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afroescola

bianca leite

edgar calel

kilombagem

lanchonete.org

mapa xilográfico

moisés patrício

rádio yande

talita rocha

visto permanente
curadoria
luciara ribeiro

de 18/11/2017
a 18/02/2018
nas páginas anteriores:

bell hooks (foto: montikamoss)


afroescola (fotos: natalia tonda | acervo afroescola)
talita rocha (fotos: sillas henrique)
moisés patrício (foto: moisés patrício)
bianca leite (foto: natalia tonda)
kilombagem (fotos: mumu silva)
edgar kalel (foto: ameno cordova)
radio yandê (fotos: divulgação | acervo pessoal daiara)
lanchonete.org (fotos: marina rago | mavi veloso)
mapa xilográfico (fotos: divulgação)
visto permanente (foto: tai)
a presença do outro faz com que o indivíduo “espelho trincado”, hábil em desnaturalizar
já não possa ser completamente ele mesmo. pretensas supremacias e privilégios que se
informada pelo pensamento psicanalítico, tal perpetuam. insurgindo-se contra uma con-
afirmação aponta para o caráter relacional figuração social loteada por poderes exclu-
dos processos de constituição e reconheci- dentes, esses agentes transgridem barreiras
mento de si. haveria aí uma espécie de jogo raciais, sexuais, de gênero e de classe erigidas
incessante de espelhos, em que o “eu” se vê à sua revelia e em seu prejuízo.
no “outro”, e vice-versa. essa lógica especular
impede a fixação de traços identitários, uma na condição de plataforma integrante da
vez que estes se delineiam de modo dinâmico, esfera pública de debates e disputas, o sesc
justamente nas interações entre as pessoas. compreende as iniciativas articuladas por
ou seja, estar com o outro solicita que nos re- diálogos e transgressões como proposições
pensemos e nos reinventemos. artístico-culturais imbuídas do processo de
transformação social, trazendo à tona urgên-
essa provisoriedade também se manifesta no cias mantidas por muito tempo escondidas
terreno social, onde se constituem e convivem no âmbito privado – portanto, na face reversa
as mais diversas comunidades. marcado por e opaca do espelho da realidade. contribu-
injustiças históricas e assimetrias, esse campo indo para tal inversão, a instituição cumpre
corresponde a um ambiente em precário seu papel socioeducativo e, dessa maneira,
equilíbrio, formado por grupos que gozam fomenta a complexificação da superfí-
de hegemonia e por segmentos que, por sua cie reflexa onde nos enxergamos como
vez, sofrem com a invisibilidade e a opressão. sociedade.
a imbricação entre essas coletividades hete-
rogêneas desdobra-se no que chamamos de
sociedade, um arranjo sempre inconcluso.

como esse quadro de desigualdades não é


estático, a esfera pública é permanentemen-
te ocupada e ressignificada por atores sub-
alternizados, que aí exigem reconhecimento
e forçam mudanças. ao fazê-lo, convocam a
sua contraparte hegemônica a se olhar num

jogo
de
espelhos

sesc sao paulo


diálogos e transgressões parte da realização dade mais justa, e é nessa busca que os envol-
de um conjunto de ações que veem a arte e a vidos nesse projeto teimam em prosseguir.
educação como campos de transgressões na este projeto é composto por uma exposição
construção de um mundo menos desigual. com dez artistas e coletivos de produções ati-
vistas, três encontros onde serão discutidos
a eleição do princípio organizador desse pro- propostas de ativismo e educação não hege-
jeto teve apoio na obra ensinando a trans- mônica e esta publicação virtual. além disso,
gredir, da pedagoga feminista afro-estaduni- a exposição aqui presente será constantemen-
dense bell hooks, pseudônimo de gloria jean te ativada através de ações dos artistas e co-
watkins. hooks, que solicita a escrita do seu letivos participantes, assim como por ações
nome sempre em letras minúsculas como
educativas e de formação pra professores.
atitude de discussão sobre lugares de hie-
rarquias e poder em nossa sociedade, reali-
sendo esse o espaço de notabilizar tal com-
za uma reflexão dos processos educacionais
promisso, diálogos e transgressões preten-de
vivenciados por ela em diversos momentos
proporcionar aos visitantes um recinto onde
de sua vida, para apresentar uma proposta
se possa ter contato com novas narrativas e
radical de educação, orientada enquanto prá-
maneiras de pensar o mundo. buscamos atra-
tica de liberdade e para a liberdade.
vés dessas ações que cada visitante possa
é necessário transgredirmos as fronteiras rever a sua responsabilidade perante a socie-
raciais, sexuais, sociais, de gênero e de classe dade, para que possamos nos reinventar e
para que possamos alcançar a liberdade. po- criar um mundo multicultural onde todos cai-
rém, para chegamos a esse estágio quase utó- bam, ou como costumam afirmar os zapatis-
pico, é necessário primeiramente reconhecer tas, onde caibam vários mundos. diálogos e
a existência delas. transgressões é um convite para que possa-
mos tecer juntos uma rede de ações pela
é nesse sentido que diálogos e transgressões liberdade e para a liberdade.
se propõe a ser um espaço de reflexão, de ex-
pressão e debates em busca por uma socie-

diálogos
e
transgressoes
luciara ribeiro
-curadora
coletivos e artistas
afroescola

a afroescola laboratório urbano é uma proposta cidadã e autônoma,


composta atualmente por um espaço sociocultural e por atividades
e ideias inspiradas nos movimentos por “um outro mundo possível“
(fórum social mundial).

materializou-se como coletivo em junho de 2013, a partir da abertura


de sua sede, mas atuava anteriormente em formato itinerante desde
o ano de 2008. na verdade, é o amadurecimento de um processo
iniciado em 2002 com a organização do negro universo – a essência
dos afrodescendentes, hoje e sempre, encontro/evento que busca
investigar e valorizar as contribuições dos povos africanos que foram
escravizados e espalhados a força pelo planeta.

é uma das inúmeras ações desenvolvidas pelo oficinativa, um projeto


que surgiu em 1997 no abc paulista, iniciativa de carlos rogerio/odé
amorim, com a intenção de vivenciar possibilidades diferenciadas
dentro dos campos sociais que compõem nossa vida. primeiramente
se restringia aos âmbitos artístico e cultural, mas logo percebeu a
necessidade de ampliar suas ações para outras temáticas, de modo
transdisciplinar. a ideia básica sempre foi “fundir elementos para
gerar outros novos”, buscando para tanto processos criativos, lúdicos,
dinâmicos e prazerosos – independente do assunto abordado. sem
o receio de errar, mesmo as atividades que são realizadas com
periodicidade assumem formatos distintos a cada edição, numa
perspectiva de experimentação constante e de aprendizagem
orgânica, libertária, comunitária e sustentável.

a proposta está hoje em processo de formalização para consolidar um


estabelecimento de educação infantil, o laboratório rural, no município
de ribeirão pires, em parceria com o abaçá da oxum/centro de estudos
e tradições do negro, candomblé fundado no ano de 1981. também
apoia a criação de outras unidades espalhadas mundo afora.
acredita profundamente que os saberes tecnológicos, os sentimentos
e as filosofias cultivadas e desenvolvidas pelas africanidades originais
e das diásporas, na ancestralidade e na contemporaneidade podem
contribuir positivamente para vivências e soluções mais harmoniosas
e sustentáveis em nossos tempos. por isso seguimos resistindo/
persistindo/insistindo. e também reconhecendo, valorizando,
ressignificando, repensando, reinventando, refletindo, interagindo,
investigando, etc.
afroescola
foto: natalia tonda
bianca leite

tem interesse em investigar gênero quando pensa a sexualidade do ser


humano. a gestualidade é característica marcante em seu processo, no
qual fica evidente seu interesse em experimentar instrumentos fora do
convencional para criação dos desenhos. na produção das esculturas,
faz uso da sobreposição de diversos materiais.

bianca leite (1985), vive e trabalha em são paulo, sp. é artista visual
formada pela universidade estadual paulista – unesp. dentre as artes
visuais, dedica-se especialmente ao desenho, pintura e escultura.

a série de desenhos feminino/masculino (2013) foi produzida quando atuei como


assistente do artista plástico marcius galan. na ocasião, tive que preencher
uma estreita ripa de madeira, o que seria possível somente com a espessura da
agulha de uma seringa.

se me perguntarem como se dá meu processo de criação, ou melhor, uma


produção contemporânea, este é um dos exemplos: a imersão na produção de
outro artista. me contamino tanto com a sua poética, quanto com o seu modo de
materializar suas ideias.

arrisco dizer que o meu processo se dá pela contaminação. sempre escolho


momentos em que possa estar só e em silêncio para produzir. foi assim que
surgiu a série feminino/masculino: do exercício realizado com uma seringa,
dessas que compramos na farmácia mesmo. inconscientemente escolhi a cor
vermelha da tinta guache e o papel foi o que estava ao alcance e disponível.

fiz a sucção da tinta e deixei a mão solta sobre o papel. nos primeiros gestos,
apertava bem devagar o dedo sobre a seringa, formando assim uma gota e
em seguida duas gotas. ao passo que ia trocando de folha, a mão bailava
em movimentos e junto às gotas vieram esguichos mais direcionados. fiz uma
pausa, olhei para os primeiros cinco desenhos e enxerguei algo que para mim,
pareciam partes internas do corpo humano. continuei o trabalho, acrescentei
a intenção de desenhar uma mulher, dividindo-a em quatro partes, em que
propositalmente deixei escorrer tinta, para representar do que somos todos
formados, de sangue materno.
edgar calel

edgar calel (1987, san juan comalapa) é artista de formação. seu trabalho
é uma busca permanente da tradução da cosmovisão maya kaqchikel,
cultura a qual pertence. seus temas tratam principalmente sobre as
práticas indígenas de sua comunidade, a espiritualidade maya, os
rituais, a identidade, a migração, entre outros. realiza isso por meio
de linguagens contemporâneas. utiliza para seus projetos técnicas de
desenho, pintura, fotografia, instalação, intervenção, performance e
ação para tempo, e site specific.

abrir os olhos em um povoado kaqchikel, falar o idioma dos nossos avós,


trabalhar na plantação para nos nutrirmos dos alimentos que nos proveem
estas terras. ações como estas foram uma maneira para seguir dando
continuidade ao conhecimento que deixaram e guardaram nossas avós e avôs
sobre a agricultura e a conexão com nosso espírito, por meio dos rituais e das
cerimônias com fogo, água e vento. também é importante falar dessa herança
fisicamente, como os objetos no lugar onde eles escreveram suas vidas, suas
espiritualidades, seus conhecimentos sobre arquitetura, astronomia, agricultura
e sua relação com nosso corpo e o poder da palavra.

foram mais de 500 anos de colonização, saques, imposição e sofrimento; mas


aqui estamos presentes. ainda que os livros falem de nosso desaparecimento e
de nosso apagamento, somos kaqchikel e nosso sangue é de fogo indígena. e
esse sangue é a essência que nos mantém vivos até os dias de hoje…

para mim, a vida está conectada com a criação porque a todo tempo estamos
em movimento, caminhando, observando e compreendendo que não há nada
estático. sempre estão acontecendo situações que contribuem para nosso
pensamento e questionamento, para logo contestarmos o que está se passando
com os temas ambientais, políticos, econômicos e artísticos.

