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UFRRJ - Licenciatura em Filosofia Filosofia Política II

Pedro Xavier do Lago Prof.: Walter Valdevino

Matrícula: 2017300428 Data: 6/12/20

Fichamento das conferências I, II e III sobre Marx, do livro "Conferências sobre a


história da filosofia política" de John Rawls
Conferência I: A ideia do capitalismo como sistema social em Marx
Marx, alemão e contemporâneo de Mill, nasceu no século XIX, onde já flertava com os
ideais socialistas.
Incluem-se à formação de Marx a jurisprudência e a filosofia na Universidade de Berlim,
além de seus futuros estudos autodidata sobre economia.
Objetivo sumário de sua obra: Um corpo coerente de pensamento que engloba estudos
sobre a origem da desigualdade e opressões sociais, e também a fundamentação de um “(...)
regime plenamente justo e viável que ofereça ao mesmo tempo estabilidade e felicidade.
(...)”.
As obras de Marx estudadas nas conferências de Rawls: As da juventude e escritos
filosóficos em um primeiro grupo, os escritos econômicos em um segundo, os escritos
políticos em um terceiro.
Objetivos de Rawls ao discutir Marx: Analisá-lo enquanto crítico do liberalismo e do
capitalismo como sistema social.
Direitos e liberdades básicas dos modernos: Expressam e protegem egoísmos, além de
meramente formais.
Regime constitucional com propriedade privada: Garante apenas as liberdades negativas.
Divisão de trabalho: Com aspectos limitadores e aviltantes. Superados caso se realizasse
uma democracia de cidadãos-proprietários conforme os ideais rawlsianos. Porém, há
divergências entre os ideais comunistas marxistas e os ideais de John Rawls.
Três tópicos a serem cobertos: Na primeira conferência, a visão de Marx sobre o
capitalismo como sistema social. Na segunda, como Marx via os direitos e a justiça e se o
capitalismo é um sistema social injusto ou um sistema que deve ser condenado sob valores
diferentes de justiça. Na terceira conferência, a concepção marxiana da sociedade do
comunismo total como uma sociedade de produtores livremente associados, tendo superado
as diversas formas de alienação.
Há uma importância teórica de Marx ao passo que mesmo tendo a URSS, um socialismo
centrado, caído, suas contribuições para uma concepção de socialismo fomentaram o
socialismo liberal. Além desta, as críticas ao capitalismo do laissez-faire.
Aspectos do capitalismo como sistema social:
Sociedade de classes, onde o excedente social é apropriado pelos membros de uma classe
avantajada em posição social. “(…) Para Marx, o capitalismo, assim como a escravidão e o
feudalismo, é um sistema de dominação e exploração.” Porém, no capitalismo ainda há a
possibilidade de tomada de decisões quanto a suas ações de acordo com as normas.
Marx via o capitalismo como sistema social primeiramente dividido em classes
mutuamente excludentes, sendo estas a dos capitalistas e a dos trabalhadores. Os primeiros
controlando os meios de produção, e os trabalhadores que possuem o fator de produção.
Porém, o trabalho dos trabalhadores só é produtivo quando há acesso aos meios tomados
pelos burgueses.
Um segundo aspecto é a livre competição, onde também a produção das indústrias de bens
é vendida em mercados especiais de escoamento de produtos.
Apesar de ser um sistema social com independência pessoal, mercados livres e
competitivos, ainda há sobretrabalho e trabalho não renumerado, pontuando principalmente
a mais valia.
Características exclusivas da força de trabalho: O único fator de produção que gera mais
valor do que o necessário para se sustentar com o passar do tempo enquanto for capaz de
produzir, além de sua criatividade e necessidade para o sistema econômico se desenvolver.
Outra característica do capitalismo é a existência de duas espécies de agentes econômicos,
os capitalistas e os trabalhadores, cujos papéis e metas no sistema social visto como modo
de produção são diferentes. Dos capitalistas representa-se o ciclo dinheiro-mercadoria-
dinheiro, e o dos trabalhadores mercadoria-dinheiro-mercadoria.
Uma quarta característica seria uma consequência das diferenças apontadas no parágrafo
anterior. O papel social dos capitalistas é poupar, enquanto os trabalhadores não poupam no
decorrer da sua vida como um todo, e quando poupam trata-se de consumo protelado
(Como, por exemplo, previdência social).
Uma quinta e última característica do capitalismo: As duas classes têm interesses opostos e
desempenham papéis distintos no sistema social capitalista.
Teoria do valor-trabalho: “Valor agregado total em uma sociedade produtora de
mercadorias corresponde ao tempo total de trabalho gasto pela sociedade”. O objetivo desta
teoria é penetrar sob as aparências superficiais da ordem do capitalismo.
Mais-valia: Uma característica da teoria anterior, é o total do tempo de trabalho não
renumerado, ou desnecessário ao trabalhador. Este percentual vai para quem não trabalhou.
A mão de obra humana e seu poder inerente aos membros da sociedade é um fator de
produção importante socialmente.
A origem da mais-valia: O burguês tem os meios de produção como propriedade privada, e
enxerga uma permissão em retirar um percentual do produto do trabalho dos trabalhadores.
Marx não se encontra interessado pela teoria do preço, tampouco a teoria do valor-trabalho
é uma teoria do preço justo. Segundo ele, “a utilidade de uma coisa faz dela um valor de
uso”.
Mesmo em um sistema de perfeita competição existe exploração na sociedade capitalista.
Rawls não vê um bom sucesso da teoria do valor-trabalho, que cai como uma teoria
insuficiente para os economistas contemporâneos. O verdadeiro sentido dela está em expor
as controvérsias relacionais entre classes.
Rawls conclui:
“(...) Marx orgulhava-se da diferenciação que fez entre força de trabalho, de um
lado, e trabalho ou uso da força de trabalho, de outro. Para ele, essa diferenciação o
ajudou a explicar de que modo seria possível o surgimento do lucro em um sistema
de mercados liwes de intercâmbios não impostos, no qual os valores são trocados
por valores iguais em todos os mercados.”

