AUTORAS:
Camila Borges dos Santos
Cândice Moura Lorenzoni
Lúcia de Fátima Royes Nunes
EDUCAÇÃO ESPECIAL
JOGO TEATRAL
AUTORAS:
Camila Borges dos Santos
Cândice Moura Lorenzoni
Lúcia de Fátima Royes Nunes
1ª Edição
UAB/NTE/UFSM
Santa Maria | RS
2019
©Núcleo de Tecnologia Educacional – NTE.
Este caderno foi elaborado pelo Núcleo de Tecnologia Educacional da Uni-
versidade Federal de Santa Maria para os cursos da UAB.
MINISTRO DA EDUCAÇÃO
Abraham Weintraub
PRESIDENTE DA CAPES
Anderson Ribeiro Correia
VICE-REITOR
Luciano Schuch
PRÓ-REITOR DE PLANEJAMENTO
Frank Leonardo Casado
PRÓ-REITOR DE GRADUAÇÃO
Martha Bohrer Adaime
COORDENADOR UAB
Reisoli Bender Filho
DIRETOR DO NTE
Paulo Roberto Colusso
ELABORAÇÃO DO CONTEÚDO
Camila Borges dos Santos
Cândice Moura Lorenzoni
Lúcia de Fátima Royes Nunes
REVISÃO LINGUÍSTICA
Camila Marchesan Cargnelutti
Maurício Sena
APOIO PEDAGÓGICO
Carmen Eloísa Berlote Brenner
Keila de Oliveira Urrutia
EQUIPE DE DESIGN
Carlo Pozzobon de Moraes – Ilustrações e Diagramação
Juliana Facco Segalla
Matheus Tanuri Pascotini – Capa
Raquel Pivetta
PROJETO GRÁFICO
Ana Letícia Oliveira do Amaral
APRESENTAÇÃO
O mundo
Um homem da aldeia de Negua, no litoral da Colômbia, con-
seguiu subir aos céus. Quando voltou, contou. Disse que tinha
contemplado, lá do alto, a vida humana. E disse que somos um
mar de fogueirinhas.
— O mundo é isso — revelou —. Um montão de gente, um mar
de fogueirinhas.
Cada pessoa brilha com luz própria entre todas as outras. Não
existem duas fogueiras iguais. Existem fogueiras grandes e fo-
gueiras pequenas e fogueiras de todas as cores. Existe gente
de fogo sereno, que nem percebe o vento, e gente de fogo lou-
co, que enche o ar de chispas. Alguns fogos, fogos bobos, não
alumiam nem queimam; mas outros incendeiam a vida com
tamanha vontade que é impossível olhar para eles sem pesta-
nejar, e quem chegar perto pega fogo.
(Eduardo Galeano)
C
aro aluno-leitor é com grande satisfação que vamos trabalhar com você
neste semestre a disciplina de Jogo Teatral e Educação Escolar, para isso,
este Caderno Didático está dividido em cinco unidades e, em cada uma
delas, você terá a oportunidade de estudar as diferentes abordagens referentes ao
jogo teatral na educação escolar, com maior destaque para o ensino do teatro e as
práticas pedagógicas dentro da educação especial.
A partir da criatividade, da espontaneidade, da abertura e da disponibilidade
para vivência em jogos teatrais, é possível agregar essas atividades ao processo de
ensino e aprendizagem, especificamente, numa categoria onde os sujeitos pos-
suem necessidades especiais, pois se torna indispensável explorar, como também
valorizar as potencialidades inerentes de cada um.
Deste modo, faz-se necessária a exploração prática, ou seja, esta disciplina,
em razão de sua especificidade bem como sua relevância curricular, dar-se-á na
forma vivenciada/experienciada com jogos teatrais, improvisações e exercícios
cênicos de maneira presencial nos polos.
