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Licenciatura: História
Agosto de 2019
a) Plano de Aula
Instituição: Centro Educacional Claudionor Batista
Ano: 2019
Objetivos Específicos:
Conteúdos:
- Imperialismo;
- Literatura
Situação Didática:
Primeiro Momento:
Aula expositiva sobre o conceito de imperialismo, a partir de uma perspectiva
etimológica da palavra e da sua construção histórica.
Segundo Momento:
Leitura e interpretação de determinados trechos do livro "O Coração das trevas", com a
ideia de gerar um debate com a turma em torno da interpretação dos aspectos
relacionados, sobretudo, com a temática sobre o imperialismo.
Recursos/Equipamentos:
Duração:
Avaliação:
b) Dissertação
Antes de responder a pergunta proposta nessa atividade, é importante sabermos
que as «trevas» retratada na narrativa de viagem escrita por Conrad, podem ser
interpretadas das mais variadas maneiras, alías, é isso que faz com que esse livro seja
muito discutido e debatido. Tendo em conta que, nesse processo de entendimento dessa
obra literária, podemos pensar que a relação com o tempo passou a ter lugar fulcral nas
narrativas sobre as áreas periféricas, como foi o caso do Congo (África), logo, questões
como o atraso e a paralisia eram as definições mais marcantes da narrativa imperial
constituinte da época em que a obra fora escrita. Dessa forma, dentro desse romance
existe uma percepção de que a violência simbólica é baseada na fixação de novas
formas de compreender a passagem do tempo, em especial a imposição da noção de
progresso, que legitimou inúmeras violências e opressões. Por exemplo, no que
concerne ao capitalismo foi oferecida uma roupagem que significava a ideia do
progresso civilizacional. Ou seja, a busca pelo lucro era garantia do desenvolvimento da
humanidade, que o tempo de fato, era dinheiro.
O Coração das Trevas nos permite também fazer uma análise sobre a crença na
ideia de progresso amparado no desenvolvimento das relações capitalistas no final do
século XIX. Isto porque a crueldade do imperialismo passa a ser entendida como um
resultado da busca pelo lucro, levado em uma escala planetária. Ao passo que, um dos
resultados do Imperialismo dessa escala acabou sendo a mercantilização de seres vivos
e espaços, que passaram a ser compreendidos, meramente, como recursos e
mercadorias. Levando em consideração que a prática imperialista não se baseia em
adornos e investimentos culturais, é de se supor e observar o emergir de uma realidade
em que o domínio e a exploração ditam o ritmo de funcionamento da vida.
Entretanto, uma crítica presente e feita por determinados autores se relaciona
com o fato dos relatos dos viajantes descreverem, no Coração das Trevas, a paisagem
africana como inabitada e desprovida de história. Por outras palavras, a descrição da
geografia e identificação, por exemplo, da flora e da fauna são estruturadas como uma
narrativa, onde a presença europeia ou africana têm uma inclinação marginal, apesar de
ser esse um aspecto recorrente da viagem representada na obra. Assim sendo, existe a
sensação de que esta literatura produz uma percepção corporal sem discurso, sustentada
em preceitos biologizados típicos de uma criação artística colonial. Sem esquecer que,
em mais diversas descrições e trechos do livro, existe uma certa naturalização das
mudanças e lacunas da construção do romance, que faz, por exemplo, a historicidade
das sociedades locais desaparecerem, enquanto que o estado em que os viajantes
europeus encontram estas sociedades acaba por estar descritos como fixos, eternos e
infinitos.
Dado que, podemos reparar no romance, por intermédio da representação dos
sujeitos sociais, a revelação da exclusão do povo local, sem qualquer individualidade,
que, como um amontoado de seres, são colocados em segundo plano e passíveis de
generalizações, cujo cenário faz parte do desenvolvimento da história contada em
primeira pessoa pelo personagem Marlow. Desse jeito, no decorrer da leitura do livro
observa-se que somente os europeus possuem ou funcionam, narrativamente, através de
profissões exercidas, como é o caso do médico, o fabricante de tijolos, o gerente e
outros tantos, pois é importante salientar que essa identificação laboral faz com que
percebamos os europeus como indivíduos, que possuem vida própria, trazendo-os como
protagonistas da história ali representada. Em contrapartida, os africanos e africanas em
raros momentos são individualizados na obra, sendo com muita frequência assimilados
e objetificados, reveladores de um discurso racista enjessado sob o ponto de vista do
colonizador. Obviamente, dada as circunstâcias históricas vividas por Conrad, os
africanos e africanas são representados apenas como simples observadores de uma
realidade, sem sentir, pensar, falar ou problematizá-la, pois são atirados dentro do
romance para o segundo plano, como personagens sem influência alguma. Nesse caso,
tal como foi analisado por Chinua Achebe, Conrad ao mesmo tempo em que nos mostra
uma África em massa, acaba também por fragmentar os personagens que são tidos e
vistos apenas como membros do corpo, quando poderia ser exatamente o contrário.
Portanto, o Coração das Trevas é uma obra literária indubitável para o estudo do
papel imperialista e explorador que as nações europeias exerceram no continente
africano, sobretudo no Congo, então, nesse ponto de vista, acreditamos que existe uma
perspectiva crítica contra esse sistema capitalista europeu, feito por Conrad, apesar de,
no que tange as representações de África e dos africanos, o autor se sustentar em muitos
estereótipos e visões racistas. Sendo também importante retermos que a literatura é
entendida neste estudo como uma fonte histórica privilegiada, na medida em que através
dela podemos observar como a linguagem traduz uma série de imagens, conceitos e
representações do tempo em que uma determinada obra foi escrita.