso do direito consuetudinário na
estrutura de dominação é o que foi utilizado pelos britânicos nos domínios da
África e da Ásia. A natureza das instituições legais britânicas, o direito inglês, a
commom law, sempre foi fundamentada teoricamente com base nos
regulamentos locais da comunidade. O costume local podia prevalecer se não
contradissesse o Parlamento. Esse caso é exemplar para verificar a permanência
da tradição em relação a uma dominação eficaz. Essa constatação serve para
compreendermos que a administração da justiça local nas regiões coloniais foi
exercida pelos líderes políticos ou religiosos nativos que detinham o poder em
paralelo ao do dominador na medida em que se constituíam nos responsáveis
pelos processos locais, desde que os interesses britânicos não corressem perigo.
Ocorreram algumas exceções, por exemplo: na África o costume de pagamento
pelo noivo à família da noiva e, na Ásia, a cremação da viúva na pira do esposo
morto. No caso inglês podemos perceber a manutenção da tradição ao lado da
legislação do país que dominava. No caso o direito consuetudinário serviu
também para manter o domínio.
O exemplo francês permite demonstrar que a política de dominação foi
totalmente contrária à utilizada pelos britânicos. Os colonos eram considerados
franceses, o que os subordinava ao direito francês. Esse fato é verificável após o
122
RADCLIFFE-BROWN, A. R. e FORDE, Daryll. Os sistemas políticos africanos de parentesco e
casamento. Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 2ª edição, 1982. p. 262, 264.
123
VICO, Giambattista, Os Pensadores, seleção, trad. e notas de Antonio Lázaro de Almeida
Prado, São Paulo, Abril Cultural, 1974.
124
SARTRE, Jean-Paul, O ser e o nada, Petrópolis, Vozes, 1997. Cf. especialmente o terceiro
capítulo, Da fenomenologia das três dimensões temporais.
125
MILLER, Arthur I, Intuitions de Génie: images et crétivité dans les sciences et les arts, Paris,
Flammarion, 1996, pp. 369-370.
126
BECK, Ulrich, A Sociedade de Risco, Barcelona, Paidós, 1998.
127
MAFFESOLI, Michel, O Tempo das Tribos, Rio de Janeiro, Forense Universitária, 1987.
MAFFESOLI, Michel, O Conhecimento Comum, São Paulo, Brasiliense, 1988, p. 19. Na obra o
autor justifica sua apreensão em “dar provas de uma preocupação metafórica que evite a
petrificarão do objeto analisado”. Richard Sennett, A corrosão do caráter, Rio de Janeiro, Record,
1999, pp. 53-54.
128
KERKHOVE, Derrick, A Pele da Cultura, Lisboa, Relógio D’Água, 1997, pp. 175-194, 218.
129
VIRILIO, Paul, A Inércia Polar, Lisboa, Publicações Dom Quixote, 1993, p. 128.
130
MAFFESOLI, Michel, op. cit. p. 27.
131
MAFFESOLI, Michel, op. cit., p. 28.
132
MAFFESOLI, Michel, op. cit., p. 28.
133
MAFFESOLI, Michel, op. cit., p. 30.
134
MAFFESOLI, Michel, op. cit., p. 39.
135
HORKHEIMER, apud Michel Maffesoli, op. cit., p. 41.
136
MAFFESOLI, Michel, op. cit., p. 41.
137
MAFFESOLI, emprega o termo em diferentes momentos da obra, sendo que a sua utilização,
embora relacionada ao conceito freudiano, ganha aqui um caráter mais específico, uma vez que
diz respeito ao fato social em si, quando este se coloca como uma contraposição a todo e
qualquer empreendimento unificador.
138
MAFFESOLI, Michel, op. cit., p. 51.
139
MAFFESOLI, Michel, op. cit., pp. 64, 95, 124.
140
MAFFESOLI, Michel, op. cit., pp. 156, 159, 193, 243, 281.
141
MAFFESOLI Michel, op. cit., pp. 281, 282.
142
SOUZA, Jessé; OËLZE, Berthold. (Orgs.). Simmel e a modernidade. Brasília: UnB, 1998, pp.
10, 12, 33, 38, 39.
143
STENGERS, Isabelle, As políticas da razão, Lisboa, Edições 70, 1993, p. 11.
144
POLANYI, Michael, A lógica da liberdade, Rio de Janeiro, Topbooks Editora, 2003, pp. 101,
102. Após uma visita à Rússia, Polanyi escreveu em 1958 importantes contribuições à
epistemologia com seus conceitos de “dimensão tácita” e “inversão moral”.
