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Novas perspectivas da fraude à execução nos processos

civil, trabalhista e tributário

NOVAS PERSPECTIVAS DA FRAUDE À EXECUÇÃO NOS PROCESSOS CIVIL,


TRABALHISTA E TRIBUTÁRIO
New perspectives of creditor defrauding in civil, labour and taxation proceedings
Revista de Processo | vol. 277/2018 | p. 257 - 280 | Mar / 2018
DTR\2018\8988

Cristiano Gomes de Brito


Doutor e Mestre em Direito Empresarial pela Universidade Federal de Minas Gerais.
Especialista em Direito Processual Civil pela Universidade Federal de Uberlândia – UFU.
Professor Associado de Direito na Universidade Federal de Uberlândia – UFU. Advogado.
cristianobrito@cristianobrito.com.br.

Área do Direito: Civil; Processual; Tributário; Trabalho


Resumo: O presente trabalho tem por objetivo analisar os conceitos e as características
da fraude à execução, na seara da execução civil, trabalhista e tributária, demonstrando
seus aspectos divergentes e convergentes, bem como suas aplicações práticas.
Propor-se-á uma releitura sobre os contornos e reconhecimento da fraude à execução,
passando a utilizar interpretação sistemática, ao exigir do adquirente dever de conduta
proativo, em que lhe é exigido diligenciar sobre em que condições econômicas se
encontra o alienante ao tempo da realização do negócio. Demonstrar-se-á que o novel
Código de Processo Civil expressamente retirou o elemento subjetivo para o
reconhecimento da fraude à execução, atribuindo ao terceiro a comprovação de que a
aquisição não se deu em conluio com o devedor. Na execução trabalhista,
demonstrar-se-á que o reconhecimento ocorrerá a partir do ajuizamento da
reclamatória, em face do privilégio do crédito, pois ao tempo da alienação ou da
oneração, tramitava contra o devedor ação capaz de reduzi-lo à insolvência. Por fim, que
em decorrência do crédito privilegiado, haverá presunção absoluta de fraude na
alienação ou na oneração de bens realizada após o crédito tributário ser regularmente
inscrito em dívida ativa.

Palavras-chave: Processo – Trabalho – Civil – Fraude – Execução – Empresarial –


Credores – Penhora – Boa-fé
Abstract: The purpose of this paper is to analyze the concepts and characteristics of the
defrauding of creditors in the fields of civil, labour and taxation execution, demonstrating
their diverging and converging aspects, as well as their practical applications. A
rereading of the profiles and recognition of defrauding of creditors will be proposed,
whereby systematic interpretation is used, by requiring of acquirers due proactive
conduct and diligence regarding the economic situation in which the alienators find
themselves at the time of alienation. It will be demonstrated that the new Code of Civil
Procedure expressly removed the subjective element for recognition of defrauding of
creditors, attributing to the third party the proof that acquisition did not occur in
collusion with the debtor. In relation to labour execution, it will be demonstrated that
recognition will occur with effect from the filing of labour grievance proceedings, in view
of the privilege of the labour credit, since at the time of alienation or encumbrance, a
lawsuit against the debtor was underway which was capable of reducing them to
insolvency. Finally, it will be demonstrated that as a result of privileged credit, there will
be conclusive presumption of fraud against alienation or encumbrance of assets once
taxation credit has been duly registered as active debt.

Keywords: Proceeding – Labour – Civil – Fraud – Execution – Corporate – Creditors –


Attachment – Good Faith
Sumário:

1.Introdução - 2.Contornos da fraude à execução - 3.A fraude à execução no processo


civil - 4.A fraude à execução no processo do trabalho - 5.A fraude na execução tributária
- 6.Conclusão - 7.Bibliografia
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1.Introdução

A fraude à execução consiste na prática de qualquer negócio jurídico realizado pelo


devedor, reconhecida curso do processo de execução, que o reduz a insolvência ou
impede o cumprimento da obrigação, sem deixar bens suficientes para saldar a dívida,
ou quando, ao tempo da alienação ou da oneração, tramitava contra o devedor ação
capaz de reduzi-lo à insolvência. A finalidade é tornar sem efeito os atos de alienações
ou onerações de bens realizados, assegurando a efetividade do processo.

O presente trabalho tem por objetivo descrever e analisar o instituto da fraude à


execução nos processos civil, trabalhista e tributário, diante das peculiaridades de cada
crédito, propondo uma releitura de seus requisitos diante do novo Código de Processo
Civil (LGL\2015\1656).

Para tanto, será discorrido o conceito e características da fraude à execução, abordando


os requisitos para caracterização. Em seguida, sua incidência no âmbito da execução
comum e trabalhista. Por fim, abordar-se-á seu reconhecimento na execução do crédito
tributário.

2.Contornos da fraude à execução

A realização de negócio jurídico lícito de disposição de bens praticado pelo devedor,


como alienação ou doação, faz parte da administração regular de bens, como efeito da
circulação econômica e o exercício do direito de propriedade. O fato de ser devedor, por
si só, não enseja a ineficácia ou nulidade do ato praticado.

Esse aspecto é observado por Araken de Assis (2016:380), para quem o patrimônio da
pessoa, no exato ângulo entrevisto, sempre in feri, modificando-se por acréscimo ou
diminuição de bens e frutos, e a ordem jurídica não inibe as atividades econômicas de
quem assume obrigações, ao contrário, é essencial à economia de mercado.

A grande questão é em que circunstâncias o devedor os realiza, devendo-se perquirir


qual a finalidade e consequência do ato praticado. Se o pratica sem prejudicar os
credores, como ato regular de gestão e administração de seus bens, como negócios
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jurídicos comuns, não haverá caracterização da fraude .

Porém, se do negócio decorrer a insolvência do devedor, ou o praticar em estado de


insolvência, este ato é tido pelo direito como fraudulento e lesivo a credores,
acarretando-lhe sua nulidade ou ineficácia perante credores. A proteção aos
prejudicados decorre de dois relevantes institutos jurídicos, quais sejam: a fraude a
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credores e a fraude à execução. Essa de natureza processual, aquela de natureza de
direito material.

Daí decorrerá a responsabilidade patrimonial, em que serão atingidos bens que não
pertencem ao executado, mas sim a terceiro, a quem foi transferido em fraude,
notadamente nas hipóteses previstas no art. 790, V e VI, do CPC (LGL\2015\1656),
situação em que o bem não mais integra o patrimônio do devedor, razão pela qual se
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buscará tornar ineficaz a transferência, sujeitando-o a constrição na execução.

A fraude à execução consiste na prática de qualquer negócio jurídico, gratuito ou


oneroso, realizado pelo devedor, como venda, doação, renúncia de direito, remissão de
dívida, constituição de garantia real, entre outros, no curso do processo de execução,
que o reduz a insolvência ou impede o cumprimento da obrigação, notadamente de
pagar quantia, sem deixar bens suficientes para saldar a dívida, ou quando, ao tempo da
alienação ou da oneração, tramitava contra o devedor ação capaz de reduzi-lo à
insolvência.

O objetivo da fraude à execução é tornar sem efeito os atos de alienações ou onerações


e, em consequência, assegurar a utilidade efetividade da execução, com o recebimento
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do crédito, bem como manter hígida a dignidade da justiça, que se vê afrontada com a
conduta do devedor, incidindo a contrição judicial em bens que não mais pertençam ao
devedor.

Ressalta-se que a ineficácia decorrente do reconhecimento da fraude deve ser declarada


no processo de execução, contudo, poderá, como se verá adiante, tornar ineficaz
negócios jurídicos praticados antes do processo de execução ou do cumprimento de
sentença, retroagindo aos atos de disposições anteriores.

Assim, quando já iniciado a execução ou quando houver processo capaz de levar o


devedor a insolvência e ocorrer atos de disposição de bens ou direitos, haverá a fraude à
execução, constituindo-se ato atentatório à dignidade da justiça, acarretando na
ineficácia do ato praticado em relação ao credor.

