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MODELOS DE

PLANTAÇÃO DE
IGREJAS

Professor Dr. Galaor Linhares Tupan Junior

GRADUAÇÃO

Unicesumar
Reitor
Wilson de Matos Silva
Vice-Reitor
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de Administração
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de EAD
Willian Victor Kendrick de Matos Silva
Presidente da Mantenedora
Cláudio Ferdinandi

NEAD - Núcleo de Educação a Distância


Direção Operacional de Ensino
Kátia Coelho
Direção de Planejamento de Ensino
Fabrício Lazilha
Direção de Operações
Chrystiano Mincoff
Direção de Mercado
Hilton Pereira
Direção de Polos Próprios
James Prestes
Direção de Desenvolvimento
Dayane Almeida
Direção de Relacionamento
Alessandra Baron
Head de Produção de Conteúdos
Rodolfo Encinas de Encarnação Pinelli
Gerência de Produção de Conteúdos
Gabriel Araújo
Supervisão do Núcleo de Produção de
Materiais
Nádila de Almeida Toledo
Supervisão de Projetos Especiais
Daniel F. Hey
Coordenador de Conteúdo
Roney de Carvalho Luiz

C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a


Designer Educacional
Distância; JÚNIOR, Galaor Linhares Tupan. Isabela Agulhon Ventura, Agnaldo Lorca
Ventura
Modelos de Plantação de Igrejas. Galaor Linhares Tupan Junior.
Maringá-Pr.: UniCesumar, 2017. Iconografia
214 p. Isabela Soares Silva
“Graduação - EaD”.

Projeto Gráfico
1. Modelos 2. Plantação . 3. Igrejas 4. EaD. I. Título. Jaime de Marchi Junior
José Jhonny Coelho
CDD - 22 ed. 254.1
Arte Capa
CIP - NBR 12899 - AACR/2
André Morais de Freitas
Editoração
Fernando Henrique Mendes
Qualidade Textual
Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário
Hellyery Agda, Danielle Loddi, Helen Braga do
João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828 Prado
Ilustração
Bruno Cesar Pardinho
Viver e trabalhar em uma sociedade global é um
grande desafio para todos os cidadãos. A busca
por tecnologia, informação, conhecimento de
qualidade, novas habilidades para liderança e so-
lução de problemas com eficiência tornou-se uma
questão de sobrevivência no mundo do trabalho.
Cada um de nós tem uma grande responsabilida-
de: as escolhas que fizermos por nós e pelos nos-
sos farão grande diferença no futuro.
Com essa visão, o Centro Universitário Cesumar
assume o compromisso de democratizar o conhe-
cimento por meio de alta tecnologia e contribuir
para o futuro dos brasileiros.
No cumprimento de sua missão – “promover a
educação de qualidade nas diferentes áreas do
conhecimento, formando profissionais cidadãos
que contribuam para o desenvolvimento de uma
sociedade justa e solidária” –, o Centro Universi-
tário Cesumar busca a integração do ensino-pes-
quisa-extensão com as demandas institucionais
e sociais; a realização de uma prática acadêmica
que contribua para o desenvolvimento da consci-
ência social e política e, por fim, a democratização
do conhecimento acadêmico com a articulação e
a integração com a sociedade.
Diante disso, o Centro Universitário Cesumar al-
meja ser reconhecido como uma instituição uni-
versitária de referência regional e nacional pela
qualidade e compromisso do corpo docente;
aquisição de competências institucionais para
o desenvolvimento de linhas de pesquisa; con-
solidação da extensão universitária; qualidade
da oferta dos ensinos presencial e a distância;
bem-estar e satisfação da comunidade interna;
qualidade da gestão acadêmica e administrati-
va; compromisso social de inclusão; processos de
cooperação e parceria com o mundo do trabalho,
como também pelo compromisso e relaciona-
mento permanente com os egressos, incentivan-
do a educação continuada.
Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está
iniciando um processo de transformação, pois quando
investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou
profissional, nos transformamos e, consequentemente,
Diretoria de
transformamos também a sociedade na qual estamos
Planejamento de Ensino
inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportu-
nidades e/ou estabelecendo mudanças capazes de
alcançar um nível de desenvolvimento compatível com
os desafios que surgem no mundo contemporâneo.
O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de
Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo
Diretoria Operacional
este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens
de Ensino
se educam juntos, na transformação do mundo”.
Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica
e encontram-se integrados à proposta pedagógica, con-
tribuindo no processo educacional, complementando
sua formação profissional, desenvolvendo competên-
cias e habilidades, e aplicando conceitos teóricos em
situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado
de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal
objetivo “provocar uma aproximação entre você e o
conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento
da autonomia em busca dos conhecimentos necessá-
rios para a sua formação pessoal e profissional.
Portanto, nossa distância nesse processo de cresci-
mento e construção do conhecimento deve ser apenas
geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos
que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. Ou
seja, acesse regularmente o AVA – Ambiente Virtual de
Aprendizagem, interaja nos fóruns e enquetes, assista
às aulas ao vivo e participe das discussões. Além dis-
so, lembre-se que existe uma equipe de professores
e tutores que se encontra disponível para sanar suas
dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de aprendiza-
gem, possibilitando-lhe trilhar com tranquilidade e
segurança sua trajetória acadêmica.
AUTOR

Professor Dr. Galaor Linhares Tupan Junior


Doutorando em Ministério pelo Centro Presbiteriano de Pós-Graduação
Andrew Jumper e Reformed Theological Seminary (2017). Especialista em
Coordenação de Dinâmica de Grupo pela Sociedade Brasileira de Dinâmica
de Grupo (2000). Bacharel em Teologia pelo Centro de Ensino Superior de
Maringá (2015). Graduado em Teologia pelo Seminário de Educação Teológica
Elim (2013). Pastor na Missão Cristã Elim, desde 1998.

Conferir mais detalhes em: <http://lattes.cnpq.br/2039697727145495>.


APRESENTAÇÃO

MODELOS DE PLANTAÇÃO DE IGREJAS

SEJA BEM-VINDO(A)!
Caro(a) aluno(a), é com grande satisfação que apresento a você as boas-vindas à disci-
plina Modelos de Plantação de Igrejas. Sou o professor Galaor Linhares Tupan Júnior,
pastor evangélico, e tenho trabalhado pela Igreja do Senhor há mais de 25 anos, junto
à Missão Cristã Elim. Nesse tempo, plantamos igrejas em várias cidades do território na-
cional, incluindo o interior do Amazonas. Agora, estamos também na Colômbia. Nosso
desejo é obedecer ao mandamento final de Jesus Cristo, avançando para a África, Ásia
e até os confins da terra. Cristo amou sua Igreja e deu sua vida por ela. Que seja assim a
vida daqueles que desejam segui-Lo.
Meu objetivo, ao escrever este livro, é despertá-lo(a) para a vocação missionária da Igre-
ja no mundo e instrumentalizá-lo(a) para a plantação de igrejas. No decorrer de seus
estudos, procure interagir com os textos, fazer anotações, realizar as atividades de es-
tudo e, acima de tudo, compreender como o conteúdo do livro pode se tornar realida-
de em suas ações. De muitas maneiras, você vai observar que seus estudos podem ter
aplicação prática em sua vida cristã, quer como um plantador de igrejas, quer como um
teólogo, ou, simplesmente, como um discípulo do Senhor Jesus Cristo.
Estaremos juntos para abordar os princípios básicos de plantação de igrejas, compre-
endendo biblicamente esse termo e verificando sua importância para a evangelização.
Nossos estudos consideram a teologia bíblica do plantio de igrejas. Vamos realizar uma
reflexão crítica sobre Missio Dei e o reinado de Deus, reconhecendo sua soberania frente
à plantação de igrejas. As citações bíblicas foram retiradas da versão Almeida Revista e
Atualizada, da Sociedade Bíblica do Brasil.
Cremos que as promessas que Deus concedeu a Abraão são para todas as famílias da
terra. Reconhecemos que a Igreja do Senhor é uma só e desejamos que o evangelho
cumpra com seu propósito em diferentes línguas, tribos, povos e nações. Para isso, uma
compreensão adequada do significado de cultura é um pré-requisito para uma comu-
nicação eficaz das boas novas do evangelho. Vamos considerar a necessidade de utili-
zação de modelos adequados de plantação de igrejas, respeitando as diferenças trans-
culturais.
Teremos um momento para identificar qual é o perfil do plantador de igrejas e como
esse pode ser lapidado. Vemos, no chamado de Cristo, o desafio de depender daquele
que chama, e não de quem somos. Nossas fraquezas podem tornar-se uma oportunida-
de para a manifestação do poder e da graça de Deus.
Finalizando, vamos vivenciar o desafio da plantação de uma nova igreja, considerando
o exímio modelo do apóstolo Paulo, e estratégias essenciais para essa missão. Veremos
que o Espírito Santo é a pessoa central para o nascimento de uma igreja, o que pode ser
observado em Sua atuação poderosa em todo o livro de Atos dos Apóstolos. Como dis-
se o Senhor Jesus na Grande Comissão, em Mateus 28, 20: “[...] ensinando-os a guardar
todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à
consumação do século”.
APRESENTAÇÃO

Espero que, ao término desta disciplina, os conceitos aqui ensinados sejam trans-
formados em novas congregações em áreas do mundo ainda não alcançadas, ou
sejam traduzidos no fortalecimento das congregações já existentes. “Até que todos
cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita
varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo” (BÍBLIA, Efésios 4,13).
Um grande abraço, bons estudos e que Deus os abençoe.
09
SUMÁRIO

UNIDADE I

PRINCÍPIOS BÁSICOS DE PLANTAÇÃO DE IGREJAS

15 Introdução

16 Plantio de Igrejas - Conceitos e Termos

20 O Plantio de Igrejas Como Processo Orgânico

24 Elementos Presentes na Plantação de Igrejas

28 Perspectiva Histórica do Plantio de Igrejas

33 Considerações Finais

37 Referências

38 Gabarito

UNIDADE II

TEOLOGIA BÍBLICA DO PLANTIO DE IGREJAS

43 Introdução

44 Acordo Entre Teologia e Missiologia

50 Reflexão Crítica Sobre Missio Dei e Reinado de Deus

55 Orientação Teológica Para o Plantio de Igrejas

62 Cosmovisão e Contextualização

68 Considerações Finais

72 Referências

73 Gabarito
10
SUMÁRIO

UNIDADE III

CULTURAS E MODELOS DE PLANTAÇÃO DE IGREJAS

77 Introdução

78 O Chamado de Deus é Para Todos

82 A Cultura e as Diferenças Transculturais

87 Diferenças Transculturais

95 Compreendendo Culturas, Formatos e Modelos

106 Modelos de Plantação de Igrejas

117 Considerações Finais

122 Referências

123 Gabarito

UNIDADE IV

O DESAFIO DE PLANTAR IGREJAS

127 Introdução

128 Quem Foi Chamado Para Essa Missão?

144 O Perfil do(a) Plantador(a) de Igrejas

157 Plantadores Bivocacionais

161 A Igreja e o Plantio de Igrejas

164 Considerações Finais

169 Referências

170 Gabarito
11
SUMÁRIO

UNIDADE V

PLANEJANDO A PLANTAÇÃO DE UMA NOVA IGREJA

173 Introdução

174 O Paradigma Paulino Para Plantação de Igrejas

182 Estratégias Essenciais Para o Plantio de Igrejas

199 O Papel do Espírito Santo na Plantação de Igrejas

203 Considerações Finais

208 Referências

209 Gabarito

213 Conclusão
Professor Dr. Galaor Linhares Tupan Junior

PRINCÍPIOS BÁSICOS DE

I
UNIDADE
PLANTAÇÃO DE IGREJAS

Objetivos de Aprendizagem
■■ Identificar biblicamente os termos relacionados ao plantio de igrejas.
■■ Descrever as fases do processo de plantio de igrejas.
■■ Conhecer os elementos presentes na plantação de igrejas.
■■ Considerar as abordagens históricas mais comuns nos últimos
séculos sobre plantio de igrejas.

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Plantio de Igrejas - Conceitos e Termos
■■ O Plantio de Igrejas como Processo Orgânico
■■ Elementos Presentes na Plantação de Igrejas
■■ Perspectiva Histórica do Plantio de Igrejas
15

INTRODUÇÃO

Olá, caro(a) aluno(a). Muita literatura tem sido escrita a respeito da Igreja e sua
missão. Desde as primeiras páginas do Antigo Testamento, observamos que o
pecado de Adão não abortou o plano original de Deus. Havia um caminho para
a reconciliação; mediante o qual o homem poderia ter sua comunhão com Deus
restaurada e reconstruída. Deus escolheu Abraão e seus descendentes para aben-
çoar o mundo. O aparente fracasso dos judeus, com a final rejeição do Messias
também não puderam invalidar o propósito divino.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Na cruz, Jesus conciliou judeus e gentios, fazendo destes um só povo liberto


do domínio do pecado e congregado na Sua Igreja, “a saber, que os gentios são
coerdeiros, membros do mesmo corpo e coparticipantes da promessa em Cristo
Jesus por meio do evangelho” (BÍBLIA, Efésios 3,6).
Nesta unidade, estudaremos os princípios básicos de plantio de igrejas. Já
de antemão definimos que, ao utilizarmos o termo Igreja (com maiúscula), nos
referimos ao corpo místico que é edificado sobre o fundamento dos apóstolos e
dos profetas, o qual é composto por todos os cristãos verdadeiros, do qual Cristo
é a cabeça. Quando usamos o termo igreja (com minúscula), estamos falando
das igrejas em suas localidades, constituídas de cristãos que buscam adorar, ser-
vir e pautar suas vidas nos princípios da Palavra de Deus. Biblicamente, o termo
não pode fugir a essas duas finalidades.
Você pode se perguntar: como podemos plantar uma igreja nos dias de hoje?
Os custos são altos e os corações estão endurecidos. Temos dificuldade de pro-
mover evangelização num mundo secularizado e religioso, em que a prioridade
das pessoas está centralizada no prazer como bem supremo.
Deus, no entanto, tem um caminho sobrenatural, no qual os impossíveis
podem ser superados pelo Seu poder. Ele é poderoso para fazer infinitamente
mais do que tudo quanto pedimentos ou pensamos, conforme Sua palavra. “A
Ele seja a glória, na igreja e em Cristo Jesus, por todas as gerações, para todo o
sempre. Amém” (BÍBLIA, Efésios 3,21).

Introdução
16 UNIDADE I

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
PLANTIO DE IGREJAS - CONCEITOS E TERMOS

Caro(a) aluno(a), vamos, agora, entender e estudar juntos o processo bíblico


e prático de evangelizar e plantar novas igrejas. A primeira diferenciação que
temos a fazer é entre evangelização e plantio de igrejas. Isso é fundamental para
o entendimento de nosso tema em estudo. Grande parte das definições apresen-
tadas são contempladas por Ronaldo Lidório em um Treinamento Missionário
Intensivo chamado “Capacitar”, o qual ocorre uma vez a cada ano em diferentes
cidades do país e, também, podem ser observadas em Lidório (2011), Teologia
Bíblica do Plantio de Igrejas.
A evangelização é a proclamação do evangelho. Esse evangelho pode ser
proclamado verbalmente, ou seja, você fala do Senhor Jesus e aquele que ouve
compreende, em sua língua e ambiente cultural. Entretanto, a evangelização não
é apenas falar, mas também viver; ou seja, não evangelizamos apenas com nossas
palavras, mas também com nossa vida, que é o nosso testemunho. O Senhor Jesus
chamou Sua Igreja para falar e viver; para pregar verbalmente o evangelho, por
meio de palavras e, também, para, silenciosamente, demonstrar o amor de Deus.
Assim, concluímos que existem dois fundamentos muito relevantes na evange-
lização. São traduzidos por duas palavras de origem grega: kerygma e martyrium.

PRINCÍPIOS BÁSICOS DE PLANTAÇÃO DE IGREJAS


17

• Kerygma: palavra de origem grega usada no Novo Testamento com o signi-


ficado de proclamação, pregação, anúncio ou mensagem. Ou seja: comuni-
cação verbal que pode ser compreendida.
• Martyrium: palavra de origem grega usada no Novo Testamento com o
significado de testemunho. Ou seja: comunicar com nossas ações.

Esses dois termos caminham juntos no Novo Testamento, no qual lemos que foi
proclamado o evangelho, sempre verificamos que este foi depois demonstrado,
evidenciado, manifestado por meio do testemunho de vida.
Jesus chamou sua Igreja para pregar e viver. Lidório (2011) apresenta o
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

conceito de que evangelização é o ato de comunicar - seja verbalmente ou pelo


testemunho de vida - quem é Jesus e o que Ele fez por nós. Evangelização não é
plantio de igrejas. Plantio de igrejas é um processo.
A evangelização pode ser um ato estático ou um processo, porém o plan-
tio de igrejas é sempre um processo. Você pode comunicar, em cinco minutos,
quem é Jesus e o que Ele fez por nós ou levar um ano para evangelizar uma pes-
soa, uma família, uma cidade ou uma nação. A evangelização é a primeira etapa
do processo de plantio de igrejas.

“Processo é uma palavra com origem no latim procedere, que significa mé-
todo, sistema, maneira de agir ou conjunto de medidas tomadas para atin-
gir algum objetivo. Relativamente à sua etimologia, processo é uma palavra
relacionada com percurso, e significa ‘avançar’ ou ‘caminhar para a frente’”.
Fonte: Significados ([2017], on-line)1.

Plantio de Igrejas - Conceitos e Termos


18 UNIDADE I

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Outra diferenciação abordada por Lidório (2011), Bastos (2010) e diversos auto-
res é entre igreja e templo. Para você, qual é a diferença?
Principalmente no Brasil, nosso conceito de igreja está atrelado a templo.
Quando falamos sobre plantio de igrejas, algumas vezes, pensamos no aspecto
do edifício e não em pessoas. Igreja não é estrutura, não é templo, não é insti-
tuição, mas são pessoas convertidas ao Senhor Jesus. Na África, por exemplo,
muitas igrejas se reúnem embaixo de árvores. Quem vai plantar uma igreja não
construirá, necessariamente, um templo, mas vai evangelizar, discipular, ajun-
tar convertidos, treinar líderes e acompanhar a igreja formada.
Jesus, que inaugurou a plantação da Sua Igreja na Terra, não construiu
nenhum templo. Em Atos, capítulo 2, há o relato de que a igreja louvava a Deus
no templo e de casa em casa. Ali estavam judeus, que preferiam o templo, demons-
trando suas raízes no judaísmo, e gentios que preferiam as casas. Embora houvesse
a preferência por lugares distintos para louvar a Deus, eles eram unânimes: os gen-
tios também iam ao templo e judeus também reuniam-se nas casas. Esse conceito
de união como marca da Igreja primitiva também é abordado nos comentários
de Atos, capítulo 2, da Bíblia Missionária de Estudos (2014).
Encontramos no texto de Alexandre Bastos, em Metodologia de Plantação
de Igrejas, o mesmo princípio apresentado:

PRINCÍPIOS BÁSICOS DE PLANTAÇÃO DE IGREJAS


19

[...] é fundamental dizer que a palavra igreja registrada no Novo Testa-


mento e que norteia nossos princípios, nada tem a ver com os paradig-
mas que ao longo dos séculos foram sendo adquiridos. Como equivo-
cadamente sendo a expressão da instituição, denominação, estilo e até
mesmo do prédio. Por força destes paradigmas ou até mesmo pelo ví-
cio de linguagem, as pessoas sistematicamente tem associado a palavra
-igreja- simplesmente com o local onde os cristãos se reúnem. Outro
fator equivocado é determinarem se um grupo de cristãos é igreja ba-
seado na existência de um prédio ou não. É muito importante lembrar
que nos primeiros trezentos anos da história da igreja de Jesus não ha-
via “prédio de igreja” algum, mesmo assim não deixavam de ser igreja.
Até mesmo nos dias de hoje, lugares onde ter um prédio para a reunião
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

da igreja é proibido ou até mesmo grupos de cristãos que se reúnem


sem prédio, continuam sendo a Igreja de Jesus (BASTOS, 2010, p. 8).

Bastos (2010) corrobora o entendimento de que igreja não é templo, não é o


prédio onde os cristãos se reúnem. Ao plantarmos igrejas, não dependemos de
instalações físicas, mas sim de que os crentes sejam congregados como pedras
vivas, ou lavoura de Deus para que juntos possam formar um organismo vivo
que dá glória a Deus.

