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HIV uma Doença Virótica de Interesse da Odontologia

HIV a Viral Disease of Interest in Dentistry

Alexandre Magno Diamantinoa


Bruno Leonardo Muniz Ferreiraa
Carolina Fátima de Souza Antunesa
Joseneide da Silvaa
Isabella Garcia Saraivaa
Mara Livia Carvalho Duffles Teixeiraa
Muriany Camposa
Glayson Vitor a,b

Resumo

O Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) pertence à subfamília lentivirus do


retrovírus humano e possuem várias doenças de grande interesse para a área
odontológica uma vez que se manifesta na cavidade oral. O vírus do herpes
simples e a candidíase são as doenças mais comuns que estão associadas
com a AIDS e causam numerosas ulcerações irregulares na cavidade oral.
Estima-se que no final de 2013, mais de 78 milhoes de indivíduos por todo o
mundo estão infectados pelo HIV e mais de 39 milhoes desses portadores
morreram de AIDS . O objetivo deste artigo foi realizar uma revisão bibliográfica
sobre o Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) de maior interesse para a
odontologia salientando sua forma de manifestação na cavidade oral.

Palavras-chave: Imunodeficiencia humana, HIV, herpes simples, candidíase oral

Introdução

Os primeiros casos de AIDS relatados nos Estados Unidos foram em junho de


1981 com o aparecimento de casos raros de Sarcoma de Kaposi que são
múltiplas lesões na pele ou na mucosa. Em 1983, o vírus da imunodeficiência
humana (HIV) foi identificado. Pertence à subfamília lentivirus do retrovírus
humano. Por ser um parasita intracelular obrigatório a celula-alvo principal é o
linfocito T CD4+ auxiliar e os macrófagos que são células responsáveis pela
defesa do nosso organismo. O DNA do vírus é incorporado ao DNA do linfócito
permanecendo por toda a vida celular. Devido essa imunodeficiência, o
hospedeiro produz anticorpos mas não são capazes de combater o antígeno. O
vírus permanece em silêncio e promove a morte celular .Vários anos se
passaram. Estima-se que no final de 2013, mais de 78 milhoes de indivíduos
por todo o mundo estão infectados pelo HIV e mais de 39 milhoes desses
portadores morreram de AIDS. No Brasil foram registrados, de 1980 até junho
de 2015, 519.183 casos de aids em homens e 278.960 em mulheres.

Atualmente a AIDS é um dos maiores problemas de saúde pública no Brasil e


no mundo. Antigamente a população mais atingida eram os homossexuais e
bissexuais masculinos, de classe média ou alta e habitantes de grandes
metrópoles. Entretanto, com a disseminação da doença com o passar dos
anos, o perfil etiológico mudou. Atualmente os grupos atingidos são mulheres,
idosos, crianças e homens heterossexuais de todas as classes sociais.

Transmissão

O HIV pode ser transmitido pelo contato sexual, sanguíneo e perinatal. O risco
de transmissão sexual aumenta com a prática do sexo anal com úlceras
genitais. A presença de alguma doença sexualmente transmissível, relação
sexual no período menstrual e a ausência da circuncisão masculina aumentam
o risco de transmissão.

A transmissão de mãe para filho pode ocorrer no momento do parto, durante a


gestação e durante a amamentação. O uso dos antirretrovirais durante a
gestação e para o recém-nascido e a indicação de não amamentar com o leite
materno diminuiu drasticamente a transmissão entre mãe e filho.

Além disso, existem relatos documentados que o contato com os fluidos orais
durante o beijo prolongado e repetido pode ser transmitido o HIV. Esses raros e
breves relatos apontam que a presenca de aftas, erosoes, ulceracoes
e patologias inflamatorias hemorragicas (p. ex., gengivite,
periodontite) pode predispor um individuo a transmissao
oral.Então a melhor forma de não se contaminar é evitar o contato com todos
os fluidos corporais dos pacientes infectados.

Além dessas formas mais frequentes, a transmissão ocupacional, ocasionada


por materiais perfuro-cortantes contaminados com sangue de pacientes
portadores do HIV tem sido uma grande preocupação dos profissionais da área
da odontologia.

A infecção pelo HIV pode ser dividida em duas fases sintomática e


assintomática. Inicialmente a fase assintomática dura, em média, 8 a 10 anos
podendo ter uma resposta viral aguda que se desenvolve dentro de um a dois
meses desaparecendo dentro de poucas semanas. Os sintomas são febre, dor
de garganta, cefaleia, mialgia, linfadenopatia generelizada e diarreia. As
manifestações orais são ulcerações focais e eritema da mucosa. Por
desaparecer tão rápido, muitas vezes o HIV não é investigado. A fase
sintomática é evidente e altamente variável. Ocorre o período de febre crônica,
perda de peso e herpeszoster. Na cavidade oral a manifestação clinínica mais
comum é candidíase e herpes simples.