para esta mostra, utilizo palavras que escutei de minha avó e logo as escrevi
em pedaços de papelão. é para mim uma responsabilidade poder conservar o
conhecimento de uma mulher indígena maya kaqchikel porque para ela a vida
não foi fácil, para ela não foi suficiente ser forte e resistir às adversidades da
vida e do sistema de governos ditadores e genocidas. desde que eu, minhas
irmãs e irmãos éramos muito novos, minha avó sempre falava para meus pais
que nós, seus netos, iríamos para a escola para ter acesso ao idioma espanhol
e fazer as letras falarem. e, dessa maneira, nos defendermos para não sofrer
de racismo, discriminação, exploração, exclusão e optar por um trabalho mais
digno, sem ter que passar pelo mesmo caminho que causou tristeza e dor a ela.

em 30 de junho de 1987, no meu primeiro dia de vida, os braços de minha avó


luisa lópez foram a minha casa e, desde então, ela me ensinou a falar, caminhar
e comer sobre a pedra de moer. dessa maneira, pude provar os sabores que
permitem ter acesso às nossas raízes e seus saberes que sustentam a vida. faz
três anos que sua voz se foi e dessas ausências surgem esses pensamentos…

-ri ab´ej y ri q´aq yoj ru mol / as pedras e o fogo nos reúne

- la q´aq´junan rik´in qa te´e, k´a ni qa na oj ru molon / o fogo é igual a nossa


mãe: sem pensar muito, nos unimos junto a ela.

-chuech ruach´ulef xkoj chup bi / diante do rosto da terra nos apagaremos.

- q´alaj xka to tzoloj bik´in babe pa nu k´ux ri chua o ri kab´ij o ri ibir o ri


kub´ixir / hoje vem me visitar aqui no meu coração. amanhã ou depois de
amanhã, ou ontem, ou anteontem, aqui te esperarei.

edgar calel

setembro 2017

chixot, guatemala
kilombagem

o grupo kilombagem é uma organização negra que percebe a revolução


social como uma possibilidade histórica das classes oprimidas.
desenvolve estudos interdisciplinares e ações que buscam a superação
do racismo enquadrando-o como um dos aspectos centrais das relações
de classe no âmbito do sistema capitalista de produção.

a missão do kilombagem é a apropriação, produção e difusão de


conhecimentos acerca da humanidade e de suas principais contradições
sociais para subsidiar ações políticas de transformação da realidade.

criado em 2003 como continuidade da organização comunitária


de hip-hop r.o.t.ação (resistência organizada de trabalho e ação), o
grupo desenvolve diversos estudos e projetos nas áreas de trabalho,
africanidades, combate ao racismo, saúde da população negra, arte e
cultura negra.

tem como principais desafios: entender as transformações no


processo produtivo e seus impactos na sociabilidade contemporânea;
compreender as determinações reflexivas entre racismo, machismo e
capitalismo; captar as especificidades sociais e possibilidades históricas
de transformação da sociabilidade contemporânea considerando
a instrumentalização do racismo para a manutenção da exploração
capitalista; desenvolver e estimular ações de intervenção social,
divulgação científica e propaganda ideológica coerente com as
necessidades e tendências históricas de transformação da realidade.

prestam consultorias a interessados em estudar ou implantar políticas


de valorização da diversidade, política nacional de saúde da população
negra e a lei 11.645/08.
lanchonete.org

a lanchonete.org é uma plataforma cultural contínua focada em como


as pessoas vivem e trabalham, compartilham e sobrevivem na cidade
contemporânea, tendo o centro de são paulo como panorama. o nome
vem dos onipresentes balcões das lanchonetes — pontos de comércio
amigáveis, sem barreiras, laboriosos e com suas luzes brancas — que
ocupam todas as esquinas da cidade. cursinho popular transformação:
educação e cultura voltadas para pessoas transgêneras, travestis e não
binárias em são paulo.

mavi veloso é natural de pacaembu, sp e atualmente vive em


amsterdam, holanda. graduada em artes plásticas pela universidade
estadual de londrina (2009) teve formação continuada experimental
em performatividade com a plataforma artística como clube /sp (2010-
2014). começou a desenvolver #iwannamakerevolution durante pós-
mestrado na escola a.pass em bruxelas, bélgica (2015-16). atualmente
continua a pesquisar e desenvolver #iwannamakerevolution como
pesquisa de mestrado em performatividade e voz no master of
voice, programa da sandberg instituut em amsterdam, holanda e com
colaboração e suporte da plataforma artseverywhere/musagetes.

dentro da residência artística online artseverywhere.ca, o projeto


iwannamakerevolution se concentra em pesquisas de técnicas
para transição da voz/terapia de feminização de voz para pessoas
transgênero como ferramenta performativa. durante a residência, mavi
pretende criar redes entre comunidades em diversas partes do globo,
sejam estas artistas, ativistas, lgbtqi+ e interessados em geral, aplicando
ideias para influenciar o material performativo em construção, como
ocorreu com o cursinho popular transformação em são paulo.

travalíngua, língua das travas, abreviação bem-humorada que usamos entre


nós, trans, queers, não-binárias e poligêneros. travalíngua é um projeto que
pesquisa práticas vocais e performáticas de transição, transformação e
transcriação a partir de estudos para feminização ou masculinização da voz no
projeto #iwannamakerevolution. trava-línguas são frases que enrolam nossas
línguas e imaginários. estão inseridas em nossa cultura popular e trazem
práticas de fala com construções sonoras e poéticas. falar, repetir, assimilar,
praticar, travar, treinar, atravessar, entravecar a língua e a voz.

a voz é importante instrumento de comunicação e criação. é forte elemento nos


modos como se percebe identidade e gênero em nossas sociedades. mas será
que a simples catalogação da voz feminina e masculina basta como afirmação?
dizem que homens têm vozes mais graves, grossas, fortes e que mulheres têm
uma voz mais aguda, fina, suave. e a bicha, a garota trans, o trans boy, pessoas
não-binárias, tantas comunidades queer, onde estão? com o projeto travalíngua
pesquisamos diversas nuances das classificações da língua, da fala queer, da
voz trans, das transgressões, atravessamentos e entravecamentos dos sons que
nossos corpos produzem. buscando dar visibilidade às muitas cores de nossas
vozes transversais que não estão apenas situadas dentro dos estereótipos
normativos de masculino e feminino.

no projeto travalíngua nos apropriamos de exercícios para feminização


e ou masculinização da voz como ferramenta. testando possibilidades de
ressonância e projeção da voz, texturas e musicalidades da fala, reconhecendo
e brincando com diversos tons entre agudos e graves, desafiando entrelinhas
entre espectros de som e gênero. utilizamos práticas de voz compartilhadas por
colegas trans através de vídeos no youtube, textos etc. pesquisamos a terapia
de feminização de voz.

terapeutas vocais que trabalhem com o assunto ainda não são facilmente
encontrados em todos países. pouco a pouco, via internet, vem acontecendo
alguma difusão desses processos e práticas vocais pelas próprias comunidades
trans. ao passo que práticas são difundidas e compartilhadas, vamos
entendendo e reconhecendo algumas entrelinhas. entre voz grave e/ou
aguda, quais texturas e cores vocais podemos produzir? entre os estereótipos
atrelados à ideia de masculinidade ou feminilidade, suave ou rígido, leve e forte,
delicado e viril, mil texturas podem existir. a partir de uma conscientização e
reconhecimento do material que se possui, no caso da voz, talvez possamos
brincar, articular e confundir um pouco algumas ideias sedimentadas sobre
ser homem e mulher. abrir espaços para diversidades de expressão de
subjetividades, gay, trans, queer, drag, não-binárias, polivalentes.

travalíngua é uma iniciativa dentro do projeto #iwannamakerevolution


com parceirxs lanchonete.org e o cursinho popular transformação.
#iwannamakerevolution é uma pesquisa de mestrado em performatividade e voz
de mavi veloso na sandberg instituut em amsterdam e é projeto em residência
artística na plataforma artseverywhere.  
mapa xilográfico

o coletivo mapa xilográfico foi formado em 2006 para atuar nos espaços
das cidades através da intervenção urbana, audiovisual e xilogravura,
buscando problematizar as questões relativas à urbanização ao lado
dos habitantes de cada lugar, em um processo de troca e coprodução
em torno das problemáticas locais.

exercitando a crítica aos conceitos hegemônicos de urbanização que


privilegiam uma minoria ao elitizar, agenciar e privatizar o espaço
público, minimizando a esfera de participação e autonomia dos seus
habitantes, o coletivo propõe uma série de ações poéticas, éticas e
estéticas que buscam evidenciar tais processos de transformação
do espaço e, ao mesmo tempo, propor agrupamentos que atuem na
afirmação de um corpo liberto, na criação de territórios de encontro e
produções artísticas.

integrantes do coletivo
diga rios: integrante do coletivo mapa xilográfico e do bloco fluvial
do peixe seco. mestre em arte e educação pelo instituto de artes da
universidade estadual paulista - unesp. atuou como arte-educador de
cultura digital do sesc consolação (2012 – 2013). lecionou a disciplina
ética na escola superior de advocacia da oab-sp (2010 – 2013). lecionou
a disciplina arte na rua do curso de especialização em ecologia, arte e
sustentabilidade do instituto das artes da unesp - umapaz em 2010 e
2011. coordenou o núcleo de ação social da escola experimental pueri
domus. atuou como educador em escolas de são paulo lecionando
disciplinas de base comum e interdisciplinares: ética e cidadania,
educação para as mídias e direito e construção da cidadania. integrou o
grupo alerta! de intervenções urbanas.

milene valentir: integrante do coletivo mapa xilográfico e do


bloco fluvial do peixe seco. formadora do centro de capacitação
de profissionais da educação (cepape) das áreas de artes visuais e
artes cênicas da rede municipal de educação de são caetano do sul.
arte-educadora na educação de jovens e adultos – eme prof. vicente
bastos, prefeitura de são caetano do sul, desde 2010. mestra em arte e
educação pelo instituto de artes da unesp. lecionou a disciplina arte na
rua do curso de especialização do instituto das artes da unesp - umapaz
em 2010 e 2011. ministra oficinas de artes visuais desde2005 no sesc
sorocaba, sesc pompeia, sesc são caetano e sesc consolação. foi arte-
educadora em exposições de 2006 a 2010: mab- faap, pinacoteca do
estado de são paulo, centro cultural banco do brasil. foi arte-educadora
do projeto parceiros da criança – comunidade heliópolis. integrou o
grupo alerta! de intervenções urbanas.

