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São Paulo, Segunda-feira, 11 de Outubro de 1999

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Sopa de letras
JOSIAS DE SOUZA

São Paulo -Não acredito muito nessa história de


numerologia. Mas creio cegamente na "letrologia", o estudo
objetivo das relações que se estabelecem, consciente ou
inconscientemente, entre as letras diferentes que convivem
no seio de uma mesma palavra.
É batata. Note-se, por exemplo, as letras que coexistem no
nome "Fernando". Elas dizem muito sobre o atual estado de
coisas.
O "F", com aquela mão sobre os olhos, com aquele nariz
empinado, é o príncipe, do alto de sua intelectualidade,
tentando, sem sucesso, enxergar ou farejar um palmo diante
do nariz.
O "e" é a trajetória das reformas. De início, quando
começam a andar, tem-se a impressão de que seguirão em
linha reta, pra frente. Súbito, começam a caminhar em
círculos, dão a volta em si mesmas e, quando pensam que
estão chegando a algum lugar, descobrem que retornaram ao
ponto de partida.
O "r" é o periscópio com que o tucanato, submerso no mar
de problemas que criou para si mesmo, tenta descobrir pra
que lado fica a praia.
O "n" é o Marco Maciel se dando conta de que o governo
despenca. Com a espinha vergada, olhando pras profundezas,
ele tenta verificar se o fundo do poço ainda está muito longe.
O "a" é a aliança do PSDB com o PFL que, sem ter pra onde
correr, refugiou-se debaixo da marquise. O tucanato ainda
conseguiu esconder a cara, mas a barriga do ACM ficou à
mostra.
O segundo "n" parece o Marco Maciel olhando pra baixo de
novo. Mas, na verdade, é uma ferradura. No primeiro
mandato, imaginou-se que fosse símbolo de boa sorte.
Agora, sabe-se que é sinal de outra coisa.
O "d" desperta grande controvérsia. Alguns acham que é um
"o" de cabelo em pé, eriçado de raiva com tanta
incompetência. Outros dizem que é um "p" de ponta-cabeça,
como tudo neste governo.
O "o" é o buraquinho por onde escapa a popularidade de Sua
Excelência. Os ratos estão de olho nesse mesmo buraquinho.
Mais tarde, planejam usá-lo pra abandonar o navio.

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