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FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS

A transição moral do fim do século em O Retrato de Dorian Gray e


a construção de uma moralidade Wildeana

Melquisedeque da Silva Romano Ra :3441252


Rozana de Jesus Lima Silva Ra:1510444
História - Noturno
Turma: 0272204A07

São Paulo
2020
Nosso trabalho têm a intencionalidade de discutir questões sobre a história
social por meio da cultura do século XIX, compreendendo a cultura e a produção
artística como reflexo mas também como agente de transformação da realidade
inglesa, e desse modo compreender a mesma, utilizando de sua arte e filosofia,
mais especificamente a obra O Retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde,
apoiando-se também na leitura de outros autores, sobre o texto poderemos levantar
questionamentos sobre a realidade inglesa, discutindo as correntes filosóficas e
artísticas como características de seu tempo, como reflexos e também influências
para a sociedade inglesa do finissecular decadentista.
Para compreender com eficiência a obra de Wilde e por consequência a
sociedade Inglesa devemos nos debruçar sobre interpretações de sua
personalidade, como também a sua presença histórica e contribuição, sendo assim
cabe compreender a dialética não só da arte, mas também da presença do autor na
história, sua obra constrói a realidade e por ela também é atravessada, do mesmo
modo que Wilde é influenciador também é influenciado por seu mundo e tempo,
assim podemos levantar características específicas da sociedade Vitoriana que
inundam o autor. A Inglaterra do século XIX e XX é marcada pela capilarização da
classe burguesa, que busca durante os últimos três século se incluir nos ambientes
de poder político, exemplo na formação do parlamento, pós revolução gloriosa, e na
formação de estados burgueses em que os capitalistas constroem seu capital
político, e o teor colonial do novo estado industrial da abastada burguesia
ascendente agora estreitando laços políticos em uma espécie de miscigenação
com a aristocracia do antigo regime, agora inseridos nas dinâmicas de poder se
encontram no ápice cultural e econômico, o apogeu dos grandes donos de capital e
o crescimento industrial imparável da Inglaterra, lhes permitiu refletir e preocupar-se
com questões filosóficas, com a construção da ciência, em um ambiente de
amadurecimento do iluminismo do século XVIII como da razão nascida com ele, é
no momento de amadurecimento, pós revoluções burguesas que se erige a era
colonial, o momento da burguesia que de certa forma já consolidada, unificada
socialmente e culturalmente toma posse de ambientes muito específicos, como a
criação de clubes, os agrupamentos em festas para discussão de teses científicas, a
razão e o pensamento, a ciência e a lógica são armas e parte dessa sociedade, no
tangível a moral é uma comunidade que foi incapaz de romper por completo com a
religião, ou melhor dizendo está em um processo de ruptura com o antigos
costumes, é de fulcral importância compreender alguns aspectos da sociedade
inglesa para se aperceber dos pleitos sociais que propõe Wilde em seu texto, a
primeira questão é que é um ambiente carregado de moralidade, também de razão,
como do amadurecimento do individualismo, cercado de buscas científicas e
tentativas de se compreender o mundo pela lógica, é deste caldeirão que surgem as
mais diferentes interpretações e abordagens filosófica.
Nos focaremos em compreender como Wilde nota sua realidade, mas para
tal antes um breve levantamento biográfico se faz essencial, o “Bon Vivant” Oscar
Fingal O'Flahertie Wills Wilde, ​nascido em 16 de Outubro de 1854 em, Dublin,
Irlanda. Viveu na Inglaterra onde construiu e consolidou sua carreira, estudou na
Universidade de Oxford, onde teve contato com grandes intelectuais do esteticismo,
tornando-se a personificação deste movimento artístico e filosófico, os ideais estetas
ultrapassam sua arte e se fundem a sua vida pessoal (ou o oposto), Wilde torna se
muito conhecido e prestigiado entre os artistas e intelectuais de sua época, é
convidado a palestrar nos Estados Unidos onde propaga as idéias do movimento,
os ideais esteticistas como prevê Wilde é muito mais que uma abordagem a arte ou
uma tentativa de movimento literário, o escritor propõe uma nova visão para a
realidade, na tentativa de compreender o mundo apenas pela percepção do belo e
superficial, assim vida e obra de Wilde assumem contraponto a moralidade e a
razão, o divulgador do esteticismo tem um olhar muito perspicaz sobre sua
realidade, se apercebe da necessidade do mundo de ser belo, independente do
conteúdo, Wilde cultua a forma, o belo e é por meio dele que compreende o mundo,
desse modo propõe uma subversão do estilo de vida anterior a si, é notável em seu
texto o teor magistral e teátrico, é recorrente a percepção de seus personagens da
vida como uma tragédia clássica grega, a sociedade Vitoriana apegada às artes,
que busca uma herança na cultura grega, é representada e também molda esta
visão de Wilde ou Gray sobre o mundo, onde o belo é o ponto central das relações,
o esteticista propõe uma inversão das percepções comuns a essa sociedade, um
mascaramento, o belo é essencialmente bom, o feio ruim.
Sendo assim o autor propõe um movimento de posições revolucionárias, de
mudanças sociais são nessas ideias que Wilde pauta suas obras, na intenção de
ressignificar a arte, para o criador de Dorian Gray os homens da sua época
representam a decadência, a única forma de moralidade para Wilde é pela beleza,
como nos diz:
“A Arte toma a vida entre seus materiais toscos, cria-a de novo
e torna a modelá-la em novas formas e com uma absoluta
indiferenças pelos fatos, inventa, imagina, sonha e conserva entre e a
irrealidade a intransponível barreira do belo estilo, do método
decorativo ideal. A terceira etapa se inicia, quando a Vida predomina
e atira a Arte ao deserto. Esta é a verdadeira decadência e é por isso
que sofremos atualmente” (FERREIRA, (2004) p.80) & (WILDE. O
(2003) p.1079)