Grande questão não é o conceito de fraude à execução. Isso é claro e definido em linhas
anteriores, isto é, atos praticados pelo devedor que o torne insolvente, ou praticados já
insolvente, impedindo o cumprimento da obrigação em um processo. A vexatio quaestio
é o momento em que se caracteriza. Como se verá em linhas seguintes, tratando-se de
execução cível, trabalhista ou tributária, a fraude à execução será caracterizada em
momentos processuais diversos.

Não obstante a fraude atacar e afrontar os interesses do credor, o ato praticado agride
ainda sobremaneira o Poder Judiciário, pois visa enganar e ludibriar as decisões judiciais,
comprometendo a prestação jurisdicional.

Nesse contexto, Araken de Assis (2016:380) assevera que na hipótese de o executado


dispor de algum bem na pendência de processo, como parece curial, a fraude adquire
superlativa gravidade, pois o eventual negócio dispositivo não agride somente ao círculo
potencial de credores. Entra em cena, a par desses interesses particulares, a própria
efetividade da atividade jurisdicional do Estado.

Por essa razão, seu reconhecimento pode ser de ofício, pois a efetividade e cumprimento
do emanado jurisdicional transcendem aos interesses das partes, tratando-se de matéria
de ordem pública, reconhecida nos próprios autos da execução. Tamanha gravidade que
o CPC (LGL\2015\1656), em consonância com essa importância, caracteriza a fraude
como ato atentatório à dignidade da Justiça, previsto no art. 774, I, do CPC
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(LGL\2015\1656) .

3.A fraude à execução no processo civil


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O art. 792 do CPC (LGL\2015\1656) prevê os casos em que alienação ou a oneração de
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bem seja considerada fraude à execução. Compulsando as hipóteses, verifica-se, na
interpretação fria da lei, como se verá adiante, a dispensa do consilium fraudis, isto é, a
comprovação do conluio entre devedor e terceiro, tendo como pressupondo a existência
de processo ao tempo da alienação ou oneração e a insolvência do devedor.

A primeira ocorrerá quando sobre o bem pender ação fundada em direito real ou com
pretensão reipersecutória, desde que a pendência do processo tenha sido averbada no
respectivo registro público, se houver. Nesse caso, não se trata de execução de pagar
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quantia, e sim de entrega de coisa, o que não é objeto do presente trabalho.

A segunda ocorrerá quando tiver sido averbada, no registro do bem, a pendência do


processo de execução.

Como regra geral, a caracterização da fraude à execução pressupõe a existência de


processo e citação válida, porém a prática jurídica demostrou que entre a propositura da
execução e a data da citação do devedor decorre considerável lapso temporal,
qualificado pela extrema morosidade da prestação jurisdicional

Diante de comum possibilidade, com a finalidade proteger os interesses do credor e


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retirar a alegação de boa-fé do terceiro, o CPC (LGL\2015\1656), no art. 828 , prevê
que o exequente poderá requer a expedição de certidão comprobatória do ajuizamento
de execução admitida pelo juiz, com identificação das partes e do valor da causa, para
fins de averbação no registro de imóveis, de veículos ou de outros bens sujeitos a
penhora, arresto ou indisponibilidade, como a finalidade de se presumir-se em fraude à
execução a alienação ou a oneração de bens efetuada após a averbação.

Neste caso, explica Humberto Theodoro Júnior (2016:325), não se cogita de insolvência
do executado nem de má-fé do terceiro adquirente. A fraude é presumida ex lege. O
problema situa-se na eventualidade de não ter sido averbada a execução, mas de ser
comprovada a ciência que tinha o adquirente da existência da penhora, do arresto ou da
indisponibilidade que incidia sobre o bem negociado.

A averbação torna pública a execução, com efeitos erga omnes, por consequência
oponível a terceiros, retirando-lhes sua boa-fé e, por conseguinte, seu desconhecimento
da demanda, invertendo-se a lógica da presunção, pois presume-se conhecedor da
execução movida pelo credor.

Assim, uma vez admitida a execução, presume-se em fraude a alienação ou a oneração


de bens efetuada após a averbação da certidão, mesmo antes da citação do executado.

A terceira hipótese ocorrerá quando tiver sido averbada, no registro do bem, hipoteca
judiciária ou outro ato de constrição judicial originário do processo onde foi arguida a
fraude. Neste caso pouco importa a insolvência, pois refere-se à constrição de bens
específicos decorrente de qualquer gravame judicial, com efeito erga omnes, presumindo
em fraude a alienação realizada após a averbação.

A quarta quando, ao tempo da alienação ou da oneração, tramitava contra o devedor


ação capaz de reduzi-lo à insolvência. In casu, poderá tratar-se de qualquer ação de
conhecimento, como a ação pauliana, ou de execução, que possa levar o devedor a
insolvência.

Nesse caso, não se busca tornar ineficaz a alienação ou oneração de determinado bem, e
sim de qualquer bem do devedor, ocorrida desde a citação na fase de conhecimento, em
face da insolvência, diante da inexistência de bens passíveis de penhora.

Não obstante as hipóteses previstas anteriormente para o reconhecimento da fraude à


execução, mister se faz o preenchimento de determinados requisitos.
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O primeiro é a prática de ato pelo devedor no curso de processo pendente , não
obrigatoriamente de execução, podendo correr em processo de conhecimento. Porém,
como já ressaltado, o reconhecimento da fraude ocorre no processo de execução,
podendo tornar ineficaz o ato realizado antes do processo de execução ou do
cumprimento de sentença, retroagindo aos atos de disposições anteriores.

De qualquer forma, mister se faz que seja formalizada a relação processual, por meio da
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citação válida do devedor , à exceção da averbação da certidão premonitória, prevista
no art. 828 do CPC (LGL\2015\1656), mencionado anteriormente.

O segundo requisito é a insolvência do devedor, caracterizada pela ausência de bens


suficientes para garantir o pagamento da dívida, mormente na execução quando o
devedor, citado, não paga e não nomeia bens à penhora.

O terceiro requisito refere-se à conduta do terceiro adquirente.

Ao compulsar as hipóteses e requisitos da fraude à execução, prevista no art. 792 do


CPC (LGL\2015\1656), verifica-se, na interpretação literal da lei, que os requisitos para
caracterização são objetivos, relegando para segundo plano o elemento volitivo
consilium fraudis, isto é, a comprovação do conluio entre devedor e terceiro.

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Porém, a questão não se apresenta de forma tão singela, notadamente, em razão da


posição de boa-fé do terceiro adquirente.
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Na evolução do instituto, alguns doutrinadores e julgados entendiam que fraude à
execução era caracterizada com a pratica de atos do devedor realizados após o
ajuizamento da execução, dando nítido contorno protecionista aos interesses dos
credores, relegando para segundo plano o terceiro de boa-fé.
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De outro lado, havia doutrinadores e julgados que entendiam que a fraude seria
caracterizada após a efetiva citação do devedor, vez que estaria nitidamente
comprovado a sua intenção de prejudicar o credor, pois praticaria o negócio após ter
ciência da execução, não repercutindo a boa-fé do adquirente.

Atualmente, a fraude à execução será reconhecida quando se comprovar que o terceiro


estava em conluio com o devedor ou quando houver presunção de que o terceiro era
conhecedor da execução, à exceção das hipóteses de averbações de execuções e
penhoras, que se presume.

Assim, tratando-se de bens sujeito a registro, como imóveis, veículos, aeronaves,


embarcações, entre outros, o reconhecimento da fraude à execução depende do registro
da penhora do bem alienado, ou da prova de má-fé do terceiro adquirente, como o STJ
sedimentou o entendimento por meio da Súmula 375, conferindo maior proteção aos
terceiros de boa-fé.

Por outro lado, se a alienação correr após o registro da penhora, arresto ou da certidão
de distribuição e ajuizamento, haverá a presunção de fraude, pois presumir-se-á que o
terceiro adquirente não está de boa-fé, pois a averbação torna público a situação do
devedor.

