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PROJETO

2019
Copyright © 2019 - CEPI PROFESSOR PEDRO GOMES
Título:
DiverCIDADE: Contos de uma Juventude em Movimento
Autores:
Estudantes do CEPI Professor Pedro Gomes
Responsáveis pelo Projeto Jovens Escritores 2019
Profª Elisângela Alves (Língua Portuguesa)
Profª. Ludmyla Rayanne (Língua Portuguesa)
Prof. João Antônio (História)
Profª Wanessa Ribeiro (Geografia)
Projeto Gráfico e Compasição da Capa
Prof. José Joaquim G. Neto
Ilustração da Capa
Lucas P. Maia da Costa - 1ª Série D
Ilustrações
Estudantes do CEPI Professor Pedro Gomes
Revisão dos Textos
Profª Elisângela Alves
Profª Ludmyla Rayanne

Projeto Jovens Escritores 2019

VV.AA. Diver/CIDADE: Contos de uma Juventude em Movimento, Goiás, 2019

Título: DiverCIDADE: Contos de uma Juventude em Movimento

1. Contos 1 . Juventude . II Título

Todos os direitos desta edição reservados ao CEPI Professor Pedro Gomes

Direção:
Prof. José Joaquim Gomes Neto

Secretária:
Profª Lara Cíntia Gomes da Trindade

Coordenadora Administrativo Financeiro:


Profª Helga Schaitl

Coordenadora Pedagógica:
Profª Maria Alice da Silva Gomes

CEPI Professor Pedro Gomes - Goiânia - Goiás -Fone: (62) 3291-8511


Sumário

Danielly Cardoso de Oliveira – 1ª A 


Sempre ao seu lado---------------------------------------------------------------8
Eduarda Soares Nascimento - 1ªA 
Maria---------------------------------------------------------------------------------9
Fernanda Gonçalves da Silva – 1ª A
À primeira vista-------------------------------------------------------------------11
Gabriel Tosta Moreira – 1ª A 
Namoro Adolescente------------------------------------------------------------12
Jessica Delmondes dos Santos – 1ª A 
A guerra do amor----------------------------------------------------------------14
João Vitor Pereira Carmo 1ª A 
Maria sete gatos------------------------------------------------------------------16
Juliana de Oliveira Borba – 1ª A 
Recomeço--------------------------------------------------------------------------18
Juliana da Costa Ataídes – 1ª A‑
A Senzala--------------------------------------------------------------------------19
Nayelly Rodrigues Cardoso – 1ª A 
Amélia------------------------------------------------------------------------------21
Vitória Karla Viana de Morais – 1ª A 
Uma brilhante e triste história de Ash---------------------------------------23
Ana Laura Couto Teixeira – 1ªB 
Amizade em tempo de diversão----------------------------------------------29
Beatriz Torres da Costa – 1ª B 
Férias de Verão--------------------------------------------------------------------31
Camilly de Souza Mamede – 1ªB 
A Carta------------------------------------------------------------------------------33
Eduardo Sousa Oliveira – 1°B- 
O escritor mais jovem da comunidade---------------------------------------35
Eliélvis Rodrigues da Rocha – 1ª B 
Aventuras na Ilha Abismo------------------------------------------------------37
Flavia Moreira da Silva – 1ªB 
O desabafo------------------------------------------------------------------------41
Kaiky Batista Kitamura – 1ª B 
A grande atuação----------------------------------------------------------------42
Layanne Rodrigues da Silva – 1ª B 
Escola não tem cor---------------------------------------------------------------44
Marcus Paulo Rodrigues Araújo – 1ª B 
O sonho (im)possível------------------------------------------------------------46
Pâmela Xavier Viana – 1ª B 
Amor entre continentes--------------------------------------------------------48
Paula Vitória da Conceição Souza – 1ª B 
Um dia diferente!-----------------------------------------------------------------51
Pedro Otávio Sales da Silva – 1ª B 
Um sonho possível---------------------------------------------------------------53
Ryan Silva Souza – 1ª B 
Uma segunda chance------------------------------------------------------------55
Ana Júlia Marques Ferreira- 1°C 
As batidas--------------------------------------------------------------------------60
Gabriel Silva Fontes - 1°C 
O Destino--------------------------------------------------------------------------62
Geovana Antoniele Cândido Cardoso – 1ª C 
Como uma última melodia-----------------------------------------------------64
Jordana Xavier Dias - 1°C 
Fundada para salvar, usada para condenar---------------------------------68
Lucas Pereira Maia da Costa - 1ª D 
Charlotte---------------------------------------------------------------------------70
Maria Eduarda Garcia - 1° C 
Eu sei que nunca a esquecerei ------------------------------------------------72
Mariana Nogueira Carvalho da Silveira - 1°C 
Buraco Linguístico---------------------------------------------------------------74
Vanessa Iguma Menna – 1°C 
A Rústica Máquina de Escrever------------------------------------------------77
Arthur Tavares - 1º D 
Xenofobia--------------------------------------------------------------------------83
Gustavo Henrique de Jesus. - 1°C 
Cortesia da Casa------------------------------------------------------------------85
Isabela Soares dos Santos - 1º D 
Especial-----------------------------------------------------------------------------87
Maria Eduarda Borges - 1°D 
Um passeio no parque-----------------------------------------------------------89
Sahmuel Kali - 1°D 
A Família Hattaway--------------------------------------------------------------91
Maria Eduarda De Souza Duarte - 1º D 
O Indiozinho Guerreiro----------------------------------------------------------93
Maria Fernanda - 1°C 
O Vermelho é mais forte--------------------------------------------------------95
Apresentação

O Projeto Jovens Escritores é voltado para as 1ª Séries do Ensino


Médio do CEPI Professor Pedro Gomes. Essa obra percorreu diversos ca-
minhos, desde a reflexão acerca das inquietações dos nossos jovens em
seus percursos diários, até a projeção de utopias necessárias para suportar
o peso dessa fase da vida. A proposta do projeto é proporcionar diversas
ações que potencializam a produção textual, desde a oralidade, a obser-
vação, a compreensão histórica, cartográfica, do universo ficcional, até
debruçar-se sobre o territorio dos sonhos, dos medos, das dores, angús-
tias, violências, desejos e projetos de vida. Os estudantes encontraram-se
imersos na escrita autobiográfica, criativa, potente e positiva. Além do
mais, reconhecemos que a escrita necessita de elementos que superam
o mero conjunto de métodos e técnicas, mas perpassa outras dimensões
muito mais profundas, existencias. Os estudantes escolheram o tema
“diversidade” como ponto de encontro de suas reflexões. Essa relevân-
cia temática nos revela uma juventude desejosa de uma nova perspectiva
acerca da vida, da sociedade e das relações humanas.
A cidade é muito mais que ruas, prédios e casas, é o traçado que
possibilita os encontros, potencializa as relações, é cenário de medos e
violências, mas também é onde os sonhos tomam forma. Essa cidade
revela uma diversidade, tanto de oportunidades, quanto de visões de
mundo. Cada comunidade é um pequeno universo, tão diverso quanto
singular. Essa relação dos nossos estudantes com o espaço urbano é, por
vezes, marcada por elementos simbólicos, memoriais e construtores de
uma história coletiva. Mas como suportar as contradições dessa selva de
concreto? Nessa coleção de contos, os estudantes introduziram elemen-
tos ficcionais para conseguir lançar luz ao cotidiano, contudo, há de se
reconhecer que às vezes o traço, a linha, a cor produzem um efeito mais
forte que as palavras, portanto foi utilizado o exercício do desenho para
construir mapas criativos. Entretanto, todo elemento imaginário é visce-
ralmente real, indo ao encontro da realidade dos nossos estudantes.
Qual o papel dos professores nesse processo? Os professores cons-
truíram possibilidades de diálogo, fomentaram o protagonismo, a refle-
xão, orientaram, corrigiram, incentivaram, mas ao final todos se encon-
tram, não num ponto estático, mas no movimento.

