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Boa Vista, RR
2016
JHONNY FRAGOSO DA SILVA
Boa Vista, RR
2016
Dados Internacionais de Catalogação na publicação (CIP)
(Biblioteca Central Maria Auxiliadora de Sousa Melo)
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1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 10
2 REFERENCIAL TEÓRICO ........................................................................................................... 13
2.1 – HISTÓRIA DA SÍFILIS .............................................................................................................. 13
2.2 – ETIOLOGIA, VIAS DE TRANSMISSÃO E PATOGÊNESE ................................................... 14
2.3 – MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS DA SÍFILIS............................................................................. 17
2.3.1 Manifestações clínicas da sífilis adquirida ............................................................................... 17
Sífilis primária ............................................................................................................................... 17
Sífilis secundária ........................................................................................................................... 17
Sífilis latente.................................................................................................................................. 18
Sífilis terciária ............................................................................................................................... 19
2.3.2 Manifestações clínicas da sífilis congênita................................................................................ 20
2.4 DIAGNÓSTICO ............................................................................................................................. 21
2.4.1 Provas diretas ............................................................................................................................. 23
2.4.2 Provas sorológicas ...................................................................................................................... 23
2.4.2.1 Testes treponêmicos (TPHA, FTA-Abs, EQL, ELISA ou testes rápidos) ................................ 24
2.4.2.2 Testes não treponêmicos (VDRL, RPR ou TRUST) ................................................................. 25
2.5 TRATAMENTO ............................................................................................................................. 27
2.6 EPIDEMIOLOGIA ......................................................................................................................... 29
3 OBJETIVOS ..................................................................................................................................... 31
3.1 OBJETIVO GERAL ....................................................................................................................... 31
3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS .......................................................................................................... 31
4 METODOLOGIA ............................................................................................................................ 32
4.1 DELINEAMENTO E POPULAÇÃO ALVO ................................................................................. 32
4.2 VARIÁVEIS E ANÁLISE ESTATÍSTICA.................................................................................... 32
5 RESULTADOS ................................................................................................................................. 34
6 DISCUSSÃO ..................................................................................................................................... 40
7 CONCLUSÃO .................................................................................................................................. 49
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................................. 50
1 INTRODUÇÃO
10
descoberta da penicilina, a partir da década de 1960 e, de maneira mais acentuada, na
década de 80, tem-se observado uma tendência mundial no seu recrudescimento na
população em geral e, de forma particular, dos casos de SC (ALMEIDA; PEREIRA,
2007; LIMA, 2002; XIMENES et al., 2008).
No Brasil, o Sistema de Vigilância Epidemiológica e de Notificação
Compulsória de Doenças foi criado em 1976, através do Decreto Presidencial nº 78.231
(BRASIL, 1976). A SC é doença de notificação compulsória nacional desde o ano de
1986 (BRASIL, 1986); contudo a SG passou a integrar o Sistema Nacional de
Vigilância de Agravos de Notificação (Sinan) somente em 2005 (BRASIL, 2005). Em
2014, foi publicada a Portaria nº 1.271, que passa a incluir também a notificação da
sífilis adquirida (SA) (BRASIL, 2014).
A eliminação da SC e da transmissão vertical do Vírus da Imunodeficiência
Humana (HIV) constitui uma prioridade para a região da América Latina e do Caribe. O
documento “Estratégia e Plano de Ação para a Eliminação da Transmissão Vertical do
HIV e da SC”, de 2010, reafirma o compromisso dos países das Américas para eliminar
a transmissão vertical dos dois agravos até 2015. Esse compromisso está em
conformidade com as metas estabelecidas pela “Iniciativa de Eliminação” da
Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) e do Fundo das Nações Unidas para a
infância (UNICEF), quais sejam: a redução da taxa de transmissão vertical do HIV para
menos de 2% e da incidência de SC para menos de 0,5 casos por 1.000 nascidos vivos
até 2015 (BRASIL, 2015).
No ano de 2011, o Ministério da Saúde (MS) instituiu a Rede Cegonha no
Sistema Único de Saúde – SUS, que visa assegurar à mulher uma rede de cuidados a
saber: planejamento reprodutivo e à atenção humanizada à gravidez, ao parto e ao
puerpério e a criança o direito ao nascimento seguro e ao crescimento e ao
desenvolvimento saudáveis (BRASIL, 2011). Entre as ações do componente pré-natal
da Rede Cegonha se encontram a prevenção e tratamento das IST, HIV/Aids e hepatites
virais, com disponibilização de testes rápidos de sífilis e HIV pelo MS. Com a expansão
do diagnóstico por meio de testes rápidos de HIV e sífilis e da Rede Cegonha, observou-
se elevação na taxa de detecção de sífilis em gestantes, decorrente da melhoria do
diagnóstico e da vigilância epidemiológica (BRASIL, 2012).
Diante da realidade nacional e em consonância com o contexto global, a política
de prevenção da morbimortalidade materno-infantil do Pacto pela Saúde do MS incluiu
metas de redução da transmissão vertical do HIV e da sífilis contidas no Plano
11
Plurianual (PPA) 2012-2015 aprovado pelo Congresso Nacional. Por isso, uma das
prioridades descritas na Agenda Estratégica da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS)
do MS é a eliminação da SC como problema de saúde pública até 2015 (BRASIL,
2015).
A SC ainda se apresenta com frequência razoável no panorama das causas
básicas de óbitos infantis, sobretudo entre as perdas fetais. Em 40% das mulheres
grávidas com sífilis não tratada, primária ou secundária ocorre a perda fetal
(SARACENI et al., 2005).
12
2 REFERENCIAL TEÓRICO
13
novo cenário na colônia, trocava não apenas culturas, mas também doenças. A
colonização, com o seu período de intensa miscigenação, provocaria a disseminação de
inúmeras doenças aos demais povos (GRIEBELER, 2009).
A teoria mais aceita sobre a origem da sífilis no país é a de que a sífilis teria
sido levada da América do Norte para a Europa nas embarcações de Colombo, e, através
dos portugueses, teria ocorrido a disseminação pela América do Sul, contaminando os
nativos do Brasil (GRIEBELER, 2009).
