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PALLAS GISELE OMIINRAREWA COSSARD SUMARIO Introducao.. As origens. Qs ministros de Olodumar?.... 35 A comunidade.. . " oz As consultas.. 79 A iniciagao.. 133 A vida apés a iniciagao.... 177 © final da vida..... 191 Os ancestrais 201 bara ee RI PIE INTRODUCAO Aparentemente, nada me ligava tio fortemente a Africa. Nasci no Marrocos, pais que deixei antes de completar dois anos de idade, muito pequena para ter conservado qualquer lembran¢a. Mas meus pais, que eram franceses, guarda- wam desta terra uma imagem encantadora, que embalou toda a minha infan- cia. Nossa casa era cheia de lougas, tapetes coloridos, pegas. de latao e cobre, objetos misteriosos, que me fascinavam ¢ atraiam, agugando v meu desejo de conhecer toda aquele continente. Em 1937, a exposico sobre as colénias africanas, em Paris, aumentou 0 meu sonho de ir para a Africa. Os anos se passaram; vieram a guerra e a ocu- Pago alema, uma época sombria, perigosa e sem perspectivas. Entrei para 0 movimento de Kesisténcia francés, no qual conheci um jovem professor, inte- lectual brilhante com quem me casei em 1945. Em 1949, ja com dois filhos, surge a oportunidade de tr para os Camardes, col6nia francesa na Africa, onde meu marido foi nomeado diretor da Educagao, Fiquei muito entusiasmada em: realizar um antigo desejo. Apesar da vida sem conforto, em condi¢ées precdrias, com obrigagdes so- ciais desinteressantes, era a Africa ao meu alcance, No entento, logo percebi de que 0$ negros e os brancos viviam em mundos separados. Os brancos nao freqdentavam os negros € quem as recebia em casa estava se rebaixando. Os brancos se achavam superiores & nao faziam esforco algum para compreender a mentalidade dos africanos. Em 1952, fomos viver no Tehade, ao Sul do Saara. O contato com 0 povo de 14 era ainda mais dificil. A populacio eta islimica ¢ a minha condigao de mulher dificultava a aproximagio, Ac longo dos oito anos em que morei na Africa, nao cansegui reduzir a distancia entre o meu mundo e este outro, ape- sar dos meus esforgos. Eu percebia que o mundo negro tinha outras normas, outras referéncias, mas nfo conseguia alcangé-las. S Gisele Omindarewd Cossard Durante uma viagem de carro do Tehade até o Oceano [ndico, em 1956, sentimos que as populagdes estavam 4 beira da revolta, que a explosdo era iminente e que os brancos seriam expulsos qualquer que fosse a forma de sua presencga. Decidimos nao aguardar a crise ¢ voltamos para a Franca, com 0 co- ragao chelo de saudades, Em 1959, meu marido foi nomeado Conselheiro Cultural da Embainada da Franga no Rio de Janeiro. Descobri um pais novo e encantador, mas as obri- gages da vida diploméatica deixavam pouco espago para conhecer mais pro- fundamente as qutras camadas daquela sociedade. Mesmo assim, aos poucos, senti de novo a presenga africana nas cores do povo, no gingar das mulheres andando pelas mas, no cheiro do dendé nas esquinas e na exuberdincia da miasica ¢ das dangas, Nessa época, conheci Abdias Nascimento, fundador do Teatro Experimen- tal da Negro, e entrei também em contato com os antigos integrantes do gru- po folelérico Brasiliana; esses bailarinos, entio desempregados, passaram a ser meus amigos ¢ me ajudaram na organizacdo de recepgGes do Servigo Cultural. Com eles, subi morros ¢ corri subtitbios para reencontrar a Africa. Durante uma dessas fugas, um acontecimento extraordinario transformaria a minha vida. Em uma festa de Candomblé na casa de Jodazinho da Goméla, em Ca- xias, cai no chao, sem dominio de mim mesma. Nesse momento, comegou a minha vida com os Orixas. Jodozinho da Goméia teve muita coragem quando decidiu me iniciar — preparar a minha cabega para receber o orix4; estava abrindo as portas do Candomblé para a esposa do Conselheiro Cultural da Embaixada da Franga, a quem chamava de embaixatriz. Eu nio era embaixatriz, 6 queria ser uma yawd aprender. Foi dificil conquistar a confianga desse grupo, Mas, com paciéncia, fui fazendo amizades. Estava num mundo completamente diferente do meu, que me encantava e no qual, aos poucos, encontrei respostas para as minhas dividas e realizei minhas expectativas. Mas ainda era muito dificil ter uma visio global desse universo, Por sua tradigao, o Candomblé nao dispensa um aprendizado sis- tematico e organizado para seus filhos. Passei entao a buscar este conheci- mento ao acaso, um pedacinho aqui, outro ali. Aimda assim, pouca coisa fazia sentido, Quando voltei para a Franca em 1963, a minha vida se modificou comple- tamente. © meu casamento, que {4 vinha balangando, acabou se desfazendo e tive que trabalhar para criar meus dois filhos. Foi um periode arduo, com mul- tas saudades do Brasil. Para superar a tristeza, decidi escrever sobre o Candom- blé da Goméia. Sem possuir formacio sociolégica ou etnolégica, fiquei muito receosa, mas decidi procurar um pesquisador dessa area, o professor Roger Bas- tide, da Ecole des Hautes Etudes, em Paris. Ele me recebeu com muita gentileza, escutou atentamente a minha conversa, as minhas dividas e disse: “escreve, escreve, vocé sabe muito mals do que eu". Durante os seis anos seguintes, todos os meus momentos de lazer foram dedicados a escrever, ¢ também a ler e a estudar. O Candomblé comegava a se estruturar lentamente na minha cabega. A tese de doutorado ficou pronta em 1970, mas nio foi publicada, pois nio tive recursos para isso. Nessa época, a administragao francesa, depois do choque da revolugio dos estudantes de 1968, nao via com bons olhos qualquer pesquisa socioldgica. Com isso, a tese ficou engavetada. Nesse periodo, trabalhei duro e vim ao Brasil para visitar a Goméia, em 1966 e 1970. $6 voltei para o Rio de Janeiro em 1972, coma Conselheita Pedagdgica da Servico Cultural Francés, mas Jodozinho da Goméla, o meu babalorixa, tinha falecido no ano anterior. Tudo estava mudado, e sem ele a Goméia nao era mais 4 mesma. Foi entdo que meu amigo Pierre Verger me apresentou a um baiano, Balbino Daniel de Paula, um filho de Mae Senhora, do 1lé Axé Opd Afonja, Eu os hospedei no Rio, enquanto se preparavam para ir a Africa filmar a histéria de um mogo a procura de seus ancestrais. Na volta dessa viagem, Balbino ficou um tempo no Rio ¢ nos reencontramos. Em 8 de dezembro de 1973, sofri um sério acidente de carro, que me deixou muito ferida e Balbino se prontificou a me ajudar. Trouxe alguns de seus ini- ciadas e ficou comigo em Santa Cruz da Serra, na casa que eu acabara de com- prar, No dia 19, onze dias depois do acidente, era o dia do meu aniversario de iniciagSo e ele fez questo de preparar as oferendas para Yemanj4, meu Orixa. Mesmo estando eu gravemente acidentada, sem poder me mexer, sem poder andar, a minha Yemanja velo, dangou ¢ ele se encantou com Ela. Nossa liga- gio se estreitou e ele acabou se tornande meu segundo babalorix4; implantow comigo essa casa de Candombilé e ajudou a desenvolvé-la. Ele ainda ficou um tempo ao meu lado; depois voltou para a Bahia. Mudei de nacao sem ter procurado por essa mudanga. JoZozinho da Go- méia era de tradi¢ao Angola, Balbino praticava um ritual Ketu, muito apurada, do Ilé Axé Opd Afonja, um dos mais antigos terreiros da Bahia, Para segui-lo, tive que aprender tuda de novo: a nmiisica, as cantigas, as dangas, o ritual estri- tamente elaborado ¢ preciso. A partir de 1974, com o incentive de Balbino e de seus filhos, a minha casa de Candomblé se desenvolveu bastante ¢ as ativi- dades no pararam mais. Awé ~ 0 mistérlo dos Orixds Giséle Omindarewd Cossard B ‘Durante esses anos, sempre fui muito solicitada a publicar a tese de douto- rado, mas ainda tinha receio. Todo ano, retornava 4 Africa para me aproximar das origens. Em 1968, havia encontrado Nestor Adissa Ogulola, um africano nascido no Benin, que estudava na Franca, como bolsista, e me ajudou na tra- ducac de algumas cantigas. Pui sua héspede em Cotonu e ele me levou a varias casas de culto em Pobé, Saketé ¢ Ketu. Nessas viagens sucessivas, notei a influéncia crescente do Isii na populagdo, No decorrer dos anos, vi a invasdo das religides evangélicas, de forma mals agressiva, Mas, em 2001, constatei uma profunda modificagao; a politica do novo govern pretendia valorizar a antiga cultura africana, as tradigdes reli- giosas auténticas e a medicina tradicional, Na beira das estradas viam-se placas que indicavam o caminho dos Tradi-Praticiens (médicos conlrecedores das et- vas tradicionais). A Aftica vivia um processo de transformagao muito profundo. A eletricida- de ja chegava a aldeias distantes e com ela vieram a televisdo, 0 computador e a Internet. O ponto mais longinquo da Africa passou a estar em contato com @ mundo, Os jovens babalorixas se comunicavam por e-mail. Em Agoué assisti @ uma festa comemorativa do inicio do ano, na qual os antigos da nagdo Gen {os jeje-mahi do Brasil) vio buscar na floresta a pedra sagrada que determinaré o Signo daquele ano, Estava com minha maquina fotografica, porém fiquei receosa de usd-la e criar algum constrangimento com 03 presentes - receio este que se mostrou infundado quando, dias depois, me ofereceram um video de toda a festa. A mentalidade havia mudado, Nesta mesma viagem tive uma conversa decisiva com o principe Olofin II Akandé Olofindji, presidente da Fundagao Internacional Africa Culturas, que muito me incentivou a publicar a tese, argumentando que eu deveria divulgar este comhecimento para valorizar a cultura africana. Era preciso estabelecer contato mais estreito entre a Africa e o Novo Mundo, entre os africanas ¢ afro- descendentes. Ele me convenceu da importancia de utilizar a midia para divul- gar todas as manifestayOes da cultura africana ainda preservadas ¢ insistiu para que eu elaborasse videos para mostrar a sobrevivéncia da Africa. © principe propés ainda um intercdmbio dos registros das festas. Todos esses argumentos. convincentes me ajudaram a decidir pela publicacao. Mas eu estava cliente de que, no decorrer desses 30 anos, a minha visio do mundo africano cra bem mais profunda. Senti a necessidade de reescrever tudo, desde © principio. Era preciso incluir as trés tradigdes africanas essenciais: © aspecto Toruba nas casas de tradigao Ketu, o aspecto Fon mas casas de tradicao Jeje ¢ 0 aspecto Bantu nas casas de tradigao Congo/Angola. ‘Como o texto inicial s6 contemplavaa tradigio do Candomblé angola mes- clada com o ketu, fol preciso pesquisar e aprofundar os conceitos que descre- vem a criagéo do Mundo de acordo com as lendas do jogo de adivinhagao. Neste ponto tive uma grande ajuda de meu amigo o babalad Afisi Akisola Ifa- muiwa, origindrio de Owu Abeokuta, na Nigéria, que me esclareceu muitos pontos em que ainda tinha dividas. Tive que me aprofundar no conhecimento: da Naco Jeje, da qual tinha uma imagem restrita apenas as fontes africanas. Obtive muitos esclarecimentos com um outro amigo, o Doté Amauri Bulhdes de Odé, filho de Gaiaku Luisa de Cachoeira, Este livro pretende dar uma visio dessas trés pontas do Candomblé, mos- trando tanto as suas identidades quanto as suas diferencas, especialmente aque- las que regem os rituais. Nao pretendo nesta obra mostrar uma verdade tnica e absoluta, pois o mundo do Candomblé é multifacetado, Tenho certeza de que ndo abracei todas essas faces, mas gostaria de mostrar, sob o meu ponto de vista, um pouco dessa concepgio de mundo, tio bem estruturada, organizada € cocrente, Um relacionamento com o invisivel ¢ com © oculto, a partir de sts- tematicas bem determinadas ¢ abrangentes, que respondem a todas as questdes € permitem uma convivéncia estreita e cotidiana com o mundo espiritual. Anteriormente, o Candomblé era visto como um mundo oculto, para ini- ciados. Aos poucos, pesquisadores, especialistas ¢ até sacerdates comecaram a divulgar este conhecimento de forma fragmentada. Acredito que, na verdade, tudo j4 tenha sido dito, mas de forma dispersa e multas vezes com interpreta- goes intelectuais, que reconstroem uma visao fora da realidade do Candomblé, © Candomblé deve ser abordado com humildade e é preciso deixar que seus valores falem por si. Por isto, procurei nio interpretar, ndo criar fantasias, nem to pouco reconstruir imagens distorcidas ou surrealistas. Os que lerem esse livro poderio pensar que as receitas dadas aqui fardo qualquer um improvisar 0 papel de babala6, babalorixé ow ialorix4, No entan- to, tenho certeza de que somente quem passou pelos rituais, pelo sacrificio, pela iniclagao, terd forca eficiéncta para se tornar um verdadeiro sacerdote. Sem isso, estard apenas representando, A forca espiritual, o axé, ndo pode ser improvisado, é preciso que seja trans- mitida pelos antigos. Espero que, pela leitura dese livro, todos possam entender um pouco melhor © que é 0 verdadeiro Candombleé e dar o justo valor aos ritos dessa tradig&o que é milenar, mas nao deixa de responder as diividas ¢ amsiedades de nossa época. Rio de Janeiro, margo de 2005. Awé — 0 mistéria dos Orixds AS ORIGENS A CRIAGAO DO MUNDO ‘Os mitos que descreyem a criag3o do mundo, nas religides brasileiras de raiz africana, s40 numerosos e, muitas vezes, contraditéries, Como aconteceu em outras religiGes, eles foram transmitides por diversas geragdes e sofreram intimeras modificagSes. A inexisténcia, na Africa, da forma eserita da lingua dos povos trazidos para o Brasil fez com que seus costumes ¢ rituals fossem transmitidos oralmente, através das lendas resgatadas dos adivinhos — os babalads —, que detinham os segredos ¢ eram, ¢ ainda sio, os verdadeiros pais (Bahds) desses segredos (awd). $40 05 primeiros que devem ser consultados, se quisermos desvendar os segundos, Existe uma relagdo entre os odus (os caminhos do destino indicados pelos ordculos, que serfo discutidos mais adiante) e os mitas yorukds, aos quais se referem algumas das lendas existentes dentro de cada odu. Os 16 odus-meji apa- Teceram na terra em tempos muito remotos, na fase de criacdo do mundo. O primeiro foi Ofun-meji, mas diversas circunstincias fizeram com que Ogbé-meji tomasse a sua frente; ¢ entdo Ofia-meii passou a sero Gltime, Mas a seqiiéncia dos odus € um pouco confusa: os diversos autores, de acordo com seus infor- mantes, dao ordens diferentes. A seqtténcia aqui apresentada é a mais freqden- temente encontrada na literatura sobre o tema. Qs babalads dizem que, no principio, s6 havia Olorun, mais comumente chamado de Oledumar®, inico, imenso, total. Mas veio um tempo em que o té- dio o dominou e a sua plenitude ndo mais ihe satisfez. Entéo, Olorun se cindiu, fazendo surgir elementos diferentes de si mesmo. Esse dom da multiplicidade deu origem ao mundo, através