José Neto
Danielly Cardoso de Oliveira – 1ª A

Sempre ao seu lado

Harry era um rapaz com um olhar de tristeza, dor e angús-


tia, era assim que ele vivia em Seul. Seus pais o julgavam sempre
por sua sexualidade, a partir disso ele começou a se isolar do mun-
do. Harry já havia pensado em se matar praticamente de todas as
formas possíveis, mas algo o impedia de continuar. E esse algo era
nada mais que Louis, seu “melhor amigo”.
Numa noite, a caminho de sua faculdade, ele havia se senti-
do perseguido por um grupo de rapazes desconhecidos. Ao apres-
sar seus passos, não conseguiu ir rápido o suficiente, uma pontada
de medo percorreu seu corpo... Era tarde demais, os rapazes já es-
tavam bem próximos de si...
Ao acordar, ele descobriu que se encontrava sobre um cama
de hospital, aos poucos ele começou a relembrar o que tinha ocor-
rido. Chorou descontroladamente, fazendo seus pais o xingarem e
o culparem por tudo aquilo estar acontecendo. Harry estava muito
angustiado, mas ao se deparar com um ser angelical, seu coração
voltou a se acalmar. Era Louis, com um simples olhar e um sorriso
que só ele sabia dar.
Passou-se o tempo e ele foi liberado do hospital. Havia rece-
bido alta dos médicos que diziam para que Harry retornasse caso
o mesmo achasse necessário. Imediatamente pediu que não avi-
sassem a família dele, pois já era maior de idade. Quando saiu para
o estacionamento do hospital, suspirou melancolicamente. O que
faria agora? Também não queria ir para casa e ser recebido por mais
palavras duras dos pais, mas não tinha para onde ir.
 Foi então que, enquanto pensava no que fazer, o zumbido
familiar do motor de um carro alcançou seus ouvidos. Harry
sentiu o coração palpitar tão rápido que podia jurar que estava
escutando-o. Olhou para cima e viu o carro de Louis, o Volvo prata,
parando próximo a si, quase ao mesmo tempo em que Louis se
esticava por cima do banco do passageiro ao abrir a janela. Seus
lábios, esticados em um sorriso encantador, se moveram rápidos,
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murmurando um «vem comigo», antes que Harry pudesse se
recuperar da sensação estonteante que a voz de Louis causou em
seu corpo. Uma sensação que ele nunca poderia sentir de alguma
outra forma, se não fosse com Louis.
Sem pensar duas vezes, Harry se lançou para a porta do car-
ro de Louis, o peito se enchendo com uma esperança descomunal.
Olhou para Louis quando já estava ao seu lado no interior do carro,
tomando um rumo desconhecido pelas ruas, e percebeu que ele
também não tinha planos formados. Na verdade, ele parecia ter
certeza apenas de uma única coisa: os dois iriam atrás da felicidade,
onde quer que ela estivesse.

Eduarda Soares Nascimento - 1ªA

Maria

Era um dia muito quente, o primeiro dia de aula da Maria,


também primeiro dia de quase todos daquela escola. Ela veio de
uma pequena cidadezinha do interior para a cidade grande, São
Paulo, seus pais queriam realizar seu grande sonho: “Tornar-se
atriz”. Maria havia feito aulas de teatro no colégio em que estudou
desde muito pequena, onde se destacava por sua beleza e talento,
mas as oportunidades são bem menores em cidades do interior.
Ela era considerada muito linda onde morava: cabelo preti-
nho, grande e liso, olhos cor da “castanha do Pará”, pele mulata
e macia. Porém, ao chegar na nova escola, naquela nova cidade,
nem todos olharam para ela com esse olhar. Ela foi condenada por
olhares, passou a ser alvo de incontáveis deboches.
Em casa, seus pais sabiam o que vinha ocorrendo, mas eles
diziam para ela que é assim mesmo, que jovens normalmente zom-
bam de outros jovens, que era tudo brincadeira, e que ela teria o
apoio deles sempre. Enalteciam ainda o fato de Maria ter um talen-
to que nem todos têm, disso eles tinham certeza.
Dois meses se passaram. Ela tinha uma só amiga, o que para

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ela estava ótimo. Ela era uma boa amiga. Foi aí que chegou no co-
légio um novo professor de Arte, que se interessava bastante em
criar espetáculos. Ele montou uma sala de teatro e queria volun-
tários para montar uma peça. Maria se inscreveu contente e ficou
ansiosa: no dia seguinte seria sua primeira aula.
No dia tão esperado, ela vai à sala de teatro com sua única
amiga. No caminho, tinham vários alunos preconceituosos, que
a chamavam de “Preta”, “Carvão”, “Escrava” e outros apelidos
constrangedores e bastante maldosos. Ela abaixa a cabeça, enver-
gonhada. Nesse momento, sua amiga joga ovos e papéis em sua
cabeça, diz que já estava esperando por esse dia, e que nunca seria
amiga de uma garota feia e mulata. No rosto da Maria, escorrem
lágrimas frias, a dor em seu peito era enorme. Ela se abaixa e, de
repente, sente dois toques em seu ombro. Não houve mais as vozes
de zombaria. Ela levanta a cabeça e vê o professor de teatro pedin-
do para que entrasse na sala. Maria levanta e vai.
Na chegada da sala, se limpa com ajuda de outros alunos,
ela ainda está com ovos e papéis por algumas partes, contudo o
professor pede para que ela o escutasse. Ao se sentar, ele lhe dá
conselhos, diz que irá ajudá-la: quando terminar a aula, vai à coor-
denação contar o ocorrido para que aqueles garotos não zombas-
sem mais dela. Mas o melhor ainda ocorreu durante a aula: Maria
interpretou a fala de uma personagem que o professor lhe deu e ele
descobriu que ela tinha um talento notável.
Com o decorrer do tempo, aquele professor acabou inscre-
vendo Maria em vários testes para elencos de novelas. Ela passou
em um deles e conseguiu entrar nas telinhas. Na escola, descobriu
vários bons amigos no grupo de teatro, todos eles “diferentes”
como ela.
Hoje, Maria se encontra nas novelas e no cinema. Ela agora
virou motivo de inspiração para muitas pessoas, e inveja para quem
dela debochou. Ela realizou não só o seu sonho, mas de todos que
acreditavam. Amigos? Ela fez vários, não por fama, mas pela bela
amiga que era Maria.