sobre a exposição “gatunos s.a. – stand de oportunidades”

a gatunos s.a. é a empreiteira fictícia do coletivo mapa xilográfico que


nasceu em 2010 junto aos moradores da vila itororó, no bairro do bixiga,
são paulo, sp. através da gatunos s.a. promovemos intervenções que
aproximam-se das ações ligadas ao mercado imobiliário, subvertendo
suas intenções. ao longo dos últimos sete anos diversos pontos da
cidade de são paulo foram presenteados com os “lançamentos” desta
promissora empresa, como a vila itororó - bixiga, nova luz/”cracolândia”,
estádio do itaquerão, portal do povo/morumbi, jardim das perdizes,
entre outros.

mais informações em https://gatunossa.wordpress.com/

faça uma visita em nosso stand de oportunidades e escolha um de


nossos empreendimentos espalhados pelas grandes cidades.
moisés patrício

sobre a série “aceita?”

série de fotografias realizadas desde 2014 para as redes sociais, aceita?


traz cerca de 800 imagens em que a palma da mão esquerda de
patrício se estende para oferecer objetos encontrados nas ruas de são
paulo, palavras e gestos relacionados às situações que experimenta
diariamente na cidade. a escolha pelo retrato da mão e do gesto de
oferenda (fundamental no candomblé) serve de crítica à herança racista
e escravocrata, que reduz o papel da população negra ao de mão de
obra. de forte carga simbólica e social, na medida em que recuperam
e devolvem à circulação aquilo que foi considerado descartável pela
sociedade, as fotoperformances refletem sobre o caráter excludente de
espaços urbanos e circuitos de arte.

são paulo, sp, 1984. vive e trabalha em são paulo, sp. artista visual e arte-
educador, moisés patrício trabalha com fotografia, vídeo, performance,
rituais e instalações em obras que lidam com elementos da cultura
latina e afro-brasileira. entre as exposições das quais participou,
destacam-se: bienal de dakar, no museum of african arts (senegal, 2016);
“a nova mão afro brasileira”, no museu afro brasil (são paulo, sp, 2014);
“papel de seda”, no instituto de pesquisa e memória pretos novos –
ipn museu memorial (rio de janeiro, rj, 2014). metrópole: experiência
paulistana - estação pinacoteca (são paulo, 2017) e osso exposição-apelo
ao amplo direito de defesa de rafael braga. desde 2006, realiza ações
coletivas em espaços culturais na cidade de são paulo, sp.

a minha pesquisa artística tem como foco principal a relação entre corpos
negros e cotidiano urbano contemporâneo. para tratar deste assunto caro
não apenas a mim, mas à população negra brasileira de modo geral, venho
há aproximadamente cinco anos mobilizando diferentes recursos técnicos
e expressivos com instalações, esculturas, desenhos, fotografia, vídeo e
performances. o tema aparece de diferentes formas, configurando assim
a minha poética e cada obra é um comentário crítico sobre noções como
diáspora, negritude, racismo estrutural, mas também sobre a beleza de fazeres
afro-orientados como a elaboração de oferendas dedicadas aos orixás e outros
deuses de origem africana.
embora meu trabalho possa carregar, em alguns casos, forte conteúdo
autobiográfico, afinal não há como fugir da própria experiência pessoal,
busco sempre uma linguagem universal por meio de soluções plásticas que
ultrapassem minhas referências culturais imediatas. preocupo-me em pensar
relações humanas positivas e respeitosas na qual a troca afetiva seja possível
para muito além da mercantilização da vida, algo que cada vez mais ocorre no
mundo contemporâneo, onde as trocas são reduzidas apenas à moeda. nesse
sentido, sou consciente do quanto posso contribuir com minha obra para melhor
integrar pessoas no sentido de promover novas relações sociais.
rádio yande

a rádio yandê é um ponto de mídia livre indígena. com sede no rio de


janeiro, mas rede de comunicação nacional, a rádio yandê iniciou seu
streaming em 11 de novembro de 2013.

bio dos fundadores e coordenadores


anápuáka: formado em gestão em marketing, é um comunicador nato.
possui experiência em várias mídias e um vasto currículo na área de
comunicação e meios digitais. é indígena da etnia tupinambá e pataxó
hã-hã-hãe, um dos fundadores da yandê e coordenador da rádio.
coordenador e idealizador da web brasil indígena. membro e idealizador
da rede de cultura digital indígena. articulador de políticas públicas para
população indígena.

renata: jornalista, especialista em etnomídia, roteirista, palestrante


e produtora. é indígena da etnia tupinambá, uma das fundadoras e
coordenadora da yandê. atua em cultura digital e articulação de meios
de comunicações locais e tradicionais. possui experiência em assessoria
de imprensa e fez parte do projeto índio educa, que disponibiliza
conteúdos escolares em valorização da história e culturas indígenas
para estudantes de ensino médio, fundamental e professores.

denilson: publicitário, possui experiência em várias organizações


brasileiras, sempre atuando na área de comunicação e assessoria
política. é um dos fundadores da yandê e indígena da etnia baniwa.
atuou como produtor de programas radiofônicos e articulador indígena
nas rádios cultura do amazonas,  a voz das comunidades e viva. atuou
como articulador de cultura digital, comunicação indígena, web ativismo
e native design.

daiara: professora formada pela universidade de brasília-unb, artista


plástica, militante indígena e feminista. é coordenadora na rádio e
indígena da etnia tukano. correspondente da rádio yandê em brasília, df.
yandê é a nossa rádio, feita para “você” e “todos nós”. como diz o ditado, “tudo
que fazemos juntos fica melhor” e é com esse conceito que nós do grupo de
comunicação yandê trabalhamos.

a rádio yandê é educativa e cultural. temos como objetivo a difusão da


cultura indígena através da ótica tradicional, mas agregando a velocidade e
o alcance da tecnologia e da internet. nossa necessidade de incentivar novos
“correspondentes indígenas” no brasil, faz com que possamos construir uma
comunicação colaborativa muito mais forte, isso comparada com as mídias
tradicionais de rádio e tv.

estamos certos de que uma convergência de mídias é possível, mesmo nas mais
remotas aldeias e comunidades indígenas, e que isso é uma importante forma
de valorização e manutenção cultural.

nossa grade de programação possui programas informativos e educativos que


trazem para o público um pouco da realidade indígena do brasil. desfazendo
antigos estereótipos e preconceitos ocasionados pela falta de informação
especializada em veículos de comunicação não indígenas.
talita rocha

a produção da artista talita rocha vincula-se diretamente à temática


afro-brasileira, principal matéria provedora de sua poética. assim ocorre
uma insistência em buscar parte de sua ancestralidade, que lhe foi
negada através de diversos processos de apagamentos históricos que
tal cultura sofreu e ainda sofre dentro dos processos de escolarização.

o presente trabalho se propõe a questionar a ideia de sacralização


da leitura dentro do contexto educacional. um abismo se constrói
entre o não reconhecimento de si mesmo dentro deste processo e a
construção de um indivíduo, pautada em normas e padrões sociais pré-
estabelecidos. a falta de reconhecimento de si nesse meio, gerado pelo
apagamento de outras culturas que diferem da europeia, resulta em
uma total desestabilização pelo que se é lido, de maneira que tal fator
é considerado como fundamental para a criação do trabalho que será
exposto.

nascida e criada na cidade de mauá-sp. filha do povo do vale do


jequitinhonha. educadora, ilustradora e graffiteira. sua formação
artística começou aos 16 anos, quando ingressou no curso de história
da arte no museu b. de mauá. continuou seus estudos pelo contato
com a cena do graffiti na cidade de mauá e com a cerâmica do vale do
jequitinhonha, que é quando seu universo artístico de fato se expande e
enriquece. também já trabalhou com arte-educação em alguns espaços,
dentre eles, o mac-usp, mae-usp e a bienal de artes de são paulo.
atualmente é educadora no museu da cidade de são paulo. desenvolve
também o projeto intitulado “madame nagô” desde 2012, no qual
apresenta e expõe criações vinculadas à temática afro-brasileira pelo
uso de diversos tipos de linguagens artísticas, dentre elas, o desenho, a
pintura, a cerâmica, a instalação e o graffiti.
visto permanente

acervo vivo das novas culturas imigrantes é um acervo digital de


registros audiovisuais sobre expressões artísticas de comunidades
imigrantes de são paulo. iniciado em janeiro de 2015, pretende criar um
mosaico de representações que funcione como um mapeamento da
multilocalidade de tradições e imaginários trazidos pelas comunidades
imigrantes para a cidade. inserido por um lado nas lutas sociais pela
preservação da memória e por outro numa compreensão complexa da
multilocalidade das tradições e culturas populares de são paulo, o visto
permanente procura contribuir com este acervo para o fortalecimento
da imagem e da produção simbólica do imigrante na cidade. este acervo
cresce com a constante publicação de novos vídeos concentrados na
página (www.vistopermanente.com)

o coletivo é constituído por agentes culturais com formações,


nacionalidades, histórias e percursos diferentes, que enfrentam
diariamente os desafios da migração e da produção cultural em
são paulo. conhecendo a realidade que imigrantes e refugiados têm
a partir de sua própria composição, o coletivo busca não somente
visibilidade, mas também a própria representatividade como artistas.
é representado por: anaís escalona (24), fotógrafa venezuelana;
arthuralves (24), artista audiovisual brasileiro; daniela solano (27),
arteeducadora colombiana refugiada; juan david rubio (32), arte-
educador social colombiano.

a instalação

o coletivo visto permanente apresenta uma vídeo instalação de seu


acervo que engloba mais de 60 vídeos de manifestações artísticas
realizadas por imigrantes de diferentes nacionalidades e que residem e
expressam sua cultura na cidade de são paulo.
onde foi aluna de paulo freire, que lecionou
porque falar em diálogos em universidade nos e.u.a durante o seu
e transgressoes? -
exílio; como professora secundária; como
professora universitária e como escritora de
relacoes entre educacao e
mais de mais de trinta livros e numerosos
arte na contemporaneidade
artigos acadêmicos.