Plantio de Igrejas - Conceitos e Termos


20 UNIDADE I

O PLANTIO DE IGREJAS COMO PROCESSO


ORGÂNICO

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
O conceito de plantio de igrejas como processo orgânico é apresentado pelo
apóstolo Paulo em I Coríntios 3, 6, que diz: “Eu plantei, Apolo regou; mas o
crescimento veio de Deus”.
Paulo e Apolo desempenharam diferentes serviços, Paulo plantou,
Apolo regou. A metáfora de semear e de cuidar da plantação é bem sig-
nificativa no que se refere às fases de implantação de uma igreja local.
Os trabalhadores nada seriam sem a intervenção divina no crescimen-
to da igreja plantada. O trabalho missionário é árduo, como o é o de
plantar e regar. A dependência de Deus é a chave para um crescimento
constante e duradouro (BÍBLIA, 2014, p. 1172).

Plantar, regar e fazer crescer estão relacionados com aspectos vitais de cresci-
mento, de realização contínua e prolongada. A plantação de igrejas permanentes
e verdadeiras depende, em primeira instância, do próprio Deus. Os cristãos são
a lavoura em que o Pai é o agricultor e cultiva a Cristo. Os ministros de Cristo
podem plantar e regar, mas somente Deus pode dar o crescimento.
Embora, biblicamente, uma igreja plantada seja considerada “lavoura de
Deus”, onde há o plantio, rega e o crescimento, ela também é considerada “edifí-
cio de Deus”, cujo único fundamento é Cristo Jesus. Quem O definiu como base
para o edifício foi Deus, em Seu supremo propósito. Programas e métodos de
crescimento não podem ser eficazes sem Cristo, que é a vida da igreja.
Conforme I Coríntios 3,12, simbolicamente, os materiais adequados para a
edificação de igrejas são ouro, prata e pedras preciosas, os quais são minerais. O
ouro pode representar a natureza divina do Pai, com todos os seus atributos; a
prata pode representar o Cristo Redentor, Sua morte na cruz, todas as virtudes

PRINCÍPIOS BÁSICOS DE PLANTAÇÃO DE IGREJAS


21

e atributos de Sua pessoa e obra. As pedras preciosas, por sua vez, representam
a obra transformadora do Espírito Santo com todos os atributos de Sua pessoa.
A ideia de transformação de “lavoura de Deus” em “edifício de Deus” mani-
festa o caráter de modificação que a experiência cristã produz em nós. Portanto,
plantação de igrejas constitui-se integralmente num processo espiritual.
Hesselgrave (1995), apresenta, em seu livro Plantar Igrejas, um estudo
detalhado e criterioso das etapas que envolvem o processo de plantar igrejas,
considerando que:
[...] a missão primária da Igreja e, portanto, das igrejas, é proclamar o
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

evangelho de Cristo e reunir os crentes em igrejas locais onde podem


ser edificados na fé e tornados eficazes no serviço, e assim plantar novas
congregações no mundo inteiro (HESSELGRAVE, 1995, p. 15).

Observamos nas palavras do Senhor Jesus, descritas na Grande Comissão, a


essência do processo de plantação de igrejas:
[...] Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo: Toda a autoridade me
foi dada no céu e na terra. Ide, portanto, fazei discípulos de todas as
nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo;
ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis
que estou convosco todos os dias até a consumação do século (BÍBLIA,
Mateus 28, 18-20).

Esta é a tarefa central à qual Cristo chama o Seu povo. Nela encontramos a essên-
cia e o método da missão. Quem ordena a tarefa é Aquele que tem autoridade
para fazê-la. Após Sua obediência até a morte, morte de cruz, Deus, o Pai, con-
cede ao Filho toda autoridade nos céus e na terra. Como já foi testado por seus
discípulos, o Espírito Santo nos concede poder e força enquanto cumprimos o
mandamento.
As instruções para o plantio de igrejas ficam claras nas ordens de Jesus e
são tomadas como base para o trabalho da igreja primitiva. Indicamos a seguir
essas fases ou etapas, resumidamente, que envolvem a plantação de uma igreja:
1. Ir: levar a palavra do Senhor a campos ainda não alcançados. Aqueles
que são comissionados a ir fazem parte da comunidade de discípulos.
Foram salvos pela fé na palavra da pregação, batizados, testemunhando
arrependimento e foram transformados pela obediência aos ensinamen-
tos do Senhor.

O Plantio de Igrejas Como Processo Orgânico


22 UNIDADE I

2. Evangelizar: comunicar, seja verbalmente, ou pelo testemunho de vida,


quem é Jesus e o que Ele fez por nós.
3. Fazer discípulos: a obediência ao Mestre é exigida não somente daquele
que leva a mensagem, mas também daquele que a ouve e se arrepende.
Essa etapa envolve o batismo e o contínuo ensino das Escrituras Sagradas.
4. Congregar os convertidos: aqueles que se convertem, de todas as nações,
devem ser trazidos para dentro da Igreja do Senhor.
5. Formar líderes: dentre os convertidos, aqueles que confessarem o cha-
mado do Senhor para o ministério devem ser discipulados de maneira

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
mais próxima e pessoal, com o propósito de que a nova congregação
tenha um governo local, ou para que esses sejam enviados a novos cam-
pos ainda não alcançados.
6. Acompanhar: as novas congregações devem ser acompanhadas, con-
tinuamente, para correção de desvios, encorajamento dos irmãos e
fortalecimento da liderança local, assim como sempre fazia o apóstolo
Paulo.

Certamente o apóstolo Paulo foi um homem especialmente comprometido com


a Grande Comissão. Por onde passava, Paulo pregava a palavra, os homens eram
convertidos e as igrejas eram estabelecidas.
O processo de plantação de igrejas está retratado, de forma muito prática e
impressionante, pelo apóstolo Paulo em I Tessalonicenses 1,5, que diz:
[...] porque o nosso evangelho não chegou até vós tão somente em pala-
vra, mas sobretudo, em poder, no Espírito Santo e em plena convicção,
assim como sabeis ter sido o nosso procedimento entre vós e por amor
de vós (BÍBLIA, I Tessalonicenses, 1,5).

Nesse versículo Paulo resume, dentre todas as suas cartas, o processo de plan-
tio de uma igreja local e explica aos tessalonicenses os elementos essenciais que
fizeram a igreja em Tessalônica nascer tão rapidamente. A Bíblia Missionária
de Estudos (2014), apresenta comentários de Lidório, o qual considera o nasci-
mento da igreja um fruto da chegada do evangelho que:
1) Chega em palavra, do grego logos, ou seja, habilidade comunicacional,
sermão comunicado de forma inteligível na língua e cultura daquele que
está ouvindo.

PRINCÍPIOS BÁSICOS DE PLANTAÇÃO DE IGREJAS


23

2) Chega com poder, dynamis (palavra de origem grega cujo significado é


poder, força). Por isso, o que traz a salvação e a plantação de uma igreja
é o poder de Deus e não a capacidade humana. O poder é a manifesta-
ção sobrenatural de Deus que cativa os perdidos e os traz à luz de Cristo.
3) É acompanhado pela ação do Espírito Santo, que tem como função con-
vencer e converter os corações e edificá-los para que sejam transformados
à imagem de Cristo.
4) É motivado pela plena convicção (do grego pleroforia), que se refere à
certeza que Paulo e os seus companheiros possuíam de estar fazendo a
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

vontade do Pai.

Em Atos, capítulo 17, Paulo e seus companheiros estavam em uma pequena cidade
chamada Tessalônica, na qual ele pregou o evangelho apenas por três semanas.
Aos sábados, ele evangelizava os judeus na sinagoga e, durante a semana, evange-
lizava gentios e judeus no mercado que ficava na praça central da cidade. Depois
de três a cinco semanas, nasceu uma igreja em Tessalônica, o que, mesmo para
Paulo, foi algo sobrenatural, uma vez que a plantação da igreja de Éfeso, por
exemplo, ocorreu em três anos.
Sobre o processo de plantação de igrejas entre os irmãos tessalonicenses,
Lidório (2011), faz uma paráfrase das palavras de Paulo:
[...] meus irmãos em Tessalônica, vocês ficaram impressionados com o
meu ministério? Não foi por isso que vocês se converteram. Vocês se
converteram porque o evangelho, que é o Senhor Jesus Cristo, chegou
até vocês. Chegou também em palavra humana, mas não foi isso que
transformou os seus corações, mas foi o poder de Deus e o Espírito
Santo que operou em vocês. E quanto a mim, Paulo, e meus compa-
nheiros, nós tínhamos certeza, plena convicção, de que nós estávamos
fazendo a vontade de Deus (LIDÓRIO, 2011, p. 7).

Compreendemos que a plantação de igrejas somente pode ser realizada pelo


poder e autoridade do próprio Deus. O autor ainda considera que:
[...] se o evangelho é Jesus, que é Deus. Se o poder que leva as pessoas
a conversão, não é o poder da igreja, mas o poder de Deus. Se a ação
não é do homem, mas é do Espírito Santo, que é Deus. Então, quem faz
uma igreja nascer é o próprio Deus. O que nós fazemos? Paulo nos res-
ponde. Devemos estar no lugar certo, na hora certa, fazendo a vontade
de Deus. Nós não podemos chegar ao final do dia, da semana, do ano,

O Plantio de Igrejas Como Processo Orgânico


24 UNIDADE I

ou da nossa vida sem a convicção, “pleroforia”, de que estamos fazendo


a vontade de Deus (LIDÓRIO, 2011, p. 7).

Segundo Lidório, sem tais elementos, a igreja em Tessalônica não nasceria, pois,
dentro do processo de espalhar o evangelho e plantar igrejas, nada acontecerá
sem o poder de Deus e a ação do Espírito Santo.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
E você? Tem procurado ter a plena certeza (pleroforia) de que está no centro
da perfeita vontade de Deus? Se você não tem esta certeza, busque-a do
Senhor e não defina os próximos passos da sua vida por qualquer critério
que não seja a vontade dEle.
(Ronaldo Lidório)

ELEMENTOS PRESENTES NA PLANTAÇÃO DE


IGREJAS

Agora, vamos considerar oito ele-


mentos essenciais para a plantação de
igrejas indicados por Lidório (2011),
quais sejam: intencionalidade, opor-
tunidade, teologia, continuidade,
prática, oração, planejamento e lide-
rança local. Esses elementos podem
ser evidenciados no ministério do
apóstolo Paulo e também nos minis-
térios de plantadores de igrejas ao
redor do mundo. Vários desses
elementos são corroborados pela
metodologia de Hesselgrave (1995)
para plantação de igrejas. Vamos nos deter um pouco em cada um deles:

PRINCÍPIOS BÁSICOS DE PLANTAÇÃO DE IGREJAS


25

■■ Intencionalidade: é a intenção de se plantar uma igreja. Hesselgrave


(1995), diz que 75% das igrejas plantadas no mundo foram plantadas
intencionalmente. As igrejas que nascem, nascem porque alguém desejou
e planejou seu nascimento. Alguém orou, enviou missionários, traba-
lhou, se esforçou por entrar em uma sociedade e se manteve perseverante.
Intencionalidade diz respeito a olharmos para uma cidade carente do
evangelho, orar por essa cidade, despertar outros para oração e desper-
tar parceiros para o projeto, enviar um plantador de igrejas para o local,
apoiar aquele que foi enviado até que pessoas se convertam ao evangelho
de Cristo e, assim, ver uma igreja nascer. Ninguém investe em um negócio
indefinido, os recursos sempre seguem a visão. As pessoas se envolvem
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

com aquilo que traduzem a elas convicção e paixão.


■■ Oportunidade: há lugares onde nós temos muitas oportunidades para
pregar o evangelho, discipular pessoas e treinar líderes. Outros lugares são
fechados, com mínimas oportunidades. A questão não é quantas oportu-
nidades nós temos, mas quantas oportunidades nós usamos. Temos que
pedir a Deus que os nossos olhos sejam abertos para as oportunidades.
■■ Teologia: ter como nosso guia a Palavra de Deus. Os projetos de cres-
cimento e plantio de igrejas não podem se afastar dos fundamentos
teológicos. Segundo Lidório (2011, p. 13), “nem tudo o que funciona é
Bíblico”. Existem métodos que são humanos, carnais e até mesmo malignos.
Nós seremos cobrados por Deus se formos infiéis aos Seus ensinamentos.
■■ Continuidade: o plantador de igrejas deve manter constância e perma-
nência no acompanhamento dos trabalhos realizados. Muitos projetos de
plantio de igrejas são interrompidos, porque na fase do ajuntamento dos
convertidos o plantador da nova igreja se ausenta. O momento de ajun-
tar é essencial para a consolidação da nova igreja. Mesmo depois da igreja
plantada é necessário manter a continuidade. Isso é nitidamente obser-
vado no ministério do apóstolo Paulo. Ele plantava uma igreja, voltava
para ajustar, mandava alguém para visitar, escrevia e enviava cartas, arti-
culava o estabelecimento de lideranças. Orava pelas igrejas plantadas e as
acompanhava permanentemente, visando seu fortalecimento.
■■ Prática: abundante evangelização. Um dos maiores entraves para plan-
tio de igrejas é a pouca evangelização. Apesar de haver muita expectativa
de que as pessoas se convertam, há pouca evangelização. Lidório (2011)

Elementos Presentes na Plantação de Igrejas


26 UNIDADE I

nos alerta que Igrejas são plantadas nas ruas, nos mercados, nos bairros,
nas casas, nas matas, nas aldeias, nos condomínios. Igrejas são plantadas
nos lugares onde estão aqueles que ainda não conhecem pessoalmente a
Jesus. Uma visão que o plantador de igrejas precisa ter é a de ir aos luga-
res onde as pessoas estão.
■■ Oração: todos os lugares e épocas em que houve grande avanço mis-
sionário foi precedido de oração. Deus ouve as orações. Oração não é
repetição de necessidades, mas um ponto de encontro com Deus. Não é
transmissão de ideias para o Pai, mas um convite que Deus nos traz para
uma convivência mais próxima e íntima com Ele. A Bíblia nos ensina,

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
em Mateus 18, 18 a 20, que “tudo o que ligarmos na terra terá sido ligado
nos céus, e tudo o que desligarmos na terra terá sido desligado nos céus”
e que, “se dois dentre vós, sobre a terra, concordarem a respeito de qual-
quer coisa que, porventura, pedirem, ser-lhe-á concedida por meu Pai,
que está nos céus”. Isso, obviamente, não significa, de modo algum, que
podemos forçar Deus a fazer o que Ele não quer, mas sim que podemos
reivindicar que faça o que Ele deseja fazer em seu perfeito conhecimento
e soberana vontade. Na oração, também “recarregamos nossas baterias”,
pois oração é relacionamento com Deus. Lidório (2011) relata que Jesus,
intensamente, trabalhava, ensinava, curava, discipulava, expulsava demô-
nios e fazia amigos e, em seguida, se dirigia aos montes sozinho, ou saia
com alguns de Seus discípulos em um barco, para estar em comunhão
e relacionamento com Deus. Ali, Jesus refletia, descansava e encontrava
refrigério para Sua alma. Existem líderes tão atarefados que não têm
tempo para orar, para refletir, não têm tempo para ter amizades, para
abrir o coração, não têm tempo para serem pastoreados. Caem em cila-
das malignas porque, no meio do cansaço, não percebem que “baixam a
sua guarda”. Então, tudo que é carnal ganha mais força, aquilo que é do
Espírito é colocado de lado. Assim, ficam mais vulneráveis e rendem-se
a caminhos de destruição. O plantador de igrejas deve ter uma forte vida
de oração e vigilância em Deus.
■■ Planejamento: no projeto de plantio de igrejas temos que ter, de maneira
bem clara, qual é a visão, ou seja, o que desejamos alcançar ao final de um
período de trabalho. Quais são os alvos principais e quais são as ativida-
des que serão desenvolvidas para se alcançar esses alvos. Na Unidade V
trataremos esse assunto de forma específica.

PRINCÍPIOS BÁSICOS DE PLANTAÇÃO DE IGREJAS


27

■■ Liderança local: o bom plantador de igrejas é aquele que pensa em ir


embora no dia em que chega. Ele aspira estabelecer aquela obra para
adentrar em novos campos. Por isso, ele identifica, dentre os novos con-
vertidos, pessoas que possam ser treinadas para a futura liderança local
daquela igreja.

Desde já, podemos perceber a grande importância que a pessoa do plantador de


igrejas possui. Suas convicções em Deus, a clareza de um chamado ministerial,
a confiança naquilo que Deus pode fazer, dentre outras, são características fun-
damentais para o desenvolvimento desse ministério. Suas atitudes e disposição
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

farão mais diferença no processo de plantar igrejas do que suas áreas de facili-
dade e habilidade. Na Unidade IV estudaremos aspectos específicos do perfil e
caráter desejados para o plantador de igrejas.

“Quanto a mim, longe de mim que eu peque contra o Senhor, deixando de


orar por vós; antes, vos ensinarei o caminho bom e direito” (BÍBLIA, I Samuel
12, 23).
A oração persistente move o coração de Deus e nos concede a chave para
adentrarmos em novos campos missionários.

Elementos Presentes na Plantação de Igrejas


28 UNIDADE I

PERSPECTIVA HISTÓRICA DO PLANTIO DE IGREJAS

A perspectiva histórica do
plantio de igrejas, certamente,
encontra-se entrelaçada com
a história da missão cristã.
Páginas incontáveis têm sido
escritas a esse respeito. Nossa
narrativa histórica detém-se

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ao processo seletivo de esco-
lha dos conteúdos a serem
abordados, considerando-se
que o volume dos aconteci-
mentos é muito vasto, em
diferentes locais geográfi-
cos. Levaremos em conta
aqui apenas alguns pontos
importantes. Hesselgrave,
analisando as abordagens
mais comuns nos últimos
séculos, diz que:
[...] os Reformadores dos séculos XVI e XVII recuperaram a mensagem
da Igreja, mas (na maior parte) estavam demasiadamente preocupa-
dos com os problemas da Europa para darem muito ímpeto às missões
noutras partes do mundo (HESSELGRAVE, 1995, p. 20).

