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ESCOLA DE FORMAÇÃO PARA PREGADORES

FORMAÇÃO QUERIGMÁTICA

Tarcísio Augusto1, NSDN


Com. Aliança e Vida Nossa Senhora Desatadora de Nós

O QUERIGMA (e a Catequese)
EM ATOS DOS APÓSTOLOS

I. PRELIMINARES

1. Querigma e Catequese
1.1 - Querigma:
* Kérigma = proclamação de uma mensagem
- É sinônimo de Evangelho
- Feliz anúncio de um grande acontecimento
- Proclamação da novidade que transforma a vida
- Anúncio essencial da salvação pela fé em Jesus Cristo
- É a mensagem cristã primitiva: adesão e seguimento de Jesus Cristo
- A primeira fase da pregação apostólica
- São os artigos fundamentais do credo cristão
= Iniciação cristã: deve levar a um contato pessoal com Jesus Cristo

1.2 - Catequese:
* Katá-ekhéo = fazer eco, fazer ressoar, provocar ressonância...
- Dirige-se aos que já acreditam no Querigma:
“O que devemos fazer?”
- É uma orientação moral para os convertidos
- A segunda fase da pregação apostólica
- Refere-se também à formação da consciência cidadã (para todos...)

1.3 - Evangelizar e Catequizar:


- Evangelizar = anunciar o Querigma
- A catequese deve ser o ato segundo
- Catequese sem Evangelização (Querigma) é igual a
= leis sem o Espírito
= fé sem conteúdo
= obrigações sem convicções

1
Tarcísio Augusto Reis da Silva, é Leigo e Postulante da Comunidade de Aliança e Vida Nossa Senhora Desatadora de
Nós, foi Coordenador do Ministério de Formação na Diocese de Bragança – Pá e da Formação Estadual da Renovação
Carismática Católica do Pará e depois como membro da Equipe Nacional do Ministério de Pregação da RCC do Brasil,
Coordenou o Ministério de Pregação na Paróquia de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, participa do Grupo de Oração
Filhos de Maria na Paróquia São João Batista, cursou pela EAD Sagrada Escritura pela Escola Bíblica de Montrey no
México e pela UCLA – Universidade Católica Latino Americano – México.
Ex-Seminarista da Fraternidade de São Francisco de Assis na Providência de Deus – São Paulo-SP, formado em
Parapsicologia pelo CLAP: Centro Latino Americano de Parapsicologia em São Paulo-SP, Bacharel e Licenciado em
Filosofia pela FPA, participou da VII Feira de Ciências do Estado do Pará, recebendo seu certificado pela Universidade
Federal do Pará através do Núcleo Pedagógico de Apoio ao Desenvolvimento Científico – NPADC e pelo Campus
Universitário do Tocantins e pelo Centro Pedagógico de Apoio ao Desenvolvimento Científico – CPADC.
1.4 - Didascália:
- Ensino aprofundado aos cristãos adultos na fé [1Cor 3,1-3]
- É a doutrina da Justiça [Hb 5,11-6,8]
- Educação para o agir coerente com a fé cristã [Na Grécia = formação de atores)
- Consciência madura das exigências do seguimento de Jesus
= Catequese para os adultos

1.5 – O caráter permanente da Catequese:


- A compreensão e o amadurecimento da fé é processual e perpassa a vida toda.
- Duas funções:
1.5.1 – Função mistagógica: conduz à experiência do mistério: pessoal,
convicta, transformadora...
- O elemento-força do Querigma: a Palavra
- O elemento-força da Mistagogia: a Palavra feita gesto: expressão
de adesão profunda a Jesus Cristo, o sacramento do Pai...
1.5.2 – Função pedagógica: conduz ao seguimento de Jesus Cristo
através da inserção na vida da comunidade...

1.6 - Primeiro e Segundo Testamentos:


Ruptura e Continuidade...
► Entende-se o Segundo Testamento (com seu querigma e com sua
catequese) dentro da experiência religiosa do povo de Israel...

2. Acontecimentos fundantes na Tradição judaico-cristã:


2.1 - Êxodo/Tribalismo
* Formação do Povo de Deus: diversas tribos, um só Projeto
2.2 - Morte/Ressureição de Jesus
* Formação das Comunidades Cristãs: diversas culturas, um só Projeto

3. Características fundamentais:
3.1 - Da opressão para a liberdade
3.2 - Da morte para a vida plena
3.2 - A unidade na diversidade: o Projeto da Vida para todos os povos
3.3 - Aliança sagrada:
- Iniciativa amorosa de Deus
- Acolhida responsável do ser humano
3.4 - Experiência de Deus que se revela na história humana

4. O Rosto de Deus: traços predominantes


4.1 - Deus Criador
4.2 - Deus Libertador

5. O “Querigma” da Primeira Aliança:


5.1 - Credo familiar do Povo de Israel: Dt 6,20-25
5.2 - Credo comunitário do Povo de Israel: Dt 26,1-11

6. Bases (Fontes) do Querigma:


6.1 - Testemunhas oculares do Acontecimento
6.2 - A manutenção/celebração da memória histórica (dos Acontecimentos Fundantes)
nas comunidades

7. A “Catequese” do Primeiro Testamento


7.1 - Defesa e promoção dos Princípios do Projeto de Deus:
7.1.1 - Econômicos: Ex 16...
* Deus é fonte dos bens
* Partilha segundo a necessidade de cada pessoa, família ou tribo
* Não acumular
* Manter o sinal – memória para as novas gerações

7.1.2 - Políticos: Ex 18...