de uma forca dnica refletida em varias diregdes. Olorun & considerado como a forga suprema que domina o mundo; as inameras forgas que o cercam nao podem ser definidas como boas ou mas. & Gisele Omindarewd Cossard No prinetpio, néio havia céu nem terra, Existia apenas um estado indefi- nivel, que podemos chamar de o nada, Uma lenda do od Olugbon conta que Olodumaré colocou suas forcas em movimento, criando um espago a partir do nada, transformando 0 nada em uma forma que se define. Este espago ¢ deli- mitado por quatro cantos: Akitalé, Orissunré, Olomitutu ¢ Agbeniadé. Com Akitalé, Olodumaré cria o sentido da Dimensao e da Orientagéo no espago. Orissunré€ uma forga dormente (sun: dormir); representa o Passado € a no- so de Tempo. Olomitutu possui em sia esséncia da Agua, da Umidade. Agbeniadé ¢ uma forga feminina na qual esta incluida a esséneia de Oyd; € a energia do Fogo. Lendas dos odus Ogbe-ofuri, Ogunda-meji ¢ Ogunda-ofin contam que uma das energias primordiais criadas por Olodumaré ¢ Obatald, encarregado de fazer © mundo. Dizem que ele aparece uma vez por ano, brilhando com uma luz ‘incomparivel. Obatald é a claridade, a luz, o brilho, o esplendor. Os velhos cantam:; © flurune arelé... Baba hen y en eiegibé... Iie ifon motiwa babi... Efibo reré mojutut 0 ‘Ohad ¢ ewd ond Ema word u a Fe 52. Uma claridade apareceu tio cea, Na cidade dos Ejigho, Na terra de Ifor donde vem nosso Pai Viunnos saudar 0 powe querido dos Ejigbo Nis queereros ver nosso Pai chegar.. ‘Uma energia feminina, Yeyemowo, considerada a mulher de Obatala, aju- dou-o na obra da criagao. No odu Quorin-weré se vé que Olodumaré decidiu colocar a seu lado um conselheiro para orienté-lo: Adjagunalé, mais conhecido como Orumild, que se originou da fusio de duas energias femininas, Tord © Gegé. Orumild nao tem estrutura, € uma forma de energia que traz em si oO conlecimento e a sabedoria. Ele é © vinculo entre Oladumaré e o mando, Com sua mulher, Odu, ele teve um filho, if, Este € o receptaculo do conhecimento de Onunild, comhecimento armazenado e€ resguardado em diversas lendas, classificadas nos odus, Uma outra forga, chamada Latopd, fol 0 elemento catalisador que colocou todas as outras forgas em ago. Ela deu origem a Exu Sigidl, Exu Barabé, Exw Yangi e a todos os outros Exus que provém da explosao deste tiltimo. Os odus Okanran-yecu, Okanran-ofis e Okanran-ireté dizem que Olodumaré de- cidiu criar o mundo e enviou Olorogo, para criar 0 céu, e depois Alalé, que criou a terra. Eis © oriki (saudagao) que explica como Alalé fez a terra: Loté lebé mi solebe lebé lebsé Lebé lebt mi solebé solebé Adifa fur alale Ti me kuun sun la wut amd Eo mi kd rnuxé ighd 0 mati obs ight Ighd toto mall obi in tgbd orunole Ewaghd mabi ighd t6 mabi obo yemojii ‘Obosun obogun ighd Tnunmonle Lebé lebé, a Mae Terra, foi cousiultar Onaumild « disse que queria que ela, Alterra, ficasse povoata; ex chorava Porque ela queria ter Energias, seres humanos, Animas, plantas, para que eles se Reproduzissem ¢ todas essas energlas Se multiplicassem Os odus Ogundé-irosun, Ogundd-meji ¢ frosun-meji mostram como Latopé vai colocar o mundo em movimento, seguido por Alaghedé, 0 guerreiro que abre 98 caminhos ¢ é considerado a origem de Ogun. Nos odus Oxe-gbé, Oyecu-meji¢ Oxe-tura se v8 como, por fim, Olodumaré tor- na Orixald encarregado da missao de povoar a terra com os animais, as aves ¢ a vegetacdo, e faz surgir a umidade primordial, o sereno, iri. No rastro de Orixali vém os Irumolés, forcas que repartem entre si essas tarefas, ¢ si0 a origem dos Orixas: Oluod6, o elemento feminino que gera a égua, o mar e também a chuva, origem das nascentes e cachoeiras, rios ¢ Lagos; Ind, 0 elemento feminino que traz 0 fogo ¢ da sua forga a Xango; Olugbon, a forca da palavra anunciada no venito, a forca do Verbo. Awd — a mistério dos Orixds 3 Giséle Omindarewd Cossard Olodumaré clabora entao dezesseis criaturas. A primeira delas, fémea, é Olue- ré. Ainda nao sao seres humanos, s4o criagdes de Oloduenaré, ligadas as energias primordiais, A CRIACAO DO HOMEM © homem é 0 Gltimo ato da criagio, Olodumaré modela seu corpo com barro e Ihe dé 0 sopro de vida, emi; seu ajudante, Ajalé, modela a cabega, orl; Obatald ihe dé a forga espiritual, Orumild € quem escolhe o destino de cada um, o edu. Através dele, sao determinados: a personalidade de cada novo ser humano, o Exu, 9 Orixé protetor e o Ive (carater), que irdo reger sua vida, De Latopd ori- giram-se arun (a doenga), iki (a morte) e musé, que é 0 principio de vitalidade ligado & bananeira, onde se enterra o umbigo do recém-nascido. Surge entao a primeira Yanni Adenbipé, nossa mae “feiticeira"; e depais Abia- mo Oloré, que vai reger todo © processo da gravidez e do nascimento das crlan- ¢a8, assim como todas as anomalias que dai possam surgir, provocadas pelo musé, tais como: * Abiku: crianga que nasce e morre logo depois. + Emerd: crlanga que nasce ¢ morte, ocasionande a morte da mde, ou até mesmo do pai. * Ajobi; crianga que nasce com um dedo a mais. * Oke: crianga que nasce com a placenta na cabeca. * Igé: crianga que nasce em posicao inversa, com os pés na frente. » Abami: crianga que nasce com a aparéncia de velha, com o espirito de uma pessoa falecida antes de sua hora. espirito volta nessa crianga para cumprir 9 perioda que the faltava completar em vida. * Abinit: crianga com deformacées fisicas. + Oj6: ctianga superdotada. « Ainon: crianga que nasce cam o cordio umbilical enrolado no pescoco. * Dadd: crian¢a que nasce com os cabelos encaracolados. Existem também outras anomalias, Por exemplo, toda crianga nasce cer- cada de seres invisiveis que a acompanham. Aas poucos, ela se desliga deles ¢ comega a se interessar pelas pessoas ao seu redor, por gestos e sors. Se a crianga nao se desligar desses seres, ela continuara brincando e falando com eles, ficard acordada de noite em vez de dormir. Todas ¢ssas anomalias s¢ originam no musé, que faz parte de cada ser huma- no, porque ninguém nasce perfeito, As Yamis, essas entidades extremamente perigosas, vao residir nas arvores tomar a forma de certs passaros para que possam se deslocar rapidamente & agis, Por isso, so chamadas Yd-eleyés, as domas dos passaros, ¢ trabalham tanto para o bem quanto para o mal. No odu Ogbé-oworin, uma lenda mostra como o primeiro homem modelado por Obatald foi Lamurudu, um guerreiro cagador. Com sua familia ¢ seus des- cendentes, ele fundou uma cidade, Ifé Gwu; mas como |4 havia outros seres no local, Lamurudu sentiu-se incomodado e saiu pelo mundo afora, errante, até chegar ao Bornu, no Saara; foi, em seguida, até o Egito e depois até Meca, na Arabia Saudita, Nessa caminhada, os seus seguidores fundaram. numerosos po- voados. Antes de morrer, Lammurudu aconselhou seu filho Odudawd a voltar para ifé. Este partiu com seu irmio, Olofi Onilé, e com seus seguidores, para fundar e se instalar em Mé I/%, cuja populacao cresceu @ prosperou. No odu Ogbé-meji se conta que, originalmente, 0 Orun (o céu) ndo estava separado do Ayé (a terra). A fronteira entre esses dois planos era controlada por um guardido, mas todos pediam circular livremente entre um ¢ outro. Os Jn molés & os humanos iam de um plano ac outro e podiam consultat Olodumaré para resolver seus problemas. Durante 0 afastamento de Lamurudu, houve uma grande disodrdia na terra, Surgiu uma disputa entre o mestre dos céus, Ajalorun, representante de Olo- dumaré, ¢ um dos seguidores de Odudinwd, Ajalayé, o mestre da terra, Ajalorun queria se apoderar de uma oferenda de rato-do-campo (ent) ¢ Ajalayé se opds a isso. Ofendido, Ajalorun se retirou para o alto do céu, que se elevou ainda mais, separando-se da terra. A chuva deixou de cair; tudo se tornou drido, as plantas secaram e os animais morreram. Os habitantes da terra tiveram entdo que re- conhecer a supremacia de Ajalorun, ¢ resolveram enviar o rato de volta para. o céu, mas este [4 estava muito distante, no alto. Somente o abutre, Akalamagh5, poderia cumprir essa tarefa. Enquanto Akalamagbd levava a oferenda, sua mae morreu, mas ninguém se preocupou em enterré-la. Quando Akalamaghd vol- tou, ninguém the deu a noticia ¢, por acaso, ele encontrou um cadaver ¢ 0 comeu, sem saber que era a propria mae. Depois disso, a chuva voltou a cair e tudo se normalizou, Mas, em conse- qiéncia, o céu ficou separado da terra e os humanos nao tiveram mais livre acesso ao Onin, No espaco vazio ficou Exu Latopd, Foi ele 0 responsdvel por estabelecer a ligacao entre Olodumaré e os homens, transmitindo os recados de Orumild. Awd - 0 mistério dos Orixds & Gisele Omindarewd Cossord Orumild teve um outro filho, Amusw, a quem deu todo o conhecimento de If, tendo ele se tornado o primeiro babaiad na terra, Depois de cumprir sua missao, Obataid nao ficou na terra e retirou-se para o céu a fim de ficar perto de Olodumaré, Os odus Oftu-ogundd, Ofi-me}f e Ofu-oturupon dizem que Latopd & ligado tam- bém ao final da vida, por ter gerado Egun Elebajé, que vai ser o primeiro de- sencarnado a estabelecer uma ligagdo entre os vivos e os ancestrais. Com ele comega 0 culto dos Babd-Eguns, fundado por uma mulher, ¥4 Aghon, outra forma de Oy. © od Oturupon-odi dé as palavras para se fazer a chamada dos Babsi-Eguns: Roarickat, ibarakus ibaruku, ibarukes barukas the orci nuke lojce Of okw oti on’ araiye bold Si odjét ota ni oma Araiyé da sé fun to kpé tegun Vem para @ terra, Vern para a terra, Vern para pedir diniseiro Na praga da feira, E coloca sua coupes bot Para satr € encontrar sexes fithos. OS DESCENDENTES Oduduvai & considerada o fundador da dinastia porubd, seu ancestral diviniza- do. Mas seu papel na criaggo tem versOes variadas, Numa delas, os babalads contam que Oladumaré encarregou Obatald e seu irm&o Oduduwd de criat o mundo. Para isso, eles jogaram do alto do céa uma noz de dendezeiro, que cresceu em uma &rvore muito alta, de copa muito vigosa. Depois jogaram, em cima da drvore, um saco, uma galinha com cince dedos e um camaledo, ¢ estenderam a partir do céu uma corrente de ferro com elos muito grossos. Obatald ¢ Oduduwd desceram pela corrente até a drvore. Mas Obatald, cansado, ficou com sede, furou o dendezeiro e a seiva jorrou, Obatald bebeu o vinho de palma ec caiu no sono. Odudswd pegou o saco a galinha, entregues por Olo- dumaré; entornou a massa preta que estava no saco ¢ largou a galinlha de cinco dedos ciscando a terra com 4nimo; mas ela nao conseguiu, ¢ foi o camaleso que fez o trabalho, Dai criou-se a terra firme, Obatald ficou sentido e voltou para o céu. Em outra versio, Obatald e Oduduwd 330 irmaos ¢ fazem parte do grupo dos Orixds funfim, os Orixds que sO vestem a cor branca, Mas outros dizem que Oduduwd nao era irm4o ou filho de Obataid: seria, na verdade, filho de Lamuru- du, o primeiro homem da criagao. Depois da morte de Oduduwa e de seu filho, Ocamty, os sete filhos des- te — dentre eles, uma filha —, espalharamese para funder outros reinos, até mesmo além das fronteiras da atual Nigéria. Olown veio a ser rei de Owu-Ifé e recebeu a coroa. Onisabé, rei de Savé, recebeu o gado. Orangun, rei de Ili, ficow com as mulheres. Oni, rei de Ifé, com o dinheiro. Ajerd, rei de Mer, com as firmas e as contas. Aldketu, rei de Ketu, recebeu as roupas. Orania, rei de Oyo, herdou as terras. © odu Ogunda-meji conta que Okambi, encarregado pelo pai de uma ex- pedi¢do de guerra, trouxe com o saque uma mulher muito bonita, chamada Lacanjé, com quem teve relages, Mas Osudinwd, que nao sabia do fato, fez dela ‘sua esposa. Nove meses depois, nasceu um filho, que foi chamado Oranié, Seu corpo era dividido verticalmente em duas cores, escuro de um lado ¢ claro do outro, pois tinha sido concebido por dois pais, sendo ac mesmo tempo filho de Ocambi, que era preto, e de Oduduwa, que era branco Orania fot o segundo rei de Oy6. Com um génio muito determinado e con- quistador, ele aos poucos dominou os outros itmaos ¢ submeteu seus territérios ao reina de Oyé. Depols de sua morte, Ajaki, que era filho de um irmaa de Ocambi, subiu ao trono ¢ tornou-se o terceiro rei de Oyd. Mas, como era muita fraco, acabou destronado por Xangd, o quarto rei de Oyd. © POVO DE KETU fa partir da filha de Qcamhi, de quem nao se sabe 0 nome, que principia a his- toria dos Aldketus, 0 povo de Ketu, Contam 03 antigos que um de seus descen- dentes, principe Xé Ikpaxd, filho de Palnksi, decidiu emigrar de Iféem diregdo ao Oeste, levando com ele suas mulheres, os filhos ¢ membros de seu cla. Atravessaram o rio Ogun e subiram por um de seus afluentes, 0 tio Awyam, onde instalaram acampamento no alto da colina Oké Awyan, La ficaram pouco tempo, dividindo-se logo em trés grupos que sairam 4 procura de um lugar melhor. Awé -0 mistério dos Oriads 8 Gisdie Omindarews Cossard Na diregdo do grupo mais importante estava o principe Owé, sobrinho de X6 Ikpax, que seguiu com ele para o oeste. Apés alguns dias de marcha na floresta, eles se fixaram e fundaram um vilarejo chamado Ard. Mas X6 Ikpaxd morreu logo depois, seu corpo foi levado para Oké Awyan, o primeiro vilarejo fundado pelos emigrantes. Lé ele foi enterrado em um pequeno monte, junto ao qual plantou-se uma drvore para identificar seu tamulo. Owé tornou-se o segundo rei da dinastia ¢ morreu em Ard, onde fol enterrado perto do templo de Ogun, deus do ferro ¢ das armas, que jd era cultuado naquele tempo, Foi durante o reinado de Edé, o sétimo rei, que se fundou a cidade de Ketu. A regio de Ard tornara-se pequena para a populagio e o rei Edé decidiu emi- gfat, 4 procura de novas terras. Consultou trés cagadores que conheciam a re- gido. Seguindo suas indicag6es, a populacdo se dividiu em trés grupos e partin, depois de ter feito os sacrificios no timulo de X6 Ikpaxa, em Oke Awyan, e nos ‘ttimulos dos outros reis enterrados em Ard. O principal grupo, cam Fd¢a frente, seguiu o cagador Alalumon, que conhe- cia bem a regido, na dirego do oeste. Apés alguns dias de marcha, os viajantes chegaram a um planalto de barro vermelho chamado Opé Met. Edé ouviu 0 coaxar das ras e, pensando que havia gua ali perto, enviou um dos jovens para busci-la. O rapaz encontrou, por acaso, uma cabana onde vivia uma mulher idosa chamada Yd Majerd, que estava despida e agachada junto ao fogo, prepa- rando um feitico, O mogo entrou sem bater palmas antes e a velha, ofendida e com muita raiva, rogou uma praga que o fez cair morto. Inquieto com a demora, Edé enviou um outro rapaz @ procura do primeiro. Este, bem mais educado, bateu a porta da feiticeira e pediu licenca antes de en- trar. A velha abriu; ele pediu 4gua e perguntou pelo autro. Apaziguada em seu