Foram os pietistas, os morávios e um batista com o nome de William Carey que


recuperaram a necessidade urgente de levar o evangelho até aos confins da terra.
No final do século XVII surgiu o pietismo, um movimento de renovação
da fé cristã na Igreja Luterana Alemã, defendendo a importância do sentimento
e da expressão espiritual na experiência religiosa, em detrimento do raciona-
lismo religioso corrente.
Juntamente aos pietistas, os irmãos morávios tiveram grande influência no
avivamento e expansão mundial do evangelho. Os morávios eram eslavos que

PRINCÍPIOS BÁSICOS DE PLANTAÇÃO DE IGREJAS


29

estavam escapando de sua terra natal, a região central e oriental da Europa: em


consequência da guerra dos trinta anos, foram morar nas terras de um conde
muito rico, chamado Zinzendorf, na parte mais oriental da República Tcheca.
Nestas terras, eles estabeleceram a comunidade de Herrnhut, que significa “Redil
do Senhor”.
Eles eram cristãos de diferentes origens denominacionais. Entretanto, no
princípio, estes refugiados de guerra tinham muitas rivalidades entre si. No dia
5 de agosto de 1727, depois de um período prolongado de oração, eles resolve-
ram não mais criar debates e confusões. Praticamente uma semana depois desta
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

aliança, no domingo de 13 de agosto, próximo ao meio-dia, numa reunião na


qual se celebrava a Ceia do Senhor, mudanças começaram a acontecer.
Nessa reunião, a presença e a bênção de Deus vieram de forma poderosa.
Tanto o grupo presente quanto o pastor caíram diante de Deus. Todos permane-
ceram prostrados até a meia noite, tomados em oração, cânticos, choro e súplicas.
Eles se sentiram muito pecadores e também muito felizes por causa da graça de
Deus, que os trouxe à salvação. Seus desentendimentos e conflitos foram emu-
decidos; suas paixões e orgulho foram crucificados.
Eles entenderam que, da mesma maneira como nunca se havia permitido
que o fogo sagrado se apagasse no altar, eles, que eram o templo do Deus vivo,
jamais deveriam deixar que o fogo da oração deixasse de subir a Deus, como um
incenso santo. Com esse objetivo, 24 irmãos e 24 irmãs iniciaram reuniões de
oração diárias que duravam 24 horas. Essas reuniões de oração começaram no
dia 26 de agosto de 1727 e terminaram somente depois de 26 de agosto de 1827.
Foram mais de 100 anos de oração ininterrupta. Durante esse tempo, o amor
pelos perdidos cresceu de tal maneira que em vinte cinco anos eles enviaram mais
missionários que todas as igrejas protestantes da época em conjunto. A vida que
eles desenvolveram em Deus mudou o curso de toda a história.
Durante esse período nasce William Carey - cuja biografia foi escrita por
George Smith (1885) - que foi o pai das missões modernas, trazendo grande
contribuição e transformação no movimento de plantio de igrejas. Era inglês e
viveu entre 1761 e 1834. Aos 18 anos de idade, Carey recebeu a Cristo como seu
salvador pessoal, passando a frequentar uma pequena Igreja Batista.
Desde então, Carey começou a estudar as escrituras, idiomas e ciências,

Perspectiva Histórica do Plantio de Igrejas


30 UNIDADE I

embora tenha tido, na infância, uma formação modesta. Com sua dedicação
ao Senhor e estudos da Bíblia, Carey concluiu que a evangelização mundial era
a principal responsabilidade da Igreja de Cristo. Sua denominação não aceitou
suas declarações, dizendo que se Deus resolvesse converter os gentios o faria
sem a ajuda de Carey.
Em 1792 Carey publicou um livro de 87 páginas intitulado “Uma investi-
gação sobre o dever dos cristãos de empregarem meios para a conversão dos
pagãos”. Este se tratava de uma avaliação do mundo de seus dias, que refletia a
necessidade urgente da proclamação do evangelho a todas as nações da terra.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
No mesmo ano ocorreu a organização da Sociedade Missionária Batista, e Carey
se ofereceu para ser o primeiro missionário enviado.
Menos de um ano depois, em junho de 1793, ele e sua família partiram para
a Índia como membros da mesma sociedade. Carey chegou em Hooghly no dia
11 de novembro de 1793, marcando o início da grande era das missões além mar,
promovidas pela Inglaterra e Estados Unidos.
O trabalho de Carey na Índia foi excepcional e inusitado: ele tinha uma visão
missionária muito à frente do seu tempo, dedicando-se à causa cristã sem afron-
tar os aspectos da cultura local que não feriam os valores revelados por Deus
nas páginas da Bíblia Sagrada. Sua importância para o cristianismo na Índia
foi extraordinária. Junto com William Ward e Joshua Marshman, missionários
que se juntaram a ele em 1799, fundaram 26 igrejas, 126 escolas e traduziram
a Bíblia para 44 idiomas, além da vasta contribuição social que exerceu grande
impacto na Índia.
Lidório comenta que William Ward, companheiro e contemporâneo de
Carey, escreveu, em 1805, em um jornal criado pela equipe:
[...] ao plantarmos igrejas distintas, pastores nativos devem ser escolhi-
dos […] e missionários devem preservar suas características originais,
dedicando-se ao plantio de novas igrejas e supervisionando aquelas já
plantadas (LIDÓRIO, 2011, p. 15).

Lidório também cita Henry Venn e Rufus Anderson que começam a delinear a
necessidade de que as igrejas plantadas guardem autonomia e suficiência como
um organismo vivo:

PRINCÍPIOS BÁSICOS DE PLANTAÇÃO DE IGREJAS


31

[...] em meados do século 19, Henry Venn e Rufus Anderson direcio-


naram a Igreja através de sua intencionalidade no plantio de igrejas,
justificando que as mesmas deveriam, ao serem plantadas, ter três ca-
racterísticas básicas: serem autopropagáveis, autogovernáveis e autos-
sustentadas (LIDÓRIO, 2011, p. 15).

Criava-se o conceito de Igrejas Autóctones, ou seja, igrejas locais com formação e


liderança nativa, as quais possuem autonomia de sustento, liderança e propagação.
Hesselgrave (1995), considera por demais estreita a visão de evangelização
sem o ajuntamento dos convertidos em uma igreja local:
[...] nas últimas décadas do século XIX e no presente século, a evangeli-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

zação tem sido quase totalmente identificada com grandes campanhas


ou cruzadas que visam ganhar os indivíduos para uma decisão por
Jesus Cristo. De um lado, há esse fato. E do outro lado, certo núme-
ro de métodos cuidadosamente elaborados de evangelização pessoal
(individual) foram desenvolvidos com o mesmo fim em mira. Tanto a
evangelização das campanhas, quanto a evangelização pessoal devem
ser encorajadas. Mas, conforme são frequentemente praticadas, não
colocam novos crentes em contato vital com as igrejas locais. Propor-
cionalmente, uma ênfase grande demais tem sido dada à multiplicação
dos convertidos- e uma ênfase totalmente insuficiente à multiplicação
das congregações (HESSELGRAVE, 1995, p. 21).

Não podemos deixar de considerar que muitos dos movimentos missionários


no decorrer dos séculos nem sempre tinham clareza de seus propósitos. Muitas
atividades sociais consistentes foram desenvolvidas, como criação de escolas, hos-
pitais, orfanatos, campanhas humanitárias em todo o mundo, a favor da saúde,
do saneamento, até mesmo da agricultura. Ações dignas de reconhecimento e
elogios. Entretanto, estas atividades por si só não faziam discípulos, nem esta-
beleciam igrejas.

Observaremos que o plantio de uma nova igreja não está pautado naquilo
que a força humana pode fazer, mas que igreja é obra de Deus e manifesta-
ção poderosa do Espírito Santo. Nada pode deter vidas que encontram em
Deus sua suficiência.

Perspectiva Histórica do Plantio de Igrejas


32 UNIDADE I

Lidório (2011) denomina alguns movimentos missionários na história da expansão


da Igreja como “esquisitices metodológicas”. Esses devaneios não foram ocasio-
nados por infidelidade a Deus ou desejo intencional de liberar-se dos princípios
da fé cristã verdadeira, mas decorreram da ausência de amparo bíblico e teoló-
gico para algumas metodologias adotadas ao longo do processo de proclamação.
Observando os diversos segmentos de plantação de igrejas no mun-
do atual, podemos perceber que o enraizamento dos problemas mais
comuns em tais processos está ligado a alguns fatores, sobre os quais
escrevo a seguir:

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
A dificuldade de se distinguir igreja e templo, perdendo o valor do dis-
cipulado e gerando mais investimento na estrutura do que em pessoas.

A demora na introdução dos convertidos à vida diária da igreja, diluin-


do o valor da comunhão e integração além de gerar crentes imaturos,
sem funções, desafios ou envolvimento.

A despreocupação com os fundamentos teológicos e atração pelos me-


canismos puramente pragmáticos.

A ausência de sensibilidade social e cultural, pregando um evangelho


sem sentido para o contexto receptor. Uma mensagem alienada da re-
alidade da vida.

A excessiva pressa no plantio de igrejas, gerando comunidades super-


ficiais na Palavra e abrindo oportunidades reais para o sincretismo ou
nominalismo.

O excessivo envolvimento com a estrutura da missão ou da igreja, des-


gastando pessoas, recursos, tempo e minimizando o que deveria ser o
maior e mais amplo investimento: a proclamação do evangelho (LIDÓ-
RIO, 2011, p. 16-17).

Neste ponto de nossa disciplina, já se torna claro o íntimo relacionamento entre


proclamação do evangelho e a plantação de igrejas, que não podem ser disso-
ciadas sem prejuízo à missão da Igreja. Outro aspecto de suprema relevância diz
respeito à necessidade de considerarmos que também não é possível realizar o
divórcio entre a missão da igreja e teologia da missão. Vamos continuar cami-
nhando na Unidade II, de forma a buscar uma base teológica sólida e coerente
para a plantação de igrejas, ou seja, a glória de Deus.

PRINCÍPIOS BÁSICOS DE PLANTAÇÃO DE IGREJAS


33

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Chegamos ao final da Unidade I. Começamos falando sobre a evangelização e


plantio de igrejas, que são ações diferentes, podendo a evangelização tratar-se
ou não de um processo. Já o plantio de igrejas sempre será um processo. Você
também deve ter compreendido que templo não é igreja.
Suponha agora que você decidiu iniciar o plantio de uma igreja. Quais serão
as etapas desenvolvidas neste processo? Você se lembra? Ir, evangelizar, fazer dis-
cípulos, congregar os convertidos, formar líderes e acompanhar. Cada uma dessas
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

etapas, é de fundamental importância para o plantio de igrejas. Talvez, durante


as primeiras etapas você possa se ausentar por algum tempo.
Entretanto, a partir do momento em que os convertidos são congregados,
sua presença será imprescindível, até o momento em que a nova igreja tenha sua
liderança local treinada e estabelecida. Isso ocorre em pelo menos três anos. A
partir daí você pode orar pelo desafio de um novo campo, sempre considerando
a importância de manter o acompanhamento, assim como fazia o apóstolo Paulo.
Pois bem, e os elementos presentes na plantação de igrejas indicados por
Lidório? Você pode enumerá-los comigo? Intencionalidade, Oportunidade,
Teologia, Continuidade, Prática, Oração, Planejamento e Liderança Local. Cada
um deles deve estar presente para que a nova igreja seja plantada em um fun-
damento sólido.
Por fim, você deve considerar a perspectiva histórica que observamos nos
últimos séculos, recebendo a inspiração de homens e mulheres comuns, mas
que aprenderam a depender da suficiência e do poder de Deus e foram encon-
trados em pleroforia, a plena convicção de que estavam no lugar certo, na hora
certa, realizando a vontade de Deus.
Tenho certeza de que, no decorrer de nossos estudos, você poderá entender
melhor seu papel como colaborador(a) da lavoura de Deus. É Ele que nos atrai
com seu amor e nos enche de paixão pelas almas.

Considerações Finais
34

1. Observamos a existência de dois fundamentos muito relevantes na evangeliza-


ção, traduzidos por duas palavras de origem grega: kerigma e martyrium. Qual o
significado desses termos?
2. Nosso conceito de igreja, principalmente no Brasil, está atrelado a templo. Quan-
do falamos sobre plantio de igrejas, algumas vezes pensamos no aspecto do edi-
fício e não em pessoas. Segundo o que foi abordado ao longo da unidade,
qual a diferença entre igreja e templo?
3. Considerando a plantação de igrejas um processo, descreva resumidamente
duas fases ou etapas envolvidas nesse processo.
4.  Descreva e comente dois dos oito elementos essenciais em plantação de
igrejas, quais sejam: intencionalidade, oportunidade, teologia, continuidade,
prática, oração, planejamento e liderança local. Esses elementos podem ser evi-
denciados no ministério do apóstolo Paulo e também nos ministérios de planta-
dores de igrejas ao redor do mundo.
5. Observando os diversos segmentos de plantação de igrejas no mundo atual,
podemos perceber que o enraizamento dos problemas mais comuns em tais
processos, indicados por Lidório estão ligado a fatores estruturais e teológicos
da missão. Cite e explique dois desses fatores.
35

Quando olhamos para o início da igreja vemos o quanto os irmãos viviam em oração.
Basta lermos os capítulos iniciais do livro de Atos e saberemos o porquê de tanto poder
em manifestação naqueles dias. Não era porque eles eram mais especiais do que nós,
nem pelo fato da igreja estar em seu início. A causa do poder estava na vida de comu-
nhão, de uma vida de oração.
O missionário e missiólogo Patrick Johnstone, em seu livro Intercessão Mundial, diz que:
“Quando o homem trabalha, o homem trabalha; quando o homem ora, Deus trabalha”.
Jorge Müller costumava dizer que “Um crente pode fazer mais em quatro horas, depois
de empregar uma em orar, que cinco sem orar”.
Precisamos entender que, para realizarmos a obra que o Senhor nos tem chamados, a
fazer, não seremos bem sucedidos se não orarmos. O poder ou a manifestação do poder
está numa vida de oração individual e congregacional.
No que tange à obra missionária – evangelismo de escopo mundial - temos aprendido
que podemos fazer a diferença no curso da vida de muitas pessoas por causa da nossa
vida de oração.
Em I Timóteo 2:4, a Bíblia nos diz que é a vontade de Deus que todos os homens sejam
salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade. Mas isto irá acontecer só porque
é vontade de Deus? Não!
Como já disse John Wesley: “Nos parece que Deus é limitado pela nossa vida de oração.
Ele nada faz pela humanidade a menos que alguém o peça para fazê-lo”.
Para que a vontade de Deus, expressa em I Timóteo 2:4 se cumpra, se faz necessário duas
ações do homem: orar e evangelizar.
Reinhard Bonnke diz em seu livro, Evangelismo por Fogo que “Evangelismo sem inter-
cessão é um explosivo sem um detonador. Intercessão sem evangelismo é um detona-
dor sem um explosivo”. Se juntarmos esses dois indispensáveis ingredientes, no entanto,
poderemos transformar o mundo, como foi dito com respeito a Paulo e Silas em Atos 17.
Precisamos ir, precisamos evangelizar e será a nossa oração que preparará o caminho
para nós passarmos. A nossa missão depende da nossa vida de oração!
Fonte: Verbo vida (2015, on-line)2.
MATERIAL COMPLEMENTAR

Plantar Igrejas: um guia para missões nacionais e


transculturais
David Hesselgrave
Editora: Vida Nova
Sinopse: o livro de Hesselgrave é um guia passo a passo para a
plantação de igrejas numa cultura diferente da cultura do plantador.
Embora sistemático, evita o simplismo. Pelo contrário, cada passo é explicado na prática e na teoria.
COMENTÁRIO: considero esse um dos livros mais importante sobre plantação transcultural de igrejas
já publicado até o momento.

Uma chama na escuridão


“Uma chama na escuridão” é daqueles filmes que não são para
serem esquecidos. A produção de Mike Pritchard conta a história
de William Carey, “O pai das Missões Modernas”. É possível tomar
conhecimento do que é a certeza de ser chamado por Deus. Mesmo
contra a opinião daqueles à sua volta, Carey partiu para a Índia, em
1793, para pregar a Palavra de Deus. Muitas são as dificuldades, mas
nada o impede de perseverar. Ficou conhecido como “O amigo da
Índia” e “ficou encarregado de traduzir mais versões da Bíblia do que
haviam sido feitas durante a história do cristianismo até aquela época”.

APRESENTAÇÃO: o Instituto Antropos atua nas áreas de antropologia, pesquisa sociocultural e


missiologia aplicada sob coordenação de Ronaldo e Rossana Lidório e com a colaboração de
diversos consultores técnicos. Encontramos disponível nesse ambiente um material consistente,
prático e aplicável. O Instituto se compromete a prestar um serviço gratuito e acessível nas
áreas propostas (antropologia, missiologia, linguística e cuidado missionário), fornecendo
metodologias para a pesquisa sociocultural (étnica ou urbanizada), aquisição de língua e plantio
de igrejas.
O Instituto Antropos é também um portal que abriga outros três sites: a “Antropos - Revista de
Antropologia” <www.revista.antropos.com.br>, “Missionews - Revista de Missiologia” <www.
missionews.com.br> e “Plantando Igrejas” <www.plantandoigrejas.org.br>, com sua versão em
Inglês “Church Planting” <www.churchplanting.com.br>.
Para saber mais acesse: <http://instituto.antropos.com.br/v3/>.
37
REFERÊNCIAS

BASTOS, A. C. Metodologia de Plantação de Igrejas. Uberlândia: Escola de Planta-


dores de Igrejas, 2010.
BÍBLIA. Português. Bíblia Missionária de Estudo. Tradução: Almeida Revista e Atu-
alizada. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2014.
HESSELGRAVE, D. Plantar Igrejas: um guia para missões nacionais e transculturais.
São Paulo: Vida Nova, 1995.
LIDÓRIO, R. Teologia Bíblica do Plantio de Igrejas. Manaus: Instituto Antropos,
2011.
SMITH, G. The life of Willian Carey, Shoemaker & Missionary. London: Paperback,
1885.

REFERÊNCIAS ON-LINE

1
Em: <http://www.significados.com.br/processo/>. Acesso em: 19 maio. 2017.
2
Em: <http://verbodavida.org.br/lista-blogs/direto-da-agencia/vida-de-oracao-2>.
Acesso em: 19 maio. 2017.
GABARITO

1.  Kerygma: palavra de origem grega usada no Novo Testamento com o significa-


do de proclamação, pregação, anúncio ou mensagem. Ou seja, comunicação
verbal inteligível. Martyrium: palavra de origem grega usada no Novo Testa-
mento com o significado de testemunho. Ou seja, comunicar com nossas ações.
2. Igreja não é estrutura, não é templo, não é instituição, mas são pessoas conver-
tidas ao Senhor Jesus. Em Atos, capítulo 2, a igreja louvava a Deus no templo
e de casa em casa. Ali estavam judeus, que preferiam o templo, e gentios, que
preferiam as casas. Mas eles eram unânimes, gentios estavam no templo e ju-
deus estavam nas casas.
É muito importante lembrar que nos primeiros trezentos anos da história da
igreja de Jesus não havia “prédio de igreja” algum, mesmo assim não deixavam
de ser igreja. Até mesmo nos dias atuais, lugares onde ter um prédio para a reu-
nião da igreja é proibido ou até mesmo grupos de cristãos que se reúnem sem
prédio, continuam sendo a Igreja de Jesus.
3. Indicamos a seguir essas fases ou etapas, resumidamente, que envolvem a
plantação de uma igreja:
Ir: levar a palavra do Senhor a campos ainda não alcançados. Aqueles que são
comissionados a ir fazem parte da comunidade de discípulos. Foram salvos pela
fé na palavra da pregação, batizados, testemunhando arrependimento e foram
transformados pela obediência aos ensinamentos do Senhor.
Evangelizar: comunicar, seja verbalmente, ou pelo testemunho de vida, quem
é Jesus e o que Ele fez por nós.
Fazer discípulos: a obediência ao Mestre é exigida não somente daquele que
leva a mensagem, mas também daquele que a ouve e se arrepende. Essa etapa
envolve o batismo e o contínuo ensino das Escrituras Sagradas.
Congregar os convertidos: aqueles que se convertem, de todas as nações, de-
vem ser trazidos para dentro da Igreja do Senhor.
Formar líderes: dentre os convertidos, aqueles que confessarem o chamado
do Senhor para o ministério devem ser discipulados de maneira mais próxima e
pessoal, com o propósito de que a nova congregação tenha um governo local,
ou para que esses sejam enviados a novos campos ainda não alcançados.
Acompanhar: as novas congregações devem ser acompanhadas, continua-
mente, para correção de desvios, encorajamento dos irmãos e fortalecimento
da liderança local, assim como sempre fazia o apóstolo Paulo.
4.  Intencionalidade: é a intenção de se plantar uma igreja. Hesselgrave (1995),
diz que 75% das igrejas plantadas no mundo foram plantadas intencionalmen-
te. As igrejas que nascem, nascem porque alguém desejou e planejou seu nas-
cimento. Alguém orou, enviou missionários, trabalhou, se esforçou por entrar
em uma sociedade e se manteve perseverante. Intencionalidade diz respeito a
39
GABARITO

