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A CENTRALIDADE DA POLÍTICA DE
ASSISTÊNCIA SOCIAL E O SERVIÇO DE
ACOLHIMENTO FAMILIAR
Rio de Janeiro
2011
ii
Rio de Janeiro
2011
iii
FICHA CATALOGRÁFICA
UFRJ, 2012.
154 f.
Social, 2012.
CDD:361.7
iv
v
______________________________
_____________________________
_____________________________
Rio de Janeiro
2011
vi
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus, por guiar e proteger a mim e a minha família em todos os dias
de nossas vidas.
Agradeço aos meus pais Elizabeth e Sérgio, por me ensinarem através dos seus
exemplos que o essencial na vida são laços de amor e fraternidade que nos movimentam.
A minha irmã Simone Lessa, essencial na minha vida. Palavras jamais conseguirão
A minha avó Janete, exemplo de vida, meu espelho. Com o seu jeito doce, me
ensinou que para enfrentar a vida precisamos ser fortes, mas sem esquecer a humildade.
Agradeço também a meu avô Paulo (in memorian), fonte de inspiração, exemplo de
humildade e caráter. Tenho certeza da sua presença a nos orientar e nos proteger.
As minhas tias, em especial tia Paula e tia Márcia pelo carinho, por sempre
vida.
Agradeço a minha amiga e irmã “gêmea” Ana Carolina Nunes Ferreira. Os laços
sanguíneos não seriam suficientes para descrever o afeto e o respeito que eu tenho por
ela. Com certeza não conseguiria concluir esta dissertação sem o seu apoio. Aprendo e
Agradeço a minha orientadora Janete Luzia Leite, nosso porto seguro acadêmico,
que apesar de conhecer minhas limitações, não me deixou desistir de concluir esta
profissional, mas principalmente meu crescimento pessoal. A ela também, dedico todo
meu reconhecimento e admiração, não somente por ser uma excelente profissional, mas
por ser uma pessoa maravilhosa. Pela sua eficiência, lucidez, clareza, profissionalismo, e
pelas suas colocações sempre bem feitas, que me fizeram crescer muito.
viii
confiança e carinho.
Aos amigos, Rodrigo Silva e Gisele Alcântara, que apesar da distância, sempre
palavras.
trabalho.
aceitarem fazer parte da banca examinadora, as quais deram grandes contribuições para
Órfãos do Paraíso
Milton Nascimento
Basta de escuro
Espadas de fogo
RESUMO
ABSTRACT
This dissertation has as object the Service of Familiar Shelter foreseen in the
PNAS/SUAS through the analysis of the reasons (motivations) that led the shelters to
get involved with this Service. Therefore, we seek to understand the turn of the
Politics of Social Assistance in Brazil, established in the Constitution of 1988, in the
current programs and social services, under the aegis of neoliberalism.
Methodologically, we conducted a literature review inspired in the critical social theory
that treats on the capitalism and public social policies, notably the thought of José
Paulo Netto, Elaine Behring, Ivanete Boschetti and Ana Elizabeth Mota. Regarding the
debate about family and the familiar shelter of children and adolescents, we will use as
theoretical milestone Regina Mioto, Potiara Pereira, Rachel Batista and Irene Rizzini.
Half-structuralized interviews to the shelters registered and qualified in the Service
of Shelter of the City Hall of Rio de Janeiro were conducted as an instrument of data
collection. We assumed that changes in the Social Assistance Policy in the context of
neoliberalism empty the orphanages through the Service of Familiar Shelter, however,
on the other hand, do not provide gateway to this part of the user population. This
example can be generalized to other social assistance policies. Under neoliberalism, the
family begins to be seen as important private agent of social protection. For this
reason, the State shall encourage family support measures through programs and
services that encourage proactive and autonomous movement to maintain its family
welfare through the so-called "self-protection". Thus, the family has been "summoned"
as a central component substituting the State in the provision of goods and services.
xii
xiii
LISTA DE TABELAS
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
GRÁFICOS
GRÁFICO 1. Sexo dos acolhedores 116
GRÁFICO 2. Estado civil dos acolhedores 117
GRÁFICO 3. Faixa etária dos acolhedores 118
GRÁFICO 4. Escolaridade dos acolhedores 119
GRÁFICO 5. Religião dos acolhedores 120
xv
LISTA DE SIGLAS
AP Área Programática
BM Banco Mundial
LA Liberdade Assistida
MP Medida Provisória
NUPEQUESS Núcleo de Pesquisa e Estudos em Política Pública, "Questão Social" e Serviço Social
OS Organização Social
RA Região Administrativa
SUMÁRIO
Introdução 16
atualidade 55
Anexos
16
INTRODUÇÃO
E
sta Dissertação consiste numa pesquisa realizada sob orientação
acolhimento familiar.
orfanatos, através do Serviço de Acolhimento Familiar, por outro lado, ela não
oferece porta de saída para esta parcela da população usuária. Fator que pode
proteção social. Por esta razão, o Estado passa a estimular medidas de apoio
referencial da teoria social crítica para a análise das políticas sociais públicas, e
Assistência Social, pois o foco de atenção não é o individuo isolado, mas inserido
CAPÍTULO 1
No
século XVIII inaugura-se o período de emersão e crescimento
cultura burguesa, esta passa por dois momentos: até 1848, no qual os ideólogos
“questão social”.
Ou seja,
1
A Revolução de 1848 coloca a luta de classes em um novo patamar; as lutas operárias assumem consciência
do antagonismo entre burguesia e proletariado. O movimento operário ganha força política através da
primeira e segunda Internacionais – (Associação Internacional dos Trabalhadores 1864-1876 e
Internacional Socialista 1889 entrou em crise em 1914), o movimento sindical se estrutura juntamente com
os partidos políticos operários – socialista e social-democrata, transformando o operariado de “classe em si”
em “classe para si”. Isto é, os interesses que defendem o movimento operário tornam-se interesses de
classe. Ver: Marx (1982); Coutinho (1972); Netto (1992); Coggiola (2003).
21
apropriação dos bens advindos do trabalho torna-se cada vez mais privada e
concentrada.
trabalhadores.
2
De acordo com Netto (1992), período situado entre 1890 a 1940, fim da Primeira Guerra Mundial.
23
viabilizar o acréscimo dos lucros capitalistas por meio do controle dos mercados
povos e Estados.
superlucros do capital.