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Fernanda Gonçalves da Silva – 1ª A

À primeira vista

Sou um garoto magro, com olhos castanhos, cabelos longos


e pretos. Moro no interior de São Paulo. Num certo dia, mudou-
-se para o lado da minha casa uma linda menina. Com os cabelos
curtos e ruivos, um olhar encantador, pode-se dizer que foi amor à
primeira vista.
No dia seguinte, levantei-me e fui para o colégio. Chegando
lá, deparei com a nova vizinha, e na minha sala! A menina que havia
se mudado para o lado da minha casa está estudando na mesma
sala que eu! Nessa hora, fiquei sem reação, pois sou um garoto mui-
to tímido.
Quando chegou o intervalo, fui sentar com os meus amigos e
ela havia ido junto. Ela é bem mais extrovertida, diferente de mim
que sou introvertido. Ela fala de um jeito diferente, puxando mais o
“r” nas palavras que diz e, sinceramente, eu não gostei muito disso.
Depois de algumas semanas, já éramos amigos. Contudo,
percebi que o jeito de se vestir havia mudado, ela estava mais re-
belde e mostrando muito o seu corpo. Eu ainda gostava dela, mes-
mo com todas essas diferenças. O problema é que muitos outros
alunos estavam falando mal dela, difamando em todo colégio.
Ela descobriu o fato e ficou muito chateada. Vários dias se
passaram e ela não estava mais indo para o colégio. Fui visitá-la
em sua casa e ela estava em um estado crítico, seus olhos estavam
inchados, seu corpo extremamente magro e um olhar profundo,
como se pedisse por ajuda. Seus tios me falaram que ela não sorria
há muito tempo, que passava o dia trancada no quarto.
Eu me sentei ao seu lado e ela me disse que seus pais tinham
falecido há pouco tempo. Então, ela estava se lembrando deles e
sentindo muita saudade. Disse ainda que havia prometido para ela
mesma que iria mudar de estilo para que as pessoas gostassem
dela. Pedi para que não se importasse, pois eram pessoas más que
não cuidavam da sua própria vida. Ela olhou para mim, me deu um
abraço e um beijo na bochecha. Contou-me ainda que seu maior

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desejo era ir para o paraíso. Disse para aguardá-la no dia seguinte
no colégio, pois eu era uma pessoa especial para ela.
No fim, fui embora para minha casa, pensando no que ela
tinha me dito. Fiquei muito feliz com o que ela me disse: eu era es-
pecial para ela.
No outro dia, fui para o colégio e fiquei na porta esperando.
Ela não apareceu. Dias se passaram e nenhuma notícia, até que
fui em sua casa e seus tios estavam chorando muito, me disseram
que, assim que completou dezoito anos, ela pegou suas roupas e
foi para “o paraíso”. Ela estava com um cartão contendo todas as
heranças que seus pais tinham deixado para ela. Deixou apenas um
bilhete agradecendo os cuidados dos tios e pedindo para que não
se preocupassem, pois estaria feliz no paraíso. \

Gabriel Tosta Moreira – 1ª A

Namoro Adolescente

Heitor era um garoto jovem, baixo, usava óculos, cabelos li-


sos e compridos. Sua vida era boa, tinha bons amigos, até que sua
mãe o matriculou no colégio Washington Teixeira, colégio “peque-
no e chato”, nas palavras do garoto. Depois que se mudou para lá,
as pessoas estranharam seu jeito afeminado e começaram a zoá-lo.
Tudo ficou pior quando passou de agressão verbal para agressão
física. Heitor levava pontapés e tapas constantemente, sem nenhu-
ma justificativa.
Em sua sala sentava-se na frente, não conversava com nin-
guém, era excluído. Naquele dia, dada a hora do intervalo, sentou-
-se sozinho para lanchar, até que um outro jovem se aproximou e se
sentou com ele. Chamava-se Paulo, e eles conversaram o intervalo
todo. Quando tocou o sinal, Paulo levou-o até sua sala, defenden-
do-o de dois engraçadinhos que queriam lhe dar tapas. Heitor o
agradeceu por isso e foi para a sala com um belo sorriso.
Então, a amizade dos dois foi se aprofundando, até que
Heitor se apaixonou, mas não sabia como demonstrar esse sen-
timento. Um dia ele tomou coragem e disse tudo o que sentia.
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Paulo também compartilhava deste mesmo sentimento, por isso
os dois começaram a namorar. Havia muito preconceito contra os
dois, mas eles não se importavam, o amor deles era maior. Por isso,
transmitiam alegria por onde passavam. Afinal, não é todo dia que
se encontra um amor tão verdadeiro.
Depois de um tempo juntos, Heitor queria conhecer os pais
de seu namorado, mas havia um problema: o pai de Paulo era ho-
mofóbico, por isso ele não sabia nada sobre a sexualidade do filho.
Então, quando os dois chegaram na casa de Paulo e conversaram
com o pai dele, mesquinho, de uma tradicional família cristã, este
deu um tapa no rosto do filho e disse que ele era uma vergonha
para a família. Foi um verdadeiro escândalo! O pai de Paulo o man-
dou embora de casa e o garoto foi morar na casa de Heitor.
Seu pai, meses depois, arrependido do que tinha feito ao fi-
lho, foi atrás para implorar seu perdão. Afinal, o amor que sentia
por Paulo era muito maior que a opinião conservadora da socie-
dade da qual ele fazia parte. Durante esse tempo longe do filho,
ele pôde refletir que precisava apoiá-lo e não abandoná-lo na mão
de outras pessoas cheias de preconceitos. Então ele foi até a casa
onde seu filho estava morando, pedir perdão a ele, disse que foi
um erro o que havia feito e que percebeu que ele já era maduro o
suficiente para tomar suas próprias decisões e tudo que importava
era ver seu filho feliz. Os dois se abraçaram, o garoto disse que o
perdoava. O pai prometeu então melhorar, compreender melhor o
garoto, e disse que nunca mais cometeria o mesmo erro.

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Jessica Delmondes dos Santos – 1ª A

A guerra do amor

No meio de todo Caos e destruição que a guerra causou, uma


estrela nascia. Naquela guerra preconceituosa, um fato incomum
aconteceu: o amor mais puro decidiu se mostrar em meio ao fogo
cruzado.
Como poderia eu, um ser divino, envolver-me com um hu-
mano. De coração puro, mas manchado com as vidas que ele fora
obrigado a tirar para proteger sua nação.
Em contraste ao meu amado, não sou um soldado, não me
envolvo com armas e nunca matei ninguém. Quando humano, eu
era um monge puro que sempre se preocupava com todos em meu
redor, e sempre procurei ajudar qualquer um que precisasse de
meus cuidados. Vendo que eu era de tal forma, os deuses olharam
para mim e me agraciaram com a honra de ser um deles: deram-me
poderes maiores. Hoje sou um deus.
Norden já foi um país rico. Mas os nobres não aceitam ter seu
poder dividido com estrangeiros e, então, a guerra inútil se desen-
rolou. Humanos mataram elfos por se acharem inferiores, se senti-
ram ameaçados por não serem capazes de usar magia. Para mim,
uma chacina desnecessária e preconceituosa.
Meu amado, que só queria viver em paz com aqueles que lhe
eram tão queridos, precisou participar da ação de dizimar toda uma
raça. Ele não estava sozinho, tinha ao seu lado um homem em paz,
um monge que pôde alcançar o poder de um deus. Muitos consi-
derariam errado: o único soldado que conseguiu se sentir amado
e acolhido na trincheira tinha ao seu lado a motivação necessária
para lutar.
E então, tudo acabou. Vi meu amado ser atingido diante dos
meus olhos, o alto e musculoso Fernando, aquele homem sonha-
dor, que nunca tirava o sorriso do rosto, foi acertado com uma ada-
ga em seu abdômen.
Senti meu coração falhar por um segundo e logo ficar aper-
tado. Tudo estava em câmera lenta na minha cabeça e, sentir seu

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corpo ensanguentado no meu colo, despertou em mim sentimen-
tos que eu jamais havia me permitido conhecer, tristeza e raiva, que
evoluiu ao ódio.
As pessoas não podiam parar sua luta para nos ajudar, solda-
dos são feridos na guerra todos os dias, estávamos sozinhos com
nossas dores particulares. Levantei-me com cuidado para não pio-
rar a situação dele. Enchi-me de determinação, vingaria Fernando
e já não me importava mais com o cargo de “monge divino”, ali eu
era apenas um homem apaixonado.
Sozinho, eu acabaria com a guerra, sozinho eu mostraria ao
mundo o quanto um homem pode amar alguém.