No início do século XX, quando os estudos de medicina se voltavam para
mudanças comportamentais como cuidados com a higiene, saúde coletiva e melhoria da
infraestrutura das grandes cidades para melhor qualidade de vida e controle de doenças
na população, surgiram as primeiras pesquisas e relatórios sobre doenças venéreas no
Brasil. Essas ações foram possíveis graças à criação do Departamento Nacional de
Saúde Pública por Carlos Chagas, na década de 20. Por meio do Regulamento Sanitário
de 1920, instituído por esse departamento, previa-se o planejamento e expansão das
campanhas da luta antivenérea, assim como o tratamento profilático gratuito e a criação
da Inspetoria de Profilaxia da Lepra e das Doenças Venéreas, primeiro órgão nacional
destinado a campanhas contra Hanseníase e Sífilis (GRIEBELER, 2009).
Em 1912, foi criada, no Rio de Janeiro, a primeira sociedade médico-científico
nacional intitulada Sociedade Brasileira de Dermatologia e Sifilografia (GRIEBELER,
2009). No ano de 1928, o inglês Alexandre Fleming revelou a descoberta da penicilina
(penicillium notatum), com a cura da sífilis, revolucionando o tratamento da doença
(CARRARA, 1996).
14
Spirochaetaceae e gênero Treponema, que inclui quatro patógenos humanos e pelo
menos seis não patógenos para humanos. Dentre as espécies patogênicas encontram-se:
pallidum subsp. pallidum, que causa a sífilis venérea, T. pallidum subsp. endemicum,
que causa a sífilis endêmica (bejel), T. pallidum subsp. pertenue, causador da doença
tropical Bouba, e T. carateum , que é o agente etiológico da Pinta. Estudos iniciais
indicaram que estes quatro agentes foram morfologicamente indistinguíveis, com
homologia no DNA acima de 95% (SAMJS; NORRIS; WEINSTOCK, 2011;
GIANCANI; LUKEHART, 2014).
Esse micro-organismo tem forma de espiral (10 a 20 voltas), com cerca de 5-20
nm de comprimento e apenas 0,1 a 0,2 μm de espessura, não possui membrana celular e
é protegido por um envelope externo com três camadas ricas em moléculas de ácido N-
acetilmurâmico e N-acetilglicosamina, características que o fazem sensível à penicilina.
Apresenta flagelos que se iniciam na extremidade distal da bactéria e encontram-se
junto à camada externa ao longo do eixo longitudinal, movendo-se por rotação do corpo
em volta desses filamentos. Não resiste ao calor nem ao frio (AVALLEIRA; BOTTINO,
2016).
A doença é classificada, de acordo com suas diferentes vias de transmissão, em
sífilis adquirida, que inclui a sífilis gestacional e sífilis congênita (AVALLEIRA,
BOTTINO; 2016).
Na sífilis adquirida o treponema penetra na pele através das mucosas,
principalmente quando houver soluções de continuidade, pequenas erosões ocorridas
durante o coito. Atinge a corrente sanguínea e os vasos linfáticos, disseminando-se
rapidamente. O período de incubação varia de 10 a 90 dias, média de três semanas
(VERONESSI, 2009).
O número mínimo de treponemas necessários para estabelecer a infecção é
desconhecido, mas pode ser tão baixo quanto um. A multiplicação do organismo é lenta,
com um tempo de divisão de 30 a 33 horas. Provavelmente, o lento crescimento dos
treponemas em humanos reflete, em parte, a natureza prolongada da doença e o período
de incubação relativamente longo (CECIL, 2014).
Quando a bactéria penetra a pele humana lesada ou as mucosas, ocorre
quimiotaxia de neutrófilos no local do inóculo e surge o cancro. Esta é a primeira fase
da doença. Não tratados, esses neutrófilos são substituídos por linfócitos que secretam
linfocinas, atraem e ativam macrófagos. Na presença de anticorpos, esses macrófagos
ingerem e destroem os organismos. É uma resposta celular tipo TH1 (LOPES, 2009).
15
Logo após o início do cancro podem ser encontrados anticorpos contra o
Treponema pallidum. Há produção de imunoglobulinas M e G (IgM e IgG) e a
combinação dos dois tipos de resposta imune faz com que, aparentemente, desapareça o
cancro. No entanto, existe uma resistência das bactérias a esse ataque imunológico;
provavelmente eles se alojam nos locais que os protegem da detecção pelo sistema
imune, como sistema nervoso central (SNC), aorta, ossos, linfonodos e olhos
(HARRISON, 2013).
Algumas semanas mais tarde, a bactérias se proliferam e inicia o período
secundário da doença. Os níveis de anticorpos chegam ao máximo em decorrência do
enorme número de treponemas no organismo e modificam as lesões cutâneas do período
secundário, que são de diversos tipos (LOPES, 2009).
Passadas semanas ou meses, as lesões podem desaparecer e surge um período de
latência, no qual há melhora da imunidade celular. Tem-se então, o estágio terciário, no
qual a característica é a formação de granulomas. Os treponemas dificilmente são
detectados nas lesões desse período (CECIL, 2014).
16
2.3 – MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS DA SÍFILIS
Sífilis primária
Sífilis secundária
17
geralmente descritas como não pruriginosas, os pacientes podem experimentar algum
grau de prurido. Em pacientes não tratados, as lesões apresentam melhora espontânea
podendo apresentar cicatrizes hiper ou hipopigmentadas, embora a maioria não
apresente qualquer cicatriz. A alopecia clássica da sífilis secundária é irregular e tem
sido relatada em até 7% dos pacientes (NORONHA et al., 2006; MARQUES et al.,
2009).
Os sintomas sistêmicos associados à sífilis secundária podem variar de ligeiro
mal-estar a prostração e caquexia. Normalmente, os sintomas são leves. Eles podem
iniciar tão cedo quanto uma semana após o cancro primário. Cefaléia pode está presente
em até um terço dos pacientes e geralmente febre de baixo grau, raramente superior a
37°C. A meningite assintomática ocorre em 8 a 40% dos pacientes. Os sintomas
gastrointestinais são inespecíficos e incluem anorexia, náuseas, e ocasionalmente
vômitos. A adenopatia indolor está presente em 70 a 85% dos pacientes (PEELING;
HOOK, 2006).
Embora sejam pouco frequentes, as dores ósseas e articulares têm sido relatadas
em aproximadamente 12% dos pacientes com sífilis secundária, osteíte e artrite
raramente são descritas. As complicações oculares da sífilis podem envolver
praticamente qualquer processo inflamatório incluindo episclerite, esclerite, ceratite
intersticial, iridociclite, vitritis, uveíte posterior, o envolvimento do nervo óptico e
anormalidades pupilares. Juntamente com os outros sintomas da sífilis secundária, o
paciente pode apresentar zumbido bilateral e surdez. A surdez neurossensorial é
encontrada em até 17% dos casos de sífilis precoce (PEELING; HOOK, 2006).