No mesmo raciocínio, em se tratando de bens não sujeito a registro, em que os bens se


transferem mediante simples tradição, como obras de arte, joias, aparelhos eletrônicos,
maquinários agrícolas etc., mister se faz a comprovação da má-fé do adquirente, o que
muitas das vezes se torna quase impossível, diante da difícil e complexa comprovação,
agravada pela máxima de que a boa-fé se presume e pelo fato da simples transferência
pela tradição.

Inovando quanto ao tema, o art. 792, § 2º, do CPC (LGL\2015\1656), estabelece que,
no caso de aquisição de bem não sujeito a registro, o terceiro adquirente tem o ônus de
provar que adotou as cautelas necessárias para a aquisição, mediante a exibição das
certidões pertinentes, obtidas no domicílio do vendedor e no local onde se encontra o
bem, o que de certa forma, atribui ao terceiro certa responsabilidade pela busca da real
situação do devedor, não sendo mais suficiente o simples argumento desconhecimento.

A questão posta a partir do novo CPC (LGL\2015\1656) é se o terceiro adquirente


buscou conhecer a situação econômica do devedor/alienante, devendo-se mostrar
proativo pela busca da real situação do devedor. Sua inércia lhe desfavorecerá.

Dessa forma, questão relevante é verificar se e como o terceiro adquirente deveria ter
ciência da existência da ação ou das condições financeiras do devedor.
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Para o STJ , não havendo averbação, mister se faz a prova de má-fé do adquirente, isto
é, o conhecimento da situação do devedor e o conluio em prejudicar o credor.

Contudo, sejam os bens sujeitos ou não a registro, o ônus da prova de que a aquisição
não ocorreu em fraude à execução deve ser do adquirente.

A novel sistemática processual expressamente retirou o elemento subjetivo para o


reconhecimento da fraude à execução, atribuindo ao terceiro a comprovação de que a
aquisição não se deu em conluio com o devedor.

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Deve-se buscar uma releitura sobre os contornos e o reconhecimento da fraude, vez


que, em interpretação sistemática, verifica-se a imposição ao adquirente de um dever de
conduta proativo, em que lhe é exigido diligenciar sobre em que condições econômicas
se encontra o alienante ao tempo do negócio realizado.

Porém, não se defende que esta regra seja absoluta, ou que não comporte flexibilização
diante do caso concreto, notadamente quando a eventual demanda tramitar em comarca
diversa ou distante de onde corre a ação ou onde reside o devedor.

Não se deve admitir é a manifesta omissão do adquirente em se preocupar com a


situação econômica do alienante, ao ponto de dolosamente se omitir quanto a simples
diligências de buscas de certidões de simples e fácil acesso, diante do mundo moderno.
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Ademais, deve-se adotar o regime dinâmico de inversão do ônus da prova , em que
diante das peculiaridades da causa, da impossibilidade ou excessiva dificuldade em
cumprir o ônus probatório, o juiz atribui o ônus da prova de modo diverso, caso em que
deverá dar à parte a oportunidade de se desincumbir do ônus que lhe foi atribuído.
Comungando com esse entendimento, Humberto Theodoro Júnior (2016:330) defende
que nessa nova concepção, o juiz deve imputar o encargo de esclarecer o quadro fático
obscuro à parte que, na realidade, se acha em melhores condições de fazer.

No mesmo sentido, Araken de Assis (2016:398), afirmando que é uma questão de fato,
portanto, e cujo ônus toca ao exequente, presumindo-se a boa-fé do adquirente. Em
contrapartida, a má-fé do adquirente implica a do executado. Não basta a circunstância
objetiva de a alienação ocorrer no curso do processo. Dependerá das circunstâncias do
caso concreto. Por exemplo, a aquisição de imóvel situado na mesma comarca em que
tramita a execução, dispensando o comprador na escritura, contra os usos do comércio
jurídico, as certidões negativas, principalmente a do distribuidor, constitui indício seguro
da má-fé. Abstendo-se de observar as cautelas usuais para não prejudicar terceiros, o
adquirente há de arcar com as consequências da sua omissão. É bem de ver que essa
orientação excessivamente protetora do adquirente, exigindo a má-fé, decorrente da
efetiva ciência da pendência da demanda, leva soluções iníquas. Do terceiro de boa-fé
espera-se que tome as providências usuais das pessoas honestas e cautelosas, ou seja,
providencie a certidão de registo da distribuição no lugar da situação do imóvel. É
diligência corriqueira e adequada nos negócios imobiliários. O art. 792, § 2º, dispôs
nesse sentido: atribui ao terceiro adquirente o ônus de exibir as certidões pertinentes,
obtidas no domicílio do vendedor e no local onde se encontra o bem, demonstrando que
adotou “as cautelas necessárias para a aquisição”. Dessa forma, caberá ao adquirente o
ônus de comprovar que diligenciou quanto as condições financeiras do alienante, porque
há a impossibilidade de o credor provar que o adquirente agiu de boa-fé ou que estava
em conluio com o devedor, como previsto no art. 373, § 1º, do CPC (LGL\2015\1656).

Assevera, Humberto Theodoro Júnior (2016:330) que na aquisição de imóveis, é


obrigatória a apresentação de certidões negativas de ações para a lavratura do ato
notarial, de modo que, se isto não se realiza a contento, a falha é do adquirente que
tinha condições e, até mesmo, o dever de se certificar das demandas pendentes contra o
alienante, das quais poderia decorrer sua insolvência para fins do art. 792, IV, do NCPC
(LGL\2015\1656). Por isso, ao invocar a boa-fé para eximir-se das consequências da
fraude à execução, o terceiro terá de demonstrar que, não obstante o zelo com que
diligenciou a pesquisa e certificação de inexistência de ações contra o alienante, não
chegou a ter conhecimento daquela que, in concreto, existia e, na realidade, acabou
sendo fraudada.

Mantendo-se o atual entendimento, o terceiro adquirente manter-se-á em uma zona de


conforto, adubando um fértil terreno para a pratica de fraudes, diante da sua deliberada
omissão, agindo de modo indiferente a esse conhecimento.

Não se defende a presunção de má-fé do adquirente, mas sim, uma postura, um dever
de conduta proativo, em que se busque conhecer a situação econômica do alienante,
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como prevê o CPC (LGL\2015\1656), não só para bens móveis, como para imóveis.

Entende Humberto Theodoro Júnior (2016:330) que não se trata de impor-lhe prova
negativa em caráter absoluto, mas é de exigir comprovação de quadro fático dentro da
qual se possa deduzir, com razoabilidade, que não teve conhecimento da insolvência do
alienante, e nem tido condições de conhecer a ação ou as ações pendentes contra ele. É
o que ocorre, por exemplo, quando as ações tenham sido aforadas em comarca diversa
daquela em que ocorreu o negócio averbado de fraudulento, ou quando protesto tenham
sido registrados em cartório fora da localidade em que o transmitente mantem seu
domicilio ou a sede de seus negócios habituas.

Assim, manter-se-ia presumida a boa-fé do adquirente quando demonstrar que realizou


as cautelas exigíveis básicas, mínimas, dentro do padrão do homem médio realizar
negócio, como consulta ao cartório de protesto, certidão de distribuição de ações na
Justiça Federal, Estadual e Trabalhista, bem como certidão negativa de débito junto às
Fazendas Públicas. Isto é diligência básica, comum, corriqueira, básica, para a realização
de qualquer negócio econômico, notadamente na aquisição de imóveis.

Resta claro que a nova sistemática processual, ao exigir o dever de conduta do


adquirente na aquisição ou oneração de bens, não encontra acolhida nos precedentes e
súmula do STJ, para quem o ônus da prova é do credor, em comprovar a má-fé do
adquirente.

Para Humberto Theodoro Júnior (2016:324), a orientação do NCPC (LGL\2015\1656)


reduz um pouco o alcance da Súmula 375, visto que não mais imputa, invariavelmente,
ao exequente o ônus de provar a má-fé do terceiro adquirente, sendo evidente a adoção
de um regime dinâmico de inversão do ônus da prova tradicional em matéria de fraude e
má-fé. Não prevalece mais a presunção clássica de que a boa-fé se presume e a má-fé
deve ser sempre provada.