145
BERGSON, Henri, Matéria e Memória, 2. ed., São Paulo, Martins Fontes, 1999, pp. 83, 88.
146
BERGSON Henri, op. cit., pp. 89, 90, 91, 92.
147
CARVALHO, Salo, “Criminologia e interdisciplinaridade”, Ruth M. Chittó Gauer (Org.), Sistema
penal e violência, Rio de Janeiro, Lumen Juris, 2007.
148
WEBER, Max, O político e o cientista, Lisboa, Presença, 1979, 3ª ed., pp. 10, 11.
149
WEBER, Max, op. cit. p. 12.
150
PAZ, Otávio, op. cit., p. 23.
151
Ver KARDINER, Abraham, Fronteras Psicológicas de la Sociedad, México, Fondo de Cultura
Económica, 1955 e El Individuó y su Sociedad, México, Fondo de Cultura Económica, 1945.
152
“El concepto de tipos de personalidad básica... es en sí mismo una configuración que
comprende varios elementos diferentes y se basa en los siguientes postulados: 1) Que las
experiencias tempranas del individuó ejercen un efecto duradero sobre su personalidad,
especialmente sobre el desarrollo de sus sistemas proyectivos. 2) Que experiencias similares
tienden a producir configuraciones similares en la personalidad de los individuos que se sujetan a
ellas. 3) Que las técnicas que los miembros de una sociedad cualquiera emplean en el cuidado y
en la crianza de los niños, son modeladas culturalmente y tienden a ser semejantes, aunque
nunca idénticas, para las diversas familias que forman dicha sociedad. 4) Que las técnicas
modeladas culturalmente para el cuidado y la crianza de los niños, difieren de una sociedad a
otra.” Acrescenta-se a seguinte definição: “El tipo de personalidad básica para cualquier sociedad
es la configuración de personalidad compartida por la mayoría de sus miembros como resultado
de las primeras experiencias que tuvieron en común. Esto no corresponde a la personalidad total
del individuó, sino más bien a los sistemas proyectivos; en otras palabras, al sistema de valores y
actitudes que son básicos para la configuración de la personalidad del individuó. Así, el mismo tipo
de personalidad básica puede reflejarse en diferentes formas de conducta y puede participar en
muchas configuraciones diferentes de personalidad total”. Abraham Kardiner, Fronteras
Psicológicas de La Sociedad, ob. cit., pp. 8-9.
153
Cabe aqui uma citação mais extensa: “...desde un comienzo los antropólogos estadounidenses
han sido influídos casi exclusivamente por la psiquiatría psicoanalítica... Del estudio de la
bibliografía antropológica, surge la abrumadora impresión de que los antropólogos de este país
sólo leen con dedicación a los autores psicoanalíticos... Aunque algunos antropólogos
estadounidenses han demostrado cierto interés por los problemas de la percepción y por los tests
de inteligencia, la psicología académica ha ejercido una influencia mínima sobre la antropología...
debe decirse que la antropología estadounidense, para bien o para mal, parece haber hallado sólo
en el psicoanálisis las bases de una psicología social susceptible de desarrollo... Los llamados
“neofreudianos” (Horney, Kardiner, Fromm y otros) han ejercido, como se sabe, durante los
últimos años, gran influencia sobre los círculos antropológicos”. C. Kluckhohn, citado por Henry W.
Brosin, “Examen de la Influencia del Psicoanálisis Sobre el Pensamiento Actual”, Franz Alexander
e Helen Ross, Psiquiatría Dinámica, Buenos Aires, Editorial Paidós, 1958, p. 469.
154
A noção de modelo estrutural-objetal será tomada, neste texto, em uma acepção ampla. Assim,
esse modelo designará de maneira ampla a tendência psíquica para a formação de relações
interpessoais. Desse modo, não serão discutidas as posições de psicanalistas tão diferenciados
entre si, mas que de qualquer maneira têm um ponto em comum em sua oposição a aspectos do
modelo estrutural-pulsional freudiano, como Fairbairn e H. Sullivan, por exemplo.
155
O conceito de instituição foi definido por Kardiner, em uma primeira versão, da seguinte
maneira: “un modo fijo de pensamiento o de conducta que puede comunicarse, que goza de
aceptación común y cuya violación o desviación crea ciertas perturbaciones en el individúo o en el
grupo”. Abraham Kardiner, ob. cit., p. 47.