Sífilis latente
18
recidiva para sífilis secundária (MATTEI et al., 2012).
Os estágios da sífilis adquirida estão resumidamente apresentados na Tabela 1.
Sífilis terciária
19
nervoso e cardiovascular. Além disso, verifica-se a formação de gomas sifílicas
(tumorações com tendência a liquefação) na pele, mucosas, ossos ou qualquer tecido.
As lesões causam desfiguração e incapacidade, podendo ser fatais (BRASIL, 2015).
Neurossífilis
Acomete o SNC, o que pode ser observado já nas fases iniciais da infecção. Esse
acometimento precoce, no entanto, ocorre por reação inflamatória da bainha de mielina,
não havendo destruição anatômica das estruturas neurais. Estatisticamente, ocorre em
10% a 40% dos pacientes não tratados, na sua maioria de forma assintomática, só
diagnosticada pela sorologia do líquor, exteriorizando-se clinicamente em apenas 1% a
2% como meningite asséptica (BRASIL, 2015).
As sequelas da neurossífilis incluem tabes dorsalis (dor intensa em dermátomo e
ataxia locomotora), pupilas de Argyll Robertson (abolição do reflexo pupilar à luz, sem
prejuízo do reflexo de acomodação), paresias, convulsões e demência (ZUGAIB, 2012).
20
osteocondrite em ossos longos, como o fêmur, a tíbia e o rádio (ZUGAIB, 2012).
As principais manifestações da sífilis congênita tardia incluem: tíbia em
“lâmina de sabre”, articulações de Clutton, fronte “olímpica”, nariz “em sela”, dentes
incisivos medianos superiores deformados (dentes de Hutchinson), molares em
“amora”, mandíbula curta, arco palatino elevado, ceratite intersticial, surdez
neurológica e dificuldades no aprendizado (BRASIL, 2015).
2.4 DIAGNÓSTICO
21
deve-se optar, incialmente ao nascimento, por testes não treponêmicos no sangue
periférico do RN, que só terá significado quando o título encontrado for duas vezes
maior que o título encontrado na amostra da mãe; o teste não reagente não exclui o
diagnóstico caso persista a suspeita epidemiológica de ocorrência de sífilis, devendo ser
repetido com 1 mês, 3, 6, 12 e 18 meses, devido a possibilidade de soro conversão
(BRASIL, 2015).
Os critérios utilizados pelo MS para a definição de caso da sífilis congênita no
Brasil são:
22
2.4.1 Provas diretas
23
treponêmicos e os não treponêmicos. O T. pallidum no organismo promove o
desenvolvimento de dois tipos de anticorpos: as reaginas (anticorpos inespecíficos IgM
e IgG contra cardiolipina), dando origem aos testes não treponêmicos, e anticorpos
específicos contra o T. pallidum, que originaram os testes treponêmicos (AVELLEIRA;
BOTINO, 2006; BRASIL, 2014).
Os testes não treponêmicos (conforme Portaria GM/MS nº 3242, 30 dezembro
2011) mais comumente utilizados e que possuem a metodologia de floculação são o
VDRL (do inglês Venereal Disease Research Laboratory), RPR (do inglês, Rapid Test
Reagin), USR (do inglês Unheated Serum Reagin) e TRUST (do inglês Toluidine Red
Unheated Serum Test) (BRASIL, 2011).
Caracterizam-se como testes treponêmicos os seguintes testes (conforme
Portaria GM/MS nº 3242, 30 dezembros 2011):
Testes de Hemaglutinação e aglutinação passiva (T. pallidum
Haemagglutination test – TPHA; Micro-Haemagglutination Assay for
T. pallidum – MHATP; T. pallidum Passive Particle Agglutination test
– TPPA);
Ensaio imunológico com revelação quimioluminescente e suas
derivações – EQI (quimioluminescência);
Teste de imunofluorescência indireta (FTA-Abs – Fluorescent
Treponemal Antibody-absorption);
Ensaio imunoenzimático (ELISA – Enzyme-Linked Immunosorbent
Assay);
Western blot – WB;
Testes imunocromatográficos - Testes rápidos.
Para a definição do diagnóstico são necessários exames treponêmicos e não
treponêmicos, ficando a ordem de realização a critério do serviço de saúde. Entretanto,
os pacientes deverão iniciar o tratamento com apenas um teste reagente, sem esperar o
segundo teste (BRASIL, 2010).
24
pouca importância para o monitoramento de respostas à terapia tendo em vista que estes
testes permanecerão positivos por toda a vida (AVELLEIRA; BOTINO, 2006).
Deve-se tomar muito cuidado quanto à interpretação dos resultados desses
testes sorológicos, uma vez que a identificação de um teste não treponêmico negativo e
um treponêmico positivo é frequentemente uma indicação de doença recente
previamente tratada, a menos que existam sinais óbvios de infecção primária atual
(WHO, 2015).
O teste com FTA veio sofrendo modificações na diluição e melhorando
sensibilidade e especificidade até chegar ao FTA-Abs. Apresenta rápida execução e
baixo custo, mas necessita de um microscópio fluorescente. O procedimento é formado
por duas etapas. Na primeira etapa, o soro do paciente é colocado em contato com o
substrato antigênico. Se os anticorpos estiverem presentes no soro, estes se ligam ao
antígeno, formando um complexo antígeno-anticorpo. Na segunda etapa adiciona-se
uma anti-gamaglobulina humana marcada com isotiocianato de fluoresceína. Se o
complexo antígeno-anticorpo formou-se na primeira etapa, a anti-gamaglobulina
marcada fluoresceína adere-se ao mesmo. Poderá ser observada uma reação positiva,
com fluorescência verde maçã brilhante, através de um microscópio de fluorescência
(WHO, 2015; AVELLEIRA; BOTTINO, 2006).
O TPHA consiste numa hemoaglutinação indireta com eritrócitos
sensibilizados com antígenos de T. pallidum. Na presença de anticorpos específicos no
soro as hemácias irão aglutinar-se para formar padrões característicos na placa de
microhematinação. O ELISA indireto, que utiliza como antígeno extratos de T.
pallidum, alguns com antígeno recombinante. A maior vantagem destes métodos é sua
capacidade de processar grandes quantidades de amostras e a leitura objetiva, por ser
automatizada. O Western-Blot é utilizado por escassos laboratórios e centros de
referência (WHO, 2015).