24
insuprimível nos marcos desta sociedade. Para contrarrestar a ameaça das lutas
empresas. Os subsídios que Estado faz aos capitais podem ser também indiretos,
moeda, utilizar mecanismos para amortecer a crise3, elementos que jamais seriam
3
Autores como Netto (1992; 1999), Chesnais (2003), Coggiola (2004) e Dias (2005) e discutem que, na
verdade, a crise é cíclica e medular ao capital, ou seja, ela é constitutiva e constituinte do capitalismo, é o
elemento propulsor do desenvolvimento capitalista. Nas palavras de Netto & Braz (2006) não existiu, não
existe e não existirá capitalismo sem crise. Pode ser iniciada por volta de 1825, na qual o capitalismo
presencia sua primeira crise econômica. Seguida em 1848, em que explodem as revoluções democrático-
populares na Europa, alguns anos depois o capitalismo passa por mais uma grande crise, em 1873, cujas
tendências de centralização e concentração confluem com a criação dos monopólios. O capitalismo enfrenta
uma nova grande crise em 1929, dando origem a Grande Depressão. Os anos de 1970 revelam uma nova crise
do capitalismo. A mais recente crise do capitalismo ocorreu em 2008 e seus ecos (que se alargam neste
exato momento) continuam a reverberar.
26
proteção social o sistema dos seguros sociais, semelhante aos seguros privados,
final do século XIX e início do século XX, a economia capitalista era baseada no
laissez faire, na qual o Estado ainda atuava de forma residual. Este cenário
manteve-se até o período do pós-1ª Guerra, momento em que a economia
estadunidense sofre com o crash de 294, que provocou a queda da bolsa de Nova
oligopólios empresariais.
4
Crise de 1929, conhecida também como a Grande Depressão, ganhou contornos mundiais. Iniciada pelo
sistema financeiro estadunidense, fez com que o comércio mundial fosse reduzido a um terço do era antes,
iniciando mais uma das crises inerentes ao capitalismo. (NETTO, 1992; BEHRING, 2003)
27
2003).
5
De acordo com Harvey (1993), a data inicial do fordismo pode ser marcada a partir de 1914, quando Henry
Ford introduziu as linhas de montagem e uma jornada diária para os trabalhadores de 8 horas e 5 dólares.
Ford racionalizou tecnologias e promoveu uma detalhada divisão do trabalho, propôs a produção em massa e
o consumo em massa. Este novo modelo significou um novo sistema de reprodução da força de trabalho, uma
nova política de controle e gerência do trabalho, uma nova estética e uma nova psicologia, em suma, um novo
tipo de sociedade democrática, racionalizada, modernista e populista. Os pressupostos de Ford ganharam
fôlego após a Grande Depressão, chegando à maturidade no pós-2ª Guerra Mundial, como regime de
acumulação aliado ao uso dos poderes do Estado. Neste período, o capitalismo dos países avançados eleva
suas taxas de crescimento econômico, o Estado assumiu os compromissos keynesianos, como novos papéis e
poderes institucionais, os sindicatos ganharam poder de negociação coletiva nas indústrias de produção em
massa, conquistando poder político sobre questões como benefícios da seguridade social e outras políticas
sociais.
6
Os princípios da Administração Científica foi escrito por Taylor em 1911. Constituiu-se em um influente
tratado segundo o qual a produção do trabalho poderia aumentar através da decomposição e fragmentação
de cada processo de trabalho de acordo com a padronização do tempo. (HARVEY, 1993).
28
políticas sociais que dão forma aos vários modelos de Estado de Bem-Estar
estatal, com vistas a reconstrução econômica dos países. Para tanto, o Estado de
7
“Um suporte teórico era mesmo necessário, uma vez que esse tipo de intervenção estatal contrariava os
dogmas do pensamento liberal-conservador, para o qual o papel do Estado, formalmente, deveria ser mínimo
(o ‘Estado guarda noturno’). O principal responsável por essa inovação foi Keynes (...). De acordo com Keynes,
o capitalismo não dispõe espontânea e automaticamente da faculdade de utilizar inteiramente os recursos
econômicos; seria preciso, para tal utilização plena (que evitasse as crises e suas conseqüências, como o
desemprego maciço), que o Estado operasse como um regulador dos investimentos privados através do
direcionamento dos seus próprios gastos – numa palavra, Keynes atribuía papel central ao orçamento público
enquanto indutor de investimento (...)” (NETTO & BRAZ, 2006 – grifos dos autores).
29
Beveridge8:
estratégia para tal intento foi construir uma espécie de “pacto social”,
Bem-Estar Social, teria sua expansão infinita, e qualquer “sombra” de crise era
intensa.
8
O Plano Beveridge foi publicado em 1942, na Inglaterra. Suas diretrizes marcaram uma nova lógica para a
organização das políticas sociais, até então dominantes, apontando a superação do caráter securitário das
políticas sociais, propondo a incorporação de um conceito ampliado de Seguridade Social. (BEHRING, 2003).
30
Contudo, entre 1968 e 1973, a longa onda expansiva começa a dar sinais de
sistema financeiro, cujo pico foi a alta do preço do petróleo pela Organização dos
crescimento e a queda das taxas de lucro foram agravadas com os custos das
BRAZ, 2006).
sustentado pelas “longas ondas expansivas” e pelo “pacto de classes” mantido pelo
CHESNAIS, 2003; DIAS, 2005; HARVEY, 2005; NETTO & BRAZ, 2006)
31
crise com a qual atravessava. Transformações que, de acordo com Netto (1996),
técnico-científicos9.
9
Segundo Harvey (1993), a nova etapa produtiva é chamada de Terceira Revolução Industrial, pois introduz
a robótica, a microeletrônica e a biotecnologia, patrocinadas pelos grandes conglomerados empresariais. É o
que chamamos de mundialização capitalista, orientado pela desnacionalização do capital, financeirização,
ampliação da desregulamentação da economia, garantindo lucros exorbitantes para os capitalistas.
Caracteriza-se pelo processo de mundialização da economia a imposição da redivisão social e internacional do
trabalho.
33
com a redução salarial, com a expansão das formas precárias de emprego sem
processo:
1996).
capitalismo.
ação estatal no que se refere a suas funções legitimadoras. O capital rompe com
a reprodução capitalista.
10
Jameson (1992) faz a crítica ao movimento contracultural dos anos 1960, que marca o período de
conquista da “autoconsciência dos povos oprimidos” e, desta forma, faz emergir “novos sujeitos da história”,
constituindo as “identidades coletivas”, materializadas na identidade do negro, da mulher, do idoso etc.,
desfazendo a concepção clássica de classe social, “fatiando-a” na forma de segmentos sociais, traduzidos
nos movimentos das minorias sociais. Este movimento posteriormente é capturado pela ideologia neoliberal
conferindo legitimidade notadamente na (re)formatação das políticas sociais cuja ordem é a fragmentação e
pulverização das políticas sociais públicas.
36
na privativatização/mercantilização.
mercadoria (previdência e saúde) e a assistência social por sua vez, fica restrita
crise dos anos 70, nosso país, no período da Ditadura Militar pós-64, vivencia o
como uma questão técnica e atuarial; a assistência social continua a ser prestada
pela Legião Brasileira de Assistência (LBA). Mas, em 1974, foi criado o Ministério
à transição democrática11.