No mesmo sentido, Teresa Arruda Alvim Wambier et al. (2015:1146), para quem, diante
do NCPC (LGL\2015\1656), o entendimento jurisprudencial que impõe ao exequente
provar a má-fé do adquirente deve necessariamente ser alterado, havendo, por força de
lei, inversão do ônus dessa prova, cabendo ao terceiro-adquirente fazer prova da sua
boa-fé e não o contrário. A Súmula 375 do STJ deve ser, na sua segunda parte,
revogada, só se justificando a sua manutenção quanto à exigência da citação.

Aguardar-se-á eventual reinterpretação do STJ sobre o tema, o que, de certa forma, foi
iniciado e tentado com o voto vencido da Ministra Nancy Andrighi, no REsp 956.943/PR,
em que propunha a revisão da Súmula 375, dando novos contornos à fraude à execução,
nos seguintes termos:

[...] pode-se estabelecer as seguintes premissas em relação à caracterização da fraude


de execução na alienação de bens imóveis: (i) presume-se fraude de execução na venda
de bens quando sobre eles tiver sido ajuizada ação fundada em direito real ou quando,
ao tempo da alienação ou oneração, tiver sido ajuizada contra o devedor ação capaz de
reduzi-lo à insolvência; (ii) considera-se ajuizada a ação, para efeitos de presunção da
fraude de execução, pela existência de petição inicial distribuída ou despachada pelo Juiz
e devidamente cadastrada no distribuidor, de maneira a constar das certidões por ele
expedidas; (iii) a averbação da penhora na matrícula do imóvel gera presunção absoluta
de que a alienação do bem se deu em fraude de execução; (iv) há presunção relativa da
má-fé do terceiro adquirente na aquisição de imóvel em fraude de execução, de sorte
que recai sobre ele o ônus de provar que não tinha conhecimento da existência de ação
capaz de reduzir o devedor à insolvência ou de constrição sobre o bem adquirido; (v) há
presunção relativa da má-fé do devedor-executado na alienação de imóvel em fraude de
execução, de sorte que recai sobre ele o ônus de provar que não tinha conhecimento da
existência de ação capaz de reduzi-lo à insolvência ou de constrição sobre o bem
alienado; (vi) a prova de desconhecimento quanto à existência de ação capaz de reduzir
o devedor à insolvência ou de constrição sobre o imóvel se faz mediante apresentação
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de pesquisas realizadas nos distribuidores, por ocasião da celebração da compra e


venda, abrangendo as comarcas de localização do bem e de residência do alienante nos
últimos 05 anos [...].

Dessa forma, resta hialino e de fundamental relevância perquirir sob a conduta do


terceiro adquirente diante dos atos praticado pelo devedor. Emerge-se, diante do novo
cenário processual e da conservadora posição jurisprudencial do STJ, a necessidade de
releitura da avaliação da conduta do terceiro adquirente na fraude à execução.

Por outro lado, a fraude pode ser reconhecida a qualquer momento do processo de
execução, desde que o credor comprove a má-fé do terceiro adquirente, seja de plano,
ou mediante dilação probatória nos próprios autos da execução ou em apartados,
dependendo da complexidade do processo.

Diante desse contexto, para evitar a caracterização de fraude no curso da execução,


notadamente após a penhora, o CPC (LGL\2015\1656), art. 840, estabelece que,
tratando-se de bens móveis, o depositário será o judicial e, não havendo, o exequente.
O devedor será depositário quanto de tratar de bens de difícil remoção ou quando o
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credor anuir. Se antes da execução ou no seu início, cabível será o pedido cautelar de
arresto, ou até, no início de eventual processo de conhecimento, o protesto contra
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alienação de bens.

Quanto ao terceiro, não sendo parte no processo de execução, terá sua esfera jurídica
atacada por decisão judicial. Nesse cenário, prevê o art. 674 que quem, não sendo parte
no processo, sofrer constrição ou ameaça de constrição sobre bens que possua ou sobre
os quais tenha direito incompatível com o ato constritivo poderá requerer seu
desfazimento ou sua inibição por meio de embargos de terceiro. Considerar-se-á como
terceiro o adquirente de bens cuja constrição decorreu de decisão que declara a
ineficácia da alienação realizada em fraude à execução.

Para tanto, como forma se resguardar e preservar os eventuais direitos do terceiro, o


art. 792, § 4º, obriga, antes de declarar a fraude à execução, intimar o terceiro
adquirente, que, se quiser, poderá opor embargos de terceiro, no prazo de 15 (quinze)
dias.

4.A fraude à execução no processo do trabalho

A execução do crédito trabalhista é dotada de maior dinâmica e celeridade, se


comparada com o processo comum, uma vez que o exequente é dotado de privilégios e
garantias que nenhum outro possui, haja vista seu caráter alimentar, razão pela qual
precede a qualquer outro, inclusive os de natureza tributária e com garantia real, como
se verifica no processo de falência.

Diante desse cenário, os requisitos da aplicação da fraude à execução no processo do


trabalho se aproximam quanto aos requisitos e caraterísticas previstas no processo civil,
porém, distancia-se quanto ao momento em que se caracteriza, isso porque as regras na
execução cível visam a proteção do terceiro de boa-fé, e no âmbito trabalhista o escopo
é proteger o credor, em face da natureza alimentar do crédito.

Quanto às hipóteses previstas no art. 792 do CPC (LGL\2015\1656), que norteia o tema,
à exceção do inciso I, da qual a Justiça do Trabalho não detém competência para julgar,
todas as demais são suscetíveis de incidência no âmbito trabalhista, mais comum e
notadamente a prevista no inciso IV, em que se caracteriza quando, ao tempo da
alienação ou da oneração, tramitava contra o devedor ação capaz de reduzi-lo à
insolvência, in casu a reclamatória trabalhista, ainda na fase de conhecimento.

No processo trabalhista, o termo “tramitava” é materializado no ajuizamento da


reclamatória, porque não ocorre o despacho de recebimento da inicial, como no processo
civil, pois a citação é de atribuição do Diretor de Secretaria, como prevê o art. 841 da
18
CLT (LGL\1943\5) , o que não encontra dificuldade, uma vez que a citação se processa
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Novas perspectivas da fraude à execução nos processos
civil, trabalhista e tributário

de forma automática, pois não necessita de requerimento ou de decisão do juízo


determinando-a.

Por essa razão, o reconhecimento da fraude na execução trabalhista incidirá a partir do


ajuizamento da reclamatória, isto é, na gênese da fase de conhecimento, tendo como
fundamento o previsto no art. 792, IV, do CPC (LGL\2015\1656), uma vez que, ao
tempo da alienação ou da oneração, tramitava contra o devedor ação capaz de reduzi-lo
à insolvência, mesmo que desprovido de registro ou de averbação premonitória,
descabendo qualquer investigação quanto a boa ou má-fé do adquirente.

Como espécie de dever de conduta, é exigível do adquirente a diligência necessária para


investigar a capacidade financeira do alienante, notadamente quanto tratar-se de bens
de relevante e elevando valor, notadamente os bens imóveis, veículos, entre outros,
19
como defendido em tópico anterior.

Dessa forma, conclui-se que na fraude à execução em matéria trabalhista não se deve
aplicar a Súmula 375 do STJ, pois não se cogita a boa ou má-fé do adquirente, pois sua
caracterização e circunstâncias são definidas objetivamente pelo legislador.

Não se defende como absoluta a regra, como alertado na fraude no processo civil, pois
dependerá do caso concreto a análise da conduta do adquirente, caso em que se
demonstrar que tomou todas as medidas ou as diligências comuns do homem médio
para a realização do negócio, como certidão de distribuição de feitos, desconfigurará a
fraude à execução, pois demonstrou de forma objetiva sua boa-fé.

Como defendido anteriormente, o que não se pode admitir é a inércia dolosa, ingênua,
do adquirente em não tomar o mínimo cuidado em verificar a situação econômica do
alienante, o que é possível realizar sem maior burocracia.