* Ensinar os estatutos e leis de Deus
* Conhecer o caminho a seguir e as obras que devem ser feitas
* Organização a partir da base
* Decisões coletivas
* Lideranças: - capazes
- tementes a Deus
- seguras
- incorruptíveis

7.1.3 - Religiosos/Ideológicos: Ex 20...


* Deus: Aquele que libertou o povo da “casa da escravidão”.
Por isso:
Não servir outros deuses
Não pronunciar seu Nome em vão
Guardar o sábado
Honrar pai e mãe
NÃO MATAR
Não cometer adultério
Não roubar
Não apresentar falso testemunho
Não cobiçar bens alheios

7.1.4 - Sociais: Dt 15,7-11...


* Atenção prioritária pelas pessoas pobres, estrangeiras, viúvas, órfãs...

7.2 - A motivação para a fidelidade com base nos modelos de fé [Eclo 44,1-50,24]

7.3 - Catequistas:
* Testemunho das pessoas animadoras do Movimento do Êxodo
* pais e mães,
* lideranças comunitárias (anciãos, juízes),
* levitas itinerantes
* profetas e profetisas
* sábios e sábias...

7.4 - Metodologia:
* Atualizar a memória dos Acontecimentos Fundantes em cada contexto histórico,
através da transmissão oral e escrita:
- Contos, - Cânticos, - Liturgias, - Reuniões, - Parábolas, - Oráculos,
- Narrativas, - Poesias, - Discursos, - Visitas / contatos pessoais...

* Atitudes morais...

8. Origem do Querigma e da Catequese no Segundo Testamento


8.1 - Evento: Jesus de Nazaré
8.2 - Organização das Comunidades Cristãs: Cristianismos originários
8.3 - Memória de Jesus, o Cristo: sua vida, suas ações, suas palavras = EVANGELHOS
8.4 - As Igrejas nas casas
8.5 - Catequistas:
* Testemunho de Jesus de Nazaré
* Apóstolos e Apóstolas
* Animadores das Igrejas nas casas
* Equipes missionárias
* Líderes comunitários:
- anciãos e anciãs
- profetas e profetisas
- diáconos e diaconisas
- evangelistas
- presbíteros
- epíscopos
* Escritores...

8.6 - Defesa e promoção dos Princípios do Reino de Deus (Cf. prática de Jesus e das
primeiras comunidades cristãs)

8.6.1 - Econômicos:
- Os bens são para todas as pessoas
- Partilha segundo a necessidade de cada pessoa
- Romper com o acúmulo
8.6.2 - Políticos:
- Organização a partir da base
- Serviço mútuo
- Romper com o poder-dominação
8.6.3 - Religiosos/ideológicos:
- Deus (Abba) é Amor
- Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo
- Romper com a idolatria
8.6.4 - Sociais:
- Atenção prioritária pelas pessoas excluídas
- Romper com os interesses da classe dominante

8.7 – Memória histórica:


- Fundamento para o Querigma: 1Cor 15,1-8 [Cf. também: Hb 11,1-12,4]

II. O QUERIGMA E A CATEQUESE EM ATOS DOS APÓSTOLOS

9. A Obra de Lucas
9.1 - Evangelho + Atos dos Apóstolos

9.2 - O contexto de onde emerge a Obra de Lucas


* Anos 85-90
* Dois centros cristãos irradiadores do Evangelho:
- Jerusalém
- Antioquia da Síria
9.3 - As Comunidades de Lucas:
* Diversidade de raças e culturas
* Nas grandes cidades:
- contrastes sociais
- conflitos de lideranças/ministérios
- discriminação das mulheres
- conflitos entre cristãos de origem judaica com os de origem pagã
- Perseguições externas:
da parte do Império
da parte do Judaísmo Formativo
- Esfriamento do primeiro fervor: cansaço, acomodação, dúvidas...

9.4 - Quem foi Lucas?


* Médico, de origem grega, da segunda geração de cristãos
* Participou da equipe missionária de Paulo: Cl 4,14; Fm 24; 2Tm 4,11...
At 16,10ss e 20,6ss (o pronome “nós”...)

9.5 - A visão de Lucas a respeito da História da Salvação (quatro etapas):


9.5.1 - Primeiro Testamento = tempo da Promessa e espera do Reino
9.5.2 - Jesus de Nazaré = tempo da chegada e da realização do Reino
9.5.3 - Comunidades Cristãs (Igreja) = tempo de entrada e difusão do Reino
9.5.4 - Parusia = tempo da plenitude do Reino

9.6. A proposta de Lucas: At 1,8


* Na força do Espírito Santo, ser testemunhas de Jesus
- em Jerusalém,
- em toda a Judéia
- na Samaria
- até os confins da terra...
*Portanto:
- fidelidade às origens (era apostólica = o primeiro anúncio)
- irradiação da Palavra, em círculos sempre mais amplos:
de Jerusalém ao fim do mundo...

