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Quanto à quebra de paradigmas ocorridas na historiografia do século XX Peter Burke em sua obra O
que é a História Cultural no fornece a presente reflexão “Se houve um momento em que era possível, e
até mesmo normal, que os historiadores ignorassem Nietzsche ou Wittgenstein, ficou cada vez mais
difícil fugir às discussões sobre a relação problemática entre a linguagem e o mundo externo que ela antes
supostamente ‘refletia’. O espelho foi quebrado (BURKE, 2005, p.100)”.
A História cultural tem como principais antípodas o marxismo, com seu
materialismo histórico dialético firmado na ideia de luta de classes como força motriz e
mote de análise; do historicismo, bem como do já citado positivismo. Temos, portanto,
nesse período, “a efetivação da sociedade burguesa e a implantação do capitalismo
industrial (BORGES, 1993, p.35). Isto é posto com o intuito de nos fazer compreender
quais são os modelos de representação que a História Cultural, surgida no ocaso do
século XX, contrapõe. Outro movimento de ruptura de fundamental importância foi A
Escola do Annales.
DESENVOLVIMENTO
Claro que esse é um dado que beira a obviedade, mas nem sempre foi dessa
maneira, antes havia, assim como quanto a outros conceitos, ideias cristalizadas quando
nos propúnhamos a entendê-los. Dito de outro modo, a identidade é uma criação que
passa por um determinado crivo, tendo a interpretação como ponto crítico quanto a
construção de uma ideia.
Assim, fazendo uma análise da realidade local, à luz da História Cultural, talvez
a ideia de identidade piauiense, respeite um determinado mote epistemológico que tenha
como fulcro a ideia de identidade como diferença e negação (sou piauiense, pois logo
não sou cearence ou maranhense), como uma territorialização, uma dada circunscrição
idearia que prime por uma perspectiva de caráter dual e por vezes reativa.
[...] pode-se dizer que a proposta da História Cultural seria, pois, decifrar a
realidade do passado por meio das suas representações, tentando chegar
àquelas formas, discursivas e imagéticas, pelas quais os homens expressaram
a si próprios e o mundo. Torna-se claro que este é um processo complexo,
pois o historiador vai tentar a leitura dos códigos de um outro tempo, que
podem se mostrar, por vezes, incompreensíveis para ele, dados os filtros que
o passado interpõe.
Em Identidade e Diferença: Uma Introdução Teórica e Conceitual, Kathryn
Woodward nos apresenta uma discussão acerca de conceitos envolvendo questões
relacionadas à identidade e à diferença.....a identidade também está ligada a ideia de
diferença e negação. Logo, temos as relações identitárias entre os indivíduos como
problema disparador.
Destarte, símbolos podem estabelecer relações de diferença e identidade, tal
como no exemplo de um cigarro, que embora sirva para a mesma função (fumar), é
considerado diferente nas duas regiões em guerra (Sérvia e Croácia), exatamente por
carregar consigo características de uma dada identidade que se efetivam a partir da
representação deste objeto.
A partir do que a autora denomina de essencialismo, esta identidade pode ser
considerada fixa, isto é cristalizada, por padrões que não se alteram com o passar do
tempo, mantendo deste modo um núcleo perene no âmago de sua representação, ao
oposto do não essencialismo, que acredita na contingência desta.
Ao longo do texto notamos que autora aponta para o fato da identidade se
constituir a partir da diferença