Assim, é suficiente que, ao tempo da disposição de bens do devedor, haja ação contra o
devedor capaz de levá-lo insolvência, que no caso concreto, se configura com qualquer
reclamatória trabalhista, independente do conhecimento ação pelo terceiro adquirente.
Aliás, exige-se que o terceiro tome as devidas providências necessárias para conhecer a
situação econômica do devedor, como já defendido.

Ademais, resta demonstrado que a alienação ou disposição de bens após o ajuizamento


da ação configura má-fé do devedor/alienante, que age de forma a fraudar futura
execução, pois está ciente que há ação capaz de reduzi-lo à insolvência, sem deixar
patrimônio para assegurar o pagamento da dívida.

Soma-se a isso o fato de que o art. 792, § 4º, não impor como requisito de
reconhecimento da fraude a boa ou má-fé do adquirente do bem, delimitando,
restritivamente, as circunstâncias que a caracterizam, o que de certa forma ganha maior
envergadura e se harmoniza com os preceitos de proteção do crédito trabalhista.
Denota-se, então, que é suficiente que, ao tempo da disposição de bens, haja contra o
devedor ação capaz de reduzi-lo à insolvência, sem necessidade de comprovação da
ciência do terceiro adquirente

Questão tormentosa refere-se ao reconhecimento da fraude à execução quando bens de


sócios são atingidos pela desconsideração da personalidade jurídica, situação em que, no
início do processo, os sócios não figuravam como reclamados. Nessa hipótese, terceiros
adquirem bens dos sócios, que posteriormente são constringidos na execução
trabalhista, em face da insolvência da sociedade para cumprir com suas obrigações,
decorrente do redirecionamento da execução para os sócios. Isso se agrava pelo fato de
nas certidões não constarem, no início do processo, os nomes dos sócios, que
posteriormente terão seus bens atingidos pela desconsideração da personalidade
20
jurídica.

O Código de Processo Civil (LGL\2015\1656), diante da ausência de previsão processual


quanto à forma e ao momento de aplicar a desconsideração da personalidade jurídica,
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Novas perspectivas da fraude à execução nos processos
civil, trabalhista e tributário

criou um mecanismo próprio para executá-la, denominada de incidente de


desconsideração da personalidade jurídica, prevista nos arts. 133 usque 137.
21
O incidente, aplicável também na desconsideração inversa , será instaurado a pedido
da parte ou do Ministério Público, ocasião em que o pedido observará os pressupostos
22
previstos em lei, como o previsto no art. 448 da CLT (LGL\1943\5) , demonstrando-se
o preenchimento dos pressupostos legais específicos para desconsideração da
personalidade jurídica.

Esse incidente será cabível em todas as fases do processo de conhecimento, no


cumprimento de sentença e na execução fundada em título executivo extrajudicial,
dispensado o incidente se requerida na petição inicial, hipótese em que será citado o
sócio ou a pessoa jurídica, sendo resolvido por decisão interlocutória.

No âmbito do processo trabalhista, esse incidente permitirá a desconsideração da


personalidade jurídica seja realizada no início do processo ou na fase de execução,
acarretando relevante efeito jurídico.

Em consequência da procedência da desconsideração, a alienação ou a oneração de


bens, havida em fraude de execução, será ineficaz em relação ao requerente,
verificando-se a partir da citação da parte cuja personalidade se pretende desconsiderar,
o que poderá ocorre no initio litis da reclamatória, o que certamente trará maior
segurança jurídica tanto aos credores, quanto aos adquirentes terceiros de boa-fé.

Dessa feita, regulamentada processualmente a desconsideração da personalidade


jurídica, restará saber como os juízes e tribunais o aplicarão, notadamente nos casos de
23
execuções trabalhistas .

5.A fraude na execução tributária

Na seara da execução do crédito tributário, também incidem os preceitos e


características do instituto da fraude à execução. Porém, torna-se igualmente complexa
a questão do momento em que se reconhece a fraude.

O crédito tributário é dotado de privilégios definidos em lei, preferindo qualquer outro,


seja qual for sua natureza ou o tempo de sua constituição, ressalvados os créditos
decorrentes da legislação do trabalho ou do acidente de trabalho, como previsto nos
arts. 186 e 187 do CTN (LGL\1966\26).

Em decorrência do crédito privilegiado, o art. 185 do CTN (LGL\1966\26) dispõe que se


presume fraudulenta a alienação ou oneração de bens ou rendas, ou seu começo, por
sujeito passivo em débito para com a Fazenda Pública, por crédito tributário
regularmente inscrito como dívida ativa, não se aplicado na hipótese de terem sido
reservados, pelo devedor, bens ou rendas suficientes ao total pagamento da dívida
inscrita.

Assim, momento relevante na caracterização da fraude à execução fiscal é o da inscrição


24
do débito em dívida ativa , após regular processamento administrativo, com nítida
feição a maior proteção do credor, diante do manifesto e preponderante interesse
público, por tratar-se da Fazenda Pública.

Como se depreende, o momento de reconhecimento da fraude é anterior mesmo ao


próprio ajuizamento da execução, bastando que o ato praticado pelo devedor tenha sido
praticado após a inscrição do débito em dívida ativa.

Por conseguinte, torna irrelevante investigar a conduta do terceiro adquirente, pois a


presunção de fraude, prevista no artigo 185 do CTN (LGL\1966\26), não pode ser
afastada, mesmo quando o terceiro comprovar de forma inequívoca a sua boa-fé.

Dessa forma, a alienação ou oneração de bens ou rendas pelo devedor, após inscrita a
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Novas perspectivas da fraude à execução nos processos
civil, trabalhista e tributário

dívida ativa, sem reserva de bens para assegurar o pagamento do crédito tributário,
gera presunção absoluta de fraude à execução, não se admitindo prova em contrário,
mesmo diante da boa-fé do terceiro adquirente, mesmo que não haja registro de
penhora do bem alienado.

Para sua caracterização mister se faz somente que a alienação tenha ocorrido após a
inscrição em dívida ativa do débito e que o devedor não tenha bens suficiente para
solver a dívida, isto é, na prática, a frustração da execução.

Importante destacar que no STJ foi submetido a julgamento a configuração de fraude à


execução fiscal diante da boa-fé do terceiro adquirente, em face da inexistência de
registro de penhora do bem alienado, tendo em vista a Súmula 375 daquele Tribunal e o
25
art. 185 do CTN (LGL\1966\26).

Com o advento da LC 118/05, que alterou o art. 185 do CTN (LGL\1966\26), o STJ
firmou o entendimento de que, se o negócio jurídico foi praticado após 09.06.2005, a
26
caraterização da fraude ocorrerá após a efetivação da inscrição em dívida ativa.

A Corte Superior entendeu que o CTN (LGL\1966\26), por ser lei especial, sobrepõe-se
às normas processuais civis comuns, lex specialis derrogat lex generalis, bem como a
súmula do STJ. Por consequência, sedimentou o entendimento de que a Súmula 375 do
27
STJ não se aplica as execuções fiscais, somando-se a esses argumentos o evidente
interesse público sobre o particular, o que requer disciplina e estrutura própria no
reconhecimento da fraude fiscal, antecipando a presunção para o momento da inscrição
em dívida ativa, operando-se in re ipsa, dispensando o concilium fraudis.

Dessa forma, na execução do crédito tributário, a presunção de fraude é absoluta, não


comportando prova em contrário, relegando para segundo plano a boa-fé do adquirente
e a prova do conluio, diante da natureza jurídica do crédito tributário. Assim, a fraudena
execução fiscal caracteriza-se objetivamente, sem perquirir a intenção das partes
envolvidas no negócio jurídico.

6.Conclusão

O objetivo científico do trabalho e a ênfase dogmática da tese impõem a indicação das


principais conclusões do estudo, que propôs e discutiu o conceito e aplicação da fraude à
execução nos processos civil, trabalhista e tributário.