10. O Querigma cristão


10.1 - O Querigma como pregação oral das testemunhas oculares de Jesus
- Núcleo central: Morte e Ressurreição de Jesus
- Objetivo: - Provar que Jesus é o Messias/Senhor/Salvador
- Por isso: conversão

10.2 - Enraíza-se na própria ordem de Jesus Cristo ressuscitado: Lc 24,44-48

10.3 – Textos mais antigos: nas Cartas Paulinas:


* 1Ts 1,9-10
* 1Cor 15,1-7; 4,5
* 2Cor 5,10
* Rm 1,1-4; Rm 2,16; 8,31-34; 10,9-13; 14,8-9

10.4 – Fundamentos do Querigma paulino


[Recolhidos da Tradição Apostólica: cf. 1Cor 15,3; Gl 2,1-2]
- As profecias se cumpriram:
- Jesus é descendente de Davi
- Morreu, segundo as Escrituras
- Foi enterrado
- Ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras
- Foi exaltado à direita de Deus
- É Filho de Deus
- É o Senhor dos vivos e dos mortos
- Ele virá outra vez como Juiz e Salvador...
- Por isso: conversão

11. Textos fundamentais do Querigma cristão em Atos dos Apóstolos


* Discursos de Pedro: At 2,14-41; 3,11-26; 4,8-12; 5,29-32; 10,34-43
* Discurso de Paulo: At 13,16-41
* Discurso de Estevão: At 7,1-53

12. Juntando os textos afirmativos do Querigma em Atos dos Apóstolos


JESUS CRISTO:
12.1 - A Realização das Profecias
* “O que está acontecendo é o que foi dito por intermédio do profeta (At
2,16 e citação de Joel 3,1-5)...
* “Deus realizou o que antecipadamente anunciara pela boca de todos os
profetas, a saber, que o seu Cristo devia sofrer” (3,18)...
* “Moisés, na verdade, falou: O Senhor nosso Deus vos suscitará dentre os
vossos irmãos um profeta semelhante a mim; vós o ouvireis em tudo o que
ele vos disser. E todo aquele que não escutar este profeta será eliminado do
meio do povo (cf. Dt 18,15.19)... Também os outros profetas, desde Samuel
e todos os que a seguir falaram, prenunciaram estes dias” (3,22-24)...
* “Tal é a palavra que Ele enviou aos israelitas, dando-lhes a Boa Nova
da paz por Jesus Cristo, que é o Senhor de todos” (10,36 – cf. Is 52,7;
Na 2,1)...
* “Dele todos os profetas dão testemunho” (10,43)...
* “A vós foi enviada esta palavra de salvação. Pois os habitantes de
Jerusalém e seus chefes cumpriram saem o saber as palavras dos
profetas, que a cada sábado são lidas” (13,26-27)...
* “Quando, pois, cumpriram tudo o que estava escrito a seu respeito,
retiraram-no do madeiro e o depuseram num túmulo” (13,29)...
* “Nós anunciamos a Boa Nova: a promessa, feita a nossos pais, Deus a
realizou plenamente para nós, seus filhos... como também está escrito
nos Salmos: Tu és o meu filho, eu hoje te gerei. E que o tenha
ressuscitado dentre os mortos e ele não deva tornar à corrupção, assim
já o dissera: ... ‘Não deixarás o teu santo experimentar a corrupção’”
(13, 32-33)...
* Conferir também: Rm 1,1-4...
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Complemento:
- A Palavra de Deus se cumpre na história humana...
- Is 7,14 // Mt 1,23: “Eis que a virgem conceberá... o Emanuel”
- Especialmente os cânticos do Segundo Isaías (Is 40-55) são interpretados
como prefiguração de Jesus, o Messias sofredor: cf. Is 42,1-9; 49,1-7;
50,4-11; 52,13-53,12...
- Identificação com Moisés, Elias...
==============

12.2 – A Descendência davídica de Jesus


* Davi, “sendo profeta, e sabendo que Deus lhe havia assegurado com
juramento que um descendente seu tomaria assento em seu trono, previu e
anunciou a ressurreição de Cristo...” (2,30-31 – cf. 132,11; 2Sm 7,12)...
* “Da sua descendência (de Davi), conforme a promessa, Deus fez surgir a
Israel um Salvador, que é Jesus (13,23)...
==============
Complemento:
- O movimento davídico perpassa a história de Israel: expectativa de um
rei justo...
- Lc 1,32: Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai... e seu reinado não terá
fim...
- Lc 2,4: Belém, cidade de Davi; Jesus, da casa e da família de Davi...
- Lc 6,3: Jesus lembra o “saque” de Davi aos pães consagrados no Templo
(1Sm 21,2-7)...
- Lc 18,38: “Jesus, filho de Davi”...
- Lc 19,38: “Bendito aquele que vem, o Rei, em nome do Senhor...
- Lc 20,41-44: Jesus lembra que Cristo é maior do que Davi...
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12.3 – O Ministério de Jesus


* “Jesus, o Nazareno, foi por Deus aprovado diante de vós com milagres,
prodígios e sinais, que Deus operou por meio dele entre vós, como bem o
sabeis” (At 2,22)...
* “Moisés, na verdade, falou: O Senhor nosso Deus vos suscitará dentre os
vossos irmãos um profeta semelhante a mim; vós o ouvireis em tudo o que ele
vos disser. E todo aquele que não escutar este profeta será eliminado do meio
do povo (3,22-23 - cf. Dt 18,15.19)...
* “Ele passou fazendo o bem e curando a todos os que estavam
dominados pelo diabo, porque Deus estava com ele” (10,38)...
* “Jesus de Nazaré, começando pela Galiléia, depois do batismo
proclamado por João, como Deus o ungiu com o Espírito Santo e com
poder, e ele passou fazendo o bem e curando a todos os que estavam
dominados pelo diabo, porque Deus estava com ele. Nós somos
testemunhas de tudo o que ele fez” (10,37-39)...
================
Complemento:
- Lc 4: As rupturas e opções de Jesus...
- Os “sinais e prodígios” de Jesus sem triunfalismos: messianismo
transgressor...
- Jesus é a realização da Promessa...
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12.4 - A Morte de Jesus