As inclinações filosóficas de Wilde demonstram uma crítica a sociedade


Vitoriana e como viam a Arte, extrapolando sua percepção para o mundo, e é
nessa dinâmica que o autor cria para além de um movimento literário mas uma
filosofia de vida, é por uma nova percepção da moral, e uma subversão da estética
como já dito, apenas o belo é moral e correto.

“Não existe livro moral ou imoral. Livros são bem escritos ou mal escritos.
Isso é tudo.” (WILDE,(2012) p.5 prefácio)

É nessa mesma dinâmica que Wilde percebe a realidade de seu tempo,


dentro de uma sociedade extremamente hipócrita e conservadora de relações
aparentemente duradouras e profundas, que busca racionalizar a arte e usá la de
forma pedagógica para solidificação de seus interesses. O esteticismo e Wilde
buscam romper com as correntes dessa tradição e também com a profundidade
dessas relações, é na superficialidade que reside a leitura de Wilde sobre a Arte e a
vida, para ele as máscaras sociais encantam, por mostrar apenas o que as pessoas
tem de melhor, dessa maneira tornam se mais interessantes, a aparente beleza
basta para torná las completa.

“As inùmeras màscaras com que se vestiu operam uma completa


decodificação, uma revolução que confunde os rígidos códigos da sociedade
Vitoriana” (FERREIRA,(2004) p.80)
Assim se confirma esta percepção na cena em que a atriz Sibyl Vane revela
não nutrir mais o mesmo interesse pelos personagens que representava, pois havia
encontrado a verdade no amor de Dorian Gray e a partir de então não conseguiria
mais atuar. Dorian que parecia estar apaixonado pela atriz , na verdade nutria
fascínio pela representação e pelas diversas personas que constituíam Vane, logo
após essa declaração Sibyl perde o encanto, Dorian se mostra decepcionado por
estar em contato com algo real, e isso definitivamente não desperta seu interesse, é
como se a atriz houvesse cometido o mais grave erro por querer viver no mundo
real, por dar materialidade a esse amor, é o fim do sentimento e das emoções de
Dorian, é o aprofundamento da relação, o que o Gray definitivamente não quer,
estava apaixonado pela imagem idealizada e rompe com o romance sem
demonstrar qualquer sentimento de compaixão ou piedade. Somente após receber
a notícia de que a atriz deu cabo a sua própria vida, Dorian parece reviver a
emoção dos primeiros encontros, como se estivesse na plateia a vendo atuar num
romance trágico, o sentimento parece voltar a ter sentido pois este amor não se
mostra mais enfadonho e comum adquire um sentido trágico, belo​.

