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São Paulo
2020
Nosso trabalho têm a intencionalidade de discutir questões sobre a história
social por meio da cultura do século XIX, compreendendo a cultura e a produção
artística como reflexo mas também como agente de transformação da realidade
inglesa, e desse modo compreender a mesma, utilizando de sua arte e filosofia,
mais especificamente a obra O Retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde,
apoiando-se também na leitura de outros autores, sobre o texto poderemos levantar
questionamentos sobre a realidade inglesa, discutindo as correntes filosóficas e
artísticas como características de seu tempo, como reflexos e também influências
para a sociedade inglesa do finissecular decadentista.
Para compreender com eficiência a obra de Wilde e por consequência a
sociedade Inglesa devemos nos debruçar sobre interpretações de sua
personalidade, como também a sua presença histórica e contribuição, sendo assim
cabe compreender a dialética não só da arte, mas também da presença do autor na
história, sua obra constrói a realidade e por ela também é atravessada, do mesmo
modo que Wilde é influenciador também é influenciado por seu mundo e tempo,
assim podemos levantar características específicas da sociedade Vitoriana que
inundam o autor. A Inglaterra do século XIX e XX é marcada pela capilarização da
classe burguesa, que busca durante os últimos três século se incluir nos ambientes
de poder político, exemplo na formação do parlamento, pós revolução gloriosa, e na
formação de estados burgueses em que os capitalistas constroem seu capital
político, e o teor colonial do novo estado industrial da abastada burguesia
ascendente agora estreitando laços políticos em uma espécie de miscigenação
com a aristocracia do antigo regime, agora inseridos nas dinâmicas de poder se
encontram no ápice cultural e econômico, o apogeu dos grandes donos de capital e
o crescimento industrial imparável da Inglaterra, lhes permitiu refletir e preocupar-se
com questões filosóficas, com a construção da ciência, em um ambiente de
amadurecimento do iluminismo do século XVIII como da razão nascida com ele, é
no momento de amadurecimento, pós revoluções burguesas que se erige a era
colonial, o momento da burguesia que de certa forma já consolidada, unificada
socialmente e culturalmente toma posse de ambientes muito específicos, como a
criação de clubes, os agrupamentos em festas para discussão de teses científicas, a
razão e o pensamento, a ciência e a lógica são armas e parte dessa sociedade, no
tangível a moral é uma comunidade que foi incapaz de romper por completo com a
religião, ou melhor dizendo está em um processo de ruptura com o antigos
costumes, é de fulcral importância compreender alguns aspectos da sociedade
inglesa para se aperceber dos pleitos sociais que propõe Wilde em seu texto, a
primeira questão é que é um ambiente carregado de moralidade, também de razão,
como do amadurecimento do individualismo, cercado de buscas científicas e
tentativas de se compreender o mundo pela lógica, é deste caldeirão que surgem as
mais diferentes interpretações e abordagens filosófica.
Nos focaremos em compreender como Wilde nota sua realidade, mas para
tal antes um breve levantamento biográfico se faz essencial, o “Bon Vivant” Oscar
Fingal O'Flahertie Wills Wilde, nascido em 16 de Outubro de 1854 em, Dublin,
Irlanda. Viveu na Inglaterra onde construiu e consolidou sua carreira, estudou na
Universidade de Oxford, onde teve contato com grandes intelectuais do esteticismo,
tornando-se a personificação deste movimento artístico e filosófico, os ideais estetas
ultrapassam sua arte e se fundem a sua vida pessoal (ou o oposto), Wilde torna se
muito conhecido e prestigiado entre os artistas e intelectuais de sua época, é
convidado a palestrar nos Estados Unidos onde propaga as idéias do movimento,
os ideais esteticistas como prevê Wilde é muito mais que uma abordagem a arte ou
uma tentativa de movimento literário, o escritor propõe uma nova visão para a
realidade, na tentativa de compreender o mundo apenas pela percepção do belo e
superficial, assim vida e obra de Wilde assumem contraponto a moralidade e a
razão, o divulgador do esteticismo tem um olhar muito perspicaz sobre sua
realidade, se apercebe da necessidade do mundo de ser belo, independente do
conteúdo, Wilde cultua a forma, o belo e é por meio dele que compreende o mundo,
desse modo propõe uma subversão do estilo de vida anterior a si, é notável em seu
texto o teor magistral e teátrico, é recorrente a percepção de seus personagens da
vida como uma tragédia clássica grega, a sociedade Vitoriana apegada às artes,
que busca uma herança na cultura grega, é representada e também molda esta
visão de Wilde ou Gray sobre o mundo, onde o belo é o ponto central das relações,
o esteticista propõe uma inversão das percepções comuns a essa sociedade, um
mascaramento, o belo é essencialmente bom, o feio ruim.