por luciara ribeiro ter bell hooks como referência nesse


projeto já implica na adoção de uma
perspectiva transgressora, tendo em vista se
tratar de uma mulher negra que se dedica a
diálogos e transgressões parte da estudar os condicionamentos históricos nos
compreensão de que a arte e educação quais está inserida no campo da educação
são espaços de existências e resistências. formal e não-formal. contrapomos, assim,
são espaços que possibilitam refletirmos a sociedade formada por uma visão
e agirmos em busca de novas maneiras de eurocêntrica, masculina, heteronormativa,
viver. para isso, partimos nesse projeto do classista e racista. hooks nos convida a
livro ensinando a transgredir, de bell hooks*. transgredir em luta e em resistência. hooks
hooks é uma escritora afro-estadunidense nos convida a não desistirmos, a buscarmos
que aponta nesta obra teorias, debates as possibilidades de nossos respiros diários.
e ações para pensarmos processos de
liberdade na educação. falar sobre bell diálogos para transgredir e transgredir
hooks é um exercício difícil. a autora já para dialogar traçaram os nossos caminhos
publicou aproximadamente 30 livros, sendo, durante os meses de desenvolvimento e
a sua maioria permeados por estudos organização desse projeto. porque falar
relacionados às relações étnico-raciais, em diálogos e transgressões? falamos em
gênero, classe, educação, arte, sexualidade, diálogos e transgressões para que possamos
feminismo e histórias afro-atlânticas. evidenciar e reconhecer as fronteiras que
nos separam nessa sociedade. falamos
o livro ensinando a transgredir foi lançado em diálogos e transgressões para que
em 1994, nos estados unidos, porém, só foi possamos refletir sobre as nossas atitudes
publicado no brasil em 2013, cerca de 20 diárias e saber se elas são transgressões
anos depois. e até o momento, continua ou se contribuem para dar continuidades
sendo a única publicação de hooks lançada a fronteiras e preconceitos. falamos de
no país. em ensinando a transgredir, diálogos e transgressões porque estamos
bell hooks realiza uma reflexão sobre os vivendo um genocídio de mais de 500
processos educacionais vivenciados por ela anos as populações indígenas e negras.
em diversos momentos da vida: na infância, falamos de diálogos e transgressões
como aluna de uma escola da comunidade porque as sociedades indígenas ainda
afro-estadunidense durante o período de não foram reconhecidas dentro de suas
segregação racial institucionalizada nos humanidades, conhecimentos, inteligências
e.u.a; como aluna também nas escolas e ancestralidades. falamos de diálogos e
durante o período de integração racial; transgressões porque mesmo vivendo no
como estudante universitária de pedagogia, segundo país com a maior população negra
do mundo, jovens negros são assassinados e
*bell hooks é o pseudônimo de gloria jean
mortos todos os dias. falamos em diálogos
watkins. A autora solicitação a escrita do seu
e transgressões porque mulheres são
nome sempre em letras minúsculas como atitude
violentadas, assassinadas, estupradas.
de discussão sobre hierarquias e poderes em
falamos em diálogos e transgressões porque
nossa sociedade, atitude essa que também foi
corpos são censurados pelo puritanismo
tomada para os escritos desse projeto.
cristão, porque gêneros sãos definidos
por uma heteronormatividade machista, de e-mails, pedidos de ajuda, etc. buscamos
sexista e binária. falamos de diálogos e a partir de soluções coletivas as melhores
transgressões porque ainda vivemos em formas de apresentar a individualidade e
um sistema de educação não inclusiva, especificidade de cada atuação, história,
xenofóbica, eurocêntrica, racista, classista trajetória e identidade artística.
e autoritária. falamos de diálogos e em parceria com isa guebara, arquiteta
transgressões porque o modelo de cidade responsável por esse projeto, iniciamos a
no qual vivemos é excludente e desumano. idealização da expografia. nos primeiros
falamos em diálogos e transgressões momentos a nossa grande pergunta era:
porque apesar de sermos um dos maiores como transportar as nossas ações como
países em extensão territorial do mundo, algo que contemple a todos? como
nossas terras estão destinadas a poucos. conseguir reunir no mesmo espaço
falamos de diálogos e transgressões propostas tão diversas em suas linguagens,
porque apesar de vivermos em um país origens e discursos? como ocupar o espaço
laico, religiões são perseguidas e pessoas de maneira coletiva e livre? tentando
mortas por suas crenças. falamos de responder as essas questões, optamos
diálogos e transgressões porque poderes por privilegiar uma estrutura de exposição
políticos são utilizados para interesses expandida. buscamos quebrar um pouco
religiosos e individuais. falamos de diálogos da rigidez das paredes, tornando-as mais
e transgressões porque vivemos em um fluidas, transitáveis e visíveis. buscamos
período de retrocessos políticos e humanos, construir também um espaço de diálogo
e não tem como a educação e a arte não entre visualidades e sons. entre linguagens
serem espaços para refletir sobre seus e temáticas.
tempos. outro grande desafio foi à construção
da identidade visual. rafael simões foi o
diálogos e transgressões é um conjunto de responsável por encontrar formas e escritas
ações. além da exposição, ocorrerá também potentes e dialogáveis com as ideias
um ciclo de encontros para debater propostas. a identidade visual apresentada
propostas descolonizadoras no campo busca privilegiar a apresentação dos nomes
da educação, diversas ações de ativações dos artistas e coletivos, em detrimento
de obras e espaço, formação educativa, do nome da exposição. buscamos
relatorias críticas e uma publicação. dessa maneira, evidenciar quem são os
verdadeiros agentes de transformação do
para a exposição optamos por convidar não dia-a-dia.
apenas artistas plásticos. entendemos que lutamos pela vida das cores, dos espaços,
precisamos expandir também as maneiras das afetividades e das suas ações humanas.
de se ocupar os espaços expositivos em vista disso, além da exposição, haverá
dedicados às artes. por isso, convidamos ao longo dos seus três meses, uma série de
também coletivos artísticos-ativistas que três encontros com educadores-militantes-
fomentam ações de questionamentos entre ativistas-pesquisadores-vivenciadores-
a arte e a educação. fomentadores de debates. através da
organizar a exposição foi um grande desafio mediação de lunalva oliveira e relatorias de
para todos. o trabalho partilhado foi bruno oliveira, esses encontros buscarão
muito potente e prazeroso, mas também apresentar questões e ações pra o futuro.
muito trabalhoso. nesse sentido, todos para tornar a presença educativa continua,
os envolvidos foram importantíssimos durante a exposição, a historiadora e
para a construção de diálogos abertos educadora anita limulja desenvolverá
e construtivos. todos os passos dados ações educativas e de formação com
para a realização desse projeto foram os educadores e professores visitantes.
construídos a partir de encontros, em outra frente, os artistas e coletivos
telefonemas, mensagens de celular, trocas organizarão uma agenda com ações
ativadoras. serão ações de ocupação, de
interação, de debate, de degustação, de
brincar, de re-significar, de performatizar, de
agir, de sentir.
na busca por fomentar a compreensão e
divulgação do trabalho de bell hooks, a
pesquisadora juliana gonçalves também
apresenta nessa publicação algumas
palavras para demonstrar a potência dessa
grande pensadora.
e por fim, mas não menos importante, a
colchete projetos culturais esteve unindo
e organizando todas essas frentes desse
projeto nas presenças de auana diniz, elisa
matos e luanah cruz. juntas conseguimos
realizar de maneira competente e humana
a concretização desse longo processo
coletivo de trabalho.
e foi através dessa busca de construção
coletiva que apresentamos o presente
trabalho. acreditamos que essas possam
ser maneiras efetivas de diálogos e
transgressões. e por isso seguiremos
falando deles. falaremos em diálogos e
transgressões até que todas as barreiras
que nos impedem de transgredir e dialogar
sejam ultrapassadas.
criada numa família de cinco irmãs e um
bell hooks, a escrita que irmão, na infância, estudou em escolas só
transcende a mulher para negros frutos de um país marcado pela
divisão racial. a mãe trabalhava nas casas
por juliana goncalves*
das famílias ricas e brancas da cidade, e o
pai era zelador. apesar da raiz cristã, hooks
se converteu ao budismo na década de 70,
“somos um povo ferido. feridos naquele um percurso que rendeu bons textos sobre
lugar que poderia conhecer o amor, que espiritualidade, um de seus temas menos
estaria amando. a vontade de amar conhecidos.
tem representado um ato de resistência
[...] numa sociedade racista, capitalista a partir do momento que entra na
e patriarcal, os negros não recebem universidade de stanford, na califórnia,
muito amor. e é importante para nós que passa a ter uma ampla convivência com
estamos passando por um processo de mundo acadêmico. aos 19 anos, inicia seu
descolonização, perceber como outras primeiro livro de prosa batizado de “ain’t
pessoas negras respondem ao sentir nosso no woman: black women and feminism”
(e eu, não sou uma mulher? mulher negra e o
carinho e amor”.
feminismo) e passa a assinar como bell hooks
esse é um trecho de “vivendo para amar”, definitivamente. foram anos de revisões até
provavelmente o texto mais lido de bell que 1981 o livro foi publicado se tornando
hooks no brasil. ainda desconhecida pela obra central para discutir racismo e sexismo
maioria das pessoas, essa intelectual, e colocando de vez o nome de hooks nos
escritora, crítica cultural e teórica feminista debates feministas.
possui uma obra composta de mais de
trinta livros publicados entre poesia, prosa “ain’t no woman” foi escrito para
e livros infantis, além de diversos artigos documentar o quanto a vida da mulher
acadêmicos. negra estava marcada por práticas racistas
e sexistas enquanto hooks analisa esse
sua escrita versa sobre elementos que processo por uma perspectiva feminista. o
estruturam a sociedade moderna como livro fala dos impactos do sexismo durante
raça, capitalismo, gênero e a articulação a escravidão, do desenvolvimento de uma
que ocorre entre eles produzindo e comunidade feminina negra, do sexismo
perpetuando sistemas de opressão e do homem negro, do racismo dentro do
dominação na educação, arte, história, movimento feminista e das mulheres negras
política, cultura e mídia de massa. além dentro do movimento feminista.
disso, hooks possui ampla contribuição na
concepção e prática do feminismo negro, apesar de produzir intensamente, foi
precursor do feminismo interseccional ao lecionando após finalizar seu doutorado
lado de kimberle crenshaw, audre lorde e, em literatura que a escritora afirma ter
no brasil, lélia gonzalez. encontrado a mais importante forma política
de resistência. assim, em seu currículo de
gloria jean hopkins, nasceu em 1952 em docente há passagens em importantes
hopkinsville, uma cidade pequena, rural e universidades como a universidade da
segregada do kentucky. seu nome social bell califórnia, universidade de yale, oberlin
hooks, uma homenagem à avó materna bell college e city college de nova iorque.
blair hooks, chama atenção por vir sempre
grafado com letras minúsculas. sobre isso, em seu livro de 1994, “ensinando a
explicou certa vez: “o mais importante em transgredir: a educação como prática
meus livros é a substância e não quem sou de liberdade” apresenta uma pedagogia
eu”. engajada e feminista como alternativa no
combate às opressões. “a sala de aula com de força. “identificar o pênis sempre
todas as suas limitações continua sendo um e unicamente com força, como sendo
ambiente de possibilidades”, afirmou. um instrumento de poder, uma arma
primeiro e acima de tudo, é participar
essa obra surgiu inspirada nas teorias de no reverenciamento e perpetuação do
educação defendidas por paulo freire que patriarcado. é a celebração da dominação
trazia a necessidade de ver o estudante masculina”, conta.
em sua totalidade e seu papel ativo na
aquisição do conhecimento. “quando outro ponto importante de sua obra diz
descobri a obra do pensador brasileiro respeito ao processo de amadurecimento
paulo freire, meu primeiro contato com a do movimento feminista estadunidense.
pedagogia crítica, encontrei nele um mentor exemplo disso foi a ampla discussão
e um guia, alguém que entendia que o sobre a pobreza feminina como elemento
aprendizado poderia ser libertador”, conta fundamental para o crescimento do
em um trecho do livro. movimento feminista.