rancor, a mulher deixou-o chegar até o pogo e trouxe de volta a vida o primeiro mensageiro. Levada ao encontro do ret, fez amizade com este e prometeu-lhe um talisma que protegeria a futura cidade de Ketu. Os viajantes chegaram, entdo, a uma floresta onde Alalumor cagava e mon- taram acampamento sob um JIroké, onde ele costumava descansar. Queriam fazer fogo, mas nao tinham brasas, Entéo, Alalumon lembrou-se do vilarejo de Panki, @ pouca distancia dali, ¢ resolveu ir la pedir brasas a Yd Panksi, o que Ihe permitiu acender 6 fogo para todas as familias. Assim originow-se a cidade de Ketu, Essa historia € de grande importancia ¢ ainda se mantém viva na meméria do povo de Ketu. Quando o rei de Ketu morre e © fato é anunciado, todos os fogos da cidade so apagados e o povo é proibido de sair 4s ruas durante a noi- te. Depois das ceriménias fiimebres, uma delegacao, conduzida pelo ministro denominado Alalumd, parte novamente em busca de fogo em Pankit, Uma das velhas da cidade Ihe d4 brasas, que ele traz até Ketu, para acender de novo todos os lares, Além disso, 0 novo fei, antes de ser entronizado, deve fazer sa- crificios ¢ oferendas.a Oke Awyan, no tamulo de Xé Ikpaxd, ¢, em seguida, a Ard, no timulo dos antepassados. A dinastia dos reis de Ketu ndo era bereditaria. O novo rei era escolhido entre as nove familias que tinham direito ao trono, uma de cada vez. Desses. clas, $6 restam cinco: Mesd, Mefiz, Alapini, Agbd e Ard. Os habitantes de Ketu tiveram, inicialmente, problemas com as populagdes autéctomes da regio, os fons; mas, apds a construgdo da cidade, muralhas foram edificadas, numa extensio de trés quilémetros, ¢ o reino teve um longo perfodo de paz. Entretanto, tempos depois, enfraquecida por lutas sangrentas ¢ conflitos com outros reinos yorubds, Ketu foi derrotada. O Daomé, atual Benin, cada vez mais poderoso, atacou Ketu em 1883. Em 1886, Ketu foi destruida, depois de sitiada durante trés meses. Os que sobreviveram ao massacre foram capturades, vendidas como escravas aos traficantes da Costa da Guiné e envia- dos para as Américas. jos Orixds s = = ° ' 2 = 23 A ESCRAVIDAO © TRAFICO. Qual era a origem geogrfica dos negros trazidos para o Brasil? De diversas regides e em diferentes épocas, eles vieram de muitos paises africanos, de toda a costa ocidental e da costa oriental. Uns eram sudaneses, yindos de Guiné, Togo, Daomé e Nigéria; outros eram bantas do Congo, Angola e Mocambique. As informagSes a esse respeito $40 muito incompletas, A destruigdo dos arqui- vos sobre 6 trafico de escravos no Brasil, ordenada em 1851 pela ministro da economia, Rui Barbosa, tornou 0 estudo do trafico negreiro muito dificil. Con- tudo, quase um século depois, Pierre Fatumbi Verger conseguiu reconstruir essa historia ¢ fornecer preciosas indicagSes, fundamentais para que se compreenda essa fase. Pierre Fatumbi Verger mostra coma, na Bahia, apés a chegada de uma pri- meira leva de escravos, vindos do Golfo de Guiné, no inicio de século XVI, 0 trafico se organizou com o Congo ¢ com 0 norte de Angola; isto porque os por- tugueses perderam, em 1637, o forte de $40 Joao da Mina, na luta com os ho- landeses. Os bantos de Angola eram excelentes agricultores ¢ forneciam mao- de-pbra de qualidade, Foram, entao, importados em grande escala, ¢ pode-se dizer que deixaram uma marca indelével de sua cultura no novo pais, No final do século XVIM, diminuiram as relagdes com 0 Congo ¢ Angola. Nessa época, a Bahia exportava tabaco para Portugal, qué exigia receber so- mente charutos de qualidade superior, que eram vendidos para toda a Europa, Pproibindo a entrada de tabacos de terceira categoria. As folhas de fumo de qualidade inferior eram tratadas com melado e enroladas em corda. Os comer- ciantes baianos encontraram, ent&o, uma saida para comercializar essa produ- a0 de qualidade inferior na Costa do Benin, onde essa mercadoria era muito apreciada, em troca de escravos para as plantagOes e, sobretudo, para as minas brasiletras, que precisavam muito de mao-de-obra. A partir do século XVII e Giséle Omindorewe Cossard » x durante todo 9 século XVIII, a Bahia importou da Costa do Benin um niimero crescente de escravos. Porém, o tratado firmado entre Portugal ¢ Inglaterra, em 1815, iria difi- cultar de forma considerdvel o tréfico, pois abolia o comércio de negros em todos os locais da costa africana ao norte do equador. Os negociantes da Bahia, inconformados com essas restriges, continuaram a se abastecer de escravos trazidos clandestinamente da Costa da Mina, camuflando seu local de destino com uth porto ficticio chamado Molembé, situado ao aul do equador, Usando dessas artimanhas, eles conseguiam getalmente despistar a guarda, visivelmen- te ineficaz, dos navios-patrutha ingleses. Em contrapartida, a regio do Rio de Janeiro, cuja economia nao dependia da produgdo de tabaco, continuou a manter, com os paises africanos ao sul do equador, um comércio regular du- yante séculos. Isso explica o predominio dos bantos nesta regio. A Bahia, a0 contrario, conheceu um fluxo de escravos de diversas origens. L. Vianna Filho indica que, em 1642, durante a tomada da Bahia pelos holandeses, encontra- ‘vam-se, no porto baiano, seis navios vindos de Angola com 1.440 escravos, ¢ apenas um vindo de Guiné, com 28 escravos somente. No entanto, entre 1838 € 1860, a Bahia contava com 3.060 escravos de origem sudanesa — das quais mais de 2.000 nagés —, contra 460 de origem banta. Quando os negros retirados a forca de suas terras na Africa por mercadores de escravos chegaram ao Brasil, foram dispersos ao acaso dos leildes, em varias regiGes e distribuidos por diversas propriadades; os maridos foram separados das esposas, os filhos, de suas mJes, Como foi possivel a esses desterrados, sem patria e sem casa, conseguir salvar alguns fragmentos de suas tradigdes? Como conseguiram, sem esperanga de liberdade, manter intactos os costumes de seus antepassados? ‘Na Africa, o individuo que deixava sua tribo, para tentar a sorte na cidade, desligava-se rapidamente de seu passado, abandonava sua fé tradicional e ado- tava novos costumes. © islamismo ¢ 0 cristianismo representavam, entéo, um progresso, uma promogio social que encorajava os contatos, cada dia mais nu- merosos, com a civiliza¢éo européia. No Brasil, produziu-se o fendmenc inver- 30. O escravo negro apegou-se as lembrangas ¢ nelas buscou forca para suportar a desgraga e manter-se fiel as suas origens, Os proprietarios de engenhos ¢ de grandes plantagdes preocuparam-se ao ver que 0 mimero de escravos aumentava sem parar. A chegada maciga de negros de uma mesma origem poderia privilegiar as tradic®es das etnias mais numerosas. Na verdade, os senhhores temiam que seus escravos esquecessem as antigas querelas tribais e se unissem contra seus donos no Brasil. De fato, eles nao estavam enganados, pois varias revoltas aconteceram en- tre 1830 @ 1835. Assim, fiéis ao velho ditado do dividir para mais bem reinar, 9s proprietérios decidiram deixar que seus escravos s¢ reagrupassem em suas propriedades, por etnia e por nagdo de origem, aos domingos, para dangar e cantar sem constrangimento. Fol o inicio dos batuques. Assim, as vellhas rixas ancestrais estarjam mantidas sob controle e os negros honrariam seus deuses, encontrando na miasica e na danga uma forma de evasdo. A lgreja, apesar de lutar contra essa pratica, no conseguiu erradicé-la. Quando as protestos do capelao tornavam-se muito veementes, os escravos substituiam a divindade africana, para a qual cantavam louvores e cuja lenda contavam com mimicas, por um santo catélico cuja histéria tivesse alguma similitude com a do deus africano. Para manter os antagonismos tribais ¢ evitar a unido dos escravos numa possivel rebelidio, as autoridades deram apoio a reagrupamentos mais organiza- dos, criando as irmandades, congregagbes religiosas nas quals 0s povas de car, escravos ou libertos, se identificavam como membros de uma mesma etnia — ‘um parentesco talvez duvidoso, mas em que eles encontravam o apoio de uma ‘estrutura social, Tanto nos batuques como nas folias, essa estrutura comperisava em parte o quadro familiar praticamente destruido. Sob a fechada dos santas catélicos, essas associagdes permitiram que se substituisse a nogao de parentes- co de sangue pelo parentesco étnico, restabelecendo uma ligacdo afetiva com o grupo e favorecendo 0 resgate de um certo patrimdnio cultural ¢ religiaso, Na verdade, no meio dos africanos ¢ seus descendentes mio havia uma re- ligido Gnica. As etnias representadas no Brasil tinham, cada uma, suas caracte- risticas, mas havia entre elas uma base comum: a cren¢a em um ser supremo que domina o mundo; a crenga em forgas sobrenaturais ligadas aos elementos naturais ou as suas manifestagbes; a crenga de que nossos ancestrais, mesmo pertencendo a outro mundo, continuam a participar de nossa vida; e de que essas forgas — divindades ou ancestrais — incorporam-se nos seres humanos, para trazer-Ihes uma ajuda benéfica. AS PRIMEIRAS COMUNIDADES De que informagées dispomos sobre as manifestaces da religiio africana du- tante 0 periodo colonial? Na verdade, muito poucas. As mais remotas assina- lam agées isoladas, tende como objetivo tratar de doengas, De fato, naquela época, nem brances nem pretos tinham médicos, e a populagdo nao tinha 'y Awé — 0 mistério dos Orixds & Gisele Omindarewd Cossard y outro recurso a ndo set o de recorrer a ervandrios e Curandeiros que utiliza- vam uma farmacopéia de tipo africano, 4 base de folhas, cascas de arvores, raizes ¢ outros ingredientes da natureza, refarcada pela magia de rezas e ri- tuais tradicionais, Esses curandeiros praticavam também a “ventura”, o que significa a arte da adivinhacao, e, assim encontravam melos para resolver os problemas de seus clientes. A eles recorriam negros € crioulos, brancos e pretos, ricos ¢ pobres. Usavam-se mandingas, filtros, banhos de folhias, feitigarias ou oferendas a for- as espirituais. Os calundus Em 1685, se denunciava “a parda Clara Garciez, curando a todos que na sua casa vinham doentes, usando de calurdus e bonifrates”, Ainda no século XVII, uuma satira de Gregorio de Mattos faz alusio aos quilombos dos negros ¢ relata as reunides com “calundus” e feitigatias, onde j4 se notava a participacgao de brancos. Em 1728, Nunes Marques Pereira descreve 03 caluridus; “Sd0 uns fol- guedos ou adivinhagSes que dizem esses pretos que costumam fazer nas suas ‘terras, e quando se acham juntos também usam deles c4, para saberem varias coisas, como as doengas de que procedem, e para adivinharem algumas coisas perdidas; e também para terem ventura em suas cacadas e lavouras.” Entre 1725 e 1750, Luis de Melo e Souza descreveu a existéncla de nove cahendus, Em. 1738, 0 superior dos Beneditinos de Salvador escrevia que os negros nao abandonavam suas supersti¢des, ¢ se reuniam, secretamente, para fazer seus “calundus”. Em 1739, em Sabara, Minas Gerais, a liberta angola Luzia Pinto foi acusada de “calunduzeira, curandeira ¢ adivinheira”. E a partir desses celtendus que comecam a se estruturar as comunidades religiosas, que a principio cultuavam uma s6 divindade. Mais tarde, chegaram a agrupar varias divindades, com uma organizagao interna mais estruturada, Em 1785, na represso do calundu do Pasto, em Cachoeira (perto de Salvador, Bahia), encontrou-se uma comunidade j4 bastante elaborada, com espago prd- prio, altares sacralizados, dancas de roda e tocadortes, Os candomblés Essas primeiras comunidades eram esporidicas; mas, aos poucos, foram se desenvolvendo, ¢ criou-se uma rede sob o nome de candomblé. Esse termo, provavelmente de origem angola, aparece pela primeira vez em 1807 num telatério de um oficial militar, ma repressio de uma comunidade liderada por um escravo angola chamado Antimio, dito “o presidente do terreiro dos candomblés". £ bem evidente que as condi¢des da escravidio ndo facilitavam tais ativida- des, principalmente se o negro trabalhasse na lavoura ou se fosse empregado numa mina, onde era praticamente impossivel ter alguma liberdade de agdo e organizago, Entretanto, as que eram empregados domésticos, ma cidade ow no. campo, tinham contatos com 6 senhor e com pessoas de fora da casa, ou com 95 negros de ganho, que viviam narua como vendedores, carregadores, sapa- teiros; esses podiam até sonhar com a obtencao de suas cartas de alforria de diversas maneiras: com a morte do senher que, em testamento, dava-lhes a li- berdade; através do dinheiro que economizavam dos ganhos depois de abatida a quantia que deveriam dar ao senhor; comprando a liberdade do recém-nasci- do na hora do batismo; com a cooperacao de alguns brasileiros mais humanos que, incomodados de yerem seres humanos de cor muito clara feitos escravos, 03 compravam e libertavam; e através da intervencdo de alguns senhores in- dulgentes que, por inictativa propria, emancipavam seus escravos ou os filhos nascidos das amantes negras. Existiam, ainda, as sociedades organizadas por escravos —as juntas —, que compravam, com as somas arrecadadas pelo grupo, a liberdade de um deles. Eram associagdes sem estatutos escritos, sem livros de contas, funcionando unicamente através do compromisso moral de cada um. Havia também a par- ticlpacao das irmandades religiosas, que criavam, no meio des negros de mes- ma nagao, um sentimento de solidariedade ¢ de ajuda mitua. Pelo sistema da coopera¢ao financeira, pelos empréstimos da diretoria, era possivel reunir as somas necessarias para obter a carta de alforria. Em 1850, contavam-se, no Brasil, 3.100.000 mulatos ou negros livres, 2.500.000 escravos e 928.000 brancos. No censo de 1872, os negros livres e 0 pardos eram 5.000.000; os escravos, 1.500.000 ¢ 0s brancos, 3.800.000. Foi através dessa gente de cor, {4 liberta, que as tradigdes religiosas se conserva- ram. Embora houvesse casos de lideranga por negros ou crioulos escravos, as comunidades chamadas de candomblés eram, em sua maioria, dirigidas por libertos. Em certas regides, as origens diversificadas dos negros nao permitiram que se fundassem casas de culto, conforme as tradigdes de cada etnia. Porém, no inicio do século XVII, a chegada constante, @ Bahia, de fons e yorubds captura- dos durante as guerras na Africa, injetou um sangue novo, ajudando a reunifi- car e revigorar a memoria coletiva. &Y Awd - 0 mistério dos Orixds ®& Giséle Omindarews Cossard Esses grupos, em niimero maior, eram oriundos de todas as camadas sociais; nao se tratava de humildes servos, vendidos por qualquer motivo material, mas de verdadeiras homens de guerra, chefes, principes, dignitérios, sacerdo- tes. Eles