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DISCIPLINA: COMPOSIÇÃO 2 - Docente: Prof. Dr.

Roberto Victorio
Discente: Jader Evangelista Gonçalves
ANÁLISE DO FILME BARAKA
Assistir o filme observando “partituras”, musica do estado in natura,
como se utiliza dois eixos (motes) 2 motivos e como se desenvolve, pensando
como ele se desenvolve, como ele cada momento dos rostos e sua lógica.
Pensar nas conexões, pensar no processo simbiótico entre as músicas dos
povos. Um jogo do sacro e o profano.

SOBRE O FILME

Filmado em 24 países, “Baraka” desperta a curiosidade sobre as


diferentes culturas, mostrando rituais religiosos e fenômenos da natureza. O
filme ficou pronto depois de 11 anos. Baraka é uma palavra Sufi que significa “o
fôlego da vida”. Baraka é uma antiga palavra com significados em várias
línguas que pode ser traduzida como bênção ou como o sopro ou a essência
da vida de onde se desencadeia o processo da evolução. “Baraka” , através
de uma turnê poética e transcendental em 24 países, em seis continentes do
globo, é de tirar o fôlego. Ambientado ao som de ritmos vívidos de vários rituais
religiosos e ao próprio som da natureza, “Baraka” é a reprodução visual da
ligação humana com a Terra. Ao visitar lugares tão diversificados como China,
Brasil, Kuwait e a maior parte das paisagens dos EUA e da Europa, dentre
outros países, “Baraka” captura não só a harmonia, mas também a calamidade
existente na humanidade e na natureza. Entretanto, meras palavras não fazem
jus ao filme – “Baraka” deve ser visto, sentido e vivido para ser compreendido.
Através desse jogo de imagens de tirar o fôlego, logo vemos alguns temas que
ele pretende trabalhar ao longo do filme com maior ênfase: a relação dos
homens e mulheres com a religião. Essa certamente é a maior pérola do filme,
pois temos apresentações de rituais fabulosos desde tribos afastadas que
herdaram costumes milenares até aos ritos mais conhecidos pelo espectador
como as cerimônias especiais budistas, muçulmanas e judaicas. O diretor
realmente captura imagens espetaculares, além de a trilha musical ser
bastante adequada para cada ritmo exibido em tela – isso quando não usa os
ritmos propriamente diegéticos vistos em tela. Enquanto essas imagens
transmitem um fascínio cheio de personalidade também funcionando como
registros valiosos dessas civilizações, Fricke opta por escolhas um tanto dúbias
que tornam Baraka um longa mais desconjuntado. Enquanto focado na religião,
costumes, etnias, exotismos, tabus e na natureza exibindo pequenos segredos
do nosso mundo sob um olhar fotográfico milagroso, realmente Baraka é
excepcional em sua proposta.
Trilha Sonora: Dead Can Dance, Michael Stearns, L. Subramaniam

Para entendimento de forma composicional as ideias de cenas e som,


separei diversas cenas para vislumbre da idéia central deste documentário.

Cena 1

A primeira cena deste filme e esta tela escura. O som da flauta traz a ideia de
início, um certo primitivismo, apesar de a tela ser negra, nos remete a “uma tela
em branco” para criação. O som da flauta que rabisca essa tela nos leva a
imaginação de qual será a criação que surgirá em meio a este visual escuro. O
terceiro fraseado explode com Cena 2 da montanha, na batida do bombo
suave e o forte da flauta, criando o nuances que será presente em diversas
cenas seguintes.
Cena 2

Exemplo: Essa cena nos remete ao mundo natural sem intervenção humana

Cena 3

Esta cena apresenta a montanha natural com as interversões humanas, e


neste ponto o desenho do fraseado (frase 4 e 5) muda de extensão e aumenta
algumas notas. Dá para perceber que o compositor foi bastante cuidadoso e
demostrar a imagem através do som.

Cena 4 – As cenas 3 e 4, são como o céu e os abismo, o topo e sheol, o santo e o profano.