Sendo assim o autor propõe um movimento de posições revolucionárias, de
mudanças sociais são nessas ideias que Wilde pauta suas obras, na intenção de
ressignificar a arte, para o criador de Dorian Gray os homens da sua época
representam a decadência, a única forma de moralidade para Wilde é pela beleza,
como nos diz:
“A Arte toma a vida entre seus materiais toscos, cria-a de novo
e torna a modelá-la em novas formas e com uma absoluta
indiferenças pelos fatos, inventa, imagina, sonha e conserva entre e a
irrealidade a intransponível barreira do belo estilo, do método
decorativo ideal. A terceira etapa se inicia, quando a Vida predomina
e atira a Arte ao deserto. Esta é a verdadeira decadência e é por isso
que sofremos atualmente” (FERREIRA, (2004) p.80) & (WILDE. O
(2003) p.1079)
“Não existe livro moral ou imoral. Livros são bem escritos ou mal escritos.
Isso é tudo.” (WILDE,(2012) p.5 prefácio)
É nesta mesma chave que Wilde parece perceber a vida, além das regras de
convivência social, o autor parece compreendê la na valorização do drama, nas
paixões e a superficialidade que a ficção é capaz de criar, a forma teatral de viver
era reproduzida inclusive na aparência do autor com seus “figurinos” exuberantes,
que impressionaram a sociedade, o esteta preocupa se com a fisionomia além de
valorizar as formas, cores e cheiros que para ele trazem beleza à vida , e toda
beleza dessas coisas devem ser apreciadas, Wilde traz detalhes minuciosos destas
percepções no primeiro capítulo.
“A forma e a cor nos dizem sobre a forma e a cor - isso é tudo. Parece-me,
com frequências, que a arte oculta o artista bem mais completamente do que revela”
(WILDE. 2012 p.117)
Desse modo para o autor a Arte e as coisas belas são de toda forma a
maneira de se lutar e se contrapor a sociedade Vitoriana, pois é em sua leitura a
inversão da moralidade, o contraponto a uma sociedade preocupada em moralizar e
dar razão as todas as relações, mas para o autor a explicação da vida, sua filosofia
é a própria arte como belo, é impensável dar sentido a arte, e dar sentido à vida,
assim se parece com Nietzsche, a arte só sente, não se compreende, se
contrapondo a esse fim do século e atribuindo ao mesmo uma decadência social, a
crítica central da obra é direcionada a essa sociedade que busca dar um sentido a
todas as coisas, não é capaz de apreciar apenas o belo, e busca a todo custo
homogeneizar pensamentos e comportamentos, diferente da visão Wildeana que
encontra na arte uma certa liberdade e aprecia o belo pelo belo, sua própria leitura
sobre seu tempo, busca a dramatização.
Wilde não via a arte apenas como um movimento literário, mas uma filosofia,
e tendo em vista sua realidade, e suas influências esta passava mais do que só pelo
esteticismo é caracterizada pelo hedonismo carregada do estilo decadentista, Wilde
encara a própria vida como arte, e através dela extrapola sua percepção para o
mundo, se para o autor a arte não necessita de profundidade, moralidade ou até
mesmo um sentido, e se a vida se apresenta como arte, esta deve ser encarada do
mesmo modo, sem a necessidade de um sentido, sem o peso da moralidade,
apenas bela. A filosofia wildiana perpassa o hedonismo que busca no prazer um
sentido , como já levantado a superficialidade, se faz presente na obra de Wilde a
busca pela experimentação do mundo sensível, um momento avassalador, a
emoção por si só, a realização do desejo, na perspectiva do esteticismo essa
experiência quase transcendental pode ser encontrada através da arte.
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