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Mapeamento Social Da Capoeira em Florian Polis 15968236631292 3180
Mapeamento Social Da Capoeira em Florian Polis 15968236631292 3180
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Distribuição Gratuita – Venda Proibida
2• Fórum da Capoeira da Grande Florianópolis
M297
Mapeamento social da capoeira em Florianópolis / Textos de Anderson José Libânio,
Azânia Mahin Romão Nogueira, Douglas Ladik Antunes, Jeruse Maria Romão,
Joseane Corrêa, Rosa Cristina Costa, Rossano Lopes Bastos, Valmir Ari Brito.
Florianópolis: Cruz e Sousa, 2019.
24p.; Color; 18 x 24,0 cm.
ISBN 978-85-907093-3-6
Milton Santos
O Fórum da Capoeira da Grande Floria- para a participação nas rodas da cidade, o Fó-
nópolis, criado em 8 de março de 2014, é um rum apresenta este trabalho, o Mapeamento
espaço aberto de discussão e de articulação Social da Capoeira.
permanente, composto de camaradas com- A capoeira é luta social e política. Não
prometidos com a capoeira, formado por re- devemos ser capitães do mato na roda, lutar
presentantes de vários grupos e associações da uns contra os outros. Temos, ao contrário,
Grande Florianópolis, dos diversos estilos, li- que nos unir para o rompimento da estru-
nhagens e vertentes. tura atual de nossa sociedade desigual, que
Seu principal objetivo é ser um espaço de cultiva os princípios do egoísmo, individua-
debates, promoção de encontros, aproxima- lismo e opressão. Parafraseando Paulo Freire,
ção dos grupos e conjugação de esforços para quando a capoeira não é libertadora, o sonho
a politização dos capoeiras e para a elabora- do oprimido é ser opressor. Temos que nos
ção de propostas e ações de políticas públicas libertar da alienação, da opressão, e lutar na
orientadas a dar maior visibilidade à capoeira roda e na vida por uma sociedade mais justa.
na região. Além da organização e promoção da Vamos “simbóra”, camaradas, nas rodas e
Semana da Capoeira, a divulgação e incentivo na rua… Força na Luta!
Um breve histórico da
capoeira em Florianópolis Por Anderson José Libânio
(Contramestre Rato)
Assim como é difícil demarcar com preci- o artigo 63 desautorizava escravos a jogar nas
são o ponto inicial da origem da capoeira no ruas, praças, bosques ou esconderijos.
Brasil, o mesmo acontece em Florianópolis. Em favor dessa hipótese, o Mestre KBlêra
Tomando como referência o contexto (Marcelo Stotz) relata que em um de seus trei-
apresentado por Martha Rebelatto, as lutas, as nos na Beira-Mar Norte, na década de 1980,
estratégias de resistência e o trânsito de escra- foi abordado por um senhor negro de 70 anos
vos africanos também se fizeram presentes e este lhe contou que seu avô fazia a mesma
na Freguesia de Nossa Senhora do Desterro. prática em frente à Igreja de Santo Antônio de
Segundo Mário Sérgio Fregolão, é possível Lisboa quando trabalhava lá.
pensar que em todos os lugares em que exis- O Mestre Tuti (Fernando Bueno) levan-
tiu concentração de escravos houve capoeira- ta a possibilidade de a capoeiragem ter sido
gem, com nomes distintos e particularidades trazida para cá por meio dos negros escravos
de cada local. O autor menciona o Código de que trabalhavam nas armações baleeiras. As
Posturas da Câmara de Desterro do ano de autoras Beatriz Mamigonian e Josiane Vidal
1845, no qual o artigo 38 proibia o batuque e apoiam essa afirmação apontando o fato de
Roda de capoeira na Praça XV organizada pelo Mestre Pop, em 3 ago. 1985. Acervo: Mestre KBlêra.