Ao longo deste trabalho, procurou-se demonstrar a relevância e a pertinência em se


realizar nova releitura sobre os contornos e reconhecimento da fraude à execução,
passando a utilizar interpretação sistemática, ao exigir do adquirente dever de conduta
proativo, em que lhe é exigido diligenciar sobre em que condições econômicas se
encontra o alienante ao tempo da alienação. Demonstrou-se que o novel Código de
Processo Civil (LGL\2015\1656), expressamente, retirou o elemento subjetivo para o
reconhecimento da fraude à execução, atribuindo ao terceiro a comprovação de que a
aquisição não se deu em conluio com o devedor.

Demonstrou-se ainda que, na execução trabalhista, o reconhecimento ocorrerá a partir


do ajuizamento da reclamatória, em face do privilégio do crédito, pois ao tempo da
alienação ou da oneração tramitava contra o devedor ação capaz de reduzi-lo à
insolvência.

Por fim, no âmbito das execuções do crédito tributário, em decorrência do privilégio,


haverá presunção absoluta de fraude à alienação ou oneração de bens ou rendas
realizadas após o crédito tributário ser regularmente inscrito em dívida ativa.

7.Bibliografia

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Novas perspectivas da fraude à execução nos processos
civil, trabalhista e tributário

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GARCIA, Gustavo Felipe Barbosa. Curso de direito processual do trabalho. 5. ed. São
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MENDONÇA, J. X. Carvalho de. Tratado de direito comercial brasileiro. Rio de Janeiro:


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THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. 57. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2016. v. 3.

1 Interessante destacar que, não obstante tratar-se de fraude a credores, o art. 164 do
CC, quanto à realização regular de negócio jurídico, prevê que presumem de boa-fé e
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Novas perspectivas da fraude à execução nos processos
civil, trabalhista e tributário

valem os negócios ordinários indispensáveis à manutenção de estabelecimento


mercantil, rural, ou industrial, ou à subsistência do devedor e de sua família. Esta
previsão é extensível à fraude à execução.

2 Não é objeto do presente trabalho a caracterização da fraude a credores, porém a


didática obriga elencar suas características e distinção da fraude à execução, mesmo que
de forma sumária. A fraude a credores é um instituto do direito civil, em que o devedor
pratica atos de disposição de bens, acarretando sua insolvência, exigindo ação própria
para a desconstituição do ato, por meio da ação pauliana, acarretando sua nulidade,
retornando o bem patrimônio do devedor.

3 Art. 790. São sujeitos à execução os bens: I – do sucessor a título singular,


tratando-se de execução fundada em direito real ou obrigação reipersecutória; II – do
sócio, nos termos da lei; III – do devedor, ainda que em poder de terceiros; IV – do
cônjuge ou companheiro, nos casos em que seus bens próprios ou de sua meação
respondem pela dívida; V – alienados ou gravados com ônus real em fraude à execução;
VI – cuja alienação ou gravação com ônus real tenha sido anulada em razão do
reconhecimento, em ação autônoma, de fraude contra credores; VII – do responsável,
nos casos de desconsideração da personalidade jurídica.

4 Art. 774. Considera-se atentatória à dignidade da justiça a conduta comissiva ou


omissiva do executado que: I – frauda a execução; II – se opõe maliciosamente à
execução, empregando ardis e meios artificiosos; III – dificulta ou embaraça a realização
da penhora; IV – resiste injustificadamente às ordens judiciais; V – intimado, não indica
ao juiz quais são e onde estão os bens sujeitos à penhora e os respectivos valores, nem
exibe prova de sua propriedade e, se for o caso, certidão negativa de ônus. Parágrafo
único. Nos casos previstos neste artigo, o juiz fixará multa em montante não superior a
vinte por cento do valor atualizado do débito em execução, a qual será revertida em
proveito do exequente, exigível nos próprios autos do processo, sem prejuízo de outras
sanções de natureza processual ou material.

5 Art. 792. A alienação ou a oneração de bem é considerada fraude à execução: I –


quando sobre o bem pender ação fundada em direito real ou com pretensão
reipersecutória, desde que a pendência do processo tenha sido averbada no respectivo
registro público, se houver; II – quando tiver sido averbada, no registro do bem, a
pendência do processo de execução, na forma do art. 828; III – quando tiver sido
averbado, no registro do bem, hipoteca judiciária ou outro ato de constrição judicial
originário do processo onde foi arguida a fraude; IV – quando, ao tempo da alienação ou
da oneração, tramitava contra o devedor ação capaz de reduzi-lo à insolvência; V – nos
demais casos expressos em lei.

6 Interessante ressaltar a possibilidade de caracterização de fraude à execução quando


da penhora de crédito. Nesse caso, nos termos do art. 856, se o terceiro negar o débito
em conluio com o executado, a quitação que este lhe der caracterizará fraude à
execução.

7 Delimitando o tema proposto, o presente trabalho restringir-se-á a sua caracterização


nas execuções por quantia certa contra devedor solvente, isto é, regidas pelo CPC, CLT e
LEF.

8 Art. 828. O exequente poderá obter certidão de que a execução foi admitida pelo juiz,
com identificação das partes e do valor da causa, para fins de averbação no registro de
imóveis, de veículos ou de outros bens sujeitos a penhora, arresto ou indisponibilidade.
§ 1º No prazo de 10 (dez) dias de sua concretização, o exequente deverá comunicar ao
juízo as averbações efetivadas. § 2º Formalizada penhora sobre bens suficientes para
cobrir o valor da dívida, o exequente providenciará, no prazo de 10 (dez) dias, o
cancelamento das averbações relativas àqueles não penhorados. § 3º O juiz determinará
o cancelamento das averbações, de ofício ou a requerimento, caso o exequente não o
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Novas perspectivas da fraude à execução nos processos
civil, trabalhista e tributário

faça no prazo. § 4º Presume-se em fraude à execução a alienação ou a oneração de


bens efetuada após a averbação. § 5º O exequente que promover averbação
manifestamente indevida ou não cancelar as averbações nos termos do § 2º indenizará a
parte contrária, processando-se o incidente em autos apartados.

9 O art. 312 do CPC dispõe: “Considera-se proposta a ação quando a petição inicial for
protocolada, todavia, a propositura da ação só produz quanto ao réu os efeitos
mencionados no art. 240 depois que for validamente citado”. Já o art. 240 estabelece: A
citação válida, ainda quando ordenada por juízo incompetente, induz litispendência,
torna litigiosa a coisa e constitui em mora o devedor, ressalvado o disposto nos arts. 397
e 398 do CC: § 1º A interrupção da prescrição, operada pelo despacho que ordena a
citação, ainda que proferido por juízo incompetente, retroagirá à data de propositura da
ação. § 2º Incumbe ao autor adotar, no prazo de 10 (dez) dias, as providências
necessárias para viabilizar a citação, sob pena de não se aplicar o disposto no § 1º. § 3º
A parte não será prejudicada pela demora imputável exclusivamente ao serviço
judiciário. § 4º O efeito retroativo a que se refere o § 1º aplica-se à decadência e aos
demais prazos extintivos previstos em lei.

10 Este é o entendimento dominante no STJ, vide REsp 956.943/PR.

11 Entre eles Yussef Said Cahali, que considera “irrelevante o fato de a citação ainda não
ter sido realizada para que se caracterize a alienação em fraude de execução”
(1989:465).

