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UNIVERSIDADE PAULISTA

VICE-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO

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Série: DIDÁTICA
Ano: IX Nº.:2-001/03
ISSN 1517 - 9230

RETROSPECTO HISTÓRICO DA RELAÇÃO DO HOMEM COM


O TRABALHO

Hely Aparecida Zavattaro

A AUTORA
A autora é formada no curso de Psicologia pela Universidade Federal do Paraná em 1984, consultora na área
de Psicologia Organizacional e do Trabalho há 18 anos, docente e pesquisadora na área de Psicologia
Organizacional e do Trabalho há 16 anos (tendo lecionado nas universidades: CESULON, U.E.M. e U.E.L.-
Pr.) e, atualmente, docente e Coordenadora da Avaliação Interdisciplinar do curso de Administração na FIZO
(Faculdades Integradas Zona Oeste) e docente / líder da disciplina de Psicologia Organizacional na UNIP
(Universidade Paulista); Especialista em Administração de Recursos Humanos (CESULON – 1988),
Especialista em Metodologia do Ensino Superior (U.E.L.-1991) e Especialista em Psicologia Organizacional e
do Trabalho (U.E.L.-1994); Mestre em Psicologia Social e do Trabalho pela U.S.P. (1999).
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RETROSPECTO HISTÓRICO DA RELAÇÃO DO HOMEM COM O TRABALHO 1

Hely Aparecida Zavattaro

Resumo: Trata-se de um trabalho que tem por fim disponibilizar aos estudantes e professores do curso
de psicologia um material didático e de apoio, na área de psicologia organizacional. Aborda a concepção,
história e os temas mais comumente relacionados ao homem e o trabalho, naquilo em que podem
contribuir para o desenvolvimento do conhecimento em Psicologia Social, Psicologia Organizacional e do
Trabalho. Contempla estudos descritivos sobre a relação do homem e o trabalho, além de oferecer um
breve histórico sobre a inserção da disciplina no campo da psicologia.

Palavras chave: psicologia; trabalho; organização; histórico

Abstract:
This work has the purpose of provide the students and teachers of the psychology course a didatic
material of support in organizational psychology It approaches the conception, history and the most
commonly themes related to the man and the work, in a way that it can contribute to the knowledje
development in the following psychology areas: social psychology, organizational and works psychology.
It contemplates the descriptive studies about relation of the man and the work, besides offering a brief
historical about the insert of the subject in the psychology field.

Keywords: psychology; work; organization; history

INTRODUÇÃO

Partindo-se do pressuposto que o homem é um ser sócio-histórico, para analisarmos as relações de trabalho
torna-se essencial o desenvolvimento de um retrospecto histórico, a fim de proporcionar um maior
entendimento relacionado ao tema, abordando, outrossim, resumidamente, os sucessivos enfoques sob os
quais foi visto, ao longo dos anos, o relacionamento do homem com o trabalho.

Antes da revolução industrial as relações entre o homem e o trabalho eram substancialmente diferentes das
de hoje. Naquela época, a sociedade não estava habituada às rápidas mudanças e possuía uma estrutura
social consideravelmente menos flexível que a de agora, o que fica evidenciado só pelo fato das pessoas
manterem o mesmo padrão de vida durante gerações.

Como Drake e Smith (1976) relatam, para saber o que uma pessoa fazia para ganhar o sustento, bastava
conhecer a vida que levava, ou seja, o tipo de sua casa, o seu padrão de existência e, por fim, a classe de
indivíduos com quem seus filhos iriam se casar, o que dava uma indicação tão clara quanto o conhecimento
de sua ocupação. Uma outra diferença importante estava na composição de seu serviço que, em grande
parte, era executado em todas as suas etapas e consistia de tarefas completas, executadas pela mesma

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Texto desenvolvido com o envolvimento e participação dos docentes da área de Psicologia Organizacional
para as disciplinas de Psicologia Organizacional I e II da UNIP.
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pessoa. Assim, o carpinteiro, além de provavelmente ter de vender o que fazia, deveria estar envolvido na
preparação de sua matéria-prima, inclusive derrubando árvores.

Na época do feudalismo a afetividade andava lado a lado com a racionalidade, sendo que as emoções faziam
parte integrante da relação do homem com seu trabalho e tal relação era mediada pela família e orientada
pela informalidade, integrando o cotidiano do trabalho.

Durante a idade das trevas, o que a indústria podia fazer era apenas suprir necessidades locais, mas as
empresas comerciais logo promoveram um florescente comércio exportador. Nos primeiros tempos da
economia medieval, foram os comerciantes, e não os artesãos, que indicaram o caminho, mas à medida que
as condições se desenvolveram, artesãos e profissionais começaram a ter grande importância. Enquanto as
ligas de comerciantes haviam sido formadas, primeiramente, para arrancar liberdades dos nobres feudais, as
ligas de profissionais se formaram para proteger os interesses dos produtores, no que tange aos produtos,
contra os distribuidores, em face da tirania dos comerciantes, dos quais dependiam para seus mercados. (...)
Mas no limite de sua força, a liga de profissionais foi um instrumento bem sucedido de manutenção da justiça
econômica. “Para o profissional, o período de trabalho era freqüentemente longo, mas ele era seu próprio
patrão, trabalhando quando precisava e tirando um descanso quando julgasse necessário.” (Brown, 1976, p.
26 e 27).

Em primeiro lugar, não nos esqueçamos de que todos os interesses econômicos eram subordinados ao
assunto real da vida, a salvação, e segundo lugar, que tanto na conduta pessoal como na economia as regras
morais eram obrigatórias. A usura era proibida e os lucros não deviam exceder os ganhos do trabalho
profissional. (...) A Idade Média deve-se dizer, não era em nenhum sentido, ideal. A massa da população
vivia em miseráveis habitações. O país era varrido pelas pragas e a crueldade e a superstição eram
elementos comuns da vida diária. (...) Em uma sociedade em que o status é rigidamente definido e onde a
ascensão na escala social é rara e nunca inoportuna, o pedantismo não pode infectar mais pessoas. Cada um
conhece o seu lugar e percebe a finalidade da sua posição; por isso, há menos motivo para pretensões e
ostentação, ambos originados da insegurança e da mobilidade social.” (Brown, 1976, p.28)

É de senso comum que a Revolução Industrial causou consideráveis mudanças na sociedade e o estágio do
capitalismo, quando chegou, trouxe inúmeras vantagens. Havia um vasto progresso tecnológico e científico e,
pela primeira vez na história humana, tornava-se teoricamente possível suprir as necessidades básicas de
toda a população. A liberdade pessoal também havia sido grandemente aumentada e tornara-se possível
ascender e descer na escala social, independentemente de condições de nascimento e herança. O
surgimento do individualismo nas esferas social e cultural deu-se paralelamente ao do individualismo na
empresa privada e na econômica, destituindo dos homens qualquer sentido de colaboração de uns para com
os outros.