ENTENDA OS ÍCONES
Introdução ·11
1.1 Origem do Teatro, Jogos Dramáticos e Jogos Teatrais ·12
1.2 Teorias sobre imitação, brinquedo e Jogo ·15
1.3 O ensino do teatro e as tendências Pedagógigicas ·18
Introdução ·25
2.1 Segue conosco... ·26
2.2 Vamos experimentar o corpo? ·31
Atividade Unidade 2 ·34
Introdução ·37
3.1 Objetivos do Jogo Dramático ·38
3.2 Os objetivos do Jogo Teatral ·39
3.3 Alguns Jogos. Vamos Jogar? ·41
Atividade Unidade 3 ·43
Introdução ·47
4.1 Objetivos do Jogo Dramático ·48
4.2 Improvisação como elemento implícito no teatro formalizado/processo ·50
4.3 Improvisação como recurso explícito no teatro (quando algo acontece de
maneira inespesperada) ·52
Atividade Unidade 4 ·54
Introdução ·57
5.1 O teatro como expressão e comunicação ·58
5.2 O teatro como produto cultural e apreciação estética ·59
5.3 Objetivos, metodologia e avaliação no contexto da educação especial ·62
▷ CONSIDERAÇÕES FINAIS ·64
▷ REFERÊNCIAS ·65
12 ·
tante na consolidação do teatro, que é a Idade Média. Na Idade Média, a igreja
condenou o teatro devido ao grau satírico usado pelos atores (Mimos) como nos
confirma Courtney:
O teatro aflorou em um período durante o indecente mimo
romano satirizava a igreja e, portanto havia uma objeção emo-
cional; muitos dos costumes folclóricos pagãos continham um
elemento mimético e dramático e, portanto havia uma obje-
ção religiosa [...] (COURTNEY, 1980, p. 09)
Mas, a partir da adaptação feita por São Tomás de Aquino, a filosofia de Aristó-
teles conjugada à fé católica, o teatro surge como liturgia, conhecido como mis-
térios e moralidades que por cinco séculos instituíram-se na educação cristã das
massas. Não foi diferente aqui no Brasil com a chegada dos Jesuítas.
Baseados no modelo europeu, em que as representações serviriam somente
para a perpetuação da fé católica, ou seja, o teatro era um instrumento de ca-
tequese, os nativos que aqui residiam é que teriam de se adaptar à nova cultura.
Dessa forma, então, é obtida a origem do teatro no Brasil.
Somente no século XIX, houve uma literatura especificamente debruçada
sobre este binômio teatro e educação. Segundo Courtney (1980, p. 41), "Histo-
ricamente, a ressurreição do teatro na educação ocorreu quando as crianças da
Rainha Vitória e do príncipe Albert representaram Athalie e outras peças em suas
línguas originais". A partir desse momento, trabalhar teatro nas escolas passou a
ser um instrumento para auxiliar nas diversas disciplinas ministradas na época.
Foi no Século XX que houve um grande avanço entre teatro e educação: Cook
e seu Play Way (1917), que utiliza o faz-de-conta como um instrumento necessá-
rio para a aprendizagem das crianças. Ele afirmava que "atuar era um caminho
seguro para aprender" (COURTNEY, 1980, p. 44). Este método foi possível com
a difusão de uma educação "pedocêntrica", inaugurada por Rousseau, que vê a
criança como criança e a partir do mundo infantil é possível estabelecer a relação
de ensino e aprendizagem através dos jogos de faz-de-conta.
Nesse período, o movimento ganha mais força através de uma educação ativa,
o que não foi diferente em outros países. Aqui, no Brasil, ele passou a ser conhe-
cido como Escola Nova. A difusão do escolanovismo deu-se a partir das teorias de
Dewey entre os anos 20 e 30.
Nos anos 50, Peter Slade publicou Child Dram, nesse período o jogo ainda era
visto somente como atividade de entretenimento e/ou recreação. A partir da pu-
blicação da obra desse autor, o jogo passou a ser uma disciplina relevante para
o aprendizado da criança. O método de Slade consistia em: jogo pessoal e jogo
projetado.
No jogo pessoal, todo indivíduo integra-se no movimento e ca-
racterização; há uma tendência para o ruído e o esforço físico,
e a criança está atuando no sentido real - desenvolvendo-se no
que se refere a correr e jogos de bola, luta e dança, natação e
representação. No jogo projetado, a mente é mais usada que o
corpo, e a criança "projeta" uma situação dramática imaginá-
ria (COURTNEY, 1980 p. 46).
14 ·
1.2
TEORIAS SOBRE IMITAÇÃO,
BRINQUEDO E JOGO
Agora caro leitor, precisamos te apresentar alguns conceitos e termos utilizados
dentro da linguagem teatral.
Figura 1 - Imitação.
Fonte: NTE/UFSM.
16 ·
É no final desse século citado, no Romantismo, que começa o desencadear do
pensamento sobre a importância do jogo e da brincadeira na educação. Fröbel
apud Brougère (1998, p. 68), como um ícone do pensamento romântico, rompe
com a ideia do jogo como frivolidade e situa-o no lado sério, a Educação. Fröbel
idealiza a pedagogia infantil colocando o jogo no centro do processo de aprendi-
zagem, transformando dessa forma, a concepção antiga acerca do jogo.
