Você está na página 1de 15

CULTURAL COMPLEX AND THE ELABORATION OF TRAUMA

FROM SLAVERY
Denise G. Ramos

A ideia de estudar a escravidão do ponto de vista psicológico me ocorreu enquanto eu dava


um teste de associação de palavras a um grupo de estudantes em uma oficina de psicologia
analítica. Para minha surpresa, um dos estudantes disse que estava muito triste quando percebeu que
havia associado a palavra "navio" a "navio negro".
"Navio negro" era o nome dado aos navios que traziam africanos para o Brasil para serem
vendidos como escravos. Mais tarde, descobri que outros estudantes dessa cidade tiveram reações
semelhantes. Eu estava trabalhando na cidade de Salvador, a antiga capital do Brasil, no estado da
Bahia, localizada no nordeste do Brasil, com uma população de 80% de descendentes de africanos.
Esses estudantes eram médicos e psicólogos, e seria quase impossível, a partir de sua aparência,
dizer quais eram descendentes de africanos.
Estávamos em 2006, 118 anos após a abolição da escravatura no Brasil, então alguns desses
alunos poderiam ter parentes, avós ou bisavós que haviam sido escravos. O teste revelou uma
situação conflituosa e traumática no inconsciente pessoal e coletivo. O sequestro, o rompimento de
laços familiares, a migração compulsória, as terríveis viagens nos navios negros, a submissão e
situações degradantes, como a venda, e todos os maus tratos aos quais os africanos foram
submetidos, sem dúvida criaram uma situação altamente traumática. Segundo historiadores, durante
esta jornada, um terço dos escravos africanos morreu; a doença mais comum era Bantu, o que
significa sentir falta de alguém. Esse nível de mortalidade nos navios negros era de três a quatro
vezes maior do que entre os imigrantes livres (Eltis 2003).
Do total de 11 milhões de africanos escravizados, estima-se que três milhões e seiscentos mil
tenham sido trazidos para o Brasil. Hoje, 51% da população brasileira vem de origem africana. Nos
últimos anos, uma quantidade significativa de literatura tem lidado com a história dessas pessoas,
suas rebeliões e lutas para construir uma identidade. No entanto, do ponto de vista psicológico,
ainda há muito a ser feito.
Uma das principais questões para nós hoje é como os descendentes desses escravos estão
vivendo agora e como eles ainda lidam com esses eventos traumáticos.
Cento e vinte e dois anos após a abolição, o Brasil continua sendo um país marcado pela
desigualdade racial. As estatísticas mostram que no Brasil a maioria das pessoas que estão
desempregadas, sem instrução e pobres - assim como os criminosos na cadeia - são descendentes de
africanos (Henriques 2001; Kilsztajn et al.2008). Estudos mostram que até a primeira metade do
século XX, durante o processo de generalização do trabalho livre e da concorrência, a grande massa
de descendentes da antiga população escrava vivia na marginalidade econômica (Furtado, 2000;
Hoffmann, 2001). Os próprios brasileiros atribuem isso ao legado da escravidão, argumentando que
a experiência de escravidão incapacitou tanto os afro-brasileiros quanto um grupo social que se
provou incapaz, um século depois da emancipação, de competir efetivamente contra os brancos por
empregos, educação, moradia e outros bens sociais.
Claramente, o legado da escravidão ajudou a moldar este processo, produzindo tanto os
empregadores desacostumados e dispostos a barganhar com seus ex-escravos, e uma ex-população
escrava com demandas muito específicas sobre as condições em que eles trabalhariam como
homens e mulheres livres. Esse legado está presente em quase todo o Brasil, onde os imigrantes
brancos são claramente os "vencedores" e os negros os "perdedores" no processo de
desenvolvimento econômico e prosperidade. Além disso, enquanto os descendentes europeus
costumam se orgulhar da história de seus ancestrais viajando para o local de origem de sua família e
tendo grande prazer em contar e recontar como seus avós cruzaram o oceano e conseguiram ter
muito sucesso na nova terra, observei que Os descendentes de africanos praticamente nunca tocam
nesse assunto.
Recentes realizados entre estudantes de pós-graduação nas cidades de Salvador e São Paulo
confirmaram esse fato (Ramos, 2009). Vale lembrar que São Paulo, cidade altamente industrializada
e desenvolvida no sul do Brasil, era formada basicamente por imigrantes europeus, principalmente
italianos, espanhóis e portugueses. A maioria de sua população é branca e a influência da cultura
européia está significativamente presente em sua arquitetura, educação e hábitos e cultura locais. Os
dois grupos foram comparados quanto aos seus sentimentos em relação aos seus antepassados. A
resposta ao questionário verificou que existe uma diferença significativa entre os descendentes de
europeus e africanos. Enquanto os primeiros estão familiarizados com a origem de seus ancestrais,
de que país seus avós e bisavós vieram, e expressaram o desejo de visitar aquele lugar, os
descendentes de africanos dizem que não conhecem a origem de seus avós (a maioria nem sequer
menciona a cidade onde esses avós moravam) e deixou em branco a questão sobre se eles gostariam