Uma elevação gradual de nível de vida em face de novas e expansivas demandas e novos meios de
satisfazê-las levaram, finalmente, ao término da fase Eotécnica, uma das fases denominadas por Lewin
Munford, apresentadas no Quadro I. O incremento da riqueza levou à desintegração as idéias de “justo preço”
e justiça social, como eram antes definidas, e as associações faliram à medida que se tornou necessário
maior acúmulo de capital para aperfeiçoamento da maquinaria e dos equipamentos. Se as deficiências da
fase Eotécnica se situam na sua rigidez e falta de iniciativa, as deficiências da fase Paleotécnica devem ser
procuradas no fato de que as relações naturais de afeições e amizade entre os homens haviam sido
arranhadas. “Em contraste com o sistema feudal da idade Média, no qual cada indivíduo tinha seu lugar fixo
num sistema ordenado e transparente, a economia capitalista deixava o indivíduo entregue a si mesmo.”
(Brown, 1976, p.32)
QUADRO I : FASES HISTÓRICAS APRESENTADAS POR LEWIN MUNFORD

TRÊS FASES HISTÓRICAS - LEWIN MUNFORD


FASES
EOTÉCNICA OU MEDIEVAL PALEOTÉCNICA NEOTÉCNICA OU MODERNA
(REVOLUÇÃO INDUSTRIAL)
Período 1000 a 1750 1750 a 1900 1900 em diante
Materiais e Energia hidráulica e Madeira Carvão e ferro
Fonte de Vento e água Motor a vapor Eletricidade e ligas
energia Uso da força animal
 População: Senhor feudal, artesãos (mestre,  Sistema fabril  Técnica de produção em massa
aprendiz e diarista)  Necessidade de suprimento de capital e  Crescimento da grande empresa industrial
 Poder da religião (católica) trabalho  Visão do empregador de que ninguém
 Relações primárias (afetivas; divisão social  O trabalho passa a se desligar do contexto possui habilidade especial
vista com naturalidade) social  O homem é divorciado do produto e dos
 Status rigidamente definido  Desenvolvimento do sistema em: S.A. e meios de produção
 Trabalho para o bem comum; sem usura. corporações ; Sindicatos.  Idéia de que a organização é que produz e
Características  Idéia de Justo Preço  Individualismo e competitividade não o indivíduo
 Deficiências: rigidez e falta de iniciativa  Mobilidade social  Problemas de relações humanas na
indústria

Fonte: quadro elaborado a partir dos dados apresentados por Lewin Munford (In: BROWN, JAC. Psicologia Social da Indústria. São Paulo: Pioneira,
1976)
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O início da era Paleotécnica pode ser datado de mais ou menos 1750, quando o aperfeiçoamento do motor a
vapor tornou possível, realmente, a fabricação em grande escala e demandou maiores suprimentos de capital
e trabalho.

Segundo Brown (1976), criaram-se novas regras de trabalho no contexto social. Não sendo parte integrante
da vida do operário destituído de significado - uma atividade odiosa, o trabalho passa a ser evitado sempre
que possível. Tornou-se o lema da época que o empregador não adquiria o trabalhador, e sim o seu trabalho,
portanto a saúde ou as condições de vida do trabalhador eram assunto pessoal deste. Durante os primeiros
anos da Revolução Industrial, pelo menos as máquinas eram melhor cuidadas que os trabalhadores, visto que
estes poderiam ser substituídos quando desgastados, enquanto aquelas eram mais difíceis de se repor. A
partir de 1825 o sistema fabril estava em plena atividade em muitos países europeus e, com o passar do
tempo, as unidades industriais cresceram em tamanho, levando a um maior desenvolvimento do sistema. O
proprietário individual começou a desaparecer em muitas indústrias e uma classe de administradores surgiu
para dirigir indústrias que eles próprios não possuíam. Uma segunda conseqüência foi que, em vista de sua
intolerável posição, os trabalhadores começaram a reunir-se em sindicatos para a barganha coletiva a fim de
pressionar os administradores para a melhoria de suas condições. A competição e a luta constante eram
aceitas como leis fundamentais de vida e, assim sendo, a livre competição e a livre concorrência resultariam
no máximo de benefício à humanidade.

De acordo com a doutrina originada com os fisiocratas e apoiada por Adam Smith, Ricardo e outros, a livre
competição e a livre concorrência resultaram no máximo benefício para a humanidade; “o egoísmo humano”,
dizia-se, “é uma providência divina”. Muitas das atitudes típicas da revolução paleotécnica encontraram
expressão ética na religião protestante. Até mesmo os marxistas afirmaram que o protestantismo é,
basicamente, uma justificação ideológica do capitalismo. “O trabalho era, segundo lhe fora ensinado, a
antítese do prazer e felicidade; não mais era executado para “maior glória de Deus”, para o mestre-artesão
em cuja casa habitava, para a honra da profissão, ou mesmo por orgulho puramente pessoal, mas somente
como meio de ganhar dinheiro e comprar coisas. Assumindo esta atitude, o trabalhador tornou-se
irresponsável, indiferente à qualidade do trabalho que fazia e ignorante de como, se tanto, ajudava a
satisfazer as necessidades societárias.” (Brown, 1976, p.38)

O período de desenvolvimento do capitalismo industrial caracterizou-se pelo crescimento da produção, pelo


êxodo rural e pela concentração de novas populações urbanas, além de algumas características marcantes
tais como: a carga horária do trabalho se apresentava com 12, 14 ou mesmo 16 horas diárias, o emprego de
crianças na produção industrial, algumas vezes a partir de três anos de idade e, mais freqüentemente a partir
dos sete anos de idade, os salários baixos, os períodos de desemprego punham imediatamente em perigo a
sobrevivência da família, a falta de higiene, a promiscuidade, esgotamento físico, acidentes de trabalho,
subalimentação, potencializavam condições de alta mortalidade, morbidade e de uma longevidade reduzida.

Aos poucos foram tomadas medidas para aliviar aquilo que se tinha tornado escorchante para o trabalhador,
que criava riquezas para os outros e não para si mesmo. Assim, reformas foram instituídas através de
legislação, que reconhecia direitos sobre horas de trabalho, idade mínima para empregar-se, condições de
salubridade, proteção dos desafortunados, provisões para a educação, representação política e assim por
diante. Essas melhorias, pelos padrões atuais, eram mínimas, mas de fato representaram um significativo e
importante começo (Drake e Smith, 1976).

No que concerne ao que se poderia chamar de pré-história de saúde mental dos trabalhadores, Dejours
(1991) vê emergir uma palavra de ordem que vai cobrir todo o século XIX: a redução da jornada de trabalho
para 8 horas por dia, constatando o efeito paradoxal desta medida sobre a produção... que aumenta!
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É com a invenção e proliferação das máquinas, particularmente durante a Revolução Industrial na Europa e
América do Norte, que os conceitos de organização se tornam mecanizados. O uso das máquinas,
especialmente na indústria, favoreceu a adaptação das organizações às novas exigências da era mecanicista.

Caso se examinem as mudanças pelas quais passaram as organizações na Revolução Industrial, descobre-
se crescente tendência no sentido da burocratização e rotinização da vida em geral. Muitos grupos de famílias
que trabalhavam por conta própria e artesãos habilitados abandonaram a autonomia de trabalhar nas suas
casas e oficinas para trabalhar em atividades que exigiam relativamente pouca habilidade, em ambientes
fabris. Ao mesmo tempo, os donos das fábricas e os seus engenheiros perceberam que a operação eficiente
das suas novas máquinas, em última análise, requeria grandes mudanças no planejamento e controle do
trabalho. A divisão do trabalho privilegiada pelo economista escocês Adam Smith, no seu livro A riqueza das
nações (1776), tornou-se intensa e crescentemente especializada, à medida que os fabricantes procuravam
aumentar a eficiência, reduzindo a liberdade de ação dos trabalhadores em favor do controle exercido por
suas máquinas e supervisores. Novos procedimentos e técnicas foram também introduzidos para disciplinar
os trabalhadores para aceitarem a nova e rigorosa rotina de produção na fabrica (Morgan,1996).