11
O processo de transição para a democracia inicia “alinhado” às orientações conservadoras neoliberais já
em curso no nível mundial. Nas palavras de Sader (1990), a transição democrática foi fortemente controlada
pelas elites para evitar a constituição de uma vontade popular radicalizada, tendo em vista o crescimento
das demandas represadas, fruto do acirramento da “questão social”. O esgotamento do milagre brasileiro
demonstrou aos trabalhadores e movimentos sociais que os tais frutos não seriam redistribuídos, apontando
para a crise econômica que se aproximava. Assim, a força dos trabalhadores e dos movimentos populares
exigiam as eleições, as “Diretas Já”, reforçando o movimento político de massas contra a ditadura, pelas
liberdades democráticas, que vinha se fortalecendo desde as greves do ABCD paulista em 1978-79. O
movimento das Diretas Já revelou a força das lutas sociais no país e o Colégio Eleitoral foi a saída
institucional para assegurar o controle conservador da redemocratização. Ver: Fernandes, (1986); Sader
(1990).
39
BOSCHETTI, 2006).
(BEHRING, 2003).
operário e popular que lutavam pelo reconhecimento dos direitos sociais - com
Públicas e instaurou um grande avanço social, resultado das lutas sociais no país.
de idade para aposentadoria (60 anos homem) e (55 anos mulher); vinculação do
A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da
12
Previdência Social (1991), Lei Orgânica da Assistência Social (1993) e Lei Orgânica da Saúde (1990).
41
lógica do seguro.
mediante contribuição.
empregadores não devem ser mais baseadas somente sobre a folha de salários.
tomadas de decisão.
Social, isto porque o titular da pasta teria um peso muito grande, assim como o
(BOSCHETTI, 2003).
Pastorini & Galizia (2006), traçam o percurso das ideias neoliberais, que
Estado, condição imposta para que o país receba ajuda financeira dos organismos
aparelho estatal.
Collor de Mello. A crise econômica estava cada vez mais acirrada e exigia
mudanças.
logrou êxito com a eleição de Collor de Mello, que dá o pontapé inicial às políticas
(RAICHELIS, 2008).
44
camadas miseráveis. Pouco tempo depois, Collor é descoberto por fazer parte de
parceira com a direção da primeira-dama à frente da LBA, fato que gerou o seu
com os dois governos de FHC. O grande sustentáculo do governo FHC foi o Plano
agenda neoliberal, cujo elemento central foi o ajuste fiscal. O governo de FHC
(NETTO, 1996).
impõe traços singulares porque no Brasil não houve Welfare State a destruir, a
efetividade dos direitos é residual, portanto, não há gorduras nos gastos sociais.
Neste sentido, o projeto neoliberal não pode ser incorporado abertamente com a
45
capitalista.
controle não mais estaria nas mãos do Estado. (BEHRING & BOSCHETTI, 2006).
FHC transfere para o setor privado atividades que eram públicas e podem
telecomunicações etc.). Toda a riqueza social passa a ser controlada pelos grupos
monopolistas. (Ibidem)
(...) o Brasil e a América Latina foram atingidos por uma dura crise fiscal
nos anos 1980, acirrada pela crise da dívida externa e pelas práticas de
populismo econômico. Esse contexto vai exigir, de forma imperiosa, a
46
liberação comercial.
ser um meio de acesso ao poder político. Isto significa que o acesso à democracia
2003).
47
O setor social foi um dos que mais sofreu, posto que a ofensiva neoliberal
desemprego.
ou seja, aqueles que podem pagar para ter acesso aos bens e serviços sociais.
comprovadamente não podem pagar pelos serviços, dando ênfase aos programas
como um setor secundário, para os fracos, que não conseguem ter a satisfação de
Assim,
De acordo com Braz, (2004), a população, ao eleger Lula da Silva com todo
Coggiola (2004) coloca ainda que a política de Lula da Silva pode ser
mesma forma como se executa a melodia ao violino: segura com a mão esquerda e
toca com a direita” (LEITE, 2010, p. 07).
trabalhadoras” (DIAS, 2004, p.147). Vale destacar que o governo Lula da Silva
cumpriu com todos os contratos capitalistas em detrimento da classe
trabalhadora brasileira.
Sendo assim, a política de Lula rendeu ao país uma herança ainda mais
perniciosa que aquela deixada por FHC, tendo em vista a fragilização dos
Social do governo FHC que atingiu o setor privado, desta vez o setor público
14
O Programa Bolsa Família foi sancionado pela Lei Federal no 10.836, de 09 de janeiro de 2004. O objetivo
do Programa é viabilizar transferência de renda com critérios de condicionalidades e seletividades, voltados
para a cidadania e a inclusão social das famílias em situação de extrema pobreza, reunindo em um único
programa antigas ações de governos anteriores (Bolsa Escola, Bolsa Alimentação, Auxílio-Gás e cartão
alimentação).
15
Discutiremos a lógica da PNAS e do SUAS no próximo capítulo.
52
(LEITE, 2010, p. 8). Assim, Lula avançou na obra incompleta de seu antecessor,
facilmente converteu a maior parte dos votos para a sua reeleição. Desta forma,
governamental, que faz com que as demais áreas fiquem subjugadas à assistência.
âmbito da política social não é algo novo, mas ultimamente o debate da família -
redefinir papéis como: divórcio, aborto, mães solteiras, união homoafetiva etc.
oportunidades que lhe são ofertadas para, assim, solucionar seus “problemas”
Sendo assim, ainda nas palavras de Iamamoto (2008), por um lado, tem-se
a gestão da “questão social” pela via das políticas sociais compensatórias, com
“questão social”; e, por outro lado, a reatualização da “questão social” como caso
classista.
sociais. Estes elementos provocam de uma franja social que começou a ser
CAPÍTULO II
A
Constituição Federal de 1988 trouxe avanços significativos para a
e da sociedade.
caráter classista das desigualdades sociais, que passam a ser vistas ora como
deve buscar garantir um padrão mínimo de vida a todo o cidadão. (LEITE, 2008).
Social adquire uma nova concepção 18, incluída no âmbito da Seguridade Social,
responsabilidade do Estado.
16
Historicamente, as ações públicas para o enfrentamento da “questão social” na sociedade brasileira, tem
sido acompanhadas por algumas distorções que Yazbek (1996, p.50), destaca: a) O apoio na matriz do favor,
do apadrinhamento, do clientelismo e do mando, formas enraizadas na cultura política do país, sobretudo no
trato das classes subalternas, reproduzindo relações de dependência. Reforçam a figura do “pobre
beneficiário”, do “desamparado” e do “necessitado” e da posição de subalternização e de culpabilização pela
sua condição de pobreza. b) a histórica vinculação com o trabalho filantrópico, voluntário e solidário dos
indivíduos na vida em sociedade. Uma das marcas da assistência é a identificação com assistencialismo
paternalista fundado nas razões de benemerência. Assim, a regulação estatal por vezes pode ser permeada
pelo favoritismo na distribuição de benesses do Estado.