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João Vitor Pereira Carmo 1ª A

Maria sete gatos

Na casa de Maria, é uma verdadeira bagunça! Ela tem sete


diferentes gatos, cada qual com qualidades e específicas maneiras
de viver. Cada um com uma personalidade diferente. É difícil para
Maria, uma senhora de oitenta e três anos, mas ela cuida muito
bem dos sete gatos.
Clyndeque gosta de dormir o dia todo e fica doidão durante
a noite. O bichinho parece um boêmio: brinca, se diverte, sai para
uma volta nos telhados vizinhos, tudo durante a noite. Mas en-
quanto há sol, ele só acorda mesmo pra comer e beber água.
Loren sempre tenta se enfiar em lugares onde não cabe, as-
sim fica preso em lugares apertados e dando trabalho para a Maria,
que já está doente e ainda tem que ficar o tempo todo livrando Lo-
ren dos perigos da vida.
Também tem o Cookie, que gosta de longas caminhadas na
praia, de tomar banho de mar, o que normalmente não tem sido
tão possível, já que Maria está cansada demais para passear com
Cookie. Mas sempre que pode ele sai correndo pelo bairro, em dis-
parada, para não esquecer a vida de atleta que ele tanto aprecia.
Ah! Tem a Raphie! Que gosta de fazer massagens em ou-
tros gatos mas, às vezes, briga com Jack, que odeia que toquem
em suas patinhas. Os dois são meio opostos, sabe? Por isso vivem
brigando, mas não se desgrudam. Maria acha que eles são mesmo
apaixonados...
Mapache é tão carinhoso! Gosta que passem a mão em sua
cabeça, que lhe cocem as orelhinhas, que lhe coloquem no colo. Se
chega qualquer visita na casa, ele vai logo se esfregando e implo-
rando atenção.
E temos também Nuno que senta-se como uma pessoa. Ma-
ria acha ele independente demais: quase nunca mia, não pede ca-
rinho, muito menos implora por mais comida. Vive quieto, na dele.
Maria vive feliz com os seus gatos que é a única família que
tem. Ela entende que cada um tem sua personalidade, seu jeito de
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ser, seus limites e, para cuidar bem de todos, trata cada qual da for-
ma como ele demonstra mais gostar. Para isso, ela procura sempre
estar perto deles, para conhecê-los e cuidar com o devido respeito.
Afinal, ela sabe o quanto eles precisam dela para viver bem.
São diferentes personalidades, diferentes formas de agir,
convivendo em um mesmo lar. Temos muitas semelhanças com os
gatos!

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Juliana de Oliveira Borba – 1ª A

Recomeço

Júlia tinha 13 anos na época, cabelos loiros e compridos, pele


tão branca que chegava a ser transparente. Jovem, mas já carrega-
va consigo tanta dor. Morava com seus pais em uma cidadezinha
de Minas Gerais.
Era só mais um dia, exatamente como os outros, acabara de
chegar da escola e estava atirada em sua cama, com o seu diário
em mãos, escrevendo sobre seu dia, como sempre fazia. Ela não
aguentava mais o que estava acontecendo, estava cansada de tudo
e de todos, cansada de apontarem o dedo e falarem que era fres-
cura... Mas continuava ali, se fazendo de forte, fingindo não se im-
portar com as piadas maldosas. Às vezes até ria delas para tentar
esconder de si mesma a tristeza.
Sabia que não podia contar com ninguém, seus pais achavam
que tudo aquilo não passava de drama. As amigas pensavam que
ela só queria chamar atenção. Estava cansada de ter que esconder
aquela dor, fingir que estava tudo bem. Sabia que não estava.
Seu diário era o único com quem ela podia desabafar, colocar
tudo para fora e aliviar um pouco toda aquela dor. Mas nem isso
estava adiantado muito ultimamente, afinal ele nunca a respondia.
Era setembro e todos estavam movimentando as redes so-
ciais com posts sobre depressão e suicídio, o conhecido “Setem-
bro Amarelo”. Júlia achava tudo aquilo uma hipocrisia, sabia que
quando setembro passasse, tudo voltaria a mesma. E o pior: muitos
daqueles que postavam sobre a campanha eram os mesmos que
cometiam bullying na escola.
Ela estava cansada e decidida a tomar uma decisão, não po-
dia mais conviver naquele mundo hipócrita, não se encaixava em
lugar nenhum. Resolveu que iria pôr fim à sua dor.
O que Júlia não esperava é que, no dia seguinte, um novato
entraria em sua sala. Pedro mostrou-se ser um garoto incrível des-
de o primeiro dia, o que colocou novamente sorrisos no rosto da
garota. Logo começaram a sair juntos e a vontade de viver voltou
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para a menina. Começaram a namorar, 5 anos depois se casaram.
Tiveram uma filha linda e, em setembro daquele ano, fizeram a tão
sonhada viagem para Disney. A vida havia lhe mostrado que coisas
boas acontecem quando você menos espera.