Podemos ver agora mais claramente, as origens históricas de muitos dos problemas modernos. Para expulsar
a afetividade do trabalhador, a sociedade começa a ter uma estrutura definida com idéia de privacidade
(personalização da casa burguesa), restringindo o afeto às relações familiares e destituindo-o do ambiente de
trabalho. Foi a forma de transformar o trabalho em mercadoria que ocasionou tal ruptura e talvez devido a
ela, atualmente, observamos uma série de estratégias defensivas sendo postas em prática pelos
trabalhadores, para conseguirem melhor sobrevivência em relação às exigências impostas pelo ambiente de
trabalho.

A ADMINISTRAÇÃO CLÁSSICA E OS PRINCÍPIOS DE GERÊNCIA CIENTÍFICA

Existem duas grandes transformações que precisam ser consideradas e que datam aproximadamente do
começo do século XX (embora suas origens possam remontar a períodos anteriores). A primeira é a técnica
de produção em massa, e a segunda, o crescimento da grande empresa industrial. A produção em massa
como conhecemos hoje, parece ter sido utilizada nos Estados Unidos pelos fins do século XIX, na produção
de vagões ferroviários de carga, mas o seu uso em escala realmente grande foi devido, sem dúvida, à Henri
Ford, quando setenta anos atrás utilizou este princípio na produção do seu modelo T, numa fábrica em
Detroit. O pensamento mecanicista em relação ao empregado de fábrica, nesta época, apresentava duas
importantes implicações. A primeira é a de que ninguém, em geral, na organização da produção em massa,
possui uma habilidade essencial. A segunda, indica que o trabalhador está agora completamente divorciado
do produto e dos meios de produção. Sem a organização fabril, o trabalhador por si mesmo, nada pode fazer;
já que é a organização que produz e não o indivíduo, no sistema moderno. Entretanto, desde que a
organização se tornou tão importante, novas habilidades se tornaram necessárias. O que atualmente se
requer não é tanto a habilidade manual ou o conhecimento de ferramentas ou materiais, mas habilidade em
parte técnica e teórica, em parte social.(Brown, 1976, p.40)

A mais importante contribuição à abordagem mecanicista foi feita pelo sociólogo alemão Max Weber, que
observou os paralelos entre a mecanização da indústria e a proliferação de formas burocráticas de
organização. Concluiu que as formas burocráticas rotinizam os processos de administração exatamente como
a máquina rotiniza a produção. No seu trabalho, descobriu que a primeira definição compreensiva de
burocracia caracteriza-a como uma forma de organização que enfatiza a precisão, rapidez, clareza,
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regularidade, a confiabilidade e a eficiência, atingidas através da criação de uma divisão de tarefas fixas,
supervisão hierárquica, regras detalhadas e regulamentos.

Outra grande contribuição foi feita pelo grupo de teóricos e profissionais em administração da América do
Norte e da Europa que estabeleceu as bases daquilo que é agora conhecido como “a teoria da administração
clássica” e “administração científica”. Contrastando com Weber, advogaram firmemente a burocratização,
devotando as suas energias à identificação de princípios pormenorizados e métodos através dos quais esse
tipo de administração poderia ser atingido. Enquanto os teóricos clássicos em administração focalizavam a
sua atenção no planejamento da organização total, os administradores científicos visavam o planejamento e a
administração de cargos individualizados.

Grande parte desta mudança na realização do trabalho, foi analisado por Frederick Winslow Taylor (1856-
1915) “O Pai da Organização Científica do Trabalho”, que inicia os estudos da eficiência industrial,
contribuindo de forma bastante eficaz para o desenvolvimento industrial do Século XX. Conhecemos por
Taylorismo o sistema de organização de trabalho proposto por Taylor que se baseia em uma questão bem
simples: “Qual a melhor forma de fazer um determinado trabalho?”. Foi em busca de respostas para esta
questão que surgiram os métodos adequados para realizar e ensinar as condições para desenvolver a tarefa.

Taylor desenvolveu diversos estudos no sentido de melhorar o desempenho no trabalho, sendo que sua
primeira apresentação científica ocorreu em 1895, na “American Society of Mechanical Engineers”. Em 1911,
publicou o livro “Principles of Scientific Management” (Princípios de Administração Científica), que consiste na
síntese dos estudos realizados por ele e na proposta de um modelo de maximização da produção.

Sua contribuição real foi a aplicação do método científico aos processos de produção, substituindo os
modelos rotineiros e assistemáticos. As implicações de sua proposta encontram-se nas técnicas de análise do
trabalho, estabelecimentos de chefias, estimação do tempo total gasto na realização da tarefa, etc. A
originalidade de sua teoria não consiste na medição do tempo, mas na decomposição da tarefa em
movimentos elementares, ou seja, aqueles que não podem ser mais divididos. Quanto à administração, a
concepção taylorista impôs uma reorganização do trabalho, acarretando a decomposição da antiga forma de
administrar e atribuindo esta responsabilidade aos especialistas. Assim, pode-se observar uma cisão entre o
executar e o pensar, entre os que pensam e os que executam. Finalmente, Taylor introduziu modificações na
forma de pagamento, sob a justificativa de que a motivação fundamental do trabalhador era o salário.

Assim, Taylor defendia cinco princípios básicos que podem ser condensados como se segue (apud Morgan,
2000,p.32):

1. Transfira toda a responsabilidade da organização do trabalho do trabalhador para o gerente; os gerentes


devem pensar a respeito de tudo o que se relaciona com o planejamento e a organização do trabalho,
deixando aos trabalhadores a tarefa de implementar isso na prática.
2. Use métodos científicos para determinar a forma mais eficiente de fazer o trabalho; planeje a tarefa do
trabalhador de maneira correta, especificando com precisão a forma pela qual o trabalho deva ser feito.
3. Selecione a melhor pessoa para desempenhar o cargo, assim especificado.
4. Treine o trabalhador para fazer o trabalho eficientemente.
5. Fiscalize o desempenho do trabalhador para assegurar que os procedimentos apropriados de trabalho
sejam seguidos e que os resultados adequados sejam atingidos.

Ao aplicar esse princípios, Taylor defendeu o uso de estudos de tempos e movimentos como meio de analisar
e padronizar as atividades de trabalho. O seu enfoque administrativo solicitava observação detalhada e
mensuração do trabalho, mesmo do mais rotineiro, para descobrir o melhor modo de fazer as coisas. Sob o
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sistema de Taylor, atividades simples tais como as de carregadores de barras de ferro e remoção de terra,
tornaram-se objetos de ciência. Fundiu a perspectiva de um engenheiro com uma obsessão pelo controle.
É com referência ao Taylorismo, que Heloani (1994,p.17) aponta:

“O ideário Taylorista se elabora como instrumento de racionalidade e difusão de métodos de


estudo e de treinamento científico. O controle de estudo de tempos e movimentos é justificado
como fornecedor da economia de gestos e aumento da produtividade.”

Ocorre que, mesmo levando a maiores salários e maior produtividade, o Taylorismo produz uma cisão entre
pensamento e sentimento, além de execução e planejamento, vivenciadas na relação do homem com o
trabalho.

Considerando-se tal concepção mecanicista de homem podemos entender o que levou Taylor a selecionar
metodologicamente estas formas de controle sobre o trabalho humano e, neste sentido, Heloani (1994, p.20)
expõe:
“O estudo dos tempos e movimentos modeliza a subjetividade do trabalhador. A partir do
incentivo do salário, o trabalhador assimila o “desejo” de aumentar a produção e passa a
reorientar a sua percepção para este aumento.”