156
No estudo das culturas marquesa, tanala, comanche, pomo, alor, navajos, tapirapés, ojibwas e
outras, Kardiner enfatizou diversos aspectos: cuidados maternos, indução à afetividade,
disciplinamento precoce da sexualidade, rivalidade entre irmãos, indução ao trabalho, puberdade,
matrimônio, participação na vida social, fatores de integração social, sistemas projetivos e outros.
157
Citado em HARRIS, Marvin, El Desarrollo de la Teoría Antropológica. Una historia de las
teorías de la cultura, Madrid, Siglo Veintiuno, 1985, p. 378.
158
GREENBERG, e MITCHELL, Relações Objetais na Teoria Psicanalítica, Porto Alegre, Artes
Médicas, 1994, p. XII.
159
O sistema “em corda”, examinado por Margareth Mead, na Nova Guiné, mostra uma adaptação
patológica da comunidade tribal, por meio da qual se mantém como elemento dinâmico da
estrutura familiar um sistema de relações baseado no antagonismo sexual, de gerações e de
linhagens. Para esse assunto, ver Margareth Mead, Sexo e Temperamento, São Paulo, Editora
Perspectiva, 1969. Em Alor, foi examinado um tipo de cultura no qual se encontram fortes
distorções psíquicas constituindo a personalidade básica de seus membros. Assim, puderam ser
verificadas, como características típicas, as consequências da precoce rejeição materna que
resultam, posteriormente, na personalidade do indivíduo adulto, em um tipo modal que apresenta
vários sintomas reveladores de um bloqueio e não integração das etapas evolutivas. Para isso, ver
Cora Dubois In. Abraham Kardiner, Fronteras Psicológicas de la Sociedad, ob. cit., pp. 129-296.
160
ELIADE, Mircea, Tratado de História das Religiões, Lisboa, Cosmos, 1970, p. 48.
161
DURAND, Gilbert, As Estruturas Simbólicas do Imaginário, São Paulo, Martins Fontes, 1997.
162
LEVINAS, Emmanuel, Entre Nós. Ensaios Sobre a Alteridade, Petrópolis, Vozes, 1997.
163
Ver Marshall B. Clinard, Anomia y Conducta Desviada, Buenos Aires, Paidós, 1967.
164
GOFFMAN, Erving, Manicômios, Prisões e Conventos, São Paulo, Editora Perspectiva, 1974.
165
ERIKSON, Erik H, Identidad, Juventud y Crisis, Buenos Aires, Paidós, 1968, p. 38.
166
LÉVI-STRAUSS, Claude, op. cit., p. 46.
167
LÉVI-STRAUSS, Claude, op. cit., pp. 46-47.
168
LÉVI-STRAUSS, Claude, op. cit., pp. 48-49.
169
POUILLON, Jean, In. Claude Lévi-Strauss, Raça e história, Lisboa, Presença, 1952, pp. 123-
127.
170
Apud BAUMER, Franklin L, O pensamento europeu moderno, v. II, Lisboa, Edições 70, 1990.
171
Apud BAUMER, Franklin L. O pensamento europeu moderno, v. II, Lisboa, Edições 70, 1990.
172
BERGSON, Henri , “O cérebro e o pensamento: uma ilusão filosófica”, Trad. Franklin Leopoldo
Silva, Os Pensadores – Cartas, Conferências e Outros Escritos, São Paulo, Abril Cultural, 1974,
pp. 49- 58.
173
BERGSON, Henri, op. cit.
174
BERGSON, Henri, op. cit 58-59.
175
MERLEAU-PONTY, O olho e o espírito, Lisboa, Grafilarte, 1997, p. 25.
176
FERRY Luc, Homo Aestheticus. A Invenção do gosto na era democrática, Coimbra, Almeida,
2003, p. 286.
177
DAMÁSIO, Antônio R, O Erro de Descartes, Lisboa, Publicações Europa-América, 2000.
178
WEBER, Max, O Político e o Cientista, Lisboa, Presença Ltda., 1979.
179
KELSEN, Hans, Teoria Pura do Direito, Trad. João Baptista Machado, 4. ed., Coimbra, Armênio
Amado, 1979.
180
SÁ Alexandre Franco de, Metamorfoses do poder, Coimbra, Ariadne Editora, 2004, pp. 30-31.
(Coleção Sophia 002).
181
MAFFESIOLI, Michel, No fundo das aparências, Petrópolis, Vozes, 1996, pp. 121-122.