Conferência II: A concepção do direito e da justiça em Marx


Primeira discussão: A exploração na teoria do valor-trabalho de Marx.
Esta exploração é igual ao quociente entre o sobretrabalho e o trabalho necessário. Mais um
entendimento parte sobre a via moral, tando em conta princípios de determinada concepção
da justiça.
Marx condenou o capitalismo como injusto. Porém, paradoxalmente, não se via como autor
desse tipo de condenação.
A seguir, linha de interpretação sugerida por Wood:
Justiça: Normas legais e jurídicas predominantes e intrínsecas à ordem social e econômica,
que são convenientemente adaptadas para que essa ordem cumpra seu papel histórico.
Também é comutativa e distributiva.
Relação salarial: Não implica injustiça ao proletário.
Concepção socialista da distribuição justa em Crítica ao programa de Gotha: Equivocada e
mal direcionada.
Normas do direito e da justiça são internos de modos de produção específicos e relativas ao
período histórico vigente.
Moral: Produto da ideologia e pertence a superestrutura da sociedade.
Marx não tinha objetivos na justiça, mas sim, em um teor de natureza fundamental e mais
revolucionário, transformar a propriedade privada e o sistema salarial.
Objetivo de Marx, em vez de um suposto interesse pela justiça: Revelar as forças históricas
reais e ativas que estavam conduzindo à ruína e queda do capitalismo.
A sociedade do comunismo total está livre de escassez e conflitos, o que tornam necessárias
as normas da justiça.
Rawls: Em Marx, a concepção da justiça é uma concepção política e jurídica associada à
separação institucional entre Estado e sociedade.
Capitalismo quando cumpre seu papel histórico de aumentar os meios de produção não é
injusto e possibilita, no futuro, a existência da sociedade do comunismo total.
Escravização: Não é justa perante os princípios de justiça no capitalismo.
Fraude e logro (no capitalismo): Com fins de celebrar acordos, não é injusto.
Porém, os dois serão injustos se sua finalidade for mais adequada ao modo de produção do
que o objetivo histórico da produção capitalista, que é acumular rapidamente capital.
Normam Geras e Cohen:
Relação salarial como troca de equivalente por equivalente: feito de uma perspectiva
parcial e condicional por levar em conta como parte da circulação na sociedade capitalista.
Os processos estudados por Marx: Iníquos e injustos.
Em Crítica ao programa de Gotha, Marx assume um padrão objetivo e não histórico da
justiça para julgar os modos de produção e as sociedades emparelhadas.
Condições materiais são necessárias para realizar certos princípios da justiça e equidade,
além de outros importantes.
Doutrina revolucionária: Vem de uma concepção ampla da justiça cobrindo a distribuição
de todos os tipos de direitos básicos.
A crítica moral fundada na justiça tem um lugar na teoria marxista.
As concepções de direito e justiça podem ser elaboradas independentemente de instituições
estatais com finalidade de coerção e de sistemas de direito. O princípio equivalente por
equivalente é deste tipo.
Para o comunismo total, uma diferenciação entre as espécies de valores e princípios é
completamente arbitrária.
Marx “A troca de equivalentes, operação original com a qual começamos, encontra-se hoje
torcida de tal modo que há apenas a aparência de troca. (…)”
Rawls: Injusto não é o capitalista, mas o capitalismo.
O acordo voluntário do trabalhador livre é fruto dele ser compelido por condições sociais a
vender a totalidade de sua vida ativa, sua própria capacidade de trabalhar (Tucker).
Uma imaginária resposta de Marx à teoria da distribuição segundo a produtividade
marginal: A crença generalizada na justiça do lucro, juro e renda da terra é naturalizada em
razão da situação dos agentes econômicos no capitalismo, mesmo que de fato seja uma
ilusão.
Papel alocativo dos preços: Uso dos preços para obter eficiência na economia.
Papel distributivo: Determinar a renda a ser recebida pelos indivíduos que contribuem
pessoalmente para a produção.
Os preços contábeis, em um regime socialista, são indicadores econômicos a serem usados
para elaborar um plano econômico eficaz.
Rawls crê que Marx tinha por pressuposto de que o trabalho das pessoas, somado, é o único
recurso social relevante que elas possuem. Isto seria subjacente a suas teorias
desenvolvidas.
Para ele qualificar a apropriação capitalista do sobretrabalho como roubo, furto e afins,
Marx pressupõe que os membros da sociedade tem igual direito, baseado na justiça, de
pleno acesso e uso dos recursos naturais e meios de produção.

