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Pequenos estudos bíblicos

Lucas

O objetivo deste estudo é dar a conhecer, em linguagem simples e


acessível, alguns detalhes de algumas perícopes do Evangelho
segundo Lucas, que sejam proveitosas à caminhada da comunidade
como um todo e da cada um em particular.
Curiosidades sobre Lucas
Ele é o único que fala de si mesmo, ainda que discretamente (At
16,10-17; 20,5), colocando-se na missão, muito provavelmente junto
a Paulo.
Lucas é considerado o melhor narrador do Novo Testamento.
Escreve de maneira elegante, linear, repete poucas coisas, especifica
e acrescenta certos detalhes.
É bom conhecedor das Escrituras; sabe os Evangelhos de Marcos
e Mateus profundamente. Esses dois Evangelhos serviram de
material base para ele escrever sua versão.
É o evangelista que narra mais parábolas. Tem cuidado na escolha
das palavras. Lucas imita muito o grego da Setenta; isso dá uma ideia
de continuidade entre o Antigo e o Novo Testamentos.
A Tradição afirma que Lucas foi médico e que era da Antioquia
da Síria (é a atual Antakya – distrito situado ao sudeste da Turquia,
na fronteira com a Síria).
Lucas coloca os anauím (discriminados, doentes, mulheres,
crianças, todos os que passam necessidade) como protagonistas de
muitas passagens. Foi para eles que Jesus veio (Lc 4,17-21).

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Evangelho da Infância
A partir de agora, vamos começar a analisar atentamente algumas
passagens, iniciando pelo Evangelho da infância. Nessa parte,
prestemos atenção nas frases e palavras que chamam a atenção, nos
personagens que estão ao redor do nascimento de Cristo e suas
relações com ele.
O anúncio do nascimento de João Batista (Lc 1,5-25)
5Nos dias de Herodes, rei da Judéia, houve um sacerdote
chamado Zacarias, da classe de Abias; sua mulher, descendente
de Aarão, chamava-se Isabel. 6Ambos eram justos diante de
Deus e, de modo irrepreensível, seguiam todos os
mandamentos e estatutos do Senhor. 7Não tinham filhos,
porque Isabel era estéril e os dois eram de idade avançada.
8Ora, aconteceu que, ao desempenhar ele as funções
sacerdotais diante de Deus, no turno de sua classe, 9coube-lhe
por sorte, conforme o costume sacerdotal, entrar no Santuário
do Senhor para oferecer o incenso. 10Toda a assembleia do
povo estava fora, em oração, na hora do incenso. 11Apareceu-
lhe, então, o Anjo do Senhor, de pé, à direita do altar do
incenso. 12Ao vê-lo, Zacarias perturbou-se e o temor apoderou-
se dele. 13Disse-lhe; porém, o Anjo: "Não temas, Zacarias,
porque a tua súplica foi ouvida, e Isabel, tua mulher, vai te dar
um filho, ao qual porás o nome de João. 14Terás alegria e
regozijo, e muitos se alegrarão com o seu nascimento. 15pois
ele será grande diante do Senhor; não beberá vinho, nem
bebida embriagante; ficará pleno do Espírito Santo ainda no
seio de sua mãe 16e converterá muitos dos filhos de Israel ao
Senhor, seu Deus. 17Ele caminhará à sua frente, com o espírito
e o poder de Elias, a fim de converter os corações dos pais aos
filhos e os rebeldes à prudência dos justos, para preparar ao
Senhor um povo bem disposto". 18Zacarias perguntou ao Anjo:
"De que modo saberei disso?" Pois eu sou velho e minha
esposa é de idade avançada". 19Respondeu-lhe o Anjo: "Eu sou

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Gabriel; assisto diante de Deus e fui enviado para anunciar-te"
essa boa nova. 20Eis que ficarás mudo e sem poder falar até o
dia em que isso acontecer, porquanto não creste em minhas
palavras, que se cumprirão no tempo oportuno". 21O povo
esperava por Zacarias, admirado com sua demora no Santuário.
22Quando ele saiu, não lhes podia falar; e compreenderam que
tivera alguma visão no Santuário. Falava-lhes com sinais e
permanecia mudo. 23Completados os dias do seu ministério,
voltou para casa. 24Algum tempo depois, Isabel, sua esposa,
concebeu e se manteve oculta por cinco meses, 25dizendo: "Isto
fez por mim o Senhor, quando se dignou retirar o meu opróbrio
perante os homens!".