A obra de Taylor tinha como base a suposição de que o homem era um ser "econômico"; via a performance
do operário limitada apenas pela fadiga e aumentada por incentivos econômicos. Por isso, suas técnicas de
administração científica consistiam de métodos para simplificar e especializar tarefas e de pagamento por
peça produzida. Paradoxalmente, a aplicação do que Taylor desenvolveu sobre métodos, os quais resultam
em simplificação do trabalho e crescente utilização da mecanização, teve como conseqüência: a) a redução
do efeito do pagamento por incentivos, devido à impossibilidade real que o trabalhador tem de,
individualmente, influir de alguma maneira no cálculo de incentivo que irá complementar o seu salário e, com
referência à empresa, devido ao aumento de estoque e falta de demanda no mercado relacionado ao
produto; b) a insatisfação do trabalhador diante do desrespeito ao seu ritmo individual; e c) a aplicação de
estratégias coletivas de diminuição da produção, por parte dos trabalhadores, para evitarem o desemprego
da maioria.

Ainda que Taylor seja freqüentemente visto como um vilão que criou a administração científica, é importante
ter em mente que ele foi realmente parte de uma tendência social mais ampla, que envolve a mecanização da
vida de forma geral. Por exemplo, aqueles princípios ressaltados pelo taylorismo são agora encontrados no
campo de futebol e nas atividades esportivas, nos ginásios, bem como na forma pela qual racionalizamos e
rotinizamos a nossa vida pessoal. Taylor deu forma a um aspecto particular da tendência para a
mecanização, especialização e burocratização, que Max Weber viu como uma potente força social. O
taylorismo foi especialmente imposto sobre a força de trabalho. Mas, muitos de nós impomos formas de
taylorismo sobre nós mesmos, à medida que treinamos e desenvolvemos capacidades especializadas de
pensamento e ação, bem como modelamos os nossos organismos para se conformarem com ideais
preconcebidos. Sob a influência do mesmo tipo de mecanismo que tornou o taylorismo tão poderoso,
freqüentemente buscamos tratar a nós mesmos como se fôssemos máquinas.

As forças apresentadas pelos enfoques mecanicistas da organização funcionam bem somente sob condições
nas quais as máquinas operam bem, ou seja: (a) quando existe uma tarefa contínua a ser desempenhada; (b)
quando o ambiente é suficientemente estável para assegurar que os produtos oferecidos sejam apropriados;
(c) quando se quer produzir sempre exatamente o mesmo produto; (d) quando a precisão é a meta; e (e)
quando as partes humanas da “máquina” são submissas e comportam-se como foi planejado que façam.
Todavia, os enfoques mecanicistas da organização quase sempre têm severas limitações, pois podem: (a)
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criar formas organizacionais que apresentem grande dificuldade em se adaptar a circunstâncias de mudança,
porque são planejadas para atingir objetivos predeterminados e não para a inovação; (b) desembocar num
tipo de burocracia sem significado; (c) ter conseqüências imprevisíveis e indesejáveis, à medida que os
interesses daqueles que trabalham na organização ganhem precedência sobre os objetivos que foram
planejados para serem atingidos pela organização; (d) ter um efeito desumanizante sobre os empregados,
especialmente sobre aqueles posicionados em níveis mais baixos da hierarquia organizacional. (Morgan,
2000)

A passividade institucionalizada e a dependência dos trabalhadores podem até mesmo levar as pessoas a
fazer e justificar erros deliberados, sob a alegação de que estão obedecendo a ordens. A organização
hierárquica dos cargos alicerça-se na idéia de que o controle deve ser exercido sobre diferentes partes da
organização (para assegurar que estejam fazendo aquilo que foi planejado fazer), em lugar de ser exercido
sobre as partes em si mesmas. Supervisores e outras formas de controle hierárquico não só monitoram o
desempenho dos trabalhadores, como também tiram a responsabilidade dos trabalhadores, devido ao fato de
que a função destes realmente se torna operacional somente quando os problemas aparecem. De forma
semelhante, um sistema de controle da produção numa linha de montagem com freqüência institucionaliza a
fabricação de produtos com defeito.

O enfoque mecanicista da organização tende a limitar, em lugar de ativar, o desenvolvimento das


capacidades humanas, modelando os seres humanos para servirem aos requisitos da organização
mecanicista, em lugar de construir a organização em torno dos seus pontos fortes e potenciais.

Estas idéias foram recebidas pelas organizações como a grande saída para a produção em massa, sendo
absorvida na sua totalidade. Entretanto, surgiram “efeitos colaterais”, alguns dos quais descritos
anteriormente, que remeteram alguns pesquisadores sociais a avaliarem as condições gerais de trabalho.
Basicamente, a não eficácia das formas de recompensa propostas por Taylor conduziram estes
pesquisadores a buscar respostas no ambiente de trabalho, que poderiam suprir estas deficiências.

O efeito da administração científica de Taylor no ambiente de trabalho tem sido enorme, aumentando muito a
produtividade, enquanto acelera a substituição de habilidades especializadas, por trabalhadores não
qualificados; porém os problemas humanos que resultam de tais métodos de produção tornaram-se
evidentes desde quando começaram a ser introduzidos e, especialmente, quando aplicados à tecnologia de
linha de montagem. Por exemplo, quando Henry Ford estabeleceu sua primeira linha de montagem para
produzir o Modelo T, o giro de mão-de-obra subiu aproximadamente 380% num ano. Somente dobrando os
salários, através do seu famoso “$ 5 por dia” , foi capaz de estabilizar a situação de trabalho e convencer os
trabalhadores a aceitarem a nova tecnologia.

Segundo Heloani(1994), em certo espaço de tempo, na postura dos trabalhadores de recusa ao ritmo da
gestão fordista de produção generaliza-se um momento chamado “fuga do trabalho” (grifo do autor). Para
envolver novamente o trabalhador, mecanismos sofisticados de gestão da percepção e da subjetividade são
acionados. Mecanismos de “controle à distância” que se desenvolvem nas normas, na linguagem, ou seja,
nas formas de controle que se dirigem ao inconsciente dos trabalhadores.

Na verdade, ao transformarem a natureza da atividade produtiva, as máquinas deixaram a sua marca na


imaginação, pensamento e sentimentos dos homens através dos tempos, como se pode evidenciar no
trabalho de cientistas, nas interpretações de filósofos e psicólogos, moldando nosso mundo em consonância
com princípios mecânicos. Evidenciamos isso nas organizações modernas, pela precisão mecânica com a
qual muitas das nossas instituições devem operar. Como nos aponta MORGAN (2000, p. 22):
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“A vida organizacional é freqüentemente rotinizada com a precisão exigida de um relógio.


Espera-se que as pessoas cheguem ao trabalho em determinada hora, desempenhem um
conjunto predeterminado de atividades, descansem em horas marcadas e então retomem as
suas atividades até que o trabalho termine. Em muitas organizações, um turno de trabalho
substitui outro de maneira metódica de tal forma que o trabalho possa continuar
ininterruptamente 24 horas por dia, todos os dias do ano. Freqüentemente, o trabalho é muito
mecânico e repetitivo. Qualquer pessoa que tenha observado o trabalho de produção em
massa na fábrica, ou em algum grande “escritório fábrica” que processa formulários de papel,
tais como pedido de seguro, devoluções de impostos ou cheques bancários, notará a maneira
maquinal pela qual tais organizações operam. Elas são planejadas à imagem das máquinas,
sendo esperado que os seus empregados se comportem essencialmente como se fossem
partes de máquinas.”