Cena 5
A flauta abre essa cena executando (frase 6) uma oitava acima do tema inicial
(frase 1), com desenhos métricos parecidos com efeitos e prolongamentos nos
finais de frase, como se fosse encaminhar para o finalização do tema ou
mudança de cenário com elementos novos. E é o que acontece com o
surgimento dos animais.(macaco)

Cena 6

A cena 6 é o desague no elemento novo que surgirá em posição de


destaque neste cenário “in natura”. Vai se encerrando o tema e logo surgindo
novidades sonoras e efeitos.
Todo tema está contido dentro de uma escala modal RÉ FRÍGIO, o
compositor explorou bem os intervalos e saltos curtos, dando som
característicos de pentatônica em parte da sequência melódica.

Seria sistematicamente organizada + ou - desta forma, a idéia a musical


abaixo:
Cena 7

Novidade apresentada tanto na imagem quanto no som, o macaco


representa o novo selvagem, e o acompanhamento ao solo de flauta suave e
muito piano, acrescenta algo novo até então se desenvolvia de forma solista.

Cena 8

Esta cena em particular é emblemática, o solo da flauta é


retomado na oitava (frase 6) forte, a imagem da cena do macaco relaxando nas
águas termais, perdidos em seus pensamentos, livre de seus predadores,
remete a solidão de um ser selvagem que está se preparando para ápice da
espiritualidade.

Cena 9 – noite estreladas

Ele seria capaz de passar noite e,

Cena 10 – nascendo o dia

Dia em estado de...


Cena 11 – meditação
...pura meditação. Uma outra questão relacionado ao
acompanhamento, apesar de ter aparência sonora tecnologia e não natural,
contribui para as cores dos sons apresentadas em cena, dando a sensação do
santo e profano, e do infinito...

Cena 12 – Baraka, o encerramento


Encerrar esta primeira parte com um eclipse junto com a palavra
BARAKA que em sufi quer dizer “o fôlego da vida”, nos prepara para sair de um
tema selvagem que se funde a humanidade. O tecnológico, a religião, a
maldade, o espiritual, o corporal se aliam aos sons e cores que seguirão as
próximas cenas.
MUDANÇA DE CENÁRIO

Cena 13
Houve mudança de cenário, a humanidade entrou em cena, com
comunidades, templos, os afazeres e os deuses presentes com sua grandeza e
imponência. Deuses e adoradores no mesmo santuário, e o progresso
desenfreado.
A melodia da flauta faz parte do mesmo tema inicial, que estão
apresentando as novidades, como introdução de acordes para
acompanhamento. Presença sonora de sinos.
Os sons dos sinos, é cada vez mais presentes nessas cenas acima.

Cena 14
Esta imagem nos remete a imagem do macaco, onde este ser humano
está entorpecido nas palavras, ritual e adoração da religião.
Há uma presença forte dos seguintes acordes na releitura do tema pela flauta e
os sons não naturais (tecnologia) de acompanhamento:
Cena 15
Novidades a partir desta cena e a voz em cântico de preces ritualísticas
relembrando os temas iniciais com as melisma como encanto, mas logo a
flauta retorna.

Cena 16 – meditação, elevação ao ser superior. (macaco)

Cena 17 – o canto da tribo


Um povo presente na era pós-moderna, mas vivendo a sua cultura
milenar. O canto e a coreografia nas cenas a seguir, percebe-se um líder vocal
que ordena as nuances vocais e ritimal. Intensidades e as dinâmicas são
importantes para o líder dite o tema.

Cena 18 – Cenário ritual no templo

Cena 19 – o líder

Cena 20 – Nuances do Ritual


Cena 21 – primitivismo em perigo, pela ação do tempo e do homem

Cena 22 – pintura preparatória para ritual


Nestas cenas o compositor manteve os acordes do tema, acredito que
para remeter ainda ao passado primitivo da humanidade, que logo se
apresenta em suas tribos na mais pura realização.

Cena 23
A PROFANAÇÃO

Cena 24 – o olhar
Olhar desta cena é incrível, pois passa pela idéia de contemplação da
destruição das matas, o olhar curiosidade em relação ao nascimentos das
cidades e seus habitantes marginalizados, o olhar para o futuro que está se
perdendo, o olhar para a profanação de seus templos, o olhar para o
desconhecido. O solo da flauta parece muito como tema inicial, mas lembra
uma música mais moderna.

Cena 25 – o templo in natura profanado


Cena 26 – Templo dos vivos

Ao som de uma musica da cultura andina moderna, remete a tristeza do


templo in natura profanado, agora os adoradores vivendo em caixas.