17
Conforme Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, Capítulo II, art. 194.
De acordo com Sposati (2010) no Brasil, a primeira grande instituição assistencial foi instalada no durante
18
o Estado Novo, no governo de Getúlio Vargas, a Legião Brasileira de Assistência – LBA criada em 1942,
organismo que assegurou sua presidência às primeiras damas da República. Representou a união entre a
esfera pública e a iniciativa privada, numa relação entre benefício/caridade e beneficiário/pedinte, entre
Estado e classes subalternas. A LBA passou a compor o Sistema Nacional de Previdência e Assistência
Social (SINPAS) em 1969, cuja finalidade foi promover a implantação e execução da Política Nacional de
Assistência Social. É extinto também o antigo Conselho Nacional de Serviço Social (1938 a 1993) em
substituição, instaura-se o Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS).
57
municipal para contribuir na inclusão social das esferas locais, sem perder de
Historicamente a assistência social nas palavras de Yazbek (1996), é permeada pela relação de tutela, de
19
dependência da população usuária. Do ponto de vista político, as políticas de assistência social além de
favorecerem a acumulação, fortalecem a legitimação do Estado e reproduzem a dominação. Assim, o objetivo
da política de assistência social é minimizar as tensões sociais, é manter as bases de apoio do Estado,
mostrando uma face mais humana do capitalismo. As políticas de assistência de acordo com Yazbek (1996)
são marcadas pelo favor, compadrio e clientelismo, reforça politicamente o palco dos redutos eleitorais.
Assim, a prática clientelista retrata o não reconhecimento dos direitos, espera-se lealdade da população que
é atendida pelos serviços. A população por sua vez, aparece como inferior, sem autonomia. A prática
clientelista fragmenta e desorganiza a população subalterna ao apresentar como um favor aquilo que é
direito, personaliza a relação com os dominados, gerando cumplicidade e gratidão na população atendida.
58
assistência social como não-política, menos-valor. Leva para o campo dos direitos
assistência social uma política pública de direito dos que dela necessitam.
de 1988. Nas palavras de Raichelis (2008), a LOAS foi instituída após um longo
20
Art. 203. A Assistência Social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição
à seguridade social, e tem por objetivos: I – a proteção à família, à maternidade, à infância e à velhice; II– o
amparo às crianças e adolescentes carentes; III – a promoção da integração ao mercado de trabalho; IV- a
habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção se sua integração à vida
comunitária; V- a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao
idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria manutenção ou tê-la provida por sua família,
conforme dispuser a lei. Art. 204. As ações governamentais na área da assistência social serão realizadas
com recursos do orçamento da seguridade social, previstos no art. 195, além de outras fontes, e organizadas
com base nas seguintes diretrizes: I - descentralização político-administrativa, cabendo a coordenação e as
normas gerais à esfera federal e a coordenação e a execução dos respectivos programas às esferas
estadual e municipal, bem como entidades beneficentes e de assistência social; II – participação da
população, por meio organizações representativas, na formulação das políticas e no controle das ações em
todos os níveis. (Constituição da República Federativa do Brasil, 1988)
59
Social (CNAS).
representantes dos governos dos países da América Latina, com o FMI, BIRD e
desregulamentação.
Isto posto, Mota (2008) faz uma análise da política de Seguridade Social e
Sendo assim,
na renda das camadas pauperizadas, ou podem até ser a única fonte de renda de
estes indivíduos.
da classe trabalhadora.
2008)
pobreza aos pobres dos mais pobres, incapazes de serem inseridos no mercado
(MESTRINER, 2011).
(MESTRINER, 2011)
do Estado brasileiro dos anos 90, na qual a assistência social está no rol dos
serviços não-exclusivos do Estado.
64
2011).
Comunidade Solidária.
21
Siqueira (2007) distingue as ações deste programa: o Programa Universidade Solidária – Unisol foi criado
em 1996, cujo objetivo era promover a integração entre prefeituras, universidades e empresas privadas,
ainda encontra-se em vigor. Inicialmente, as universidades receberiam o repasse do CNPq, das prefeituras e
as empresas privadas ofertariam bolsas de estudos para estudantes e professores em contrapartida as
empresas, receberiam incentivos fiscais e as prefeituras o subsidio financeiro do governo federal. No
entanto, o que se tem é a desresponsabilização do governo federal no trato das políticas sociais, a lógica da
extensão dos programas universitários é uma forma de obtenção de mão-de-obra barata e qualificada; as
empresas privadas ganham com o incentivo fiscal e o marketing, além do estímulo ao crescimento e
fortalecimento das fundações, institutos e Organizações Não Governamentais. O Programa Capacitação
Solidária implantado em 1997 volta-se para a inserção de jovens entre 15 e 21 anos, moradores das regiões
metropolitanas ao mercado de trabalho. A lógica do Capacitação Solidária, estimulou o crescimento das
Organizações Não Governamentais que administravas este programa, segundo o qual o Estado repassava a
66
Parceria” (Lei nº 9.790/99), que trata sobre a execução de atividades nas áreas
Inaugura uma relação seletiva entre Estado e a esfera privada no que tange a
(MESTRINER, 2011).
Desta forma, governo e sociedade vendem uma imagem legal que não se
concretiza: avançam com um discurso que não é operacionalizado.
Reconhecem na retórica a cidadania, mas não a instituem em fatos e
responsabilidade e gestão, execução e planejamento para a sociedade civil que captava recursos de
empresas para consecução do programa. O Programa Alfabetização Solidária também iniciou em 1997, cuja
proposta era erradicação do analfabetismo entre jovens de 12 a 18 anos e adultos. A implantação deste
programa contou com parcerias entre empresas privadas e universidades. Sob coordenação de uma ONG, o
objetivo era reduzir as diferenças regionais, promover a profissionalização e motivar o reingresso e a
permanência de jovens e adultos na escola. Os recursos para manutenção dos novos cursos e prosseguimento
do programa foram oriundos da campanha Adote um Aluno, lançada em julho de 1999. A campanha consistia
na contribuição de R$ 17,00, durante seis meses, período de duração do curso. As universidades privadas,
que nesse programa tiveram uma importante participação, ganham o título de instituição filantrópica –
portanto, completa isenção fiscal, assim como recebem um repasse de verba dos organismos financiadores.