olharmos para uma cidade carente do evangelho, orar por essa cidade, desper-
tar outros para oração e despertar parceiros para o projeto, enviar um plantador
de igrejas para o local, apoiar aquele que foi enviado até que pessoas se con-
vertam ao evangelho de Cristo e, assim, ver uma igreja nascer. Ninguém investe
em um negócio indefinido, os recursos sempre seguem a visão. As pessoas se
envolvem com aquilo que traduzem a elas convicção e paixão.
Oportunidade: há lugares onde nós temos muitas oportunidades para pregar
o evangelho, discipular pessoas e treinar líderes. Outros lugares são fechados,
com mínimas oportunidades. A questão não é quantas oportunidades nós te-
mos, mas quantas oportunidades nós usamos. Temos que pedir a Deus que os
nossos olhos sejam abertos para as oportunidades.
Teologia: ter como nosso guia a Palavra de Deus. Os projetos de crescimento e
plantio de igrejas não podem se afastar dos fundamentos teológicos. Segundo
Lidório (2011, p. 13), “nem tudo o que funciona é Bíblico”. Existem métodos que
são humanos, carnais e até mesmo malignos. Nós seremos cobrados por Deus
se formos infiéis aos Seus ensinamentos.
Continuidade: o plantador de igrejas deve manter constância e permanência
no acompanhamento dos trabalhos realizados. Muitos projetos de plantio de
igrejas são interrompidos, porque na fase do ajuntamento dos convertidos o
plantador da nova igreja se ausenta. O momento de ajuntar é essencial para
a consolidação da nova igreja. Mesmo depois da igreja plantada é necessário
manter a continuidade. Isso é nitidamente observado no ministério do apóstolo
Paulo. Ele plantava uma igreja, voltava para ajustar, mandava alguém para visi-
tar, escrevia e enviava cartas, articulava o estabelecimento de lideranças. Orava
pelas igrejas plantadas e as acompanhava permanentemente, visando seu for-
talecimento.
Prática: abundante evangelização. Um dos maiores entraves para plantio de
igrejas é a pouca evangelização. Há muita expectativa de que as pessoas se con-
vertam, mas, com pouca evangelização. Lidório (2011) nos alerta que Igrejas são
plantadas nas ruas, nos mercados, nos bairros, nas casas, nas matas, nas aldeias,
nos condomínios. Igrejas são plantadas nos lugares onde estão aqueles que ain-
da não conhecem pessoalmente a Jesus. Uma visão que o plantador de igrejas
precisa ter é a de ir aos lugares onde as pessoas estão.
Oração: em todos os lugares e épocas, onde houve grande avanço missioná-
rio, esse avanço foi precedido de oração. Deus ouve as orações. Oração não é
repetição de necessidades, mas um ponto de encontro com Deus. Não é trans-
missão de ideias para o Pai, mas um convite que Deus nos traz para uma con-
vivência mais próxima e íntima com Ele. A Bíblia nos ensina, em Mateus 18, 18
a 20, que “tudo o que ligarmos na terra terá sido ligado nos céus, e tudo o que
desligarmos na terra terá sido desligado nos céus” e que, “se dois dentre vós,
sobre a terra, concordarem a respeito de qualquer coisa que, porventura, pe-
GABARITO

direm, ser-lhe-á concedida por meu Pai, que está nos céus”; isso, obviamente,
não significa, de modo algum, que podemos forçar Deus a fazer o que Ele não
quer, mas sim que podemos reivindicar que faça o que Ele deseja fazer em seu
perfeito conhecimento e soberana vontade. Na oração, também “recarregamos
nossas baterias”, pois oração é relacionamento com Deus. Lidório (2011) relata
que Jesus, intensamente, trabalhava, ensinava, curava, discipulava, expulsava
demônios e fazia amigos e, em seguida, se dirigia aos montes sozinho, ou saia
com alguns de Seus discípulos em um barco, para estar em comunhão e re-
lacionamento com Deus. Ali, Jesus refletia, descansava e encontrava refrigério
para Sua alma. Existem líderes tão atarefados que não têm tempo para orar,
para refletir, não têm tempo para ter amizades, para abrir o coração, não têm
tempo para serem pastoreados. Caem em ciladas malignas porque, no meio do
cansaço, não percebem que “baixam a sua guarda”. Então, tudo que é carnal
ganha mais força, aquilo que é do Espírito é colocado de lado. Assim, ficam mais
vulneráveis e rendem-se a caminhos de destruição. O plantador de igrejas deve
ter uma forte vida de oração e vigilância em Deus.
Planejamento: no projeto de plantio de igrejas temos que ter, de maneira bem
clara, qual é a visão, ou seja, o que desejamos alcançar ao final de um período
de trabalho. Quais são os alvos principais e quais são as atividades que serão
desenvolvidas para se alcançar esses alvos.
Liderança local: o bom plantador de igrejas é aquele que pensa em ir embora
no dia em que chega. Ele aspira estabelecer aquela obra para adentrar em no-
vos campos. Por isso, ele identifica, dentre os novos convertidos, pessoas que
possam ser treinadas para a futura liderança local daquela igreja.
5.
• A dificuldade de se distinguir igreja e templo, perdendo o valor do discipu-
lado e gerando mais investimento na estrutura do que em pessoas.
• A demora na introdução dos convertidos à vida diária da igreja, diluindo o
valor da comunhão e integração além de gerar crentes imaturos, sem fun-
ções, desafios ou envolvimento.
• A despreocupação com os fundamentos teológicos e atração pelos meca-
nismos puramente pragmáticos.
• A ausência de sensibilidade social e cultural, pregando um evangelho sem
sentido para o contexto receptor. Uma mensagem alienada da realidade
da vida.
• A excessiva pressa no plantio de igrejas, gerando comunidades superficiais
na Palavra e abrindo oportunidades reais para o sincretismo ou nominalis-
mo.
• O excessivo envolvimento com a estrutura da missão ou da igreja, desgas-
Professor Dr. Galaor Linhares Tupan Junior

TEOLOGIA BÍBLICA DO

II
UNIDADE
PLANTIO DE IGREJAS

Objetivos de Aprendizagem
■■ Assinalar a interdisciplinaridade entre Teologia e Missiologia.
■■ Compreender a soberania do reinado de Deus na plantação de
igrejas.
■■ Compreender os critérios teológicos para o plantio de igrejas.
■■ Refletir sobre cosmovisão e contextualização no processo bíblico de
proclamação da mensagem.

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Acordo entre Teologia e Missiologia
■■ Reflexão Crítica sobre Missio Dei e Reinado de Deus
■■ Orientação Teológica para o Plantio de Igrejas
■■ Cosmovisão e Contextualização
43

INTRODUÇÃO

Neste momento, vamos considerar um aspecto muito importante do plantio de


igrejas: a necessidade de pautar toda obra de concepção de igrejas sob a luz da
revelação de Deus. Toda igreja deve ter como objetivo de sua existência glorifi-
car a Deus e fazê-Lo conhecido na terra. Assim, a sabedoria, o poder e a graça
de Deus poderão ser testemunhados por todo o mundo. Nesse sentido, é preciso
conhecimento teológico adequado para que a mensagem comunicada reflita o
querer e a vontade divina.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Para que todas as famílias da terra sejam alcançadas pelo evangelho, neces-
sitamos plantar igrejas nas cidades, nos povoados, em lugares longínquos e nas
tribos de diferentes etnias. Observaremos o modelo do apóstolo Paulo, que con-
siderou o desafio de evangelizar e plantar igrejas entre todos os povos, mas sem
separar a ação missionária da doutrina bíblica correta. Apresenta-se, para nós, a
necessária interdependência entre teologia e plantação de igrejas: uma não pode
sobreviver sem a outra.
Faremos uma reflexão crítica sobre a Missio Dei e o reinado de Deus, buscando
conciliar Missão e Evangelização. Atualmente, sabemos que o mundo organiza-
cional aborda enfaticamente missão como a razão de ser de uma organização.
Na missão, tem-se destacado o que a empresa produz, sua expectativa de êxito
futuro e como espera ser identificada pelos clientes e pelo mercado; entretanto,
quando abordamos a Missão de Deus, não estamos falando de nenhum empre-
endimento humano, mas do propósito supremo de Deus em redimir Sua criação.
Na finalização da unidade, trataremos a relevância de conhecermos os con-
textos culturais em que a evangelização ocorre, seus objetivos, limitações e a
necessidade de que o conteúdo teológico não se perca.
Bons estudos!

Introdução
44 UNIDADE II

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
ACORDO ENTRE TEOLOGIA E MISSIOLOGIA

Caro(a) aluno(a), iniciamos nossa abordagem sobre a teologia bíblica do plan-


tio de igrejas. Embora esse assunto seja muito vasto, vamos nos deter a alguns
aspectos específicos. Primeiramente, compreendemos o plantio de igrejas como
um ato coordenado pela suprema vontade de Deus, por meio do qual igrejas são
estabelecidas para que homens e mulheres sejam introduzidos na vida eterna,
Deus seja adorado e o Reino Eterno estabelecido.
Para que você possa compreender melhor o contexto que encontramos em
muitos campos missionários, ou mesmo no imenso volume de denominações
existentes, considere o seguinte desafio apresentado por Wright (2012):
[...] pense numa doutrina - qualquer doutrina do período de 200 a 2000
d.C. Multiplique-a pelas confissões históricas. Divida pelas variações
denominacionais. Acrescente uma suspeita de heresia. Subtraia a dou-
trina em que pensou primeiramente. Que sobrou? Provavelmente, a
soma aproximada do que teologia e missões têm em comum na mente
do cristão mediano - não muito. Afinal, teologia está na cabeça - refle-
xões, argumentos, ensinos, credos e confissões de fé. Pensamos numa
biblioteca teológica onde as ideias são estocadas. Missão ou missões
é fazer - resultados práticos, dinâmicos e executáveis. Pensamos no
campo missionário como um lugar onde as pessoas vão e fazem coisas
emocionantes. Teologia e missões parecem não ter muita coisa em co-
mum; também é fácil termos a impressão de que aqueles que parecem
ser mais interessados numa coisa, têm menos interesse na outra (WRI-
GHT, 2012, p. 25).

TEOLOGIA BÍBLICA DO PLANTIO DE IGREJAS


45

No decorrer dos séculos, o trabalho de proclamação do evangelho tem sofrido


muita oposição. O entendimento da ordem divina, por muitas vezes, teve inter-
pretações estanques, à vista de uma visão antropológica, ou seja, centrada no
homem. O afastamento entre a ação missionária e uma correta teologia bíblica
tem trazido sérios problemas à Igreja do Senhor.
Michael Green (1989, p. 7) afirma que “a maior parte dos evangelistas não
se interessa muito por teologia; e a maioria dos teólogos não se interessa muito
por evangelização”. Quando a ação missionária não é pavimentada por um cor-
reto raciocínio teológico, corre-se o risco da ineficácia e da frustração.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Ronaldo Lidório (2011) faz uma análise de aspectos que, historicamente, tra-
zem limitações ao processo de plantio de igrejas. Essas limitações esclarecem, de
certa forma, a tendência do afastamento entre teologia e missiologia ocorrido
em diversas partes do mundo. Nossa intenção é permitir a problemática, com
vistas à construção de um entendimento teológico apropriado. Consideremos
algumas das limitações indicadas por Lidório (2011):
a) Como o assunto de plantio de igrejas está ligado à metodologia e pro-
cesso de campo, a tendência é avaliá-lo mais pelos resultados que produz do
que por seus fundamentos teológicos. Lidório (2011, p. 5), classifica esse fato
como “abordagem pragmática”, o qual traz a possibilidade de se deixar de
lado “o que é bíblico e teologicamente evidente” por aquilo que é prático e traz
melhores resultados; contudo, o divórcio entre teologia e missiologia não acon-
tecerá sem graves consequências e prejuízos para o plantio de igrejas. Portanto,
teremos como premissa de nossa abordagem acadêmica as raízes teológicas do
trabalho realizado pelos apóstolos no estabelecimento da igreja primitiva. Sua
ação é descrita na Grande Comissão do Senhor Jesus Cristo e seu processo de
semeadura do evangelho deve ser observado. Não devemos nos fundamentar
por meio daquilo que funciona, mas pelo que é bíblico e teologicamente correto.

Acordo Entre Teologia e Missiologia


46 UNIDADE II

Pragmatismo é uma doutrina filosófica cuja tese fundamental é que a


ideia que temos de um objeto qualquer nada mais é senão a soma das ideias
de todos os efeitos imaginários atribuídos por nós a esse objeto, que passou
a ter um efeito prático qualquer.
Ser partidário do pragmatismo é ser prático, ser pragmático, ser realista.
Aquele que não faz rodeio, que tem seus objetivos bem definidos, que con-
sidera o valor prático como critério da verdade.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Fonte: Significados ([2017], on-line)1.

b) Além da abordagem pragmática, Lidório (2011, p. 6) indica a “aborda-


gem sociológica” como uma limitação ligada ao conceito da missão e plantio de
igrejas. Isso ocorre quando tomamos decisões baseadas na avaliação e interpre-
tação sociológica das necessidades humanas e não nas instruções das Escrituras.
Nesse caso, ocorre uma flexibilização da teologia para atendimento de certos gru-
pos ou segmentos. A plantação de igrejas deve ter por base a Missão de Deus
em sua mais pura teologia bíblica. A chegada do evangelho sempre produzirá
avanço social, entretanto, a evangelização e o plantio de igrejas têm por objetivo
a reconciliação do homem com Deus, a obediência a Cristo e a entrada em Sua
Igreja em um serviço responsável no mundo, como prevê o Pacto de Lausanne.
O serviço social está presente, mas não pode ser estabelecido como fundamento
para realização da missão.
c) Uma terceira limitação no estudo de plantio de igrejas é a “abordagem
eclesiológica”, a qual está ligada à nossa compreensão da própria identidade da
Igreja. Sobre isso, consideramos as observações de Lidório:
[...] apesar da Igreja possuir um papel prioritário em termos de atua-
ção missionária, seu valor intrínseco, extramissão proclamadora, pre-
cisa ser reconhecido porque é o resultado do sacrifício de Jesus e Ele
e a Cruz são o centro do plano de Deus. Assim, apesar da Missão ser
uma constante prioridade bíblica na vida da Igreja, não devemos defi-
nir essa Igreja apenas a partir da proclamação do evangelho, sob pena
de nos tornarmos extremamente funcionalistas e utilitários. Adoração,

TEOLOGIA BÍBLICA DO PLANTIO DE IGREJAS


47

doutrina, fidelidade, santidade, unidade e comunhão são, também, im-


portantes aspectos que compõem a identidade da Igreja. Assim sendo,
a Igreja não é um instrumento primariamente desenhado para evange-
lizar pessoas, mas um instrumento para glorificar a Deus (Ef 3:10) e a
proclamação - evangelização - é uma de suas funções e resultado de sua
existência (LIDÓRIO, 2011, p. 6).

Lidório (2011), apresenta o risco de termos igrejas evangelizadoras que não vivem
a palavra de Deus. Esse entendimento eclesiológico não dispensa a Igreja da
prioridade da proclamação do evangelho. Ainda que a evangelização não seja a
única característica procurada por Deus em Sua Igreja é uma prioridade urgente
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

para a salvação de um mundo perdido que necessita ser reconciliado com Deus.
Diante de toda problemática apresentada quanto às possíveis fragilidades na
definição de uma teologia correta para a prática missiológica, consideramos que
nenhuma ação missionária deve ser tratada de forma isolada, mas deve ter sua
prática consolidada em toda teologia bíblica. Temos como fonte e motivação o
próprio Deus. Nesse sentido Peters (2000, p. 32), cita Webster: “[...] nós come-
çamos, então, onde a missão começa, com Deus”.
Outro teólogo contemporâneo que nos
auxilia no entendimento da conciliação entre
Teologia e Missiologia é Charles Van Engen
(1996). Ele considera, em seus estudos, que as
igrejas locais têm uma razão de serem multifa-
cetadas no que diz respeito à sua participação no
mundo, por meio da comunhão, proclamação,
serviço e testemunho. Devido ao grande número
de agências missionárias sem qualquer vínculo
denominacional, as igrejas locais, como agen-
tes missionários, ficaram relegadas a celeiros de
candidatos e fontes de suporte financeiro. Muitas
agências, organizações e instituições missioná-
rias são os únicos agentes missionário de Deus.
Dessa forma, a Eclesiologia passou a não ser tratada como assunto sério na
discussão dessas instituições. Por outro lado, as igrejas locais se divorciaram, mui-
tas vezes, da própria natureza, propósito e papel como comunidade comprometida

Acordo Entre Teologia e Missiologia


48 UNIDADE II

com a missão de Deus neste mundo. Ambos os aspectos não podem ser teologi-
camente admissíveis, mas, muitas vezes, se consolidaram na prática. Assim, no
pensamento da grande maioria dos cristãos, as palavras “igreja” e “missão” pas-
saram a expressar dois tipos diferentes de sociedade.
Van Engen (1996), tem como tese principal que à medida em que as congre-
gações locais são estabelecidas, a fim de alcançar o mundo por meio da missão,
elas se tornam de fato o que elas já são pela fé: povo missionário de Deus. Quando
a palavra “missão” é usada no singular está se referindo a Missio Dei, e quando
a palavra é usada no plural (missões), refere-se aos diversos meios pelos quais

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
a Missio Dei é realizada.
Lidório aponta três perigos quando a Teologia e Missiologia não são perce-
bidas como parceiras:
1. Usar Deus como um instrumento para realizar nossos propósitos
no plantio e crescimento de igrejas em lugar de servi-lo no cumpri-
mento de Seus planos na Terra (I Coríntios, 3:11).

2. Oferecer soluções simplistas para problemas complexos em relação


à comunicação do evangelho, contextualização e plantio de igrejas.

3. Utilizar a Teologia com finalidade puramente acadêmica e não apli-


cável à Igreja, sua vida e dinâmica.

Quando analisamos os ensinos de Paulo, entendemos que seu minis-


tério estava fundamentado em suas convicções teológicas, inspirando-
-nos a refletir sobre Deus e Sua ação no mundo. Missiologia e Teologia,
indisputavelmente, devem caminhar de mãos dadas para a glória de
Deus, a fidelidade às Escrituras e a evangelização dos perdidos (LIDÓ-
RIO, 2011, p. 10-11).

Não podemos trabalhar para Deus utilizando critérios humanos. Os obreiros


pertencem a Deus, os campos pertencem a Deus e um dia prestaremos contas de
tudo o que fizermos. Somente o que foi edificado em Cristo permanecerá para a
eternidade. Toda ação missionária e de tratamento da Igreja de Cristo deve ser
tomada com sólida base teológica. Lidório ainda nos auxilia a concluir com o
entendimento de que:
[...] missiologia e Teologia não devem ser tratadas como áreas separa-
das de estudo, mas como disciplinas complementares. A Teologia não
apenas coopera com a Igreja ao fazê-la entender o sentido da Missão

TEOLOGIA BÍBLICA DO PLANTIO DE IGREJAS


49

e a base para o plantio de igrejas como também provê o entendimento


bíblico motivacional para o evangelismo. A Missiologia, por outro lado,
dirige teólogos para o plano redentivo de Deus e os ajuda a ler as Es-
crituras sob o pressuposto de que há um propósito para a existência da
Igreja (LIDÓRIO, 2011, p. 9).

Pacto de Lausanne - Item 4. A Natureza da Evangelização


Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Evangelizar é difundir as boas novas de que Jesus Cristo morreu por nossos
pecados e ressuscitou segundo as Escrituras, e de que, como Senhor e Rei,
Ele agora oferece o perdão dos pecados e o dom libertador do Espírito a
todos os que se arrependem e creem. A nossa presença cristã no mundo
é indispensável à evangelização, e o mesmo se dá com aquele tipo de di-
álogo cujo propósito é ouvir com sensibilidade, a fim de compreender. [...]
Ao fazermos o convite do evangelho, não temos o direito de esconder o
custo do discipulado. Jesus ainda convida todos os que queiram segui-lo e
negarem-se a si mesmos, tomarem a cruz e identificarem-se com a sua nova
comunidade. Os resultados da evangelização incluem a obediência a Cristo,
o ingresso em sua igreja e um serviço responsável no mundo.
Fonte: Lausanne (1974, on-line)2.

Acordo Entre Teologia e Missiologia


50 UNIDADE II

REFLEXÃO CRÍTICA SOBRE MISSIO DEI E REINADO

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
DE DEUS

No tempo presente, ouvimos dizer sobre a necessidade de uma visão holística


para entendimento da missão de Deus. Trata-se de uma percepção mais abran-
gente da revelação de Deus, na qual a construção conceitual busca considerar
o todo da nossa missão. Entretanto, ainda há o risco de que essa visão perma-
neça muito antropocêntrica ou eclesiocêntrica e o homem continue ocupando
um lugar deslocado, fazendo com que o objetivo do evangelismo e da ação social
seja preencher as necessidades humanas.
Alguns autores conceituam a igreja como missional. A ideia associada a essa
definição é que tudo o que a igreja faz deve ter o aspecto missional, ou seja: pôr
a missão em prática no local onde está a igreja. Ed Stetzer (2015, p. 37) diz que
“ser missional significa ser missionário sem mudar de CEP”. Novamente corre-
mos o risco de mantermos o foco em nós e, também, colocarmos a Igreja nessa
equação. Nessa versão da igreja missional, busca-se identificar quais aspectos
deveriam ser incluídos dentro da missão da Igreja.
Nos deparamos com a discussão e averiguação de argumentos válidos para
identificar qual é a missão legítima da Igreja. Se buscarmos uma definição de
missão a partir do ser humano, colocando-o como o objeto ou agente da mis-
são, nos encontraremos argumentando, e não chegando a uma resposta mais
conclusiva. Uma das maneiras de resolvermos essa argumentação é, ao invés
de começarmos tendo o homem como ponto de partida, reconhecermos que a
missão deve ser compreendida teocraticamente, tendo como sua origem a reve-
lação e o conhecimento do próprio Deus.