Juliana da Costa Ataídes – 1ª A

A senzala

Foi no interior da Bahia que nasceu uma menina de pele ne-


gra, cabelos pretos cacheados, de lábios rosados, olhos castanhos,
tímida. Perdeu seus pais muito cedo, foi criada pelos seus avós.
Uma menina com a alma de uma velha e o coração de uma criança.
Ela vivia em um tempo onde ser uma mulher negra e escrava era
um pecado que poderia ser mortal. Por causa disso, sofreu muito
na mão dos senhores para quem trabalhava, um casal. Para eles, a
única coisa que importava era dinheiro e poder.
Na dureza do dia-a- dia, ela trabalhava com muito amor e ca-
pricho, mesmo tendo sido maltratada várias vezes e de ter perdido
seus pais; mas para ela a única coisa que importava era que todos
tivessem juntos na senzala; mesmo passando por fome e sede, ela
sempre era otimista que tudo iria melhorar, sempre alegrando to-
dos a sua volta.
Certo dia, ela viu alguns escravos pedindo comida e água
perto da casa dos senhores. Quando os viu, percebeu que estavam
bastante machucados e sua vontade de ajudar o próximo foi muito
maior. Então, ela entrou na dispensa e pegou escondido alguns ali-
mentos para dar a eles. Quando viram a ação da menina, eles teme-
ram que ela fosse descoberta e que poderia até ser morta por isso.
Porém, a fome e sede deles eram tão grandes que nem hesitaram
em pegar. Essa ação se repetiu por vários dias. Até que um dia, en-
quanto ela dava comida aos escravos, um dos feitores viu aquela
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cena e chamou o seu senhor.
Neste momento, ele pediu aos feitores que arrastassem os
escravos e a menina para o tronco em plena praça pública, onde
eles foram chicoteados por um bom tempo, xingados de ladrões,
de imundos, foram humilhados. Quando os feitores terminaram ,
levaram-nos para a senzala, onde sua pele estava em carne viva.
Estavam muito machucados,fisicamente e emocionante. Os es-
cravos chicoteados não morreram, mas aquela menina que estava
dando comida infelizmente morreu com uma infecção em seus feri-
mentos que ficaram expostos por muito tempo sem cuidados. Mas
ela morreu deixando alegria e esperança no coração de cada um.
Ela foi uma menina que morreu tentando fazer a diferença, mesmo
sendo oprimida por causa da cor de pele, da sua religião e do seu
jeito de ser.
Após muitos séculos, a realidade vivida por esses escravos
continua acontecendo. Muitos negros sofrem racismo, preconceito
por causa da sua religião. Alguns sofrem casos de escravidão e são
humilhados. Para muitos, até mesmo sair de sua casa é difícil por
causa do preconceito, do racismo e de muitas pessoas que não res-
peitam a diversidade que há no mundo.

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Nayelly Rodrigues Cardoso – 1ª A

Amélia

As pessoas a chamavam de louca. Haviam aquelas ainda que,


supersticiosas ou simplesmente com a intenção de ter um assunto
fantasioso para comentar, diziam que se tratava de uma bruxa. Eu,
uma criança na época, acreditei facilmente em cada boato, o que
me fazia temer muito aquela senhora. Porém, acredito eu, minha
pequena figura infantil devia ter motivos para o medo, caso fos-
se considerada a aparência da mulher. Seus cabelos, que deviam
ser originalmente negros antes, eram acinzentados, com fios mais
brancos despontando desgrenhados, marcando bem a idade. Os
olhos eram escuros e fundos, sem nenhum tipo de vida, e eram
adornados pelas rugas no rosto com um formato incomum e ir-
regular. Contudo, um detalhe em particular era o que me causava
mais pânico em relação a ela: todas as noites, os vizinhos diziam
vê-la, através das janela de suas casas, perambulando sem rumo
pelas ruas – e por vezes chamando por algo ou alguém.
Um dia, ocasionalmente, acabei encontrando-a. Eu e minha
irmã voltávamos para casa, nos apressando para chegarmos antes
do cair completo da noite sobre nós, quando a vimos. Estava an-
dando pela pracinha principal de nosso bairro e, como dizia ser de
seu costume, gritava um nome incompreensível. Cutuquei minha
irmã e apontei para a senhora estranha. Ela, que também nutria
certo medo da mulher, me pediu para que fôssemos logo embora
e, antes de ouvir minha resposta, saiu correndo. Foi bem nesse mo-
mento que a senhora me viu. Tomada por algum pavor súbito, não
consegui me mover dali, quando ela começou a avançar em minha
direção.
Hoje, não me orgulho muito de dizer que minha única vonta-
de no momento era de me esconder.
- Mocinha! – chamou-me, assim que chegou perto o suficien-
te para que eu pudesse ouvir sua voz rouca e baixa. - Você, por aca-
so, viu o meu cachorro?
A confusão me atingiu primeiro, logo em seguida a surpre-

21
sa. De repente, cada boato ou comentário absurdo sobre aquela
velhinha se esvaíram da minha mente. Ao fim, ela era apenas isso,
uma velha senhora comum e normal como eu mesma constatei ao
chegar em casa. E seus hábitos noturnos tinham uma explicação:
Amélia, como descobri ser seu nome quando conversei com ela,
trabalhava o dia inteiro recolhendo latas para conseguir se susten-
tar e, durante a noite, vagava em busca de seu cão perdido, um vi-
ra-lata, já bem velhinho, que havia sido sua única companhia desde
que havia sido deixada pelo marido.
A partir daquele episódio, pesarosa, passei a me arrepen-
der de julgar alguém antes de qualquer outra coisa. Nunca se sabe
quando, na verdade, são pessoas que, apesar de serem diferentes
em algum aspecto, precisam de ajuda. Assim como, naquele dia es-
pecial em que firmei uma nova amizade, ajudei Amélia a encontrar
seu cachorrinho.

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Vitória Karla Viana de Morais – 1ª A

Uma brilhante e triste história de Ash

Ashley sempre foi uma garota muito alegre e animada.


Aprendeu a tocar violino aos 6 anos, ideia de sua avó, Dona Luiza,
que também tocava quando era moça, mas depois que ficou velha,
suas mãos já não eram mais as mesmas. Sua neta já se apaixonou
pelo instrumento no momento em que o tocou pela primeira vez.
Para a tristeza de Luiza, o pai da garota parecia abominar o instru-
mento. Além disso, odiava o fato de sua filha ser tão apegada a avó.
Após alguns anos, Dona Luiza ficou muito doente. Sua neta,
pra tentar animar sua avó, tocava algumas melodias no violino para
a mesma. Até que, certo dia, ela estava tocando e sua avó apenas
adormeceu. Quando Ash terminou de tocar, ela foi fazer carinho
nos cabelos de sua avó.
-Vovó, está acordada? – perguntou aflita, pois sua avó não
respondia.
-Vovó! Vovó! Acorde, por favor! – Ashley estava gritando e
chorando muito. Seu pai ouviu toda a euforia e foi ver o que estava
acontecendo.
-Ashley, que gritaria é essa aqui? – perguntou o mesmo.
-Papai, a Vovó dormiu e não acorda mais. Ela está um pouco
gelada... Será que está com frio? Por que ela não acorda, papai?
Ashley estava confusa e aflita com a situação. Sabia que sua
avó ja tinha falecido naquele momento, porém estava muito em
choque para acreditar.
-Minha filha, deixe-me ver. – John foi checar o pulso de sua
mãe... Já não tinha mais. -ASHLEY SAIA DESSE QUARTO NESSE
INSTANTE! – O homem não queria que uma “criança chorona” o
atrapalhasse ao chamar uma ambulância.
No ano de 2018, Ashley já havia feito 17 anos. Ela não era
mais uma menina alegre, cheia de vida. Após a morte de sua avó,
5 anos antes, ela acabou se isolando do mundo. Seu pai, sempre
muito ocupado com o trabalho, não passava muito tempo em casa.
Ashley acabou desenvolvendo uma depressão severa, parando de
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frequentar o colégio por meses. A única coisa que fazia Ash se sen-
tir bem era a leitura, e seu bom amigo Violino. Ela tocava aquele
instrumento como ninguém. Ficava dias tocando sem parar. Era a
única coisa que a fazia lembrar de sua amada avó. Seu pai compra-
ra outra casa, maior, espaçosa e confortável. A mesma só ficava na
biblioteca da casa ou no seu quarto. Ashley já não queria mais viver.
Estava terminando de preparar um plano que havia feito para se
matar. Mesmo amando o pai e não querendo que ele sofresse, a
garota não podia aguentar mais tanto sofrimento.
Dois meses preparando seu plano de se matar. Naquele úl-
timo dia, Ashley fez uma carta de despedida para seu pai. Depois
disso, saiu pra tomar um ar. John teria chegado em casa mais cedo
naquele mesmo dia. Para sua surpresa, a filha havia deixado a porta
de seu quarto aberta. Ele acabou indo até lá. Viu que tinha uma car-
ta em cima da cama de sua filha, com seu nome escrito.
“Querido Pai, eu não me sinto mais a mesma. Não quero
mais ficar aqui e viver essa vida de mentira. Há alguns meses fiz um
plano de tirar minha própria vida. O senhor deve estar desaponta-
do comigo, pois não sou a filha que tanto sonhava. Eu entendo. Eu
amo o senhor mesmo que tenha se esquecido de mim. Está sempre
no trabalho ou trancado em seu escritório, sei que deve ser difícil
ter uma filha chata como eu. Por isso quero te livrar desse pesadelo.
Espero que algum dia o senhor possa me perdoar. Sua amada filha,
Ashley.”
John chorava igual a uma criança. Não sabia que era assim
que sua filha se sentia. Ele estava desesperado. Não queria que
aquilo fosse verdade. A menina de repente apareceu em sua fren-
te. Ele simplesmente correu e a abraçou forte, pedindo perdão por
todos os anos que ele não havia notado a dor de sua própria filha.
John se sentia uma abominação de pai.
-Minha filha, eu te amo mais que a minha própria vida. Eu
trabalhei tanto assim nesses anos para te dar de tudo que você me-
rece nessa vida. Me perdoe se eu fui um pai ausente! Quero reco-
meçar, estar mais com você. Pode me dar uma segunda chance?
-Meu pai, o senhor está perdoado. Se o senhor não tivesse
vindo aqui me dizer tudo isso eu teria tirado minha vida pensando
que o senhor não se importava comigo. Papai, o senhor me salvou.