ndo podiam mais se apoiar sobre sua linhagem, estrutura familiar ou politica, mas suas personalidades eram tao fortes que conseguiram — nao sem atribulagdes e perseguicdes — salvar grande parte de sua heranga cultural. ‘Temos poucas informagées sobre os primeiros terreiros de candomblé, Luis Nicolau Parés encontrou, no fornal O Alabama, mengdes de repressio policial a diversos candomblés na cidade de Salvador. Em 1807, a policia ataca um candombié situado no Caminho do Inferno, cujo chefe era escravo; em 1829, em Brotas, 0 candomblé do Accu € invadido, durante uma festa que j4 durava trés dias, e ali as autoridades encontraram 0 culto do “Deus Vodwn", oferendas e altares sacralizados, com a presenga de 36 pessoas. Em 1831, as tropas assaltam trinta casas de culto no distrito do Engenho Velho, Em 1832, registra-se uma queixa contra o sitio de Bate-folha, em Santo Anténio Além do Carma, perto de Pirajé, onde “havia continuamente festas e ruido de batuques com grande ajuntamento de gente de cor”, Seis anos mais tarde, ouvem-se as mesmas recla- mages sobre © mesmo local. Entre 1800 € 1888, os registras da policia apon- tam a existéncia de 95 candomblés ou casas de atividades religiosas na cidade. Pierre Fatumbi Verger procurou resgatar dados sobre os candomblés de Sal- vador, através dos testemunhos dos antigos, como a yalorixd Menininha do Gantois, Em seus relatos, conta que varias mulheres enérgicas e voluntariosas, origindrias de Ketu, antigas escravas libertas, pertencentes a Irmandade de Nos- sa Senhora da Boa Morte da Igreja da Barroquinha, teriam tomado a iniclativa de criar um terreire de candomblé chamado yu Omi Ainé Intilé, numa casa si- tuada na Ladeira do Berqué, hoje Rua Visconde de Itaparica, préxima A Igreja da Barroquinha. As versdes sobre o assunto variam bastante, quando descre- vem as diversas peripécias que acompanharam essa realizacdo. Até os nomes dessas mulheres sio controversos. Duas delas, chamadas lyalussG Danadand e Iyanass6 Akald (Iyanassé Okd, segundo outros), auxiliadas por um homem cha- mado Babd Assikd, teriam sido as fundadoras do terreiro do Axé Aini Intilé. Jyaluss6 Danadand, segundo consta, regressou a Africa ¢ li morreu. Iyanass6 teria viajado @ Ketu, acompanhada por Marcelina da Silva, que nao se sabe exatamente se era sua filha de sangue ou filha espirttual, isto é, iniciada por ela no culto dos Orixds. Sobre o assunto, em meio a controvérsias, concorda-se em afirmar que seu nome de iniciada era Obatosi. Marcelina Oba- tosi fez-se acompanhar, nessa viagem, por sua filha Madalena. Apds sete anos de permanéncia em Ketu, 0 pequeno grupo voltou acrescido de duas criangas, que Madalena tivera na Africa. Madalena estava gravida de uma terceira, Clau- diana, que viria a ser me de Maria Bibiana do Espirito Santo, a Mie Senhora, Oxum Miwa. Apés a morte de Marcelina Obatosi, foi Maria Jtilia Figueiredo, Omontké, laladé, que s¢ tomou a nova mae-de-santo, Isso provocon sérias discussdes en- tre os membros mais antigos do terreiro Mé Iyanass, tendo como conseqiléncia a criagdo de dois novos terreiros, origindrios do primeiro. Maria Jtilia da Con- ceicdo Nazaré, cujo Orixd era Dadd Bayar Ajaku, fundou um terreiro chamado fya Omi Yamassé, no Alto do Gantois. José Reis notou, no Diario da Bahia, no 4 de Janeiro de 1868, a existéncia de um candomblé situado no Moinho, na estrada do Rio Vermelho, dirigido por uma africana, Tia Julia. Esse candomblé parece ser o Gantois, ea Tia Jtilia era, evidentemente, Maria Jilla da Conceicao Nazaré, sua fundadora. Segundo Dona Menininha, Julia da Conceicio Nazaré teria sido irma, e no filha espiritual, de Marcelina Obatosi. ‘Uma personagem importante no meio do candomblé foi Baba Adeté Okan- ledé, consagrada a Oxdssi e originiria de Ketu, que teve um papel importante no terreiro do Gantois, o Axé Iya Omi Yamassé. Eugénia Ana Santos, Aninha Obabiyi, cujo Orixa era Xangd, auxiliada por Joaquim Vieira da Silva, Obasanyd, um africano vindo de Recife, fundaram outro terreiro saido do J14 Iyanassé, chamado Centro Cruz Santa do Axé Opé Afonjé, que toi instalado, em 1910, em S30 Gongalo do Retiro, depois de ter funcionado provisoriamente em um lugar denominado Camarao, no bairro do Rio Vermelho. Esses trés candomblés, o Engenho Velho, o Gantois ¢ 0 Opé Aforijd, servi- ram de ponto de referéncia para a maioria dos terreiros da nagio ketu, arigi- narios de Ketu, que foram criados em seguida. Mas no foram os Gnicos res- ponsaveis pela expansdo dos candombles, pois existiam outros terreiros da mesma naga, como o M2 Maroialagé, fundado por lya Otampé Ojard, no Sina do século XVHI. Conta a tadigao que duas gémeas foram raptadas na beira de um rio, perto de Ketu, ¢ vencdidas como escravas por habitantes do Daomé. As -duas meninas talvez fossem parentas de um dos reis de Ketu, e foram compra- das por um branco, que as libertou. Uma delas, Orampé Ojard, retornou a Africa e depois voltou para Salvador, onde fundou um candomblé, no Matatu, que foi dirigido por Olga de Alaketu até 2005, ano de seu falecimento. Em 1862, o jornal Alabama assinala a existéncia de varios candomblés de naco jeje, descendentes dos fons do Daomé, como o terreiro do Bogum, situado no Engenho Velho da Federacao, e outro na Quinta das Beatas. Vivaldo da Cos- ta Lima recolheu informagodes de Valentina Maria dos Anjos, Doné Runhd, chefe Y Awé — 0 mistério das Ovixds % Gisele Omindarewd Cossard teligiosa'do Ragur, que citava como terreiros de nacdo jeje antigos: o Quereheta, em Barreiras, o da Campina de Boskejan, perto de Piraja, ¢ 0 Agomdéia em S40 Caetano. Nesse local existiu mais tarde um candomblé angola, fundado pelo babalorixd Joo Alves Torres, filho de Jubiabé. Por causa do nome do local, ele passou a ser chamado de Jodozinho da Goméia, mas cle era de nagao angola, ¢ no jeje. Na época da construgdo do seu barracdo, por volta de 1935, foram en- contrados, enterrados no solo, certas varas e objetos de ferro que Ihe pareceram ser assentamentos “do lado do jeje", e ele achava que, num tempo passado, de- via ter havido um terreiro dessa naco naquele lugar. Essa declaracdo confirma as informagées dadas por Doné Runid. Em Cachoeiza, no calundy da rua do Pasto, também se encontram sinais da existéncia de outras casas mais organizadas, mas as informagSes colhidas so incertas. © que se sabe é que, por volta de 1830, funcionava um candomblé cha- mado Ohi Tedé,em um dos quilombos da regido de Cachoeira. Fra dirigido por um africano jeje marrim chamado Quixareme, que possuia grandes conhecimen- tos religinsos, agrupou os seguidores da mesma nacdo @ implantou o ritual jeje, nao $6 em Cachoeiza, mas em toda a Bahia. Infelizmente, as fontes escritas sobre essa casa de culto desapareceram; s6 se sabe que a estrutura do local era precaria e nao permitia recother novicas. As iniciagdes tinham que set feitas numa outra casa, a Casa Estrela,:situada na rua Neri, ntiimero 41, no centro de Cachoeira, Por volta de 1860, tem-se informagdes orais sobre um candomblé situado na estrada que vai para Belém, chamado Roca de Cima, liderado por Ludovina Pessoa € Tio Xareme. L4 foi assentado, ao pé de uma jaqueira, o dono do terrei- to, @ Vadun Dandaioji, fato confirmado no jornal Alabama, em varias noticias publicadas entre 1866 € 1869. Ludowina era africana, feita de Ogi; mulher de forte personalidade, tinha negécios, viajava perlodicamente para a Africa e mantinha estreitas relagSes com o Bogus, em Salvador. Iniciou e fez obtigagSes para mulheres que, mais tarde, iriam tornar-se as grandes mies do jeje, como Ma- ria Angorensi ¢ Sinha Abalhe, Também foram feitas, nessa roca, Valentina, Maria Emilia da Piedade e Maria Rornana Moreira, todas trés do Bogwm. A fama de Ludovina era grande e ela tinha 0 apoio de pessoas de destaque da elite de cor cachoeirense, em particular de Zé de Breché, filho de um casal de africanos libertos, bastante conhecido na sociedade, lider de associacées ¢ irmandades, profundo conhecedor da tradigSo jeje e que, como dignitario do candomblé, chegou a dirigir 0 tetreiro, acabando por comprar a Roga de Cima, em 1882. Por volta de 1880, comegou a expansdo das casas de culto nagé (name dado pelo povo do Daomé aos porubs originarios da Nigécia e do Benin) na regio de Cachocira ¢ de Sao Félix, enquanto a Roga de Cima se dividia, Nos seus limi- tes, existia uma propriedade pertencente a Luiz Ventura Esteves, que se amigou com uma filha de Ludovina, Maria Angorensi, ¢ ali fundou um outro candom- blé chamado Roga do Ventura, ou Sejé Hundé, por volta de 1890. Divergéncias entre essas duas rocas tio proximas fizeram a Roca de Cima enfraquecer e parar de funcionar em 1902, apés a morte de Zé de Breché. A partir dos anes 1870, houve uma grande expansio dos terreires de nagao ketu, Em 1937, havia nove terreiros jeje para 13 kety e 22 angola. De acordo com a ditima estatistica, felta em 1998, temos 18 terreiros jeje para 282 ketu ¢ 137 angola. Isso demonstra uma grande desproporgao entre as nagées, cuja origem pode ser encontrada nos longos perfodos de fechamento das rocas jeje (sete anos), nas épocas de luto apés 0 falecimento dos chefes religiosos, e pelas intrigas e lutas pela sucessdo. Também pode-se dizer que a proliferagao das ca- sas de nagdo ketu aconteceu sem que a maioria dos novos chefes tivesse ainda a idade e a competéncia necessarias. No inicio do século XX, os candomblés se desenvolveram fora da Bahia; primeiramente no Rio de Janeiro, onde j4 existia, desde 1874, 0 Kwe Simba, terreiro jefe fundado por Rosena, uma africana chegada ao Brasil por volta de 1850. Outro atricano, Bamboxé Obitics, vindo de Salvador, fFandou um terreiro: na rua Bardo de Sao Félix, no bairro da Sade; mas, como ele nao ficou no Rio, quem deu continuidade a casa fai Jodo Alabi. Existia também, na época, um candomblé dirigido por um baiano de grande conhecimento religioso, Cipria- no Abedé, que era babalorixd, babalad ¢ olossaim. La se agrupavam muitas baia- nos, que viviam no Rio, e muitas iniciadas que deixaram um nome, como Tia ‘Ciata, mulher de forte personalidade ¢ grande sabedoria. Foi nesse meio, muito animado, que nasceu 6 primeiro samba, chamado “Pelo telefone”. Em 1895, Mie Aninha do Opé Ajonjd, em uma das suas viagens ao Rio, abriu um terreiro, no bairro da Satide, ¢ iniciou uma primeira filha, Conceigao de Omolu, e tambem Paulina, cujo Oxalé esta ainda na roga do Rio. Quando retornou a Salvador, Mae Aninha entregou a casa a sua filha Agripina eo ter- reiro foi transferido para Coelho da Rocha, em 1944. Apés o falecimento de Agripina, coube a Mae Cantulina assumir © cargo. ‘Um filho de Maria Angorensi, Tatd Fornutim, iniciado em 1912, mudou-se para o Rio em 1930 e, embora nao tivesse concluido suas obrigagdes, abriu o terreiro Kwe Seja Nassd, em Sao Joao de Meriti, onde difundiu o ritual jeje, fa- zendo varias iniciagdes, entre as quais as de Zezinho da Boa Viagem, Jorge de Yemanjd, Djalma de Lalu c, em Sao Paulo, Jamil Rachid, Certos filhos de gaiakti Luiza também abriram terreiros no Rio: Nelson de Azunsu, no Parque Sao José, e Amauri de Odé, em Santa Cruz da Serra. 4 Awé - @ mistério dos Orixds £ Giséle Omindorewd Cossord Em 1947, Joo da Goméia, o filho de Jubiahd j& citado, veto para o Rio e abriu um candomblé angola em Caxias, onde fez mais de mil iniciagdes, Era uma figura carismatica, que ajudou a divulgar o candombié nos meias artis- ticos ¢ politicos, conseguindo levantar a fama das religides africanas na alta sociedade. Os cultos de candombié se expandiram também em Sio Paulo e, mais re- centemente nos demais estados do Sul do pais. Nos dias de hoje, o candomblé é reconhecido pela maioria dos brasileiros e aceito por boa parte da sociedade. OS MINISTROS DE OLODUMARE A TRADIGAG KETU Muitos pesquisadores acreditam que o candomblé atual ¢ uma adaptagio do que existia originarlamente na Africa. Nao é bem assim. Em cada regido e em cada cidade da Nigéria e do Benin, praticam-se cultos as divindades que se baselam na estrutura social da comunidade, que s40 dirigidos, na maioria das vezes, pelo chefe desse grupo, que pode ser o rei, o principe etc. Dessa forma, a religido ndo est separada do poder temporal. Entretanto, ao lado dessas casas onde se reverencia, na verdade, uma s6 divindade, existem outras que reagrupam uma grande parte do pantedo yoru- bi, tal como acontece nos candomblés brasileires. Esses centros nunca foram mencionados por observadores ou pesquisadores ¢ nao foram criados recenite- mente, como se poderia pensar. S40 idénticos aos candomblés do Brasil e po- demos citar como exemplo o de Qwu, em Abeokuté, convento da Ojubd Towo- bola Aniyikaye, Omilant, Olorixd Osun At! Obataid, do vilarejo Magbon Apena, na Nigéria. Nessa casa, cultuam-se mais de 14 divindades, Em Itokd, perto de Abeokut4, na casa de Iyeye Efiamiold, cultuam-se pelo menos nove divindades. Como jé foi explicado, um deus supremo, Olodumaré, domina o mundo, Mas ele esta muito longe para se interessar diretamente pelos homens; por isso nio he rendemos nenhum culto, No entanto, esse deus delegou poderes a seus mi- nistros, os Orixas, que regem o universoe dividem entre si as forgas da natureza. Essas forgas incluem, no espago, os elementos (4gua, lama, terra, fogo, pedra, ‘Metais), suas manifestagdes (chuva, raio, trovao, arco-iris), o mundo vegetal e o mundo animal (homens ¢ animais). No tempo, incluem-se todos os fendmenos: naturais: nascimento, crescimento, atividades humanas, doencas, morte. Essas forgas sao concebidas como seres animados e ager segundo uma per- sonalidade bem determinada, com sew campo de agdo, suas preferéncias € re- pugnincias. Como essas divindades nia sio em esséncia nem boas nem mis, € & Gisele Omindarewd Cossard possivel que o homem possa cancilid-las; mas so conseguird fazé-lo se ja tiver adquirido o conhecimento ¢ a sabedoria necessarios, Algumas vezes, ba uma interagao ou, até mesmo, luta e oposi¢o entre elas, dai podendo resultar um conilito ao qual o homem pode estar associado. £.a partir dessas forgas que se concebe a nocdo de axé. O axé € a forca espi- ritual, orlunda de Olodumaré, que se espalha no mundo que Ele criou. Assim, cada pedra, cada folha, cada bicho, cada ser humano, cada gota d’agua partici- pa do axé divino, que vai se transmitindo de uns para 0s outros. Os Orixas yoruixis ndo so mais yenerados em sua totalidade, no Brasil. Apesar da fidelidade 4 memoria ancestral, a travessia dos mares causou uma perda inevi- tavel. Varias razdes podem explicar isto, Uma delas é que, na Africa, alguers Orixas s4o venerados em indmeras regiSes