TEOLOGIA BÍBLICA DO PLANTIO DE IGREJAS


51

A reflexão de Georg Vicedom (1965, p. 4) nos auxilia por aproximar-se muito


do pensamento bíblico quando diz que “a Bíblia em sua totalidade designa ape-
nas uma intenção de Deus: salvar a humanidade”.
Nesse ponto, percebemos a importância primordial da missão de Deus no
estabelecimento presente e futuro do reinado de Deus. A igreja, o pastor e o teó-
logo devem aproximar-se das questões da organização da missão e do plantio
de igrejas, pois estes não devem ser tratados como assuntos isolados e indepen-
dentes da vida da Igreja, nem mesmo como assuntos que acontecem fora das
suas fronteiras.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Segundo Bosch (2002), Karl Barth foi um dos primeiros teólogos a apresentar
a missão como atividade de Deus quando, em 11 de abril de 1932, expôs um tra-
balho na Conferência Missionária de Brandemburgo, em Berlim, na Alemanha. A
influência de Barth no pensamento missionário atingiria seu auge na Conferência
de Willingen, em 1952. Em Willingen, reapareceu um antigo termo: Missio Dei
(expressão derivada do latim, que significa missão de Deus). Foi lá que a ideia
da Missio Dei emergiu de maneira clara, com a compreensão de que a missão é
derivada da própria natureza de Deus, sendo colocada no contexto da doutrina
da Trindade, e não da Eclesiologia ou da Soteriologia. Outro nome que se desta-
cou na Conferência de Willingen foi o de George Vicedom, autor da famosa obra
“Missio Dei: An Introduction to the Science of Mission”. A ênfase de Vicedom foi
de que Deus é o sujeito ativo da missão. Por isso, Barth diz que a Teologia enga-
ja-se em fazer o papel do anjo que lutou com Jacó, formulando e colocando as
perguntas certas a cada momento da igreja e da sua missão.
[...] estabelecida a “diversidade”, grandeza, excelência e glória de Deus,
tornando todas as suas obras dependentes dEle. De uma maneira es-
tranha e silenciosa, essa Teologia deixou de lado o conceito bíblico do
Deus vivo, do propósito de Deus, do Deus da história, da ação e dos
relacionamentos existenciais, do Deus de aqui e agora, do Deus que
está atualmente executando seu plano e programa, do Deus que é um
Deus sociável, um Deus de missão. Dessa forma, a Teologia se ocupou
mais como Deus celestial do que com o Deus da criação, o Deus sem-
pre presente na salvação e em missões. Essa inadaptação naturalmente
conduz a um divórcio entre Teologia e missões (PETERS, 2000, p. 33).

Peters afirma que, apenas se a missão tiver sua fonte, sua natureza e autoridade
no Deus trino e uno, ela pode realmente gerar uma motivação duradoura e

Reflexão Crítica Sobre Missio Dei e Reinado de Deus


52 UNIDADE II

tornar-se cristã e significativa. Em qualquer outro nível, ela permanecerá huma-


nizada, não importa o quão “religiosa” ou “cristã” essa classificação possa ser. O
fracasso do expansionismo de missões e da Igreja no mundo se deve, principal-
mente, a uma Teologia incompleta e desequilibrada.
Na Conferência de Willingen reconheceu-se que a igreja não poderia ser
nem o ponto de partida nem o alvo da missão. A obra salvífica de Deus
precede tanto a igreja quanto a missão. Não se deveria subordinar a mis-
são à igreja e, tampouco, a igreja à missão; pelo contrário, ambas deveriam
ser inseridas na missio Dei que se tornou então o conceito abrangente. A
missio Dei, missão de Deus, institui as missiones ecclesiae (missões da igre-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
ja). A igreja deixa de ser a remetente para ser a remetida. A missão não é
primordialmente uma atividade da igreja, mas um atributo de Deus. Deus
é um Deus missionário. Compreende-se a missão, desse modo, como um
movimento de Deus em direção ao mundo; a igreja é vista como um ins-
trumento para essa missão (BARRACA, 2010, on-line)3.

Nessa ideia, compreendemos missão tendo início no próprio Deus. Como nos
edifica e alegra pensar que Deus é um Deus missionário e que missão é uma
obra essencialmente de Deus.
Participar da missão é participar do movimento de amor de Deus para
com as pessoas, visto que Deus é uma fonte de amor que envia (BOS-
CH, 2002, p. 468).

O sentido ampliado da Missio Dei foi trazido por Bosch e nos detalha o caráter
missionário de Deus:
[...] a doutrina clássica da Missio Dei como Deus, o Pai, enviando o
Filho, e Deus, o Pai e o Filho enviando o Espírito, foi expandida no
sentido de incluir ainda outro - movimento - Pai, Filho e Espírito Santo
enviando a Igreja para dentro do mundo (BOSCH, 2002, p. 467).

Podemos considerar as seguinte referências bíblicas, para maior compreensão


da manifestação de Deus ao mundo, dispensando a si mesmo como Pai, Filho
e Espírito Santo:
■■ Deus o Pai enviou o Seu Filho:
[...] no princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era
Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas
por intermédio dele, e , sem ele, nada do que foi feito se fez. A vida esta-
va nele e a vida era a luz dos homens. A luz resplandece nas trevas, e as

TEOLOGIA BÍBLICA DO PLANTIO DE IGREJAS


53

trevas não prevaleceram contra ela. [...] e o Verbo se fez carne e habitou
entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como
do unigênito do Pai (BÍBLIA, João 1,1-5 e 1,14).

■■ Deus, o Pai e o Filho enviaram o Espírito Santo: “E eu rogarei ao Pai, e


ele vos dará outro Consolador, a fim de que esteja para sempre convosco”
(BÍBLIA, João 14.16).
■■ A Trindade envia a igreja e os crentes, em particular, para cumprir a tarefa
da Grande Comissão. Ou seja, Pai, Filho e o Espírito Santo enviando a igreja
para dentro do mundo: [...] mas recebereis poder, ao descer sobre vós o
Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em
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toda a Judeia e Samaria e até aos confins da terra (BÍBLIA, Atos 1,8). [...]
todos ficaram cheios do Espírito Santo e passaram a falar em outras lín-
guas, segundo o Espírito lhes concedia que falassem (BÍBLIA, Atos 2,4).
Vivemos no tempo em que a Igreja do Senhor, como corpo, do qual Cristo é o
Cabeça, se constitui na presente dispensação de Deus para o mundo. Estamos no
século XXI com o desafio de restabelecer paradigmas concretos para atendimento
da missão de Deus, conforme Bosch aponta em sua obra Missão Transformadora:
[...] desde os anos 1950 tem havido uma notável escalada no uso do
termo “missão” entre os cristãos [...] Ela designava: a) Envio de mis-
sionários a um território especificado; b) as atividades empreendidas
por tais missionários; c) a área geográfica em que os missionários atu-
avam; d) a agência que expedia os missionários; d) o mundo não cris-
tão ou “campo de missão”; e) o centro a partir do qual os missionários
operavam no “campo de missão”. Num contexto ligeiramente diferente
esse termo também podia designar: g) uma congregação local sem um
pastor residente e que ainda dependia do apoio de uma igreja mais an-
tiga, estabelecida; h) uma série de serviços especiais destinados a apro-
fundar ou difundir a fé cristã, em geral num ambiente nominalmente
cristão. Se estabelecermos uma sinopse mais especificamente teológica
de “missão”, assim como o termo tem sido usado tradicionalmente, ob-
servaremos que ela foi parafraseada como: a) a propagação da fé; b)
expansão do reinado de Deus; c) conversão dos pagãos; d) fundação de
novas igrejas (BOSCH, 2002, p. 17).

Nos encontramos, novamente, com Wright (2014) para o esclarecimento dos


elementos teológicos fundamentais da teologia bíblica. O autor enfatiza que a
missão de Deus, impreterivelmente, deve começar do ponto de vista de Deus,
como nos revela Sua palavra:

Reflexão Crítica Sobre Missio Dei e Reinado de Deus


54 UNIDADE II

[...] desvendando-nos o mistério da sua vontade, segundo o seu bene-


plácito que propusera em Cristo, de fazer convergir nele, na dispensa-
ção da plenitude dos tempos, todas as coisas, tanto as do céu como as
da terra (BÍBLIA, Efésios 1, 9-10).

Aqui, Paulo está nos afirmando que Deus fez Sua vontade conhecida a nós. Paulo
está falando sobre o plano eterno de Deus para o universo, por meio das gera-
ções. Esse trecho das Escrituras engloba toda revelação de Deus, começando
desde o livro de Gênesis, passando por toda a escritura, até se completar no
livro de Apocalipse. Por meio de sua obra e obediência perfeita, Jesus alcançou
o centro de todas as coisas. Em última análise, toda criação será unida debaixo

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do senhorio de Cristo. Não somente na terra, mas também nos céus, Cristo está
estabelecendo ordem e perfeita sintonia por meio de Sua obra.
É muito importante atentar para a centralidade do Senhor Jesus Cristo apon-
tada pelas escrituras. Nossa missão surge a partir da missão de Deus, que está
contemplada em toda narrativa bíblica. Temos que entender que a Bíblia não é
um livro cheio de regras, doutrinas e promessas, embora esses pontos estejam
presentes. Fundamentalmente, a Bíblia é a história do universo desde a criação
até chegarmos na nova criação. Essa história a qual Paulo está se referindo é a
missão de Deus.

E você, como tem se sentido diante do desafio de participar da missão de


Deus? Como Igreja fomos remetidos ao mundo perdido como a última res-
posta de Deus à humanidade. Como Corpo de Cristo cada um de nós possui
sua função com vistas a sermos edificados em amor e, assim, haja cresci-
mento segundo a justa cooperação de cada parte.

TEOLOGIA BÍBLICA DO PLANTIO DE IGREJAS


55

ORIENTAÇÃO TEOLÓGICA PARA O PLANTIO DE


IGREJAS

Até aqui, todo nosso estudo tem sido


fundamentado por uma teologia
bíblica que nos aponte para a missão
de Deus. Percebemos, na teologia, que
tudo fala de Deus. Buscamos informa-
ções detalhadas sobre o que as pessoas
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entenderam e escreveram sobre Seu


caráter, Suas ações, Seu relacionamento
com o mundo e a sociedade humana,
sobre o envolvimento de Deus com a
história, o presente e o futuro.
Plantar igrejas é ter uma participação naquilo que Deus está fazendo no
mundo. Se a visão de Deus é ampla em seu alcance, também a nossa deve ser
baseada numa compreensão correta da visão de Deus, porque a nossa missão é
a missão de Deus.
Diante de nosso desafio de sermos participantes da missão de Deus, voltamos
à Grande Comissão que nos envia ao mundo para levarmos o evangelho, fazendo
discípulos de todas as nações e ensinando-os a guardar todas as coisas. Nesse
sentido, Lidório (2011) nos auxilia a discernir nosso papel, quando afirma que a
principal diferença entre a evangelização e o plantio de igrejas é o propósito. No
primeiro, apresentamos Cristo a uma pessoa que poderá guardar a experiência
da salvação para si ou anunciá-la a outros. No segundo, apresentamos Cristo a
uma pessoa, em uma dada cultura, região, cidade, tribo ou povoado, com ênfase
no discipulado e nas Escrituras Sagradas, para que os alcançados pelo evangelho
sejam fortalecidos em uma comunidade local. Desta forma podem participar de
oração, comunhão e pastoreamento. Tudo isso, alinhado a uma visão de futuro
e nova multiplicação, ou seja, as igrejas constituídas devem nascer compreen-
dendo que seu futuro será plantar novas igrejas.
Lidório (2011) nos aponta três critérios bíblicos muito relevantes para o
plantio de igrejas:

Orientação Teológica Para o Plantio de Igrejas


56 UNIDADE II

1. “O plantio de igrejas não deve ser definido em termos de treinamento


e habilidade, mas pelo poder e desejo de Deus de salvar vidas” (LIDÓ-
RIO, 2011, p. 11). Embora o treinamento seja fundamental, não podemos
esperar que sejam os recursos disponíveis e o planejamento realizado os
responsáveis pelo cumprimento da missão. Homens comuns como um
sapateiro chamado William Carey, podem se tornar servos muito usados
pelo Senhor, assim como humildes pescadores foram responsáveis por
transformar o mundo na igreja primitiva. É o poder de Deus sendo depo-
sitados em vasos de barro que nos capacita a cumprir Seus planos na terra.
2. “O plantio de igrejas não deve ser definido em termos de resultados huma-

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nos, mas pela fidelidade às Sagradas Escrituras” (LIDÓRIO, 2011, p. 12). Já
abordamos os riscos de se plantar igrejas sem o padrão bíblico das Escri-
turas. Nem sempre o que é bíblico traz grandes resultados. Nem sempre
o que traz grandes resultados é bíblico. A falta de fidelidade às Escritu-
ras é a grande responsável pelo nominalismo e sincretismo religioso.
3. “O plantio de igrejas não deve ser uma ação definida pelo conhecimento
do evangelho, mas por sua proclamação” (LIDÓRIO, 2011, p. 13). A
maior tarefa de um plantador de igrejas é a proclamação do evangelho,
conforme afirma Lidório:
[...] trabalho social, ministério holístico e compreensão cultural jamais
irão substituir a clara comunicação do evangelho, nem justificar a pre-
sença da igreja. O conteúdo do evangelho exposto em todo e qualquer
ministério de plantio de igrejas deve incluir: a)Deus como Ser Criador
e Soberano (Efésios 1:3-6); b) O pecado como fonte de separação entre
o homem e Deus (Efésios 2:5); c) Jesus, Sua cruz e ressurreição como o
plano histórico e central de Deus para redenção do homem (Hebreus
1:1-4); d) O Espírito Santo, como o cumprimento da Promessa e en-
carregado de conduzir a Igreja até o dia final (LIDÓRIO, 2011, p. 34).

O entendimento do propósito e a finalidade da Igreja podem ser ampliados e


melhor compreendidos quando nos deparamos com o livro de Efésios, na Bíblia
Sagrada, em que o apóstolo Paulo busca levar-nos à maior revelação e conhe-
cimento de quem é Deus e qual é a vocação e o chamado para a Igreja. Já no
capítulo primeiro Paulo deixa evidente que a suprema grandeza do poder de
Deus, que ressuscitou a Cristo dentre os mortos, também opera em nós, os que
cremos, consolidando a Igreja, que é o Seu corpo. A seguir, falaremos mais sobre
esse assunto.

TEOLOGIA BÍBLICA DO PLANTIO DE IGREJAS


57

O QUE É UMA IGREJA?

Para chegarmos a uma conclusão


apropriada a essa pergunta temos
que considerar, primeiramente,
qual é o perfil desejado para uma
igreja. Muitos consideram a sua
própria igreja como o modelo teo-
lógico ideal.
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Quando olhamos cuidado-


samente para a igreja primitiva,
observamos diversas formas, com
diferentes ênfases e estruturas. Ott
e Wilson relatam que “a igreja em
Jerusalém, por exemplo, incluía membros que eram zelosos da lei e continua-
vam a observar muitas das práticas judaicas, como a participação em certos ritos”
(OTT; WILSON, 2013, p. 19-20).
As igrejas de origem gentílica, que foram, na sua maioria, plantadas pelo
apóstolo Paulo, se reuniam, predominantemente, nos lares e não tinham práti-
cas judaicas. Mesmo assim, “todas elas eram legítimas igrejas neotestamentárias
inseridas em seu contexto” (OTT; WILSON, 2013, p. 20). Até mesmo igrejas mais
problemáticas, como a igreja em Corinto, eram consideradas igrejas de Deus. O
apóstolo Paulo escreve “a igreja de Deus que está em Corinto” (BÍBLIA, I Coríntios
1, 2). “Muitos elementos da vida da igreja com os quais estamos familiarizados
em nossa igreja local podem não ser biblicamente necessários, nem culturalmente
adequados em um contexto diferente” (OTT; WILSON, 2013, p. 20).
As escrituras concedem grande liberdade nos detalhes da vida da igre-
ja e seu governo. Os plantadores de igrejas transculturais precisam ter
um cuidado extra para não impor expressões estrangeiras na vida da
igreja, mas desenvolver criativamente a nova igreja de forma que ela
cumpra os propósitos bíblicos de maneira culturalmente apropriada.
Ao mesmo tempo, a igreja deve demonstrar os valores contraculturais
do Reino de Deus (OTT; WILSON, 2013, p. 20).

O plantador de igrejas deve entender o que é biblicamente obrigatório e essencial

Orientação Teológica Para o Plantio de Igrejas


58 UNIDADE II

à vida da igreja e o que não é, qual a natureza da igreja e os fundamentos que


a norteiam. Deve ser capaz de identificar modelos bíblicos de contextualização
da mensagem.
Nesse momento, já podemos afirmar, segundo a Bíblia Sagrada, que igreja
é uma entidade espiritual, concebida e abençoada pelo Pai para congregar um
povo santo e irrepreensível, habitado pelo Espírito Santo, que vive para o louvor
da glória de sua graça, edificada por Cristo, sob o fundamentos dos apóstolos e
profetas, sendo o próprio Cristo Jesus, a pedra angular.
Nesse tempo, a igreja é o principal canal de Deus para manifestar a natureza

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do Reino e cumprir a missão de Deus. Por isso, deve multiplicar-se pelo mundo.
A seguir, apresentaremos uma quadro elaborada por Ott e Wilson (2013),
que mostra aspectos essenciais da igreja e nos auxilia a reconhecer os elemen-
tos que devem estar presentes em uma igreja verdadeira, a qual corresponde aos
parâmetros bíblicos.
Quadro 1 - A Essência da Igreja

Natureza Marcas
Uma Doutrina correta
Santa Ministração fiel dos sacramentos
Universal Disciplina da igreja
Apostólica Fé pessoal
Propósito Metáforas
Testemunho, “martyria” Povo de Deus
Comunhão, “koinonia” Corpo de Cristo
Serviço, “diakonia” Rebanho de Deus
Proclamação, “kerygma” Noiva de Cristo
Adoração, “leiturgia” Templo de Deus
Sacerdócio Real
Fonte: Ott e Wilson (2013, p. 21).

Ott e Wilson (2013), comentam que os pais da igreja primitiva referiram-se à


igreja como a comunhão dos santos. O destaque era colocado sobre a igreja como
um povo, em vez de uma instituição. As características essenciais da igreja foram
resumidas no Credo de Niceia (381 d.C.) como uma (unidade), santa (vida san-
tificada), universal (para todas as pessoas) e apostólica (baseada na doutrina dos

TEOLOGIA BÍBLICA DO PLANTIO DE IGREJAS


59

apóstolos). O entendimento dessas características ocorrem de diferentes formas


durante a história da igreja, mas são confessados por quase todos os cristãos.
Ott e Wilson (2013), apontam que os reformadores se concentraram mais
nas marcas essenciais da igreja, em uma tentativa de discernir o que constitui a
verdadeira e a falsa igreja.
Lutero falou da correta pregação da Palavra (doutrina) e da fiel minis-
tração dos sacramentos (batismo e Ceia) como as duas marcas essen-
ciais. As igrejas reformadas acrescentaram o exercício da disciplina da
igreja. As igrejas livres enfatizaram a regeneração pessoal e piedade de
seus membros (OTT; WILSON, 2013, p. 21).
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No que diz respeito aos propósitos, vemos uma abordagem mais prática contem-
plada em Atos 2, 42, que descreve as atividades básicas da igreja. As metáforas
apresentadas apontam o relacionamento de Cristo com a sua Igreja e são observa-
das nas páginas do Novo Testamento, principalmente no livro de Efésios. Baseado
nessa discussão, apresentamos a definição de Ott e Wilson de uma igreja local:
[...] uma igreja local é uma comunhão de crentes em Jesus Cristo
comprometidos a reunir-se regularmente para propósitos bíblicos
sob uma liderança espiritual reconhecida (OTT; WILSON, 2013,
p. 22).

Essa definição básica inclui vários elementos-chave apontados por Ott e Wilson,
quais sejam:
1. Crentes: a igreja é composta de pessoas que têm experimentado
a salvação através do arrependimento e da fé em Jesus Cristo de
acordo com o Evangelho, tendo confessado por meio do batismo.
Eles desejam ser discípulos fiéis de Jesus Cristo, regenerados e ca-
pacitados pelo Espírito Santo. São o povo de Deus.