de saber a origem de sua família. À pergunta sobre a influência da cor da pele nas relações sociais e
de trabalho, todos os brancos responderam que sua aparência é um fator útil, enquanto os negros
paulistas consideravam sua cor como um fator gerador de sentimentos de inferioridade e
discriminação. Dentro desse grupo observamos sentimentos conflitantes: muitos respondem que são
orgulhosos de sua origem, mas têm vergonha de seus pais e se sentem inferiores.
Outro estudo desse projeto observou e comparou estudantes brancos e negros de uma escola
da cidade de São Paulo - idade entre 12 e 18 anos. Dez hipóteses foram levantadas para verificar e
comparar a autoestima, o branqueamento, a identificação racial, atributos de beleza, riqueza,
sucesso social e profissional. Utilizamos como instrumento a escala de autoestima de Rosenberg
(Avanci, J. et al. 2007) e dois questionários. Em um deles os alunos tiveram que escolher qual das
quatro figuras (2 brancos e 2 negros) correspondia a uma qualidade. Por exemplo: qual deles é mais
bonito?
Os resultados mostram que a grande maioria dos adolescentes negros atribui aos brancos
maior riqueza, beleza e sucesso profissional. No entanto, as alunas negras acreditam que também
poderiam ter sucesso profissional. Provavelmente isso se deve à popularidade de artistas e modelos
negros e à grande apreciação da "beleza negra" em alguns circuitos culturais. Interessante notar é
que os estudantes negros se vêem como tendo tantos amigos quanto os brancos, revelando o mesmo
nível de sociabilidade.
Aqui podemos raciocinar que quando um adolescente negro diz que os negros são mais
feios, mais pobres e com menos possibilidade de sucesso, ele ou ela está em uma rua da morte.
Sentindo-se preso em um corpo indesejável, a sombra (neste caso, as boas qualidades) é projetada
nos colegas brancos. Uma consequência natural é que havia um desejo unânime de parecer branco.
Em nossa pesquisa, a maioria dos adolescentes de ambos os sexos se vê mais branca do que eles e
declara que eles gostariam de ser brancos. Resultados semelhantes foram encontrados por Lima e
Vala (2004). Em seu estudo, investigaram os efeitos da percepção da cor da pele e do sucesso social
no branqueamento e na infra-humanização. Eles descobriram que os negros que obtêm sucesso
social são percebidos como branqueadores do que os negros que falham. Uma análise de mediação
indicou que tanto os negros com sucesso são embranquecidos, mais tipicamente características
humanas são atribuídas a eles. Essas pesquisas confirmam outros estudos que revelam um desejo de
branqueamento e a associação de negritude com inferioridade. Walter e Paula Boechat em seu artigo
"Raça, racismo e inter racismo no Brasil: perspectivas clínicas e culturais" dizem: "o caráter básico
e distintivo do racismo brasileiro é que ele é baseado na cor da pele. Isso transforma o racismo em
um centro elemento na sombra coletiva do Brasil "(Boechat, W e Boechat, P. 2009, p. 196)
A cor da pele não permite segredos, perdão ou fácil escapo. Isso obriga o indivíduo a se
identificar com um grupo com o qual ele ou ela pode não querer pertencer. Não há escolha. Como
diz Kaplinsky, "a cor da pele pode desencadear reações emocionais e é a chave para o complexo
cultural" (Kaplinsky 2009, p. 64).
Os resultados dessas pesquisas, como muitos outros, apontam para uma possível causa
psicológica para as distorções socioeconômicas descritas acima e levantam as seguintes questões:
Será que a auto-estima dos afrodescendentes se tornou tão baixa que isso dificultou sua
ascensão social? O que estaria causando esses sintomas? Estariam relacionados a um
complexo coletivo e cultural sublinhado? Poderiam os eventos traumáticos da escravidão ser
o núcleo desse complexo? Ou poderia a situação traumática da escravidão ser consertada em
um complexo cultural que é transmitido de geração em geração?
Neste artigo, farei uma breve análise dos traumas e complexos culturais e como estes podem
se manifestar em um segmento de afrodescendentes que vivem em uma região específica do Brasil.
Sem tentar reduzir esse fenômeno complexo a uma única causa psicológica, explorarei sintomas de
um possível complexo cultural e um trauma coletivo causado pela escravidão.
O centro histórico da cidade de Salvador, Bahia (a mesma cidade onde dei a oficina) foi
escolhido para este estudo. A cidade de Salvador ("Salvador") é de grande importância para este
estudo, pois este era o lugar onde muitos "navios negros" chegavam e onde os escravos eram
vendidos. Tem um centro histórico muito bem conservado, onde muitas casas do século XVIII ainda
estão preservadas, assim como os locais onde os escravos trabalhavam e viviam. Com o tempo,
após a abolição da escravidão, esta parte da cidade sofreu uma grande transformação e foi nomeada
monumento cultural mundial pela UNESCO em 1985 (Cerqueira, 1994; Miranda e Santos, 2002).
O nome deste centro histórico é muito significativo: "Pelourinho", que significa posto de
pelourinho ou chicoteando, um lugar onde os escravos eram vendidos, torturados e muitas vezes
mortos.