A exemplo disso, atualmente encontram-se as cadeias de “refeições rápidas” e organizações de serviços de


muitos tipos que operam de acordo com os princípios semelhantes, tendo cada ação sido pré-planejada de
maneira minuciosa, mesmo nas áreas que dizem respeito as interações dos empregados com outras
pessoas, os quais recebem treinamento contínuo para interagirem com os clientes de acordo com um
detalhado código de instruções e são monitorados quanto ao seu desempenho, de tal forma que, desde os
sorrisos, cumprimentos, comentários até sugestões feitos por um assistente de vendas são freqüentemente
programados pela política da companhia e ensaiados para produzirem resultados autênticos.
As organizações mecanicistas podem, muito bem, ao final, comprovar apenas serem um tipo específico de
organização, geradas pelos requisitos da era mecânica, embora só se adaptem imperfeitamente a eles.

No entanto, com a consolidação do capitalismo, o avanço do Taylorismo e o aparecimento do Fordismo,


criou-se a necessidade de estudar melhor os cargos e as tarefas, bem como dos indivíduos serem melhor
preparados para trabalhar em tais funções, reforçando a especialização de mão-de-obra. Na prática, as
relações de trabalho foram se tornando cada vez mais impessoais, exigindo do trabalhador o seu
aperfeiçoamento para aumentar a produção e evitar problemas.

A inadequação do enfoque mecanicista do homem econômico levou ao que Drake e Smith (1976) chamaram
de “capitalismo de bem estar”. As empresas tentaram chamar os trabalhadores para elas, através do
fornecimentos de facilidades e condições tendentes a atrair e manter o empregado. Neste sentido, a tentativa
de manter este empregado, ou motivar a força de trabalho, estava localizada mais no ambiente do que na
própria tarefa.

Foi a partir da década de 50 que muitos autores da área do comportamento organizacional preocuparam-se
em oferecer referenciais para a aferição da motivação e satisfação no trabalho, tais como Elton Mayo,
Maslow, Herzberg, McGregor, Mclelland, entre outros. Neste momento vêem-se surgir palavras como:
necessidades humanas, amor ao trabalho, sentimento de segurança, confiança, pertencer a um grupo, entre
outras. Tais termos passam a fazer parte do discurso daqueles que em algum momento preocupam-se em
estudar o comportamento humano nas organizações. Analisando este momento, parece ter sido iniciada a
recuperação de algumas das questões relativas à subjetividade da relação do homem com o trabalho...

Entretanto, atualmente, entramos em uma era de microeletrônica e novos princípios organizacionais estão
prontos para assumir importância crescente. O capitalismo entra na segunda revolução industrial adotando
um novo padrão tecnológico, exigindo-se a introdução de novos instrumentos de trabalho e a redefinição do
trabalho, para atender à velocidade e ao novo ritmo de produção, elevando a concentração técnica e
financeira e, assim, necessitando desenvolver novas formas de gestão do trabalho.
Finalmente emerge uma questão... e como se configura o quadro da relação do homem com o trabalho hoje?
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MUDANÇAS ATUAIS NA RELAÇÃO HOMEM-TRABALHO

Atualmente, o mundo inteiro tem sido tomado por grandes abalos nas mais diversas áreas: 1- a influência do
Japão como potência industrial; 2- a eleição da qualidade e da produtividade como alvos maiores a serem
atingidos pelas empresas, como forma de progresso e mesmo de sobrevivência e 3- a unificação dos
mercados da América do Norte, da Europa e da América do Sul. A entrada de produtos japoneses no
mercado mundial e as crises do petróleo têm sido apontadas como as duas principais causas da expansão de
uma nova política gerencial.

Segundo Guidens (1994), nós estamos em um período de evidente transição – e o nós aqui não se refere
somente ao ocidente, mas ao mundo todo. Estamos num momento de revolução, criando e alterando várias
tradições em função da globalização. Intensificaram-se os laços entre as diferentes culturas, causando um
efeito global. A decisão de se comprar um item de vestuário, por exemplo, tem manifestações e implicações
globais por se refletir na economia e cultura mundial. Passamos, segundo ele, de uma tradição pré-industrial
para uma tradição pós-industrial. A tradição aqui não é tida como um peso ou um objeto ultrapassado, mas
um significado coletivo que dá sentido e nos insere no contexto e na história, apesar de seu conteúdo mudar
continuamente. A realidade humana, então, depende de como o aspecto social e os significados coletivos
integrados estão se construindo.

Além do que, como colocam Lewis, Webley e Furnham (1995), os valores e suas dimensões estão ligados ao
consumo. Somos consumidores em muitos aspectos onde não nos percebemos como tal. Os eventos não
são mais sociais e sim econômicos, relacionados à troca, envolvendo uma mente econômica. Mesmo as
relações sociais parecem ter maior caráter de troca econômica (ou condicional) do que afetiva e incondicional.
Nós somos hoje uma sociedade dependente de trocas: dependemos do que não somos capazes de produzir,
criamos uma sociedade em que dificilmente somos autônomos - uma troca cuja fonte se encontra no
pensamento econômico. O dinheiro capitaliza muito deste poder e desta contribuição da troca. Verificamos
como o uso do dinheiro reflete o comportamento de grupos, países e classes.

Particularmente no Brasil, como em outros países do terceiro mundo, as tendências às mudanças no cenário
político, econômico e social têm se manifestado com cada vez maior intensidade. Segundo Fleury (1994), as
transformações nas regras do jogo do mercado internacional e nacional, com o fim das reservas de mercado,
rompendo com situações oligopolísticas, as intervenções neoliberais do Estado, a ação dos movimentos
sindicais, questionando condições e relações de trabalho, dos movimentos ecológicos, pressionando por
novas tecnologias e os novos arranjos organizacionais, caracterizam um cenário extremamente mutável.

As mudanças também repercutem na gestão de Recursos Humanos visto que as políticas adotadas pelas
empresas brasileiras nos últimos anos, encontram-se baseadas nos modelos propostos pelas empresas mais
lucrativas do Primeiro Mundo que, por sua vez, têm encontrado no Modelo Japonês a sua fonte máxima de
inspiração.

Essa conjuntura nacional e internacional tem forçado as empresas a reformular suas estratégias de negócios
e estruturas organizacionais, buscando potencialmente uma redução de custos e uma maior competitividade
de seus produtos.

Bridges (1994), expõe que “a tecnologia, a alta competitividade e a flexibilidade levam à necessidade de
mudança”. E, ao discutir os novos paradigmas organizacionais, Salerno (1994) relata que, uma vez que a
reestruturação produtiva visa atingir objetivos de flexibilidade e integração, o padrão tecnológico tradicional
vai perdendo espaço para outro mais afinado com estes objetivos. Informática e automação flexível são os
componentes mais conhecidos no padrão tecnológico emergente, ao lado das mudanças organizacionais. As
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análises sobre a reestruturação produtiva em curso mostram que não é possível tratar informática e
automação isoladas da questão organizacional.

Zafarian (1993, apud Salerno,1994), por exemplo, considera que o diferencial de performance (desempenho)
de uma empresa industrial frente à outra está diretamente ligado à qualidade apresentada pela organização.
Porém, o autor evidencia ainda que, através das inúmeras pesquisas no Brasil, existe uma difusão
relativamente baixa de equipamentos e sistemas de base microeletrônica, ao lado de uma difusão mais
significativa de mudanças organizacionais.