a contribuição de hooks para o pensamento em seu texto “luta de classes feminista”,


freiriano vem justamente por sua teoria bell conta como houve na trajetória do
crítica do feminismo que aponta um movimento uma cooptação do feminismo
desenvolvimento que não é individual, por ideias liberais e como feministas radicais
mas sim, comunitário. o último elemento e negras travaram intensas discussões a fim
ganha força em seu livro de 2003 intitulado de incluir junto à pauta de classe, o debate
“comunidade de ensino: a pedagogia da racial. “colocar a questão de classe nas
esperança”. agendas feministas abriu o espaço para as
interseções entre classe e raça. dentro do
“pedagogia engajada” é um dos termos sistema institucionalizado de raça, sexo e
que facilmente lemos na obra de hooks classe social na nossa sociedade, mulheres
ou em suas aulas públicas documentadas negras estavam claramente no fundo do
em vídeos. além dele, vemos bell construir totem econômico”, afirma.
conceitos como o “patriarcado imperialista,
supremacista branco e capitalista” e a escritora defende que a libertação
“cultura dominante” para delimitar uma feminista reside junto à visão da
estrutura de poder que mantém a ordem transformação social que desafia o elitismo
social. em “writing beyond race: living de classe. assim, a política feminista tem
theory and practice” (escrevendo além da o objetivo de desafiar e mudar tudo que
raça: vivendo teoria e prática) de 2013, bell estrutura o patriarcado. “o feminismo é um
explana longamente sobre essas diferentes movimento para acabar com o sexismo, a
lentes necessárias para entender como exploração sexista, e a opressão”, define.
as opressões se articulam e qual é a
perspectiva feminista possível. dentro dessa conceituação, o feminismo
seria uma escolha política e não um estilo
é, inclusive, sobre a lente feminista que bell de vida. em 2000, em seu livro “feminismo
hooks aborda temas variados como cabelo, é para todos”, bell faz um alerta para que
beleza, moda, corpo e masculinidades. as diferenças entre as mulheres não se
por exemplo para hooks, a perpetuação transformem em fatores de desigualdades.
do patriarcado e manutenção da cultura “enquanto as mulheres estão usando o
dominante se dá por diversas vias, uma poder da classe ou da raça para dominar
delas é apresentada no texto chamado outras mulheres, a irmandade feminista não
“pennis passion” (paixão peniana), onde a poderá ser plenamente realizada”, aponta.
escritora descreve a visão da sociedade
ocidental do falo como um instrumento no entanto, a escrita traz o movimento
feminista como aquele que mais tem se usássemos como verbo.
questionado, visando sua melhoria. “ eu
sou uma feminista em solidariedade com hooks fala de um amor que detém a cura
as mulheres brancas hoje, por essa razão, para os indivíduos e para a nação. “todos
porque eu vi essas mulheres crescerem os grandes movimentos de justiça social em
em sua vontade de abrir suas mentes e nossa sociedade têm enfatizado fortemente
mudar todo o rumo do pensamento, escrita a ética do amor.” esse é o espírito de
e ação feminista. este continua sendo um “salvation: black people and love” (salvação:
dos mais notáveis ​​aspectos impressionantes pessoas negras e o amor), de 2002, que traça
do movimento feminista contemporâneo. o legado da escravidão na vida amorosa de
a esquerda não fez isso, os homens negros pessoas negras.
radicais não fizeram isso”, pondera.
em “communion: the female search for
não é só por meio de publicações densas love” (comunhão: a procura feminina por amor),
que podemos acessar o trabalho da também de 2002, a intelectual desafia todas
professora bell hooks. periodicamente, no as mulheres para reivindicar corajosamente
blog do instituto bell hooks, ela escreve a busca do amor. “vivendo numa sociedade
pequenos textos sobre assuntos diversos. de dominação, amar pode ser um ato
em maio do ano passado, um mês depois heróico”, afirma.
de beyoncé causar frisson na indústria
do entretenimento e na internet com o amor foi tema transversal em outros
“lemonade”, seu álbum visual, hooks livros, como o trecho de “vivendo para
agitou as redes feministas ao publicar uma amar” que abre esse texto retirado do livro
crítica sobre tudo que assistiu e ouviu. a “sisters of the yam: black women and self-
intelectual fez elogios às referências à recovery” (irmãs pela inhame: mulher negra e
ancestralidade, à manifestação do corpo a auto-recuperação), de 1993. nele hooks já
negro feminino nas mais diversas formas apresentava o amor como ferramenta para
e pontuou críticas. “as mulheres não enfrentar o genocídio. “quando conhecemos
aprendem nem aprenderão sobre poder o amor, quando amamos, é possível
ou sobre criar amor próprio e autoestima enxergar o passado com outros olhos; é
através de atos de violência. a violência possível transformar o presente e sonhar
feminina não é mais libertadora do que o futuro. esse é o poder do amor. o amor
a violência masculina”, disse sobre a cura.”, afirmou.
encenação de beyoncé durante o vídeo que
destrói um carro com um taco de beisebol. em termos de produção, a última novidade
sobre o feminismo da cantora, hooks afirma da escritora fica por conta do e-book “uncut
que “ele não proclama o fim da dominação funk: a contemplative dialogue” (sem cortes:
patriarcal” e completa: “no mundo do um diálogo contemplativo), um acervo que traz
feminismo fantasia não existem hierarquias diálogos de hooks com o pai dos estudos
de classe, sexo, raça, não há ênfase na culturais, o jamaicano stuart hall, falecido
interseccionalidade”, escreveu. em 2014. lançado neste mês de outubro, o
e-book deve ganhar versão impressa no ano
nos anos 2000, bell se dedicou a escrever que vem.
três livros específicos sobre o amor. ela
apresenta o amor com um ato político de a ativista bell hooks segue escrevendo de
emancipação do povo negro. em 2001, maneira constante, inclusive tem uma série
escreveu o “all about love: new visions” de livros infantis que se valem do lúdico
(tudo sobre o amor: novas visões) e inicia para desconstruir os preconceitos de raça,
dizendo como amor é comumente definido cor, classe e gênero. infelizmente todos
como um substantivo, porém, nós todos ainda sem tradução para o português.
amaríamos melhor se frequentemente o
vale ressaltar que “ensinando a
transgredir” e sua “pedagogia engajada”,
obra carro-chefe desta exposição, é o
único livro de bell hooks traduzido para o
português, apesar de ser possível encontrar
muitos textos soltos traduzidos na internet.

infelizmente, as intelectuais feministas


negras estão só agora abrindo caminho
no setor editorial. haja visto que os livros
da grande angela davis acabaram de ser
lançados oficialmente no brasil pela editora
boitempo, a exemplo de “mulheres, raça e
classe”, originalmente publicado por davis
em 1981.

esperamos que essa exposição dê corpo


a demanda já existente de que mais e
mais livros de bell hooks sejam traduzidos
e publicados aqui no brasil. em tempos
politicamente obscuros, mais do que
tudo o que foi exposto aqui, ressalta
no trabalho de hooks suas narrativas de
liberdade vindas de uma mulher negra que
sabiamente ousou se intitular uma ativista
revolucionária.

*jornalista apaixonada pela obra de bell hooks.


ativista dos direitos humanos com foco em raça
e gênero, integra a comissão de jornalistas pela
igualdade racial de são paulo e a marcha das
mulheres negras de são paulo. atualmente é
repórter do brasil de fato. têm textos publicados
na carta capital, revista tpm/trip e na revista
eletrônica calle 2 onde compartilha histórias que
versam sobre sua condição no mundo: mulher
negra, mãe, feminista, periférica, afrolatina,
quiçá, livre.
pressupostos racistas dos brancos, de quem
diálogos e transgressoes éramos geneticamente inferiores, menos
capacitados que os colegas, até incapazes
projeto educativo | de aprender”. para analisar o impacto
anita limulja desse processo, busca em sua própria
experiência enquanto estudante elementos
disparadores de reflexões essenciais no
aprendendo a transgredir campo da educação.

