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Dá para dar

Quaresma 2021 – Retiro online com Santa Teresa de Jesus: Caminhar de Morada em Morada

Evangelho: Mt 6,1-18
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discí-
pulos: “Guardai-vos de fazer as vossas boas
obras diante dos homens, para vos tor-
nardes notados por eles. De outro modo,
não tereis nenhuma recompensa do vosso
Pai que está nos céus. Quando, pois, deres
esmola, não permitas que toquem a trom-
beta diante de ti, como fazem os hipócritas
nas sinagogas e nas ruas, para serem louva-
dos pelos homens. Em verdade eu vos digo:
já receberam a sua recompensa. Quando
deres esmola, que tua mão esquerda não
saiba o que faz a direita, a fim de que a
tua esmola permaneça em segredo; e teu
Pai, que vê o oculto, premiar-te-á. Quando
orardes, não sejais como os hipócritas, que
gostam de rezar de pé nas sinagogas e nos
cantos das ruas, para serem vistos pelos
homens. Em verdade vos digo: já recebe-
ram a sua recompensa. Tu, porém, quando
orares, entra no teu quarto mais secreto e,
fechada a porta, reza em segredo a teu Pai,
pois Ele, que vê o oculto, há de recompen-
sar-te. E, quando jejuardes, não mostreis
um ar sombrio, como os hipócritas, que
desfiguram o rosto para que os outros ve-
jam que jejuam. Em verdade vos digo que
esses já receberam a sua recompensa. Tu,
porém, quando jejuares, perfuma a cabeça
e lava o rosto, para que o teu jejum não
seja conhecido dos homens, mas de teu Pai
que está presente no oculto; e teu Pai, que
vê no oculto, recompensar-te-á.”

«Dá para dar, não esperes a recompensa;

implora a Deus no segredo, não procures a
recompensa; amar para amar, eis a tua re-
compensa!» Este texto inspirado no Evan-
gelho de entrada na Quaresma, com o seu
convite à discrição, pode dar o «tom» da
nossa Quaresma. Encorajados pelo am-
biente reinante de controlo e de procura
da eficácia, arriscamo-nos, de facto, a fa-
zer da Quaresma um percurso de «perfor-
mance» espiritual que seríamos capazes de
avaliar. De facto, se a Quaresma é um tem-
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po de conversão e, neste sentido, de aper-
feiçoamento espiritual, humano, moral, é
para viver antes de mais para Deus, porque
Deus é Deus. O resto será dado “por acrés-
cimo”. Isto pode dar-nos muito entusiamo e
liberdade para viver a «santa quarentena».
«Quarentena»: é uma palavra que pode res-
soar negativamente a muitos, porque tem
tão sido usada na nossa atualidade sanitária
perturbada, mas aqui trata-se de um «por
à parte» o nosso coração, o nosso horário,
alguns dos nossos hábitos, guardando-nos
para o Senhor, para O amar e O deixar agir.

1. Santa Teresa de Jesus

(1515-1582)

Teresa de Cepeda y Ahumada

nasce em Espanha a 28 de março
de 1515, numa família confortável de Ávi-
la: é a terceira de nove filhos. Com a idade
de 20 anos, apesar da oposição do seu pai,
entra no Carmelo da Encarnação. Descobre
a oração, mas atravessa uma dilaceração
interior entre a lógica do mundo e o cha-
mamento a dar-se totalmente a Deus: isto
dura 20 anos. É aos 39 anos que vive uma
conversão diante duma representação de
Cristo na sua Paixão: experimenta em pro-
fundidade o amor de Jesus e o seu coração
sente-se sacudido. Uma vida nova começa
para Teresa, a de Deus nela.
Mulher trabalhada pelas tensões da sua
época (divisão da Igreja, descoberta das
Américas, suspeitas da Inquisição, …) Teresa
escrutina estes sinais dos tempos e procu-
ra como servir o Senhor com mais amor.
Impulsionada pelo Espírito Santo, funda em
1562 um novo mosteiro, centrado na vida
de oração ao serviço da Igreja: as carme-
litas descalças de São José de Ávila. Toma
então o nome de Teresa de Jesus. É o início
de uma grande aventura, pois virá a fun-
dar outros dezasseis mosteiros em toda a
Espanha e inicia um ramo masculino viven-
do o mesmo espírito, com a ajuda de João
da Cruz. Dá assim nascimento a uma nova
família religiosa, o Carmelo descalço. Du-
rante estes anos Teresa leva uma vida inten-
sa e provada no meio das suas fundações:
deslocações, negociações, oposições, cor-
respondência, … Dá-se totalmente à obra
do Senhor até ao fim e deixa esta vida em
Alba de Tormes, a 4 de outubro de 1582.
Nos seus escritos, Livro da Vida, Caminho
de Perfeição, Castelo Interior, Fundações,
etc. a Madre revela-nos a sua experiência
espiritual tendo como eixo a oração, que
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ela apresenta como uma amizade com Je-
sus. Esta aventureira de Deus desbrava por
esse caminho as terras novas da interiori-
dade e da intimidade divina para nos aju-
dar a pôr Cristo Jesus no centro da nossa
vida. A sua influência humana, literária e
espiritual é considerável. Teresa é canoni-
zada em 1622 e em 1970 é a primeira mul-
her a ser declarada doutora da Igreja, com
o título de «Mãe dos espirituais».