É nesse período que a humanidade se volta às atividades infantis, constituindo
uma investigação de caráter científico, buscando e contribuindo com novas teo-
rias atreladas ao teatro e educação. Assim, podemos afirmar que, a partir do Ro-
mantismo é que assistimos ao nascimento da psicologia infantil e às novas con-
cepções de jogo e brincadeira. Na concepção contemporânea das teorias sobre o
desenvolvimento humano, destaco as teorias de Vigotski (1999) e Piaget (1971). É
possível afirmar que para ambos os autores o jogo também é mediador da apro-
priação da linguagem escrita, falada e também contribui para o desenvolvimento
cognitivo e afetivo em que o homem permeia sua evolução através das etapas de
amadurecimento.
Fonte: NTE/UFSM
.
A estrutura do jogo possui regras definidas, ou seja, determinadas leis que as-
seguram a reciprocidade dos meios empregados que proporcionam sua execução.
O jogo em si não possui caráter limitado, ao contrário permite ao jogador à explo-
ração da liberdade pessoal.
Enfim, o jogo e a brincadeira se originam no social e é pela vontade de co-
nhecer e coordenar as relações inter e intrapessoais que o homem joga e brinca.
Conforme a afirmativa de Elkonin (1998, p. 19), "Chegamos à conclusão de que o
jogo é uma atividade em que se reconstroem, sem fins utilitário direto as relações
sociais". Para o francês Jean Pierre Ryngaert o jogo engendra: “experiência sensí-
vel, experiência artística e relação com o mundo” (RYNGAERT, 2009 p. 34).
18 ·
1.3
O ENSINO DO TEATRO E AS
TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS
Compreendeu até aqui caro leitor?
Neste subitem arriscamos trocar o termo tendências pedagógicas, por possi-
bilidades de experimentação, a fim de desmistificar qualquer ideia de formato ou
mesmo dissolver a tendência de enquadrar o que quer que seja. Gostaríamos de
compartilhar contigo a ideia de possibilidades de trabalhar com a linguagem tea-
tral no ambiente educacional, o que vai além de qualquer “receita”, pois é impor-
tante considerar a pluralidade, a subjetividade e a experiência dos sujeitos que
se encontram nestes ambientes, principalmente quando falamos de alunos com
necessidades especiais. Partimos da ideia de que a escola é lugar de encontro, seja
para ensinar, aprender, experimentar, dividir, compartilhar, é um lugar vivo e mo-
vimentado pelo humano.
Figura 3 - Experimentações.
Fonte: NTE/UFSM
.
Este tipo de trabalho durou, no Brasil, até o ano de 1759 quando se deu a expul-
são da Companhia de Jesus devido às reformas do Marquês de Pombal. Segundo
Ribeiro (1993, p. 33) apud Gil (1999), a Cia de Jesus "(a) era detentora de um poder
econômico que deveria ser devolvido; (b) educava o cristão a serviço da ordem
religiosa e não dos interesses do país". Com isso, esta forma de unir o teatro à
educação, primeiro nesta vertente e depois na vertente leiga com a nobreza, ao
qual se dão as primeiras impressões do teatro na educação. Segundo Gil afirma:
20 ·
Condicionado, na maior parte das vezes, às comemorações
religiosas ou cívicas para agradar a classe dominante, seja no-
bre ou burguesa, o ensino do teatro no Brasil, orientou-se, por
mais de dois séculos, por uma pedagogia tradicional, ora da
vertente religiosa, ora da vertente leiga, alcunhada até nossos
dias pela expressão teatrinho de colégio. (GIL, 1999, p. 107).
22 ·
há outros estudos como os de Viola Spolin, Ingrid Koudela, entre outros, que as-
sumem na ótica essencialista o jogo teatral.
O jogo teatral inaugurado por Viola Spolin, nos anos 60, nos Estados Unidos,
marca o rompimento da concepção de que o teatro na educação serve de instru-
mento para aprendizagem de outras disciplinas. A autora enfatiza que a arte e o
fazer artístico na dimensão e profundidade, sustenta-se por si mesma, possibili-
tando ao sujeito, em contato com esta linguagem, o desenvolvimento na dimen-
são cultural e artística. Neste sentido, podemos afirmar que o conhecimento esté-
tico da arte se dá não somente como um processo de apropriação da linguagem,
mas também, possibilita a análise da obra acabada, executada por outros artistas.
Por mais que pese o estudo das diferentes abordagens em teatro na Educação,
há ainda a afirmação de que jogo teatral e jogo dramático têm o mesmo entendi-
mento, conforme pode ser comprovado nas palavras de Reverbel (1993), "ambos
significam a mesma coisa, e que a discussão é uma questão de nomenclatura, no
final das contas tudo é a mesma coisa [...]".
C
aro leitor, o corpo, os gestos, o olhar e a voz apresentam-se de modos dis-
tintos nas diferentes situações da nossa vida, pois nosso corpo é unidade
de ações e sentimentos, de sensações e sentidos. O corpo é potencialmente
criativo, mas para que entendamos isso, em nossa prática na sala de aula, preci-
samos construir conhecimento para além de uma lógica habitual, é preciso com-
preender o corpo, sentir o corpo, viver o corpo, e principalmente, ampliar nosso
repertório de consciência do corpo através da experimentação.