Diagnóstico

O diagnóstico sorológico é fundamental. Após a infecção com o vírus HIV o


indivíduo desenvolverá anticorpos entre seis à doze semanas após a
exposição. O uso de técnicas como PCR só é utilizado quando há forte
suspeita de infecção recente e anticorpos anti-HIV não foram detectados no
exame sorológico. Antes da realização dos exames é aconselhável informar o
paciente sobre a infecção, as formas de transmissão e sobre o resultado do
exame (positivo, negativo, falso-negativo, falso-positivo e indeterminado). No
resultado negativo, as informações sobre a prevenção devem ser ressaltadas.
Diante de um resultado positivo, o paciente é encaminhado para o tratamento.

Os principais testes são:

Ensaios imunoenzimáticos: É um teste que permite a detecção de anticorpos e


do antígeno p24 sendo particularmente utilizado para infecções recentes.

Western blot : É o principal método confirmatório do HIV, pois identificam


anticorpos específicos contra as diferentes proteínas virais.

Testes moleculares: É um teste que detecta o material genético viral (RNA ou


DNA)

Profilaxia

No atendimento inicial, após algum contato com material biológico e de risco


para transmissão de HIV é necessário que o profissional avalie como,quando e
com quem ocorreu a exposição. O primeiro atendimento após a exposição é
uma urgência, tendo como limite 72 horas em função da profilaxia para maior
eficácia da intervenção. É fundamental que a pessoa-fonte esteja presente e
disponível para realizar a testagem.

A profilaxia pos-exposição irá depender do teste sorológico para HIV da


pessoa que foi exposta ao material biológico. Se o teste rápido for reagente a
infecção pelo HIV ocorreu antes da exposição que motivou o atendimento. A
pessoa será encaminhada para o tratamento. Caso o teste rápido não for
reagente ao vírus a quimioprofilaxia com anti-retrovirais será iniciada pois a
pessoa exposta está susceptível ao HIV. A duração do tratamento profilático é
de 28 dias.

Revisão da literatura sobre infecção pelo HIV e manifestações orais mais


comuns

Os portadores do vírus HIV necessitam de cuidados multidisciplinares. O


cirurgião dentista tem um papel importante na identificação inicial da doença
pois, os primeiros sinais afetam a cavidade bucal. O herpes e a candidose oral
são doenças oportunistas e mais comuns em pacientes com AIDS. O
conhecimento detalhado do cirurgião dentista é essencial no diagnostico, pois o
tratamento com o uso de anti-retrovirais pode proporcionar qualidade de vida
maior para o paciente.

Candidíase

A candidíase oral é a manifestacao intraoral mais comum e que


frequentemente leva ao diagnostico inicial do HIV. Existem várias espécies de
Candida mas a mais comum encontrada na cavidade oral é a Candida
albicans. É uma infecção fúngica e oportunista que causa profundas alterações
na cavidade oral devido o sitema imunológico do paciente estar totalmente
comprometido. A candidíase da mucosa oral pode apresentar diversas
manifestações clínicas sendo as mais comuns a candidíase
pseudomembranosa, candidíase eritematosa,queilite angular e hiperplásica.

A pseudomembranosa conhecido como sapinho apresenta placas brancas


aderentes na mucosa oral com aspecto de queijo ou leite coalhado. Tais placas
podem ser removidas pela raspagem com um abaixador de língua ou uma
gaze seca. Os sintomas quando presente é de ardência na mucosa
jugal,língua,palato e um hálito fétido. Alguns pacientes podem apresentar
placas brancas na mucosa jugal anterior que não são removíveis à raspagem.
Este tipo de candidíase hiperplásica é mais raro.

A candidíase eritematosa, apresentam manchas vermelhas e uma grande


sensação de queimação acompanhada pela perda difusa das papilas filiformes
resultando em aparência vermelha e “careca” da língua. Podem se manifestar
clinicamente na região posterior do palato duro, na mucosa jugal e no dorso da
língua.

O envolvimento das comissuras labiais (queilite angular), caracteriza-se por


lesões fissuradas avermelhadas, irritadas e com sensação de ferida no local. A
saliva tende a se acumular nestas regiões, favorecendo a infecção por fungos
devido o ambiente estar úmido.

O conhecimento detalhado do cirurgião dentista é essencial no diagnostico


inicial destas doenças, pois estas infecções estão extremamente relacionadas
com pacientes portadores do vírus HIV. O diagnóstico no inicio da doença
promove um tratamento satisfatório e uma qualidade de vida melhor para o
paciente.

Tratamento

O primeiro antibiótico eficaz para a candidíase oral foi o nistatina, que consiste
no uso tópico, aplicado quato vezes ao dia, porém em pacientes
imunodeprimidos, essa medicação já não é eficiente. O tratamento para
candidiase em pacientes imunocompetentes que estão recebendo o tratamento
com anti-retrovirais efetivo e sem comprometimento do esôfago e faringe pela
doença, o indicado é Clotrimazol tópico. Em casos que o anti-retroviral não
esta sendo efetivo e tem o envolvimento esofagiano, o tratamento será com
itraconazol, com o método de bochechar e engolir. Em casos de infecções
sistêmicas mais graves, a Anfotericina B por via endovenosa pode ser
necessária, entretanto este tratamento deve ser realizado por um médico em
ambiente hospitalar, devido a sua toxicidade. Em casos que a candidíase
demora para curar mesmo com o uso de anti-fúngicos, o cirurgião dentista
deve ficar atento e tomar as decisões cabíveis, pois o paciente pode estar
apresentando um caso de imunossupressão proveniente do HIV.