2. 6 Evangelhos, um Castelo com

7 moradas e 3 lugares de ação
para uma Quaresma
O retiro desta Quaresma 2020 vai ser teci-
do de três fios. Os Evangelhos de domingo
oferecem um percurso bíblico rico e estru-
turado: neste ano B do lecionário são tira-
dos de São Marcos e de São João.
O segundo fio deste retiro é o percurso que
Santa Teresa d’Ávila traça no seu livro das
Moradas ou «Castelo Interior». Em 1577,
quando a sua obra fundacional parece ani-
quilada, Teresa escreve a obra da sua ma-
turidade a qual, tomando a imagem de um
castelo com numerosas moradas, descreve
o percurso da alma do mais exterior das
primeiras moradas até à morada mais inte-
rior, a sétima, onde reside o Rei. Cada eta-
pa do nosso retiro de Quaresma se refe-
rirá a uma morada, propondo excertos que
serão a oportunidade de uma descoberta
para uns, ou de ler mais para outros. Nós
utilizaremos a tradução da madre Maria
do Sacramento (editada na Cerf em 1990).
Sete partes (as sete moradas) incluem cada
uma entre um e onze capítulos. Referire-
mos, por exemplo, 4 M 2,3 para designar o
terceiro parágrafo do segundo capítulo das
quartas moradas. Podereis constatar como
o percurso das moradas e o do lecionário se
cruzam de uma maneira feliz. Esta foi uma
das minhas descobertas, ao preparar este
retiro! Evidentemente não se trata de for-
çar as coisas, nem de estabelecer concor-
dâncias pré-feitas. Teresa não conhecia o
nosso lecionário do ano B e o lecionário não
foi elaborado a partir do Livro das Moradas.
Mas um percurso pascal tem as suas coisas
incontornáveis. Note-se contudo, que mu-
dei - uma vez apenas -, a ordem das mora-
das, por causa do lecionário: assim leremos
as segundas moradas antes das primeiras.
Finalmente, o terceiro fio que tece o nosso
retiro: o Evangelho da quarta-feira de cin-
zas recorda três obras de misericórdia tra-
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dicionais: a esmola, a oração e o jejum. O
sentido do Evangelho é convidar à gratui-
dade «dando para dar», orando para orar
e jejuando para o Senhor. Estes domínios
são indeclináveis numa vida cristã porque
tocam em três relações essenciais: com o
próximo (esmola), com Deus (a oração) e
consigo mesmo (o jejum). Amor ao próximo,
descoberta do Rosto de Deus e trabalho
pessoal podem constituir as linhas de ação
para esta Quaresma sem, no entanto, cair
na tortuosidade já mencionada da «perfor-
mance». A cada etapa do retiro, no fim da
meditação, faremos uma avaliação a partir
destes três domínios que, de alguma forma,
encontraremos sempre. Estes são «lugares
de ação» mas também de contemplação da
obra de Deus, e de conversão.
As nossas meditações compreenderão en-
tão três partes, correspondendo aos três
fios apresentados. E para cada dia, uma ci-
tação escolhida pelas nossas Irmãs Carme-
litas de St Maur acompanhará dia a dia este
itinerário.