Os saberes do corpo estão em estreita relação com os saberes da experiência. A
educação do século XXI precisa olhar para estes sentidos e significados com aten-
ção, abertura e cuidado. É preciso entender que o corpo não está desconectado da
mente, que cognição e sensibilidade trabalham juntos, expressam-se juntos e para
compreendermos isso, vamos nesta Unidade 2, pensar no corpo e com o corpo, e
nas possibilidades de trabalha-lo na sala de aula.
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2.1
SEGUE CONOSCO...
Ao nos referirmos ao corpo, tema central deste capítulo, decidimos abordá-lo
como UNIDADE, por acreditarmos que o corpo ao longo de sua história foi se
constituindo de maneira fragmentada, característica que não queremos manter
aqui. Por isso, não iremos dividir em subitens e sim pensar o corpo de maneira
integral, onde todas as capacidades e competências a serem trabalhadas, conver-
gem em um corpo a ser desenvolvido de forma plena.
Cada pensamento, cada ação, cada passo, quando feitos de forma conscien-
te, geram uma sensação, uma qualidade corporal e cria uma atmosfera diferente
da forma habitual. O corpo, os gestos, o olhar e a voz apresentam-se de modos
distintos quando estamos felizes ou quando estamos tristes, pois nosso corpo é
unidade de ação e sentimento, de sensação e movimento. Pensar o corpo ultra-
passa o conjunto biológico dos órgãos, ossos, músculos, veias, etc. A este conjunto
estão associados sinais e significações complexas, que compreendem emoções,
sentimentos, memórias, que se encontram impressos no corpo como marca das
experiências vividas.
Deste modo, podemos descobrir num determinado objeto tamanho, textura,
temperatura, sabor, cor, superfície e outras possibilidades, também explorar ca-
racterísticas específicas, como resistência, maleabilidade, elasticidade, entre ou-
tras. É possível realizar ações sobre o próprio corpo, outro corpo ou objetos. Pen-
sá-lo é entendê-lo em suas potências criativas no tempo e no espaço.
O corpo não está desconectado da mente, eles trabalham juntos, expressam-
-se juntos, até pode ser predominantemente corpo ou predominantemente alma,
mas não se separam um do outro, existem sempre momentos de confluência.
Nesse sentido, faz-se necessária a construção de outra lógica de vivenciar os
acontecimentos; não só vivenciá-los, mas deixar que atravessem nosso modo de
pensar, agir e sentir. Percebê-los por outro prisma que não o da lógica habitual.
Transpor esses acontecimentos para o corpo é permitir envolver-se, sem querer
de imediato formar uma opinião, ou um conceito - isso é experiência.
Quando se propõe uma experiência corporal que foge da lógica habitual e que
exige outra postura, são geradas novas aprendizagens, pois o corpo busca o equilí-
brio pelo bem-estar, por isso “se você puder descobrir um caminho para recondu-
zi-lo ao equilíbrio, o corpo, que tem naturalmente uma afinidade pelo bem-estar,
pelo prazer, seguirá por essa via docilmente. [...] Toda situação de bem-estar, de
alívio, tende a ser repetida pelo corpo, através de sua memória.” (VIANNA; CAS-
TILHO, 2002, p. 27).
Fonte: Autora
A repetição, a prática, o treinamento além de mobilizar o corpo geram possi-
bilidades criativas, abrindo caminhos para a consciência corporal, estimulando
uma escuta interna que prioriza o processo individual na busca pelo autoconhe-
cimento e pela construção da autoimagem.
A dimensão sensível do corpo está sempre presente, mesmo que de forma in-
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consciente, pois está no tônus da pele, no gesto, no sorriso, no olhar. A memória
do corpo não fala somente do que já passou, mas fala também do que está acon-
tecendo agora, pois o corpo é uma estrutura dinâmica, viva, ativa, em constante
transformação. Para isso, Zanella afirma que:
3 saibamais: https://repositorio.ufsm.br/bitstre-
am/handle/1/6806/ANDRISAZANELLA.pdf?sequen-
ce=1&isAllowed=y
Fonte: Autora
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Partindo desses pressupostos, é preciso levar em consideração os conteúdos
desenvolvidos para este fim conforme Stokoe e Hard (1987), visando que eles
possuem uma metodologia específica, e por esta razão apresentam uma série de
passos ou ações que devem ser considerados, seja de forma sucessiva, alternada
ou integrada, e uma série de elementos e procedimentos que levam à realização
desses conteúdos de forma plena e absoluta. Veja a seguir:
Pesquisa - trata de experimentar as diferentes possibilidades de realizarmos as
ações, quer seja corporalmente em relação a nós mesmos, em relação ao outro, ou
a algum objeto. Nesse momento, é possível perceber o como, por quê e para quê.