“vamos encarar a realidade: a maioria de bell hooks aponta como o processo de


nós frequentamos escolas onde o estilo de aprendizagem está estreitamente vinculado
ensino refletia a noção de uma única norma a fatores inter-relacionais muito aquém de
de pensamento e experiência, a qual éramos conteúdos específicos próprios a objetos do
encorajados a crer que fosse universal. ” conhecimento disciplinar. a autora identifica:
bell hooks “nestes vinte anos de experiência de ensino,
percebi que os professores (qualquer que
o projeto educativo da exposição “diálogos seja sua tendência política) dão graves sinais
e transgressões” foi concebido a partir das de perturbação quando os alunos querem
reflexões disparadas pela pedagoga afro- ser vistos como seres humanos integrais,
americana bell hooks. sua obra tem cada com vidas e experiências complexas, e não
vez mais tido, embora ainda com lacunas como meros buscadores de pedacinhos
importantes a ser preenchidas, traduções compartimentalizados de conhecimento”.
para o português em função da crescente o currículo escolar, portanto, apresenta
procura pelos educadores brasileiros. apenas uma das várias facetas que envolve
a escritora, professora e intelectual o processo de ensino disparado pelos
insurgente nasceu nos estados unidos na professores. é fundamental, portanto, que
década de 1950. profundamente engajada se leve em conta o contexto vivenciado
com a perspectiva da educação enquanto pelos estudantes e que suas preocupações
prática de transformação social, a pedagoga para além da vida escolar possam ter
buscou ao longo de sua trajetória conciliar espaço em sala de aula.
o conhecimento acadêmico, produzido nas situações de aprendizagem em que
tradicionalmente pelas elites políticas, cada estudante é visto em sua singularidade
econômicas e sociais, e o conhecimento as práticas educativas podem surtir um
resultante dos movimentos militantes, sentido mais aprofundado. as relações
voltados para a superação das fronteiras entre todos os integrantes é vista como
raciais, sexuais e de classe. elemento principal, e a partir disso se
constrói uma comunidade de aprendizagem
em seu livro “ensinando a transgredir: a cuja responsabilidade é compartilhada
educação como prática da liberdade” - com todos os envolvidos. nas palavras da
único até agora traduzido para o português autora: “na comunidade da sala de aula,
- a autora relata sua experiência pessoal nossa capacidade de gerar entusiasmo
na educação formal. inserida no contexto é profundamente afetada pelo nosso
histórico de segregação racial ocorrido nos interesse uns pelos outros, por ouvir a voz
estados unidos, bell hooks dá testemunhos uns dos outros, por reconhecer a presença
de como o processo de dessagregação dos outros”. acontece, portanto, uma
nas escolas do ensino básico ocorreu de descentralização da figura do professor,
forma a reafirmar os modos excludentes visto tradicionalmente como sendo o único
aos quais a população negra era e ainda é detentor de saber. a polifonia alcançada
submetida. a autora relata, “a escola ainda então estimula o interesse dos estudantes
era um ambiente político, pois éramos para a aprendizagem, já que são vistos
obrigados a enfrentar a todo momento os como sujeitos autônomos e imbuídos de
experiência e criticidade. as visitas educativas podem significar
importantes espaços de troca de experiência
a assunção de que todos os sujeitos carregam entre os visitantes. concebidas deste modo,
saberes - ainda que não formulados nos constituem as chamadas comunidades
moldes acadêmicos tradicionais -, é apenas de partilha, tão caras a bell hooks, e que
uma das várias concepções que bell hooks representam um espaço significativo de
compartilha com o pedagogo brasileiro participação política. em consonância com
paulo freire, a quem fez várias menções, lhe as propostas desenvolvidas pelos artistas e
dedicando um capítulo inteiro em seu livro. coletivos ativistas presentes na mostra, as
assim como ele, defende a impossibilidade narrativas não hegemônicas devem ocupar
da neutralidade de posicionamento político um lugar de destaque nas visitas educativas.
de educadores. a pretensa imparcialidade, descentralizar os meios de produção de
revisitada no programa “escola sem saber e notabilizar as reflexões tecidas por
partido”, escamoteia os mecanismos de agentes sociais tradicionalmente excluídos
opressão que perpetuam as profundas da sociedade é um exercício ininterrupto que
desigualdades sociais, não deixando com requer uma escuta apurada por parte dos
isso, de representar um posicionamento educadores. ao contrário do que comumente
político. contrariando tal perspectiva, bell se espera, os educadores comprometidos
hooks defende, “os professores progressistas com a transformação social devem estar
que trabalham para transformar o currículo tão ou mais envolvidos com a pluralidade
de tal modo que ele não reforce os sistemas dos grupos de visitantes e com as questões
de dominação nem reflita mais nenhuma específicas que carregam consigo quanto
parcialidade são, em geral, os indivíduos mais com os conteúdos relativos ao campo do
dispostos a correr os riscos acarretados pela conhecimento artístico apresentado em uma
pedagogia engajada e a fazer de sua prática dada exposição.
de ensino um foco de resistência”.
nesse sentido, é preciso fomentar
ainda que bell hooks se refira mais coletivamente um projeto educativo que se
enfaticamente à sala de aula, suas volte para as ferramentas de desconstrução
contribuições são, do mesmo modo, de padrões normativos nos quais todos nós
fundamentais no campo do ensino não fomos e temos sido formados. bell hooks
formal. embora a instituição escolar ocupe aponta, em seu livro, para a aceitação do
um lugar central na formação dos sujeitos, os multiculturalismo na academia, entretanto,
processos de ensino e aprendizagem se dão adverte, não se trata somente de perceber
em diversos outros espaços sociais. dentre as diferenças sociais, mas sobretudo, atuar
eles, destaca-se as instituições culturais para uma transformação da realidade
que têm desenvolvido um significativo em que a diferença não seja qualificada
papel através de seus setores educativos. como desigualdade. as ações educativas
o projeto educativo da exposição “diálogos voltadas para a democratização dos meios
e transgressões” compreende as ações de produção de conhecimento devem
educativas enquanto práxis desenvolvidas considerar os diversos modos de exclusão
com e não para os visitantes. contrapõe-se, perpetrados ao longo da história, em que
assim como bell hooks, ao que paulo freire grande parte da população foi alijada dos
chamou de educação bancária, não pretende centros de decisão. escutar os saberes
estabelecer hierarquias de importância entre produzidos - e os termos nos quais são
os artistas, educadores e visitantes, mas tão definidos - pelos grupos sistematicamente
somente, colocar-se em posição de diálogo tornados invisíveis pela estrutura
para, desse modo, estimular o contato e a colonizadora da qual somos herdeiros,
movimentação de saberes produzidos em significa, sobretudo, considerá-los sujeitos
múltiplas esferas. e não objetos.
a assunção da autonomia dos sujeitos, seja
dos artistas seja dos visitantes, também deve
estar presente em relação aos educadores. a
formação para a atuação deles na exposição
buscou estimular a partilha de conhecimentos
prévios, em que cada um pôde compartilhar
suas experiências em diversas áreas. os
educadores em instituições culturais
representam uma parte central na formação
de públicos. devem ser valorizados enquanto
pesquisadores, propositores e autores de sua
própria prática. ainda que a educação não
formal possua pouca visibilidade em relação
à formal, os educadores têm produzido
importante conhecimento pedagógico que
deve ser melhor sistematizado e divulgado.
são muitas vezes eles, os educadores,
os principais responsáveis por disparar,
através do diálogo, práticas transgressoras
às barreiras entre raça, gênero e classe tão
veementemente criticadas por bell hooks.
programacao:
mesas de diálogos
e transgressoes
POR QUE FALAR EM ARTE, ATIVISMO,
DIÁLOGOS E MILITANCIA: COLETIVOS E
TRANSGRESSOES: PROPOSTAS ALTERNATIVAS*
RELACOES ENTRE com erica malunguinho (aparelha
EDUCACAO E ARTE NA luzia - sp), iran giusti (casa 1 - sp),
CONTEMPORANEIDADE* queila rodrigues (fórum de cultura
com luciara ribeiro (curadora) + da zona leste - sp) e denilson baniwa
afroescola, bianca leite, edgar (rádio yande - rj)
calel, kilombagem, lanchonete.org,
mapa xilográfico, moisés patrício,
rádio yande, talita rocha e visto 18 - 01 - 18
permanente quinta,
das 19h30 às 21h
18 - 11 - 17
sábado,
das 11h30 às 13h30

DESCOLONIZAR A DESTERRITORIALIZANDO
EDUCACAO: PROPOSTAS DE A EDUCACAO - POR UMA
MEDIACOES LIBERTÁRIAS EDUCACAO DE TODOS E PARA
E TRANSGRESSORAS - TODOS: SEM ESTEREÓTIPOS
RACISMO, BRANQUITUDE E SEM FRONTEIRAS*
E EUROCENTRISMO NO com adama konate (sp), veronica
DISCURSO DA EDUCACAO quispe yujra (colectivo si yo puedo)
E DAS ARTES* (sp), paulo silva (foz do iguaçu - pr
com cristine takuá (sp), luara e sp), mano zeu (foz do iguaçu - pr)
carvalho (sp), mirella maria (sp)
e marcel cabral (sp)

29 - 11 - 17 07 - 02 - 18
quarta, quarta,
das 19h30 às 21h das 19h30 às 21h

* mediação: lunalva oliveira / relatoria crítica: bruno oliveira


relatoria:
mesas de diálogos
e transgressoes
DESCOLONIZAR A
EDUCACAO: PROPOSTAS DE
MEDIACOES LIBERTÁRIAS
E TRANSGRESSORAS -
RACISMO, BRANQUITUDE
E EUROCENTRISMO NO
DISCURSO DA EDUCACAO
E DAS ARTES*
com cristine takuá (sp), luara
carvalho (sp), mirella maria (sp)
e marcel cabral (sp)

29 - 11 - 17

como parte da programação da exposição junto de instituições disciplinares (foucault,


diálogos e transgressões, a mesa descoloni- 1987:198) que se ocupam da estruturação e
zar a educação - propostas de mediações manutenção de memórias e representações
libertárias e transgressoras acontece em sociais estáveis e homogêneas. a garantia do
momento mais que oportuno, necessário. o domínio sobre as narrativas do território e
programa da exposição curada por luciara sobre a cultura e a sociedade, em especial
ribeiro se faz pertinente para um momento no contexto latino-americano, foram (e ainda
em que nos encontramos resistindo aos inú- são) fundamentais para a organização dos
meros projetos e investidas no sucateamen- estados modernos e para a reverberação de
to e desmantelamento da educação pública sistemas de domínio, exclusão e extermí-
no brasil. neste sentido, o percurso traçado nio - eurocentrados, brancos, masculinos,
durante as falas de cristine takuá (sp), luara metropolitanos.
carvalho (sp) e mirella maria (sp) na mesa
mediada por lunalva oliveira (sp), apresen- é contra este sistema homogeneizante e
tou outros entendimentos da educação e de formatação das subjetividades que se
cultura, por meio de proposições potentes direciona a atuação e a fala de cristine
e plurais. takuá, filósofa e educadora indígena.
a escola, como instituição formal, é
todavia, é fundamental enunciar este relato relativamente recente nas comunidades
considerando o espaço de construção indígenas, ainda que a própria noção de
destes enunciados, o equipamento do sesc educação como formação dos sujeitos seja
santo amaro e o espaço da própria exposi- presente e estruturante. para a educadora
ção: os museus, galerias e os centros cultu- indígena existe um grande desafio no
rais, suas exposições, eventos e publicações, equilíbrio da educação tradicional e
assim como universidades e a disciplina aquela proposta pelo estado (a partir do
própria da história da arte, devem ser enten- decreto 6861/2009, que versa sobre a
didos como parte fundamental de um con- educação escolar indígena e a organização
dos territórios etnoeducacionais, regiões aponta para a complexidade da implantação
delimitadas para a aplicação de planos de outras pedagogias no contexto de uma
de ação para a educação, a partir de sociedade estruturalmente colonizada
povos conectados por relações sociais, e colonizadora. a partir dos princípios
históricas, políticas, econômicas, linguísticas anarquistas adotados no cursinho, a
e culturais), para além da construção de historiadora aproxima algumas perspectivas
currículos e cronogramas que se adequem apresentadas por takuá em sua fala
às práticas locais de cada território e constrói uma interlocução entre as
etnoeducacional: é preciso reconhecer duas pedagogias transgressoras, que
que a noção indígena de educação possuem, para ela, premissas fundamentais
parte de outros pressupostos. a escola de uma prática de liberdade (hooks,
na perspectiva ocidental tem objetivos 2013:25). a oposição ao capitalismo, a
específicos como a competitividade, a promoção da autonomia (pedagógica,
empregabilidade e de uma manutenção econômica e política), a horizontalidade
da ordenamento burguês ocidental do (desestruturação das hierarquias formais
espaço e da vida; a educação indígena, de ensino-aprendizagem), a ação direta, o
em contraste, se foca em que os jovens conhecimento crítico e o apoio mútuo (em
sejam felizes, tenham contato com a terra oposição à concorrência e competitividade)
e construam relações de respeito com si são alguns destes elementos que se
mesmo, o outro e o território. propõe a ampliar o horizonte de diálogo e
referências, com outras formas de pensar
em outras palavras, takuá afirma ser e estar no mundo. carvalho declara ainda
necessário um reconhecimento da que uma mudança estrutural é necessária
especificidade das culturas e de suas nas práticas pedagógicas para que se
epistemologias e sistemas de educação conformem como transgressoras e não
distintos. o sistema brasileiro de educação colonizadoras: precisamos nos observar e
falha justamente por reproduzir um sistema nos reconhecer, estudar a nós mesmos e
que perpetua a reprodução de imagens e nossas origens para que possamos propor
epistemologias homogêneas, eurocentradas outros modelos que não reproduzam as
e colonizadas sobre um território cujas opressões, apagamentos e invisibilizações
expressões são plurais e diversas. existem da hegemonia ocidental.
muitos saberes complexos que não
estão sendo enxergados, respeitados e a reflexão que a educadora e pesquisadora
reconhecidos. a educadora aponta ainda de artes visuais mirella maria conduz
para a necessidade de desconcretizar e posteriormente se inicia com uma
desfragmentar para se descolonizar: o citação do livro «tornar-se negro – as
conhecimento - e a felicidade, objetivo vicissitude do negro em ascensão social»,
central da educação indígena - não estão de neusa santos souza: «uma das formas
entre paredes de concreto e vidro, mas de exercer autonomia é possuir um
no contato com o outro e com a terra. discurso sobre si mesmo. discurso que
assim sendo, descolonizar a educação é se faz mais significativo quanto mais
abrir o pensamento para outras formas de fundamentado no conhecimento concreto
saberes, tendo como base o respeito e a da realidade» (souza, 1982:17). assim sendo,
transformação. reforça a relevância da positividade das
representações, se opondo diretamente
em seguida à fala de cristine takuá, a à hegemonia estrutural do capitalismo na
historiadora e educadora luara carvalho produção de narrativas, histórias e imagens
relata a experiência de formação do racistas, machistas e sexistas. recorrendo
cursinho livre da lapa, cuja atuação se a artistas canonizadas e canonizados
pauta na desnaturalização das opressões na história da arte como albert eckhout
e violências do espaço universitário e (holanda), jean-baptiste debret (frança) e
de construção do conhecimento. com johann moritz rugendas (alemanha), tarsila
princípios de educação libertária, a do amaral (brasil) e carybé (argentina/
experiência da formação pré-universitária brasil), aponta para o controle e domínio dos
corpos negros por suas representações, na contramão dos regimes de
mas também por políticas. é preciso homogeneização e totalitarismo, é essencial
reconhecer que a visualidade ocidental lutar contra o apagamento de violência
- e latino-americana - ainda se articula inerentes à hegemonia moderno/colonial
com a colonialidade e as representações ocidental e a garantir a descolonização da
estereotipadas e homogêneas dos sujeitos educação de forma constituir heterotopias e
e suas subjetividades. neste sentido, as o compartilhamento da diferença.
leis 10639/2003 e 11645/2008 que versam
respectivamente sobre o ensino de
história e cultura afro-brasileira e indígena,
apresentam um progresso possível, mas bruno oliveira
não são suficientes considerando que relator crítico
os conteúdos, professores e materiais
didáticos disponíveis não possuem leituras
críticas sobre o própria história geral e da
arte.