3. Alguns dias de táxi

A quarta-feira de cinzas e os dias a seguir
que nos encaminham para o primeiro do-
mingo da Quaresma, primeira etapa verda-
deira do nosso percurso, constituem como
que uma rampa de lançamento ou a fase do
táxi, utilizando o vocabulário dos aeropor-
tos: trata-se do percurso no solo do avião
do seu lugar na pista até à pista de desco-
lagem. Chamam-nos a atenção para diver-
sos «equipamentos» necessários à nossa
Quaresma: a gratuidade (quarta-feira), a
oração (quinta-feira), o jejum (sexta-feira),
a caridade (sábado).
Boa entrada na Quaresma e até breve
para a nossa primeira etapa!

O programa do retiro
Ao longo das semanas da Quaresma, Santa
Teresa conduzir-nos-á de morada em mora-
da para nos preparar a viver a grande noite
da Páscoa e entrar na morada mais interior:
• 1ª. Semana: No meio dos animais selvagens e
dos anjos
• 2ª. Semana: Escutai-O
• 3ª. Semana: Até ao coração
• 4ª. Semana: A grande lida
• 5ª. Semana: Entrar no mistério da Cruz
• Semana santa: Viver o mistério da Cruz
• Páscoa: «Era preciso que Jesus ressuscitasse
dos mortos»
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Indicações práticas
Recebereis cada sexta-feira de Quaresma
uma mensagem eletrónica com um resu-
mo áudio e um documento de 4-5 páginas
para fazer download:
• Uma meditação sobre o Evangelho de
domingo
• Uma apresentação de uma das sete mo-
radas do Castelo Interior de Santa Teresa
• Curtas citações ilustradas para viver cada
dia com a Escritura e Teresa de Jesus
Boa entrada na Quaresma!
Fr. Guillaume Dehorter (convento d’Avon)

Orar cada dia da semana

Quarta-feira de Cinzas:
Das cinzas à ressurreição

«Guardai-vos de fazer as vossas boas obras diante dos

homens, para vos tornardes notados por eles.» Mt 6,1

Deus é a suma Verdade, e a humildade é andar na ver-

dade. E é muito grande verdade não termos coisa boa
de nós mesmos, senão a miséria e sermos nada; e, quem
isto não entende, anda em mentira. Quem melhor o
entende, mais agrada à suma Verdade, porque anda
nela. (6 M 10,7)

A caminho da Páscoa, guiados por Teresa d’Ávila, siga-

mos a Cristo, Caminho, Verdade e Vida!

Quinta-feira de Cinzas: Escolhe a vida!

« Les Pèlerins d’Emmaüs » Rembrandt, 1648

Escolhe a vida, para viveres, tu e a tua posteridade, aman-

do o Senhor, teu Deus, escutando a sua voz e aderindo
a Ele. (Dt 30,19)

Sua Majestade não nos pode fazer maior favor que em

dar-nos vida que seja imitando a que viveu Seu Filho tão
amado. (7 M 4,4)

Decido alegremente ter, em cada dia da Quaresma, um

momento de encontro mais pessoal com Cristo.
Sexta-feira de Cinzas: Entrar no deserto

O jejum que me agrada é este: quebrar as cadeias injus-

tas… repartir o teu pão com o faminto, dar pousada aos
pobres sem abrigo, levar roupa aos que não têm que
vestir e não voltar as costas ao teu semelhante. (Is 58,6-
7)

O Senhor quer obras; e, se vês uma enferma a quem

podes dar algum alívio, não se te dê nada de perder essa
devoção e te compadeças dela; e se tem alguma dor, te
doa a ti também; e se for preciso, jejua, para que ela
coma… Esta é a verdadeira união com Sua vontade (5 M
3,11)

Senhor, abre os meus olhos, abre as minhas mãos, abre

o meu coração aos teus pedidos ao longo deste dia e
dá-me a força de lhes responder.

Sábado de Cinzas:
Andar em sua Presença

Se deres pão ao faminto, e saciares a alma do pobre, a

tua luz brilhará na escuridão, e as tuas trevas tornar-se-
ão como o meio-dia. (Is 58,10)

Bendito seja para todo o sempre Aquele que nisto me

esclareceu. É Ele sempre que me inspira quando em al-
guma coisa acerto. (F 29,24)

Senhor, que a tua Palavra ilumine o meu caminho e o de

todos os que trabalham por mais justiça e paz no mundo.

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