182
GIL, Fernando e MARTINS, Rui Cunha, Modos da Verdade, In. Revista de História das Ideias.
Instituto de História e Teoria das Ideias da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, v.
23, p. 19-20, 2002.
183
GIL, Fernando e MARTINS, Rui Cunha, Modos da Verdade, In. Revista de História das Ideias.
Instituto de História e Teoria das Ideias da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, v.
23, p. 26, 2002.
184
HALL, Stuart, A identidade cultural na pós-modernidade, Rio de Janeiro, DP&A, 1997.
185
OST, François, O tempo do direito, Lisboa, Piaget, 1999.
186
KERCKHOVE, Derrick de, A Pele da Cultura (Uma investigação sobre a nova realidade
eletrônica), Lisboa, Relógio D'Água Editores, 1997.
187
KERCKHOVE, Derrick de, op. cit.
188
MAFFESOLI, Michel, O Tempo das Tribos, Rio de Janeiro, Forense Universitária, 1987. Ver
ainda O Conhecimento Comum, São Paulo, Brasiliense, 1988.
189
Apud BAUMER, Franklin L, O pensamento europeu moderno, v. I, Lisboa, Edições 70, 1990.
190
COLLINGWOOD, R. G. A Ideia de História, Lisboa, Editorial Presença, s/d, p. 88.
191
KERCKHOVE, Derrick de, op. cit., pp. 24-26.
192
KUHN, Thomas,. A estrutura das revoluções científica, São Paulo, Perspectiva, 1982, p. 5, 30,
31.
193
KUHN, Thomas, op. cit, p. 13.
194
KUHN, Thomas, op. cit, p. 53.
195
KUHN, Thomas, op. cit, p. 23.
196
POLANYI, Michael, A lógica da liberdade, Rio de Janeiro, Topbooks Editora, 2003, p. 242.
197
POLANYI, Michael, op. cit., p. 291.
198
BOBBIO, Norberto. Direito e estado no pensamento de Kant. Brasília, Editora da Universidade
de Brasília, 1984.
199
BOBBIO, Norberto, op. cit, p. 71, 72.
200
VICO, Giambattista. Os Pensadores, Seleção, trad. e notas de Antônio Lázaro de Almeida
Prado, São Paulo, Abril Cultural, 1974.
201
BERGSON, Henri, Matéria e Memória, São Paulo, Martins Fontes, 1999, p. 290.
202
LÉVI- STRAUSS, Claude. O pensamento Selvagem. Campinas: Papirus, 1989.
203
DURAND, Gilbert, As Estruturas Antropológicas do Imaginário, São Paulo, Martins Fontes,
1997.
204
LIPOVETSKY, Gilles, “Prefácio e Introdução. A era do após-dever”, Edgar Morin e Ilya
Prigogine (Orgs.), A sociedade em busca de valores – Para fugir à alternativa entre o cepticismo e
o dogmatismo, Lisboa, Piaget, 2001.
205
MAFFESOLI, Michel, O Tempo das Tribos. O declínio do Individualismo nas sociedades de
Massa, Rio de Janeiro, Forense-Universitária, 1987.
206
MAFFESOLI, Michel op. cit., pp. 15-28.
207
LYOTARD, Jean-François, O Inumano, Lisboa, Estampa, 1998, pp. 69-70.
208
VIRILIO, Paul, A inércia polar, Lisboa, Publicações Dom Quixote, 1993, pp. 124-125.
209
LÉVI-STRAUSS, Claude, (Org.), La Identidad, Paris, Grasset, 1977, pp. 11-39.
210
LÉVINAS, Emmanuel, Entre Nós. Ensaios sobre a alteridade, Rio de Janeiro, Vozes, 1997, p.
36.
211
DAMÁSIO, António, O Erro de Descartes: Emoção, Razão e Cérebro Humano, Lisboa,
Publicações Europa-América, 1995.
212
MAUSS, Marce, Sociologia e Antropologia, v. II, São Paulo, EPU/EDUSP, 1974, pp. 39-49.
213
SOUZA, Jessé; OËLZE, Berthold. (Orgs.), Simmel e a Modernidade, Brasília, Editora da UNB,
1998, pp. 25-30.
214
LIPOVETSKY, Gilles, op. cit., pp. 22-30, 32.