Esse processo poderá ser dividido em dois itens:
1. observar fenômenos;
2. evocar fenômenos passados;
3. formar imagens novas;
4. imaginar;
5. concentrar-se;
6. desenvolver e diferenciar entre a imagem reprodutiva (imagem evocada) e a
imagem produtiva (imagem nova);
7. integrar as contribuições da natureza à vida cotidiana.
A partir dessas relações, é possível perceber três níveis de ação (em relação ao
outro) que são:
a) ação e reação: eu o empurro, ele também empurra; eu o empurro, ele resiste;
eu o empurro, ele cai;
Para que haja mudança de paradigma, ainda mais quando esse paradigma é
corporal, em busca de uma Educação Sensível, é necessário, além de uma modi-
ficação profunda no modo de vida, um alargamento da consciência e um treina-
mento do corpo, para ampliar o repertório corporal.
Por isso caro leitor, a nossa proposta é que você se permita vivenciar/experi-
mentar a partir do seu próprio corpo.
32 ·
2.2
VAMOS EXPERIMENTAR O CORPO?
Leitor, aqui trouxemos algumas atividades (SANTOS, 2013, p.48) e propostas para
que você possa se experimentar corporalmente. Entendemos que a experimenta-
ção corporal e a construção de uma consciência do corpo, deve partir primeiro do
professor, para depois propormos para os alunos.
• Acorda seu urso – Uma jogadora é eleita para ser o urso, que escolhe um
lugar para dormir. O urso quando acorda está com muita fome e sai à floresta para
caçar, mas sua presa sempre se disfarça de algum bicho ou de alguma planta da
floresta. Isso confunde o urso, impedindo-o de se alimentar. O objetivo desse jogo
é a agilidade corporal, pois além da movimentação rápida, característica de um
• Massagem rolo compressor – Uma colega solta o peso do seu corpo sobre o
corpo das outras colegas que estão deitadas uma ao lado da outra no chão. Na me-
dida em que vão girando no chão, deslocam o corpo da colega que está em cima,
massageando-a. O objetivo dessa massagem é relaxar.
• Jogo das afetações – Prestando atenção no estado corporal gerado pelas velo-
cidades, ampliar a escuta do corpo, agindo e reagindo as afetações propostas du-
rante o exercício. Muitos elementos podem afetar a jogadora como, por exemplo,
a movimentação da colega, a música, o vento que entra pela janela, a textura do
chão... O objetivo desse jogo é alargar a escuta, abrindo possibilidade de afetar e
ser afetado.
34 ·
rios de movimentos, bem como a relação que a dupla estabelece.
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3O JOGO DRAMÁTICO E
O JOGO TEATRAL:
TERMINOLOGIA E PRINCÍPIOS
METODOLÓGICOS
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INTRODUÇÃO
C
aro leitor, está conseguindo acompanhar até aqui? É importante fazer co-
nexões e articulações, pois agora vamos entrar em mais um elemento da
linguagem teatral: o jogo, que é de extrema importância. Está preparado?
Na Unidade 2, trouxemos algumas questões sobre o corpo, como: o corpo na
educação, o corpo na sala de aula e a maneira como nós, professores, podemos
trabalhar os sentidos e significados do corpo em nosso fazer docente, principal-
mente falando da linguagem teatral na Educação Especial. Neste sentido, uma vez
despertado o corpo, ele está pronto para agir, pronto para jogar. O corpo quando
em estado de jogo, não se traduz por um corpo performático, com objetivo de se
constituir artístico, mas um corpo cotidiano habitado por muitos significados a
partir da sua presença, ou seja, como chamamos no teatro, no aqui e agora. Quan-
do jogamos, nosso corpo está em estado de jogo, alerta, atento, acreditando na
ação que realiza, como por exemplo, em um jogo de pega-pega, não fingimos pe-
gar, simplesmente pegamos.
Assim, nessa Unidade 3, você disporá deste assunto pertinente acerca do tea-
tro e educação norteado pelo jogo. Discutiremos também, outras questões como:
é jogo dramático ou jogo teatral? É brincadeira ou é brinquedo? É algo conside-
rado frívolo? Qual é o tempo necessário para o aluno que possui necessidades
especiais se dispor ao jogo? E nós, professores/educadores será que realmente
jogamos? Ou apenas faz-de-conta?
Segue conosco para pensarmos juntos esta próxima unidade.