Herpes simples

O herpesvírus humano (HHVs) pertence à família Herpesviridae e possuem


pelo menos oito tipos sendo que alguns são de grande interesse para a área
odontológica uma vez que se manifesta na região oral. Pacientes portadores do
vírus HIV estão susceptíveis ao vírus da herpes devido o sistema imunológico
estar deficiente e a doença ser oportunista.
Existem dois tipos de herpes vírus simples o HSV-1 E HSV-2. O HSV-1 se
adapta melhor na região oral, facial e ocular .Se dissemina através saliva
infectada ou de lesões periorais ativas. O HSV-2 se adapta melhor nas regiões
abaixo da cintura e é transmitido através do contato sexual.
Após a infecção primária que é o primeiro contato do vírus com o hospedeiro, o
vírus segue pelos nervos sensitivos e e transportado para os ganglios
sensitivos associados ou, menos frequentemente, para os ganglios
autonomicos, onde o virus permanece em
estado latente. O virus utiliza os axonios dos neuronios sensitivos para se
deslocar e atingir a pele ou mucosa periferica.

A manifestação clínica da doença em pacientes com HIV imunodeprimidos são


numerosas ulcerações amareladas, irregulares, coalescentes na superfície
dorsal da língua. Os sintomas são febre (39,4o a 40,5°C),linfadenopatia
cervical anterior, calafrios, náusea, anorexia, irritabilidade e lesoes orais
dolorosas

Tratamento

Os pacientes devem evitar o contato com as lesoes ativas para prevenir a


disseminacao para outros locais e pessoas. O tratamento do herpes simples
em imunodeprimidos é o aciclovir com a técnica de bochechar e engolir 5
vezes ao dia por 5 dias (criancas:15 mg/kg ate a dose do adulto de 200 mg).
Uma vez iniciado o tratamento, novas lesoes nao se desenvolvem. Quando a
terapia com aciclovir não é eficaz, indica-se o tratamento intra venoso18.
Então, a dosagem deverá ser de 5mg/Kg, a cada oito horas, de cinco a sete
dias.Outro medicamento eficaz é o Fanciclovir, que é um pró-fármaco do
penciclovir, que pode ser administrado em 2 doses de 750 mg administradas
geralmente em um único dia.
De acordo com Neville et al. quando uma lesão herpética não responder ao
tratamento sistêmico dentro de 10 dias, é um indicativo que o vírus tornou-se
resistente ao medicamento. Nesse caso, o medicamento indicado é o Foscavir,
levando em consideração que ele só é indicado como uma segunda opção,
pois os efeitos colaterais são bem significativos e atrapalha o paciente em
aderir ao tratamento.

Discussão e Conclusão

Este estudo concluiu que a infecção pelo vírus HIV é um dos maiores
problemas de saúde pública no Brasil e no mundo. As principais formas de
transmissão são pelo contato sexual, sanguíneo e perinatal. Pelo fato do
cirurgião dentista realizar procedimentos críticos e ter contato diretamente com
o sangue do paciente isso oferece risco para profissionais da área da saúde
que entram em contato com o ambiente oral. O fato de ter várias doenças
como herpes e candidíase que estão associado com a AIDS e poder produzir
sintomas graves deve ser um alerta à necessidade de todos os educadores de
futuros prestadores de cuidados dentários a considerar como seus alunos são
educados sobre o atendimento de pacientes com infecções por HIV e, mais
importante, pacientes com doenças infecciosas e transmissíveis em geral.

https://books.google.com.br/books?
id=WwBnDwAAQBAJ&printsec=frontcover&hl=pt-BR#v=onepage&q&f=false

http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1807-25772014000300214&script=sci_arttext&tlng=pt

http://www.bibliotecadigital.funvicpinda.org.br:8080/jspui/bitstream/123456789/288/1/Reze
ndeOliveira.pdf

http://revistas.faculdadefacit.edu.br/index.php/JOFI/article/viewFile/162/166

file:///C:/Users/DELL/Downloads/manual_tecnico_hiv_27_11_2018_web.pdf

http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/protocolo_clinico_diretrizes_terapeuticas_profilax
ia_exposicao_HIV_IST_hepatites_virais.pdf

http://repositorio.saolucas.edu.br:8080/xmlui/bitstream/handle/123456789/3185/Rayana
%20Maria%20de%20Ara%C3%BAjo%20Carneiro,%20Thainara%20Gomes%20de%20Lima%20-
%20Atendimento%20odontol%C3%B3gico%20a%20pacientes%20portadores%20de
%20hiv.pdf?sequence=1

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