* “Este homem, entregue segundo o desígnio determinado e a presciência
de Deus, vós o matastes, crucificando-o pela mão dos ímpios” (At 2,23)...
* “Vós o entregastes e negastes diante de Pilatos... Vós acusastes o Santo
e o Justo... e fizestes morrer o príncipe da vida” (3,14-15)...
* “Em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, aquele a quem vós crucificastes”
(4,10)...
* “Jesus, a quem vós matastes, suspendendo-o no madeiro” (5,30)...
* “Nós somos testemunhas de tudo o que ele fez..., a quem no entanto o
mataram, suspendendo-o no madeiro” (10,39)...
* “Sem encontrar nele motivo algum de morte, condenaram-no e pediam a
Pilatos que o mandasse matar... Retiraram do madeiro e o depuseram num
túmulo” (13,28-29)...
=================
Complemento:
- O núcleo mais antigo do Querigma...
- 1Cor 1,23-25: “Nós pregamos Jesus Cristo crucificado...”
- Dificuldade de compreensão dos discípulos: cf. os três anúncios da paixão
e morte de Jesus: Lc 9,22-26; 9,43b-48; 18,31-34...
- Consequência da opção de Jesus pelo Projeto do Reino de Deus a partir
das pessoas excluídas...
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12.5 – A Ressurreição de Jesus


* “Deus o ressuscitou, libertando-os das angústias do Hades, pois não era
possível que ele fosse retido em seu poder” (At 2,24 – cf. profecia de
Davi: At 3,25-28 // Sl 16,8-11)...
* Davi “previu e anunciou a ressurreição de Cristo, o qual na verdade não
foi abandonado no Hades, nem sua carne viu a corrupção. A este Jesus,
Deus o ressuscitou, e disto nós todos somos testemunhas” (2,32)...
* “Deus o ressuscitou dentre os mortos, e disto nós somos testemunhas”
(3,15)...
* “Para vós em primeiro lugar Deus ressuscitou seu Servo e o enviou para
vos abençoar” (3,26)...
* “Em nome de Jesus Cristo..., a quem Deus ressuscitou dentre os mortos”
(4,10)...
* “O Deus de nossos pais ressuscitou Jesus, a quem vós matastes” (5,30)...
* “Mas Deus o ressuscitou ao terceiro dia, e concedeu que se tornasse visível...
a nós, que comemos e bebemos com ele, após sua ressurreição dentre os
mortos” (10,40-41)...
* “Deus o ressuscitou dentre os mortos, e por muitos dias apareceu aos eu com
ele tinham subido da Galiléia a Jerusalém, as quais são agora suas testemunhas
diante do povo” (13,30-31)...
* “Deus realizou plenamente (a promessa) para nós, seus filhos, ressuscitando
Jesus” (13,33)...
* “E que o tenha ressuscitado dentre os mortos e ele não deva tornar à
corrupção, assim já o dissera: ... ‘Não deixarás o teu santo experimentar a
corrupção’... Aquele a quem Deus ressuscitou não experimentou a corrupção
(13,34.37)...
Conferir também: 1Cor 15,1-7...
=================
Complemento:
- Na cultura judaica: fé na ressurreição desde a 1ª Aliança... Fruto da
“insurreição” (cf. Dn 11,40-12,13; 2Mc 7)...
- Na cultura grega: heróis divinizados...
- O anúncio de Jesus ressuscitado dentre os mortos causava estranheza entre os
intelectuais (cf. At 17)...
- No querigma cristão: ressurreição não tem conotação mitológica...
- Lc 24,1-49: o testemunho da comunidade de Lucas...
- O tempo de presença de Jesus ressuscitado: um dia (Lc 24,1: “no primeiro dia
da semana”); 40 dias (At 1,3): refere-se ao tempo cairológico e não
cronológico...
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12.6 – A Exaltação (Ascensão) de Jesus


* “Exaltado à direita de Deus” (At 2,33); At 2,34-35 // Sl 110,1...
* “O Deus de Abraão, de Isaac, de Jacó, o Deus de nossos pais glorificou
seu servo Jesus (3,13)...
* “Deus o exaltou com a sua direita, fazendo-o Chefe e Salvador” (5,31)...
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Complemento:
- Na tradição judaica: Henoc (Gn 5,21-24) e Elias (2Rs, 2-8-13)...
- Confissão de fé da Igreja primitiva (cf. Mc 16,9; 1Pd 3,22; 1Tm 3,16)...
- Na obra de Lucas: dois relatos (cf. Lc 24, 50-53 e At 1,6-8)...
- São relatos “teológicos” baseados na experiência pascal das primeiras
Testemunhas... Cf. “dois homens vestidos de branco”: At 1,10 // Lc 24,4
- Somente os olhos da fé captam o sentido profundo das realidades divinas...
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12.7 – A Vinda do Espírito Santo


* “Exaltado pela direita de Deus, recebeu do Pai o Espírito Santo
prometido e o derramou, e é isto que vedes e ouvis (At 2,33)...
* “Cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo... Então
recebereis o dom do Espírito Santo (2,38)...
* “Nós somos testemunhas destas coisas, nós e o Espírito Santo, que
Deus concedeu aos que lhe obedecem” (3,32)...
Conferir também: Gl 4,6...
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Complemento:
- Na tradição judaica: Ruah de Deus (já presente na criação: Gn 1,2); os dons do
Espírito: Is 11,1-9; age através do profeta: 61,1-2 // Lc 4,18-19; reúne os
dispersos: Ez 37,1-14; transforma o coração: Ez 36, 26-27); é derramado sobre
todos: Jl 3,1-5 // At 2,17-21...
- Protagonista principal da evangelização: é kerix por excelência...
* Lc 1-2: A origem de Jesus: Deus age com a força do Espírito Santo
* Lc 3-24: Jesus e sua proposta: Jesus age com a força do Espírito Santo
* Atos dos Apóstolos: as comunidades agem com a força do E. Santo
===================