e tomaram uma importancia considerdvel; outros tém um culto menos difundido, o que justifica seu esquecimento. Outro motivo € que, aqui, alguns Orixds nao tinham grande interesse para os escravos, como o relacionade com as colheitas. Como os escravos no possulam terras, no podiam tirar deles proveito direto; era o senhor quem deles se beneficiaria. Uma tetveira razdo é que a vegetagao do Brasil 10 oferece recursos iguais aos da Africa, ¢ certas felhas, indispensaveis a certos Orixds, nao sdo encontradas deste lado do oceano; em alguns casos, houve substituigses apoiadas nas semelhaneas, mas, em outros, ndo foi possivel efetuar essa transposicio-e o culfo se perdeu. No Brasil, 0 pantedo ketu se apresenta na seguinte forma; os Orbxas maseu- linos, que incluem os Oriads-olod?, que vivem do lade de fora; Exu, Ogun, Ode, Obatuayé, Logunedé ¢ Ossaim; Xangé; um Orixd bissexuado, Oxumaré; os Orixiis fernininos, as ayabds (rainhas), que sf Yemanja, Obd, Oxum, Ova, Nand ¢ lewd; 108 Orixds fimfun (brancos), que pertencem a uma categoria superior e se apresen- tam sob duas formas; os Orixds arubé (yelhos), como Oxalufil, eos jovens e guer- teiros, como Oxaguid; as Arvares sagradas: Irokd, Apaokd € 05 Ibejis, 05 gemmeos. Cada um detes tem aspectos diferentes que valorizam uma ou outra carac teristica, o que permite distinguir varias qualidades. Isso tende a provocar certa confusdo e muitos adeptos consideram essas variedades, erroneamente, como sendo Orixas diferentes uns dos outros. O que acontece, na Nigéria ¢ no Benin, € que algumas divindades sdo veneradas em cada cidade com nomes diferentes ou especiais. Mas trata-se, na verdade, do mesmo Orixd. Assim, Oguid, Oxaguia, Osirinid, Elegibd ¢ Ajaguna sio um tinico e mesmo Orixd, da mesma forma que Ovald, Orixald, Oxanld, Oxatufa,, Orixd Olofi e Orixd Oluofi. Além disso, um Orixa pode ter varias denominagdes que fazem referencia 4 sua natureza, e que no quer dizer que se trate de um Orixé diferente. Como exempla, temos Oxa- Id, que é chamado Babd Ibi, devido ac caramujo que recebe em oferenda; Babi Efun, pela cor branca com a qual se veste; Babd Eed, devido ao eké, a massa de milho branco que ele come; mas trata-se do Gnico e mesmo Orixa, Oxald. Exu © primeito Exu criado por Olodumaré foi Latopd. Dele nasceram: Exir Sigidi, assentado em pedra; Exu Barabd, assentado em madeira; Exu Yangi, assentado em laterita, que, ao explodir, deu origem a uma infinidade de Exus que se es- palharam pelo mundo, Assentamentos de Exu & Awd - 0 mistério dos Orixas & Ciséle Omindarewd Cossard Exu é um Orixd temido, do qual é melhor deseonfiar. Exu md md xe mio Babi omné ki xe omo Exu, nido me fiaga mal, Nao faa mal a seu fitho. Seu primeiro papel é o de mensageiro. Ele faz a ligacao entre os homens ¢ Onumild, de quem é o brago direito; controla as oferendas que Onunild manda fazer ¢ a5 leva até seus destinatarios, Se as ordens dadas nado forem executadas, ‘ou se forem malfeitas, ele pune os culpados: O bat elelas ji bl ko ebb re Oke ki apn ya ile Asé bor ijdd Gastiga 0s portadores de oferencas que rio fazem as coisas divelter: por alicia, ele adora reverter as situacBes ¢ semear a confusdio; Ele grita para que a perturbagdo se instale rapidamente nas casas, Assim, a diseussdo vira briga. Como term muito poder, abusa e tem um lado perverso: Ax6 ebi dar’; a x6 are debi Fle transforma @ errade em certo ¢ 0 certo ene errado, Exu mora em diversos Jugares: nas encruzilhadas, mas aberturas, nas entra- das, nas soleiras das portas, nas janelas e nos Angulos de todos os locais. Ele é perigoso e imprevisivel, mas, quando é tratado como convém, transforma-se ne guardiao da portcira, filtrando tudo que pode vir do lado de fora e que possa prejudicar os moradores. Embora seja Orixd-olodé (de fora), ele é também parte integrante do ser hu- mano, segundo o odu escolhido por Orumild, antes do nascimento, no momen- to da concepeao; nesse caso, é chamado Bard. £ ele quem leva 0 ser humano a agir, tanto para 0 bem quanto para o mal. Sua ligagdo com a sexualidade revela-se por sua representag3o filica. Nao existe nenhuma esposa ligada a Exu; porém, uma mulher o ajuda a transportar as oferendas. Seria uma espécie de serva, sem um papel bem definido. Distinguem-se os Exus em relagdo aos Orixds que os controlam: © Ogun: Exu Tiriri, Exa Lond, Exu Ibarab; © Odé: Exu Alaketo, Exu Ord; © Ossaim: Exu Topé, Exu Erué; © Omolu: Exu Ajelu, Exu Jeresu; ® Xango: Exu Barabé, Exu Aquesd, Exu Ind, Elegharu; = Ops: Exu Togul, Baralajiqui; © Oxum: Exu Arigidi, Exu Asund; © Yemanjd: Exu And, Exu Ode: © Oba: Exu Loqué; » Tewd: Exu Dina; © Oxalufa: Exu Yangi, xu Lalu, Ex Abi; ® Oxaguid: Exu Odara; © Logunedé: Exu Hed®; © Oxumaré: Exu Jind; © Troké: Exu Irokd, Em todas as oferendas feitas aos outros Orixds, Exu sempre recebe a sua parte, Desprezé-lo no é s6 desaconselhavel, como perigoso. Ogun Muito agitado ¢ belicoso para viver ema casa, Ogun prefere os caminhos, as encruzilhadas. Era edd Okurin kankurs Ele é 0 mesure do ferro, Ble & 0 mestre dit guerra. Fle reina também sobre as vias que permitem circulagao, 0s veiculos e sobre todos os instrumentos do barbeiro, do agougueiro e do cirurgifo. Osinirnalé Alakaiyé Afijewe Oguri anité ows, (Ogun olonan old Alaghesté 8 Awd ~ 0 mistérie dos Orixés 3 Gisele Omindarewd Cossard Corujoso, ele abre a caminhada, na frente dos outros Orixas. Vencedor, ele domina o mundo. Ele é violento, brigdo, ¢ s¢ lava no saingue, £ 9 dono do distheiro, Da prosperidade. Ele reina na forja, Ogun é representado pelas ferramentas para layrar a terra — facdo, enxada, foice — e para trabalhar na forja — bigorna, martelo, tesoura, tenaz. Distinguem-se varios tipos de Ogun: * Alabedé Orun: © primeiro Ogun que aparece na terra, logo depois de Obatald ¢ Grumild. Ele nao incorpora. £ um outro Ogun — Alabedé Aiyé —quem vem a terra e toma posse da cabeca de seus adeptas, * Ogue Oniré: fundou a cidade de [ré, mas tornow-se o chefe guerreiro, ¢ por isso usa uma coroa de bardo, no de rei. Recebe um carneiro em oferenda, enquanto os outros Qguns recebem cabritos, * Orunia: seria o filho mais novo de Odudiwd, F considerado o rei dos Exits, com quem vive nas encruzithadas. Veste-se de azal, + Ogun Megé, um Ogun dito de sete cabegas; ele vive no cemitério e veste verde ou azul. * Ogun Wari: ligado a agua. * Ogunjé: acompanha Oxalé, mais especificamente Oxaguid, de quem é par- ceiro nas lutas e guerras. * Ogun Acord: nao term assentamento aparente; mora num pé de drvore — akok6, arabé ou dan —, no tonco do qual se ata uma franja de mariwd {folha nova de dendezeiro desfiada), Todos os Oguns se vestem de verde, exceto Oraid, que prefere o azul, Na Africa, eles recebem um cachorro em oferenda, mas o costume se perdeu no Brasil, com excegio de Ogunjd, Ode Eo cagador que da fartura ao povo, providenciando as carnes que alimen- tam os homens. Pelo fato de andar muito na mate, atras dos biches, ele sempre encontra novos lugares onde se estabelecer, Por isso ¢ considerado um fundador, o primeiro ocupante, o dono da terra. £ muito ligado a Os- saim, dono das folhas, pois ambos se encontraram na floresta, e Ossaim, achando-o muito bonito, fez um encanto para que Odé nao voltasse mais para casa. Pierre Fatumbi Verger interpreta seu nome — Oxdssi — come oxo wusi (o guardiao noturno é popular). Segundo o mito, este fol o grito dado pela mul- tiddo quando ele conseguiu matar um passaro malvado, mandado pelas Yaris para perturbar a festa dos inhames dada pelo rei de Ifé. Jd o babalad Afisi Akisola Ifamuiwa, de Own, Abeokuté, conta que Odé era um mo¢go muito acanhado — oao ost (aquele que olha de banda), muito desconfiado; ele se sentia felo e se esxcondia atrés de sua mulher; 36 ela aparecia, Isso pode explicar por que Odé veste camisu (camisa curta, usada pelas mulheres) ¢ saia comprida... Os instrumentos de Odé sAo0 0 eruexim (chicote de rabo de cavalo) e 0 offi ou damata (peca de metal que consiste em um arco e uma flecha unidos). Distinguem-se varios tipos de Odé: * Odd Aquerd: ligado a Ossaim, Quando incorpora, € dificil de segurar, pois é extremamente desconfiado. Come bode, porco, frutas com fumo de rolo; veste azul com verde; usa um bioco, tipo de boné bordado com buzios; carrega ofii @ eruexim. Odé Ixewé: come bode, cameiro, porco ¢ caga. E ligado as folhas ¢ aos remédios. Veste azul estampado com detalhes de couro. Od€ Ikolé: ligado a Oxald. Odé Isambé: ligado a Omolu; leva palha-da-costa na roupa- Ajenipapé: mora na jaqueira e é ligado as Yamis. Goronija: ligado a Ogun, Oyd e Oxunt, Come bode, caga e peixe de Agua doce assado na brasa; veste roupa estampada, azul-clara com barra verde e dou- ada; usa metal amarelo ¢ ferro, além de pulseiras de buzios. Odé Faim: € rico, usa adornos de coral; nao gosta muita de bode, mas come tatu e aves de caga, além de frutas. Gosta de comidas muito enfeita- das. Veste azul e branco com douradg; usa pulseiras de couro com bizios; carrega eruexim branco, com cabo enfeitado de bazivs. Odé Ard; é considerado o Orixa-rei de Ketu. Come bode, cameiro, porco, caga ¢ todas as comidas secas. Veste muitas peles; usa chaptu de veludo azul-turquesa forte, com miuitas penas. Nao caca, mas recebe a caga dos outros. Oudé Otim: come bode, carneiro, coelho, caga; come fora, no pé de Apaokd. Leva muitas pequenas cabacas no ighd. Carrega um off na cintura e leva, na mAo, um rebenque de 16 tiras de couro trangadas, terminadas por uma bola de couro; usa na cabega um gorro baixo de veluda. + Awé — 0 mistério dos Orixds © Gisdie Omindarewé Cossard * Odé Danadand: ligado a v4tios Exus que devern ser assentados, Come bode, carnetro, porco, caga, preas, Gosta de bichos escuros, malhades; come ne tempo; leva um garfo na ponta do oft; usa chapéu de couro. £ cacador de elefantes ¢ se pinta com weii (anil) para se esconder. * Odé Agunalé: ligado a Oxaguid. Come bode branco e outros bichos bran- cos, caca e peixe; s6 aceita muito pouco dendé; come ebd, recebe inhame em bolas e canjica amarela. Veste roupa azul-turquesa e branco. Odé Olofuust: \igado a Oxalufa. Muito velho, ndo danga as cantigas de caca. Come bichos claros. Usa roupas claras, offi de ferro e erueximn branco, Inié ow Erinlé: mora dentro da agua com Yeyé Caré; leva no ighé uma pedra preta, a lado do arco cercado de diversas flechas, com passarinhos nas pontas. Come bode, porco, caga, acarajés, bananas, milho, inhame, fei- ito; leva um ofif de prata no ofd; usa um segundo offi na mao ¢ um reben- que de couro com biizios nas pontas; veste branco ou cores claras ¢ usa chapéu branco, Inié era um cagador muito considerado-em [lobu. Um dia, foi acusado de roubar o gado da aldeia; fugiu desesperado e se fustigou com 0 tebenque como sé fosse culpado; parou de cagar ¢ acabou se escon- dendo nas 4guas do rio, Existem ainda, em llobu, varios lugares dentro do rio onde se fazem oferendas: Fayemi, Ondun, Asunara, Apala, Agbandada, Owala, Kusi, Ibuanun, Olumeyé, Akanbi, Abadi, Ibualamé, Alapade. Cada um tem um templo, mas, mesme com essa pluralidade de Inlés, todos sao considerados um 36 Orixa. * ibualamé: considerado pal de Logunedé com Vey Pond, mas essa paterni- dace € contestada:; alguns acreditam que ele seja filho de Ogun. Jbualamd come bode, carneiro, porco ¢ caga. Leva dois rebenques de couro de 17 pernas; usa offi de ferro, chapéu de couro e roupa estampada de cores suaves. Logunedé Eo filho de Yeyé Pondd e Ihualamd, embora essa paternidade, como vimas, seja duvidosa. Na Africa é filho de Ogun, Fica tanto na terra como na 4gua; tem e3- pirito de menino. Muito ligado a Oxum, vive agartado a sua sala e val embora no seu colo. Nao se pode The oferecer nenhuma comida sem que se dé primeiro a Oxum, £ wm Orixé mimoso, alegre e brincalhio. Omolu E um Orixa perigoso ¢ no se deve pronunciar seu werdadeiro nome, Xapand; diz-se Omolu ou Obaluayé. £ rei da terra, da qual ele € 0 dono. Quando fica furioso, diz-se il? ighond (a terra esté quente). Para que essas palavras nda 0 desagradem, se diz o contrério: il? futu (a terra estd fria). fo Orixd que da as doengas, especialmente a variola, Seus sacerdotes, que outrora usavam esse poder para aterrorizar a populagaa, terminaram reprimidos pelas autoridades e 36 puderam manter-se limitando seu papel a cura dessa doenga. Gidi git A para olesu Gangan ti angan Omole ald ewe Oni wows ad ‘Odé dardue kar ti m6 si oko odun bo ara Jehosu pitisorné Alapa dupé Omiolu € poderoso. Tem 0 corpo salpicato de vermetho. Ble & muito robusto, Conhece as folhas quae servem para curar doencas. Ele tem vérias cabuyas pequenas onde guanka os pas para fiazer remédios, £ wm homem negro que cobre o seu corpo de palha-da-costa. Eo rel das firmas preclosas. Para curcr suas feridas, Yemanjé 0 cobriv com elas, 0 que esfriau seu Corpo; assim ele acabou saranda, E quem mata 2 & quem agradecemos por isto, Distinguem-se varios tipos de Omolu: + Wari-waru; a ele deve-se pedir o contrario do que se quer, quando se fizer uma prece, * Azoani: veste-se de palha-da-costa vermetha, usa vermelho estampado ¢ carrega xaxand com langa. Fazem-se sacrificios para ele quando o sol esta apino. * Ntetu: cava o chao com uma ferramenta especial, em forma de garras. * Arawé: vive no mato com Odé. * Dansé: é raspado fora, no tempo. Come barre. * Ofelé: gosta de silencio. E ligado a Yernanjd e come muita canjica branca. & Awd ~ 0 mistério dos Orixds & Gisele Omindarewd Cossard * Agoré: veste branco, carrega langa, usa Bioko (tipo de boné) com franja de palha. « Xapand: outro nome de Sapatii (esse nao deve ser pronunciado). Veste vermelhe e preto. * Ajonsu: velho, veste branco, * Ajagun ou Jagur: guerreiro, agressivo, Veste branco e usa palha vermelha. Carrega xaxard e langa, Pode-se assinalar jji, uma manifestagdo de Omolw através dos rodamoinhos do vento, mas que ndo é uma qualidade do Orixa. Nao podemos ver o rosto dos Omolus. Todos devem estar cobertos de palha- da-costa. Eles trazem na mao um xaxard, feito com as nervuras das folhas de dendezeiro, com o qual limpam © ambiente enquanto dangam. Xaxards de Omota Aze de Omolu Ossaim Ossaim vive no mato com seu irmao, Olobiki, que semeia e planta, £ um Orixd extremamente competente, o médico do corpo e também do espirito. Detem ‘9 segredo das folhas, pois é ele quem as colhe. As folhas server para preparar todas as infusdes e maceragées feitas no terreiro e sdo utilizadas para purificar as mas influéncias, curar e renovar as forgas de uma pessoa, provocar a estado de transe que permite ao Orixa se manifestat. Cada folha tem uma virtude especial, e, para colh@as, ao raiar do dia & preciso