12 Processo civil. Recurso especial. Julgamento do mérito recursal. Reconhecimento


implícito da legitimidade para recorrer. Fraude à execução. Art. 593, inciso II, do CPC.
Presunção relativa de fraude. Ônus da prova da inocorrência da fraude de execução. Lei
n. 7.433/1985. Lavratura de escritura pública relativa a imóvel. Certidões em nome do
proprietário do imóvel emitidas pelos cartórios distribuidores judiciais. Apresentação e
menção obrigatórias pelo tabelião. [...] O inciso II, do art. 593, do CPC, estabelece uma
presunção relativa da fraude, que beneficia o autor ou exequente, razão pela qual é da
parte contrária o ônus da prova da inocorrência dos pressupostos da fraude de
execução. A partir da vigência da Lei n. 7.433/1985, para a lavratura de escritura
pública relativa a imóvel, o tabelião obrigatoriamente consigna, no ato notarial, a
apresentação das certidões relativas ao proprietário do imóvel emitidas pelos cartórios
distribuidores judiciais, que ficam, ainda, arquivadas junto ao respectivo Cartório, no
original ou em cópias autenticadas. Cabe ao comprador do imóvel provar que
desconhece a existência da ação em nome do proprietário do imóvel, não apenas porque
o art. 1º, da Lei n. 7.433/85 exige a apresentação das certidões dos feitos ajuizados em
nome do vendedor para lavratura da escritura pública de alienação de imóveis, mas,
sobretudo, porque só se pode considerar, objetivamente, de boa-fé, o comprador que
toma mínimas cautelas para a segurança jurídica da sua aquisição. Tem o terceiro
adquirente o ônus de provar que, com a alienação do imóvel, não ficou o devedor
reduzido à insolvência, ou demonstrar qualquer outra causa passível de ilidir a
presunção de fraude disposta no art. 593, II, do CPC, inclusive a impossibilidade de ter
conhecimento da existência da demanda, apesar de constar da escritura de transferência
de propriedade do imóvel a indicação da apresentação dos documentos comprobatórios
dos feitos ajuizados em nome do proprietário do imóvel. Recurso especial não provido
(REsp 655.000/SP, 3ª Turma, j. 23.08.2007, DJ 27.02.2008, Rel. Ministra Nancy
Andrighi, p. 189).

13 Embargos de terceiro. Fraude de execução. Art. 593, II, do CPC. Para a


caracterização da fraude de execução, na hipótese do art. 593, II, do CPC, é preciso que
a alienação tenha ocorrido depois da citação válida, estando este ato devidamente
inscrito no registro, ou, na falta de tal providência, havendo prova de que o adquirente
sabia da existência da ação. Precedentes. Recurso conhecido e provido (REsp
212.107/SP, 4ª Turma, j. 04.11.1999, DJ 07.02.2000, Rel. Ministro Ruy Rosado de
Aguiar, p. 166).
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Novas perspectivas da fraude à execução nos processos
civil, trabalhista e tributário

14 Este é o posicionamento sedimentando pelo STJ no regime anterior. A questão,


inclusive posta sob o rito dos recursos repetitivos, consolidou o entendimento de que “a
presunção de boa-fé é princípio geral de direito universalmente aceito, sendo milenar a
parêmia de que a boa-fé se presume e a má-fé se prova”. Confira-se a ementa:
“Processo civil. Recurso repetitivo. art. 543-C do CPC. Fraude de execução. Embargos de
terceiro. Súmula n. 375/STJ. Citação válida. Necessidade. Ciência de demanda capaz de
levar o alienante à insolvência. Prova. Ônus do credor. Registro da penhora. art. 659, §
4º, do CPC. Presunção de fraude. art. 615-A, § 3º, do CPC. 1. Para fins do art. 543-c do
CPC, firma-se a seguinte orientação: 1.1. É indispensável citação válida para
configuração da fraude de execução, ressalvada a hipótese prevista no § 3º do art.
615-A do CPC. 1.2. O reconhecimento da fraude de execução depende do registro da
penhora do bem alienado ou da prova de má-fé do terceiro adquirente (Súmula n.
375/STJ). 1.3. A presunção de boa-fé é princípio geral de direito universalmente aceito,
sendo milenar a parêmia: a boa-fé se presume; a má-fé se prova. 1.4. Inexistindo
registro da penhora na matrícula do imóvel, é do credor o ônus da prova de que o
terceiro adquirente tinha conhecimento de demanda capaz de levar o alienante à
insolvência, sob pena de tornar-se letra morta o disposto no art. 659, § 4º, do CPC. 1.5.
Conforme previsto no § 3º do art. 615-A do CPC, presume-se em fraude de execução a
alienação ou oneração de bens realizada após a averbação referida no dispositivo” [...].
(REsp 956.943/PR, Corte Especial, j. 20.08.2014, DJe 01.12.2014, Rel. Ministra Nancy
Andrighi, Rel. p/ Acórdão Ministro João Otávio de Noronha).

15 Quanto a regra de distribuição do ônus da prova, prevê o art. 373 do CPC: Art. 373.
O ônus da prova incumbe: I – ao autor, quanto ao fato constitutivo de seu direito; II –
ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do
autor. § 1º Nos casos previstos em lei ou diante de peculiaridades da causa relacionadas
à impossibilidade ou à excessiva dificuldade de cumprir o encargo nos termos do caput
ou à maior facilidade de obtenção da prova do fato contrário, poderá o juiz atribuir o
ônus da prova de modo diverso, desde que o faça por decisão fundamentada, caso em
que deverá dar à parte a oportunidade de se desincumbir do ônus que lhe foi atribuído.
§ 2º A decisão prevista no § 1º deste artigo não pode gerar situação em que a
desincumbência do encargo pela parte seja impossível ou excessivamente difícil. § 3º A
distribuição diversa do ônus da prova também pode ocorrer por convenção das partes,
salvo quando: I – recair sobre direito indisponível da parte; II – tornar excessivamente
difícil a uma parte o exercício do direito. § 4º A convenção de que trata o § 3º pode ser
celebrada antes ou durante o processo.

16 Art. 840. Serão preferencialmente depositados: I – as quantias em dinheiro, os


papéis de crédito e as pedras e os metais preciosos, no Banco do Brasil, na Caixa
Econômica Federal ou em banco do qual o Estado ou o Distrito Federal possua mais da
metade do capital social integralizado, ou, na falta desses estabelecimentos, em
qualquer instituição de crédito designada pelo juiz; II – os móveis, os semoventes, os
imóveis urbanos e os direitos aquisitivos sobre imóveis urbanos, em poder do depositário
judicial; III – os imóveis rurais, os direitos aquisitivos sobre imóveis rurais, as máquinas,
os utensílios e os instrumentos necessários ou úteis à atividade agrícola, mediante
caução idônea, em poder do executado. § 1º No caso do inciso II do caput, se não
houver depositário judicial, os bens ficarão em poder do exequente. § 2º Os bens
poderão ser depositados em poder do executado nos casos de difícil remoção ou quando
anuir o exequente. § 3º As joias, as pedras e os objetos preciosos deverão ser
depositados com registro do valor estimado de resgate.

17 Art. 301. A tutela de urgência de natureza cautelar pode ser efetivada mediante
arresto, sequestro, arrolamento de bens, registro de protesto contra alienação de bem e
qualquer outra medida idônea para asseguração do direito.

18 Dispõe o art. 841 da CLT: Recebida e protocolada a reclamação, o escrivão ou


secretário, dentro de 48 (quarenta e oito) horas, remeterá a segunda via da petição, ou
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do termo, ao reclamado, notificando-o ao mesmo tempo, para comparecer à audiência


do julgamento, que será a primeira desimpedida, depois de 5 (cinco) dias. § 1º A
notificação será feita em registro postal com franquia. Se o reclamado criar embaraços
ao seu recebimento ou não for encontrado, far-se-á a notificação por edital, inserto no
jornal oficial ou no que publicar o expediente forense, ou, na falta, afixado na sede da
Junta ou Juízo. § 2º O reclamante será notificado no ato da apresentação da reclamação
ou na forma do parágrafo anterior.