Os testes rápidos são práticos e de fácil execução, com leitura do resultado em,
no máximo, 30 minutos. Podem ser realizados com amostras de sangue total colhidas
por punção venosa ou por punção digital (BRASIL, 2015).
25
como testes de triagem para determinar se uma amostra é reagente ou não) ou
quantitativo, utilizados para determinar o título dos anticorpos presentes nas amostras
que tiveram resultado reagente no teste qualitativo e para o monitoramento da resposta
ao tratamento (AVELLEIRA; BOTINO, 2006).
O VDRL é o teste não treponêmico mais utilizado, tendo em vista a sua
elevada sensibilidade 78 a 100% e a possibilidade de titulação, o que permite o
acompanhamento sistemático do tratamento. Além da elevada sensibilidade, esse teste
possui uma técnica simples, rápida e de baixo custo. As principais desvantagens
referem-se aos possíveis resultados falso-positivos que podem ser observados durante a
gravidez ou pela ocorrência de reações cruzadas com doenças autoimunes como lúpus
eritematoso e artrite reumatóide, hanseníase, infecções bacterianas, doenças virais e
infecções por protozoários, entre outras. Os resultados falso-negativos também podem
ocorrer e podem ser explicados pelo efeito prozona (BRASIL, 2010; WHO, 2015).
O efeito prozona trata-se da ausência de reatividade em uma amostra que,
embora contenha anticorpos não treponêmicos, apresenta resultado não reagente quando
é testada sem diluir – ou mesmo em baixas diluições. Esse fenômeno decorre da relação
desproporcional entre as quantidades de antígenos e anticorpos presentes na reação não
treponêmica, gerando resultados falso-negativos. O fenômeno de prozona é facilmente
identificado fazendo-se o teste qualitativo com a amostra pura e diluída a 1:8 ou a 1:16
(BRASIL, 2010).
O VDRL apresenta uma técnica rápida de microfloculação, na qual utiliza
antígenos extraídos de tecidos como a cardiolipina, um lípide derivado do coração de
bovinos. A cardiolipina, quando combinada com lecitina e colesterol, forma
sorologicamente um antígeno ativo, capaz de detectar anticorpos humorais presentes no
soro durante a infecção sifilítica (WHO, 2015; AVELLEIRA; BOTINO, 2006).
A titulação, geralmente, está mais elevada na fase secundária da doença.
Observa-se redução dos títulos a partir do primeiro ano de evolução da doença, mesmo
sem tratamento. Havendo o tratamento correto, observa-se a queda dos títulos após
algumas semanas. A negativação geralmente ocorre entre nove e doze meses, podendo,
no entanto, permanecer com títulos baixos por longos períodos de tempo, ou até por
toda a vida; é o que se denomina “memória” ou “cicatriz” sorológica. Assim, títulos
baixos podem representar doença muito recente ou muito antiga, tratada ou não (WHO,
2015).
26
2.5 TRATAMENTO
27
manteve contato sexual com a gestante sem usar preservativo; e, por fim, falta de
informação confiável acerca do tratamento do parceiro (LORENZI; FLAMINGHI;
ARTICO, 2009).
O tratamento da sífilis congênita no período neonatal ocorre de acordo com a
situação clínico-laboratorial da mãe e deve ser realizado de acordo com o seguinte
algoritmo:
Figura 1: Algoritmo para condutas frente à sífilis congênita e gestante com sífilis
A1 - Presença de alterações clínicas e/ou imunológicas e/ou radiológicas e/ou hematológicas: Penicilina
cristalina, na dose de 50.000 UI/Kg/dose, IV, a cada 12 horas (nos primeiros 7 dias de vida) e a cada 8
horas (após 7 dias de vida), durante 10 dias OU Penicilina G procaína 50.000 UI/kg, dose única diária,
IM, durante 10 dias
A2 – Presença de alteração liquórica: Penicilina cristalina, na dose de 50.000 UI/Kg/dose, IV, a cada 12
horas (nos primeiros 7 dias de vida) e a cada 8 horas (após 7 dias de vida), durante 10 dias
A3 – Ausência de alterações clínicas, radiológicas, hematológicas e/ou liquóricas, e teste não treponêmico
não reagente no sangue periférico: Penicilina G benzatina, na dose única de 50.000 UI/Kg, IM; o
acompanhamento é obrigatório, incluindo o seguimento com o teste não treponêmico sérico após
conclusão do tratamento, porém na impossibilidade de garantir o acompanhamento, o RN deverá ser
tratado com o esquema A1
Fonte: Diretrizes para o controle da sífilis congênita. Brasília, 2015
28
criança caso esta tenha sífilis (sequelas, principalmente surdez e déficit de
aprendizagem, que são sutis, mas que podem se apresentar, de modo irreversível, no
futuro) (BRASIL, 2015).
Diante do desabastecimento de penicilina vivenciado pelos serviços de saúde a
partir do ano de 2014, o MS recomenda que na indisponibilidade da droga a opção
terapêutica para o tratamento da SC passa ser a ceftriaxona na dose de 25-50mg/kg/dia
por 10 a 14 dias, porém ressalta que os dados são insuficientes com relação à eficácia de
tratamentos não penicilínicos para SC. Assim, o RN ou a criança infectada deverão ser
seguidos em intervalos mais curtos (a cada 30 dias) e avaliados quanto à necessidade de
retratamento devido à possibilidade de falha terapêutica (BRASIL, 2015).
2.6 EPIDEMIOLOGIA
29
na região Sudeste, 21,7% no Nordeste, 13,7% no Sul, 11,9% no Norte e 9,8% no
Centro-Oeste. Em 2015, o número total de casos notificados no Brasil foi de 33.365,
dos quais 14.959 (44,8%) eram residentes na região Sudeste, 6.240 (18,7%) na região
Nordeste, 6.005 (18,0%) na região Sul, 3.518 (10,5%) na região Norte e 2.643 (7,9%)
na região Centro-Oeste (BRASIL, 2016).
Quanto à sífilis congênita, no período de 1998 a junho de 2016, foram
notificados no Sinan 142.961 casos em menores de 1 ano de idade, dos quais 64.398
(45,0%) eram residentes na região Sudeste, 44.054 (30,8%) no Nordeste, 14.300
(10,0%) no Sul, 11.846 (8,3%) no Norte e 8.363 (5,8%) no Centro-Oeste. Em 2015,
foram notificados 19.228 casos de sífilis congênita em menores de 1 ano de idade, a
maioria dos quais (42,6%) residiam na região Sudeste, seguida pelo Nordeste (30,0%),
o Sul (14,3%), o Norte (7,4%) e o Centro-Oeste (5,8%) (BRASIL, 2016).