12.8 – A Volta de Jesus


* “Convertei-vos... e deste modo venham da face do Senhor os tempos do
refrigério. Então enviará ele o Cristo que vos foi destinado, Jesus, a quem o céu
deve acolher até os tempos da restauração de todas as coisas, da qual Deus falou
pela boca de seus santos profetas” (At 3,20-31)...
* “Ordenou-nos que proclamássemos ao povo e déssemos testemunho de
que ele é o juiz dos vivos e dos mortos, como tal constituído por Deus”
(At 10,42)...
Conferir também: 1Ts 1,10; Rm 2,16
===================
Complemento:
- Na tradição profética: * “O Dia de YHWH” (Am 5,18; Is 34,8; Jr 46,10)...
* Avinda do Filho de Homem sobre as nuvens (Dn 7,13-14)...
- Atos dos Apóstolos: Tempo da plenitude da Promessa...
- At 1,11: A certeza da volta de Jesus = responsabilidade humana “hoje”...
- A fé na volta de Jesus provocou expectativas e atitudes diversas (cf. 1Ts)...
- “Dia de julgamento” (cf. Mt 25,31-46)...
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12.9 - Jesus é o Senhor e Salvador


* “Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo” (At 2,21)...
* “Saiba, portanto, com certeza, toda a casa de Israel: Deus o constituiu
Senhor e Cristo, este Jesus que vós crucificastes” (2,36)...
* “Ele é a pedra desprezada por vós, os construtores, mas que se tornou a
pedra angular. Pois não há, debaixo do céu, outro nome dado aos seres
humanos pelo qual devamos ser salvos” (4,11-12)...
* “Deus o exaltou à sua direita fazendo-o Chefe e Salvador” (5,31)...
* “Dando-lhes a Boa Nova da paz por Jesus Cristo, que é o Senhor de
todos” (10,36)...
* “Conforme a promessa, Deus fez surgir a Israel um Salvador, que é
Jesus (13,23)...
* “Por ele que vos é anunciada a remissão dos pecados... Por ele é
justificado todo aquele que crê” (13,38)...
Conferir também: Rm 10,9-13...
===================
Complemento:
- O mesmo título dado a YHWH agora é aplicado a Jesus: cf. Fl 2,11...
- O “nome do Senhor”: Os cristãos se identificam como “aqueles que invocam o
nome do Senhor”: cf. At 4,12; 9,14.21; 22,16; Rm 10,9; 1Cor 1,2; 2Tm 2,22;
Fl 2,6-11...
- Posicionamento político anti-imperial: o “Kyrios” é Jesus e não o Imperador...
===================

12.10 - Por isso: Arrependimento – Conversão - Batismo


* “Ouvindo isto, eles sentiram o coração traspassado e perguntaram a
Pedro e aos demais apóstolos: ‘Irmãos, que devemos fazer?’ Respondeu-
lhes Pedro: Arrependei-vos e cada um de vós seja batizado em nome de
Jesus Cristo para a remissão dos vossos pecados. Então, recebereis o dom do
Espírito Santo. Pois para vós é a promessa, assim como para os vossos filhos e
para todos aqueles que estão longe, isto é, para quantos o Senhor, nosso Deus,
chamar” (At 2,37-39)...
* “Arrependei-vos e convertei-vos, a fim de que sejam apagados os
vossos pecados... Vós sois os filhos dos profetas e da aliança que Deus
estabeleceu com os nossos pais, quando disse a Abraão: ‘Na tua descendência
serão abençoadas todas as famílias da terra’ (cf. Gn 12,3). Para vós em primeiro
lugar Deus ressuscitou seu Servo e o enviou para vos abençoar, a partir do
momento em que cada um de vós se afastar de suas maldades” (3,19.25-26)...
* “Deus o exaltou... fazendo-o Chefe e Salvador, a fim de conceder a
Israel o arrependimento e a remissão dos pecados” (5,31)...
* “Por meio do seu nome, receberá a remissão dos pecados todo aquele
que nele crer” (10,43)...
* “Ficai sabendo, pois, irmãos: é por ele que vos é anunciada a remissão
dos pecados. Com efeito, de todas as coisas das quais não pudestes obter
a justificação pela lei de Moisés, por ele é justificado todo aquele que
crê” (13,38)...
Conferir também: Gl 1,3-4...
====================
Complemento:
- No Primeiro Testamento: shüb (hebr.) = mudança de caminho...
- No Segundo Testamento: metanoia (gr.) = mudança de mentalidade que
atinge profundamente o sentimento e a vontade...
- “O que devemos fazer?”: Cf. Lc 3,10-14; 10,25; 18,18; At 2,37; 16,30;
22,10...
- O “Batismo”: mergulho na “morte” de Jesus: Cf. Rm 6,1-6...

====================

III. QUERIGMA – CATEQUESE – TESTEMUNHO


- A PALAVRA QUE SE FAZ CAMINHO EM ATOS DOS APÓSTOLOS -

13 – A caminhada da Palavra em três dimensões:


1ª) Dimensão do Tempo:
- O chronos se torna kaírós (cf. At 1,6-7)...
- A mensagem/querigma deve ser permanentemente atualizada, de acordo com
os sinais de cada tempo (“hoje”)...
- Os grandes sinais para o anúncio do querigma: morte, ressurreição e ascensão
de Jesus e a vinda do Espírito Santo, o “educador” por excelência...
- O tempo entre a Ascensão de Jesus e a Segunda Vinda: é de conversão e
acolhimento da graça da salvação...