O Programa Artesanato e Geração de Renda é uma iniciativa do Programa Comunidade Solidária em parceria
com a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro
e Pequenas Empresas (SEBRAE) e a Caixa Econômica Federal (CEF), com a finalidade de incentivar a
comercialização de produtos artesanais tradicionais. Sua operacionalização envolveu ONG, universidades e
outras instituições com ações envolvidas com as questões da seca. Com o objetivo de criar fontes
alternativas de renda, o programa propunha o desenvolvimento e aperfeiçoamento da qualidade, a ampliação
da produtividade, o fortalecimento de associações e a revitalização da confecção de artesanatos
tradicionais das regiões. O caráter destes Programas deixa evidente que o avanço da ofensiva neoliberal
beneficia as empresas privadas, brindando a solidariedade com a redução fiscal, estabelecendo parcerias do
governo com a sociedade civil, fortalecendo assim o desenvolvimento do terceiro setor.
O governo FHC também aprova a legislação que dispõe sobre o serviço voluntário (Lei n˚9608/98) e sobre
22
serviços (entregues a ONG). Este conjunto de elementos faz com que os serviços
Mínima (PGRM), implantado em 1999 com o Bolsa Escola, destinado a famílias que
mensal por criança inserida na escola, com limite de até três crianças por
nutrizes, gestantes e crianças de seis meses a seis anos de idade. Em 2002 foi
23
Atualmente este Programa foi transformado em Programa Bolsa Família durante a gestão de Lula da Silva.
68
o preço do gás às famílias de baixa renda. Este programa por sua vez, estava sob
2007)
Programa Bolsa Família como meta das ações sociais que garantam o combate a
Silva - era erradicar a fome no Brasil em 4 anos. Seu como ponto de partida foi a
linha de pobreza adotada pelo Banco Mundial, que considera como pobres pessoas
com renda inferior a US$ 1,08/dia. Sendo assim, o Fome Zero mantém a clássica
Família (PBF).
programa reúne ações por meio do Cadastro Único do Governo Federal (CAD
ÚNICO), e tem sido executado sob o olhar atento dos organismos multilaterais –
24
www.fomezero.gov.br
70
garantir a sobrevivência aos mais pobres sem alterar a condição social destes.
Vale destacar que também foi aprovado, durante o governo de Lula da Silva, o
do capital.
aquelas cujas ações são voltadas para o fortalecimento da família. Nas próximas
previstos na PNAS.
25
Foge ao escopo desta dissertação detalhar o programa de Parcerias Público-Privado (PPP) e a atuação das
ONG. Entretanto, é importante destacar que o volume de dinheiro público repassado a estas entidades é
considerável. Coggiola (2004) analisou o Portal Transparência Brasil do governo federal que apontou dados
relevantes: cerca de 113 fundações brasileiras foram beneficiadas com recursos federais, com objetivos
bastantes diversificados - vão desde bolsas de pesquisa até a promoção de eventos.
71
assistência social.
26
Conforme Couto et al. (2010), a primeira Política Nacional de Assistência Social foi aprovada somente em
1998, cinco anos após a regulamentação da LOAS e mesmo assim foi confrontada com as determinações do
Programa Comunidade Solidária.
27
Vale destacar que, de acordo com Raichelis (2008), a I Conferência Nacional de Assistência Social foi
realizada em 1995 durante o governo de FHC, a II Conferência foi realizada em 1997, e a III Conferência
Nacional de Assistência Social foi realizada em 2001, segundo a qual o governo de FHC boicotou os
princípios e diretrizes da LOAS com a criação do Programa Comunidade Solidaria desviando recursos do
Fundo Nacional de Assistência Social para este Programa.
28
Discutiremos sobre a Tipificação dos Serviços Socioassistenciais no próximo capítulo com foco no
Programa Família Acolhedora.
72
complexidade).
decorrente da pobreza.
com até 20.000 habitantes deverá ser instalado um CRAS. De acordo com a
73
deficiência e idosas.
o isolamento.
74
Proteção Social Básica no domicílio para pessoas com deficiência e idosas, devem
manter articulação com o PAIF, pois é a partir do trabalho com famílias
familiares e comunitários.
Indivíduos (PAEFI);
Comunidade (PSC);
social.
ou medida de proteção;
- Tráfico de pessoas;
- Abandono;
violação de direitos.
jovens, adultos, idosos e famílias que utilizam espaços públicos como forma de
comunitária.
desenvolvimento do PIA.
aplicada pela Justiça da Infância e da Juventude ou, na ausência desta, pela Vara
e comunitária.
família, falta de cuidados adequados por parte do cuidador, alto grau de estresse
autonomia.
ofertado para pessoas que utilizam as ruas como espaço de moradia e/ou
situações de violência.
social.
- Abrigo institucional
81
- Casa-Lar;
- Casa de Passagem; e
- Residência Inclusiva.
acolhimento será feito até que seja possível o retorno à família de origem
Adolescentes”29.
e/ou adolescentes;
demanda.
Para idosos:
familiares.
É previsto para idosos que não dispõem de condições para permanecer com
contar com equipe técnica de referência para contribuir com a gestão coletiva da
adoção.
deficiência, aos quais foi aplicada medida de proteção, por motivo de abandono ou
direção da PNAS, uma vez que a família consegue garantir entre si seus mínimos
sociais, deixa de fazer uso dos serviços da assistência social. Assim, uma das
social sejam planejadas dentro dos territórios, tendo em vista a vigilância social
fortalecendo a proteção social focalizada nos mais pobres. Por último, a situação
reprodução social, sendo, portanto, uma condição social coletiva vivenciada por
significa que o foco da proteção social está na família. O debate sobre a família,
das políticas sociais. Isto porque a temática da família vem sendo o foco de
30
Territórios de pobreza, conforme Couto et al. (2010), indica que as ações propostas pela PNAS são
planejadas territorialmente. Isto que dizer que as redes de serviços devem estar presentes em territórios
com a maior incidência de vulnerabilidade e riscos sociais a segmentos sociais e famílias.
89
família tem sido base fundamental para as ações da assistência social, ancorada
promover e incluir seus membros, devendo buscar condições para garantir seu
CAPÍTULO III
ASSISTÊNCIA SOCIAL
A
prática de acolhimento familiar é bastante antiga. Acolher
século XX.
31
As medidas protetivas são aplicadas pelo Conselho Tutelar conforme previsto no ECA nos art.
98 a 101. O ECA inclui sete tipos de medidas de proteção – I – encaminhamento aos pais ou
responsáveis mediante termo de responsabilidade, II – orientação, apoio e acompanhamento
temporários, III – matricula e frequência obrigatória em estabelecimento oficial de ensino, IV –
inclusão em programa de auxílio a família, a criança e ao adolescente, V – requisição de
tratamento medico, psicológico ou psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulatorial, VI –
inclusão em programa de auxílio e orientação para o tratamento de alcoolismo e toxicômanos. VII
– encaminhamento em instituições de acolhimento.