Para refletir:
1. Que frase ou palavra me chamou mais a atenção?
2. Quem são os personagens da perícope? O que o texto nos
revela sobre eles?
3. O que o Evangelista Lucas quer nos transmitir narrando esse
acontecimento?
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Zacarias e Isabel (Lc 1,5-7).
O evangelista nos mostra que os pais de São João Batista eram de
família sacerdotal e justos diante Deus. Um casal exemplar para a
comunidade; cristãos (mesmo antes de Cristo nascer)
verdadeiramente sal da terra e luz do mundo. Duas pessoas boas que
esperavam a salvação de Deus para o povo de Israel, apesar de todo
contratempo.
Um drama cruel pairava sobre eles: eles não tinham nenhum
filho, e já eram de idade avançada. Embora o Evangelista não trate a
esterilidade como algo tão grave assim, essa enfermidade de Isabel
pesava muito na vida do casal; pois aquela sociedade não via com
bons olhos um matrimônio sem filhos. Para eles, era uma maldição
se isso acontecesse.
Parece haver uma contradição: como pode um casal tão justo e
obediente na fé passar por tamanho sofrimento? Os dois certamente
foram vítimas de olhares desconfiados, maledicências e fofocas,
sendo que podiam pensar que escondiam algum pecado e a
esterilidade de Isabel seria então um castigo dado por Deus. Fato é
que essa situação roubava a alegria. Como teria sido a vida deles até
aquele momento?
Mantiveram-se fiéis! Entregaram-se a Deus apesar do
inconveniente. E esperaram. Cabe destacar que Zacarias e Isabel
representam o povo da Antiga Aliança, que há muito tempo não via
mais nenhuma manifestação divina; nem sequer ouvia um profeta,
como os antigos, que lhes falasse em nome de Yahweh para lhes
fortalecer a esperança na libertação do povo.
Mas eles mantiveram-se fiéis! No Silêncio divino, eles foram voz
de esperança e confiança pela vida que levaram.

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O anúncio do anjo Gabriel (Lc 1,11-20)
Algo surpreendente acontece: o casal vai ter um filho. O anjo de
Deus traz a maravilhosa notícia de que a súplica daquele
amedrontado sacerdote foi ouvida. Deus realiza um feito sublime na
vida de Zacarias e Isabel; o casal que talvez já havia aceitado o
amargo destino recebem um milagre. Esse milagre é João, nome que
significa ‘Deus é favorável’. E, com João, alguém muito maior.
Deus foi favorável aos dois e a todo o povo da antiga Aliança. As
profecias estavam se cumprindo. Enfim o tempo favorável chegou, e
o Precursor do Messias estava às portas. Zacarias recebe uma Boa
Nova tão grande que talvez nem percebesse o tamanho do bem que
estava por vir. Diante disso, o pobre homem titubeou e pediu um
sinal; para ele era difícil acreditar em tudo aquilo dadas as
circunstâncias pessoais. Foi punido com mudez.
A palavra do anjo se cumpriu e Isabel concebeu. Ao contrário do
comum – ainda mais no caso dela – ela se manteve oculta; não sem
alegria, mas guardando aquele bem entre os dois e algumas pessoas
próximas. Isabel cobriu esse mistério até que Maria o descobrisse.
O Evangelista Lucas narra uma belíssima história, muito parecida
com algumas do Antigo Testamento. Fato é que Lucas escreve o
nascimento de João Batista fazendo um paralelo com o nascimento
de Isaac, filho de Abraão, dado a ele e Sara, que também era estéril e
de idade avançada (Gn 18,9-16). o nascimento de João Batista
também pode ser comparado ao de Samuel, filhe Elcana e Ana (1Sm
1,1-20). Com isso, dá a entender que Jesus, e os eventos ao seu redor,
está em continuidade com o que Deus vinha realizando na história do
povo de Israel.