Fonte: NTE/UFSM
40 ·
mático é o jogo de faz-de-conta, o qual propicia aos indivíduos uma melhor per-
cepção do ambiente em que estão inseridos, ou seja, percebem a realidade que o
cerca.
O jogo é chamado de dramático porque, segundo a afirmativa de Faure (1982,
p. 12) " [...] lhes chamamos de dramático é para recordar o teatro e - tomando o
adjetivo no seu sentido etimológico - para acentuar a presença de uma ação". A
possibilidade de brincar de faz-de-conta desempenha função importante no de-
senvolvimento da inteligência da criança.
A partir desses jogos que a criança amplia as suas possibilidades/potencia-
lidades. O jogo dramático como processo de aprendizado e amadurecimento,
Lopes (1989, p. 59), nos aponta que "a vitalidade da expressão e da criatividade
correspondem as fases de evolução, ou estruturas organizadas e caracterizadas,
de forma que se torna possível a sua observação pelo jogo dramático, pintura ou
grafismo".
Fonte: NTE/UFSM
42 ·
-de-conta onde dramatiza personagens e fatos de sua experi-
ência, desde cowboys até pais e professores (...). Ao separar o
jogo dramático da realidade teatral e num segundo momento
fundido o jogo à realidade do teatro, o jovem ator aprende a
diferença entre o fingimento (ilusão) e a realidade, no reino de
seu próprio mundo. Contudo, essa separação não está implíci-
ta no jogo dramático e o mundo real frequentemente são con-
fusos para jovens e, ai de nós, para muitos adultos também.
(SPOLIN, 1979, p. 253)
• JOGO DO ESPELHO:
Foco: Esconder da plateia qual jogador é o espelho.
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• JOGO DO CÃO QUER SEU OSSO.
Foco: Aguçar a percepção dos sentidos
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4 IMPROVISAÇÃO: ESTRUTURA,
NATUREZA E SENTIDO
50 ·
com que alguns protagonistas interpretem um roteiro
improvisado a partir de determinadas senhas. [...] O
psicodrama permite, sobretudo à criança, reviver
seus conflitos, dando-lhe a oportunidade, de fazer
comédia, distribuir papéis, improvisar uma história.”
A improvisação também pode ser considerada uma técnica do ator que inter-
preta algo imprevisto, não preparado antecipadamente e "inventado" no calor da
ação. Há muitos graus na improvisação: a invenção de um texto a partir de um
canevas conhecido e muito preciso (assim, na Commédia dell'arte), jogo dramá-
tico a partir de um tema ou de uma senha, a invenção gestual e verbal total sem
modelo na expressão corporal, a desconstrução verbal e a pesquisa de uma nova
"linguagem física".
Fonte: NTE/UFSM
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A natureza do espetáculo cênico é configurada pelo caráter improvisacional,
ou seja, por mais que o ator esteja preparado e tenha ensaiado o texto, as mes-
mas ações, enfim toda a gama que compõe o espetáculo cênico, nunca este ator
fará uma apresentação igual a outra. Isto advém do fenômeno teatral constituir-
-se como algo imediato e possuir uma natureza momentânea como nos afirma
Chacra (1983, p. 15), "a natureza momentânea do teatro já prefigura por si só, um
caráter improvisacional na obra acabada".
O texto poderá ser entendido de duas formas que é o texto literário, ou seja,
a obra do dramaturgo (peça) e o texto teatral como um agregado de signos cor-
porais, gestuais, musicais, visuais, que compõem um espetáculo cênico. O texto,
no sentido de durabilidade pode ser considerado como obra congelada, ou seja,
encontramos, ainda hoje, textos muito antigos, como por exemplo, as tragédias
gregas, os textos shakespreanos, as tragédias da renascença, as comédias gregas,
romanas, etc. O que modifica no decorrer do tempo são as diferentes interpreta-
ções sobre a obra literária, ou seja, as concepções dos artistas para obter a obra na
forma de espetáculo cênico.
54 ·
4.3
IMPROVISAÇÃO COMO RECURSO
EXPLÍCITO NO TEATRO (QUANDO
ALGO ACONTECE DE MANEIRA
INESPERADA)
A improvisação como recurso cênico é bastante utilizada pelos atores no instante
da representação teatral. Quando há, por exemplo, o esquecimento do texto, ou
de uma cena, ou de algum elemento do cenário. Por mais que os atores ensaiem e
codifiquem suas ações no espetáculo, eventualmente, poderão surgir problemas
que devem ser solucionados em questão de segundos, ou seja, a solução aparece-
rá através de uma ação improvisada. Neste caso, especificamente, a improvisação
aqui está sendo utilizada como um recurso cênico. Como por exemplo, em um
espetáculo de teatro, o ator esquece uma cena inteira, e pula para a próxima, o
que fazer? Procurar-se-á a melhor forma de refazer a cena esquecida, através de
outras ações. Ou por ventura, em uma cena X, o ator utiliza um lenço para execu-
tar determinada ação, ao entrar em cena lembra que se esqueceu do seu objeto,
como improvisar?