2. Reunião: esses crentes estão comprometidos a reunirem-se re-


gularmente para servir a Deus e uns aos outros. São a família de
Deus. Como povo missionário, eles se reúnem em preparação para
serem enviados como agentes da missão de Deus no mundo.

3. Propósito: sua comunidade reúne-se para cumprir propósitos bí-


blicos que incluem oração, louvor, evangelismo, instrução, edifi-
cação, serviço, celebração das ordenanças do batismo e da Ceia,
exercício da disciplina da igreja e envio de missionários. Eles in-
corporam os valores do Reino de Deus.

Orientação Teológica Para o Plantio de Igrejas


60 UNIDADE II

4. Liderança: eles se submetem a líderes espirituais reconhecidos. Os


líderes oferecem uma forma mínima de estrutura sob o governo
de Cristo. Em espírito de serviço, oferecem orientação, supervisão
espiritual e cuidado, ensinando e capacitando o corpo de crentes
(OTT; WILSON, 2013, p. 22 e 23).

Essas características mínimas podem ser consideradas um parâmetro teológico


para os plantadores de igrejas, apresentando flexibilidade ao mesmo tempo em
que qualifica uma igreja local. Crentes isolados, reuniões de interesses especiais
ou reuniões não estruturadas não constituem igreja.
Ott e Wilson (2013), afirmam que um edifício para a igreja não é necessário,

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mas reuniões regulares são. Um pastor remunerado não é indispensável, mas líderes
reconhecidos são. “Adesão a um credo em particular ou distintivo denominacio-
nal não é obrigatório, mas a fidelidade à verdade bíblica e seus propósitos é. (OTT;
WILSON, 2013, p. 23)”. O profundo conhecimento espiritual é um alvo, mas a
obediência no seguir a Cristo é o compromisso mais essencial que se deve buscar.

COMO PODEMOS DEFINIR PLANTIO DE IGREJAS?

Como abordamos na unidade anterior, plantar é um termo usado pelo apóstolo


Paulo em I Coríntios 3, 6: “Eu plantei, Apolo regou; mas o crescimento veio de
Deus”. Nesse texto “plantar” se refere ao ministério apostólico de Paulo, pioneiro
em estabelecer novas igrejas em lugares onde não havia uma igreja presente. Ele
deixa isso visível em Romanos: “esforçando-me, deste modo, por pregar o evan-
gelho, não onde Cristo já fora anunciado, para não edificar sobre fundamento
alheio” (BÍBLIA, Romanos 15, 20).
[...] plantação de igrejas é o ministério que, através do evangelismo e
discipulado, estabelece comunidades reprodutivas do reino de crentes
em Jesus Cristo que estão comprometidos em cumprir os propósitos
bíblicos sob a orientação de líderes espirituais locais (OTT; WILSON,
2013, p. 23).

Acompanhando essa definição de igreja, os seguintes alvos de curto prazo são


estabelecidos como medida de reconhecimento de que a igreja está plantada:
■■ Pessoas da localidade ou do povo-foco foram levadas à fé em Cristo,

TEOLOGIA BÍBLICA DO PLANTIO DE IGREJAS


61

discipuladas e congregadas em uma comunhão de crentes mutuamente


comprometidos que se reúnem regularmente.
■■ Uma equipe qualificada de líderes espirituais locais (de preferência que
pertençam ao povo-foco) é chamada e reconhecida pela congregação.
Eles orientam, ensinam e aplicam apropriadamente as Escrituras em suas
vidas e na sociedade.
■■ As estruturas culturalmente apropriadas para comunhão, louvor, evan-
gelismo, serviço e governo estão funcionando.
■■ Crentes locais internalizaram valores e objetivos bíblicos. Os propósi-
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tos do Reino para a igreja estão sendo progressivamente vividos (OTT;


WILSON, 2013, p. 27).
Em todo momento que observa-se a plantação de igrejas e as estratégias que envol-
vem esse desafio, encontramos as diferentes fases que envolvem esse processo
cíclico. Mesmo depois de sua partida, os plantadores de igrejas devem manter
o acompanhamento com alvos de longo prazo. Esses alvos, dentre outros, são
indicados por Ott e Wilson:
■■ Multiplicação pela plantação de igrejas filhas, envio de plantadores de
igrejas e envio ou apoio de missionários.
■■ O estabelecimento de ministérios locais que demonstram os valores do
Reino de compaixão e justiça.
■■ Início de ministérios especializados voltados a grupos étnicos, subcultu-
ras ou pessoas com necessidades especiais.
■■ Criação de práticas contextualizadas relacionadas a costumes locais, tra-
dições e cerimônias.
■■ Estar ligado a uma comunidade nacional ou regional de igrejas ou aju-
dar a formá-la.
■■ Participação em iniciativas locais ou regionais com outras igrejas (OTT;
WILSON, 2013, p. 28).

Esses objetivos devem ser acompanhados até que sejam alcançados, pois, ainda
que demore algum tempo, os valores e a visão desses alvos devem estar presen-
tes desde do início da plantação da igreja.

Orientação Teológica Para o Plantio de Igrejas


62 UNIDADE II

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COSMOVISÃO E CONTEXTUALIZAÇÃO

Estamos diante do desafio de cumprirmos nossa tarefa orientados pela missão


de Deus, fundamentados numa teologia bíblica e relevante, considerando os
princípios bíblicos corretos do que é igreja e de plantio de igrejas. Nada disso
poderá alcançar êxito caso não contemplemos os contextos culturais existentes.
Lesslie Newbigin influenciou tremendamente a missiologia mundial ao
ensinar que a Igreja apenas encontraria genuíno renovo em sua vida e
testemunho mediante um novo encontro do evangelho com a cultura.
Assim, para prover respostas para as perguntas missiológicas de hoje,
precisamos desenvolver: a) uma análise sócio-cultural; b) uma reflexão
teológica; c) uma visão para a Igreja e sua missão. É o levantar da ban-
deira que conclama a Igreja a apresentar um evangelho relevante, na
língua do povo, que responda às perguntas mais inquietantes da socie-
dade de hoje (LIDÓRIO, 2011, p. 11).

Quando um(a) missionário(a) ou um(a) plantador(a) de igreja vai a outra cultura,


ele(a) leva o seu modelo de igreja, uma linguagem específica e um paradigma já
estabelecido. A tendência é implantar o modelo já experimentado no contexto
anterior. Entretanto, cada ser humano possui uma visão e interpretação diferente
do mundo, isso diz respeito à sua cosmovisão. As pessoas não veem as coisas
como são, mas como elas parecem ser, por meio de suas “lentes” de observação.
O materialista ou o naturalista, por exemplo, não vê evidência alguma do
poder ou da presença de Deus no mundo. Sempre procurará explicações psico-
lógicas ou científicas para os fenômenos observados. O animista, do outro lado,
vê deuses e espíritos em todos os lugares. Segundo o conceito dele, até mesmo

TEOLOGIA BÍBLICA DO PLANTIO DE IGREJAS


63

os fenômenos naturais devem ter explicações espirituais. Em determinados gru-


pos culturais, os homens e mulheres tendem a ter em comum certas crenças
fundamentais ao definirem a realidade que os cerca. Isso nos leva a entender
que, mesmo na comunicação do evangelho em nosso bairro ou cidade, temos
que considerar a cosmovisão e necessidade de contextualização da mensagem.
Necessitamos compreender que quando o evangelho é comunicado, aqueles
que o ouvem vão decodificá-lo dentro do contexto de uma realidade apresentada
por sua própria cultura; o missionário deve apresentar sua mensagem conside-
rando essa realidade.
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Cosmovisão: é a forma como um grupo vê e interpreta o universo que o


cerca. Geralmente grupos diferentes expressam diferentes cosmovisões
quanto ao tempo, localização, relacionamento pessoal, princípios e valores
da vida. Entender a cosmovisão do grupo alvo com o qual haverá um envol-
vimento missionário é um dos mais importantes pré-requisitos que antece-
dem a proclamação do evangelho.
Fonte: Lidório (1996, p. 123).

Encontramos abismos gigantescos que separam as pessoas das várias tradições


religiosas. No momento da comunicação da mensagem, a fonte missionária
deve ter clara percepção dos aspectos da cultura daquele local para poder defi-
nir o estilo de comunicação, sem perda do conteúdo teológico a ser comunicado.
Lidório (2011), considera necessário um trabalho de tradução na língua e
na cultura para que o evangelho seja pregado de uma forma inteligível e com-
preensível, conforme descrito abaixo:
[...] as línguas dispõem de códigos diferentes para viabilizar a comunica-
ção e o mesmo ocorre com a cultura. Quando se expõe a um esquimó que
o sangue de Jesus nos torna brancos como a neve, ele rapidamente nos
perguntará qual categoria de branco, já que, em sua visão culturalizada
de quem convive com a neve e o gelo por milênios, há 13 diferentes tipos
de “branco”. Ignorar tal extrato cultural culminará em uma pregação rasa,
confusa ou distorcida da Palavra de Deus (LIDÓRIO, 2011, p. 20).

Cosmovisão e Contextualização
64 UNIDADE II

Hesselgrave (1995), destaca que a mensagem cristã é ampla e universal, destinada


a todos os homens, independentemente de raça, língua, cultura ou circunstâncias.
Naturalmente, há um só Deus e Pai de todos, mas os escritores dos Evangelhos
e os pregadores do Novo Testamento demonstraram uma notável variedade nas
maneiras de comunicar a mensagem, não apenas quanto ao estilo, mas também
quanto ao conteúdo.
A base da comunicação do evangelho consiste na necessidade espiritual do
homem em seu estado natural de pecado e alienação de Deus. Contudo, em cada
caso, esta necessidade universal é apresentada de diferentes formas. Para que o

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sentido teológico não se perca e a comunicação seja eficaz, se faz necessário o
processo de contextualização.
Ainda, de acordo com Hesselgrave (1995), destaca algumas perguntas que
devem ser consideradas pelo comunicador do evangelho, as quais ajudaram na
contextualização da mensagem, de maneira que as doutrinas bíblicas sejam comu-
nicadas numa linguagem compreensível ao auditório, sem perder sua fidelidade
às Escrituras. Apresentamos essas perguntas de forma adaptada:
1. Em que aspectos os ouvintes terão maior probabilidade de compreender
erroneamente a mensagem?
2. Quais crenças religiosas dos ouvintes são semelhantes à doutrina cristã
e podem formar pontes conceituais para a comunicação da mensagem?
(Cuidado neste ponto. O que consideramos semelhanças podem ser ape-
nas aparentes semelhanças, ocasionando mal-entendidos significativos,
a não ser que sejam tratadas com cuidado).
3. Quais preocupações do auditório-alvo são atingidas pela autoridade e
clareza da mensagem de Cristo?
4. Quais adaptações da mensagem já foram realizadas com êxito para este
tipo de auditório ou auditórios semelhantes?

Uma vez que tenhamos identificado e caracterizado os ouvintes é natural per-


guntar como comunicaremos a eles a mensagem. Boa parte da comunicação
cristã é espontânea, porém existem muitos momentos que devem ser bem pla-
nejadas (HESSELGRAVE, 1995).
É preciso ter cautela quando tratamos o processo de contextualização, pois,

TEOLOGIA BÍBLICA DO PLANTIO DE IGREJAS


65

para muitos, a contextualização está ligada à adaptação da mensagem para que


ocorra a assimilação da mesma. Nesse contexto, manifesta-se o risco da perda do
correto conteúdo teológico comunicado, em função da adaptação do conteúdo
da mensagem para maior entendimento, gerando comunidades fracas teologi-
camente e possuidoras de sincretismo religioso.
Nesse caso, o indígena que se converte ao evangelho pode frequentar reuni-
ões e compreender alguns princípios bíblicos, mas quando surge um problema
de saúde ele buscará a magia ou a pajelança como alternativa para solução do
problema. Ou seja, o indígena passa a viver uma mistura de religiões.
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Outra questão que se apresenta é o nominalismo evangélico, em que as


pessoas passam a confessar que são evangélicos, sem, entretanto, passar por
uma verdadeira conversão. Alguns nem frequentam uma igreja, ou praticam os
princípios propostos pelas Escrituras, apenas se simpatizam com o evangelho.
Lidório nos indica o perigo da má contextualização, reconhecendo que:
[...] o próprio termo “contextualização” foi utilizado no passado por
Kraft, a partir do relativismo de Kierkegaard, com fundamentação em
uma teologia liberal que não cria na Palavra de Deus de forma dogmá-
tica, mas adaptada. Esses creem que a Palavra de Deus se aplica apenas
a contextos similares de sua revelação, não sendo assim supracultural e
nem a-temporal (LIDÓRIO, 2011, p. 21).

Nesse sentido, a teologia liberal de Kierkegaard ameaça a fidelidade às Escrituras,


uma vez que considera que a cultura não deva ser alterada e que a adaptação deve
ocorrer na mensagem bíblica. Entretanto, consideramos que o evangelho sempre
trará uma mensagem confrontadora, que nos desafia à mudança e transformação.
Hesselgrave (1995), indica o exemplo de Jesus como modelo de contextu-
alização a ser seguido. Embora nosso Senhor ministrasse dentro dos limites da
cosmovisão do judaísmo, Ele, todavia, realizou abordagem em diversos contextos.
Lidório (2011), apresenta Jesus como maior modelo de contextualização da
mensagem. Aos judeus, Jesus falava mencionando cobradores de impostos, aos
fariseus, Jesus falava sobre hipocrisia na adoração e práticas religiosas. A multi-
dão narrava sobre plantações, pão e trigo.
Uma mensagem compreensível e relevante para o universo de quem a
ouve. Impactante em seu significado e que apela por transformação hu-
mana e social. Ao mesmo tempo, fiel às Escrituras - revelação de Deus
- e teologicamente fundamentada (LIDÓRIO, 2011, p. 19).

Cosmovisão e Contextualização
66 UNIDADE II

Lidório (2011), apresenta alguns pressupostos fundamentais para que a teolo-


gia da contextualização seja preservada:
• A Palavra é supracultural e atemporal, portanto viável e comu-
nicável para todos os homens, em todas as culturas, em todas as
gerações. Cremos assim que a Palavra define o homem, e não o
contrário.

• Contextualizar o evangelho não é reescrevê-lo ou moldá-lo à luz


da Antropologia, mas traduzi-lo linguística e culturalmente para
um cenário distinto do usual ao transmissor, a fim de que todo
homem compreenda o Cristo histórico e bíblico.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
• Apresentar Cristo é a finalidade maior da contextualização. A Igre-
ja deve evitar que Jesus Cristo seja apresentado apenas como uma
resposta para as perguntas que os missionários fazem - uma solu-
ção apenas para um segmento, ou uma mensagem alienígena para
o povo alvo (LIDÓRIO, 2011, p. 20-21).

O autor evidencia que a comunicação da mensagem bíblica contextualizada


deve-se manter fiel às Escrituras Sagradas. Uma adaptação do conteúdo da men-
sagem à cultura pode tornar sem efeito o convite à salvação. O arrependimento
é produzido quando o homem é confrontado com sua condição de miséria e
pecado diante de Deus.
Lidório (2011) apresenta de forma prática o processo de contextualização
da mensagem ao pontuar momentos do ministério e da vida do apóstolo Paulo:
• A mensagem, em um processo de comunicação contextual, jamais
deve ser diluída em seu conteúdo. A fidelidade às Escrituras deve
ser nossa prioridade à semelhança de Paulo, que falou da ressur-
reição de Cristo no areópago mesmo sabendo que seria um tema
controverso para a crença filosófica presente.

• O público-alvo, seus pressupostos culturais, língua e entendimen-


to sobre Deus são fatores relevantes para a apresentação do evan-
gelho. Paulo pregou Cristo da mesma forma para seus ouvintes.
Sua sensibilidade ao contexto conduziu sua abordagem.

• O uso de simbologias culturais explicativas das verdades bíblicas


podem ser utilizadas, desde que apresentem claramente a relevân-
cia do evangelho. Paulo fez isso utilizando o “deus desconhecido”,
partindo de um elemento sócio-cultural para expor, com clareza, a
verdade do evangelho. Em outros momentos, ele o fez a partir da

TEOLOGIA BÍBLICA DO PLANTIO DE IGREJAS


67

criação, do contraste entre Deus e os deuses adorados e do próprio


sentimento humano de desencontro com a vida e perdição.

• O evangelho deve ser explicado a partir de si mesmo e não da cul-


tura. O conteúdo do evangelho não é negociável. Quando Paulo
fala aos judeus sobre o Messias e lhes apresenta Jesus, ele estava ali
em uma linha “segura” de comunicação contextualizada. Porém,
seu desejo por criar uma atmosfera propícia para a comunicação
não fez com que minimizasse as verdades mais confrontadoras,
que o levariam a ser expulso, ignorado e questionado.

• O alvo final da apresentação da mensagem é levar o homem ao


conhecimento de Cristo, e não simplesmente comunicá-la. A co-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

municação de Paulo pavimentava o auditório para a apresentação


da verdade, tanto para os filhos da promessa quanto para os filhos
da criação.

• A contextualização da mensagem, linguística e culturalmente, é


instrumento para uma boa comunicação, que transmita o evange-
lho de forma clara e compreensível. Paulo a utilizava abundante-
mente ao falar distintamente a judeus e gentios, escravos e livres,
senhores e servos. Também Jesus, ao propor transformar pesca-
dores em pescadores de homens, ao utilizar em seus sermões a
candeia que ilumina, a semente lançada em diferentes solos, o joio
e o trigo no mesmo campo, a dracma que se perdeu, as redes abar-
rotadas de peixes, o fez para que o essencial da Palavra chegasse de
maneira inteligível para a pessoa, sociedade e cultura que o ouvia.

• O resultado esperado da apresentação contextualizada do evange-


lho é o arrependimento dos pecados e sincera conversão. Qualquer
apresentação do evangelho que leve o homem a sertir-se confor-
tável em seu estado de pecado é certamente inconclusiva e parcial.
Paulo deixa isso bem claro quando lhes expõe um evangelho liber-
tador e transformador (LIDÓRIO, 2011 p. 31-32).

Quando uma pessoa ou um povo passa a ter uma experiência com Jesus e o
conhece como salvador pessoal, encontrará uma forma de expressá-lo e adorá-lo
em sua cultura e aplicará a palavra de Deus em sua cosmovisão. Assim nascem
as igrejas multiculturais. Por isso, o que mais importa na vida de um(a) plan-
tador(a) de igrejas é que ele(a) proclame a palavra de salvação, considerando a
teologia da contextualização.

Cosmovisão e Contextualização
68 UNIDADE II

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Estamos encerrando esta unidade de estudo, considerando que muitas das infor-
mações aqui tratadas podem ser incorporadas à vida cristã diária, quer como
teólogo, ministro do evangelho, discípulo do Senhor Jesus, quer como missio-
nário ou plantador de uma nova igreja.
Você pode entender o quanto a base teológica correta é importante para a
plantação de igrejas. De que adianta levantarmos um grande edifício que possa
desabar, ou edificarmos em um fundamento não aprovado por Deus?

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Por isso, todo nosso trabalho deve ser traçado pela missão de Deus. Um
Deus missionário nos concede todo recurso e direção teológica para estabelecer-
mos seu reino e para fazermos Sua vontade. As ações missionárias consistentes
não podem caminhar divorciadas da Teologia, bem como a Teologia Bíblica não
pode caminhar sem forte expressão missionária.
Cabe a nós entendermos que a mensagem cristã é abrangente e universal.
É destinada a todos os homens de todas as épocas e de todas as culturas sobre
a face da terra. Porém, os contextos culturais em que Deus a revelou e em que
a mensagem é levada são bem distintos. Para que o sentido da palavra não se
perca no processo de comunicação, a contextualização se faz primordial. Temos
que perceber e considerar as diferenças culturais e de cosmovisão para comuni-
car a mensagem do evangelho adequadamente.
Alguns aspectos da antropologia missionária foram abordados no decor-
rer dos nossos estudos. Sempre é fascinante considerarmos e aprendermos
mais sobre as diferentes culturas, o que nos faz refletir sobre paradigmas, nos-
sos modelos e definições.
Na próxima unidade avançaremos nesse desafio. Vamos considerar, tam-
bém, o tema Modelos de Plantação de Igrejas, que é o nome da nossa disciplina.
Como podemos usar modelos preestabelecidos diante de realidades culturais
tão diferentes? Juntos, vamos encontrar essas respostas.