Em 2015, observou-se uma taxa de incidência da SC correspondente a 6,5
casos/mil nascidos vivos no Brasil, sendo que as regiões Nordeste, Sudeste e Sul
apresentaram as maiores taxas (6,9 casos/mil nascidos vivos), seguidas das regiões
Centro-Oeste (4,5 casos/mil nascidos vivos) e Norte (4,4 casos/mil nascidos vivos). De
2014 para 2015, as UFs que apresentaram maior aumento da taxa de incidência foram
Santa Catarina (67,2%) e Rio Grande do Norte (53,0%). No Brasil, em geral, nos
últimos 10 anos, em especial a partir de 2010, houve um progressivo aumento na taxa
de incidência de sífilis congênita: em 2006, a taxa era de 2,0 casos/mil nascidos vivos; e
em 2015, subiu para 6,5 casos/mil nascidos vivos (BRASIL, 2016).
30
3 OBJETIVOS
31
4 METODOLOGIA
32
método diagnóstico materno e do recém-nascido (RN), tratamento do RN e evolução do
caso, que serão apresentadas em números absolutos e porcentagens.
Para análise dos resultados serão utilizados tabelas e gráficos construídos no
Excel Office® 2010, a partir de dados disponíveis no site www.saude.rr.gov.br/cgvs/, e
posteriormente interpretados e confrontados com a literatura consultada.
Não serão utilizados testes de significância estatística ou de outros métodos de
inferência, por se tratar de estudo descritivo sem o objetivo de testar hipóteses, mas tão
somente descrever a situação epidemiológica no período analisado.
O estudo foi realizado exclusivamente com dados secundários de acesso livre,
garantindo-se a preservação da identidade dos sujeitos, com consonância com os
preceitos éticos estabelecidos pela Resolução do Conselho Nacional de Saúde CNS
número 466, de 12 de dezembro de 2012, que trata de pesquisas envolvendo seres
humanos.
33
5 RESULTADOS
50
45
40
35
30
25
20
15
10
5
0
2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
Nº de casos de Sífilis
23 28 14 50 27 39 45 13 13
Congênita
Taxa de incidência
2,4 2,7 1,4 5,1 2,7 3,6 4,3 1,2 1,23
(1.000NV) RORAIMA
Taxa de incidência
1,9 1,8 1,7 2,4 3,3 4 4,8 5,4 6,5
(1.000NV) BRASIL
34
1.000 nascidos vivos no ano de 2013, seguido de Bonfim com 12,4 por 1.000 nascidos
vivos em 2010 e São Luiz com 11,2 por 1.000 nascidos vivos em 2011. Na menor taxa
no período foi registrada em Boa Vista no ano de 2015 (1,0 caso por 1.000 nascidos
vivos). Na Tabela 2 estão detalhadas essas taxas por município e ano.
35
anos, seguido da faixa entre 15 e 19 anos, em 25,8% (19) dos casos; 0,4% (1) apresenta
idade até 14 anos. Do total de casos, 83,7% das mães são de cor parda (211/252), 3,6%
(9) são da raça negra e 6,0% (15) de etnia indígena. Quanto à escolaridade, 2,0%
(5/252) delas são analfabetas, 4,8% (12) tiveram a escolaridade ignorada/branca, 42%
(106) possuem ensino fundamental incompleto e 11,1% (28) o concluíram; apenas 0,4%
(1) concluiu a graduação.
36
No que se refere à assistência no pré-natal e ao diagnóstico da infecção
materna, representados na Tabela 5, constatou-se que as mães realizaram pré-natal em
83,3% dos casos (210/252) e 2,8% (7) tiveram esta informação ignorada/branco. O
diagnóstico da infecção materna ocorreu no momento do parto/curetagem em 48%
(148/252) dos casos, 37,7% (95) o diagnóstico foi realizado durante o pré-natal, 11,1%
(28) após o parto, 2% (5) a informação foi ignorada/branco e 1,2% (3) não realizaram o
diagnóstico.
O teste não treponêmico (VDRL) realizado no momento da admissão
hospitalar da mãe durante o parto/curetagem foi reagente em 96,8% (244/252) dos
casos, não realizado em 1,2% (3) e ignorado/branco em 2,0% (5).
37
não receberam tratamento.
Tabela 5: Distribuição das características dos casos notificados de sífilis congênita no
estado de Roraima, 2007 a 2015 (n=252)
Características dos casos notificados de sífilis congênita Nº %
Resultado do VDRL em sangue periférico ao nascimento
Reagente 113 44,9
Não reagente 114 45,2
Não realizado 18 7,1
Ignorado/Branco 7 2,8
Resultado do VDRL no líquor ao nascimento
Reagente 3 1,2
Não reagente 17 6,7
Não realizado 212 84,1
Ignorado/Branco 20 8,0
Radiografia de ossos longos ao nascimento
Com alteração 8 3,1
Sem alteração 102 40,5
Não realizado 127 50,4
Ignorado/Branco 15 6,0
Esquema de tratamento
Penicilina G cristalina (10 dias de tratamento) 138 56,2
Pecinilina G procaina (10 dias de tratamento) 5 2,0
Penicilina G benzatina (dose única) 32 13,0
Outro esquema 48 19,5
Não realizado 15 6,1
Ignorado/branco 8 3,2
Evolução do caso
Vivo 239 94,8
Natimorto 6 2,4
Óbito por outra causa 1 0,4
Ignorado/branco 6 2,4
Resultado do teste treponêmico após 18 meses
Reagente 1 0,4
Não reagente 3 1,2
Não realizado 100 39,7
Ignorado 148 58,7
Fonte: Sistema de Informações e Agravos de Notificação (SINAN) e Secretaria Estadual de Saúde de
Roraima
38
teve alteração radiológica e em 40,5% (102) não apresentaram alterações, 50,4% (127)
não realizaram o exame e 5,9% (15) a informação foi ignorada/branco.
O tratamento foi instituído em 90,6% (223/246) dos casos, o uso de penicilinas
alcançou 71,1% (175/246), com destaque a penicilina G cristalina em 10 dias de
tratamento que foi utilizada em 56,2% (138) dos casos, a pencilina G procaína em 10
dias de tratamento foi utilizada em 13% (32) e a penicilina G benzatina em dose única
em 2% (5) e outro esquema foi utilizado em 19,5% (48). O tratamento não foi realizado
em 6,1% (15) dos casos e os natimortos foram excluídos dessa análise.