2ª) Dimensão do Espaço:


- De Jerusalém ao fim do mundo (1,8)...
- De lugar em lugar anunciando a Boa Nova (8,4)...
- As viagens missionárias (a partir de At 13)...
- Os verbos: prosseguir, levantar-se, partir, embarcar...
- A mensagem/querigma deve ser inculturada, respeitando o contexto sócio-
cultural de cada local e de cada povo: cf. discursos e prática de Pedro e Paulo
em ambiente judaico (Jerusalém e sinagogas com os judeus da diáspora) e em
ambientes helenista e romano (Damasco, Antioquia, Creta, Perge, Atenas,
Corinto, Filipos...).
* Entre os Judeus de Israel (Pedro como protagonista principal)...
* Entre os gentios (Paulo como protagonista principal)...

3ª) Dimensão do Testemunho:


- “Sereis minhas testemunhas” (1,8)...
- Unidade com a Igreja Apostólica: tradição das testemunhas oculares...
- Fidelidade ao ensinamento e à prática de Jesus...
- As comunidades judaico-cristãs buscam conhecer e praticar o querigma,
testemunhando a fé em Deus Criador e Libertador que se revela na história: cf.
tribos de Israel, profetas e profetisas, o “resto de Israel”, os sábios e sábias, os
seguidores e seguidoras, os mártires de todos os tempos, as pessoas anônimas
fiéis à fé e ao amor de Deus e ao próximo...

14. A radicalidade do Testemunho:


14.1 - Na Dínamis do Espírito Santo...
14.2 - Com Parresía: coragem, intrepidez, ousadia...
14.3 - Em meio a Tlypsis: tribulação, conflitos decorrentes da pregação do Reino...
14.4 - Com Eutimía: bom ânimo...
14.5 - Na Martiría: “Nós somos testemunhas destas coisas”...

15. Um novo jeito de ser Ekklesía


15.1 - Pela Didaché: Ensinamento dos Apóstolos. Diz respeito a “tudo o que Jesus fez e
ensinou desde o princípio” (1,1)...
15.2 - Pela Koinonía: comunidades de pessoas em comunhão, fraternidade, solidariedade...
* Cf. retratos da comunidade de Jerusalém (2,42-47; 4,32-35; 5,1216)...
* Continuação da prática de Jesus através dos “sinais e prodígios”:
- Pessoas doentes são curadas...
- Pessoas oprimidas são libertadas...
- Pessoas pobres e marginalizadas são socorridas e integradas...
15.3 - Pela Diakonía: comunidades de pessoas em serviço mútuo...
* Trabalho em equipe...
* Diversos ministérios...
15.4 - Pela Profecía: comunidades de pessoas que assumem a pregação da Boa Nova...
* A prioridade: evangelizar...
14.5 - Pela Eucaristia: celebração da Ceia do Senhor...

16. Toda opção exige rupturas


A igreja cristã – comunidades de koinonía e diakonía – assume posturas coerentes com a fé em
Jesus Cristo. Por isso, não pode suportar atitudes como:
- de Ananias e Safira que mentem para a comunidade (At 5,1-11)...
- de Simão, o mago, fabricante de ilusões (8,9-24)...
- de Elimas que quer impedir a pregação dos missionários (13,4-12)...
- dos patrões que exploram a partir dos dons de uma escrava (16,16-18)...
- dos exorcistas judeus que usam o nome de Jesus em proveito próprio (19,11-20)...
- dos ourives que exploram a religiosidade popular (19,23-40)...

17. Em permanente Caminhada


* Atitude de Êxodo:
- de Jerusalém para o mundo...
- do templo para as casas...
- do sistema de pureza para a Tradição da Aliança...
- do legalismo excludente para o amor misericordioso, sem exclusões...
- de um povo da Promessa para a Promessa de Salvação a todos os povos...
- da verdade de uma cultura/religião para caminhos diversos que promovem a vida...
- da uniformidade/rigidez de doutrina para o diálogo com as diversas culturas...
- do poder do dinheiro e da eloqüência para o amor eficaz a partir dos pequenos e
pobres...
- do acúmulo de bens para a partilha comunitária...
- da dominação para o serviço mútuo...
- do centralismo religioso para a autonomia das comunidades na obediência ao
Projeto do Reino...
- da timidez, do medo, do comodismo e do desânimo para a intrepidez, ousadia, bom
ânimo...
- dos “Doze” israelitas (1,12-26), para os “Sete” helenistas, incluindo as viúvas
(6,1-6), para as 120 pessoas (1,15), para três mil (2,41), para cinco mil (4,6), para
multidões de homens e mulheres (5,14) de todas as nações que há debaixo do céu
(2,5)...
“Deus não faz acepção de pessoas,
mas que, em qualquer nação,
quem o teme e pratica a justiça
lhe é agradável”
(At l0,34).

18. Sonho que se sonha juntos...


O Querigma apostólico com seus desdobramentos nos ilumina e nos impulsiona à construção
de uma nova Igreja (CEBs) em vista do Reino de Deus... Na dinâmica de
* Memória
* Caminhada
* Sonho
* Compromisso...