A PESQUISA PSICOLÓGICA SOCIAL

A pesquisa foi realizada entre 2005 e 2009 e foi centrada em:

• A. Documentos históricos
• B. Observação de campo - o que acontece nas ruas
• C. Visita a museus e galerias de arte no Pelourinho e entrevistas com seis pintores
• D. Viagem ao centro de dois dos mais famosos grupos musicais do Pelourinho
• E. Visita a lugares sagrados negros
• F. Entrevistas com líderes comunitários

A. Documentos Históricos

Locais do pelourinho
Originalmente, o pelourinho foi colocado no primeiro mercado aberto da cidade, a "Praça da
Feira" que hoje é conhecida como "Praça Municipal", uma praça aberta no topo da colina, logo
acima do local onde o "preto" navios "chegaram. Hoje, há uma fonte moderna e colorida em seu
lugar.
Em algum momento entre 1602 e 1607 o pelourinho foi movido pelo decreto do governador
para o "Terreiro de Jesus", um lugar "longe dos olhos do público". Mas O Quintal de Jesus era o
local da igreja e da escola jesuíta, e os gritos e gemidos interferiam nos serviços da igreja e no
ensino. Hoje, no mesmo lugar que o pelourinho, ergue-se uma estátua de origem francesa de Ceres,
deusa da fertilidade e da agricultura.
Assim, a pedido dos sacerdotes, foi novamente removido, desta vez para o fundo da "Porta
de São Bento", onde hoje se encontra a "Praça Castro Alves" (Praça Castro Alves). O pelourinho foi
removido pela última vez em 1807 e levado para a praça que viria a ostentar o seu nome. Assim, o
pelourinho de Salvador permaneceu no topo do "Largo do Pelourinho", a etapa final de sua jornada,
e ficou lá por mais 28 anos, até 1835. Hoje é o principal local dos eventos musicais. acontecer. O
local vizinho de leilões de escravos foi renovado e convertido em museu (Rocha, 1994).
A construção de fontes de água, o monumento à deusa Ceres e, finalmente, um lugar para
eventos musicais onde antes ficava o pelourinho pode ser interpretado aqui como uma tentativa de
transformar um local associado com sofrimento e morte em uma área de alegria e celebração de
vida, mesmo que para a maioria da população este seja um ato inconsciente.

B. Observação de Campo - O que acontece nas ruas?

É comum ver mulheres fazendo tererê, um estilo africano de trançar cabelos, em turistas.
Aqui há uma atitude de orgulho e valorização de uma tradição em uma cultura onde o cabelo loiro
reto é mais apreciado. Também vemos mulheres em roupas africanas vendendo comida tradicional e
acessórios feitos de miçangas e pedras. A estética afro-brasileira vem ganhando novos elementos
através de roupas, acessórios, penteados e estampas.
Recentemente, "brinquedos étnicos" têm aparecido no mercado, como bonecas negras
vestidas de africanos. Questionado sobre a feiura da boneca branca, o vendedor negro sorrindo me
respondeu: "mas essa é a idéia. Veja se você entende". (Figura 1) Além dos vestidos étnicos,
existem muitas lojas que vendem música afro-brasileira e também instrumentos musicais africanos.
Cenas de pessoas realizando a capoeira, uma mistura de dança e luta, também são uma visão
comum no Pelourinho. Muitas vezes encontrei grupos de pessoas realizando essa arte. A capoeira é
considerada um movimento de resiliência da cultura negra e hoje é ministrada em escolas de todo o
Brasil, assim como no exterior. Segundo Carlos S. Paulo (comunicação pessoal, abril de 2008), a
capoeira nasceu da necessidade de desenvolver uma inteligência física em pessoas cujos corpos
estavam acorrentados e oprimidos. Assim, os movimentos expressam a luta e a defesa contra o
opressor, mas precisavam ser disfarçados como uma forma de dança para não parecer uma ameaça a
seus senhores e senhores.
Podemos ver aqui que algumas tradições africanas não são apenas lembradas e
representadas, mas também são recordadas e imaginadas, através da associação com dança e
artefatos, alguns dos quais foram organizados e designados para esse propósito. Aqui, o "poder de
dizer e olhar" está intimamente entrelaçado com gestos e está associado à capacidade de ver e à
possibilidade de tornar as coisas visíveis (Hale, 1998). Mas quais as coisas que eles querem tornar
visíveis? E o que é invisível nesse lugar?
Finalmente, vimos algumas crianças e adolescentes andando pelas ruas pedindo dinheiro e
turistas brancos em um comportamento sexual muito aberto com os negros.