Na evolução do caso, 94,8% (239/252) estão vivos, 2,4% (6) foram natimortos,
0,4% (1) teve óbito por outra causa e 2,4% (6) a informação é ignorada/branco.
A realização do teste treponêmico após os 18 meses de vida, ocorreu em
apenas 1,6% (4/252) dos casos, mostrando-se reagente em uma das amostras; não
realizado em 39,7% (100) e 58,7 (148) a informação é ignorada/branco.
39
6 DISCUSSÃO
40
Os casos de sífilis congênita no estado Roraima merecem especial atenção.
Apesar da diminuição de 50% da taxa de incidência no período investigado de 2007 (2,4
por 1.000 nascidos vivos) a 2015 (1,2 por 1.000 nascidos vivos) e de estar abaixo da
média nacional de 6,5 por 1.000 nascidos vivos para 2015, os resultados obtidos não
estão em consonância com a meta da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS)
para eliminação da doença. Entre os Objetivos e Metas do Milênio, esperava-se uma
incidência de sífilis congênita menor do que 0,5 por 1.000 nascidos vivos no ano de
2015 (BRASIL, 2016). Como signatário de um acordo internacional para eliminar a
sífilis congênita, o MS do Brasil tem empreendido ações para o alcance desse objetivo,
com foco no tratamento adequado, integração com outros programas de saúde, sistemas
de vigilância locais atuantes e consequente interrupção da cadeia de transmissão. Nesse
sentido, para o alcance da meta proposta, são imprescindíveis melhorias na qualidade da
vigilância epidemiológica, associadas à correta aplicação das condutas preconizadas
para o atendimento de gestantes e RN acometidos pela doença (CARVALHO; BRITO,
2014).
O município de Boa Vista, capital do estado, concentrou a maioria dos casos,
correspondendo a 73,8% e a taxa de incidência em 2015 foi de 1,0 caso/mil nascidos
vivos. Dados do MS para 2015 mostram que as UFs que apresentaram taxas de
incidência de sífilis congênita superiores a taxa nacional (6,5 casos/mil nascidos vivos)
foram: Rio de Janeiro (12,4 casos/mil nascidos vivos), Rio Grande do Sul (11,5
casos/mil nascidos vivos), Sergipe (10,9 casos/mil nascidos vivos), Espírito Santo (9,1
casos/mil nascidos vivos), Tocantins (9,1 casos/mil nascidos vivos), Rio Grande do
Norte (9,0 casos/mil nascidos vivos), Ceará (8,7 casos/mil nascidos vivos), Pernambuco
(8,5 casos/mil nascidos vivos), Piauí (7,8 casos/mil nascidos vivos), Alagoas (7,4
casos/mil nascidos vivos) e Mato Grosso do Sul (7,2 casos/mil nascidos vivos) Entre as
capitais, somente sete estão abaixo da media nacional (6,5 casos/mil nascidos vivos):
Curitiba-PR (6,3 casos/mil nascidos vivos), Manaus-AM (6,3 casos/mil nascidos vivos),
São Paulo-SP (5,9 casos/mil nascidos vivos), Rio Branco-AC (5,8 casos/mil nascidos
vivos), Brasília- DF (4,4 casos/mil nascidos vivos), Goiânia-GO (3,6 casos/mil nascidos
vivos),Macapá-AP (3,2 casos/ mil nascidos vivos) e Boa Vista (1,0 caso/mil nascidos
vivos). Ressalta-se a taxa de incidência de Porto Alegre-RS (30,2 casos/mil nascidos
vivos),que está 4,7 vezes mais alta que a taxa do Brasil (BRASIL, 2016).
No estudo de Carvalho (2014) a região metropolitana de Natal-RN concentrou
43,8% dos casos e dispõem de uma rede assistencial em melhores condições,
41
comparativamente a outros municípios do interior, fato que justifica um maior número
de notificações por essas localidades. A maior concentração do número absoluto de
casos na capital também se deve à maior concentração da população do estado. Da
mesma forma, espera-se uma concentração de casos em área urbana, onde reside a
maior parte da população. Tal realidade demonstra a necessidade de melhorias e
avanços na qualidade dos sistemas de informações, para que as informações produzidas
possam, efetivamente, orientar a tomada de decisão no âmbito da Saúde.
Em Roraima, as maiores taxas de sífilis congênita foram observadas nos
municípios menos populosos e com menos recursos, como o município de Iracema que
registrou a maior taxa no período de 13,6 por 1.000 nascidos vivos no ano de 2013,
Bonfim com 12,4 por 1.000 nascidos vivos em 2010 e São Luiz com 11,2 por 1.000
nascidos vivos em 2011. Segundo Carvalho (2014) municípios com menor
disponibilidade de recursos têm maiores chances de apresentar subnotificação em seus
registros, condição que dificulta o real conhecimento da situação de saúde e
consequentemente, o planejamento de ações e o monitoramento de indicadores.
No período estudado a maioria das mães, 62,7%, apresentaram idade entre 20 e
34 anos, seguido de mães com idade entre 15 e 19 anos em 25,8% dos casos e 0,4%
possuía menos de 15 anos. Segundo dados do Brasil (2016) os maiores percentuais de
casos de SC, em 2015, ocorreram em crianças cujas mães tinham entre 20 e 29 anos de
idade (51,8%), seguindo-se as faixas etárias de 15 a 19 anos (23,7%).
Em estudo realizado por Freire (2014), na capital de Pernambuco, identificou
que as gestantes que possuíam idade abaixo dos vinte anos estavam três vezes mais
propensas a não realizar os exames VDRL no pré-natal que outras com idade superior,
apresentando, portanto, impacto direto na adequabilidade do seguimento. Porém neste
estudo, a realidade de mães com idade inferior a 20 anos só contempla um quarto das
mães avaliadas no estudo, já que mais da metade delas possuem faixa etária de 20 a 29
anos.
Ainda sobre as características maternas, observou-se que 83,7% das mães são
pardas, 3,6% pretas e 6% indígenas, refletindo uma importante participação da etnia
indígena na composição populacional do estado de Roraima. Em relação a raça/cor das
mães das crianças com sífilis congênita (BRASIL, 2016), a maioria se declarou como
parda (54,5%), vindo em seguida as brancas (24,4%) e pretas (9,9%), portando Roraima
apresentou um número bastante elevado de pardas comparado à média nacional.