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25
Desenhos produzidos pelos estudantes do 1ª A

Desirê B. de Oliveira

26
Eduardo Barbosa Castilho

Elias Oliveria

27
Kaiky Kitamura

Juliana de Oliveira

28
Ana Laura Couto Teixeira – 1ªB

Amizade em tempo de diversão

Tudo que Raquel e seus amigos queriam era se divertir, e o


local em que estavam parecia perfeito para isso. Árvores para to-
dos os lados, grama que cobria todo o território, flores que enfei-
tavam delicadamente o campo verde do acampamento, barracas
estavam sendo montadas e não eram poucas. Raquel queria muito
conhecer seus colegas e aproveitar ao máximo essa viagem, que
fora tão aguardada.
Assim que Raquel chegou no acampamento, percebera que
as pessoas não a olhavam torto, com pena ou desviavam quando
ela passava. Não entenda mal, a garota ama profundamente cada
um de seus amigos, mas às vezes eles esqueciam que ela também
é uma menina como as outras, sua cadeira de rodas é apenas um
detalhe. Raquel se encaminhou até o local onde iria dormir, para
terminar de organizar suas coisas e ir curtir seu dia.
A primeira atividade que a garota colocara em sua lista era
pesca. Pescar faz a menina relembrar de sua infância na fazenda,
onde tudo parecia mágico. O lago parecia muito com o que Raquel
costumava visitar, na fazenda de seu avô, e ela não se lembrava de
ter conhecido um lugar tão bonito até então. Após dar uma boa
olhada no local, se aproximou de um garoto que pescava e parecia
muito concentrado no que fazia.
- Você já pegou algum? Parece estar bem parado hoje. – Ra-
quel falou, enquanto olhava o menino desconhecido.
- Até agora nenhum. – O garoto bufou e a encarou de volta. –
A propósito, meu nome é Bernardo. Você quer tentar?
Foi como mágica, assim que os dedos de Raquel se fecharam
em volta da vara de pesca. O anzol foi fisgado, e a garota comemo-
rou feliz, dando um abraço em seu mais novo amigo. Depois disso
os dois não se desgrudaram mais, faziam tudo juntos. Brincavam,
conversavam, riam, tudo o que faziam juntos ficava melhor e mais
divertido, Raquel acredita que essas férias haviam sido as melhores
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de sua vida, e era apenas o terceiro dia.
No quarto dia, logo cedo, Raquel já conseguia ouvir crianças
rindo alto e gritando. Também ouvira batidas frenéticas na porta,
a menina sabia que era Bernardo, pois ela estava atrasada, e seu
amigo já parecia estar impaciente.
- Eu já estou indo! –Raquel gritou, enquanto penteava seus
cabelos desajeitadamente.
- Ande logo! Nós estamos perdendo todas as brincadeiras le-
gais! – Resmungou o garoto, ainda do outro lado da porta.
- Você sabia que é um resmungão? – Indagou Raquel, en-
quanto ria alto.
- Vamos logo! – Bernardo falou rindo e bagunçando seus ca-
belos.
Bernardo e Raquel sabiam de duas coisas: uma é que esse
era seu último dia no acampamento – sabendo disso, aproveitaram
ao máximo – e a segunda coisa, é que sua amizade era algo forte
demais para se quebrar, e eles eram felizes por saber disso.
- Bê – Raquel murmurou. – Acha que vai demorar para nos
vermos novamente?
- Não tenho ideia, mas espero que não demore muito. – Res-
pondeu ele.
Naquela noite, o céu estava limpo e estrelado, o vento sopra-
va fraco em seus rostos, enquanto eles olhavam o brilho das estre-
las. Tudo parecia possível. Então, não havia motivos para desperdi-
çar o seu último dia chorando, preferiram ficar apenas tranquilos.
Raquel nunca pensara que, de um acampamento que ela nem se-
quer queria participar, iria florescer uma amizade tão linda e pura,
que superou todas as barreiras do preconceito e transformou a vida
de ambos. Raquel nunca iria esquecer o dia em que decidira pescar.

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Beatriz Torres da Costa – 1ª B

Férias de Verão

Meu nome é Luciana, meus amigos e familiares me chamam


de Lu, Ana, Luci. E por aí vai... Tenho 17 anos, moro no interior do
estado da Califórnia. Sou bolsista em uma das melhores escolas do
meu país e considerada uma “nerd” nada popular; todos os anos
meu nome vai ao mural da escola juntamente com outros “nerds”.
Essa história começa quando minha mãe e minha amiga
Emily decidem me “obrigar” a ir para um acampamento de férias
no verão. Eu não estava nem um pouco afim; minha mãe como
sempre querendo que eu fosse aos lugares para fazer novas amiza-
des e minha amiga para fazer-lhe companhia.
Eu imaginei que seria um lugar cheio de jovens embriagados,
que passavam várias noites acordados. Adivinha? Eu estava certa!
Só não imaginava que encontraria o “amor da minha vida”. Falando
assim, até parece conto de fadas. Mas não foi. Ele é daqueles caras
populares da escola, que todas as meninas desejam. Mas como em
todos os filmes de romance clichê, não é que ele me notou mesmo?
Eu estava curtindo a festa do acampamento, dançando. Na
verdade, tentando... E de repente, ao me virar, meu suco cai na ca-
misa do garoto mais popular da escola. Tentei pedir desculpas, mas
ele não quis aceitar, era sua camisa branca favorita. Quanto mais eu
tentava me desculpar, mais ele se irritava.
E foi assim que ele me notou! Eu fiquei com muita vergonha e
então, comecei a me aproximar dele. Mesmo que, no início, ele não
me desse atenção e me achasse a pessoa mais chata do mundo. De
tanto eu insistir, ele aceitou minhas desculpas. Talvez ele tenha me
achado uma garota diferente e quis me conhecer. Logo eu, que me
achava feia e irritante. Mas, com o tempo, ele mostrou que não me
via assim.
Eu não queria me iludir, nem achar que ele queria algo co-
migo, mas aquele garoto mostrou que realmente gostaria de estar
comigo e me fazer feliz. Eu estava com medo, era tudo muito novo
pra mim. Porém, decidi me entregar a esse amor de verão que me-
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xeu com meus sentimentos.
Hoje, anos depois, estou casada com o cara popular da mi-
nha escola. E, como nos contos de fadas, vivendo felizes. E será
para sempre!