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Esse recurso do paralelo serve para dizer que o menino que ia
nascer seria grande, especial e de fundamental importância no projeto
de Deus, assim como todos os casos de nascimento semelhante ao
dele: Isaac, Sansão (Jz 13,1-5), Samuel.
O anúncio do nascimento de Jesus (Lc 1,26-37)
Imediatamente após o anúncio do nascimento de João temos o de
Jesus. É da intenção do autor colocar os dois em paralelo no começo
de seu livro; não um paralelo entre histórias do passado ou
personagens distantes, mas entre personagens bem próximos
(parentes até) em vista de dizer quem é quem e não fazer confusão
quanto às missões particulares de cada um.
Eis a perícope:
26No sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma
cidade da Galiléia, chamada Nazaré, 27a uma virgem desposada
com um varão chamado José, da casa de Davi; e o nome da
virgem era Maria. 28Entrando onde ela estava, disse-lhe:
"Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo!" 29Ela ficou
intrigada com essa palavra e pôs-se a pensar qual seria o
significado da saudação. 30O Anjo, porém, acrescentou: "Não
temas, Maria! Encontraste graça junto de Deus. 31Eis que
conceberás no teu seio e darás à luz um filho, e tu o chamarás
com o nome de Jesus. 32Ele será grande, será chamado Filho
do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu
pai; 33ele reinará na casa de Jacó para sempre, e o seu reinado
não terá fim". 34Maria, porém, disse ao Anjo: "Como é que vai
ser isso, se eu não conheço homem algum?"35O anjo lhe
respondeu: "O Espírito Santo virá sobre ti e o poder do
Altíssimo vai te cobrir com a sua sombra; por isso o Santo que
nascer será chamado Filho de Deus. 36Também Isabel, tua
parenta, concebeu um filho na velhice, e este é o sexto mês
para aquela que chamavam de estéril.37Para Deus, com efeito,
nada é impossível." 38Disse, então, Maria: "Eu sou a serva do

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Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra!" E o Anjo a
deixou.
Para refletir:
1. Que frase ou palavra me chamou mais a atenção?
2. Quem são os personagens da perícope? O que o texto nos
revela sobre eles?
3. O que o Evangelista Lucas quer nos transmitir narrando esse
acontecimento?
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José e Maria
Da mesma forma que Zacarias e Izabel são colocados como um
casal de justos diante de Deus, assim acontece com José e Maria.
Conforme Lucas, os pais de Jesus são apresentados como sendo da
descendência de Davi, principalmente José (Lc 1,27). Muito pouco
nos é falado a respeito de José, mas isso não faz dele um personagem
menos importante na história da infância de Cristo. Nos capítulos
seguintes encontramos mais passagens em que José se encontra.
Nessa narração, o anjo anuncia diretamente à mãe do menino que
vai nascer e não ao pai, assim como no caso de Sansão. A primeira
coisa que o anjo diz a Maria é “alegra-te” evocando mais uma vez o
tema da alegria que já vimos em Isabel.
Nos dois relatos de anunciação, é comum o anjo dizer para o
interlocutor não ter medo e acolher o que vai ser dito. Esse
acolhimento é mais perfeito em Maria do que me Zacarias, que
duvidou e foi punido. Maria não impôs nenhuma dúvida de
descrença no poder de Deus; ela não pediu nenhum sinal que
provasse o que o anjo tinha dito, ainda que isso lhe tenha sido dado.
Maria é apresentada como aquela que está aberta à revelação.
O anjo fala bem menos de Jesus do que de João: diz que os dois
serão grandes; de Jesus diz que será chamado Filho do Altíssimo, e
que lhe será dado o trono de Davi, isto é, todo o Israel.

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