Cena 27 – Templo dos mortos


O retorno da massa corporal ao solo através de seus túmulos, talvez
seja o único elo entre as primeiras cenas deste filme.
Cena 28 – O modernismo visual e sonoro
A grande tecnologia traz ao meio do templo urbano, o som que adentra
sem permissão aos lares, é o som do progresso da humanidade.

Cena 29 – o som das fábricas de produtos que adoecem.

O compositor da trilha foi bem neste ponto porque ele interrompe os


barulhos das fábricas pelo sonoro bumbo sinfônico trazendo características de
perigo, a próxima cena já aparece um homem fumando junto de outros.
Cena 30 – O Fumante, profanante da saúde do corpo

Cena 31 – a caixa do sono temporário


Cena 32 – o ritual urbano
A partir desta cena, o compositor da trilha invoca os ritmos percussivos
ritualísticos acelerados para exemplificar as práticas modernas que impera
nestes tempos hodiernos. Carros em constantes movimentos, pessoas em
constantes movimentos, compras e vendas, etc.

Cena 33 – O Frenesi
Cena 34 – O Frenesi 2

Cena 35 – O corpo profanado pela pintura da máfia yakuza


A ideia desta cena, surge com a trilha em canto do gênero gregoriano,
por ser um canto santificado a religião católica, talvez penso que seria para
contrapor a imagem seguinte onde o homem de descendência primitiva usava
como pintura corporal para santificação a um deus ou ritual tribal, já o da máfia
yakuza seria o ritual da morte.
Exemplo da idéia de percussão frenética entre as cenas.
Cena 36 O corpo in natura santificado pela pintura dos povos primitivos

Cena 37 – A profanação dos alimentos


Nesta parte são acrescentadas, os timbres agudos que remete ao
chamado agudo do “pintinho”, junto ao frenesi da percussão constante.

Cena 38 – Esteira do alimento tratado com descaso


Cena 39 – Esteira dos humanos sendo seres humanos

Cena 40 – O grito de socorro

Nesta cena do grito, o som que permeia ao fundo é de uma sirene,


dando o entender do grito de socorro que o mundo em todas as camadas
sociais dá. A cenas a seguir remonta claramente as mazelas sociais
impermeada pela cultura de um povo que não se sente escravos perante os
seus.
Há um canto musical profundo, lírico melismáticos, com
acompanhamentos fortes, que narra a histórias dessas cenas acima, com
muita propriedade. Os quadros mostram a indelicadeza dos campos de
aterros/lixões indianos onde castas operam em sua profundidade para obter o
pão de cada dia, o garoto pedinte, a solidão do garoto meditativo (imagem do
macaco no inicio) preso em suas residências com olhar vazio, e a prostituta e
os negócios do amor sexual que matam centenas de mulheres e homossexuais
pelo mundo conforme o ultimo adeus das 3 gueixas. O canto se encerra com
um longo decrescendo encenando o apagar da vida.
A DESTRUIÇÃO DO “IN NATURA”

Nestas sequencia de cenas, uma batida percussiva de tambor em


marcha de guerra, embala de forma constante com um grito sonoro
instrumental melódico, fazendo referência ao poderio das nações, as guerras,
os pós-guerras, a destruição das nações, de um povo, de uma raça, de uma
cultura. É a profanação e destruição de tudo que se refere a criação dos
deuses e todos as formas de socialização dos seres aqui viventes. Os sons das
gaitas de foles, os tambores e caixa clara (imitando uma rajada de
metralhadora) e trombone baixo rasgando os graves, traz o cenário
representativo de destruição iminente sem socorro.

CENÁRIOS DE ÓDIO

Nesta sequencia surge um silêncio e sons apreensivos surgindo, que


denotam a monstruosidade do fato da historia ocorrida. Junto com os crânios
surge um canto enigmático de choro e tristeza, que vai se perpetuando entre
silêncios e canto durante várias cenas. É salutar pensar no efeito sonoro que
tem os cantos melismáticos desta cultura, pois conseguem transmitir
sentimentos de força, coragem, alegrias e tristezas.
ADORAÇÃO E MORTE

Um rio gera fonte de adoração e enterra seus mortos.


O filme termina com um céu estrela, onde o ser espiritual almeja estar,
jugar de delícias e formosuras incalculáveis. Chegar lá é um grande propósito
de vida nesta terra mortal.

Cuiabá 24 de fevereiro de 2021.

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