estar com o corpo limpo, sem ter tido relagdes sexuais durante a noite. Antes de entrar no mato, é preciso pedir licenga, oferecer-Ihe dgua, fumo de rolo ¢ moedas, além de abrir um obi para ver se a colheita ¢ autorizada. Para cada folha h4 uma saudacdo cantada e durante os sacrificios deve-se cantar para fortalecer a oferenda. Quando se oferecer um bicho de quatro pés a qualquer Orixé, Ossairn rece- bera oferendas particulares, em uma ceriménia chamada sassaim, Nao existe um quarto especial para ele nos terreiros, Seu assentamento é feito aos pés de uma Arvore, escondido embaixo de folhas de ewé je/? (jequiriti), 2% Awd ~ 0 mistério dos Orixds & Gistle Omindarewé Cossord Xangé £ considerado um ancestral divinizado em raz’io das lendas que contam sua origem. Dizem que Oduduwd teve um filho, Okambi, Este teve sete filhos que, depois de sua morte, dividiram entre si a heranga. O sétimo, Orania, recebeu a terra ¢ tornou-se rei de Oyd, Ele teve, com Yernanjd, trés filhos; Ajakd (também chamado Dada), Xangé e Xapana. O primogénito, Ajaké, pacifico demais, reinou muito pouco tempo; logo Xangé afastou-o do trono ¢ tornou-se rei de Oyé — Alafim Oyd. Apés um reina- do tumultuado, ele, que era violento e brigao, desapareceu misteriosamente, Xangé6 é 0 deus do trovao, das tempestades, do raio; quando ele esta com raiva, langa chamas pela boca e incendeia as casas; Inde gori ile nib latofa Eledun ened bajé O fago sobe pela cusa. Dono da pestra que mata. Contas de Xungd Em sua sacola (Iabd) Xangé guarda as pedras do raio, edn and (machados neoliticas), que lana sobre os que o ofendem. Quando o relampago cai sobre a terra diz-se que essas pedras caem e ficam enterradas por sete anos, antes de voltar 4 superficie, Xangd ama a boa comida e a abundancia; é cruel, viril, atrevido e gozador: O lok6 meofad bi ajinaka Tem seis ponis com o elefante, Antes de Xangé aparecer, existia um culto mais antigo ligado ao sol, 0 culto de jacutd, Esse Orixa simbolizava a justi¢a, a lei, a boa ordem, e protegia os imocentes. Embora tivesse um carater turbulento e violento, Xangé passou a suplantar Jacutd, os dois ficaram confundidos e as caracteristicas do mais anti- go foram assimiladas por Xango, fa ele que se recorre quando ha contestagdes, controvérsias, processos: Xungd ti eke pa Babd teru md ré Oba gb Obd dé Ob jigi Ekim fofoju tana Ele mata 0 mentirose. Pai que impBe o direito, O grande rei. O rei maduro. O rel poderoso. Leopardo cons ollis de fag. Xangé adora a vermelha, as nazes de cola orobd {Garcinia gnetoides, Guttife- rae), OS galos vermelhos ¢ os carneiros com chifres grandes, Pode-se tentar refazer a genealogia das Alafins de Oy6. Oduduwd teve tes filhos: Ogun, Obalufii (pai de Alayemoré) e Oranid. Este teve trés filhos com Ia- masse Ajaké (pai de Aganju), Xangé e Xapand. Com a morte de Oduduwd, Oba- Juf tornou-se rei. Seu filho, Alayemoré, Ihe sucedeu. Oraniff tirou-o do trona. Com a morte de Oranid, Ajakd Ihe sucedeu, Xangé tirou-o do trono e tomou o poder, Apés sua morte, seu sobrinho, Aganju, lhe sucedeu. Ajunjd, descendente de Xangé, apareceu bem mais tarde. 4S Awd — 0 mistério dos Orixds B Giséle Omindarewd Cossard No Brasil, distinguem-se doze Xangés: « Ajaka: mals chamado de Dad. * Aird Intilé: veste branco ¢ azul-claro. Come pouco dendé. Carrega Oxald nas costas. * Aind Igbond; € 0 fogo vivo, Veste branco, azul-claro ou rosa-claro, ¢ leva um oxé de prata. © Ain Mofé: veste sé branco e nao come dendé; danga coberto com pano branco. Carregou © tesouro que Xangé deu como indenizagao do tempo: de cadeia de Oxalufa. * Jakuté: leva um oxé de madeira. * Ogodo: leva dois oxés; é dono do pilao. * Obalubé: nao desce; acompanha Bayani na procissio de Yamassé. * Baru: violento. N3o come quiabe: seu amala é de folhas lingua-de-gali- nha, e come perto de fogo aceso. Veste couro, roupa escura, pele de leo- pardo, ¢ leva um oxé de madeira; é ligado a irokd. * Obakassé; rei do morro de Kosso, perto de Oya, Existe uma dtivida sobre a personagem de Obakossd, cujo nome seria um titulo de Xangé. Kosso é um morro situado ao lado da cidade de Oyd. Oba Kosso quer dizer: rei do morro que domina Oy6. Por outro lado, quando Xangé-desa- pareceu, contou-se que ele teria se enforcado num acesso de raiva. Seus segui- dores desmentiram essa histéria, dizendo: “Oha kosso”, 0 rei n&o se suicidou. Nio se pode esclarever a verdade. © Oloroké: ligada a Irok6; veste branco, © Afonid: ligado a Irokd, Leva armas douradas: um axé e uma lanca. * Aganju: veste-se de vermelho e branco, ou vermelho ¢ amarelo. Leva uma langa com coragao na ponta ¢ um oxé. Oxumaré £ um Orixé que se apresenta sob um duplo aspecto: um masculine € outro feminino. Representa a continuidade no movimento e a forga que sustenta a terra para que ela permane¢a coesa, Diz-se que tem origem fon, dai o nome Dambala Aiydo Wedo; Dambata, 0 lado macho, a cobra; Aiydo Wedo, 0 lado fémea, que se transforma no arco-iris, Re Hibs fire ofo E Oxumaré que faz cate a chuve sobre a terra. Oxumaré esta ligado ao mato pela cobra, ao céu pelo arco-iris, que sobe até a abobada celeste, ¢ ao mar, onde mergulha. Ele leva as pedras até Xangé, para que este as jogue do alto do céu quando esta com raiva. ‘Certos terreiros fazem sempre duplas oferendas, bichos maches e bichos fémeas. Outros, na hora da feitura, procuram fazer a distingao da. qualidade (macho ou fémea) dominante na pessoa e dio os bichos de acordo. Oxurnaré recebe também um tipo de cobra dito papa-vento. Yemanja £ a grande mae cujos filos sao os peixes; 0 simbolo da matemidade, da fecun- didade. De seus seios volumosos nascem as Aguas do mar e as 4guas doces: ‘Yemanjd ys até oyon orubé Nossa mie com seis que chara. Adé de metal de Yemanja B Aw6 - 0 mistéria dos Orixes S Giséle Omindarewd Cossard Yemanjé nasceu num rio e vive no mar, Através da dgua, ela dé satide, fartu- rae riqueza a todos, pois, sem 4gua, 0 mundo acaba, Ela também protege todo © povo do mar: pescadores, navegantes e os que vivem na orla maritima. No Brasil, seu culto ¢ muito popular. Sua festa, no Rio de Janeiro, é no dia 31 de dezembro; em Salvador, no dia 2 de fevereiro, ¢ em Santos, no dia 15 de agosto, Nessas datas, toda a populagdo invade as praias e vem fazer pedidos e oferendas com velas, flores, perfumes, frutas, champanhe, produtos de beleza. Espera-se uma purificagdo através de Yemanjd, uma energia nova para enfrentar as dificuldades futuras. Ela é o eterno recomegar. Através dela, os fils se rege- neram e retomam a confianga. (Olan onilayé Bla é a dona do smundo Yemanjé ¢ considerada a mae de todos os Orixas. De seus amores com Oxala nasceram, diz-se, Exu, Ogun ¢ Odé; com Orania, nasceram Ajakd, Xangé e Egun. Ela teve também uma ligagao com Oxumaré; assim, o arco-iris atinge 0 céu e desce até o mar. Yemanjé ainda teve um romance tumultuado com Okeré, rei de Shaki, perto de Abeokutd, mas nao se sabe se tiveram filhos. Nesse tempo, Yemanjd {4 tinha dez filhos ¢ seus seios eram muito compridos; ela accitou viver com cle, na con- digao de que ndo aludisse nunca a esse defeite. Mas um dia ele se embebedou rompeu o acordo; na disputa, ela conseguiu fugir, mas caiu no chao; safram tios de seus seios e ela se foi flutuando. Okeré, com raiva, tramsformou-se num morro para barrar o caminho. A 4gua la para a esquerda, o morro ia também; a agua ia para a direita e o morro ia também, Yemanjé ficou desesperada, e seu filho Xango, vendo sua aflicic, mandou um relampago que cortou o morro em dois. A agua ent4o fluiu até o mar, onde Yemanjd desapareceu. £ uma mulher muito vaidosa: Ala kar sé axé A que se enfeita sem ajuta, Yernanja ndo 6 uma mulher doce: tem até mesmo um aspecto viril; o bicho que Ihe oferecem é um cameiro. Bd ragh) ayo Yemanta ‘Quando eia o vé, fica alegre, No Brasil, ela tem varios aspectos: = Yd Ogunté: luta nas estradas ao lado de Ogun, E feiticeira e conhecedora de afoxé. Carrega abebé e alfanje; ligada ao verde transparent. Recebe oferendas nas pedras, nos arrecifes, na beira do mar, * ¥d Subd: velha, manca, vive na espuma das ondas, ligada a cor branca; foi mulher de Orumild e teve um filho, Agé. Carrega abebé. * ¥di Sessu; das aguas profundas, ligada 20 azul cor de anil; carrega alfanje e abebé, ‘* ¥d Tona: ligada ao azul-escuro, vive nas partes profundas das aguas doces, Nao aceita dendé, * Yd Awoyo: vive sob as rochas, no fundo das 4guas. Nio usa cores, sé.0 bran- co, 0 cristal transparente e a prata. Manda nas marés ¢ nas fases da Lua. + Yd Agribora: & uma Yernanja cultuada no Opé Afonjd. Era o Orixd da mae de Obd Biyi, mie Aninha. Ela era da nacao Grunsi, populagao de origem. yorubd que emigrou para Gana. £ um Orixé misterioso, que nfo gosta nem de barulho nem de luz. * ¥d Quinibu: fica na pororoca (encontro do rio com 0 mar). * ¥d Quilesé; que fica no rodamoinho da pororoca. * Ya Assomi: vive na beira d'égua e nao come camarao, + ¥d Camaré; velha, rabugenta, vive nas grutas do mar. A imagem da Yemanjd africana, sustentando seus seios abundantes, com 0 ventre pleno da maternidade, superpée-se ao mito da sereia, nem mulher, nem peixe; sereia que se parece com a Mari Wata da costa do Golfo de Guiné, tal- vez mais feminina do que a primeira, qué atrai seus amantes para o fundo das Aguas. As duas se fundem, ¢ € sob essa forma que encontramos Yemanjd, repre- sentada publicamente nas praias de Salvador, do Rio Vermelho e de [tapoa. Oba Era a primeira esposa de Xang6; foi desprezada ¢ substituida por Oxum. De- sejando reconquistar o homem que amava, deixou-se levar por Oxum e Ovd, que a aconselharam a fazer uma comida gostosa para ele, cortando uma de suas orelhas € cozinhando-a numa sopa. Obé escutou 6 conselho ¢ serviu a horrivel comida para Xang9. Quando ele encontrou a orelha nadando na sopa, explodiu numa raiva violenta contra Ob, que perdeu para sempre a chance de recuperar o amor de Xangd. Ela representa a amargura da vida, as esperangas perdidas, as decepgdes amorosas. 4 Awd - 0 mistéria dos Orixds %S Gisele Omindarewd Cossard Oxum £ a segunda esposa de Xangd. Mulher encantadora, personifica a beleza, 0 charme, a sensualidade. £ a dona das aguas doces e das cachoeiras. Adora 0 luxo, a riqueza, 03 belos teckdos, @ ouro. Na beire dos rios, ela se pentela, se pinta, se enfeita com jéias, se banlha ou se abana. E muito vaidosa e sabe en- feitigar: Afinju obirin 1 kod ids Ofu iba ol Award olu lo ya iyuen Omi 15 wan ran wanran wanran ori 13 Muller elegante, com pulseiras de cobre espessas. Proprietdvia das riquezas to fiando dias dguas, Praprietéiria do ouro. Dona do pente de coral, A dgua farfalha como as pulseiras de Oxum, Na Africa, Oxum é 0 simbolo da maternidade, Ya wa ghe mi nanxé lemi Vena ajudar-me a ter um filho. Mas, com a travessia dos mares, seu lado amoraso tornau-se mais impor- tante do que o lado mateo, Sua vida sentimental foi muito agitada. Teve amores com Oxali, Ogun, Xangé, Orumild e Odé, de quem teria tido um fi- Tho — Logunedé. Mas essa paternidade é contestada; dizem que ele é filho de Ogun. Existem diversas variedades de Oxurn: * Abid Omé Oloré: a primeira Oxum, que no incorpora mais. £ velha ¢ ranzinza. * Aboté: come cabra; também é velha e ranzinza, © Tjumu: carrega Ancora e abebé, é a mais vaidosa; usa na cintura uma cotren- te com ferramentas penduradas (colher, pente, leque...); tosse de vez em quando; calga chinelas finas com pedras preciosas. Come bode castrado. * Ipondd: veste branco com dourado; leva espada curta ¢ larga. * Caré. 6 muito mimosa; leva alfanje. © Petu: tem quizila de galinha. £ tigada a Omolu e Oxumaré. * Jala; vive na lagoa ¢ ajuda Ogun na forja; ndo come dendé. * Abalu; guerreira, leva alfanje € abebé. » Aferd: acalma Ogun e, para isso, carrega uma folha-da-costa e um abebé, * Ajagurd: guerreira, veste-se de branco; leva alfanje e abebé, © Yeyé Oga: & guerreira; leva alfanje ¢ abebé. * Yeyé Oloqué: gosta de lugares altos ¢ nao incorpora, © Yeyé Onird: é extremamente guerreira; leva alfanje e abebé. * Yeyé Popolocumt; nao incorpora e vive nos pocos. * Yeyé Apard ou Opard: € guerreira; usa contas claras, leva alfanje e abebé. ‘* Yd Otim: vive com Odé; carrega offi na cintura. + Yd Ibu ou Ominibu. Todas as Oxuns usam adé (coroa dowrada) dourado com chordo (franja) de contas douradas. Ndo comem pato nem caracol. Adé de bordado de Oxum YJ Awé - 0 mistério dos Orixds © Gistle Omindarewd Cossard Oya ‘Também conhecida como Jans, Oyd se manifesta no vento, nas tempestades e nos tornados; ativa o fogo, acende o relampago, destréi casas e arranca as arvores, arrasando tudo com a sua passagem. Teve amores com Ogun e depois fol viver com Xangd, de quem fol a terceira mulher e a sua preferida. Fla jA era velha quando encontrou Xang§, mas seu amor era to grande, que ela o acom- panhou até na morte. Irrequieta, autoritaria e combativa, é a mulher sem entraves, que nao as- sume nenhum compromisso, nem o papel de esposa, nem a maternidade. E a dona da esteira e se deita onde tem vontade. £ intransigente e ciumenta: conta- se que um dia ela trancou Xangé em casa ¢ colocou os Eguns diante da porta, para impedi-lo de sair. Oyd comanda os Eguns, o pove do além, mantendo-os fora do mundo para que nado venham perturbar os humanos. Ela os obriga a ficar nas nove partes do céu que Ihes si reservadas, os nove oruns, daj o segundo nome de Ovi: Opi mesan arun, Ovd dos nove céus, que se tornou lansa. Assim, Oyd faz a transicio. entre os dois mundos, sendo a unido entre as geragdes passadas e as atuals. Distinguem-se diversas variedades de Oyii: * Opi Balé: comanda os Eguns; veste-se de branco, © [cit Oyd: carrega a morte ¢ se veste de branco. * Opd Onird: ligada a Oxwn; carrega um pequeno abebé de cobre pendurado na cintura. * Opd Jegbé: a mais velha. © Oyd Pada: da luz aos Eguns; carrega um casti¢al especial onde sao fincadas nove velas acesas. © Opi Jimudé: ligada a Oxalé; mora no bambuzal. * Oyd Card: 6 0 fogo. Todas elas carregam o drukeré (espanta-moscas feito de tabo de vaca), um alfanje de cobre ¢ dois og@s (polvarinhos) feitos de chifres de vaca encastoados, usados a tiracolo. Oyd é feiticeira, transforma-se em animal ¢ leva uma vida dupla, de mulher e de animal. Uma noite, Xangé foi cagar e se escondeu no alto de uma drvore para espiar os bichos. Ficou ali a noite toda. De madrugada, quando ja ia em- bora sem nada ter visto, apareceu um aghanli (antilope), que caminhava mis- teriosamente, Para sua grande surpresa, ele viu o bicho retirar sua propria pele, fazer um pequeno pacote ¢ escondé-lo numa casa de cupins, transformando-se entio em uma bela mulher, que partiu para vender sementes