Bem, a resposta para estas e outras tantas improvisações como recurso, só po-
derão ser efetuadas no instante do jogo, pois isso depende da relação do jogo en-
tre os atores, e a relação de ambos com a plateia, como também a capacidade do
ator de "inventar" algo aqui - agora.
Fonte: NTE/UFSM
Improvisação artística
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Improvisação coletiva
É realizada por não atores, ou seja, o espectador, quando este participa dire-
tamente da ação dramática, tendo como objetivo outras questões que não se re-
ferem à arte teatral em si. Geralmente são manifestações em lugares alternativos,
como fábricas, supermercados, praças, ruas, podendo tornar-se como parte fun-
damental de discussões políticas, sociais, culturais.
Partindo dessa premissa, encontramos aqui no Brasil o Teatro do Oprimido,
fundado por Augusto Boal nos anos 60 e que, segundo autores, é uma forma de
teatro cuja improvisação coletiva é relevante em seus espetáculos. Isto ocorreu
devido à necessidade de manifestar-se contra a reprodução tradicional do teatro,
como também a uma forma de descentralizá-lo, considerando que o fenômeno
poderia intervir nas discussões políticas, sociais e culturais da época. Dessa for-
ma, tem-se uma obra genuinamente brasileira, que está a serviço da intervenção
cultural de um povo.
No tocante à Educação, a improvisação coletiva manifesta-se através dos jogos
dramáticos e/ou teatrais propiciando ao educando o desenvolvimento pessoal,
grupal e artístico. Desta forma, dependendo da abordagem, a improvisação po-
derá desencadear processos de ordem psicológica, sociológica como também o
artístico conforme os objetivos da metodologia utilizada pelo profissional que a
ministra.
58 ·
5
O ENSINO DO TEATRO NO
PROCESSO DE ESCOLARIZAÇÃO
DOS ALUNOS DA EDUCAÇÃO
ESPECIAL
Fonte: NTE/UFSM
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Também é possível desenvolver a pesquisa, a elaboração e a utilização de ce-
nário, figurino, maquiagem, adereços, objetos de cena, iluminação, trilha sonora,
bem como de máscaras, bonecos e de outras formas de apresentação teatral. É
importante destacar também, que estes elementos estão a serviço da cena, dos
atores e do espetáculo, não de maneira decorativa, mas como algo imprescindível
para contar determinada história.
O teatro como expressão e como comunicação nos ajuda não só a entender
o mundo, mas também encontrar sentido para as nossas vidas e para tudo que
acontece ao nosso redor. Assim, acreditamos que a linguagem teatral é uma pos-
sibilidade potente e possível na Educação Especial.
Fonte: NTE/UFSM
64 ·
Para isso é preciso falar de aisthesis, que significa “aquele que nota, que perce-
be”, para os filósofos gregos significava sentir o mundo, não era meramente sen-
sação, pois no ato de sentir o mundo já damos sentido, um significado pra ele, ou
seja, sentir com significação. Assim, o corpo dá sentido, significações ao mundo a
partir do que consegue sentir, os gregos diziam que o conhecimento primeiro do
mundo é a aisthesis.
No século XVIII o filósofo alemão Alexander Baumgarten (1714-1762) utilizou a
palavra aisthesis, para criar em 1750 no sentido moderno, a palavra Estética como
“ciência do conhecimento sensível”. Propondo este tema dentro da filosofia, ele
afirmava que estética é nossa capacidade da sensível, ou seja, nossa capacidade
de dar sentido ao mundo através da sensível, da sensibilidade, dos sentidos. Ais-
thesis em português é traduzido como “ESTESIA”, no entanto utilizamos frequen-
temente seu antônimo que é anestesia, ou seja, incapacidade de sentir, perda da
sensibilidade. Nesta perspectiva sofremos, de certo modo na contemporaneidade,
uma anestesia dos sentidos e do corpo, pois nos acostumamos, por exemplo, com
o excesso ou com a falta de atividades e exercícios físicos, o paladar habituou-se
à comida congelada, industrializada e ao fast-food, o olfato pela poluição e pelo
tipo de cidade em que vivemos.