C. Visita a galerias de arte no Pelourinho e entrevistas com seis pintores

Trinta e uma galerias de arte catalogadas foram visitadas (setenta por cento), onde os temas
mais comuns entre as pinturas foram anotados e as imagens procuradas que tiveram alguma
referência à população local e / ou refletiram a escravidão. Os principais temas encontrados nas
pinturas foram:
Natureza: com jovens índios e animais silvestres, especialmente pássaros e jaguares.
Figuras humanas: pinturas de mulheres negras jovens e sensuais, principalmente apenas o
rosto, sempre em roupas africanas. Enquanto as mulheres parecem alegres, uma possível
representação da anima africana, as poucas pinturas de homens revelam uma tristeza profunda e um
tom sombrio. Neste caso, os pintores eram todos homens. (Figura 2)
Havia apenas três pinturas com referências à origem africana: apenas uma com escravos.
Nos outros dois, os nativos tinham os olhos fechados. O que eles não querem ver? A representação
de figuras humanas de olhos fechados está presente em grande número de pinturas, especialmente
quando há uma figura de homem branco no centro. No entanto, quando o quadro retrata apenas os
afro-descendentes, as figuras negras mantêm os olhos abertos. Estamos assistindo uma dificuldade
para enfrentar o homem branco? Estamos lidando aqui com sentimentos conflitantes? O que é tão
difícil estar ciente? (Figura 3)
Outra pintura muito interessante retrata uma mulher com um olhar triste assistindo a um
ninho de pássaro. Um pássaro carrega um livro e o outro um lápis. No ninho também há dois lápis.
Segundo o autor, a massagem é que o caminho para a liberdade é através da educação; as pessoas só
podem evoluir quando sabem usar lápis e papel (Raimundo Bastos dos Santos, comunicação
pessoal, 2009). Ainda de acordo com o mesmo pintor, outro caminho seria o futebol e ele imaginou
duas crianças jogadores de futebol carregando ovos em vez de bolas em um ninho de pássaros.
(Figura 4)
Cenas do passado, retratando as atividades que aconteceram no Pelourinho, provavelmente
do final do século XIX até o início do século XX, sem qualquer referência à escravidão, tortura ou
submissão. Não havia figuras do tempo presente. A referência é principalmente de um passado
imaginário pacífico e não conflituoso. Vemos também cenas de pessoas dançando a capoeira e
tocando instrumentos musicais. No entanto, as pinturas mais comuns são aquelas que representam
os Orixás, deuses da religião afro-brasileira chamada Candomblé. Estes são figuras fortes e alegres
geralmente retratadas dançando e vestidas com roupas e acessórios muito coloridos. (Figura 5) Aqui
observamos, talvez, um ponto de orgulho e auto-estima, pois os sacerdotes das religiões africanas
são altamente respeitados e consultados por políticos e pessoas proeminentes no Brasil. Em termos
de religião, é importante que a maioria das crenças religiosas brasileiras, além do cristianismo, seja
derivada de mitos e lendas africanos, e a linguagem usada nessas religiões tenha sido transmitida
através das gerações. Os aspectos míticos dessas crenças influenciaram o desenvolvimento cultural
do país.

D. Visita ao centro de dois dos mais famosos grupos musicais do Pelourinho: "Filhos de
Gandhi" e "Olodum"

O grupo "Filhos de Gandhi", com aproximadamente 10.000 membros, começou como uma
organização cultural e musical (Carnaval) cujo objetivo era pregar a paz em homenagem ao líder
indiano Gandhi. Eles cultivam tradições afro-brasileiras místico-religiosas e suas fantasias são
brancas e azuis para representar a paz proposta pelo Mahatma. Suas canções fazem referência à
beleza e força dos negros que sofrem, embora marginalizados e discriminados, ainda demonstram
sua arte, sua alegria e seu legado da terra de seus ancestrais (a velha África).
O outro grupo é chamado Olodum que significa "Deus dos deuses", Deus criador do
universo. Enquanto a maioria dos grupos musicais brasileiros usa amarelo e verde, o grupo Olodum
acrescenta vermelho e preto às suas fantasias. Segundo eles, vermelho significa sangue e preto pelo
orgulho de sua raça. O ritmo é forte, a atitude é uma mistura de diversão e agressividade, e o som
alto da bateria, dizem eles, "mantém os fantasmas afastados". As canções são geralmente sobre a
criação do universo, as maravilhas do criador e a origem da raça de escravos. Em uma de suas
canções mais populares, dizem que nasceram no Egito e são filhos do faraó. Aqui vemos uma
fantasia de grandiosidade, já que nenhum escravo foi enviado do Egito para o Brasil.
Na busca por uma identidade, é natural que busquemos nossos mitos de origem. No caso dos
afrodescendentes, esse retorno ao passado toca a questão da diáspora africana, já que, ao longo do
caminho, muitos perderam a origem, a história e o local de nascimento de seus pais. Assim, a
música, os vestidos e acessórios criam uma imagem da "Mamma Africa", idealizando uma África
mítica para poder criar tradições afro-brasileiras. Por outro lado, algumas das letras de Olodum são
famosas pelo ritmo alegre que expressa esperança na construção de um país unido. Nessas canções
não há referências à escravidão, de fato, um dos temas mais comuns é o herói negro que sacode o
país e o transforma, não com a guerra, mas com uma atitude amorosa.
E. Visita à igreja de Nossa Senhora do Rosário