TEOLOGIA BÍBLICA DO PLANTIO DE IGREJAS


69

1. Missiologia e Teologia não devem ser tratadas como áreas separadas de estudo,
mas como disciplinas complementares. A Teologia não apenas coopera com a
Igreja ao fazê-la entender o sentido da Missão e a base para o plantio de igrejas,
como também provê o entendimento bíblico motivacional para o evangelismo.
Qual a importância da conciliação entre teologia e missiologia frente ao de-
safio de plantar igrejas?
2. Como nos edifica e alegra pensar que Deus é um Deus missionário e que missão
é uma obra essencialmente de Deus. O sentido ampliado da Missio Dei foi tra-
zido por Bosch e nos detalha o caráter missionário de Deus. Explique qual é o
sentido ampliado da Missio Dei, o qual engloba também o papel da Igreja.
3. Ott e Wilson (2013), dizem que: “plantação de igrejas é o ministério que, através
do evangelismo e discipulado, estabelece comunidades reprodutivas do reino
de crentes em Jesus Cristo que estão comprometidos em cumprir os propósitos
bíblicos sob a orientação de líderes espirituais locais”. Acompanhando essa de-
finição de igreja, cite dois alvos de curto prazo que sinalizam que a igreja
está plantada.
4. Cada ser humano possui uma visão e interpretação diferente do mundo, isso diz
respeito à sua cosmovisão. Segundo o que foi abordado ao longo da unidade, o
que é cosmovisão e qual sua implicação no plantio de igrejas?
5. Lidório (2011) apresenta Jesus como maior modelo de contextualização da men-
sagem. Aos judeus, Jesus falava mencionando cobradores de impostos, aos fari-
seus, Jesus falava sobre hipocrisia na adoração e práticas religiosas. À multidão,
narrava sobre plantações, pão e trigo. Cite um dos pressupostos fundamen-
tais, apresentado por Lidório (2011) para que a teologia da contextualiza-
ção seja preservada.
70

O movimento de Lausanne III, que gerou o documento conhecido como “Compromisso


da Cidade do Cabo”, trouxe considerações relevantes para o correto posicionamento te-
ológico da missão de Deus, traduzidas nos parágrafos a seguir:
“Nós estamos comprometidos com a missão mundial, porque ela é central para nosso
entendimento de Deus, da Bíblia, da Igreja, da história humana e do futuro final. Toda
a Bíblia revela a missão de Deus de trazer unidas sob Cristo todas as coisas, no céu e na
terra, reconciliando-as através do sangue da sua cruz. No cumprimento da sua missão,
Deus transformará a criação ferida pelo pecado e pelo mal em uma nova criação na
qual não exista mais pecado nem maldição. Deus cumprirá sua promessa a Abraão de
abençoar todas as nações na terra, através do evangelho de Jesus, o Messias, a semente
de Abraão. Deus transformará o mundo partido formado pelas nações espalhadas sob o
juízo de Deus em uma nova humanidade, de toda tribo, nação, povo e língua, redimida
pelo sangue de Cristo, reunidos ali para adorar nosso Deus e Salvador. Deus destruirá
o reino de morte, corrupção e violência quando Cristo voltar para estabelecer seu rei-
no eterno de vida, justiça e paz. Então, Deus, Emanuel, habitará conosco, e o reino do
mundo se tornará o reino do nosso Senhor e do seu Cristo e ele reinará para sempre e
sempre.”
“Nós desejamos que todos os plantadores de igreja e educadores teológicos coloquem
a Bíblia no centro de suas parcerias, não apenas nas declarações doutrinárias, mas tam-
bém na prática. Os evangelistas devem usar a Bíblia como fonte suprema do conteúdo e
da autoridade de suas mensagens. Os educadores teológicos devem recentrar o estudo
da Bíblia como disciplina fundamental na teologia cristã, integrando e permeando to-
dos os outros campos de estudo e da aplicação. Acima de tudo, a educação teológica
deve servir para preparar professores pastores para sua principal responsabilidade de
pregar e ensinar a Bíblia.”
Para ler o texto na íntegra acesse o link:
<http://www.lausanne.org/pt-br/recursos-multimidia-pt-br/compromisso-da-cidade-
-do-cabo-pt-br/compromisso>.
Fonte: adaptado de Movimento de Lausanne… (2010, on-line)4.
MATERIAL COMPLEMENTAR

Teologia Bíblica de Missões


George W. Peters
Editora: CPAD
Sinopse: esta obra oferece ao leitor uma visão genuinamente bíblica
e de grande profundidade espiritual. O autor buscou oferecer uma
ferramenta focada em missões para seminaristas e vocacionados em missões, refutando algumas
alternativas liberais. Em uma ênfase teocêntrica, a obra ressalta a importância da proclamação do
evangelho, o papel da igreja local como responsável pelas missões e o senhorio de Cristo.

O Refúgio Secreto
durante a Segunda Guerra Mundial, famílias judias na Holanda
vivem dias de incerteza. Elas podem ser capturadas pelos nazistas
a qualquer momento, e uma mulher cristã encontra uma saída. Ela
passa a esconder os judeus na parte debaixo de sua casa. O filme nos
testemunha como é possível permanecer fiel ao Senhor, mesmo em
meio à depredação de uma cultura.

APRESENTAÇÃO: a EPI - Escola de Plantadores de Igrejas é uma escola de capacitação para


líderes, para plantação de novas igrejas, que propõe-se a ser um centro de reflexão e aprendizado
para uma nova geração de pensadores cristãos. Para saber mais acesse: <http://www.
plantadoresdeigrejas.org/home.php>.

Material Complementar
REFERÊNCIAS

BÍBLIA. Português. Bíblia Missionária de Estudo. Tradução: Almeida Revista e Atu-


alizada. Barueri-SP: Sociedade Bíblica do Brasil – SBB, 2014.
BOSCH, D. J. Missão Transformadora: mudança de paradigma na teologia da mis-
são. São Leopoldo-RS: Sinodal, 2002.
HESSELGRAVE, D. Plantar Igrejas: um guia para missões nacionais e transculturais.
São Paulo: Vida Nova, 1995.
LIDÓRIO, R. Entre todos os povos. Vila Velha-ES: Fronteiras, 1996.
______. Teologia Bíblica do Plantio de Igrejas. Manaus: Instituto Antropos, 2011.
OTT, C.; WILSON, G. Plantação Global de Igrejas: Princípios bíblicos e as melhores
estratégias de multiplicação. Curitiba: Editora Esperança, 2013.
PETERS, G. W. Teologia bíblica de missões. Rio de Janeiro: CPAD, 2000.
STETZER, Ed. Plantando igrejas missionais: como plantar igrejas bíblicas, saudá-
veis e relevantes à cultura. São Paulo: Vida Nova, 2015.
VAN ENGEN, C. Povo Missionário, Povo de Deus: por uma redefinição do papel da
igreja local. São Paulo: Vida Nova, 1996.
VICEDOM, GEORG F. The Missionof God. ST. Louis: Concordia, 1965.
______. A Missão do Povo de Deus. São Paulo: Vida Nova, 2012.
WRIGHT, C. J. H. A Missão de Deus: desvendando a grande narrativa da Bíblia. São
Paulo: Vida Nova, 2014.

REFERÊNCIAS ON-LINE

Em: <http://www.significados.com.br/pragmatismo/>. Acesso em: 22 mai. 2017.


1

2
Em: <http://www.lausanne.org/pt-br/recursos-multimidia-pt-br/pacto-de-lausan-
ne-pt-br/pacto-de-lausanne>. Acesso em: 22 mai. 2017.
3
Em: <https://estudos.gospelmais.com.br/missio-dei.html>. Acesso em: 22 mai.
2017.
4
Em: <http://www.lausanne.org/pt-br/recursos-multimidia-pt-br/compromisso-da-
-cidade-do-cabo-pt-br/compromisso>. Acesso em: 22 mai. 2017.
73
REFERÊNCIAS
GABARITO

1. A compreensão entre teologia e missiologia pode gerar igrejas evangelizadoras


que vivem a palavra de Deus, anunciam o evangelho e comunicam o caráter de
Cristo em sua vida.
2. A doutrina clássica da Missio Dei como Deus, o Pai, enviando o Filho, e Deus, o
Pai e o Filho enviando o Espírito, foi expandida no sentido de incluir ainda outro
movimento - Pai, Filho e Espírito Santo enviando a Igreja para dentro do mundo.
3.
• Pessoas da localidade ou do povo-foco foram levadas à fé em Cristo, disci-
puladas e congregadas em uma comunhão de crentes mutuamente com-
prometidos que se reúnem regularmente.
• Uma equipe qualificada de líderes espirituais locais (de preferência que
pertençam ao povo-foco) é chamada e reconhecida pela congregação. Eles
orientam, ensinam e aplicam apropriadamente as Escrituras em suas vidas
e na sociedade.
• As estruturas culturalmente apropriadas para comunhão, louvor, evangelis-
mo, serviço e governo estão funcionando.
• Crentes locais internalizaram valores e objetivos bíblicos. Os propósitos do
Reino para a igreja estão sendo progressivamente vividos.
4. Cosmovisão é a forma como um grupo vê e interpreta o universo que o cerca.
Geralmente, grupos diferentes expressarão diferentes cosmovisões quanto ao
tempo, localização, relacionamento pessoal, princípios e valores da vida. Enten-
der a cosmovisão do grupo alvo com o qual haverá um envolvimento missio-
nário é um dos mais importantes pré-requisitos que antecedem a proclamação
do evangelho.
5.
• A Palavra é supracultural e atemporal, portanto viável e comunicável para
todos os homens, em todas as culturas, em todas as gerações. Cremos assim
que a Palavra define o homem, e não o contrário.
• Contextualizar o evangelho não é reescrevê-lo ou moldá-lo à luz da Antro-
pologia, mas traduzi-lo linguística e culturalmente para um cenário distinto
do usual ao transmissor, a fim de que todo homem compreenda o Cristo
histórico e bíblico.
• Apresentar Cristo é a finalidade maior da contextualização. A Igreja deve
evitar que Jesus Cristo seja apresentado apenas como uma resposta para
as perguntas que os missionários fazem - uma solução apenas para um seg-
mento, ou uma mensagem alienígena para o povo alvo.
Professor Dr. Galaor Linhares Tupan Junior

CULTURAS E MODELOS DE

III
UNIDADE
PLANTAÇÃO DE IGREJAS

Objetivos de Aprendizagem
■■ Compreender a importância do chamado de Deus.
■■ Entender o que é cultura e os impactos das diferenças transculturais.
■■ Conciliar cultura com formatos de igrejas e modelos de plantação.
■■ Identificar alguns modelos de plantação de igreja.

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ O chamado de Deus é para todos
■■ A cultura e as diferenças transculturais
■■ Compreendendo culturas, formatos e modelos
■■ Modelos de plantação de igrejas
77

INTRODUÇÃO

Seja bem-vindo(a) a mais uma unidade da nossa disciplina. Como é fascinante


compreender a grandeza da missão de Deus e sermos colaboradores Dele!
Nesse momento, vamos estudar cultura e as diferenças transculturais. O cha-
mado de Deus é universal e, para cumpri-lo, necessitamos transpor limites de
hábitos e costumes que se interpõem aos povos. Sermos sensíveis às diferenças
interculturais não é tarefa fácil, pois nossa tendência é permanecer no limite da
nossa própria cultura.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

No entanto, cremos que as bênçãos que Deus concedeu a Abraão, devido


à sua obediência pela fé, alcançarão todos os grupos de pessoas sobre a face da
terra. Abraão saiu de Ur dos Caldeus em direção à terra da promessa, Canaã.
Sua saída torna real a quebra de tradições e costumes necessária para a constru-
ção de um paradigma celestial.
O plantador de igrejas deve ter seu coração cheio do amor de Deus pelas
almas e povos espalhados pela terra, para que possa superar as diferenças cultu-
rais. Enfatizamos que a proposta do evangelho não é agredir uma cultura, mas
entendê-la de forma a encontrar a porta para a entrada das boas-novas.
Vamos considerar formatos de igrejas e modelos de plantação de igrejas.
Com essa abordagem, não podemos e nem queremos apresentar um molde, ao
qual as diferentes culturas terão que se adaptar. Não trataremos a arquitetura
final que cada igreja terá, pois isso é obra do Espírito Santo. Buscaremos encon-
trar caminhos bíblicos e históricos pelos quais as igrejas foram estabelecidas no
decorrer dos séculos.
Quando o reino de Deus chega a uma localidade produz uma modificação
em muitos aspectos, entretanto, o processo de plantar uma igreja não constitui
produção em série de um produto pré-definido. Desde que sejam estabelecidos
os parâmetros teológicos corretos, a riqueza e a beleza de Deus manifesta uni-
dade na diversidade da Igreja. Temos muito trabalho pela frente.

Introdução
78 UNIDADE III

O CHAMADO DE DEUS É PARA TODOS

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
“Ora, disse o Senhor a Abrão: Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de
teu pai e vai para a terra que te mostrarei; de ti farei uma grande nação, e
te abençoarei, e te engrandecerei o nome. Sê tu uma bênção! Abençoarei
os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti serão
benditas todas as famílias da terra.” (Gênesis 12:1-3)

“Para que a benção de Abraão chegasse aos gentios, em Jesus Cristo, a fim
de que recebêssemos, pela fé o Espírito prometido. Ora, as promessas foram
feitas a Abraão e ao seu descendente. Não diz: E aos descendentes, como
se falando de muitos, porém como de um só: E ao teu descendente, que é
Cristo.” (Gálatas 3:14, 16)

“Livro da genealogia de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão.” (Mateus 1:1)

“Na sua descendência serão benditas todas as nações da terra, porquanto


obedeceste à minha voz.” (Gênesis 22:18)

“Pela fé, Abraão, quando chamado, obedeceu, a fim de ir para um lugar que
devia receber por herança; e partiu sem saber aonde ia.” (Hebreus 11:8)

CULTURAS E MODELOS DE PLANTAÇÃO DE IGREJAS


79

Vemos, no chamado de Deus a Abraão, uma promessa ampliada a toda raça adâ-
mica por meio de Cristo, o descendente de Abraão. A bênção de Abraão é o meio
para que todas as famílias da terra sejam alcançadas. Dois povos estão incluídos
nessa promessa, os filhos espirituais - que pela fé nasceram de novo em Cristo e
tornaram-se descendentes de Abraão pela fé - e o próprio povo judeu - a des-
cendência terrena de Abraão.
Lidório (1996), faz uma pergunta primordial para entendermos o chamado
de Deus no Antigo Testamento: A quem Deus se revelou? Se a resposta for: ape-
nas a Israel, estaremos perante um Deus nacional. Se cremos que Deus intentou
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

alcançar todas as famílias da terra, então estaremos perante um Deus que pre-
tende ser conhecido e adorado por todas as nações.
De acordo com Gálatas 3,14, a bênção prometida consiste na dispensação
do próprio Deus concedido ao homem, por meio do Seu Espírito, nesse tempo
e por toda a eternidade. Deus prometeu dar a Si mesmo aos descendentes de
Abraão como uma bênção. De acordo com Gênesis, essa bênção viria a todas as
nações por meio do descendente de Abraão, que é Cristo.
Em Hebreus 11,8 vemos que Abraão saiu pela fé, não sabendo para onde
estava indo, por isso tornou-se o pai de todos os que creem. Lidório (1996) relata
uma pequena parte da grande visão transcultural de Deus descrita nas páginas
do Antigo Testamento, na qual Abraão e seus filhos espirituais levaram o evan-
gelho da salvação a todos os povos espalhados pela terra:
■■ Abraão deu testemunho do Senhor aos Cananeus, Filisteus e Heteus
(Gênesis 21:22-34; 23:1-12; 13:14-18);
■■ José foi testemunha do Senhor entre os Egípcios (Gênesis 41:1-16);
■■ Moisés testemunhou do Senhor aos Egípcios além de trazer consigo Jetro,
seu sogro Midianita (Êxodo 5:1-3; 18:1-12);
■■ Noemi testemunhou do Senhor a Rute e Orfa, que eram Moabitas (Rute
1:3-9, 16 e 17);
■■ Elias foi usado por Deus para ser bênção a uma viúva em Sidom (I Reis
17:8-16);
■■ Eliseu testemunhou a Naamã que era Sírio (I Reis 5:1-15);

O Chamado de Deus é Para Todos


80 UNIDADE III

■■ Jonas testemunhou do Senhor a Nínive (Jonas 3:1-10);


■■ Daniel foi testemunha na Babilônia (Daniel 2:26,27);
■■ Ester testemunhou sua fé e dependência do Senhor ao povo Persa (Ester
10:1-3);
■■ Os profetas profetizaram em nome do Senhor a muitas outras nações
(LIDÓRIO, 1996, p. 15).

O livro de Salmos também nos demonstra que o povo de Israel era consciente
da visão transcultural do seu Deus:

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Cantai ao Senhor um cântico novo, cantai ao Senhor, todas as terras.
Anunciai entre as nações a sua glória, entre todos os povos, as suas
maravilhas (BÍBLIA, Salmos, 96,1.3).

O Senhor fez notória a sua salvação; manifestou a sua justiça perante os


olhos das nações (BÍBLIA, Salmos, 98,2).

Reina o Senhor, tremam os povos. Ele está entronizado acima dos que-
rubins; abale-se a terra. Celebrem eles o teu nome grande e tremendo,
porque é santo (BÍBLIA, Salmos, 99,1.3).

Render-te-ei graças entre os povos, ó Senhor! Cantar-te-ei louvores en-


tre as nações (BÍBLIA, Salmos, 108,3).

Louvai ao Senhor, vós todos os gentios, louvai-o, todos os povos (BÍ-


BLIA, Salmos, 117,1).

Lidório (1996) cita a oração missionária de Salomão na inauguração do templo,


pedindo que todos os povos da terra conheçam o nome do Senhor:
[...] também ao estrangeiro, que não for do teu povo Israel, porém vier
de terras remotas, por amor do teu nome. [...] ouve tu nos céus, lugar
da tua habitação […] a fim de que todos os povos da terra conheçam o
teu nome (BÍBLIA, I Reis, 8,41.43).

Com os profetas do Velho Testamento essa condição não foi diferente. Eles pro-
fetizaram às terras do mar e aos povos de longe, como Isaías:
[...] ouvi-me, terra do mar, e vós povos de longe. Mas agora diz o Senhor,
que me formou desde o ventre […] sim diz ele: pouco é o seres meu ser-
vo, para restaurares as tribos de Jacó, e tornares a trazer os remanescen-
tes de Israel; também te dei como luz para os gentios, para seres a minha
salvação até à extremidade da terra (BÍBLIA, Isaías, 49,1-6).

CULTURAS E MODELOS DE PLANTAÇÃO DE IGREJAS


81

No evangelho de Mateus vemos a narração do sermão profético de Cristo aos


discípulos, quando estes lhe perguntaram que sinal haveria antes da vinda do
Senhor: “e será pregado este evangelho do reino por todo o mundo, para teste-
munho a todas as nações. Então, virá o fim” (BÍBLIA, Mateus, 24,14).
Hesselgrave (1995) aponta que durante o período que compreende o livro
de Atos, o Espírito Santo tinha um plano para cumprir a “Grande Comissão”,
mesmo quando os apóstolos não tinham nenhum plano e, cada vez mais, aquele
plano veio a ser uma questão de discussão e deliberação por parte do Seu povo.
O livro de Atos apresenta uma Igreja, na qual os judeus e os gentios comparti-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

lham em base igual o plano eterno de Deus.


Da mesma forma, o livro de Mateus também narra como a Igreja partilha
os ideais eternos sob a autoridade de Jesus. Vejamos:
[...] Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo: Toda a autoridade me
foi dada no céu e na terra. Ide, portanto, fazei discípulos de todas as
nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo;
ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis
que estou convosco todos os dias até à consumação do século (BÍBLIA,
Mateus, 28,18-20).

Observamos, nas palavras de Jesus, o desejo do coração de Deus, revelando-se


como um Deus universal a todos os povos, cumprindo a promessa de redenção de
toda raça humana em Jesus Cristo, o qual formou a Igreja para que todos os povos
da terra fossem alcançados. Assim se cumprirá a visão de João na ilha de Patmos:
[...] depois destas coisas, vi, e eis grande multidão que ninguém podia
enumerar, de todas as nações, tribos, povos e línguas, em pé diante do
trono e diante do Cordeiro, vestidos de vestiduras brancas, com palmas
nas mãos; e clamavam em grande voz, dizendo: ao nosso Deus, que
se assenta no trono, e ao Cordeiro, pertence a salvação (BÍBLIA, Ap
7,9.10).