19 Nesse sentido o TST decidiu: “Agravo de instrumento em recurso de revista.


Execução. Recurso de revista interposto na vigência da Lei n. 13.015/2014. Fraude à
execução configurada. Na hipótese dos autos, o Tribunal Regional concluiu pela
caracterização de fraude à execução, mediante o fundamento de que, à época em que
fora efetivada a venda do imóvel constrito aos terceiros embargantes, havia pendência
de ação trabalhista apta a acarretar a insolvência da reclamada. Ficou consignado, na
decisão recorrida, que ‘os agravantes deveriam ter diligenciado no local de domicílio do
vendedor – Campinas –, de modo a verificar a existência de ações pendentes perante
este C. TRT da 15ª Região’, mas, ‘não o fizeram, o que chancela o reconhecimento de
fraude à execução e a manutenção da penhora do imóvel antes referido’. Nesse
contexto, observa-se que discussão relativa à configuração de fraude à execução, além
de envolver a aplicação e interpretação de normas infraconstitucionais, no caso, o artigo
792, inciso IV, do CPC/2015 (593, inciso II, do CPC/73), o que não se amolda à previsão
contida no artigo 896, § 2º, da CLT, passaria pela análise do quadro fático-probatório
dos autos, cujo óbice se encontra preconizado na Súmula n. 126 do TST. Agravo de
instrumento desprovido” (TST – AIRR: 120916320145150043, 2ª Turma, j. 08.03.2017,
Data de Publicação: DEJT 10.03.2017, Relator: José Roberto Freire Pimenta).
Porém, o TST, em outro julgado, decidiu de forma diversa. Confira-se: A) Agravo de
instrumento em recurso de revista. Execução. Penhora de imóvel. Adquirente de boa-fé.
Fraude à execução. Não configuração. Afronta ao direito de propriedade. Em face de
possível ofensa ao artigo 5º, XXII, da Constituição, dá-se provimento ao agravo de
instrumento para determinar o processamento do recurso de revista. Agravo de
instrumento conhecido e provido. B) Recurso de revista. Execução. Penhora de bem
imóvel. Adquirente de boa-fé. Fraude à execução. Não configuração. Afronta ao direito
de propriedade. Conforme se depreende do acórdão recorrido, quando o terceiro
embargante adquiriu o bem imóvel objeto da penhora não havia nenhuma restrição de
transferência de propriedade, no registro competente. Nesse contexto, não se pode
presumir a má-fé. Ademais, o STJ adota entendimento de que não é presumível a fraude
a partir da mera transferência da propriedade do imóvel após a citação da execução,
mas, sim, quando houver o registro do ônus no cartório competente. Considerando o
desconhecimento pelo terceiro embargante da existência de gravames quanto à
indisponibilidade do bem penhorado, não há como presumir a fraude, sob pena de
afronta ao direito de propriedade insculpido no art. 5º, XXII, da Constituição Federal.
Recurso de revista conhecido e provido (TST – RR: 2076002320095070012, 8ª Turma, j.
07.12.2016, Data de Publicação: DEJT 12.12.2016, Relator: Dora Maria da Costa).

20 Nesses casos, acolhendo a tese de que não configuraria fraude à execução, o TST
decidiu: Agravo de instrumento. Execução. Embargos de terceiros. Fraude à execução.
Penhora de bem de sócio. Alienação antes da desconsideração da personalidade jurídica
da empresa. Provimento. Merece provimento o recurso por aparente violação ao artigo
5º, XXII, da Constituição Federal. Agravo de instrumento provido. Recurso de revista.
Execução. Embargos de terceiros. Fraude àexecução. Penhora de bem de sócio.
Alienação antes da desconsideração da personalidade jurídica da empresa. Esta Corte
Superior, no enfrentamento de casos semelhantes, firmou tese de que a transferência de
imóvel pertence ao sócio após o ajuizamento de reclamação trabalhista e antes da
desconsideração da personalidade jurídica da empresa não configura hipótese de fraude
à execução, a teor do artigo 792, IV, do CPC/15, que pressupõe a existência de
demanda capaz de reduzir o devedor à insolvência ao tempo da alienação. Recurso de
revista conhecido e provido (TRT, Recurso de Revista RR 3131-94.2015.5.12.0002, 6ª
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Turma, DEJT 10.02.2017, Rel. Min. Aloysio Corrêa).

21 Na desconsideração inversa da personalidade jurídica, os sócios utilizam a pessoa


jurídica para ocultar ou esvaziar seu patrimônio pessoal, transferindo para ela seus bens,
evitando-se com isso a constrição judicial. Ocorrendo essa operação, os bens da pessoa
jurídica responderão pelas dívidas de seus sócios.

22 O art. 10 da CLT dispõe que qualquer alteração na estrutura jurídica da empresa não
afetará os direitos adquiridos por seus empregados. Já o art. 448 estabelece que a
mudança na propriedade ou na estrutura jurídica da empresa não afetará os contratos
de trabalho dos respectivos empregados.

23 Visando regulamentar a matéria, o TST editou a Instrução Normativa 39/2016, em


que prevê, no seu art. 6º, a aplicação do incidente de desconsideração da personalidade
jurídica, in verbis: Art. 6º Aplica-se ao Processo do Trabalho o incidente de
desconsideração da personalidade jurídica regulado no Código de Processo Civil (arts.
133 a 137), assegurada a iniciativa também do juiz do trabalho na fase de execução
(CLT, art. 878). § 1º Da decisão interlocutória que acolher ou rejeitar o incidente: I – na
fase de cognição, não cabe recurso de imediato, na forma do art. 893, § 1º da CLT; II –
na fase de execução, cabe agravo de petição, independentemente de garantia do juízo;
III – cabe agravo interno se proferida pelo Relator, em incidente instaurado
originariamente no tribunal (CPC, art. 932, inciso VI).

24 O art. 201 do CTN estabelece que “constitui dívida ativa tributária a proveniente de
crédito dessa natureza, regularmente inscrita na repartição administrativa competente,
depois de esgotado o prazo fixado, para pagamento, pela lei ou por decisão final
proferida em processo regular”. Já o art. 204, fixa que “a dívida regularmente inscrita
goza da presunção de certeza e liquidez e tem o efeito de prova pré-constituída”. O
parágrafo único prevê que a presunção é relativa e pode ser ilidida por prova inequívoca,
a cargo do sujeito passivo ou do terceiro a que aproveite.

25 O julgado está assim ementado: Processual civil. Recurso especial representativo de


controvérsia. Art. 543-C, do CPC. Direito tributário. Embargos de terceiro. Fraude à
execução fiscal. Alienação de bem posterior à citação do devedor. Inexistência de
registro no departamento de trânsito – DETRAN. Ineficácia do negócio jurídico. Inscrição
em dívida ativa. Artigo 185 do CTN, com a redação dada pela LC n. 118/2005. Súmula
375/STJ. Inaplicabilidade. 1. A lei especial prevalece sobre a lei geral (lex specialis
derrogat lex generalis), por isso que a Súmula n. 375 do Egrégio STJ não se aplica às
execuções fiscais. [...] 9. Conclusivamente: (a) a natureza jurídica tributária do crédito
conduz a que a simples alienação ou oneração de bens ou rendas, ou seu começo, pelo
sujeito passivo por quantia inscrita em dívida ativa, sem a reserva de meios para
quitação do débito, gera presunção absoluta (jure et de jure) de fraude à execução (lei
especial que se sobrepõe ao regime do direito processual civil); (b) a alienação
engendrada até 08.06.2005 exige que tenha havido prévia citação no processo judicial
para caracterizar a fraude de execução; se o ato translativo foi praticado a partir de
09.06.2005, data de início da vigência da Lei Complementar n. 118/2005, basta a
efetivação da inscrição em dívida ativa para a configuração da figura da fraude; (c) a
fraude de execução prevista no artigo 185 do CTN encerra presunção jure et de jure,
conquanto componente do elenco das “garantias do crédito tributário”; (d) a inaplicação
do artigo 185 do CTN, dispositivo que não condiciona a ocorrência de fraude a qualquer
registro público, importa violação da Cláusula Reserva de Plenário e afronta à Súmula
Vinculante n. 10, do STF. [...] Recurso especial conhecido e provido. Acórdão submetido
ao regime do artigo 543-C do CPC e da Resolução STJ n. 08/2008 (REsp 1.141.990/PR,
1ª Seção, j. 10.11.2010, DJe 19.11.2010, Rel. Ministro Luiz Fux).

26 Interessante destacar que, no regime anterior, havia a presunção de fraude se o


negócio jurídico ocorresse após a citação válida do devedor na execução fiscal.

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27 Com o advento do novo CPC, o STJ manteve o mesmo entendimento quanto a


caracterização da fraude à execução. Confira-se no REsp 1.655.055/RS, 2ª Turma, j.
06.04.2017, DJe 27.04.2017, Rel. Ministro Herman Benjamin.

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