Antigos escravos construíram esta igreja no século XVII e a decoraram com o ouro que
podiam esconder em seus bolsos enquanto construíam igrejas para seus mestres. Muito bem
escondido na parte de trás há um pequeno cemitério e uma espécie de janela de vidro. Uma
escavação revelou que os esqueletos enterrados ali eram de escravos ainda usando suas correntes,
escravos que foram mortos no pelourinho. Seus corpos tinham que ficar expostos ao público para
que pudessem servir como exemplo. No entanto, durante a noite os membros da comunidade viriam
e os enterrariam em um local escondido. A pequena janela de vidro tem duas estátuas da escrava
Anastácia, que se tornou um dos poucos mitos da escravatura. Anastácia é a lenda de um belo
jovem escravo. Ela é desejada por seu mestre, cuja esposa é tão invejosa de sua beleza que ela tem a
boca de Anastacia coberta para que ela morra de fome e sede. No fundo, essa lenda elogia a beleza
negra e o apelo sexual como superior à da mulher branca.

F. Entrevistas com empresários e líderes comunitários

Houve um forte movimento de transferência e contra-transferência durante as entrevistas. Às


vezes os entrevistadores me faziam esperar muito tempo. Então eles me proporcionaram, talvez de
maneira inconsciente, a experiência de falta de respeito e humilhação. Como eu entendi que não era
pessoal (minha cor de pele não ajudou), eu contratei um descendente africano como meu assistente.
A principal observação entre lojistas e alguns líderes comunitários é que há uma profunda
preocupação com a situação comercial do Pelourinho. O principal problema, segundo eles, é que os
moradores de Salvador só vão ao centro histórico da cidade quando há um concerto ou evento, e
muitas lojas e restaurantes foram obrigados a fechar as portas.
Uma entrevista particularmente interessante foi realizada com o Sr. Clarindo Silva, que vive
no Pelourinho há 50 anos e é dono do mais antigo e famoso restaurante, a "Cantina da Lua". O Sr.
Silva tem muito orgulho do Pelourinho e da sua própria história, e até me mostrou um terno no qual
ele desfilou no desfile do Pelourinho. Sem dúvida um dos principais defensores da preservação
deste site, Silva diz que o Pelourinho deve ser um lugar com escolas e drogarias e não apenas um
local histórico ou um museu a céu aberto, o que significa que eles não podem jogar apenas para
turistas. mas deve continuar e mudar sua história. Eu acho que o Sr. Silva está deixando o presente e
provavelmente superou o problema racial.