42
Quanto à escolaridade materna, 2% das mães eram analfabetas, 4,8% tiveram a
escolaridade ignorada/branca, 42% cursaram parcialmente o ensino fundamental, 11,1%
concluíram o ensino fundamental e apenas 0,4% concluiu o ensino superior. O
predomínio de mães com baixo nível de escolaridade sugere que possivelmente, essas
mulheres pertençam a estratos sociais menos favorecidos e contem com pouco acesso às
informações necessárias para evitar a infecção e consequente transmissão vertical
do Treponema palidum, ou, em caso de serem diagnosticadas com a doença,
desconhecem a importância de um tratamento completo. No estudo de Carvalho (2014),
por exemplo, no que se refere à escolaridade das mães, os casos de SC ocorreram em
maior número nas mães com baixo nível de instrução.
Quanto à escolaridade materna no país, observou-se que a maioria apresentava
de 5a a 8a série incompleta (24,5%), e que em 29,5%dos casos essa informação foi
classificada como ignorada (BRASIL, 2016), diferente da realidade roraimense, porém
deve-se levar em consideração o número elevado de mães com escolaridade ignorada
registrados no país.
No que se refere à assistência no pré-natal e ao diagnóstico da infecção materna
constatou-se que 83,3% das mães realizaram o pré-natal e 2,8% tiveram esta informação
ignorada/branco. O diagnóstico da infecção materna ocorreu no momento do
parto/curetagem em 48% dos casos, 37,7% o diagnóstico foi realizado durante o pré-
natal, 11,1% após o parto, 2% a informação foi ignorada/branco e 1,2% não realizaram
o diagnóstico. Esses dados corroboram com os encontrados no estudo de Carvalho
(2014) em que mais de dois terços dos casos de sífilis congênita, havia-se realizado o
atendimento pré-natal. Este fato configura-se como um indicativo de falha na assistência
pré-natal, sinalizando a necessidade de uma maior atenção da Estratégia Saúde da
Família (ESF) na identificação, acompanhamento e tratamento dos casos. Trata-se de
uma realidade verificada no Brasil: entre os casos de sífilis notificados no país, em
2015, 78,4% das mães de crianças com SC fizeram pré-natal, enquanto 15% não
fizeram, e 6,7% apresentaram informação ignorada. Entre aquelas que fizeram o pré-
natal, 51,4% tiveram diagnóstico de sífilis durante o pré-natal, 34,6% no momento do
parto/curetagem, 8,3% após o parto e 0,6% não tiveram diagnóstico, além de 5,1%
constarem como ignorados (BRASIL, 2016), fato que evidencia fragilidades na
qualidade do atendimento prestado.
Dados do Relatório Anual de Epidemiologia de Roraima de 2015 (RORAIMA,
2016) mostram que 3,7% das mães não realizaram nenhuma consulta no pré-natal e
43
47,2% tiveram 7 ou mais consultas. No presente estudo a proporção de mães que
realizaram o pré-natal alcançou 83,3%, porém não se pode avaliar a qualidade da
assistência devido à ausência de informações na ficha de notificação de SC do Sinan a
cerca da frequência e da distribuição das consultas no pré-natal.
A atenção pré-natal adequada é uma ferramenta ímpar para a diminuição da
SC, considerando-se suas diversas oportunidades de intervenção. Entre suas ações,
destacam-se a captação oportuna da gestante, o acompanhamento da gravidez, a
solicitação de um VDRL na primeira consulta e além da realização de um novo exame
próximo na 28a semana gestacional. Somam-se, ademais, o aconselhamento e
tratamento da gestante e dos parceiros acometidos pela infecção (OPAS, 2011).
Em um estudo Sentinela-Parturiente de 2006 sobre SC no Brasil, identificou
que no grupo com seis ou mais consultas apresentavam 26,2% de adequação no
rastreamento da sífilis, por meio da realização de dois exames para detecção sífilis
durante o pré-natal, conforme recomendações do MS, ao passo que o grupo com
número de consultas inferior a seis apresentavam uma adequação de apenas 9,3%
(SZWARCWALD et al., 2007), interferindo , negativamente, no diagnóstico precoce
dessas gestantes. No recente estudo não foi possível avaliar o número de consultas
realizadas pelas gestantes devido à indisponibilidade desse dado na ficha de notificação
do Sinan para sífilis congênita.
Nesse sentido, destacam-se atividades desenvolvidas pelas ESF, nas quais
diferentes profissionais – agente comunitário de saúde; técnicos de enfermagem;
enfermeiro; médico; cirurgião dentista, juntos, podem atuar como agentes de prevenção
da SC. As atribuições das ESF incluem a busca ativa das gestantes faltosas (pelo agente
comunitário de saúde), a identificação de vulnerabilidades e situações de risco (pelo
técnico de enfermagem), a realização de consulta de pré-natal das gestantes de baixo
risco (função intercalada entre médico e enfermeiro) e o desenvolvimento de atividades
educativas, estas sob a responsabilidade de toda a equipe (BRASIL, 2012). Todas essas
medidas estão inseridas no Programa Rede Cegonha e visam dar melhor assistência à
mãe e ao concepto.
Quanto ao tratamento, em 88,1% dos casos as mães receberam tratamento
inadequado, 7,1% não receberam nenhum tipo de tratamento e 2% tiveram a
informação ignorada/branco. Além disso, o tratamento concomitante do parceiro só foi
instituído em 7,1% dos casos, confrontando com 84,1%que não receberam tratamento.
Com relação ao esquema de tratamento da gestante (BRASIL, 2016), 56,5% receberam
44
tratamento inadequado, 27,3% não receberam tratamento, e apenas 4,1% receberam
tratamento adequado. Quanto ao tratamento dos parceiros, entre as gestantes que
realizaram o pré-natal, em 62,3% dos casos o parceiro não foi tratado, 13,9% fizeram
tratamento e para 23,8% dos casos essa informação é ignorada/branco. Nesse contexto,
além de melhorias assistenciais, é imprescindível que o parceiro seja sensibilizado a
participar das consultas de pré-natal e compreenda a importância da realização do teste
não treponêmico, do tratamento e do seguimento dos casos identificados de infecção,
seja individualmente, seja na perspectiva do casal (MESQUITA et al., 2012).