91
Definir um conceito para família não é uma das tarefas mais fáceis. A
contemporânea.
no seu Artigo 226, ente familiar como comunidade formada por qualquer um dos
pais e seus descendentes. O ECA, no seu Artigo 25, acompanha esta linha de
definição: família natural é “a comunidade formada pelos pais ou qualquer deles e
O ECA tem seu foco de atenção nos direitos da criança, inclusive frente
seja, é necessário ampliar o universo que delimita o conceito de família. Isto quer
dizer que a família pode ser pensada como um grupo de pessoas que são unidas
Família extensa pode ser compreendida como uma família que se estende a
unidade de pais/filhos, que podem residir juntos ou não. São eles irmãos, meio-
Para Sarti (2005, 2007), pensar a família brasileira no século XXI sugere
principalmente porque cada vez mais é difícil definir os padrões que delimitam o
32
Conforme o documento “Orientações Técnicas: Serviços de Acolhimento para Crianças e Adolescentes” de
2009 o Sistema de Garantia de Direitos (SGD) é o Conjunto de órgãos, entidades, autoridades, programas e
serviços de atendimento a crianças, adolescentes e suas respectivas famílias, que devem atuar de forma
articulada e integrada, na busca de sua proteção integral, nos moldes do previsto pelo ECA e pela
Constituição Federal. A Constituição Federal e o ECA ao enumerar direitos, estabelecer princípios e
diretrizes da política de atendimento, definir competências e atribuições instalaram um sistema de
“proteção geral de direitos” de crianças e adolescentes cujo intuito é a efetiva implementação da Doutrina
da Proteção Integral. Esse sistema convencionou-se chamar de Sistema de Garantia de Direitos (SGD). Nele
incluem-se princípios e normas que regem a política de atenção a crianças e adolescentes cujas ações são
promovidas pelo Poder Público (em suas esferas – União, estados, Distrito Federal e municípios – e Poderes –
Executivo, Legislativo e Judiciário) e pela sociedade civil.
33
Plano Nacional de Convivência Familiar e Comunitária (2006).
93
Mioto (1997) faz a discussão sobre o conceito de “família”, a qual deve ser
que vivem só. Ou seja, famílias menores estão mais suscetíveis a crises como
de comunicação em massa.
95
contributivas.
sofrem com o sucateamento das políticas sociais públicas. Assim, a família vem
primeiro deles é que não é possível pensar em “família”, mas sim em “famílias”, ou
familiares movidas pelos afetos como o amor, ódio, inveja e gratidão, que a
e a proteção dos grupos familiares dependem da qualidade de vida que eles tem
no contexto social de que fazem parte. As famílias das camadas populares são
família ilustra que os projetos de vida individuais podem não ser compatíveis com
guarda dos seus filhos para terceiros para que possam iniciar nova união.
cuidado de seus membros sem que tenha condições para tanto; ou o embate entre
solidariedade.
de conflitos. Estes conflitos podem acontecer durante todo o ciclo familiar, mas
entendimento, no diálogo.
98
sobre a família, como por exemplo, a Convenção das Nações Unidas 34 que trata
poder” pelo de “poder familiar”. Neste caso, a perda do poder familiar deve ser
34
A Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança de 20/11/89 declara: ‘convencidos de que a
família, como elemento básico da sociedade e meio natural para o crescimento e o bem-estar de todos os
seus membros, e em particular das crianças, deve receber a proteção e assistência necessárias para poder
assumir plenamente suas responsabilidades na comunidade’. (BECKER, apud KALOUSTIAN, 2010, p. 60-61).
35
Família Substituta pode ser traduzida na forma de Guarda, Tutela, Adoção ou Família Acolhedora. Esta
última, discutiremos posteriormente. A modalidade de família substituta através da Guarda de acordo com o
ECA, é concedida quando os requerentes aguardam a decisão judicial para a concessão da Tutela o da
Adoção. A Tutela é a medida aplicada aqueles que sucedem aos pais, que exercem o poder familiar nos casos
de orfandade. São os avós, tios, requer a administração dos bens da criança e o dever da guarda pode ser
entregue a estranhos quando não há membros da família. A Adoção é a forma definitiva e radical de
colocação em família substituta. A partir da adoção se forma nova família, a criança ganha todas as
garantias jurídicas como filho legítimo.
99
como uma prática que propõe novos convívios entre crianças, adolescentes e
famílias.
Executivo municipal.
em 1996.
2006)
36
Inicialmente o acolhimento familiar foi implementado como Projeto Família Acolhedora, a partir de 2006
com a provação do Plano Nacional de Convivência Familiar e Comunitária, o acolhimento ganhou status de
Programa Família Acolhedora e, atualmente, com a Tipificação dos Serviços Socioassistencias, denomina-se
Serviço de Acolhimento Familiar.
101
do termo de guarda provisória aos acolhedores, uma vez que esta prática era algo
novo no Judiciário.
feitos pelos Conselhos Tutelares. Atualmente, com a nova lei da adoção, este
equipe técnica para receber uma criança ou grupo de irmãos. O prazo estipulado
para o acolhimento era seis meses podendo ser prorrogado para nove meses de
acordo com determinação judicial. No início era fornecida aos acolhedores uma
37
O grupo gestor era constituído pela Associação Brasileira Terra dos Homens (ABTH), Federação das
Mulheres do Rio de Janeiro (FAMURJ), Lar Fabiano de Cristo, Instituto Sócio-Educacional Pró-Cidadania
(ISEC), Pastoral do Menor da Igreja Católica do Rio de Janeiro e a SMDS.
38
Cabe destacar, que na época o município do Rio de Janeiro contava apenas com um Juizado da Infância, da
Juventude e do Idoso, hoje as ações do Juizado foram descentralizadas contando atualmente com três: 1ª
Vara da Infância, da Juventude e do Idoso, localizada no Centro da cidade; 2ª Vara da Infância, da
Juventude e do Idoso, localizada em Santa Cruz; e a Vara da Infância, da Juventude e do Idoso de
Madureira.
39
Esta nomenclatura mudou a partir de 2006 pela gestão do Secretario Municipal de Assistência Social,
Marcelo Garcia. As CAS organizam os serviços socioassistenciais de uma determinada região do município do
Rio de Janeiro, localizadas: 1ª CAS – Centro; 2ª CAS Vila Isabel/Zona Sul; 3ª CAS Engenho Novo; 4ª CAS
Bonsucesso; 5ª CAS Madureira; 6ª CAS Deodoro; 7ª CAS Jacarepaguá; 8ª CAS Bangu; 9ª CAS Campo
Grande; 10ª CAS Santa Cruz.
102
40
Atualmente as famílias acolhedoras recebem uma “bolsa-auxílio” que varia de acordo com a idade: R$
350,00 para crianças e 0 a 6 anos; R$ 450,00 para a idade entre 6 e 12 anos e R$ 600,00 para adolescentes
12 a 18 anos incompletos.