A tarefa central à qual Cristo chama o Seu povo é a proclamação do evangelho


de Deus a todo o mundo, fazendo discípulos e ensinando-os a guardar todas as
coisas que foram por Ele ensinadas. Para isso é preciso planejar a tarefa e verificar
os desafios que ela estabelece. É preciso ter um plano abrangente e dimensionar
os recursos necessários para sua execução. Dentre tantos desafios que se colo-
cam diante de nós, torna-se primordial um profundo conhecimento da cultura
no momento da plantação de uma igreja.

O Chamado de Deus é Para Todos


82 UNIDADE III

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
A CULTURA E AS DIFERENÇAS TRANSCULTURAIS

Entendendo o que é cultura


A palavra cultura possui um sentido muito amplo na língua portuguesa. Porém,
é preciso uma compreensão adequada de seu significado para que possamos
comunicar efetivamente o evangelho a um mundo heterogêneo.
Neste momento, consideramos o estudo da cultura em seu aspecto antropo-
lógico, ou seja, observando o ser humano na totalidade de suas manifestações
e dimensões.
Laraia (2001), refere-se ao conceito de cultura, considerando o dilema entre
a identidade biológica e a diversidade humana. Essa preocupação existe desde há
quatro séculos antes de Cristo, quando Confúcio dizia que a diferença entre os
homens não é a questão biológica, mas a diferença de costumes. Por isso, base-
ado em Laraia (2001), apresentamos um provável conceito de cultura.
Cultura: conjunto de conhecimentos, crenças, leis e hábitos que as pessoas
aprendem e que não é um elemento natural (LARAIA, 2001).

Uma das teorias importantes no processo de formulação do conceito de cultura


apresentado por Laraia (2001), é o determinismo biológico, que preconiza que
as pessoas nascem com características que são congênitas. Surgem as ideias de
que os nórdicos são mais inteligentes que os negros, de que os judeus são bons

CULTURAS E MODELOS DE PLANTAÇÃO DE IGREJAS


83

comerciantes e são avarentos, de que os portugueses são muito trabalhadores mas


são pouco inteligentes e de que os brasileiros herdaram a preguiça dos negros, o
desleixo dos índios e a luxúria dos portugueses, embora seja um povo criativo.
Esses pensamentos ainda são muito comuns em nossa sociedade.
Além desses elementos que o determinismo biológico traz, as relações de
gênero também foram bastante influenciadas por essa teoria, porque consoli-
daram papéis sociais masculinos e femininos, o que determina uma hostilidade
contra o grupo biologicamente mais fraco em termos de força física, as mulhe-
res, o que fez com que, durante um grande período histórico, as mulheres fossem
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

vistas como inferiores dentro da ótica de raciocínio do determinismo biológico.


Determinismo biológico: preconiza que as pessoas nascem com características
que são congênitas (LARAIA, 2001).

Outra importante abordagem histórica que Laraia (2001) ocupa-se é o deter-


minismo geográfico. Essas teorias foram pesquisadas por geógrafos no final do
século XIX e início do século XX e falam que o meio determina os comporta-
mentos dos seres humanos.
O determinismo geográfico também causa uma série de processos precon-
ceituosos, no qual pessoas que vivem nos trópicos são tidas como preguiçosas
e pouco produtivas. Pessoas que vivem em países de clima frio são tidas como
inteligentes, civilizadas e eficientes. Essa perspectiva gera servidão e uma série
de conflitos e foi utilizada durante um tempo histórico muito longo.
Ainda existem pessoas que usam essa ideia, de que o meio determina o ser
humano, para justificar as discriminações. Os antropólogos contestam essa teo-
ria dizendo que em regiões de climas e meio ambiente parecidos as pessoas têm
culturas e comportamentos diferentes.
Determinismo geográfico: prega que o meio determina os comportamentos
dos seres humanos (LARAIA, 2001).

Dentre as teorias modernas de cultura, Laraia destaca a de Ruth Benedict, que


diz: “a cultura é como uma lente através da qual o homem vê o mundo” (LARAIA,
2001, p. 67). Se olharmos o mundo através dessa lente, partimos dos pressupos-
tos da cultura que possuímos, que aprendemos socialmente.

A Cultura e as Diferenças Transculturais


84 UNIDADE III

Ao olharmos o mundo por nossa própria lente e considerarmos que a cul-


tura em que vivemos traz o padrão correto, surge uma dificuldade nas pessoas
de aceitar o diferente, o outro. Esses processos geram um componente definido
como etnocentrismo, que é a dificuldade de aceitar a diferença, e pode causar
muita hostilidade entre os povos, levando-os à guerra, rejeição, disputa pelo
poder e até tentativa de escravizar o mais fraco.
Percebemos que a cultura não é uma simples reunião de fundamentos, pois
cada um de nós observa o mundo e as expressões humanas de acordo com seus
paradigmas. Laraia (2001, p. 67) aponta que “a cultura condiciona a visão do

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mundo, interfere na existência física do ser humano, opera com uma lógica pró-
pria e se mantém dinâmica”. A cultura envolve tudo que se faz numa sociedade e
tem influência direta nas relações sociais, políticas e de poder. De uma maneira
simples, é todo e qualquer tipo de manifestação do ser humano. De época em
época a cultura sofre mudanças, que determinam novos hábitos e costumes.
Cada sociedade apresenta uma cultura específica com características pró-
prias que sofrem influência do ambiente no qual esta cultura se encontra inserida.
Roupas, comidas e até a forma de falar e se comunicar variam de cultura para
cultura, dependendo do ambiente. Percebe-se o grande desafio estabelecido para
plantação de igrejas.
Lloyd Kwast apresenta um modelo útil para compreensão da cultura como um
sistema concêntrico de atributos: a visão de mundo, as crenças, os valores, o com-
portamento e o habitus, que é acrescentado por Pierre Bourdieu. Kwast adverte:
[...] este modelo de cultura é muito simplista para poder explicar a
variedade de componentes e relações complexas existentes em cada
cultura, todavia, é a própria simplicidade do modelo que o recomen-
da como esboço básico para qualquer um que vá estudar a cultura
(KWAST, 1987, p. 441).

CULTURAS E MODELOS DE PLANTAÇÃO DE IGREJAS


85
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Figura 1 - O que é cultura?


Fonte: Kwast (1987, p. 440).

A análise do modelo inicia-se visualizando os sucessivos níveis de entendi-


mento, à medida que se aproxima da verdadeira essência da cultura. O primeiro
elemento que se percebe no sistema é o habitus, definido por Bourdieu como:
[...] um sistema de disposições duráveis e transponíveis que, integrando
todas as experiências passadas, funciona a cada momento como uma
matriz de percepções, de apreciações e de ações - e torna possível a re-
alização de tarefas infinitamente diferenciadas, graças às transferências
analógicas de esquemas (BOURDIEU, 1983, p. 65).

Kwast (1987) apresenta, em seguida, na construção de seu modelo, o “comporta-


mento”. Trata-se da forma como as coisas são realizadas. Isso fornece um elemento
importante na cultura, a padronização do que se faz, o que traz entre os parti-
cipantes de determinada cultura um sentimento de identidade e continuidade
quase impenetrável. Por isso, à medida que as sociedades se estabelecem, as pes-
soas passam a fazer escolhas comportamentais semelhantes.
Essas escolhas são refletidas na criação de valores culturais, que se trata do
próximo nível do modelo de Kwast. Os valores sempre dizem respeito ao que é
bom, benéfico ou o que é o melhor a ser aceito.

A Cultura e as Diferenças Transculturais


86 UNIDADE III

Valores são decisões “pré-estabelecidas” que uma cultura toma dian-


te de escolhas que frequentemente se tem de fazer. Os valores ajudam
aqueles que vivem dentro da cultura a saber o que deveria ser feito a
fim de se adequarem ou se conformarem ao padrão de vida (KWAST,
1987, p. 439).

No próximo nível do modelo nos deparamos com um momento de maior com-


preensão do que é verdadeiro para uma específica cultura, trata-se das crenças
culturais. Kwast (1987, p. 439) diz que “numa cultura os valores não são esco-
lhidos arbitrariamente, mas invariavelmente refletem um sistema subjacente de
crenças”.

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Na questão educacional, por exemplo, existe um critério do que é verdadeiro
acerca do homem, sua inteligência, sua capacidade de resolver problemas. Nessa
questão, a cultura é definida pela maneira como as coisas são percebidas, apren-
didas e compartilhadas.
Não descartamos a hipótese de que numa mesma sociedade pessoas dife-
rentes, embora possam possuir comportamentos e valores semelhantes, podem
professar crenças diferentes. Nesse aspecto Kwast explica:
[...] este problema é resultante da confusão dentro da cultura entre
crenças operacionais (crenças que afetam valores e comportamen-
to) e crenças teóricas (convicções expressas em palavras e que têm
um impacto praticamente nulo sobre os valores e o comportamento)
(KWAST, 1987, p. 440).

Finalmente, no âmago de qualquer cultura está a sua visão do mundo ou cosmo-


visão, a qual busca identificar o que é real. Neste nível da cultura estão as grandes
questões que raramente são apontadas, mas para as quais a cultura concede as
mais relevantes respostas. Kwast (1987), conclui que quase ninguém pensa seria-
mente a respeito das pressuposições mais profundas da vida:
[...] quem são? De onde vieram? Existe alguma outra coisa ou alguém
mais a ocupar a realidade de modo que devesse ser levado em conta?
Aquilo que eles vêem é realmente tudo o que existe, ou existe alguém
mais ou alguma outra coisa? O momento de agora é o único tempo que
é importante? Ou os acontecimentos no passado e no futuro têm algum
impacto significativo em sua experiência atual? Cada cultura presume
respostas específicas a estas indagações e as respostas controlam e in-
tegram cada função, cada aspecto e cada componente da cultura. Esta
compreensão da cosmovisão como sendo o cerne de cada cultura ex-

CULTURAS E MODELOS DE PLANTAÇÃO DE IGREJAS


87

plica a confusão que muitos experimentam em nível de suas crenças. A


cosmovisão de uma pessoa oferece um sistema de crenças que se reflete
em seus reais valores e comportamento (KWAST, 1987, p. 440-441).

Em uma cultura, às vezes, um modelo novo ou rival de crenças é introduzido


por meio da evangelização, mas se a cosmovisão não for confrontada a cultura
permanecerá sem mudanças significativas, de modo que os valores e o com-
portamento podem permanecer no antigo sistema de crenças. Em contextos
transculturais, essa questão não pode deixar de ser levada em conta para que
mudanças genuínas sejam produzidas.
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DIFERENÇAS TRANSCULTURAIS

Não há como desconsiderar a estranheza que um missionário ou um plantador


de igrejas suporta quando deixa sua terra natal e encontra-se numa diferente
cultura. A começar pela possibilidade de um idioma misterioso, bem como dife-
rença de vestuários, alimentos, crenças e valores enigmáticos.
Hiebert (1987) apresenta o exemplo quanto ao entendimento cultural dife-
rente sobre tempo:

Diferenças Transculturais
88 UNIDADE III

[...] quando, por exemplo, dois americanos concordam em se encontrar


às dez horas, eles estão “na hora” se aparecerem de cinco minutos an-
tes a cinco minutos depois das dez. Se alguém aparece quinze minutos
depois, está “atrasado” e gagueja uma desculpa esfarrapada. Ele deve
simplesmente reconhecer que está “atrasado”. Se ele chegar com meia
hora de atraso deve ter uma boa desculpa, e lá pelas onze nem precisa
mais aparecer. Sua ofensa é imperdoável. Em algumas partes da Arábia,
o povo tem um conceito ou mapa diferente do tempo. Se a hora da reu-
nião for às dez horas, só um servo aparece às dez – em obediência ao
seu senhor. A hora apropriada para os outros é de dez e quarenta e cin-
co até onze e quinze, tempo suficiente depois da hora marcada para que
ambos demonstrar a independência um do outro e a igualdade. Este

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
arranjo funciona bem, pois quando duas pessoas iguais concordam em
se encontrar às dez, cada uma aparece por volta das dez e quarenta e
cinco, esperando que a outra faça o mesmo. O problema surge quando
um americano se encontra com um árabe e marca reunião para às dez
horas. O americano aparece às dez, a “hora certa” segundo ele. O árabe
aparece às dez e quarenta e cinco, a “hora certa” segundo ele. O ameri-
cano acha que o árabe não tem nenhum senso de tempo (o que não é
verdade), e o árabe é tentado a pensar que os americanos agem como
servos (o que também é falso) (HIEBERT, 1987, p. 449).

Diante de todas as adaptações que são requeridas quando nos inserimos em um


novo contexto cultural, Hiebert (1987) considera que uma viagem para o exte-
rior traz, no primeiro momento, vibração e euforia. Quando surgem, porém,
os imprevistos e os conflitos com as diferenças culturais, ocorre um verdadeiro
choque, um sentimento de confusão e desorientação.
Esta não é uma reação contra a pobreza ou contra a falta de higiene,
pois os estrangeiros que chegam aos Estados Unidos experimentam o
mesmo choque. É o fato de que todos os padrões culturais que adqui-
rimos se tornam sem sentido. Sabemos menos que as crianças sobre
a vida aqui e temos que começar novamente a aprender as coisas ele-
mentares – como falar, cumprimentar os outros, comer, fazer compras,
viajar e milhares de outras coisas (HIEBERT, 1987, p. 450)

Como turistas, é mais fácil enfrentar as diferenças culturais, pois sabemos que,
a qualquer momento, estaremos de volta à nossa realidade. O choque cultural
ocorre quando percebemos que aquela será a nossa vida por um longo período,
principalmente quando se trata de uma mudança em função de um chamado
missionário. E, nesse caso, somente o chamado pode ser um contra-ponto para
enfrentar o sentimento de desorientação numa cultura diferente.

CULTURAS E MODELOS DE PLANTAÇÃO DE IGREJAS


89

Com o passar dos dias, a adequação começa a acontecer. Podemos contar


moedas, fazer novos amigos, utilizar o transporte local e, assim, começamos a
nos encaixar no novo contexto cultural. Isso, se fugirmos da tentação de criar
nosso ambiente cultural no novo país. Vencidas essas barreiras iniciais, quando
nos moldamos à nova cultura, nos tornamos pessoas biculturalmente adaptadas.
Observaremos em seguida como Hiebert (1987) considerou o impacto das
diferenças culturais na transmissão do evangelho e na implantação de novas
igrejas em outras sociedades:
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a) Mal-entendidos transculturais - No Zaire, alguns missionários encontra-


ram problemas de relacionamento pessoal que foi interpretado por um habitante
idoso do país:
[...] quando vocês chegaram, vocês trouxeram costumes estranhos - ele
disse - vocês trouxeram latas com alimentos. Do lado de fora havia a
figura de espigas de milho. Quando vocês abriram, havia muito milho
lá dentro e vocês o comeram. Do lado de fora de outra havia a figura
de carne e dentro dela havia carne e vocês comeram. E quando vocês
tiveram o nenê, trouxeram também latinhas. Do lado de fora dela havia
figuras de nenéns, e vocês abriram as latinhas e alimentaram o nenê
com o que havia dentro delas” (HIEBERT, 1987, p. 452).

Diferenças Transculturais
90 UNIDADE III

O mal-entendido estabelecido parece sem sentido, mas possui uma razão. Na


falta de elementos suficientes para interpretação de uma determinada cultura
fazemos nossa própria interpretação, chegando a conclusões, muitas vezes, equi-
vocadas. Podemos pensar que o atraso do árabe traduz falta de consideração ou
compromisso e interpretamos como mentiras a tentativa de justificar o ocorrido.
Entretanto, não consideramos mentira quando alguém nos pergunta como esta-
mos e respondemos que está tudo bem, mesmo quando não está.
Os mal-entendidos culturais se baseiam na ignorância sobre uma outra
cultura. Este é um problema de conhecimento. A solução é aprender a

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
conhecer como funciona a outra cultura. Nossa primeira tarefa ao en-
trarmos em uma nova cultura é estudar os seus costumes. Mesmo mais
tarde, sempre que parecer que alguma coisa está errada, devemos pre-
sumir que o comportamento das pessoas faz sentido por elas, e reanali-
sar nossa própria compreensão de sua cultura (HIEBERT, 1987, p. 453).

b) Etnocentrismo - “A maioria das nacionalidades se arrepia quando entra


num restaurante indiano e vê as pessoas comendo arroz e caril com as mãos.
Imaginem participar de uma ceia de Natal e se servir com as próprias mãos”
(HIEBERT, 1987, p. 453). A questão, aqui presente, é que sempre estamos cen-
trados no nosso próprio mundo. E não consideramos os diferentes pontos de

CULTURAS E MODELOS DE PLANTAÇÃO DE IGREJAS


91

vista. “Crescemos em uma cultura e aprendemos que seus modos são os modos
certos de fazer as coisas. Qualquer pessoa que faça de maneira diferente não é
muito civilizada” (HIEBERT, 1987, p. 453).
O etnocentrismo se constitui em nossa predisposição em avaliar os com-
portamentos das pessoas de outras culturas pelos padrões e valores de nossas
próprias culturas. Mas, da mesma forma somos avaliados. O indiano também
se choca ao perceber que usamos talheres que estiveram inúmeras vezes na boca
de outras pessoas. Hiebert (1987) aponta que quando nos relacionamos, além de
entender as pessoas, precisamos derrubar as barreiras que separam as pessoas
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da nossa cultura das pessoas de outra cultura. “A identificação somente acon-


tece quando - eles - se tornam parte do círculo de pessoas que nós consideramos
como - nosso tipo de gente” (HIEBERT, 1987, p. 453).

c) Tradução - Para o estabelecimento de uma igreja, torna-se necessário que


a cosmovisão bíblica seja compartilhada; entretanto, muitas passagens podem se
tornar sem sentido, caso seja mantido seu significado original. Por isso, o grande
desafio que temos é levar as boas novas do evangelho às nações. Hiebert trata e
nos apresenta esse tema.

Diferenças Transculturais
92 UNIDADE III

Como você traduziria ... cordeiro de Deus... (João 1:29) para o esquimó,
língua na qual não existe qualquer palavra ou qualquer experiência com
animais que nós chamamos de ovelhas? Você criaria uma nova palavra e
acrescentaria uma nota no rodapé para descrever a criatura que não tem
significado no seu pensamento? Ou será que você usaria uma palavra
como ...foca..., que tem mais ou menos o mesmo significado na cultura
deles que ...cordeiro... tem na Palestina? [...] Em outras palavras, se numa
língua encontramos a palavra cordeiro, só precisamos encontrar a palavra
na outra língua para um mesmo tipo de animal e as pessoas entenderão o
que estamos querendo dizer. Mas não é isto necessariamente que aconte-
ce. Na verdade, geralmente acontece o contrário. As mesmas formas não
carregam os mesmos significados nas diferentes línguas. Quanto mais li-

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teralmente traduzirmos a forma, maior o perigo de perdermos o signi-
ficado. Um exemplo desta variação e significados dados à mesma forma
encontra-se na história do Natal. Na Palestina os pastores eram homens
devotos e respeitados. Na Índia os pastores são os beberrões das vilas, e nas
representações teatrais sobre o Natal mais do que uma vez eles subiram ao
palco completamente bêbados. Neste caso a forma foi mantida, mas per-
deu-se algo do significado. A mesma perda pode ocorrer sempre quando
traduzimos formas culturais tais como cultos ao redor da fogueira, árvores
de Natal e cruzadas evangelísticas (HIEBERT, 1987, p. 453-454).

Entendemos que a salvação não está limitada a um profundo conhecimento da cosmo-


visão cristã, mas se faz quando o homem reconhece sua condição de pecado e aceita
a Cristo como seu salvador e busca seguir seus ensinamentos. Entretanto, para que o
futuro dessas igrejas esteja assegurado, é necessário que haja uma construção de uma
cosmovisão bíblica eliminando possíveis desencontros ocorridos por erros de tradução.

CULTURAS E MODELOS DE PLANTAÇÃO DE IGREJAS


93

d) O evangelho e a cultura - Nesse sentido, Hiebert (1987) nos alerta sobre


o cuidado que temos que ter para não vincular o evangelho ao contexto cultu-
ral do pregador. Alguém já disse, tragam as sementes do evangelho a nós e não
o evangelho como uma planta crescida em vaso.
A mensagem do evangelho não pode ser traduzida em bancos de igrejas,