A inadequabilidade do tratamento tem com um dos fatores o diagnóstico tardio,
impossibilitando a realização do tratamento até 30 dias antes do parto (critério de
adequabilidade). Segundo o Boletim Epidemiológico do ano de 2015, 32,8% dos casos
foram notificados no terceiro trimestre, com percentual maior na região Norte no ano de
2015 (BRASIL, 2016). Além disso, fatores relacionados ao desabastecimento da
penicilina em alguns serviços de saúde, que vem ocorrendo desde 2014, contribuem
com os elevados números, já que, segundo o MS, apenas a penicilina tem eficácia
comprovada na prevenção da SC.
Todas as regiões apresentaram queda no percentual de gestantes que não
tiveram registro de prescrição de tratamento em relação ao ano anterior (2014-2015). A
região Sul apresentou o maior percentual de gestantes que não tiveram esse registro
(8,5%), em 2015. Quanto às UFs, em 2015, Rondônia (15,1%), Amapá (12,2%),
Roraima (11,7%), Minas Gerais (10,0%) e Santa Catarina (8,9%) apresentaram os
maiores percentuais de gestantes que não tiveram registro de prescrição de tratamento
(BRASIL, 2016).
45
demonstrou que das nove gestantes identificadas com sífilis no pré-natal, sete parceiros
não realizaram, ou não se obteve informações acerca do tratamento a que deviam se
submeter. Dos casos de SC no Brasil, mais de 80% dos parceiros não receberam
tratamento, condição desencadeadora de novas infecções (CARVALHO; BRITO,
2014).
Entre os casos suspeitos de SC, o MS recomenda a realização de exames
complementares para confirmação dos casos. Quanta a realização desses exames no
estudo verificou-se que 58% dos casos tinham a informação ignorada, realidade
semelhante à evidenciada pelo estudo realizado no Rio de Janeiro (SARACENI, 2005).
Essa realidade apresenta implicações na classificação e, consequentemente, interfere na
terapêutica, uma vez que o algoritmo recomendado pelo MS não é seguido (BRASIL,
2015).
O tratamento realizado nas crianças pelos serviços do estado mostrou que 20%
das crianças receberam tratamento não penicilínico, realidade que diverge do estudo
realizado em Sobral-CE, onde todos os casos foram tratados com penicilina cristalina
por 10 dias (KARINA et al., 2012). Esse dado torna-se preocupante devido a falta de
comprovação da eficácia de tratamento alternativo na SC, como ressalta o MS, porém
tal realidade pode estar vinculada a escassez da penicilina no país. Destaca-se ainda que
os esquemas alternativos utilizados no tratamento dos casos de SC não são detalhadas
na ficha do Sinan.
Existe a recomendação de tratar todas as crianças infectadas com regime
adequado a fim de se erradicar a neurossífilis, fato que demonstra a gravidade da
situação da SC no Brasil, onde os gastos hospitalares com o tratamento da SC
ultrapassam em muito os gastos que se teriam com a efetiva profilaxia da SC se
houvesse um programa de APN de qualidade (MENEZES et al., 2007).
Quanto à mortalidade infantil em menores de um ano de idade por SC, no
período de 2000 a 2013, o número de óbitos no país foi de 1.241 mortes, sendo 543
(43,2%) na região Sudeste, 422 (34%) na região Nordeste, 126 (10,2%) no Norte, 118
(9,5%) no Sul e 39 (3,1%) no Centro-Oeste. O presente estudo apresentou apenas um
óbito por causa associada à SC no intervalo de nove anos de análise, além de seis
natimortos somente no ano de 2007, o que pode sugerir falhas na investigação
diagnóstica das mortes no estado além da existência de possível subnotificação.
A constatação da elevada prevalência de puérperas infectadas, o não tratamento
adequado das pacientes e de seus parceiros, e o não rastreamento adequado dos filhos,
46
apesar do acompanhamento do pré-natal, refletem a necessidade de se rever ou mesmo
reformular a assistência pré-natal ofertada às mulheres, enfatizando o seu aspecto
qualitativo, a fim de se reduzir a transmissão vertical da sífilis (FIGUEIRÓ-FILHO,
2007). Uma limitação referente ao presente estudo diz respeito ao percentual de
informações ignoradas ou em branco, como por exemplo: o tratamento do parceiro e a
realização do teste treponêmico após os 18 meses. Soma-se a isso a questão da
subnotificação, condição possível de favorecer interpretações errôneas sobre
características epidemiológicas relacionadas a uma determinada doença, fato também
observado em outros estudos e em dados do MS (BRASIL, 2016; SARACENI et al.,
2005; MEQUITA et al., 2012; CARVALHO; BRITO, 2014).
No presente estudo, é difícil afirmar, por exemplo, se a maior ou menor
concentração de casos em determinados municípios representa a realidade local da
doença ou se é reflexo de uma menor ou maior proporção de subnotificações.
47
7 CONCLUSÃO
48
submetidas aos exames preconizados, com grande número de informações ignoradas
quanto à realização do teste treponêmico aos 18 meses. Além disso, parte dessas
crianças foi submetida a esquemas alternativos, sem eficácia comprovada, porém com
respaldo do MS, em razão do atual problema de disponibilidade da penicilina no
mercado, em razão do desabastecimento de matéria-prima para fabricação em nível
global, que permite a utilização de ceftriaxona para o tratamento da criança, com a
condição de que ela seja acompanhada em intervalos mais curtos para avaliação.
Estão estabelecidas pela OMS, desde 2008, estratégias para eliminar a sífilis
congênita, baseadas na demonstração do custo-benefício que existe nas intervenções
para eliminação dessa doença no recém-nascido, como aumentar o acesso aos serviços
de saúde e sua qualidade, detectar e tratar as gestantes com sífilis e seus parceiros e
estabelecer sistemas adequados de vigilância, monitoramento e avaliação das metas
estabelecidas. Essas estratégias, porém, ainda mostram-se como desafios a serem
enfrentados, baseados nos dados apresentados no estudo.
Sabendo-se, portanto, da eficácia do tratamento, somado à disponibilidade de
testes para detecção da sífilis, maciçamente distribuídos com a criação do Programa
Rede Cegonha, faz-se necessário a intensificação do aprimoramento de todos os
profissionais envolvidos na assistência ao pré-natal, visto que o pré-natal é o
considerado um momento oportuno para a contenção do agravo, por meio do
diagnóstico precoce somado à instituição do tratamento em tempo hábil para a gestante
e o parceiro. Além disso, é de fundamental importância a realização adequada do
preenchimento das fichas de notificação/investigação do Sinan pelos profissionais
envolvidos nos serviços de saúde para que o sistema de vigilância tenha acesso à
repercussão do agravo e fiscalizem, quando necessário, a aplicabilidade das políticas em
saúde.
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