CONCLUSÕES
Todas essas observações nos permitem levantar várias questões. O primeiro conjunto de
perguntas abaixo é semelhante àquelas levantadas por Eyerman (2001) em seu livro Trauma
Cultural: Escravidão e a Formação da Identidade Afro-Americana ao analisar a escravidão nos
Estados Unidos:
Quais imagens os afrodescendentes devem apresentar a si mesmos e aos turistas e à
população branca? Como a expressão cultural dos descendentes de africanos evoluiu, mudou e
voltou às suas origens através das gerações?
A verdadeira história do Pelourinho, como vemos, está escondida em um pequeno cemitério
atrás de uma igreja e no amargo discurso dos habitantes do Pelourinho. Não há interação consciente
entre a riqueza cultural e simbólica e sua vida cotidiana. Embora a cultura africana esteja
profundamente arraigada no Brasil - como pode ser visto na música, na dança, na alimentação e nas
práticas religiosas -, parece que sua aculturação permanece restrita a essas atividades e não se
integra a outras, como atividades econômicas lucrativas. Os edifícios e casas precisam de um
atendimento melhor e muitos moradores estão sobrecarregados com problemas financeiros. É claro
que os habitantes do Pelourinho não usam sua capacidade de mostrar suas muitas qualidades e
criatividade, isto é, tornar seu mundo visível (ou invisível) como uma forma de poder e parte da
construção social de sua identidade.
O Pelourinho é apenas uma exposição, uma espécie de teatro que esconde o verdadeiro eu
dessa população? A falta de representação da escravidão é uma repressão do trauma ou uma forma
de resiliência dessa cultura?
Segundo a afirmação de Singer e Kimbles (2004: 19) de que um grupo traumatizado pode
representar um "falso eu" para o mundo, poderíamos dizer que os costumes, as pinturas e a dança
que observamos poderiam estar mostrando um "falso eu". e que a identidade mais autêntica e
vulnerável está escondida dos olhos do público. É possível que um grupo tão traumatizado com suas
defesas possa se encontrar vivendo com uma história que abrange várias gerações, vários séculos ou
mesmo milênios com experiências repetitivas e feridas que fixam esses padrões de comportamento
e emoção no que os psicólogos analíticos passaram a conhecer. como complexos. (Cantor e Kimbles
2004: 19)
As entrevistas com os artistas e com figuras importantes da comunidade, assim como a visita
ao cemitério de escravos e as letras da música, revelam um outro lado do sofrimento e do trauma. A
maioria das músicas se refere a um passado fantasioso e irreal, com fantasias de poder e
grandiosidade.
Podemos também notar uma certa depressão por parte dos entrevistados, pois há pouca
perspectiva no futuro e um sentimento de desânimo. Eles eram o futuro dos adolescentes negros do
nosso estudo?
Os habitantes do Pelourinho esperam ajuda do governo e reclamam amargamente da falta de
apoio oficial. Os pintores não se sentem reconhecidos e valorizados e todos parecem preocupados
com o possível esgotamento de seu lugar. No entanto, há muito pouca iniciativa privada.
Observamos certa passividade e um ressentimento quase infantil. Como sabemos, as pessoas em
quem os efeitos do trauma tornam-se arraigados geralmente desenvolvem um senso crônico de
desamparo e vitimização, como vimos em nosso estudo. Então fica claro que por trás das pinturas
coloridas há profunda depressão e tristeza. Nossos dados nos permitem dizer que os conflitos, o
sofrimento e as energias agressivas são raramente expressos. Pelo contrário, a maioria das imagens
é suave e alegre, expressando uma natureza idealizada ou um paraíso.
Provavelmente, a energia usada para afastar a memória da experiência traumática
empobreceu a vida mental ou a força para tirar a vida de um modo mais ativo e consciente. Embora
as defesas tenham ajudado a sobreviver ao mesmo tempo, estão reprimindo a energia necessária que
poderia romper a barreira racial.
Enquanto este Centro Histórico protege e dá uma estrutura aos seus habitantes, ao mesmo
tempo é uma prisão que forja uma identidade. Uma identidade baseada principalmente na cor da
pele. Os afrodescendentes podem se sentir em casa e protegidos no Pelourinho. Mas esta é uma
proteção que pode impedir o desenvolvimento posterior, uma proteção que não permite a fuga dessa
identidade de grupo. Como Kaplinsky diz: "pertencer implica um limite e enquanto um limite
fornece uma sensação de contenção, ele também pode ser uma área de intercurso, ou um ponto a ser
quebrado - ou" de "- para" tornar-se "e" individuação '". (Kaplinsky 2009, p.63)
Embora o trauma do sequestro e da subordinação forçada não tenha sido diretamente
experimentado pelos sujeitos deste estudo, a memória da escravidão parece forjar uma identidade
coletiva, mesmo que não seja sentida por todos nessa comunidade. Podemos até nos perguntar se o
nome "pelourinho" tem, de alguma forma, um efeito inconsciente na população "obrigando" a
repetir as memórias coletivas como uma experiência contemporânea. Como vimos, o lugar onde ele
ficou por séculos foi substituído por fontes, estátuas e centros musicais, mas seu nome certamente
permite que ninguém esqueça a escravidão que foi praticada lá e parece ser perpetuada como um
complexo cultural centrado em uma trauma coletivo.
Sabemos que, quando o trauma não é integrado à totalidade da experiência de vida de uma
pessoa, a vítima permanece fixada no trauma. Interrupção ou perda de apoio social está associada à
incapacidade de superar os efeitos do trauma psicológico. A falta de apoio pode deixar marcas
duradouras no ajuste e funcionamento subsequentes. Freud (1893) descreveu uma compulsão para
repetir o trauma como uma tentativa do organismo de drenar esse excesso de energia. Ele achava
que, refazendo e repetindo o trauma, as vítimas tentavam mudar uma postura passiva em relação a
um enfrentamento ativo. Não seria o caso das crianças abandonadas nas ruas? Isso não explicaria o
sentimento de vitimização de alguns habitantes?