de alfarroba na feira. O cagador seguiu-a, comprou-lhe algumas sementes e, dizendo nao ter dinheiro, chamou-a para ir com ele até sua casa para receber, La chegando, ela cochilou por algum tempo e, 4 noite, retornou até a casa de cupins, mas a pele havia sumido: o cagador a tinha escondide e, para devolvé-la, exigiu que ela se tornasse sua mulher. Ela aceitou, mas com a condi¢ao de que ele jamais revelasse as suas outras mulheres o seu segredo, Os dias se passaram eas outras mutheres, curiosas, atazanaram Xangé para que revelasse de onde ela vinba. Pressionado, ele acabou contando tudo. Elas se apoderaram da pele ¢ a escon- deram no sapé do teto da casa. Para zombar dela, cantavam: Oytl girl old ageré geré Ord giria ola ogara gara Obirin sola kord ulé ogeré gexé Akamorelé Suba no telhado répido, rapido... & Awd ~ 0 mistério dos Orixds Ciséle Omindarewo Cossard w & Quando Oyd encontra sua pele, retoma sua forma animal e ataca as duas mulheres, matando-as, Tenta atacar Xangd, mas ele lhe faz louvores ¢ sauda- des, acalmando sua ira. Ovi desaparece na floresta, mas [he da um afoxé (chi- fre magico), para que ele a chame quando estiver em petigo, Outras versdes da mesma lenda nao falam de um antilope fémea, mas de uma fémea de bifalo, No Benin, em Saketé, Pobé, Adja Weré, perto do altar de Xangé, esto os vasos de Ovi ¢, ao lado, 05 chifres do antilope agbanti. No Brasil, chifres de biifalo sto guardados perto de Oya. Nana E considerada a mde de Omofu, que nasceu depois de Oxumaré, e foi rejeitado por ter 0 corpo coberto de chagas. Nand achou-o muito feio, comparado ao Irmao que era bonito, preferinda abandond-lo; Oxum achou o menino e a deu a Yernanjd, para crid-le, Essa atitude é constrangedora porque, na Africa, Nand € invocada quando uma mulher quer ter fillhos. Uma grande romaria ocorre de trés em trés anos para o templo de Nand, numa floresta perto de Schiattl, no Benin, Os adeptos devem seguir uma dis- ciplina rigorosa e regras de vida extremamente severas, enquanto participam da peregrinagdo, Durante a caminhada, eles se apéiam em hastes de madeira para aliviar-se do cansago, movimento lembrado na danga de Nand no barta- do, executada com ax duas mos fechadas, uma em cima da outra, como se estivesse apoiada num pau. Os discipulos de Nand tém a obrigagdo de ser mutto honestos. Nand ajuda a descobrir ladrées, pessoas desonestas, feiticeiros, ¢ se encarrega de puni-los. Nand carrega ibiri, feixe de neryuras de folhas de dendezeiro terminade em forma de baculo. Ela comanda a morte € ajuda as almas a desencarnar, a “fazer a passagem”. Segurando 0 sopro de vida da pessoa falecida (0 emi) no seu ibiri, cla 0 ajuda a -voltar ao Orun. Ela personifica a figura da avé, que se toma, com 0 passar dos anos e com a idade, intransigente e resmungona. Distinguem-se diversas variedades de Nana: * Na Xald: 96 veste branco. « Na Selé ou Seli, = Nit Djepa: leva uma coroa de biizios. » Né@ Buku ou Burueu: muito velha e intransigente; gosta de cores escuras, * Nal Ajaosi. © Nabaim: carrega as doencas e as chagas; leva xaxard, como Omolu, e nado ibiri Ibiri de Nant lewa lewd, na Nigéria, nasce num rio e é ligada a agua. Pierre Fatumbi Verger se re- fere a ela como uma espécie de Yemanjé. Também € considerada como a parte feminina de Oxumaré, £ uma cacadota, uma amazona. * Ligada a Odé: vive na floresta, no meio dos bichos. © Ligada a /roké: sé ela pode descansar em suas raizes, no alto da noite. © Ligada a Oxuwnaré: casada com ele, mora na casa de Omolt, * Ligada a Obaliuyé ¢ @ Nand: na hora da morte, ela transforma o ser vivo em cadaver. * Junto com Oxumaré ¢ Nand: ela ajuda a modelar a terra primordial. Jewd tomava banho em um rio e deixou seu pano-da-costa secando na mar- gem, Quando voltou, um galo hayia sujado sua roupa. Furiosa, ela se enquizi- lou com a ave ¢ 36 aceita oferendas de patas ¢ galinhas-d'angola. Y Aw6 - 0 mistério dos Orixés & Gisdle Ominderewd Cossard Iroké O irokd @ uma arvore sagrada, habitada por um Orixd do mesmo nome. Esta 4rvore imponente e misteriosa faz a ligacao entre o céu ea terra. Extremamente respeitada na Africa, ela no pode ser tombada sem perigo, e até mesmo para se colher algumas folhas, é preciso fazer-Ihe oferendas, As folhas que caem no ch&o s6 podem ser utilizadas se estiverem viradas para 0 céu. Ao pé dos Irokés depositam-se oferendas, mas algumas delas s4o ebés maléficos, sende acon- selhavel nao ficar muito perto deles, especiatmente a noite. O Jroké africano (Clorophora excelsa, Moraceae) foi substituido, no Brasil, pela gameleira branca (Ficus doliaria, Moraceae); entretanto, eventualmente pode ser encontrado al- gum Jroké cultivado a partir de sementes importadas da Africa. Irokd é invocado em caso de febre, doencas ou epidemias. Ele tem o poder de curar, As mulheres recorrem a ele quando nao podem ter filhos, e fazem-lhe promessas ¢ oferendas para engravidar. Mas, da mesma forma que ¢le favore- ce a vida, esta também ligado ao seu final. Era entre suas raizes quase aGreas que, outrora, eram enterrados certos defuntos, sendo 0 local de moradia dos ancestrais, da mesma forma que o dankd, o bambuzal. O Iroké abriga também um certo numero de espirites perigosos, os abikus e os eleyés, que pertencem as miaes feiticeiras, as Yamis. Apaoka Essa arvore, a jaqueira, é bastante misteriosa, servindo de suporte a varias enti- dades: ela € 0 esconderijo das Yantis (Yani Oxorongid), as donas dos fetticos, que recebem oferendas no seu pé, como omolocim, acarajé, feijao-preto, canjica amarela. Com elas moram também Oyd Onird, Nand e lewd, O Apaokd serve de suporte aos passaros ligados 4s Yamis, do mesma modo que outras drvores: Odan (Ficus sp., Moraceae), Akoké (Newbouldia laevis, Bego- niaceae) ¢ Iroké, £ o lugar predileto das corujas que, 4 noite, gritam do alto de sua copa, para avisar dos perigos. Nos dias de festa, a arvore é vestida com cammisu, anaguas, sala colori- da, pano-da-costa, ofd e torgo. No dia-a-dia, ¢ enfettada apenas com um ojd colorido. Nao é bom ficar ao pé dessa Arvore, pois uma parte das oferendas aos Orix4s € despejada nesse lugar, e as Ys n4o gostam de ser incomodadas. Os Orixas funfuns Sao os que presidiram a criagio do mundo: * Obuatalé: aps sua estada na terra, e depois de ter dado vida aos primeiros homens, retornou aos céus para ficar ao lado de Olodwmaré, = Yeyemowo: considerada a mulher de Obatald. * Orumild: faz a ligagdo entre Olodumaré e os homens, orienta ¢ indica os meios de sair de suas dificuldades. Seu porta-voz é Ifii. A ciéncia de If é imensa, baseada em 256 signos (odus), dados pelo jogo de adivinhagao. * Olocum: divindade feminina, o Orixd do oceano, do fundo do mar, das enormes riquezas ignoradas que ai se encontram. Mas ela n3o € mais ve- nerada no Brasil e, apesar de ainda se conhecer seu nome, foi suplantacia por Yemanja. * Oxald: filho de Obatald. £ venerado sob dois aspectos: Oxalufai, o velho, e seu filho, Oxaguia, jovem e guerreiro. O pai é curvado ¢ enfraquecido pela idade, quebrado, depois do que sofreu por causa de sua teimosia. Os dois se vestem de branco: Bantd bantd mi ald 0 sun mu ald Ojimalé Ot imu ald didé Alald niki niki ‘Ord okd abuhé ‘Ord oké afin Ataié bi ratkurs Imensa em roupas brancas. Eke dorme emn roupas brancas. Ele acorda em roupas brancas. Ede levanta em roupas brancas. Ea done do pano branco. § dono do corcunda, Eedano do albina, Ele & macigo coma v camelo, * Oxaguid & Olowii, dono do algodao ¢ do inhame: Jniyeun ogan baba md wo Seu fundamento é a massa cle inhame pisada no pila. Y Awd - © mistério dos Orixds B cisele Omindarewd Cossard Os Ibejis Os Ibejis nao sao considerados Orixas, mas seres sobrenaturais. Seu culto esta ligado ao nascimento de gémeos, considerado na Africa um fenémeno mis- terioso e uma manifestagao da fecundidade, mas envolto numa atmosfera perigosa, Deste modo, é preciso fazer oferendas a fim de garantir a vida des- sas criangas, dar nomes especiais a eles € a Gutros que poderiio nascer em seguida. Se um dos dais gémeos vier a morrer, é necessario confeccionar uma estatua de madeira que representa, Deve-se traté-lo (na forma de estatua) como se fosse vivo, vestindo-o com a mesma roupa usada pelo irmao vivo, dando-lhe a mesma comida e deixando-o permanecer ao lado do irmao vivo em todas as suas atividades. A TRADICAO JEJE O panteio jeje apresenta certas dificuldades para ser descrito, pois, de acordo com o ritual de cada casa, apresentara aspectos diferentes, oriundos de varias etnias, De acordo com Tobie Nathan, o mundo foi criado por uma divindade an- drégina, Mawu Lissd, que gerou 0s filhos Dadd Zodji ¢ Nyohwe Awann, divin- dades gémeas que repartem @ mundo e divide © comande da terra © suas riquezas. 56 (Sobd) recebeu a direcao do céu; Agbé (ou Naeté) cuida do mar e de todas aguas; Agé esta encarregado do mata, das florestas e dos animais; Gu, de desbravar as matas, do ferro, da guerra, da civilizaco; Djé é o sopro, Legh nao tem cargo definido, é o mensageiro, o elemento dindmico. Maupoil mostra Mawu & Lissd como os criadores e donos do destino dos seres, que repartiram seus atributos entre os voduns. Eles sto representados por duas estétuas de madeira: Maw, carregando uma meia-lua, ¢ a parte fémea; Lis- sd, sobre a forma de um camaleao segurando um sol na boca, é a parte macho, Em Herskovitz, as informagdes sao um pouco diferentes. Segundo ele, o deus criador, que néo é macho nem fémea, chama-se Nanan Buluku. Este deu a luz dois gémeos, Mawu e Lissa, a quem foi concedido 0 dominio sobre o mun- do criado. Em seguida apareceu Aizan, a morte; depois foi criado Azanadonu, o ar. Seguiram-se intimeros voduns que se dividem em erés grupos: os voduns do trovao e do mar, os voduns serpentes ¢ a familia de Sapatd, A familia do trovao e do mar E formada pelos Heviossés, chamados voduns Z6 (do fogo}, € 05 voduns TO (da agua). * Sogbd: rei da familia Heviossos, imrequieto, irado, dona do fogo. Veste um saiote (abi), feito de palha-da-costa de cor marrom-escura, e uma coroa da mesma palha, com franjas terminadas por biizios; leva guizos na rou- pa; usa também um avental pequeno, 0 honogé, carrega abagri (machado com cabega de tigre cuspindo fogo). Bogum: Vodun do fogo, leva os mesmos enfeites que Sogbd, * Kpé ou Possu: o mais velho da familia, pertence ao fogo. Irado, transfor- mou-se em tigre quando descobriu que Soghd namozava Ops, € teve trés filhos: Loki, Badé e Averequeté, Veste uma roupa de palha tingida, compri- da, com trangas terminadas com guizos ¢ bizios. Leva garras nos dedos, tiradas do dendezeiro; carrega o abagri. Abetaoyd: € irmao de Sogbd, ligado ao fogo. Usa saia comprida, boné tipo equeté de palha, com franja e bizios, ¢ carrega abagri. Jocolatiné: é o irmao mais novo de Abetaoyd. Acorumbé: é parecido com Abetaoyd; leva uma cobra na mao, por causa de sua ligagao com Bessém. Locé Kayabé: ¢ 0 filho mais novo de Sogbd; liga o 24 (fogo) ao ar; mora na gameleira; quando o rei Bessém perdeu seu rungeve, ele foi encarregado de procuré-lo. Veste abi, honogd ¢ carrega abagri. Badé: Vodun menino, irado, ligado a z6 ¢ as tochas; encarregado de acen- der as tochas do ret. Gasta de beber, de brincar. Veste sala comprida, abi, honogé colorido, equeté com franja de bazios. Averequeté: menino, pertence a dgua (Vodun to); € 0 pescador do rel Sogbd, ligado a bebida. Veste sala comprida e chapéu de palha tingida. Carrega anzol, abagri. Aziri e Tobossi: s40 voduns to, do mar. A primeira, a mais velha, pertence ao fundo do mar, usa contas amarelas cor de gema de ovo; a segunda € mais nova e usa contas amarelas cor de cha. Ambas vestem branco e usam tmultos bizios como enfeite; sdo ligadas 4 jaqueira, onde recebem suas oferendas, que sio todas as comidas de Leghd a Lissa. * Agbé: Vodun dos astros, pertence a familia de Hevioss0; veste azul, carrega abehé, come sem sal. * Naeté: ligada as aguas salgadas, ao mar; veste azul e carrega abehé. Aizan: Vodun fémea, ligada 4 morte ¢ aos antepassados; vive no tempo, deitada numa esteira; é a primeira a comer nas festividades; representada por uma panela de barro com tampa ¢ duas quartinhas. & Awa - © mistério das Orixds ®% Giséle Omindarewd Cosserd * Xoroqué: € 0 guardiso do palicio de Ressém e das rogas, Era um Gu que foi escravizado pelo rei e virou Legbard. £ o primeiro a comer depois de Aizan. Recebe um obi branco, bode, burubumt, omotocum e até perfumes, mas de sua matanga nao se aproveita nada. Foi o responsavel por muitas guerras. © Leghani Tojisé, * Legbard Zocan. * Agué: Vodun menino, ligado 4 mata e a caca, sobe nas drvores para cagar € assustar, Suas oferendas lewam frutas que representam os bichos de sua caga. Veste roupa com palha tingida de verde e decorada com pequenas cabagas; fuma cachimbo. A familia de Dan © Vodun serpente & considerade o rei da nage jeje, mas o Vodur mais velho é Azanadori, Dan envolve a tera € a coloca em movimento, Ele é pai de Bessén, que lida uma legido de voduns serpentes, Ressém 6 a cobra macho, Kwenkwen € a cobra fémea sobre seu aspecto mais velho, enquanto Ojicu é a cobra femea mais nova, equivalente a lewd. Bessém e Ojicu se unem e geram uma multidao de Vodun serpentes: Bafond Deki, Acassu, Ajagu, Togtiére, Freqiiém, Doyiiém, Co- togiiém... Dan & também chamado de Aidé-wed6, pois tem um. aspecto duplo, Dan sendo a cobra, e Aidd-wed6, o arco-iris. Maupoil fala de Dan Aydo Wedo: “encar- regada de levar os seres materiais ¢ suas almas do céu a suas moradias terrestres, se diz que repartiu seus poderes entre dois Dan subalternos. © culto muito po- pular do hd-dan, ou serpente corddo, materializa essa crenga. O cordio umbili- cal leva a crianca até 0 chao onde a mae pare, Mas 0 que 0 ser humano wenera, quando cultua a palmeira hd-dé, ao pé da qual seu hé-dan ¢ enterrado, é a obra de um outro dan, o 6rg4o masculino, que gerou seu nascimento.” A familia de Sapata © Sapaté: Vodun da terra ligado 4 variola; anda coberto de patha-da-costa tingida de vermelho; leva um feixe de talos de folhas de dendezeiro, en- feitados de bazios e contas, o xaxard; uma conta escura, o laguidibd; cola- res de biizios enfiados em forma de escamas, o braji; braceletes de bizios nos bragos ¢ nos punhos. + Azoani: veste-se de palha-da-costa tingida e roupas muito coloridas, Rece- be suas oferendas ao meio-dia. * Avimajé: € um Vodun novo, ligado ac Tempo; come bichos brancos, veste branco ¢ usa palhas tingidas ¢ roupas vermelho-claras; sempre doente, vive na esteira; é dono da lepra, das pragas, da variola; sofredor; usa xa- xard e seta branca. = Ajonsu (ou Azonsu, de azon, doenga): dono da doenga; é