103
(CREAS).
familiar.
A família, portanto, tem sido alvo de discussões dos mais diversos campos
o SUAS
entre outras.
extensa.
sociofamiliar;
criança/adolescente;
extensa;
41
O documento “Orientações Técnicas: Serviços de Acolhimento para Crianças e Adolescentes” tem como
finalidade regulamentar, no território nacional, a organização e oferta de Serviços de Acolhimento
institucional e familiar para Crianças e Adolescentes, no âmbito da política de Assistência Social. A
aprovação do documento ocorreu em Assembléia conjunta do CNAS e CONANDA, realizada em 18 de junho
de 2009.
106
acolhido);
seu filho(a);
cadastrada.
(2009), envolve:
- de forma singularizada;
criança/adolescente.
precisas sobre os objetivos do Serviço, perfil dos usuários, quais são os critérios
mínimos para ser acolhedor. No município do Rio de Janeiro, alguns critérios são:
108
adoção, como se o acolhimento familiar fosse o caminho mais rápido para adotar).
- rotina familiar;
- estabilidade emocional;
- capacidade de escuta; e
uma capacitação que envolve oficinas e seminários produzidos pela equipe técnica
acolhimento vividas. Alguns temas deverão ser trabalhados junto aos acolhedores
durante a capacitação:
vulnerabilidade;
identidade;
Para a criança/adolescente:
acolhedora;
de saúde;
inicial do acolhimento;
o termo de guarda provisória com validade de 180 dias, até que seja feita nova
reuniões com a permanência do acolhido junto a sua família nos finais de semana
poderá ser feito pela equipe técnica do serviço de famílias acolhedoras que
CAPÍTULO IV
C
omo aludido anteriormente, o Acolhimento Familiar, a partir de
Outro entrave com o qual nos deparamos durante a pesquisa foi o fato de
42
Disponibilizado no anexo da Dissertação.
116
MASCULINO FEMININO
0%
10%
90%
No tocante ao estado civil dos acolhedores, 62% são casados; 13% mantém
união estável; 12% são solteiros; 13% são separados. Durante as entrevistas foi
sozinhas.
cruzarmos os dados aqui elencados com a idade destes acolhedores (Cf. infra),
percebe-se claramente que os casais mais velhos são os que buscam acolher
crianças/adolescentes.
dar um novo sentido a suas vidas. Adiante, quando examinarmos os motivos que
117
absolutamente cristalino.
13%
13%
12% 62%
acolhedores ficar entre 24 a 65 anos, a menor faixa etária (cerca de apenas 10%
dos acolhedores) tem idade entre 30 e 35 anos. Podemos identificar com estes
dados que grande parte dos acolhedores são mais velhos. Durante as entrevistas
a maioria destes relatou ter filhos já na fase adulta, inclusive alguns já são avós.
Não é raro que casais que já criaram seus filhos adotem crianças pequenas ou até
0%
10%
30% 10%
50%
escolar.
vontade, uma compreensão do que esta atitude significa, além de poder arcar
119
com mais gastos que aqueles “financiados” pela bolsa que recebem do governo em
troca do acolhimento.
10% 10%
10% 10%
60%
0% 0%
20% 20%
60%
dos horários para as entrevistas, fomos informados que o local não possui
acolhimento familiar somava 183; em 2010 este número subiu para 229, e os
dados deste ano mostram o crescimento progressivo deste Serviço, com um total
43
O Modulo Criança Adolescente (MCA) é um banco de informações organizado pelo Ministério Público do
Estado do Rio de Janeiro no qual constam cadastradas todas as crianças e adolescentes que passaram ou
ainda permanecem em acolhimento, seja ele institucional ou familiar, no estado do Rio de Janeiro.
Semestralmente o MCA disponibiliza para acesso público o censo com a estatística atualizada dos
acolhimentos realizados.
122
Acolhedora sob a ótica dos acolhedores, optamos por categorizar estas falas
criança/adolescente.
televisivos.
(...) foi que uma colega que já era acolhedora que falou: “poxa,
você tá tão deprimida, você gosta tanto de criança, você vai ficar
doente, você não pode parar, então por que você não se inscreve no
projeto do família acolhedora?” (...) Ai eu fui me inscrever porque
123
secundário.
interesse inicial deste casal não ser pelo acolhimento familiar, o que chamou
classificar como preconceito sem muita margem de erro), uma vez que este casal
pela adoção.
acolhimento familiar como uma dádiva divina. A questão religiosa é muito forte.
(...) já é um dom que eu quero passar para eles. (...) digo para os
meus acolhidos que hoje sou eu, amanha podem ser eles os
acolhedores, para eles continuarem ajudando porque o mundo
precisa de ajuda. As crianças podem precisar, então eu procuro
passar tanto para meus filhos quanto para os acolhidos a
importância em continuar com este trabalho. (Entrevista 7)
O que mais nos chamou atenção nas entrevistas com os acolhedores foi o
Bom, o ECA é uma lei que fala do direito da criança é isso não
sei dizer isso a fundo. (Entrevista 1)
Já ouvi falar sim. Serve para que as leis sejam cumpridas. É uma
cobrança que o governo faz na família. (Entrevista 4)
ECA. A maioria que disse que conhecia o Estatuto, não conseguia explicitar
dizer que o ECA é uma lei que fala do direito da criança e do adolescente.
saúde.
Nós achamos que deveria ser dada uma maior atenção para os
atendimentos de saúde, de médico, de psicólogo. (...) Eu acho que
quem é do programa deveria ter mais facilidade, até porque a
gente trabalha junto com o governo, sei lá. Nós pegamos
crianças com doenças graves, tivemos maior demora pra
conseguir, ai ela passa por tudo aquilo que uma criança que tem
pai, tem mãe, tem carinho, passa, nem prioridade pra ser
atendido tem. Ai aquela criança que foi jogada no lago, nós é que
temos que correr, buscar hospital pra ela. Então nós achamos
que quem é do Programa Família Acolhedora deveria ter um
127
(...) daria um plano de saúde para cada acolhido acho que esta
seria a primeira coisa. A criança já saia com cartãozinho do
plano na mão. Porque a criança chega as vezes cheia de doença,
desnutrido, e você fica com medo até daquela criança morrer no
seu braço de tanta doença como quase aconteceu comigo e você
como é os hospitais ai não tem médico e você não pode levar
para o particular porque depois vem os remédios. (Entrevista 7)
acolhedores deixa claro estes entraves, e o que nos chama atenção são as
saúde ainda no setor público (uma vez que a criança é diferente por ser acolhida
saúde pública é insuficiente, e por isso o Estado deve fornecer planos de saúde
T.16 anos. (T. ficou dos 10 aos 13 anos comigo. Ai ela foi
reintegrada a tia, mas ai não deu certo. Meses depois ela voltou
pra minha casa). (Entrevista 06)
com indicação para adoção, mas esta, pela idade, parece ser pouco provável. O
do acolhimento.
nossa avaliação.