66 ·
5.3
OBJETIVOS, METODOLOGIA
E AVALIAÇÃO NO CONTEXTO
DA EDUCAÇÃO ESPECIAL
Leitor, chegamos ao último subcapítulo deste caderno didático e tentamos ao
longo deste livro apontar questões importantes para o entendimento do teatro no
contexto da Educação Especial. Até aqui discutimos a origem do teatro, algumas
teorias sobre os elementos constituintes do teatro, noções sobre o corpo, teorias
sobre o jogo e a improvisação teatral, o teatro como experiência estética. No en-
tanto, queremos destacar que para desenvolver a linguagem teatral é preciso colo-
car-se disponível e envolver-se com o processo que o teatro propõe.
No contexto da Educação Especial esta disponibilidade ao processo, também
exige deslocamento e abertura, tanto por parte dos professores quanto dos alu-
nos, para que seja possível atender as necessidades e interesses dos participantes,
a partir desta linguagem artística.
Fonte: NTE/UFSM
68 ·
tivar a atenção e a delicadeza, abrir os olhos e os ouvidos, fa-
lar sobre o que nos acontece, aprender a lentidão, escutar aos
outros, cultivar a arte do encontro, calar muito, ter paciência e
dar-se tempo e espaço. (LARROSA, 2014, p. 25)
Fonte: NTE/UFSM
Caríssimo Leitor, chegamos ao final deste material didático, mas temos consci-
ência que permanecemos refletindo, questionando e construindo o pensamento
acerca do ensino do teatro na educação especial.
Vimos ao longo deste caderno didático, a origem do teatro, algumas teorias e
tendências pedagógicas sobre a linguagem teatral. Vimos também qual a impor-
tância do desenvolvimento corporal na sala de aula, uma vez que é preciso pensar
o sujeito de forma integral, tanto cognitivo quanto sensível. Também tratamos da
temática, jogo dramático e jogo teatral, suas características e princípios meto-
dológicos. Abordamos outro importante elemento da linguagem teatral que é a
improvisação, estrutura, natureza e sentido. Também refletimos de que maneira
pode acontecer o processo da linguagem teatral na escolarização dos alunos da
educação especial.
Acreditamos que as Unidades apresentadas neste material didático, suscitarão
muitas questões acerca do ensino do teatro na educação. Questionamentos, que
possivelmente contribuirão na construção do conhecimento sobre esta lingua-
gem tão possível e potente na formação, tanto dos alunos quanto de você, pro-
fessor.
Para que o teatro seja uma linguagem potente na educação é preciso, que você
professor em formação, esteja disponível para outros processos dentro da edu-
70 ·
cação, propondo-se a enxergar a formação através de lentes sensíveis, através do
autoconhecimento na busca por ampliar seus próprios repertórios docentes.
No entanto, mais do que ampliar repertório, é preciso estar presente no tem-
po e no espaço na interação com o outro, é estar de forma sensível no tempo e no
espaço. Essa significação converge às necessidades de uma formação, que extra-
pola apriorismos cognitivos; uma formação que não prescinde de laços afetivos,
das aprendizagens mais sensíveis e que está comprometida com o desenvolvi-
mento global do ser humano.
A experiência artística, ou seja, o teatro apresenta-se na educação como re-
veladora, como transformadora, possibilitando a revisão crítica do passado, a
modificação do presente e a projeção de um novo futuro. Que tenhamos fôlego,
energia e vigor para deixar pulsar em nossas práticas diárias a formação sensível
e integral de cada sujeito, respeitando suas singularidades e características, pois
assim, poderemos construir uma educação e principalmente uma sociedade mais
humana.
_________. Pedagogia do Oprimido. 22a ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
72 ·
HUIZINGA, J. Homo Ludens. São Paulo: Perspectiva, 2000.
REVERBEL, O. Teatro na Sala de Aula. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Edi-
tora, 1979.
SARAMAGO, J. Ensaio sobre a cegueira. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
74 ·
___________. A Construção do Pensamento e da Linguagem. São Paulo: Martins
Fontes, 2001.
76 ·
APRESENTAÇÃO DOS
PROFESSORES
CAMILA BORGES DOS SANTOS – Atriz-Professora. Possui graduação em Ar-
tes Cênicas pela Universidade Federal de Santa Maria/UFSM (2007). Mestre em
Educação sob a Linha Formação, Saberes e Desenvolvimento Profissional pelo
Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Santa
Maria/UFSM (2013). Doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em Educa-
ção na Universidade Federal de Santa Maria/UFSM (2016). Atua nos Cursos de
Pedagogia e Educação Especial EAD da UFSM/UAB. É integrante do Grupo de
Estudos e Pesquisas em Educação e Imaginário Social - GEPEIS/ UFSM. Desta-
ca-se como atriz nas produções Teatrais e Interventivas da Saca-Rolhas Teatro &
Cia. Tem experiência na área da Educação com destaque na formação de pro-
fessores e experiência na área das Artes Cênicas com ênfase em Direção Teatral,
Interpretação Teatral e Produção Cultural.