Para a discussão das mudanças organizacionais em curso na indústria, Salerno (1994) expõe quatro níveis,
concentrados em:

 mudanças na relação entre empresas ;


 mudanças na organização geral da empresa: via abrandamento das estruturas divisionais e funcionais
clássicas, constituindo-se uma organização mais voltada a resultados e menos calcada em
especialidades, a terceirização pode relacionar-se a esse “enxugamento organizacional”. Abrange
portanto, a definição de unidades de negócios, a redução de níveis hierárquicos, a redivisão das áreas
de competência (diretorias, departamentos etc.) com a quebra das divisões funcionais, integração das
áreas, particularmente projeto do produto, vendas e produção;
 mudanças na organização da produção: busca-se a redução do tempo de atravessamento, aumento do
giro de capital e redução de estoques, numa situação de produtos variáveis ao longo do tempo e
 mudanças na organização do trabalho; em sua concepção mais avançada, leva à tendência do abandono
relativo das noções de tarefa e de posto de trabalho, tão arraigadas na organização clássica. Suas
decorrências são as variadas formas de polivalência, a junção de atividades de operação, inspeção de
qualidade e primeira manutenção. Em sistemas muito automatizados, a operação pode ter a função não
só de atuar rapidamente sobre as disfunções, imprevistos ou acidentes, mas também de prevení-los,
antecipando ações corretivas, de forma a não paralisar ou comprometer o fluxo produtivo.

Diante de tal quadro, a implantação de novos modelos administrativos tem se mostrado uma alternativa em
destaque no ambiente empresarial, como uma forma de racionalização de recursos, redefinição de operações
e funcionamento com estruturas mais horizontalizadas, enxutas e flexíveis. No geral, busca-se modelar
organizações com estruturas mais leves, com menor número de níveis hierárquicos, com maior
descentralização e conseqüente autonomia das unidades constituintes.

Bridges (1994) esclarece que se precisa mudar o desenho da empresa, pois mudanças de tecnologia obrigam
a empresa a uma "gangorra", com diminuição e aumento de quadro, levando a um grande número de
temporários e consultores. E ainda, hoje a empresa está cada vez mais dependente de competência,
coordenação e comprometimento com a missão e não mais com a empresa.

Cogita-se que a modernização tecnológica estaria criando de um lado uma massa de trabalhadores
desqualificados e, de outro, um punhado de trabalhadores superqualificados (Freyssenet,1977; H. Kern e
M.Schumann,1980). As novas tecnologias reforçariam a divisão do trabalho e a desqualificação da mão-de-
obra. Uma ruptura se dá neste paradigma dominante de qualificação em meados de 80. Vinte anos depois
dos primeiros estudos sobre conseqüências da introdução de novas tecnologias sobre a divisão do trabalho e
a qualificação, autores como Freyssenet, Coriat, Kern e Schumann constatam uma requalificação dos
operadores, ou uma reprofissionalização, com o aprofundamento da automatização de base microeletrônica
nas indústrias (Hirata,1994).
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Diante de outro aspecto relevante a ser discutido quanto às novas tecnologias em curso, Daniellou (apud
Salerno,1994) considera que a “informatização e a automação baseiam-se na visão de que os projetistas têm
do que será o trabalho, visão muitas vezes teórica, que subestima a complexidade das estratégias colocadas
em prática por homens e mulheres que asseguram a produção e a manutenção nas situações tradicionais.
Subestimação em particular, da variabilidade industrial, dos incidentes e das fases de perturbação de
correntes.” Conforme esta visão, os níveis correntes de tecnologia não eliminam completamente a
imprevisibilidade e, portanto, a habilidade e o gênio dos humanos são o corretivo mais eficiente para essa
incerteza. Então, enquanto partes específicas do processo ficam mais automáticas, os homens (operários)
retêm o controle do sistema. E quanto maior o estoque, a variabilidade da produção e a dificuldade de
reposição, maior a importância dos trabalhadores na gestão dos imprevistos. Isto significa também que existe
uma necessidade a ser considerada: a possibilidade e o uso de tempo dos trabalhadores para a gestão dessa
variabilidade.

Sainsaulieu (1994) expressa, em uma visão funcionalista, que o grande problema é a imprevisibilidade, o
controle e a racionalidade imposta aos indivíduos (esquecendo-se por vezes que indivíduos são subjetividade
e consciência), o que estimula ainda mais o eterno conflito entre indivíduo e empresa. Considera que a
empresa é constituída por um tecido de grupos, que possuem suas formas próprias de representação, uma
relação particular com a empresa e o trabalho, um patrimônio comum de experiências, não sendo possível,
portanto, falar de cultura de empresa, mas de cultura dos grupos. A autora se concentra em duas questões:
construção do poder e interação social. Preocupa-se com a formação da estrutura e a Individualidade: sobre
como as estruturas têm de lidar com a individualidade para a construção de interesses comuns. A estrutura
funciona como um meio regulador para controle do desempenho desejado e a rede de relações como um
mecanismo de sustentação da estrutura.

Existem inúmeras possibilidades de organização e gestão da empresa, da produção e do trabalho. As


particularidades em termos de cultura empresarial, legislação, política e poder sindical nos locais de trabalho
é que vão contribuir na definição de como o trabalho se estrutura, ao lado, é claro, das variáveis
tradicionalmente abordadas, como estratégia de negócios, mercado, andamento da economia, etc. A
observação direta do trabalho que se desenvolve nos processos integrados e flexíveis vai mostrar uma
riqueza de que as abordagens correntes da teoria organizacional não se dão conta. A questão é que o
trabalho não é passível de ser totalmente formalizado, não podendo, portanto, ser totalmente prescrito ou
descrito, pois o trabalho prescrito nunca corresponde exatamente ao trabalho real (Salerno,1994).

Giddens (1994) e Salerno (1994) concordam que houve uma mudança do Paradigma da Administração
Científica , o qual exige um controle sobre o processo, passando para um paradigma que evidencia o produto,
cobrando-se apenas o resultado. O mecanismo básico de integração através da relação de parceria é com o
resultado e os próprios grupos têm de conhecer a determinância do produto, assumindo a responsabilidade
por tudo. Segundo Hirata (1994), a relação de parceria, de cooperação, envolve um compromisso, no
estabelecimento de competências a serviço do grupo. O modelo de competência é aquele que assume a
polivalência das pessoas, associada a um esquema cooperativo entre grupos de trabalho.

Contudo, inegavelmente, o avanço da tecnologia e da informática tem sido uma realidade constante e de
enorme importância na atualidade.

As tecnologias da informação e da informática não só causam impacto na nossa relação com o ambiente que
nos cerca mas também nas condições de trabalho. Por exemplo, em uma pesquisa realizada pelo DIESAT
em 1989, coloca-se:
15

”Sabe-se que desde o início da revolução industrial, em fins do século XVIII, as condições e
ambientes físicos de trabalho e as longas jornadas de trabalho eram responsáveis pelas altas
taxas de morbidade e mortalidade da classe trabalhadora na Europa. Essas condições e
ambientes melhoraram sensivelmente nos países em desenvolvimento capitalista mais
acelerado ou precoce – Inglaterra, França, Estados Unidos, Espanha, Alemanha, Japão, etc. –
por força da revolução técnico-científica que se seguiu; porém, mesmo esses países, em várias
atividades econômicas, a violência física do trabalho permanece, resultando em taxas ainda
elevadas de acidentes e doenças ditas “profissionais”. Muitas indústrias com alta tecnologia em
seus processos de transformação continuam a trabalhar materiais ou objetos de produção
extraídos ou produzidos em condições bastante miseráveis de trabalho(...) No Brasil, o trabalho
mais insalubre e pesado recai sobre os recém-imigrados apelidados indistintamente de
“Baianos.” (DIESAT,1989,p.29)

Sem dúvida, mesmo nos setores menos capitalizados, as relações de trabalho e sua forma de organização
são mais precários devido aos baixos salários e um maior desgaste, o que resulta em mortes e acidentes de
trabalho. Porém, com o avanço técnico-científico, o que o DIESAT (1989, p.28) denuncia é que o desgaste da
força de trabalho se externa sob formas mais sutis,

“revelando-se através de distúrbios orgânicos, psico-orgânicos ou psíquicos que podem evoluir


para doenças caracterizadas e diagnosticadas por exames médicos e biológicos, sem que se
possa individualizar suas causas (...) Mas de que morre, na idade do trabalho a população
brasileira? De doenças infecto-contagiosas, do aparelho respiratório, de doenças cárdio-
circulatórias e neoplasias, dizem as nossas estatísticas.”