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Camilly de Souza Mamede – 1ªB

A Carta

Em uma noite chuvosa, do décimo dia do mês de março de


1970, Laura Porchat, uma mulher negra que admirava todos os ho-
mens com sua beleza, dobrava a esquina, apressada para o trabalho
na rua Benjamim Constant com a rua Xavier Pereira. Seu coração
começou a bater disparado quando ouviu passos em sua direção,
no ritmo do seu caminhar. De repente, uma mão encosta em seu
ombro. Sentiu seu corpo todo estremecer, suas mãos suavam frio.
Ao se virar para trás, viu um rosto que lhe era familiar.
Era Susana Pires, uma amiga do colegial que não via há mui-
to tempo. Falava coisas que Laura não conseguia compreender,
entregou-lhe uma carta que continha uma informação confiden-
cial. Com medo, Laura pegou a carta e se escondeu atrás de uma
pilastra. Sabendo do perigo que estava correndo, leu a carta rapi-
damente e descobriu que era uma informação sobre o general, co-
mandante daquela área. Lacrou a carta e resolveu entregá-la para
policiais, pois não queria se envolver com os poderosos da ditadura.
Naquela época, era difícil uma mulher negra não ser vis-
ta como marginal e ser considerada na sociedade. Laura era uma
simples secretária, trabalhava para sustentar a si e sua mãe já bem
idosa. Quase não saía, tinha poucos amigos. Nunca gostou de se
envolver em confusões.
Após entregar a carta, os policiais desconfiaram da fala de
Laura. Afinal, acreditar em uma mulher, sobretudo negra, era de-
mais para um militar. Com esse acontecimento, resolveram tor-
turá-la até ela dizer a verdade. Passou um grande período sendo
torturada no caixão da morte, no pau de arara, e levando vários
choques, em diferentes partes do corpo, entendendo como é o re-
gime militar e como as coisas são cruéis na vida.
Perdendo as esperanças, Laura ficou muito pensativa naque-
la manhã. Tentando se conformar com o fato de que era uma pes-
soa inocente, que estava sofrendo por uma coisa que ela não tinha
feito. Sem forças para respirar, percebeu que a morte anda lado a
33
lado com a vida: às vezes não é tão difícil desejá-la. A angústia que
estava sentindo era de muita dor e sofrimento. Deu-lhe um apa-
gão, e se lembrou de quando era pequena, como era alegre e feliz,
de todo o amor que recebia dos pais, isso fazia ela sempre esquecer
a dor. Naquele momento, tinha certeza de que sua dor acabaria.
Definitivamente.

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Eduardo Sousa Oliveira – 1°B

O escritor mais jovem da comunidade

Sexta-feira, 5h da manhã, Dimas, como é mais conhecido


em sua comunidade, levanta de sua cama, se apronta com as pou-
cas opções de roupas que tem em sua velha prateleira de madeira,
e sai em direção de seu colégio. Naquela vasta escuridão, poucas
pessoas nas ruas. Dimas sempre pega o primeiro ônibus, pois ele
escolheu logo o colégio que fica do outro lado de sua cidade. Po-
rém, nunca se atrasou e muito menos faltou. Mesmo com tantos
problemas na vida, sempre sorria e dizia “bom dia” ao motorista.
E, sentado no banco mais alto do ônibus, com a janela aberta e a
sensação do vento frio em seu rosto, ele admirava tudo. Cada grafi-
te, cada pichação. Afinal, tudo é uma forma de expressão. Tudo aos
olhos do poeta é arte, o poeta tem o dom de conseguir encontrar a
beleza em tudo, e Dimas nasceu com esse dom.
Dimas, sempre que entrara em seu colégio, se via dividido
por grupos. Ele conhecia pessoas que gostam de funk, outras que
adoram rock, quem curte sertanejo, e até mesmo aquelas que pre-
ferem escrever a ouvir música. Ele sempre se aproximou de todos,
procurou conhecer tudo. Mas sua cabeça confusa não entendia o
porquê de as pessoas não quererem conhecer novos horizontes,
novos estilos, novas ideologias. Ele mesmo conhecia quem mora-
va na favela, quem morava em condomínio, e não entendia porque
as pessoas não se unem ao invés de criarem uma parede entre as
classes sociais. E como a arte poderia ajudar para que essa união
acontecesse? Sempre tentava convencer as pessoas disso através
de suas poesias, mas sempre era desprezado. E entendeu que as
pessoas estão acomodadas e confinadas dentro de suas bolhas so-
ciais.
De volta para casa, após percorrer aquele longo caminho,
Dimas deixa sua mochila de lado e, sempre com a mente cheia de
ideias, ele escreve. Elas apareciam tão rápido que, às vezes, sua
mão não acompanhava, e assim ele fazia diariamente.
Um de seus programas favoritos é ir em eventos culturais,
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ver outros poetas famosos. Ali ele alimentava seu desejo de recitar
suas poesias ao público. Oportunidades não lhe faltavam, pois em
tais em eventos sempre ofereciam momentos no palco para quem
quisesse se expressar, porém sua insegurança não lhe permitia. Mas
nesse dia de sexta-feira, Dimas criou coragem e começou a contar
esta mesma história que estou lhe contando. E finalmente sentiu-
-se livre, com seus ideais sendo transmitidos para outras pessoas.
Daí para frente, começou a ser convidado para esses palcos. Tem-
pos mais tarde, para palcos com um público maior, com câmeras
ao vivo e até mesmo à televisão. Então, suas palavras passaram a
ser registradas num livro. Dois anos depois, Dimas ficou conhecido
como o escritor mais jovem de sua comunidade.
Sexta-feira, 5h da manhã, Dimas, como é mais conhecido
em sua comunidade, se apronta com as muitas opções de peças
de roupa ainda em sua prateleira velha. Ele vai em direção a seus
sonhos, levando todo seu conhecimento para transmitir para crian-
ças, jovens, adultos, independente da classe social, para que a arte
seja a união de um todo e para todos. Dia após dia ele dá inspiração
a centenas de pessoas a nunca desistirem de seus objetivos. E essa
história ainda não acabou, um pedaço dela é escrito todos os dias.