Conclusão
As formas pelas quais a memória coletiva e a representação de um passado compartilhado
estão presentes no Pelourinho, através da pintura e da música, não significam uma elaboração ou
transformação do trauma, mas podem levantar duas hipóteses: elas poderiam estar expressando
defesas que possam ajudar o espírito deste grupo para sobreviver, ou então revelar uma divisão
entre a psique coletiva, um trauma e um complexo cultural. Talvez ambos sejam válidos.
Se o trauma vincula passado a presente através de representações e imaginação, então o que
presenciamos como a representação da escravidão, pode indicar que este trauma está agindo no
presente na forma de comportamentos repetitivos e compulsivos de submissão inconsciente e baixa
estima, o que pode explicar a situação sócio-cultural crítica dos descendentes de africanos na maior
parte do Brasil. Os poucos personagens negros históricos, como o escravo Anastácia e outros que
pertencem à heróica luta pela liberdade, não foram incorporados à consciência coletiva e
permanecem escondidos no fundo de um pequeno cemitério, por exemplo. Raramente mencionado,
retratado ou cantado por seus descendentes, eles não são usados como exemplos de orgulho ou
auto-estima. A riqueza cultural e a capacidade de resiliência dos afrodescendentes e a contribuição
que seus ancestrais deram ao desenvolvimento da nação permanecem inconscientes. As idéias de
domínio, controle e poder ainda são depositadas nos brancos, provocando assim uma divisão
defensiva. De acordo com Young-Eisendrath (1987: 41), neste caso, duas condições podem estar
presentes: ansiedade (ou medo) - quando o Outro é experimentado como poderosamente maligno -
ou inveja - quando o Outro é experimentado como poderosamente bom, mas detém o poder e "os
presentes" para si. Como ela aponta: "o racismo é um complexo psicológico organizado em torno
do arquétipo dos opostos, a divisão da experiência em bom e mau, branco e preto, eu e o outro".
Uma das consequências dessa cisão é explícita nas projeções sobre o "corpo do negro" (Young-
Eisendrath 1987: 41). Prostituição e exploração do corpo, especialmente dos corpos de mulatas
vendidas como mercadoria, e do corpo masculino negro como sendo forte e sensual, baseia-se no
estereótipo de que os negros têm melhores atributos "físicos", como se estivessem "mais próximos
da natureza" e, portanto, dotados de uma sexualidade especialmente atraente e de uma força
excepcional. Esse estereótipo é claramente assumido pela população observada, que usa seu corpo e
arte corporal como os principais veículos de sua cultura. O mesmo fato que observamos em nossos
estudos com adolescentes quando as meninas percebem a possibilidade de sucesso profissional
através da exposição corporal. Paula e Walter Boechat fizeram uma observação semelhante: "a idéia
da inferioridade dos grupos não brancos ainda permanece no inconsciente cultural (isto é) a idéia de
que os negros podem chegar a uma realização social apenas no esporte ou na música, não profissão
acadêmica ". (Boechat, W e Boechat, P. 2009, p.112)
Por outro lado, podemos entender alguns comportamentos observados no Pelourinho, como
formas defensivas de comportamento, manobras para seduzir e enganar os poderosos, e estão longe
de expressar os verdadeiros sentimentos dessa população. Eles podem até ser considerados como
uma forma de resiliência e capacidade de sobrevivência dessas pessoas que ainda hesitam em
assumir sua plena liberdade. Um bom exemplo é uma cena observada em um restaurante no
Pelourinho, com a resposta gentil e sorridente da garçonete (negra) ao cliente agressivo (branco)
que reclamou da lentidão do serviço: "Acalme-se aí, meu rei, o que é a pressa, sua comida está a
caminho ".
Então, quanto mais estudamos esse fenômeno, mais complexo ele se torna. O que fica
evidente é que o silêncio e a falta de estudos sobre o assunto contribuíram para a preservação de
estereótipos que são crenças carregadas de emoção, baseadas em complexos culturais que
interferem em ver as pessoas com mais precisão e empatia. Provavelmente, esses estereótipos
pertencem a todos os brasileiros, o que dificulta o desenvolvimento de grande parte dessa
população, tanto em termos emocionais quanto em termos socioeconômicos.
Assim, poderíamos dizer que os estudos antropológicos, históricos e sociais, os dados
epidemiológicos, os estudos comparativos em preto e branco nos permitem afirmar que há fortes
evidências de um complexo cultural devido ao trauma da escravidão na população observada.
(Figura 6) E também podemos dizer que, para ter um país mais saudável, a nova geração precisa
interpretar e chegar a um acordo com seu passado traumático coletivo e sua relação com o passado.
E para isso, é necessário pesquisar as origens, curar o trauma e restaurar a dignidade da herança
negra. É importante notar que a questão do trauma trazida pela escravidão formou um complexo
que atinge a cultura brasileira como um todo, e não apenas os afrodescendentes. Esse complexo
provavelmente alimenta o complexo de inferioridade apontado em outros estudos, que é
considerado a base psicológica para a tolerância à corrupção política no país (Ramos 2004). Uma
vez que todos os brasileiros são de alguma forma afetados por esses complexos em sua criação,
agora identificados como "superiores" e agora "inferiores", a identidade nacional e a possibilidade
de construir uma nação mais saudável e justa se tornam ameaçadas, perpetuando inúmeras
projeções independentes de cor de pele e desconectado da realidade, mas aprisionado em uma
história vergonhosa e trágica. Neste caso, somos todos "vítimas" e só a dolorosa consciência da
"negritude da nação" poderá restaurar o valor da herança africana na formação de uma identidade
nacional. Aliás, não existe esse termo como "afro-brasileiro", "afro-brasileiro" ou
"afrodescendente". Estes termos foram usados aqui apenas para fins de diferenciação. Todos nós
nos chamamos simplesmente de "brasileiros", o que provavelmente indica que uma parte do
substrato social que forma a identidade nacional permanece intacta.
REFERENCES

Avanci, J et al. (2007) Adaptação transcultural de escala de autoestima para adolescentes.