Sobre a realidade brasileira, Mendes (1995) destaca: 1) a elevada mortalidade causada pelo trabalho, em
que, nos últimos dez anos, pereceram vitimados por acidentes de trabalho cerca de 50 mil trabalhadores; 2) a
elevada ocorrência de incapacidade para o trabalho, onde mais de 100 mil trabalhadores são aposentados,
anualmente, “por invalidez” provocada por agravos à saúde tidos como “comuns” (doenças do aparelho
circulatório, doenças mentais, doenças do sistema ósteo-muscular e transtornos dos olhos, dentre as
principais causas); 3) as doenças profissionais antigas persistentes em nossa sociedade, que em outras
sociedades e setores mais desenvolvidos encontram-se em extinção, tais como intoxicações por chumbo,
benzeno, silicose, de asbestose, pneumopatias ocupacionais, dentre outras; e 4) a crescente incidência de
novas doenças relacionadas ao trabalho, tais como LER, doenças de coluna, sofrimento psíquico, hipertensão
arterial e câncer. Por fim, o autor discute:

“fica evidente que, além dos limites legais para o reconhecimento da doença profissional,
contribuem os entraves da burocracia da Previdência Social, o desconhecimento e o
despreparo dos profissionais de saúde para fazer o diagnóstico da doença e o nexo com a
atividade laboral do paciente, a falta de apoio para exames complementares especializados, a
desinformação dos trabalhadores sobre os riscos a que estão expostos e de suas
conseqüências para a saúde, somados às lacunas existentes no conhecimento médico-
científico sobre a questão.” (Mendes,1995, p. 207)

De outro lado, a existência de uma heterogeneidade no Brasil revela-se não só na distinção de raças, credos,
mas também na coexistência de tecnologias avançadas e primitivas. Coexistem categorias de trabalhadores
extremamente organizadas e politizadas com categorias desorganizadas e desinformadas; o urbano e o
rural; a indústria e os serviços, expressando gritante desigualdade.
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Ainda, o uso do computador tem penetrado nas mais diversas áreas da atividade humana, acrescentando o
problema do desemprego e direcionando as pessoas a se adaptarem a uma nova forma de pensar e de falar.
Sobre este último aspecto, Mussio (apud Uchida, 1998, p.92) coloca que “o uso de um instrumento não só
envolve aspectos tecnológicos, mas induz também “efeitos culturais”.

O efeito destas novas tecnologias, segundo Rebechi (apud Uchida, 1998, p. 110), levam a uma extensão do
sistema taylorista, de um hipertaylorismo, dizendo que: “Se no passado foram expropriados os operários
profissionais, agora é a vez dos técnicos, dos funcionários, dos próprios programadores. A administração
científica alcançou-os através da revolução da informática e os coloca a cada dia mais sob comando rígido
das máquinas e dos tempos das máquinas, num mundo onde a regra é representada pela execução e
subordinação.” O autor procura ressaltar que a informatização cristaliza-se no interior das organizações de
trabalho de uma forma em que os limites entre o trabalho manual e o intelectual tornam-se menos nítidos. “Na
medida em que vão incorporando as tecnologias intelectuais nas materiais, a indistinção vai ocorrendo de
forma cada vez mais sutil, menos perceptível, pois a submissão não ocorre mais em relação a uma hierarquia
tradicional e sim a uma funcional. Submetemo-nos cada vez mais à lógica, ao tempo, ao comando, à diretriz
da máquina.”

As organizações do trabalho estão, então, se reordenando e se modificando para absorver a implantação


destas tecnologias, produzindo um profundo impacto na vida dos trabalhadores, nas condições de trabalho,
nas tarefas realizadas e, ainda, no ambiente social ao qual mantêm contato.

Gomes (1995) considera os aspectos negativos do desenvolvimento tecnológico, da tecnologia da informação


e do emprego virtual como sendo: a perda do espaço físico referencial (o local de trabalho); minimização da
comunicação horizontal e vertical; perda do contato físico e espiritual; ausência de relações informais
interpessoais; eliminação dos grupos de referência; dificuldades de socialização organizacional; severa
disciplina provocada pela vigilância eletrônica do trabalho; sentimentos de solidão, isolamento e
esquecimento, dentre outros.

Este dado parece ser evidenciado nos resultados de pesquisa de Domingos, sobre a representação social do
conceito de qualidade de vida, onde o autor declara que:

“associada às condições de vida ameaçada, a falta ou deteriorização dos relacionamentos


sociais parece uma realidade presente. As condições de vida dos grandes centros urbanos,
associada às conseqüências de uma vida atribulada, na qual é presente uma ocupação de
considerável parcela de tempo dedicada ao trabalho, parece dificultar os relacionamentos
sociais e, nesse sentido, trazer conseqüências negativas à Qualidade de Vida.”

Valores em mudança, referentes à ética do trabalho, ao devido papel que o trabalho e a família devem
desempenhar na vida de uma pessoa, novas formas de organização do trabalho, vêm modificar as
expectativas dos homens no que tange à sua relação com o trabalho.

Parece-nos que, apesar da mudança de metodologias e nomenclaturas dos procedimentos de organização do


trabalho, observamos que as concepções de homem e trabalho e as formas de controle e relações de poder,
sutilmente ou não, se mantêm. A este respeito nos Morgan (2000, p. ) esclarece e dá exemplos das formas
camufladas de como o pensamento mecanicista nos envolve:

“A habilidade de atingir esse tipo de descentralização foi bastante desenvolvida no decorrer do


século XX, através do desenvolvimento de técnicas administrativas como APO, PPBS* e
planejamento de sofisticados sistemas de informações gerenciais (SIG’s) que são
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freqüentemente utilizados para estabelecer tipos de controle “cúpula-base” redefinidos pelos


teóricos clássicos. Por exemplo, a APO é agora freqüentemente utilizada para impor um
sistema mecanicista de metas e objetivos em uma organização. Tem sido utilizada para
controlar a direção na qual administradores e empregados podem levar a organização, por
exemplo, através de metas de desempenho consistentes com esses objetivos. O mesmo
freqüentemente acontece com o PPBS, outro sistemas de orçamento como o SIG, sendo estes
utilizados para oferecer informações detalhadas e necessárias à implementação de controles
em bases mensais, semanais e até diárias.”

Dessa forma, as idéias dos teóricos da administração clássica são reforçadas sob o disfarce de administração
moderna. Isso freqüentemente ocorre porque as pessoas que planejam esses sistemas administrativos
acabaram por pensar nas organizações de maneira mecanicista e não estão conscientes de outras formas
pelas quais essas técnicas poderiam ser utilizadas.

EM ANÁLISE...