Conferência III: O ideal de Marx: uma sociedade de produtores livremente associados


Caso a interpretação da concepção jurídica da justiça estiver correta: As ideias que Marx
expôs serão congruentes.
Sendo a mão de obra humana o único fator de produção relevante sob o ponto de vista
social e sobre a alegação de que todos tem igual direito de acessar os meios de produção
sociais, pode-se dizer que essa é a concepção de justiça implícita na afirmação marxista de
apropriação capitalista como roubo. Além disso, rejeita as formas sociais pré-históricos ao
levam ao capitalismo como fundamentalmente injustas à luz desse padrão.
As concepções e ideais marxistas somente poderão realizar-se plenamente sob certas
condições.
As concepções jurídicas adequadas a pré-história capitalista e o capitalismo nunca são
válidas, mas servem a um propósito histórico essencial durante certo período.
Razões para que as ideias sobre a justiça não estejam explícitas: Oposição marxista aos
socialistas utópicos, ao reformismo e à tendência de concentração em questões da justiça
distributiva, e uma suspeita a discursos morais idealistas.
Sociedade de produtores livremente associados tem dois estágios: O estágio socialista e o
do comunismo total.
Nesta sociedade, a consciência ideológica (falsa consciência, ilusões ou devaneios, crenças
falsas e simulacros das teorias) já desapareceu, além de não serem alienados tampouco
explorados.
Criticar a religião (forma de alienação): Depende das situações sociais atuais.
Outro tipo de devaneio: Inerente às necessidades do sistema social e às necessidades que
devem ter os indivíduos que deste sistema participam para que funcione devidamente.
Os trabalhadores, no modo de produção capitalista, são alienados do produto de seu
trabalho e da própria atividade produtiva do trabalho, pois não visa à realização da natureza
deles e de suas capacidades. Também são alienados de sua espécie e vida espécies, juntos
com os próprios capitalistas.
Parte essencial da auto-criação social dos seres humanos no decorrer da história é a
atividade econômica, e a alienação incentiva a não participação dessa atividade de modo
autor realizável.
Somos alienados em relação a outras pessoas.
No socialismo não há exploração porque nele a atividade econômica segue um plano
democrático público com participação geral equitativa, tendo todos acesso aos recursos das
sociedades onde o sobretrabalho foi investido.
Defeitos do socialismo: Desigualdade e divisão do trabalho.
Superação da desigualdade de quotas de bens de consumo resultante da desigualdade de
dons naturais pelo comunismo total: Inevitável na primeira fase da sociedade comunista, há
de se esperar até que haja uma transformação das condições econômicas. Imagina-se uma
rejeição de filósofo e economista autodidata sobre o princípio da diferença da teoria
rawlsiana.
Superação da divisão do trabalho pelo comunismo total: Abundância ilimitada pelo
aumento dos meios de produção, trabalho como máxima da vida, atração das pessoas pelo
trabalho.
O ápice do comunismo é uma sociedade além da justiça? Como a distribuição de bens será
justa ao aceitarmos a igualdade como justa junto ao uso equitativo dos recursos e à
participação no planejamento público levando em conta alguma necessidade, de certo
modo, segundo tal ideia de justiça, a sociedade comunista seria justa.
Como ela atinge níveis justos sem depender da sensação de direito e justiça e isso as leva a
não ser movidas por princípios do tipo, isso leva a crença de que a sociedade comunista
parece ser além da justiça. “(…) Essas pessoas nos são estranhas e difíceis de escrever.”
Rawls: O esvaecimento é tanto indesejável em si, como também uma questão do âmbito
prático.

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