Sintetizando... Complementando...
* O Querigma: ponto de partida para a Catequese
13.1 - Em duas fases:
1ª) O querigma propriamente dito. Pedro aos judeus: Jesus é cumprimento das
promessas que se encontram na Sagrada Escritura. Paulo aos gentios: desenvolve
especialmente o tema de um único Deus, contra a idolatria.
2ª) O querigma apostólico se desdobra em catequese através de instruções/exortações
às pessoas convertidas: Evangelhos e Epístolas = cristianismos originários. A catequese
atualiza, aprofunda, amplia e consolida o querigma...
- O verbo katekhéin tem o sentido de “instruir sobre alguma coisa” (At 21,21-24),
sobre a Lei (Rm 2,18) ou sobre a instrução cristã (1Cor 14,19). Em Gl 6,6 encontra-se
os substantivos: catecúmeno, “aquele que recebe a instrução” e catequista, “aquele que
ensina a Palavra”.
- Outros termos frequentes no Segundo Testamento: didáskein = ensinar,
anghéllein = anunciar, léghein = dizer, homologhéin = professar, euanghelízomai =
anunciar uma boa notícia, ghnorízein = fazer saber...
* Na história da Igreja, o querigma vai ser entendido como o “núcleo essencial do
cristianismo” e a catequese como “desenvolvimento e aprofundamento”. O primeiro a
usar o termo querigma foi Santo Atanásio, ao redor do ano 350. Com o decorrer do
tempo perdeu-se o vínculo entre querigma e catequese: permanece como um desafio
para a evangelização em nossos dias...

►O kérygma – A mensagem
O querigma tem característica dinâmica e não meramente conceitual, como podemos perceber
na prática de Jesus: cf. Mt 4,23. O Reino de Deus é o Centro do querigma (primeiro anúncio)
proclamado também pelos seus discípulos. Não é explicado ou interpretado exegeticamente, mas
proclamado como um acontecimento... Deus, em Jesus Cristo, governa a história com soberania
definitiva, em contraste com a soberania terrena (cf 1Cor 15,24; Ef 3,10-12)... Ele vem trazer a justiça
(justificação) pela infinita misericórdia divina manifestada em Jesus Cristo (cf. 1Cor 1,30; 2Cor 3,9;
5,21; Ef 4,24; Fl 1,11)...
O querigma: conteúdo e processo. Constitui-se em anúncio alegre e vibrante que faz a pessoa
se mover, mudar, avançar... Boa notícia = Evangelho feito nas famílias e na comunidade...
A razão de ser da Igreja é evangelizar: é sua identidade, sua vocação própria (EN 14). O
“primeiro anúncio” garante o fundamento da fé cristã...
O Segundo Testamento dá preferência ao verbo kerýssein = indica a ação de anunciar, de
proclamar... Pregar, de forma eficaz, o evento Jesus Cristo (sem priorizar a instituição religiosa)...
Significa potência explosiva = difunde para todos os lados (dimensão missionária)...
O conteúdo do querigma, objeto do anúncio: Jesus Cristo... o SENHOR... É a salvação da
pessoa humana em Cristo Jesus...
Cf. 2Tm 4,2-3: O querigma constitui-se em sã doutrina que deve ser anunciada “oportuna ou
inoportunamente” (2Tm 4,2), de forma íntegra, não falsificada, mesmo que não seja bem aceita. Neste
sentido, é a volta, sempre renovada, ao testemunho dos apóstolos (= querigma apostólico): conservar
e beber do bom depósito transmitido pelas testemunhas oculares do evento Jesus de Nazaré (cf. 1Tm
1,10; 6,20; 2Tm 3,14; Tt 1,9; 2,1-2)...

►O kerix - A pessoa mensageira


O primeiro anunciador é o próprio Deus/Jesus Cristo
São Paulo: considera-se o proclamador da mensagem (= querigma) de Jesus Cristo (Rm
16,25). Nas cartas pastorais: “O Senhor me assistiu e me revestiu de forças, a fim de que por mim a
mensagem (= querigma) fosse plenamente proclamada e ouvida por todas as nações” (2Tm 4,17)...
“Deus manifestou a sua palavra por meio da proclamação (= querigma) de que fui encarregado por
ordem de Deus, nosso Salvador” (Tt 1,3)...
A pessoa não pode catequizar sem antes passar pela experiência de fé profunda com Jesus
Cristo (= invadida pelo querigma). Do contrário: é mera funcionária de uma instituição religiosa...
A mensagem está acima do mensageiro. A pessoa que anuncia é serva da mensagem =
ministra da Palavra...
Exige “novo ardor, novos métodos, novas expressões (João Paul II): “É preciso anunciar a
Palavra de Deus de maneira diversa sem proclamar uma palavra diversa” (Pe. Luís Alves da Silva).
Cf. testemunho de Paulo: 1Cor 8,19-23.

►O interlocutor - A pessoa ouvinte da mensagem


É interpelada, chamada à causa. Pois, o querigma não é informação neutra (que “entra por um
ouvido e sai por outro”). É anúncio de um acontecimento que envolve a pessoa, a ponto dela perceber
que, sem a adesão a este conteúdo, não é possível uma vida digna, de pleno sentido e plena
realização... Cf. o sentido de “ouvir” na tradição judaica: Dt 4,1-8; 6,4-9... Jesus: “Quem tem ouvidos
para ouvir, ouça!”: Lc 8,8; 10,16, 14,35...
Falar de Jesus Cristo é suscitar uma “memória perigosa” que oferece ao ser humano uma nova
mentalidade, uma nova compreensão de si mesmo, do mundo e de Deus.
É uma mensagem que envolve o afetivo da pessoa que “se entrega” a “Jesus Cristo como
Senhor e Salvador” (cf. pentecostais hoje...).
Há uma íntima ligação entre o anúncio e a liturgia: mergulho no mistério de Deus com seu
desígnio misericordioso. Por isso, o rito batismal possui um significado de fundamento da vida nova =
imersão no amor de Deus = prática do amor fraterno-comunitário... Desde o início da Igreja: o
Batismo, a unção no Espírito e a Eucaristia eram chamados de mistérion (em latim: sacramento). É o
que caracteriza a Iniciação Cristã...