Eu conheci a mãe dele logo depois que ele veio pra mim, mas
depois nunca mais ela voltou e depois ela apareceu morta.
Quarta feira ele faz aniversário, ai perguntei pra equipe,
alguém apareceu da família? Não ninguém procurou. Eu
cheguei ate a conhecer uma tia dele, chegou a vir aqui umas
duas vezes, mas ela também tem uma criança especial em casa.
Estas vezes que eu a vi, ela disse: eu tenho tanto a te agradecer
por ele estar vivo. Eu digo que ela tem que agradecer a Deus. Já
chegaram a ficar dois anos sem procurar ele. (Entrevista 3)
desligamento, seja pelos vínculos estabelecidos com a criança, seja pela forma
quem se disponibiliza juntamente com sua família para manter os cuidados com
indicaram também algumas lacunas, que vão desde a retração da configuração das
Pontos Positivos
superação da violência e que esta prática traz uma “paz espiritual” a todos da
família. Vejamos:
bem comum;
(...) você vai levantar seu astral e você vai querer viver
novamente, ai eu fiquei toda contente, ai eu fui me inscrever
133
(...) Sem amor não dá para fazer parte deste trabalho não. (...) Eu
gosto de criança e adolescente. Eu vejo as pessoas jogarem fora
as crianças e isso dói, vejo as pessoas nas drogas nas ruas... então
eu vi numa reportagem uma criança que mãe tinha deixado e
isso não é bom. Elas precisam de família. Eu já adotei dois meus
mais velhos já casados são adotados. Eu já tenho este dom de
querer cuidar (...) (Entrevista 4)
(...) Pra mim em especial ser acolhedora é uma saúde pra mim.
Eu vivia enferma, vivia resfriada. Ai eu falei: “peraí, eu tô
pensando muito em mim”. Quando eu comecei a ver os problemas
das crianças, eu passei a ter saúde para ter força e cuidar delas.
(...) A parte positiva é tirar as crianças do risco, do período
difícil da infância. Porque tem criança que não sabe o que é
infância. (Entrevista 6)
geral.
Pontos negativos
134
públicos de saúde;
de origem, tendo em vista que maior parte das famílias de origem é pobre, e um
dos questionamentos dos acolhedores é por que não se investe o valor da bolsa-
auxílio para estas famílias. É latente a fragilidade da ação estatal no que tange a
e renda.
(...) Pois é tem uma coisa na bolsa que eu também não entendo, se
eu pegar um nenenzinho recém-nascido, eu ganho 350, a pessoa
pega o neném nu e cru, o que é que a pessoa faz com este valor
para gastar com a criança? (...) tem os gastos com fralda, com
roupa, eu acho isso injusto sabia? (...) O preço do bebê e do
adolescente eu acho que tinha que ser do mesmo valor. Eu
conheço uma acolhedora que um dia levou dois bebês ela levou
dois meses para receber, porque no começo era assim, com dois
nenéns pra dar leite para dar tudo (...). (Entrevista 1)
(...) a ajuda de custo que eles dão que eu acho que é muito pouco
para o que eles querem cobrar. (...) O pessoal da prefeitura,
governo, poderiam ajudar mais aos acolhedores. E também eles
colocam que tem tempo para ficar no abrigo e tempo para ficar
acolhimento. Isso não é bom, a gente lida com vidas e às vezes as
coisas não são tão rápidas assim... é muito cruel tirar da sua
casa porque o tempo acabou e mudar de acolhedor. (...)
(Entrevista 7)
135
(...) eu acho que o governo não sabe fazer conta, gente! O que
você faz com 350 reais com um bebê? Tem pediatra, tem
remédio, tem soro, é dor de barriga, é leite especial... (...)
(Entrevista 7)
(...) será que este nosso trabalho teve resultado, ela volta para
mãe, será que esta mãe tem estrutura, alguém ajudou esta mãe?
Os processos na justiça são muito lentos e as crianças ficam no
acolhimento pensando que vão voltar, mas não voltam. (...)
(Entrevista 5)
casos?
indicação para a adoção. Neste sentido, não se tem porta de saída para o
como construir autonomia para estes jovens com o Estado cada vez mais
de adolescentes.
que, no acolhimento familiar, o Estado não tem gastos com o espaço físico para a
CONSIDERAÇOES FINAIS
L
onge de apontar conclusões, podemos sinalizar algumas questões que
societárias impostas desde o final dos anos 70, vinculadas ao contexto de crise
cada vez mais seletiva e focalizada para os casos mais imediatos e urgentes; e
observa-se uma parcela da população que pode ter acesso aos bens e serviços
139
lógica mercantil.
massas;
criminalização da pobreza.
Estado na manutenção dos bens e serviços básicos. Assim, a família começa a ser
poder público. Neste formato, cada fonte tem sua parcela de contribuição: o
Estado, com o recurso do poder que só ele possui; o mercado, com o capital; e a
política social como um direito, uma vez que os limites da esfera pública e privada
política social; pelo contrário, se distancia dele. O mercado não possui “vocação”
para o social. Logo, é aberta uma lacuna para a sociedade; esta sim, de acordo
de controles externos.
lucrativos o dever em criar estratégias para compor com as famílias projetos que
comunitária.
cujos vínculos familiares foram rompidos, são cada vez mais pulverizados e
focalizados.
acolhimento familiar.
peso para o acolhedor, em arcar com todas as despesas que exige a manutenção e
os cuidados com as crianças, haja vista que o subsídio financeiro fornecido pelo
Estado, além de ser insuficiente, sofre constantes atrasos. Esta questão foi um
população.
143
ocorrem pelo fato de que, para trabalhar, em geral a mãe deixa os filhos em casa
sozinhos, o que acarreta no acolhimento familiar. É exigido dos pais que dêem
conta em manter os cuidados dos filhos, que garantam o direito das crianças e
condições mínimas de uma vida digna para estas famílias, com políticas de
apenas para o campo da infância e juventude, mas para a esfera familiar como um
todo.
residência do acolhedor.
145
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Hemerografia
www.mprj.rj.gov.br.
www.acolhimentofamiliar.org.br
www.portaldovoluntario.org.br
www.terradoshomens.org.br
www. Fomezero.gov.br
150
LISTA DE ANEXOS
2.2 – você com conhece a política nacional de assistência social (PNAS) e/ou sistema único de assistência social
(SUAS)?
3.4 – quais são as suas expectativas com relação ao programa família acolhedora?
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Participante da Pesquisa
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Participante da Pesquisa