“ “Não”, disse Dorian Gray , “não há nada de horrível nisso.


Trata se de uma das grandes tragédias românticas do nosso tempo.
Como regra, as pessoas que representam levam vidas bastante
comuns. São bons maridos, ou esposas fiéis ​, ​ou alguma coisa
entediante. Você sabe o que quero dizer - virtude de classe média ,
esse tipo de coisa.Como Sibyl era diferente! Ela viveu a melhor de
suas tragédias .Sempre foi uma heroína. Na noite passada atuou - na
noite em que a viu -, ela atuou mal porque havia conhecido a
realidade do amor.Quando soube da sua irrealidade , ela morreu,
como julieta teria morrido.Entrou de novo na esfera da arte.” (WILDE.
2012 p.129)

É nesta mesma chave que Wilde parece perceber a vida, além das regras de
convivência social, o autor parece compreendê la na valorização do drama, nas
paixões e a superficialidade que a ficção é capaz de criar, a forma teatral de viver
era reproduzida inclusive na aparência do autor com seus “figurinos” exuberantes,
que impressionaram a sociedade, o esteta preocupa se com a fisionomia além de
valorizar as formas, cores e cheiros que para ele trazem beleza à vida , e toda
beleza dessas coisas devem ser apreciadas, Wilde traz detalhes minuciosos destas
percepções no primeiro capítulo.

“A forma e a cor nos dizem sobre a forma e a cor - isso é tudo. Parece-me,
com frequências, que a arte oculta o artista bem mais completamente do que revela”
(WILDE. 2012 p.117)

Desse modo para o autor a Arte e as coisas belas são de toda forma a
maneira de se lutar e se contrapor a sociedade Vitoriana, pois é em sua leitura a
inversão da moralidade, o contraponto a uma sociedade preocupada em moralizar e
dar razão as todas as relações, mas para o autor a explicação da vida, sua filosofia
é a própria arte como belo, é impensável dar sentido a arte, e dar sentido à vida,
assim se parece com Nietzsche, a arte só sente, não se compreende, se
contrapondo a esse fim do século e atribuindo ao mesmo uma decadência social, a
crítica central da obra é direcionada a essa sociedade que busca dar um sentido a
todas as coisas, não é capaz de apreciar apenas o belo, e busca a todo custo
homogeneizar pensamentos e comportamentos, diferente da visão Wildeana que
encontra na arte uma certa liberdade e aprecia o belo pelo belo, sua própria leitura
sobre seu tempo, busca a dramatização.

“Em O retrato de Dorian Gray, a pintura que se desgasta


poderia ser entendida como metáfora do esgotamento do cânone. Às
idéias em declínio, segue-se a teatralidade. Wilde, brilhantemente, faz
uma leitura dramatizada da agonia do final do século.” (FERREIRA, (
2004) .p.81)

É pela teatralidade implicada na obra de Wilde que se pode compreender quais


propostas têm de mudança e como se apercebe da mesma, Wilde que de uma
percepção dandista do mundo subverte a moralidade, poderíamos ler isso como
uma crítica moral, ou uma crítica política, a ordem social que para Wilde é
dispensável.
“O mesmo Wilde que afirmou que toda obra de arte ao mesmo tempo
superfície e símbolo, estrategicamente desloca a proposta vitoriana de
cumprimento da ordem para um exercício teatral do dandismo.”
(FERREIRA,(2004) p81)

Para o autor a solução do labirinto, -um eufemismo para a própria sociedade


vitória, ou para os problemas que vê na mesma- se encontra dentro dele mesmo, a
solução pra sociedade que vive se encontra dentro da mesma, na subversão e
modificação de sua moralidade falsa para uma substituição por uma moralização e
sacralização da beleza , é como em Dandy, qualquer profundidade ameaça a
perfeição da imagem. É por isso que Gray é de certo modo o personagem ou
homem perfeito para seu autor, pois só ele é o único capaz de personificar com
perfeição o belo, e apenas o belo, e toda corrupção está mascarada.