Mapeamento Social da Capoeira em Florianópolis
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A capoeira:
concepções e outras
manifestações
Por Valmir Ari Brito (Mestre Jimmy Wall) e
Douglas Ladik Antunes (Anzol)
Patrimônio cultural
arqueológico: capoeira e a
cartografia do passado
Por Rossano Lopes Bastos
A proposição trazida aqui vem somar es- visibilizar os “grupos vulneráveis”, em especial
forços transdisciplinares com o objetivo de os negros em situação de exclusão, vítimas de
aproximar os campos de pensamento do pa- racismo e intolerância nas suas práticas cultu-
trimônio cultural arqueológico e a cartogra- rais e sociais. Para isso, junto com eles, procu-
fia social. Nosso empreendimento deriva de ramos abordar e demonstrar como se forma
uma prática coletiva, o projeto Mapeamento a categoria do “Patrimônio” e como ele pode
Social da Capoeira em Florianópolis, do De- ser entendido como um aparelho ideológico
partamento de Design do Centro de Artes de Estado. Em função disso, compreendemos
da Universidade Estadual de Santa Catarina o patrimônio cultural arqueológico afro-bra-
(UDESC). O patrimônio cultural arqueológico sileiro, seus desdobramentos na contempora-
foi escolhido por ser uma categoria de pensa- neidade, sua apropriação e as novas e antigas
mento e abordagem que nos permite abarcar formas de silenciamento como conteúdo dos
uma gama de paisagens, artefatos, símbolos e direitos humanos.
sítios que apontam para uma pluralidade de Santa Catarina tem uma população mul
entendimento e interpretação da realidade tiétnica, todavia a política de Estado procura
que nos possibilita problematizar a questão da fomentar de todas as formas a supremacia dos
cartografia social. colonizadores europeus, em detrimento dos
A importância da luta contra o racismo es- indígenas, dos negros e ciganos. Nesse contex-
trutural e estruturante no Brasil passa pelas to, o conhecimento, a formação e o despertar
memórias silenciadas e pela invisibilidade do para as possibilidades que a arqueologia traz
patrimônio cultural do povo negro no país. A para o entendimento e a construção da visibili-
arqueologia tem oferecido importante contri- dade do patrimônio cultural arqueológico plu-
buto à construção de um patrimônio cultu- ral tornaram-se lugar-luta. Então, na medida
ral arqueológico plural. Nosso trabalho busca em que avança o conhecimento arqueológico
Mapeamento Social da Capoeira em Florianópolis
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-27°42′0″
Fonte de Dados: IBGE – Limite dos Municípios Brasileiros
Sistema de Referência de Coordenadas: Sirgas 2000
Desenvolvido no Software Livre QGis 2.18
Locais de Roda: Locais de Mestres:
1. Roda do Mercado 1. Pop
2. Roda da Figueira 2. Elma
3. Roda da Catedral 3. Habibis
4. Roda do Calçadão 4. Gerry
5. Roda da Lagoa 5. Calunga
6. Roda da Barra 6. Demétrius
Fórum da Capoeira da Grande Florianópolis
-27°48′0″
12. Roda da Associação 12. Pinóquio
Quilombola 13. Jimmy Wall
14. Cruz
Locais de Rodas Intermitentes:
15. Salmir
1. Roda do Trapiche
16. Diogo
2. Roda de Canasvieiras
17. Chiquinho
3. Roda da Escadaria do
18. Adão
Rosário
10•
-48°36′0″ -48°30′0″ -48°24′0″
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-48°36′0″
27°35′42″S
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Mapeamento Social da Capoeira
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LOCAIS DE RODAS TRADICIONAIS
nto
DO CENTRO DE FLORIANÓPOLIS
Realização:
Fórum da Capoeira da Grande
Florianópolis
27°36′0″S
27°36′0″S
-48°24′0″
Cartografia e Assessoria:
Aquiles Schlüter, Douglas Ladik Antunes,
Ana Lordello
-27°36
-27°42′0″
1:170.000
-27°42′0″
2.5 0 2.5 5 km
Mapeamento Social da Capoeira
em Florianópolis
LOCAIS DE ENSINO DE CAPOEIRA
EM FLORIANÓPOLIS
Realização:
Fórum da Capoeira da Grande
Florianópolis
Cartografia e Assessoria:
Aquiles Schlüter, Douglas Ladik Pinho Bernardes
Antunes, Ana Lordello
-27°48′0″
Fonte de Dados:
-27°48′0″
IBGE – Limites dos Municípios
Brasileiros; CIRAM – EPAGRI
Sistema de Referência de
Coordenadas: Sirgas 2000
Desenvolvido no Software Livre QGis
2.18 Las Palmas
-48°36′0″ -48°30′0″ -48°24′0″
Legenda
Nº Nome do Responsável Grupo Nº Nome do Responsável Grupo Nº Nome do Responsável Grupo
