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O PROBLEMA DA EVOLUÇÃO DA CIÊNCIA

Popper Kuhn

Problema Como progride a ciência?


Como evolui o conheciento científico
Tese Sim, a ciência progride, ainda Não, exceto no período da ciência normal
que de forma irregular, por (alargamento do âmbito da explicação do paradigma
aproximação a verdade. em vigor).
Argumentação Segundo Popper nunca Kuhn, rejeita a ideia popperiana de que a ciência
podemos garantir que uma progride em direção à verdade. A história da ciência
Obs. teoria científica é verdadeira. é simplesmente uma sucessão de paradigmas e isso
Os indutivistas Então parece não ter sentido não significa que esteja a caminhar para a verdade.
pensavam que a pensar que a ciência progride, Em suma, segundo Thomas Kuhn não há progresso
ciencia progride mas para Popper basta científico no sentido de que cada teoria seria um
de uma forma considerar que as teorias atuais modo mais fiel (mais objetivo) de representar a
linear, sempre no são melhores do que as realidade. A sucessão de paradigmas não acontece
mesmo sentido, anteriores para se poder falar segundo padrões estritamente racionais e objetivos.
sem desvios nem em progresso científico. O único período da ciência em que o progresso é
ruturas, em
Ou seja, a ciência avança ou cumulativo (novos conhecimentos juntam-se aos
direção a um
progride por um processo de anteriores) é o da Ciência normal (evolui na
conhecimento
cada vez mais eliminação ativa de erros continuidade).
completo da procurando falhas nas teorias, Se pensarmos na Ciência na sua totalidade, incluindo
realidade de modo a substituí-las por as mudanças de paradigma (revoluções científicas),
(cumulativo) em outras cada vez melhores, que então não há progresso. Não há forma de dizer que
direção à verdade. evitam os problemas das o novo paradigma representa um maior avanço em
anteriores e que sejam direção à verdade (incomensurabilidade dos
comparativamente mais paradigmas). Os paradigmas são diferentes, mas
explicativas num processo não melhores nem piores de um ponto de vista
parcialmente cumulativo, e por objetivo. O novo paradigma não é necessariamente
um processo de contínua uma melhor interpretação da realidade. A
aproximação à verdade comunidade científica muda de paradigmas, mas não
(teorias cada vez mais há forma objetiva de provar que a mudança é um
verosímeis), embora a verdade crescimento do conhecimento em direção à verdade.
última seja inalcançável. A verdade é relativa a um paradigma, e por isso
O progresso científico, nenhum é «mais verdadeiro» do que outro. Não há,
mediante a eliminação de erros, em termos estritamente objetivos, progresso
é uma evolução em direção a científico por haver mudança de paradigma. Não há
uma meta ideal inalcançável: o aproximação à verdade na evolução da ciência
ideal da verdade como espelho porque não podemos determinar se um paradigma
fiel da realidade. é superior a outro (tese da incomensurabilidade dos
paradigmas).

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O PROBLEMA DA OBJETIVIDADE CIENTÍFICA
Popper Kuhn

Problema A ciência é objetiva?


Para que a ciência seja objetiva é necessário que a avaliação e escolha das teorias seja feita com
base em critérios imparciais, isto é, em critérios que não sejam baseados em preferências de
caráter pessoal.
Tese Sim, a ciência é racional e Não, a ciência não é totalmente objetiva.
objetiva.
Argumentação A ciência é racional e objetiva Kuhn não concorda com Popper, pois a escolha entre teorias
porque os cientistas propostas por paradigmas é feita aplicando critérios objetivos,
submetem as teorias ou mas cuja aplicação é em grande parte subjetiva, tais como:
hipóteses a testes empíricos 1 ‒ Exatidão: exprime o acordo entre as previsões das teorias que
rigorosos ou severos de compõem o paradigma e os resultados do trabalho experimental
falsificação – pela tentativa de dos cientistas, isto é, quanto mais exatas forem as previsões,
aplicação do modus tollens na melhor é a teoria;
procura ativa de 2 – Consistência: exprime a compatibilidade das teorias
contraexemplos. As teorias fundamentais do paradigma com outras teorias aceites pela
científicas são descrições da comunidade científica, isto é, quanto mais uma teoria estiver de
realidade e dão-nos uma acordo com outras aceites, melhor é;
imagem cada vez mais 3 –Amplitude: exprime o alcance das teorias que compõem o
aproximada e isenta de paradigma e a sua capacidade de abranger o maior número
preconceitos da realidade. As possível de fenómenos dentro do paradigma, isto é, quanto mais
novas teorias corrigem ou coisas uma teoria conseguir explicar, melhor é. Ex: uma teoria
substituem as anteriores. Por que explique todos os tipos de movimento tem um alcance maior
isso, a Ciência é um do que uma teoria que explique apenas um tipo de movimento;
conhecimento objetivo porque 4 –Simplicidade: um paradigma é tanto mais simples quanto
a aplicação do modus tollens menor o número de leis a que faz apelo para explicar os
não depende de fatores fenómenos e quanto maior o número de fenómenos que essas leis
subjetivos. conseguem explicar isto é, quanto mais simples for uma teoria,
melhor é;
5 –Fecundidade: exprime a capacidade do paradigma de
possibilitar novas descobertas científicas isto é, quanto maior for
a capacidade para conduzir a novas descobertas científicas,
melhor é a teoria.
Em suma, Thomas Kuhn defende que estes critérios são
insuficientes para ditar uma escolha objetiva entre teorias ou
paradigmas. Por um lado, esses critérios são vagos, pelo que a
sua aplicação é bastante subjetiva; por outro lado, esses critérios
podem entrar em conflito, e o modo como os conflitos são
resolvidos também é subjetivo, pois depende daquilo que cada
cientista valoriza mais. Uns cientistas podem dar mais
importância a um critério (fecundidade), ao passo que outros
valorizam outros critérios (simplicidade, etc) .
Kuhn considera que a mudança de paradigma não é determinada
por critérios estritamente objetivos, mas por uma combinação de
fatores científicos e extracientíficos – subjetivos - (prestígio do
cientista, interesses e gostos pessoais, ideologias ou convições
religiosas, modo de interpretar os critérios objetivos, etc).

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