“Qualquer recurso de “profundidade” ameaça a perfeição da imagem que deseja


projetar. Pelo artifício, pela mentira, encontram a sua verdade.” (FERREIRA,(2004) p.81)

É assim pela distorção da moral, pela criação de um personagem que incorpore o


dandismo puro, um arquétipo do homem superficial que Wilde discute a sociedade
Vitoriana e propõe sua reforma, é desse modo Gray o homem perfeito, pois é
completamente mascarado, suas corrupções não são expostas pelo envelhecimento
de seu corpo, é belo e ponto.

“Wilde possivelmente levou em conta o fato de que a imagem num


espelho é sempre o reflexo inverso e produz, então, em seu romance, a
inversão de todos os valores abraçados pela sociedade da época”
(FERREIRA, (2004) p.81)

Wilde não via a arte apenas como um movimento literário, mas uma filosofia,
e tendo em vista sua realidade, e suas influências esta passava mais do que só pelo
esteticismo é caracterizada pelo hedonismo carregada do estilo decadentista, Wilde
encara a própria vida como arte, e através dela extrapola sua percepção para o
mundo, se para o autor a arte não necessita de profundidade, moralidade ou até
mesmo um sentido, e se a vida se apresenta como arte, esta deve ser encarada do
mesmo modo, sem a necessidade de um sentido, sem o peso da moralidade,
apenas bela. A filosofia wildiana perpassa o hedonismo que busca no prazer um
sentido , como já levantado a superficialidade, se faz presente na obra de Wilde a
busca pela experimentação do mundo sensível, um momento avassalador, a
emoção por si só, a realização do desejo, na perspectiva do esteticismo essa
experiência quase transcendental pode ser encontrada através da arte.

“Viva! Viva a maravilhosa vida que há em você! Não deixe que


nada se perca sobre você. Procure sempre por novas sensações.
Não tema nada. Um novo hedonismo - isso é o que nosso século
deseja. Você poderia se seu símbolo visível. Com a sua
personalidade, não há nada que você não possa fazer. (WILDE. 2012
p.41)

Retornando ao mascaramento que permite a vivência dos princípios (do


pensamento) grego, de desfrutar da plenitude dos desejos e sensações, agora
proibidos por uma sociedade cristã que prima pela moralidade, a vida dupla se
apresenta como resposta ou até mesmo solução para o dilema de moral e imoral,
usando ainda desse pensamento grego, Wilde não tem apego as regras sociais e
morais, sendo assim para ele o que se faz em oculto não é horrendo, mas belo
justamente por estar no campo superficial das vontades, sem pensar ou se
preocupar com as consequências do pecado que a sociedade prega, já que a
moralidade não se apresenta como uma “verdade”, mas uma construção de uma
sociedade conservadora, que não consegue se desvencilhar das tradições. As
máscaras (da sociedade) assim como o retrato de Dorian Gray, parecem mostrar
apenas a superficialidade, no entanto mais revelam que ocultam, pois as máscaras
permitem que as pessoas mostrem o lado bom e o belo, adequado para
determinado ambiente, entretanto por de trás dessa mesma máscara, existe
escondido a outra metade de uma mesma personalidade, que se ”divide” entre
conveniente e inconveniente, a parte inconveniente que não pode ser exposta em
qualquer ambiente, assim como o quadro que Dorian esconde no sótão, ambos
buscam escamotear seu lado ruim, feio, corrompido e envelhecido.
“Acreditando que a máscara é mais fiel do que o
próprio corpo, deposita toda a genialidade em sua vida e
compõe-se como a um personagem, a partir do talento
empregado em suas obras. Prefaciando o moderno, escolheu
vivenciar a crise finissecular em seu corpo e, da mesma
forma, aceitar as consequências da ousadia. Forjou um duplo
de si mesmo, encarregado de o representar socialmente.”
(FERREIRA,(2004) p.82)

A máscara não esconde o verdadeiro eu, mas o divide, fragmenta o que no


fim possibilita uma vida multifacetada, que se adapta a situações diferentes em
busca de se adequar às exigências de uma sociedade que encara a vida com certo
peso e profundidade, que busca um sentido em todas as coisas deixando de
apreciar livremente a simplicidade do que é belo, preso às correntes das tradições,
isso pode explicar também um multifacetamento de Gray que por existir em uma
sociedade com padrões morais tão rígidos é obrigado a ser pessoas diferentes para
cada ocasião, Gray é a personificação de uma sociedade de máscaras, que
esconde no sótão sujo sua feiura, mas ao mesmo tempo a expressão positiva do
belo e do superficial, Wilde propõe a aceitação dos pecados e rejeição da moral, a
não existência de pecados, desse modo tudo pode ser superficial e belo, só existem
as múltiplas máscaras.