1 Cavalo Aliança Capoeira 20 João Nilson Abolição 39 M. Habibis Cordão de Ouro
2 Morta — 21 M. Pinóquio Quilombola 40 João Gilberto Angola Palmares Sul
3 Batman Herança Capoeira Escola Brasileira de 41 Aníbal —
22 M. Cruz
Capoeira
4 Pantera Grupo Sinhá Bahia 42 Kamila FICA
23 Jô Angola Palmares
5 M. Tainã — 43 M. Salmir Vadiação Capoeira
24 Bode ABADÁ
6 Rato, Minnie Maré Brasil 44 Jarí A. C.A.P.O.E.I.R.A.
25 M. Kadu Gunganagô
7 M. Cascão Sinhá Bahia 45 Sid Fortaleza da Ilha
26 Sardinha/Gil Black Quilombo
8 Roseta Mandinga 46 Deco Camboatá
27 M. Chiquinho Beribazu
9 M. Demétrius Sinhá Bahia Guerreiros de Pal-
47 Caveira
28 Téo Ginga Erê mares
10 Pica Pau Maré Brasil
29 M. Polegar/Danuza Angola Palmares 48 Majé Áfricanamente
11 Carioca —
Fórum da Capoeira da Grande Florianópolis
-48°36′0″
-48°30′0″
-48°24′0″
Para tratar dos fundamentos da capoei- esses conhecimentos, é necessário que tenha
ra, nada mais oportuno que começar pelas formado discípulos. Para a Capoeira Angola,
religiões afro-brasileiras. Não queremos di- por exemplo, tornar-se mestre requer muito
zer que a capoeira é religião, e sim destacar tempo de prática em um grupo (seu lugar de
certos “pontos de encontro” entre as religiões “origem” e primeiro lugar de seu reconheci-
afro-brasileiras e a capoeira, mesmo que de mento enquanto mestre). Essa prática se divi-
forma indireta. Como dito pelo pesquisador de em dois estágios: de iniciante (ou aluno) e
Waldeloir Rego, “de início, tenho a afirmar de contramestre.
que entre a capoeira em si e o candomblé Como aluno, são aprendidos os movi-
existe uma independência [...] o que exis- mentos básicos da capoeira: a ginga, os golpes
te vem por vias indiretas. É o capoeira que é e esquivas, quedas, os cantos, o toque dos ins-
onorixá (filho de santo), Mestre Caiçara feito trumentos que compõem a bateria (berim-
de Logum e Dé. Quando não é isso, é Oloyê bau, atabaque, pandeiro, agogô, reco-reco). Já
(dono de título onorífico)”. o contramestre é aquele que pode ministrar
Entre os principais fundamentos, que aulas, que está mais presente nas rodas da sua
vêm por vias indiretas das religiões afro-bra- cidade e, com isso, passa a ter maior reconhe-
sileiras, para a capoeira podemos destacar a cimento. Ele participa e organiza eventos de
figura do mestre. O mestre é aquele que de- capoeira. Em outras palavras, o contrames-
tém o conhecimento sobre a musicalidade, tre conquista maior responsabilidade sobre
os movimentos, os fundamentos, os cantos, a arte. O mestre, após passar pelos dois está-
etc. Para o mestre, além de possuir todos gios anteriores, passa a ter reconhecimento
Mapeamento Social da Capoeira em Florianópolis
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do o grande Mestre Pastinha, “o mestre é o les que tocam qualquer instrumento, cantam
zelador da capoeira, é aquele que cuida para e compõem; os Griots “embaixadores” (e cor-
que a capoeira não se descaracterize”. Acredi- tesãos) – aqueles responsáveis pela mediação
tamos que os mestres podem ser comparados entre as grandes famílias em caso de desa-
aos Griots africanos, que eram considerados venças; e os Griots genealogistas – aqueles
histórias. Os Griots ou sábios falam dos deu- mesmo tempo) e que são contadores de his-
que animam as recreações populares. Eles O mestre, visto como o sábio, o velho, tem
um lugar de grande respeito e reserva seu
papel de ensinamento, na legítima concep-
ção de “maestria”. Diferentemente de muitas
sociedades africanas, das religiões afro-bra-
sileiras e da capoeira, na nossa sociedade a
velhice é concebida, grosso modo, como a
16• Fórum da Capoeira da Grande Florianópolis
* Fala da Professora Jeruse Romão no Seminário Mapeamento Social da Capoeira, realizado no dia 04 de agos-
to de 2018 no Auditório do Museu Cruz e Sousa.