Psicologia: Reflexão e Crítica 20 (3):1-13.
Barton, C. E. (2001) Sites of memory: perspectives on architecture and race, New York: 
Princeton Architecture Press.
Boechat,W and Boechat, P. (2009) Race, racism and inter-racialism in Brazil: clinical and 
cultural perspectives in Proceedings of the Seventeenth International Congress for 
Analytical Psychology. Daimon. Verlag. Einsiedeln, Switzerland.  
Cerqueira, N. (ed.) (1994) Pelourinho, a grandeza restaurada, Salvador: Fundação 
Cultural do Estado da Bahia.
Elkins, S.M.(1968) Slavery. Chicago: University of Chicago Press.
Eltis, D. (2003) Migração e estratégia na história global. In Florentino, M. and Machado 
C. (ed.), Ensaios sobre a escravidão, Belo Horizonte: Editora IFMG.  
Eyerman, R. (2001) Cultural Trauma: Slavery and the Formation of African American 
Identity, Cambridge: Cambridge University Press.
Furtado, C. (2000) Formação Econômica do Brasil, São Paulo: Publifolha.  
Freud, S. (1893) On the Psychical Mechanism of Hysterical Phenomena. Int. J. Psycho-
Anal., 37 (1), 8-13. (Translation by James Strachey, 1956)
Hale, E.G (1998) Making Whiteness: The Culture of Segregation in the South, 1880-
1940, New York: Pantheon Books.
Henriques, R. (2001) Desigualdade racial no Brasil: evolução das condições de vida na 
década de 90. Rio de Janeiro: Ipea (texto para discussão nº 807). Retrieved: 
www.ipea.gov.br. 
Hoffmann, R. (2001) "Distribuição da renda no Brasil: poucos com muito e muitos com 
muito pouco", in: Dowbor L, Kilsztajn S. (org) Economia social no Brasil. São Paulo: 
Senasc.Ibge. 
Kaplinsky, C. (2009) Shifting shadows: shaping dynamics in the cultural unconscious
in Proceedings of the Seventeenth International Congress for Analytical Psychology. 
Daimon. Verlag. Einsiedeln, Switzerland.  
Kilsztajn, S. et al. (2008) Race, Equality and Income Distribution in Brazil, retrieved 
from http:// www.abep.nepo.unicamp.br, accessed on 2008, June 10.
Lima, M. E. and Vala, J. Social success, whitening and racism. Psic.: Teor. e Pesq. 2004,
vol.20, n.1, pp. 11-19.
Miranda, L. B. & Santos, M. A. (2002) Pelourinho: desenvolvimento socioeconômico.
Salvador: Secretaria da Cultura e Turismo.
Pinho, P. (2004) Reinvenções da África na Bahia, São Paulo: Anna Blume Editora.
Ramos, Denise G. (2004) "Corruption. A symptom of a cultural complex in Brazil?" in 
Singer, T. and Kimbles, S. The Cultural Complex - contemporary Jungian perspectives 
on psyche and society. Hove and New York: Brunner-Routledge.
________________ (2009) The influence of ancestrally and skin color in self esteem and
identity: a comparative study between graduated students from São Paulo and 
Salvador. Unpublished research. PUCSP.
Ramos, D. et al. (2010) Identity formation and feelings of self-esteem: a comparative study between
black and white students. Unpublished research. PUCSP.
Rocha, C. (1994) Roteiro do Pelourinho, Salvador: Oficina do Livro.
Singer, T. and Gimbles, S. (2004) The Cultural Complex - contemporary Jungian
perspectives on psyche and society, Hove and New York: Brunner-Routledge.
Young-Eisendrath, P. (1987) "The absence of black Americans as Jungian Analysts", 
Quadrant, 20(2).

Figure 1
Photo by the author, 2009

Figure 2
The owner's daughter by Adriano Luiz Gonçalves ( Salvador, 2009)

Figure 3
Food for birds by Raimundo Bastos dos Santos (Salvador, 2009)
 
Figure 4
Orixá by Ricardo Miranda dos Santos (Salvador, 2009)

 
Figure 5
São Joaquim's street fair by José Maria de Souza (Salvador, 2009)

Figure 6 

Você também pode gostar