“A arte para o esteta diz a verdade pela mentira. No


capítulo II de O retrato de Dorian Gray diz: “Para provar a
realidade é preciso vê-la na corda bamba. Quando as verdade
se tornam acrobatas, podemos julgá-las.” (FERREIRA, (2004)
p.80) & (WILDE. O (2003) p.85)

E assim propõe uma subversão da verdade e da mentira, pois é por meio do


superficial que pretende encontrar a verdade, compreender a realidade, encontrar
as verdades a partir das mentiras, no falso, nas múltiplas máscaras, que são as
aparências falsas, que escondem o princípio moralista de realidade cristã e
Vitoriana, é pela ressignificação e revalorização do belo que se constrói a (a)moral
Wildeana, existe o belo, por meio do falso, pelo esconder que se encontra a
verdade, a verdade é o belo esta é a moral de Wilde e como propõe compreender o
mundo que vive, e modificá-lo.
Nos cabe pensar agora além do que compõe a leitura e o que o livro reflete
da sociedade Vitoriana, nos faz necessário agora retornar a ideia central de nosso
texto e pensar a obra de Wilde como martelo formador de sua realidade, desse
modo devemos pensar, quais heranças e impactos a literatura Wildiana trouxe para
a sociedade atual, Wilde é parte central de uma discussão muito própria de seu
tempo e que abre precedentes até hoje, o autor é parte do movimento decadentista,
movimento que inaugura percepções de mundo que dão base artística para nossa
realidade já a muito tempo, um movimento de teor poético muito forte e que é
característico de um tempo em transição cultural e moral, extremamente na
vanguarda do pensamento sobre a arte e sobre a moral, Wilde configura junto a
outros pensadores um movimento de subversão e contraposição dos preceitos
ordeiros do fim do século XIX, incorporam na sua vida o belo o artístico, Wilde é o
inaugurador de um personalismo e individualismo moderno muito latente, e junto a
esses homens constroem uma leitura que hoje dão nome e vazão as percepções
mais comuns do que é belo e do que deve ser arte, parte central do pensamento de
Wilde é ter a arte apenas pela arte, apenas ser bela, essa concepção não nos é
muito estranha, na verdade ela é muito comum, ela é base para pensamentos
contemporâneos e até mesmo para própria percepção do senso comum sobre a
arte, muitos outros pensadores já supracitados parecem concordar com Wilde nesse
sentido, a Arte para o movimento decadentista assume uma posição quase que
mística e religiosa, existe uma nova relação com a arte, uma ruptura
incomensurável, a modernidade do século XIX e a longa ruptura com as tradições
permitem o surgimento desses pensamentos, assim como também se configuram e
deixam uma marca histórica, o decadentismo é objeto de estudo até os dias de hoje
é apoio para pensar essa sociedade e também como se constrói a nossa nesse
longo processo, essa é uma das marcas de Wilde para o mundo, uma contribuição
com a ruptura e inauguração de um novo mundo, laico e diverso, uma introdução
para uma mundo elitizado, industrial, cosmopolita, que abre o caminho para pensar
a moralidade a arte de maneira completamente diferente do que conhecemos no
processo histórico anterior a ele, esta é a contribuição de Wilde para o longo
processo de construção do mundo que conhecemos.
Por fim se provou fecunda a discussão da moralidade e cultura da sociedade
Vitoriana, pois foi por meio de levantamentos centrais da obra de Oscar Wilde e com
o apoio de seus leitores que fomos capazes de explicitar questões que nos
pareceram centrais da leitura de Wilde sobre sua sociedade, e de tal modo
pudemos discutir a construção de uma moralidade Wildeana em contraponto a uma
moralidade cristã, se fez presente a compreensão de que a periodização e o
ambiente que essas ideias se constroem foram de essencial presença para seu
desenvolvimento, foi pela obra de Wilde e sua participação em movimentos que
pudemos pontuar que essa mesma periodização de fim de século nos revela um
momento de mudança chave na sociedade, a fixação de uma modernidade que vem
sendo construída a mais de quase 4 séculos, tentamos fazer presente no texto a
discussão de como a moralidade Vitoriana se constrói e o que está no bojo das
mudanças da mesma, Wilde e o decadentismo o representam, e lutam por idéias
em sua época e deixaram seus legados.
É desse modo que pudemos compreender que Wilde se contrapõe a sua
realidade, pleiteia em suas obras e em sua vida um modelo de moral para além e
que subverte a moral cristã, Wilde constrói a volta de si mesmo parte do movimento
decadentista que do mesmo modo propõe uma visão revolucionária de sua
realidade, Wilde é parte de um processo de mudança como já supracitado, não é
nenhuma coincidência está localizado no fim do século XIX, nem pertencer a classe
que pertence, estes aspectos nos revelaram um potente prisma de leitura da
sociedade Vitoriana, ainda mais, parte do martelo que a constroem.
E desse modo seria um completo erro usar das ferramentas que Wilde
propões para compreensão da arte, pelos olhos do autor veremos a arte só pelo
belo, rasa e sensível, seria um erro ler Wilde pela chave estético-decadentista que
ele propõe, se só existissem livros bem escritos ou mal escritos, ler Wilde por essas
chaves seria como nos demonstra o final de Dorian Gray, por fim o que sobra de
Gray é sua beleza, as máscaras que construiu, o que resta é apenas o belo, o
superficial, suas corrupções morreram com ele.