em outras palavras, a pesquisadora aponta


para um processo de descolonização que
está sobretudo na conformação de um olhar
crítico sobre o que está posto. não sendo
possível apagar a trajetória das violências,
é urgente fundamentar uma história crítica
e re-elaborar os sentidos e formas de
conhecimento, em perspectivas positivas
e não estereotipadas. ao propor o diálogo
para a reestruturação das narrativas, alinha-
se de forma potente com os enunciados
propostos por cristine e luara, frisando a
importância da constituição de processos
de autonomia, subversão e resistência.

por fim, para além das frequentes


apropriações e cooptações de sentido
engendradas pelo capitalismo e pela
hegemonia da cultura ocidental, o que
se apontou de forma sumária na mesa
descolonizar a educação foi a necessidade
de reconhecer como se articulam redes de
sentido e existência, educação e produção
de conteúdos, representação e visualidade foucault, michel. vigiar e punir: nascimento da
no contexto de populações e territórios prisão. petrópolis: vozes, 1987.
historicamente marginalizados e excluídos
das grandes narrativas. empreender hooks, bell. ensinando a transgredir: a educação
trajetos de ação compartilhados e plurais como prática de liberdade. são paulo: martins
que reflexionem desde a exterioridade fontes, 2013.
da epistemologia eurocentrada,
desprendendo-se do pensamento único palermo, zulma (ed.). para una pedagogía
tanto geo quanto corpopoliticamente decolonial. buenos aires: ediciones del signo,
(palermo, 2014). o exercício de 2014.
representação e visibilidade de sujeitos e
práticas em educação subalternizadas deve souza, neusa santos. tornar-se negro: ou as
se orientar, sobretudo, de forma a garantir a vicissitudes da identidade do negro brasileiro em
liberdade, emancipação e autonomia. ascensão social. rio de janeiro: graal, 1983.
ARTE, ATIVISMO,
MILITANCIA: COLETIVOS E
PROPOSTAS ALTERNATIVAS*
com erica malunguinho (aparelha
luzia - sp), iran giusti (casa 1 - sp),
queila rodrigues (fórum de cultura
da zona leste - sp) e denilson baniwa
(rádio yande - rj)

18 - 01 - 18

a segunda mesa da exposição diálogos e lunalva oliveira.


transgressões, com o tema arte, ativismo,
militância: coletivos e propostas alterna- para iran giusti, jornalista, o trabalho
tivas, aconteceu em um dia de greve do colaborativo se constitui uma premissa
sistema de transporte público municipal. o estruturante para projetos com populações
que se coloca em questão sequer se apro- subalternizadas e minorizadas. a experiência
xima dos dramas de deslocamento em uma de criação e gestão há um ano da casa 1,
cidade gigantesca: as sistemáticas precari- república de acolhida para jovens lgbt expul-
zações do trabalho e desmantelamento das sos de casa e centro cultural, localizados no
potências de vida de um elevado contingen- bairro da bela vista, demandou das pessoas
te populacional parece um nó fundamental envolvidas um olhar sensível ao entorno
para se pensar as proposições alternativas e o reconhecimento de suas demandas e de-
de coletivos de arte e ativismo. iniciar este sejos. se questiona, durante sua fala, sobre
relato neste ponto interessa pois diz ainda o propósito de um centro cultural, social e
sobre a complexidade da mobilização de de militância: deve o projeto ser válido e
identidades e territórios fragmentados e pertinente para apenas um grupo ou propor
sujeitados à uma série políticas que desar- conexões e diálogos com as coletividades, a
ticulação e desmobilização. neste senti- partir das diferenças? o entendimento desta
do, abordar as práticas que se situam na integração com o espaço circundante da
intersecção entre arte, ativismo e militância casa 1 é não somente possível e como neces-
como exercícios de busca de coesão comu- sário para que as pessoas acolhidas não
nitária, bem viver e pertencimento significa façam parte de mais um fluxo de exclusão
um representativo giro epistemológico, que, e distanciamento da vida comunitária e do
de forma muito expressiva, foi abordado território. destaca também que a bagagem
no debate proposto com a participação de trazida do campo da comunicação contri-
erica malunguinho, denilson baniwa, iran buiu para que o projeto fosse financiado
giusti e queila rodrigues e mediação de e mantido de forma coletiva, agenciando
muitas pessoas e grupos diversos em prol vozes e vidas. afirma ainda que a luta por
de uma causa. a escolha pela independên- sociedades mais justas é a única forma que
cia financeira das políticas públicas, neste se tem de garantir a existência das diferen-
momento, foi bastante consciente: o con- ças, sobretudo em um momento de grande
veniamento com o estado em um primeiro fragilização física e mental. é necessário, por
momento traria burocracias e alinhamentos fim, também se revolucionar internamente
à políticas que acredita serem inviáveis para para garantir a continuidade da luta.
lidar com grupos de pessoas lgbt em situa-
ção de vulnerabilização social, comumente em seguida, o artista e comunicador denil-
criminalizados e violentados pelas políticas son baniwa, discorre sobre sua experiência
de assistência social vigentes. com a rádio yandê. baniwa afirma, já de
início, que para ele não existe uma divisão
queila rodrigues, poetiza, colaboradora entre arte e política e que, quando se fala a
do grupo de coco semente crioula e do partir de um corpo indígena, todo discurso
sarau o que dizem os umbigos, apresen- é um campo de batalha pela visibilidade e
tou a experiência da articulação popular pelas narrativas que escapam às imagens he-
pela cultura na periferia da zona leste de gemônicas da população indígena como os
são paulo. por meio do agrupamento de selvagens nus que caminharam pela na flo-
movimentos de teatro e circo, já atuantes resta e praia ao encontro de cabral. a forma-
no território desde 2009, foi criado o fórum ção em comunicação o levou a refletir sobre
de cultura da zona leste em 2013, com o como levantar debates dentro dos veículos
objetivo de ampliar o entendimento dos es- hegemônicos: “não cabe o termo indígena
paços possíveis para a produção artística da dentro das pautas da grande mídia, que
periferia da cidade de são paulo. a reunião está essencialmente alinhada aos inimigos
de coletivos com vocações e experiências dos povos tradicionais, a elite urbana”. não
diversas contribuiu para a percepção de encontrando espaço na mídia tradicional,
suas diferenças e semelhanças e possibilitou optaram por criar um meio de comunicação
a construção de alguns focos de luta e sua próprio, chegando ao modelo radiofônico
articulação com outros espaços da cidade. justamente pela tradição indígena da orali-
o reconhecimento da zona leste como um dade. a partir deste ponto, se propuseram
território essencialmente jovem, negro e a criar um outro processo de comunicação,
feminino - identidades culturais frequen- batizado de etnomídia e que, diferente da
temente penalizadas pelos defensores da comunicação de massa, se ocupa com as
cultura hegemônica - estimulou, para rodri- demandas e características territoriais da
gues, a escrita de uma legislação cultural cultura e das comunidades. leva em conside-
estruturada a partir das bases comunitárias, ração, portanto, vários elementos culturais
pautada em uma reparação das políticas que são essenciais para o reconhecimento
oficiais: uma lei de fomento à cultura das pe- das especificidades comunicativas de cada
riferias. a peregrinação pelas periferias não grupo. o projeto da rádio yandê (termo do
somente da zona leste, mas de toda a cidade tupi antigo que significa nosso/nós/de todos)
de são paulo, bem como a convocação de traz à luz o cotidiano e as produções dos
diferentes agentes culturais à escuta e com- povos indígenas hoje, sem o estereótipo
partilhamento de suas pautas e processos, que é sustentado pelas grandes narrativas
possibilitou ao grupo do fórum de cultura nacionais.
da zona leste a escrita e a conquista desta
legislação contra narrativa. simbolicamente, erica malunguinho, deseducadora e mestre
a aprovação significa a apropriação de um em estética e história da arte, por sua vez,
espaço que não pertenceria à periferia - isso inicia a fala clamando liberdade para rafael
só foi possível por uma dedicação e esforço braga, jovem negro aprisionado e condena-
de muitas pessoas. para a poeta, também é do injustamente durante as manifestações
preciso frisar que “para ser ouvido pre- de 2013. rememora também outros casos
cisamos gritar muito, ao longo de muitos como os de verônica bolina, joão vitor e
anos” e que, por isso, muitas companheiras dandara, que fazem ver os motivos pela luta
e companheiros acabaram por perder suas cotidiana por sociedades justas e éticas.
para construir políticas, devemos antes de presente, de forma comum e integrada, foi
tudo mudar a forma de compreensão destes a condição permanente de reconstrução
direitos: erradas estão as leis e suas opera- de resistências à hegemonias e exclusões.
ções e a disputa deve se focar em reaver o ocupam-se, em suas diversas abordagens, de
que foi retirado dos sujeitos de direito que proposições instituídas por outras lógicas,
somos. garante ainda que o problema está não de vanguarda ou oposição, mas de
na política do sistema e não nas diferenças produção efetiva de uma ética da diferen-
e isso impacta de forma significativa no ça, que reconhece que transgressor é o
projeto de mundo que se quer construir projeto de mundo ocidental e hegemônico,
a partir da redistribuição e garantia das homogeneizante e superficial, excludente e
possibilidades de vida - uma espécie de violento - devemos nos pautar, por isso, pela
reintegração de posse do pertencimento de busca e garantia de coerência social e bem
todas e todos. o aparelha luzia, espaço idea- viver.
lizado e gerido por malunguinho desde 2016,
faz justamente esta cisão, delineando as
circunstâncias do que já está explícito para bruno oliveira
possibilitar a existência de um espaço de relator crítico
respiro para que a população negra possa
pensar outras (macro)políticas e projetos de
poder - não este do exercício de dominação
ao qual foram sujeitados historicamente,
mas aquele poder envolvido na potência
de vida e existência. o espaço tem núcleos
interdisciplinares e interseccionais que
atuam em áreas como educação (refletindo
sobre a construção de um currículo afro-
centrado), economia (elaborando processos
de circularidade do capital entre pessoas
negras), afetividade, saúde, religiosidade,
entre outros, que pautam projetos por
meio de uma compreensão não cartesiana,
que transcende o limite das inteligências
fragmentadas e ocidentalizadas. ao concluir,
parafraseia a fala de angela davis, filósofa
negra estadunidense: “as mulheres pretas
são a base da pirâmide. quando as mulheres
pretas se movem, o mundo inteiro se move
junto”.