assustado, vin- gativo; sendo mais velho, ndéo come bichos machos. Usa saia curta com guizos, palha-da-costa tingida de vermelho-escuro, capa, braceletes e per neiras de palha para cobrir suas chagas. * Poli Bojé: € um Vodun mais velho. * Toyacossi: € um Vadun mais velho ainda. « Atolu (Ontolu, Aganga Tolu): € um cagador, Veste roupas coloridas com enfeites de penas na cintura. Os Voduns Nagés Também so cultuados voduns de origem nagé, especialmente voduns femini- nos como Gyd, Oxum, Yemanjd e Nand; 0s masculinos s30 Gu, Odé e Omolu. O Vodun Lissd corcesponde a Oxald. Tipos de jeje Existem cinco tipos de jeje: * Jeje marrim: cultua a familia de Dart (sendo ele o rei), a familia de Kaviund, a familia de Sapatd e a familia dos voduns nagés. * Jeje modubi: cultua a familia de Dan, a familia de Sapati € 0s voduns nagds, mas d4 mais importancia a familia Keviund (onde Soghd € 0 rei), * Jefe savale: cultua a familia de Dan, a dos Kaviunds e a dos voduns nagés, mas cultua especialmente a familia de Sapatd, onde Azunsu ¢ rei. * Jeje mina: nele so cultuadas as trés familias de origem jeje, mas nio en- tram os voduns mais. * Jeje daomé: nele também nao entram os voduns nagds. Cada terreiro jeje se refere a uma dessas subnagdes, de acordo com sua fillagao. & Awé ~ o mistério dos Orixds B Gisdle Omindarewd Cossard A TRADICAO CONGO-ANGOLA Segundo a tradi¢do congo-angola, um deus supremo, chamado Zarmbi Apongé, domina o mundo. Esse nome significa "todo-poderoso” ¢ encontra-se na Africa, em todas as linguas bantas, com formas parecidas: Nzambi Phungu, Aphungu, Waphungu. Nas palavras de Balandier: “Nzarnbi rege a ordem do mundo ¢ o curso das vidas. Ele é de um certo modo a imagem do Destino, as vicissitudes, as desgra- fas e a sorte, que atingem a existéncia dos seres humanos sem modificar 0 sen- tido geral do propésito divino ¢ dependem de forgas sobre as quais o homem pode exercer uma influéncia”, Essas forgas sio os Ingerices, A palavra vern do quicongo nkisi, que significa: “feitigo, feitigaria, forma magica, magia, doenga provocada por uma feiticaria”, diz Laman. Por outro lado, temos, na definigae de Bittremieux: “Criados por Deus, seres supra-humanos governam o mundo no seu lugar; so principalmente os nkisi, espiritos, feitigos no sentide mais largo do termo. Se diz que nos velhos tempos os nkist eram ordinariamente bons ¢ caridosos para os homens cujos corpas eles protegiam, mandando-lhes achuva, a comida e o bem estar.” E muito diffcil encontrar a origem dos Inquices cultuados no Brasil, por duas razOes. A primeira € que existem poucos textos informando sobre a religiio antiga praticada no Congo e em Angola; o mtimero de pesquisadores que se interessaram por essas etnias € limitado, ¢ os Gnicos autores que podem servir de referéncia s4o Laman, Bittremieux ¢ Van Wing. A segunda é que a evangeli- zagdo comegou logo depois da chegada dos portugueses: jd em 1596, a diocese de Luanda havia sido fundada; em 1640, uma missao de Capuchinhos tinha se estabelecido em diversos pontos do pais, evangelizando e batizando em gran- de escala a populag’o, destruinde e queimando os idolos a fim de erradicar as “saperstigées”. Esses fatos dificultam consideravelmente a procura das fontes das crengas e praticas religiosas. Dos Inguices cultuados no Brasil, muitos deles nio se encontram nos rela- térias, Outras ndo combinam com as caracteristicas que hes sao atribuidas no Brasil. Existe uma semelhanga entre os Inguices ¢ os Orixas, que talvez nao existisse oo principio, mas que foi se acentuando com o tempo. * Bombonjird, Aluvaid, Tibiriri ¢ Mabild; tém as mesmas caracteristicas que Exu, escravo e guardido malicioso dos yoruhds. Nenhum texto faz mengo a esses nomes, com excerdo de Bittremieux, que assinala “uns demOnios ruins, feiti¢ns de ddio & de vinganga, entre outros Mabiala mea ndembé..." Esse nome € muito parecide com Mabila, * Inkdssi, Roxe-mukumbé: sto equivalentes a Ogun. Laman fala de Nkosi como “o led, aquele que ferra”. Van Wing 0 define como um feitigo para 3e proteger dos ladrées ¢ dos feiticeiros. * Nsumbu, Kingongo, Kaviungo, Kassumbenca, Alojé, Intoto Asabé: tém seme- thanga com Omolu. Nsumbu é citado por Laman como o protetor dos par- cos, O termo kingongo designa a pustula da bexiga, e a palavra Kaviurigo € muito parecida com kavungu, nome dado a um tipo de fdolo. © termo ntoto significa a terra, o cho, o reino dos mortos. Tempo Kiamwilé: € ligado a0 culto das Arvotes e, particularmente, ao culto dos antepassados. As oferendas que Ihe sdo feitas so depositadas numa gameleira sagrada suspensa nos ramos. Essa arvore, equivalente ao [rokd, € 0 ponto de chegada da vida ¢ representa o tempo que flui até a hora da morte. Ela simboliza todas as flutuagbes de que dependem as manifes- tages climatticas, as estacdes, a temperatura, os ventos, a chuva e 0 sol. Ballandier nota a importancia do Tempo no meio dos Bacongés, “fascina- dos pela sua propria representagaio do deus Chronos”, Gongombila, Mutacalombé, Amboabili, Tawamit: 40 cagadares com seme- Thanga com Odé. Apenas Mutakalambé é mencionado como deus dos ani- mais aquaticos, por Ribas, Katendé: dono das fothas, é muito parecido com Ossaim, Nenhum autor faz mengao a ele, com excecdo de Laman, que observa que o nome Katen- dé é um titulo honorifico que significa senhor. Zazi, Kibuke, Nparizu, Kassumbenganga, Kambalanguanje, Lumbando, Tata Mwilo: sdo semelhantes a Xangd. Laman cita Nzazi como a raio. Em Van Wing encontramos um feitigo chamado Nkwtu Nzazi, em formato de um saquinho, que serve para vingangas: Mwilu Kilenmbicd. Nzazi € destinado a acalmar a célera do raio; Serta Fraz3o o define como deus das tempes- tades. Juta Muilo representa o sol; Van Wing fala de um feiti¢o chamado Miu que protege a aldeia contra os ndoki, espiritus ruins, Segundo Serre Frazao, Kibucé é um deus-lar do Congo. Mpanzu era outrora o Inguice dos Mpanzu-rnuild, tribo que conservou © nome de seu ancestral protetor. £ um Inguice da alegria. Matambd: corresponde a Oyd; mas nenhum africanista d4 qualquer infor- magdo a seu respeito. Laman nos da tradugSes da palavra: ferida corrosiva do nariz, lupus; Inguice que fica numa cesta. Dandaluna, Dandalunda, Kissimbi: correspondem a Oxwn. Laman cita cla- ramente nkisi simbi como “nkisi da Agua, que vive na agua". Awd - 0 mistério dos Orixes R Gisele Omindarewd Cossard © Kaid, Kayala: cortesponde a Yeranjd, mas poucas referéncias foram en- contradas nos textos. Laman cita Kayla come provindo do quicongo mbu-ayala, 0 Oceano, © vasto mar. * Angord, ou Angolé: € ligado & cobra. O mome vem de ngold, kongold ou nkongold, que designa © arco-iris. Bittremieux fala: “O arco-iris é uma grande serpente nkongold que fica nas nuvens e manda a chuva”. © Funzé, ou Vunji: os Ibejis s’o chamados de Vimji, mas 0 Inguice Vienji € descrito por Ribas como simbolizando 0 espirito da Justiga. Laman dé in- dicagdes mais proximas dos Vunji para o Ingutice Fumad: “Funzd € um mkisi praticamente esquecido; uma forga criadora Ihe era antigamente atribu- ida ¢ era considerado quase como o igual de Nzambi Mpungu. Os objetos que the pertenciam sio guardados em pares numa cesta. £ Funad que faz com que nas¢am gémeos, ou os impede de nascer." Embora os nomes sejam um pouco diferentes, eles sin muito préximos; encontra-se aqui a nogio de dualidade e também de fecundidade; assim, pode-se ter entao a verdadeira origem dos Vunji brasileiros. © Lembd, Kanjanjé, Lembaranganjé: correspondem a Oxalufil. = Remakalungé: corresponde a Oxaguid. Laman o indica como um Inquice muito popular, mediador entre os vivos e 05 mortes, Bittremieux fala dele como 0 Inquice especial do casamento, da paz do casal, A COMUNIDADE Para realizar o desejo dos deuses, o chefe de um terreiro nao age sozinho, pois conta com a ajuda de muitas pessoas sob suas ordens. Juntos, formam uma grande comunidade muito organizada, o egbé, onde cada um esta a servigo dos deuises. A(a) chefe da terreiro 6 a cabeca desse verdadeiro organismo, ¢ os que a(o) cercam sfo seus bragos ¢ pernas. Esse entrosamento vai exigit uma disciplina severa, muita abnegacao e sacrificio, £ uma escolha para o resto da vida. ORGANIZACAO Tradigao ketu 0 chefe do culto jogo das forgas espirituais serd sempre um mistério para o homem comum. Somente alguém — seja homem ou mulher — com um dom especial, tera o poder de compreender os mistérios dessas forgas e modificé-las em beneficio dos homens, Tanto no Brasil como na Africa, as pessoas escolhidas para essa missao tém numerosas obrigagdes a cumprir, como consultar as divindades, transmitir suas mensagens ¢ executar os trabalhos exigidos por elas. Também devem organizar festas durante as quais essas divindades irao se incorporar, bem como prepatar as pessoas escolhidas pelos Orixas para incorpora-los, Ja as pessoas que ndo in- -corporam sao orientadas para estabelecer uma ligagdo mais estreita com 0 seu Orixa protetor. Por fim, quando um filho vem a falecer, o sacerdote tem por missdo encaminhar essa alma, para que ela encontre seu lugar no Orun. B Gisele Omindarewd Cossard Na tradigao ketu, 0 chefe da terreito ¢ a yalorivd, se for mulher, ou 0 habalo- rixé, se for homem, Entre os escolhides para 0 cargo de “cavalo dos deuses”, a grande maioria é de mulheres. Por isso, para simplificar, preferimos nos teferir aqui a chefes de terreiro como yalorixds, e aos cavalos dos Orixas como inicia- das, sempre no feminino. Fssa preferéncia nao é diseriminatéria e nao quer dizer que os elementos masculinos do culto sejam desprezados. © egbé As relagdes entre os membros do egbé sio codificadas de forma muito rigida, Podemos dividir os adeptos em dois grupos: os adoxis ("quem carrega ox”), aqueles que entram em transe ¢ incorporam os Orixas, eos que no sio adoxts, ou seja, ndo entram em transe nem incorporam Orixds. As adontis se dividem em quatro grupos: as abids, futuras adoxiis, que ainda nao foram iniciadas e se preparam para a teclusio; as yawds, que [4 foram ini- ciadas e que vio renovar suas oferendas apos um ano, trés ¢ sete anos; as ebo- mes, que tém mais de sete anos de feitura e que |4 fizeram suas oferendas; ¢ as. oloiés, que sio escolhidas pelo Orixa da yalorixd, entre as ebomes, para assumir uma responsabilidade especial — um ayé. Como as tarefas sao numerosas ¢ aumentam 4 medida que o terreiro se desenvolve, os cargos de maior responsabilidade sao assim distribuidos: a yd egbé, “mae da comunidade”, que pode substituir a mae-de-santo em caso de ne- cessidade; a yi KeKeré, "me pequena”, que se encarrega de todas as iniciadas e ajuda a palorixd em todas suas atividades; a ojubond, especie de “mae pequena” encarregada das novas iniciadas; ea palodé, que cuida do bom relacionamento, entre as iniciadas. Algumas delas tém tarefas mais especificas: a ywtabaqué prepara a comida das iniciadas durante a feftura; a yalefiin prepara os pds utilizados nas pinturas tituais e pinta as iniciadas durante a reclusdo; a may? e a agberi preparam os elementos sagrados que vaéo formar 0 oxt, massa que € colocada no meio da cabeca das iniciadas; a patebexé lanca as cantigas no barracto-¢ ajuda © alabé; a yabassé prepara as oferendas e também ¢ responsivel pela cozinha; a olopondd €a encarregada dos banhos durante a feitura; a yamord, de Omolti, a afirnadd, de Oxuwin, @ a daga, de Ogun, $8 responsaveis pelo padé; a yassikéé carrega o estan- darte durante a procissiio da festa de Oxalé, ¢ seu Orixd é Oya: a colabd carrega o labé de Nangé durante a procissdo de yariassé, nas festas de Nangd; a acowé é a secretaria da casa de Xengd ¢ supervisiona a organizacao das festas deste Orixd; a yd tojuomd cuida das criangas do terreiro; a sarapegb?, de Ogun, transmite as mensagens dentro da comunidade ¢ também fora dela. ‘Duas ayabés, cuja tarefa nao tem um nome especial, tém a responsabilida- de de bater o sangue dos bichas de quatro pés durante os sactificios e de cui- dar da organizacao das oferendas feitas a Ossaim, nas matangas dos bichos de quatro pés, Além desses grupos de adoxiis, existem trés grupos de oloiés ndo-adoxis, que sho dignitérios ¢ nfo entram em transe. Escolhidos pelos Orixas, eles so con- siderados como “pais” ou “mies”, e devem ter conhecimentos suficientes para controlar as cerimdnias quando os Orixas esto presentes. Em certas casas, como o Opé Aforjii (em Salvador, Bahia) e outras originarias desse terreiro, como 0 Opé Aganju, existe um grupo formado por doze homens, 08 Obds de Xangé, que representam as ministros desse Orixa ¢ tem um lugar es- pecial no barracdo, seis & direita ¢ seis 4 esquerda do trono de Xangé. Cada um tem dois substitutos: o ofun e © esi, No Opi Aganju, eles se chamam mogba, por intervencado de Pierre Fatumbi Verger, que achava esse nome mais de acordo com a tradigio yorubd; na cidade de Oyo, no reino de Xangé, os sacerdotes a seu redor eram chamados de onixango, e seu chefe, de Mongii. O segundo grupo de membros do egbé é formado pelos ogds, que possuem tarefas especificas: o alabé é 0 chefe dos ogas tocadores de atabaques, dirige a orquestra © langa as cantigas; 0 axogue, geralmente um filho de Ogurt, € o en- carregado do sactificio dos animais. O aficodé faz a caca e a matanga de Ode 60 chefe dos aramefits (cagadores), entre eles 0 iperilodé (cagador dos elefantes). O assoghd, a apocan, © ejitatd e o apotun tém responsabilidades na casa de Ormolu; © atebold, 0 iuindons® € 0 elemessé, na casa de Oxald; 0 ogotun, filho de Ogun, na casa de Oxunr; 0 sabaloju e 0 ojuobd, na casa de Xangé; o balogim, na casa de Ogun. © otusé pep? cuida da boa ordem geral do terreiro; a teobald ¢ uma mulher especialmente encarregada de cuidar dos Obds de Xango. © terceiro grupo é formado por mulheres, as ekédes ou ajoyés. As ekédes cui- dam dos Orixas quando eles incorporam, ajudam a vestir os trajes ¢ as insignias rituais; elas também os vigiam enquanto dangam, enxugam seu rosto, ajustam suas Vestes ¢ podem receber suas mensagens. A comunidade s¢ redine em datas regulares, geralmente uma vez por més, para © ossé, quando se faz.a limpeza das casas dos Orixas e se enchem as talhas quartinhas de cada um. Também se renovam as tigelas de acagd batido e alud, ¢ se oferecem comidas secas. Para as iniciadas é uma oportunidade para resolver seus problemas particu- lares, pedindo 4 yalorixd que faca uma consulta com obi ou orobé. Ao final do trabalho, todos se juntam para rezar e, em seguida, a ylorixd informa sobre da- tas e obrigagdes dos préximos dias, calendario ¢ organizagao das festas da casa. & Awe - 0 mistério dos Orixds

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