“Quando entraram, encontraram suspenso à parede um


esplêndido retrato de seu patrão, como o tinham visto pela última vez,
em todo o seus esplendor de uma delicada juventude e beleza.
Deitado no chão havia um homem morto, em roupa de gala, com uma
faca em seu coração. Ele estava murcho, enrugado e seu semblante
era repugnante. Apenas quando examinaram os anéis reconheceram
quem era.” (WILDE. 2012 p.198)

E deixar com que só o belo ou a boa estrutura e desenvolvimento do livro


restasse seria deixar morrer com a obra de WIlde todo seu potencial, suas
corrupções mas também tudo aquilo que podemos usar para compreender sua
realidade, O Retrato de Dorian Gray seria só um livro bem escrito não um dos
maiores clássicos de sua época e não estaríamos escrevendo esse trabalho sobre
ele nesse exato momento, e não poderíamos usá-lo de ferramenta para
compreender partes essenciais de um período pretérito.

Bibliografia
WILDE, Oscar. O Retrato de Dorian Gray, tradução de São Paulo Schiller.1º
edição.São Paulo:Penguin Classics Companhia das Letras,2012.
WILDE, Oscar. O Retrato de Dorian Gray, tradução de Marcella Furtado. Editora:
Landmark - São Paulo, 2012
COUTINHO, Luiz edmundo Bouças & CORRÊA, Irineu E. Jones. O Labirinto
finissecular e as Idéias do esteta: Ensaios Críticos: 7Letras 2004. 6º Cap ensaio de,
FERREIRA, Stella Maria. Oscar Wilde: O esteta e os mascaramentos do corpo.
UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro) 2003
FLORENZANO, Modesto. As revoluções Burguesas. 1ºCap A revolução
Inglesa
CASSIRER, Ernst. A filosofia do iluminismo: tradução de Álvaro Cabral -
Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 1992.
HOF, Ulrich Im. A Europa no século das luzes: Tradução de MAria Antónia
Amarante - Editora presença
SCHIFFER. Daniel Salvatore, Oscar Wilde: tradução de Joana Canêdo ,Porto
Alegre, RS. L&PM,2012. (Coleção L&PM POCKET; v915)
PIRES, Elaine Cristine Raab. Oscar Wilde: A tragicidade da vida de um
escritor - Série Estudos n°77 - Instituto Politécnico de Bragança - 2005
TAVARES, Enéias Farias. Esteticismo e decadentismo nos dândis de Wilde e
Huysman: retratos de Des Esseintes e Dorian Gray: UEM (Universidade
Estadual de Maringá) - 2015
RODRIGUES, Kelen Cristina. O decadentismo e a sua face estética: uma
(a)moralidade literária. Revista Litteris n​º0​2 ​.UFU (Universidade Federal
Uberlândia) -2009

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