18• Fórum da Capoeira da Grande Florianópolis
teimosa, ainda sinto que precisamos na ca à capoeira. Essas pessoas precisam ser crian-
poeira trabalhar com os aspectos de gênero. ças na capoeira, jovens na capoeira, adultos na
Há uma política de higienização e eugenia capoeira, mas precisam também ser velhos, e
no espaço da cidade. Já houve várias ondas velhos demandam uma série de outras po-
nesse sentido, e novamente estamos vivendo líticas para dar acolhimento a esses mestres.
essa mesma onda de higienização e eugenia, Os nossos anciões, todos eles, representados
na cidade em que pretos, pobres, de culturas por aqueles que estão aqui, não são só uma
marginais, aquelas não ocidentalizadas, serão autoridade dentro da capoeira, os mestres da
banidos do uso da cidade, do espaço público. capoeira são autoridade dentro do panteão
Por isso, a cartografia é um dos instrumentos civilizatório africano vivido em Florianópo-
políticos mais importantes, pois consolida, lis. Portanto, os mestres acadêmicos são de
dessa maneira, a cidade, com esse olhar de uma natureza, os mestres da capoeira são de
matriz africana mais hábil, mais consolidado. outra. E sem sombra de dúvidas, ao meu re-
Mas precisamos pensar em política pública, conhecimento, quem deveria estar assinando
guardar e salvar alguns territórios tradicio- os nossos certificados na nossa vida como ne-
nais da cultura da capoeira, salvar e guardar gros e negras são os mestres da capoeira.
os ofícios dos mestres de capoeira, sobretudo Usem a força que está nas mãos e nos pés
aquelas pessoas que se dedicaram a vida toda de vocês!
A capoeira e os territórios
negros em Florianópolis
Por Azânia Mahin Romão Nogueira
Os territórios negros, como expressão es- na conquista de territórios, por isso a capoei-
pacial, são definidos a partir de relações de ra se apresenta como linha de frente na salva-
poder focadas na perspectiva racial, onde a guarda de dois territórios: como luta/dança,
identidade negra se faz presente, seja pela au- defende o corpo negro, sendo instrumento
todeclaração daqueles que se apropriam da- de resistência à dominação colonial; e como
quele espaço, seja pela presença de marcado- expressão cultural, é um dos pilares da cul-
res culturais e simbólicos negros. tura afro-brasileira, resistindo aos processos
O corpo também é um território. Isso por- de higienização da identidade do nosso país.
que somos percebidos e percebemos o mun- Dessa forma, a capoeira é um importan-
do, primeiramente, a partir de nossos corpos. te marcador que define os territórios negros.
Ele carrega nossas identidades e nele estão Em Florianópolis, observamos a presença de
expressos nossos pertencimentos, de gênero, rodas de capoeira em diversos territórios ne-
raça, classe, geração, entre outros. É também gros do município. Desde 1988, é no Mercado
a partir dos corpos que se dá o primeiro passo Público – tradicional território negro – que
Mapeamento Social da Capoeira em Florianópolis
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ocorre a tradicional Roda do Mercado, onde transformaram num marco cultural. Aqui,
capoeiristas se encontram aos sábados. Por o novo mercado, arquitetado por aqueles
três décadas, as manifestações culturais ne- que detêm o poder econômico, condiz com
gras resistem às mudanças impostas por uma o projeto de cidade voltada para o capital
concepção urbanística que busca eugenizar turístico elitista.
os espaços populares de sociabilidade. Porém, a capoeira, juntamente com os
Apesar de leis e datas comemorativas clubes negros, os terreiros, as rodas de samba
que protegem e demarcam a relevância de e outras expressões culturais negras, resistem,
determinadas expressões culturais no mu- mostrando a força ancestral da cultura afro-
nicípio, o processo de desterritorialização -brasileira e o compromisso dos capoeiristas
da população negra no Mercado Público com a luta antirracista e com a defesa dos ter-
terminou por retirar elementos caracterís- ritórios de resistência negra.
ticos dele, transformando-o num espaço
estéril, privando o acesso daqueles que o
22• Fórum da Capoeira da Grande Florianópolis
Mapeamento Social
da Capoeira
Por Douglas Ladik Antunes (Anzol)
Realização
FÓRUM DA CAPOEIRA
DA GRANDE FLORIANÓPOLIS
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