ao fim das apresentações o que se pode


apreender é que as iniciativas de arte e
ativismo aqui apresentadas podem ser com-
preendidas como procedimentos críticos
que promovem outras possibilidades de
conformação dos territórios e discursos.
é necessário experimentar, estabelecer
táticas e estratégias para estruturas sociais,
políticas e econômicas. fazer, para os cole-
tivos que participam da mesa, é pensar. é
necessário, ainda, reconhecer que as vozes
presentes no debate são compostas por um
coro de projetos complexos, conformados
por uma miríade múltipla de identidades,
performances e enunciados. o que se fez
DESTERRITORIALIZANDO
A EDUCACAO - POR UMA
EDUCACAO DE TODOS E PARA
TODOS: SEM ESTEREÓTIPOS
E SEM FRONTEIRAS*
com adama konate (sp), veronica
quispe yujra (colectivo si yo puedo)
(sp), paulo silva (foz do iguaçu - pr
e sp), mano zeu (foz do iguaçu - pr)

07 - 02 - 18

a última mesa da exposição diálogos e trans- podemos afirmar que marcos estruturais das
gressões, com o tema desterritorializando narrativas sobre os continentes e povos in-
a educação - por uma educação de todos vadidos e colonizados pela europa do sécu-
e para todos: sem esteriótipos e sem fron- lo xvi se formaram no contexto da primeira
teiras foi composta por adama konate, ve- noção de território. o objetivo da produção
ronica quispe yujra, paulo silva e mano zeu de histórias, documentos, métodos e insti-
e teve a mediação de lunalva oliveira. para tuições estava relacionado com a expansão
uma melhor compreensão do debate pro- de um modo de dominação, apropriação e
posto, uma pequena investigação semântica controle do outro. será no contexto das dis-
pode ser interessante: para o geógrafo mil- putas contemporâneas sobre as identidades
ton santos (1999), as primeiras noções de ter- e narrativas históricas que se situam os deba-
ritório se constituem a partir da identidade tes sobre a desterritorialização da educação:
e exclusividade de determinada região, de desestabilizar e desconstruir estes conhe-
um domínio particular: estaria associada ao cimentos e discursos moderno/coloniais é
“sentimento de pertencer a aquele que nos fundamental, tendo a educação como parte
pertence” (santos, 1999:32). em outro mo- crítica da perpetuação de tais instrumentos
mento o território se articularia com as cons- de domínio.
truções dos estados-nação, nos quais a iden-
tidade não seria apenas absoluta, mas fruto paulo silva, estudante de história da américa
de uma construção histórica. em um terceiro latina pela unila (universidade federal da in-
momento, santos defende que este discurso tegração latino-americana), discorre em sua
sobre o território se voltaria ao processo de fala sobre a segregação promovida por espa-
internacionalização dos mesmos: os espaços ços de educação formal e a importância da
agora seriam concebidos em um campo de organização de iniciativas de educação por
forças múltiplas, com identidades instáveis, movimentos populares. incia o relato a par-
discutidas e disputadas todo o tempo. tir da necessidade de mudar de cidade para
estudar: saído do abc paulista, de uma famí-
lia de metalúrgicos, passa a morar em foz do este aprendizado da linguagem e da cultura
iguaçu (paraná) em busca de uma educação da branquitude e do poder também podem
pública gratuita e de qualidade. reconhece ser instrumentais para a defesa de direitos: é,
também que sua formação foi atravessada portanto, uma forma de desarmar o inimigo.
por iniciativas de formação organizadas por
grupos historicamente marginalizados, como por sua vez, adama konate, poeta e conse-
os movimentos punk, do hiphop e do samba. lheiro pelo conselho participativo de imi-
discorre também sobre o reconhecimento grantes, traz o relato da experiência de uma
da universidade como um espaço de classe educação em um território com várias línguas
e, por isso, a urgência de se identificar as diferentes, como é o caso de seu país natal,
maneiras pelas quais perpetua a segrega- mali. lá a educação formal apresenta uma
ção - processos de seleção, programas de barreira muito significativa: é prioritariamen-
ensino elitizados e a própria a precarização te em francês, enquanto a a população se
dos trabalhadores da instituição. ponderar comunica em outras línguas de acordo com
e atuar sobre estas questões é, sobretudo, a região. as e os estudantes começam a es-
uma transgressão deste território de poder cola tendo que aprender não apenas a ler e
do conhecimento. escrever, mas a significação de uma outra cul-
tura. para konate também é necessário que
à cargo da mediação do debate, lunalva oli- se entenda que são muitas as esferas de um
veira traz uma rica contribuição ao conside- processo de educação e ressalta que comu-
rar a palavra território (um domínio próprio, mente confundimos a falta de conhecimento
particular) e a necessidade de desterritoriali- sobre o outro, de seu território e vida com
zar a educação. em outras palavras, tirar uma preconceito, xenofobia e racismo. assim, a
territorialização, um território de conheci- educação seria um instrumento de conscien-
mento do outro. se refere, por exemplo, ao tização e respeito sobre a diversidade.
caso de tantos estudantes, que se mudam de
cidade e estado para acessar uma instituição veronica quispe yujra, representante do
de ensino de qualidade. também aponta para coletivo si yo puedo, reflete sobre os mo-
as histórias que foram desterritorializadas de delos de educação que perpetuamos e que
povos subalternizados - e que só são acessí- ainda reverberam os modelos europeu e
veis para as pessoas deste novo território de estadunidense, com especializações e dis-
poder. questiona, por fim, quantos aspectos ciplinas separadas. entendendo que esta é
identitários particulares não são negados por uma compreensão moderna e colonizada do
terem sido territorializados por outras pes- conhecimento, deve-se prezar por práticas
soas? de educação que tenham como foco a for-
mação de sujeitos críticos. o que frequente-
em seguida, mano zeu, também morador da mente acontece com o modelo hegemônico,
tríplice fronteira, declama um poema sobre o de acordo com yujra, é que ele reafirma uma
projeto de construção da segunda ponte en- posição passiva e verticalizada do direito à
tre brasil e paraguai. neste sentido, estabele- educação, quando a compreensão deve ser
ce uma analogia sobre as relações de poder sobretudo de uma construção conjunta: é
no campo dos territórios do conhecimento, necessário orientar este direito. em outro
ao perguntar: “quem é que manda, quem é aspecto, quando falamos de uma educação
que carrega?”. como representante do co- libertadora precisamos falar sobre a carta de
letivo no hay frontera, de hip hop, literatura direitos humanos para sobretudo promover
e militância, discorre sobre esta frequente uma formação para a multiculturalidade e e
imagem de uma sala de aula tradicional - pro- equidade. ao abordar o direito de migrar e
fessoras e professores em um pedestal, es- de desterritorializar a educação considera-
crevendo na lousa, e estudantes de cabeça mos, discutimos e possibilitamos a compre-
baixa nas carteiras, organizadas cartesiana- ensão dos direitos humanos e da diferença
mente - e que faz ver um modelo de edu- do outro. uma educação libertadora é, assim,
cação perpetua uma estrutura colonial de aquela que não tem território exclusivo, he-
poder, de domínio do conhecimento e das gemônico, respeitando as culturas e os direi-
narrativas do outro. por outra perspectiva, tos humanos: mundializada ao invés de glo-
balizada. não deve sobre privilégio ou direito,
mas sobre humanidade.

ainda que seja um dos objetivos de desenvol-


vimento do milênio, compromisso adotado
pelas nações unidas nos anos 2000, a com-
preensão de que a educação deve se pautar
a partir de outros padrões ainda está longe
de ser concreta. ainda que de forma preca-
rizada, o modelo que é perpetuado segue
estruturas masculinas, brancas, heternor-
mativas e urbanas: colonizatórias. refletindo
sobre os projetos e debates apresentados
neste debate, é importante, ao fim, manter
no horizonte a pergunta: como são os territó-
rios que constituímos por meio da educação?

santos, milton. el territorio: un agregado de


espacios banales. in: moya, miguel panade-
ro; abellán, francisco cebrián. américa latina:
lógicas locales, lógicas globales. cuenca: uni-
versidad de castilla-la mancha, 1999.

bruno oliveira
relator crítico
Serviço Social do Comércio
Administração Regional no Estado de São Paulo

Presidente do Conselho Regional


Abram Szajman
 
Diretor do Departamento Regional
Danilo Santos de Miranda

Superintendentes
Técnico Social Joel Naimayer Padula Comunicação
Social Ivan Paulo Giannini Administração Luiz Deoclécio
Massaro Galina Assessoria Técnica e de Planejamento
Sérgio José Battistelli

Gerências
Artes Visuais e Tecnologia Juliana Braga de Mattos
Adjunta Nilva Luz Assistentes Carolina Barmell e Kelly
Teixeira Artes Gráficas Hélcio Magalhães Adjunta Karina
Musumeci Assistentes Rogério Ianelli e Érica Dias

Sesc Santo Amaro


Gerente Claudia Darakjian Tavares Prado Adjunta Vânia
Rangel dos Santos Programação Alexandre Caversan
Simonelli (coordenador), Jacy Helena Almeida Silva
Alimentação Ana Luiza Souza Correia Infraestrutura
Marcos Adriano C Barros Comunicação Juliana Claudia
Gardim Serviços Simone C. C. Fonseca Administração
Vanessa Zago

Diálogos e transgressões
Curadoria Luciara Ribeiro Produção Colchete Projetos
Culturais e Luanah Cruz Expografia Isa Gebara Projeto
Gráfico Rafael Simões Montagem Cenotech Cenografia
Educativo Roberta Browne

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