215
LIPOVETSKY, Gilles, op. cit., pp. 34-37. Para o autor, o ideal altruísta teve uma espécie de
renascimento, pois, apesar de estar fora de moda, isso não impede que um em cada dois
franceses contribua “com dinheiro para um acontecimento lançado por uma operação mediática
excepcional. Dois franceses em cada três apoiaram a instauração do Rendimento Mínimo de
Inserção. Existem em França dois milhões de voluntários, cujo trabalho efetuado é equivalente ao
de 500.000 assalariados a tempo inteiro. Na Inglaterra e nos EUA, entre 40 a 50 por cento dos
adultos são, de vez em quando, voluntários. É sempre o princípio da ‘desordem organizadora’ que
funciona”. Toda esta argumentação é encaminhada para criticar a teoria de um caos totalmente
desorganizado. Igualmente como ocorre com a tolerância – que é a segunda virtude a ser
inculcada nas crianças, sendo que ela se tornou um valor de massa – afasta as ideias
apocalípticas sobre o nosso tempo, apesar do quadro preocupante. Essa ideia sucumbe em razão
do individualismo. Cita, como exceção, o caso da Madre Teresa, ao que dizer que, embora sejam
elogiáveis suas ações altruístas, essas preferências “já não tem nada que ver com a interiorização
de uma moral exigente em si mesma, com a prioridade incondicional do altruísmo. Isso está
deslocado no tempo. Hoje as boas maneiras são consideradas mais importantes que a
solidariedade. O autor refere que “quando se pede para destacar, em uma lista de 17 qualidades
morais, as cinco virtudes que desejaríamos ver prioritariamente inculcadas nas crianças, apenas
15 por cento dos europeus se preocupam em mencionar o altruísmo. A obrigação de socorrer o
outro ocupa apenas o 15° lugar entre 17. Ao mesmo nível da paciência! Quando se interroga a
faixa dos 13-17 anos sobre aquilo que os pais verdadeiramente lhes ensinaram, 75 por cento
falam da necessidade de trabalhar bem para ter um bom emprego. Mas, o respeito pelos
princípios morais é apenas citado uma vez em cada quatro: a própria ideia da educação moral
perdeu o valor”.
216
WEBER, Max, Ciência e Política. Duas Vocações, São Paulo, Martin Claret, 2002, p. 57.
217
LIPOVETSKY, Gilles, A era do após-dever. IN: A sociedade em busca de valores. Edgar Morin
Ilya Prigogini (organizadores). Lisboa: Piaget, 2000 p. 29.
218
SOUZA, Jessé; OËLZE, Berthold. (Orgs.), op. cit.
219
ELIAS, Norbert, A busca da excitação, Lisboa, Difusão editorial, 1992.
220
DUMONT, Louis, O Individualismo. Uma perspectiva antropológica da ideologia moderna, Rio
de Janeiro, Rocco, 1985.
221
Holística deriva de holismo, termo de sentido filosófico que significa a tendência, supostamente
própria do universo, à síntese de “unidades em totalidades organizadas” (Aurélio Buarque de
Holanda Ferreira, Novo Dicionário da Língua Portuguesa, Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1986, p.
730). Em outra fonte léxica, de maior precisão conceitual, holismo é a “teoria segundo a qual o
todo é algo mais do que a soma das suas partes” (André Lalande, Vocabulário técnico e crítico da
filosofia, São Paulo, Martins Fontes, 1999, p. 1269).
222
DELMAS-MARTY, Mireille, “Acesso à humanidade em termos jurídicos”, O desafio do século
XXI. Religar os conhecimentos, Lisboa, Piaget, 1999, p. 227.
BERGSON, Henri. Matéria e Memória. 2. ed., São Paulo, Martins Fontes, 1999.
BHABHA, Homi K.. O Local da Cultura. Belo Horizonte, Editora UFMG, 2001.
GASSET, José Ortega y. La rebelión de las masas (1930), Obras, v. VI, Madrid,
Alianza Editorial, 1946.
GEERTZ Clifford. Entrevista de Victor Aiello Tsu com Clifford Geertz originalmente
publicada na Folha de São Paulo de 18 de fevereiro de 2001.
______. Nova Luz sobre a Antropologia. São Paulo, Jorge Zahar, 2001.
______. Teoria Pura do Direito. Trad. João Baptista Machado, 4 ed., Coimbra,
Armênio Amado, 1979.
______. Sociedad y ciências sociales. Obras III. Barcelona: Barral Editores, 1970.
MILLER, Arthur I. Intuitions de Génie: images et crétivité dans les sciences et les
arts. Paris, Flammarion, 1996.