* Como pregar? A pregação cristã não é como a dos rabinos judeus,


nem como a dos filósofos gregos (1Cor, 2,4-5)...
- Não palavreado, mas substância do conteúdo (2Cor 11,6)
- Não ciência humana, mas sabedoria divina (1Cor 3,18-20)
- Não argumentos filosóficos, mas o poder do Espírito de Deus (1Cor 2,4-5)
- Não eloqüência, mas a Verdade do Evangelho (1Cor 2,,1-2; 2Cor 4,1-2)
* No centro da pregação está o Servo Sofredor de Javé...
O pregador: - Não se gloria na vaidade humana, mas coloca o rosto de Jesus Cristo, que
reflete a imagem do Pai (2Cor 4,2-6)
- Gloria-se das próprias fraquezas (2Cor 11,30; 12,5), de modo que toda
glória seja atribuída a Deus
- Carrega o espinho na carne e conta somente com a graça de Deus (2Cor 12,7-10)
- Prega gratuitamente, como recebeu de graça (2Cor 11,7)
- Serve-se de formas criativas para fazer-se entender...
- Tudo depende de Deus e da consciência de quem ouve...
* Jesus é o modelo de pregador, rejeitado até pelos conterrâneos (Mc 6,1-6)
Portanto, a natureza do anúncio cristão está na “palavra da Cruz”: loucura para os gentios,
escândalo para os judeus... Mas, para quem está no caminho da salvação é potência de Deus (1Cor
1,18-25).

* Dinâmica querigmática: - Leitura bíblica: ela não pode ser inofensiva... E sim,
codificação de um evento que carrega em si a força para
decisões, atitudes, movimentos...
- Não meramente apreensão de conceitos, mas apropriação de
uma experiência fontal...
- Querigma, portanto, é um evento que faz mover, uma notícia
comovente, transpõe limites, dinamiza conteúdos, aponta
horizontes...
- O querigma é sempre transgressor e indica caminhos de
transformação: novas atitudes e novas ações (janela e
espelho...)
- Em última análise: o objeto do querigma é o Reino de
de Deus... Construído a partir da opção prioritária pelas pessoas
excluídas... (Cf. rupturas e opções de Jesus: Lc 4)

► O segredo da Cruz...

As opções de Paulo (estratégia pastoral)...

1. A universalização da Boa Notícia: a Salvação oferecida gratuitamente a quem tem fé (= a nova


justiça): Rm 1,16-17; 3,21-31; 5,1-11; 10,1-13; 1Cor 5,11-21; 12,12-13...
2. O Evangelho da Liberdade: Gl 5; Rm 6-8...
3. Uma rede de comunidades solidárias: 1Ts 1,4-10; Rm 15,25-32; 1Cor 16,1-18...
4. Comunidades = Corpo de Cristo (diversos ministérios): 1Cor 12-14; Rm 16,1-16...
5. A Igreja nas casas: Rm 16...
6. A comunhão de mesa = a verdade do Evangelho: Gl 2,11-14...
7. Vigilância e animação permanentes: cf. as visitas e os escritos às comunidades...
8. Evangelização feita em mutirão: grande número de pessoas discípulas missionárias...
9. O trabalho como meio de evangelização: At 18,1-4; 1Cor 4,9-13; 9,1-18; 1Ts 2,1-12...

As rupturas que Paulo realiza

Liberta-se
 do sistema judaico em relação aos estrangeiros, pobres, mulheres...
- Com relação às mulheres, textos polêmicos: 1Cor 11,2-16; 14,33b-38...
 do sistema romano, recomendando que se evite reproduzir o modelo de vida das classes
dominantes: de Roma (Rm 1,18-32), de Corinto (1 Cor 6), da Galácia (Gl 5,16-21)...
- Com relação às autoridades, um texto polêmico: Rm 13,1-7...
- Com relação à escravidão: 1Cor 7,20-24...
 do sistema da Igreja dependente de Jerusalém... Sua vocação provém diretamente de Deus:
Gl 1,11-23...
 de si próprio. As fraquezas e limites pessoais ressaltam a grandeza e a força de Deus: 1Cor
2,1-5; 4,9-13; 2Cor 4,7-18; 6,1-10; 11,23-33...

Uma espiritualidade que nasce do conflito

Paulo enfrenta muitas situações conflituosas. Eis algumas:


 Com autoridades judaicas: At 13,44-52; 14,1-7; 17,1-9.13-16; 18,12-17; 20,1-6; 21-26...
 Com judeu-cristãos: Gl 1,6-10; 2,1-14; 2Cor 11-12; Fl 3; 1Cor 1,10-16; 9,1-18...
 Com cidadãos gregos: At 17, 32-33; 1Cor 17-31...
 Com o poder econômico e político: At 16,16-24; 19,23-40; 1Cor 11,17-34...
 Tribulações de todo tipo: 2Cor 4,7-18; 11,23-29...

A teologia da Cruz

O anúncio de Jesus Cristo crucificado e ressuscitado é o centro do Evangelho proclamado por


Paulo: 1Cor 1,17-2,9; Gl 5; Fl 2,6-11; Rm 6,1-11... A cruz de Jesus é o caminho exodal que
possibilita a passagem da velha criatura à criatura nova, da morte para a vida: 1Cor 1,17-20; Gl 6,14-
16; Fl 3,17-21... (Cf. também nas epístolas dêutero-paulinas: Ef 2,11-22; 4,17-32; Cl 1,15-20; 2,9-
15)...
[Entende-se, assim, ainda melhor, os três anúncios de sua paixão e morte, feitos por Jesus a
seus discípulos: Mc 8,31-38; 9,30-37; 10,32-40...]

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