Historicamente, as relações de trabalho foram se tornando cada vez mais mecânicas e impessoais, exigindo o
aperfeiçoamento para aumentar a produção e evitar problemas.

Diante de tal quadro de mudanças, alguns aspectos parecem ser essenciais ao entendimento da complexa
relação homem-trabalho na era da "pós-modernidade". Hoje a empresa precisa de resultados e só se envolve
com isso, considerando que o risco faz parte do negócio.

Percebe-se que os problemas de crescimento organizacional têm tido estreita ligação com os problemas de
adaptação e gerência de mudança. A mudança tecnológica que se processa com rapidez incrível, cria
constantes problemas de obsolescência, e as mudanças sociais e políticas criam uma constante demanda de
novos serviços e expansão dos serviços já existentes. Frente à imprevisibilidade das transformações no
mundo do trabalho, as organizações têm necessitado desenvolver flexibilidade e capacidade de enfrentar
uma série de problemas novos e, como sabemos, essas características residem em última análise nos
recursos humanos das organizações.

Não podemos avaliar com exatidão qual será o futuro ambiente para as organizações nem mesmo para a
próxima década. O problema psicológico que se cria para a organização consiste, pois, em como desenvolver
no seu pessoal o tipo de flexibilidade e adaptabilidade que possa vir a ser necessário para a organização
sobreviver em face a um ambiente em constantes modificações.

Grande parte da atual mudança tecnológica e social é imprevisível. Nós sabemos que a capacidade humana
de lidar com a imprevisibilidade é limitada e muito mais no que se refere à sobrevivência. Diante dessa
situação de impossibilidade de previsão do futuro, o que os indivíduos sentem passa a ser a ansiedade frente
à sua própria perspectiva de desenvolvimento pessoal, profissional, de carreira e até de permanência no
emprego.

A busca pelo resultado e a evidência do autocontrole (ou controle interno ) do homem no trabalho, pode, de
um lado, fazer com que o trabalho volte a ser criativo, pelo resgate da autonomia na relação do homem com
o trabalho, e de outro, aumentar a ansiedade e o stress do trabalhador frente ao grau de auto-exigência e de
competitividade existentes.
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Uma medida de insatisfação pode se apresentar pela não existência de uma teoria que simplifique as formas
de abordar o delineamento do trabalho e da mudança organizacional. Por isso, em cada situação prática,
somos forçados a lidar com a complexidade, com modelos explanatórios parciais e com cada situação
empírica.

Certamente, um dos mecanismos de produção de tensão diante da pós-modernidade, principalmente na


realidade brasileira, parece ser o da imprevisibilidade. Quando as empresas não conseguem prever os rumos
da economia e do mercado ou quando a insegurança é transmitida por meio de suas políticas de pessoal, no
plano individual, o que cada um sente é a incerteza quanto à sua própria perspectiva de desenvolvimento, o
que envolve não só o indivíduo isolado, mas também sua família e a coletividade.

Ao analisarmos o trabalho diário, principalmente no que tange ao exercício de funções administrativas, o


trabalhador lida com o compromisso do acerto e, por outro lado, com a tensão e a possibilidade do erro.
Quais sentimentos de temor são mobilizados diante do receio de fracassar? Será que todos suportam -
mantendo seu equilíbrio psíquico e psicossomático - o desafio de ser "excelente" ou de cair na situação de
“funcionário descartável”? O acúmulo de responsabilidades e o medo de errar podem, então, gerar bloqueios
internos, reduzindo no indivíduo a capacidade de expressão espontânea. A empresa espera do profissional a
perfeição, e o indivíduo sobrecarrega-se para responder da melhor forma possível às solicitações. Além disso,
a exigência do mercado pela competência e o desenvolvimento do controle interno do trabalhador,
repercutem em um clima de grande tensão nas relações de trabalho e na relação do homem com o trabalho.
As exigências de polivalência no trabalho, podem prejudicar aqueles que possuem projetos de
desenvolvimento pessoal e profissional, nos quais a especialização aparece como grande expectativa. Além
disso, a polivalência, em certas empresas, pode significar um anteparo limitado aos interesses do mercado
interno à própria organização, onde o indivíduo pode estar pronto para assumir bem diferentes funções, do
modo como são detalhadas especificamente no interior de determinada organização. Isto pode criar um
sentimento de dependência em relação à empresa, ao mesmo tempo que gera enorme insegurança frente o
fantasma do desemprego. Mas, será que são necessários tais desgastes emocionais em situações de
trabalho?

Hoje, a competitividade é determinante fundamental da relação do homem com o trabalho. A sociedade em


que vivemos é altamente competitiva, tendo como valores maiores a organização, a competência e a
produtividade, excluindo todos os que não se enquadram nesses valores. Para muitas pessoas, isso significa
que necessidades mais propriamente humanas, como amor, afeto, solidariedade, além de lazer e prazer,
encontram pouco ou nenhum espaço para serem criativamente vividas. A idéia de competitividade, como
estímulo à produção e desempenho acaba sendo ilusória (por levar à rivalidade, algo de ordem agressiva
porque destrutiva) e, para aqueles que detêm o poder nas relações de trabalho, dá margem ao exercício das
tendências mais destrutivas.

Como lidarmos com tamanha complexidade do contexto propagado pela "modernidade" no nosso trabalho
enquanto agentes de mudança, promotores de consciência, se nós mesmos nos sentimos envoltos pela
imprevisibilidade das mudanças? Como não nos sentirmos muitas vezes uma formiga diante de um elefante?

À medida em que o campo da Psicologia Organizacional e do Trabalho se desenvolve, torna-se cada vez
mais claro que a solidez e a eficiência de uma organização dependem, em última instância, de sua
capacidade de diagnosticar seus próprios problemas e desenvolver suas próprias soluções. Torna-se
necessário ao psicólogo do trabalho ser um agente de mudança. A humanização do trabalho deve abranger
também a busca de novas formas de organização do trabalho, em que não seja necessário exercer controles
rígidos sobre cada atividade, mas que se dê margem para que o homem exercite suas habilidades, com o
sentido de auto-realização, tornando a relação do homem com seu trabalho mais criativa e saudável.
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Talvez este desafio possa nos fazer pensar na proposta de se utilizar a flexibilidade das empresas como uma
boa estratégia para humanizar o trabalho. Na verdade, estamos diante de muitas visões diferenciadas
existentes na atualidade, com interpretações diferentes sobre um mesmo aspecto, nos indicando que,
enquanto houver transição, novas estratégias poderão ser desenvolvidas.

Considero que a adoção de metodologias, princípios e valores poderá potencializar os esforços isolados nas
empresas brasileiras na direção da humanização do ambiente de trabalho. Às vezes pode se tornar difícil
para nós, profissionais desta área, por sermos parte de nossa própria cultura, vivermos em nosso contexto
cultural e o questionarmos, refletirmos sobre ele. Porém, é necessário um exame e crítica das concepções e
valores administrativos.

Diante de tanta imprevisibilidade, podemos ao menos prever que os profissionais desta área estejam aptos
para acompanhar, antever e responder às demandas sociais e políticas pela melhoria da qualidade de vida no
ambiente de trabalho?

Parece-me que só existe uma maneira de se construir uma nova relação do homem com o trabalho...
construindo-a. Conhecer a história e as formas configuradas na relação homem-trabalho é fundamental, mas
não basta para sua construção no futuro. É preciso perseguir um ideal, planejar e dispor dos recursos e
conhecimentos existentes para tal, e mesmo, criar e perseguir uma utopia... algo tão em falta atualmente.
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