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Eliélvis Rodrigues da Rocha – 1ª B

Aventuras na Ilha Abismo

Eram passos ligeiros sobre a estrada. O dia estava lindo, com


um sol radiante iluminando os lindos campos verdes da ilha. Marye,
ainda distante da feira, já ouvia o som das músicas animadas, os
gritos que ecoavam e o ‘’cheiro’’ de muita alegria entrava em seu
nariz. A garota chegou à feira e a cena que via era linda. Presenciava
uma enorme diversidade de etnia, cores, línguas, povos, culturas e
as mais diferentes e interessantes criaturas. Havia também extensa
variedade culinária na Feira Anual de Cultura da Ilha Abismo. Marye
adorava a feira cultural. Não só pela dinâmica de diversidade, mas
também pelo prazer de assistir a arte esplêndida da miscigenação
cultural; pois ali, comunidades nativas da ilha, aventureiros, Magos,
Elfos, Fadas, humanos, Atérios, e gnomos festejavam. E, acima de
tudo, se respeitavam.
Como de costume, a Feira Anual de Cultura durava três dias –
incluindo as noites. Contudo, o último dia foi surpreendentemente
triste. Acontece que um representante-mensageiro do rei Andrio
II anunciou que aquele seria o último ano da feira. Todos ficaram
pasmos ao ouvir aquela notícia. Mas Marye ficou mais que pasma.
A jovem sentiu-se indignada com a declaração do monarca e, cor-
rendo até uma alta pedra, escalando-a e posicionando-se frente à
multidão disse:
- Não, não é assim que desejo me recordar desta comemora-
ção! Não tem porque o rei pôr fim a Feira Anual Cultural!
Marye fez um longo discurso de como era importante que
todos os povos se unissem para celebrar. Dizia ainda do espírito de
fraternidade que todos mantinham e compartilhavam por estarem
unidos. O mensageiro do rei, todavia, retrucou dizendo:
- Quem é você para se impor diante da vontade do nosso rei?
Se ele disse que acabou, é porque há um motivo, não se pode con-
testar!
Todos se calaram naquele momento, inclusive Marye. O re-
presentante-mensageiro prosseguiu com sua fala:
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- Nas últimas Feiras Anuais de Cultura tivemos relatos da pre-
sença de contendas, causadas principalmente pelas oposições cul-
turais tradicionais. Isto causou transtornos. O rei, juntamente com
seus conselheiros, refletiu muito a respeito do problema e, juntos,
chegaram à conclusão de que o fim desta comemoração é a melhor
solução.
- Ah, mas não é mesmo!
Disse Rafiel, um jovem tido como uma ‘’ponte’’ da atual ju-
ventude da ilha com membros do Movimento Cultural Conserva-
dor. Rafiel fez um discurso com o objetivo de convencer a todos
ali presentes da extrema significância de uma celebração que ex-
punha a diversidade da Ilha Abismo. Foi então que o sentimento
do que poderia ser chamado razão ‘’brilhou esplendidamente’’ na
boca e na ação de todos os que estavam presentes na feira. Logo, a
multidão começou a gritar bravamente:
- Queremos ver o rei! Queremos ver o rei! A diversidade deve
prevalecer! A diversidade deve prevalecer!
Marye e Rafiel seguraram um na mão do outro. Tomando li-
derança em frente à multidão, exclamaram altamente a todos que
ali se encontravam:
- Vamos queixar-nos diretamente ao rei! – A maioria concor-
dou e partiram dali caminhando, até o palácio real.
Um forte estrondo ecoava sobre o portão do castelo, vozes
gritavam incansavelmente. O rei não compreendia o porquê de ta-
manha agitação. Pediu para que se abrissem os portões de aces-
so ao grande pátio real. O representante-mensageiro do monarca
chegou a ele logo em seguida, e explicou toda a situação. Andrio II
refletiu.
Já era um final de tarde. Havia chovido e finos raios do sol
penetravam o céu ainda nublado daquele triste dia, quando o rei
decidiu ouvir os que aquelas pessoas tinham a argumentar contra
sua decisão de dar fim à Feira Anual de Cultura que, para ele, nos
anteriores, tinham transtornado e tumultuado o bem-estar da ilha
e sua pacificidade. Todos os povos e criaturas optaram que Marye
Quartz, filha de aventureiros, e Rafiel, filho de Elfos, os represen-
tassem perante Andrio II. Os dois concordaram com a ideia. Marye
e Rafiel se encontraram com o soberano da ilha. Foram longas dis-
cussões dos dois jovens contra o rei. Andrio II, a certa altura do de-

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bate, disse:
- Poderia eu permitir que o bem comum da Ilha Abismo se
despedace!? Digo que, essa mistura de tantas etnias, tradições e
culturas se choquem? Tudo dever ter um limite, e imagino que essa
mistura barulhenta e desorganizada já passou deste limite! - Marye
ouvindo o rei logo respondeu:
- Não, meu soberano! Não é nesse caminho que devemos se-
guir. Ouça-me, esta junção de culturas é um fruto de anos da histó-
ria do nosso povo. E só pode ter fim se assim permitirmos. Temos
a escolha e possibilidade de intermediarmos e acharmos uma solu-
ção para estes incidentes culturais para ‘’consertá-los’’
Rafiel tomou vez na discussão e disse:
- Concordo totalmente com Marye, meu rei. Não se pode ge-
neralizar estes escândalos como regra geral – Rafiel pediu para o
monarca que fossem até o grande pátio real. O rei concordou.
Enquanto se dirigiam até o local, Marye conversou com o rei
tentando convencê-lo da importância que a miscigenação cultu-
ral tinha para a ‘’edificação’’ e consolidação da diversidade na Ilha
Abismo, acrescentando que esta diversidade contribuía para a for-
mação educacional e social da nação. Rafiel, Marye e o rei chega-
ram ao grande pátio do castelo e lá estavam os mais diversos povos
da Ilha Abismo reunidos. Era maravilhosa a cena que Andrio II e os
dois jovens presenciavam. Magos, ali mesmo, faziam magia e, o
ambiente ficava colorido. Elfos, com seus instrumentos, tocavam
músicas muito animadas, típicas de tabernas. Fadas voavam sobre
o céu estrelado da já noite. Gnomos conversavam com humanos.
Atérios e aventureiros dançavam ao que se poderia chamar de uma
pequena festa improvisada no pátio ‘’nu’’ do castelo. A visão que
Andrio II tinha falava por si só: mesmo com tantas diferenças em
tantos aspectos da vida dos povos da ilha, sobressaia-se o respeito,
a tolerância e a felicidade. O monarca virou-se para Marye e Rafiel
gritando
- Viva a diversidade! Viva o amor.
O rei Andrio II se dirigiu para uma parte alta da entrada do
castelo e disse que não mais proibiria a comemoração da Feira
Anual de Cultura. Declarou ainda que, agora, seriam duas feiras
por ano, e promoveria a acentuação da diversidade na Ilha Abismo.
Quando o soberano fez estas declarações, um brado de muita feli-

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cidade espalhou-se pelo pátio. Todos, ali presentes, continuaram a
festejar, de uma maneira ainda mais bela.
Assim, o que poderia ser o fim da celebração da diversidade,
transformou-se em um marco Histórico para a expansão cultural
da ilha. Vejam que loucura: a Ilha Abismo, conhecida por ter várias
crateras em seu centro, onde se perdiam muitos aventureiros, ‘’en-
golindo-os’’, não foi capaz de ‘’engolir’’ a exuberante e magnífica
diversidade.

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Flavia Moreira da Silva – 1ªB

O desabafo

Quando fiz meus nove anos, comecei a engordar. Desde


então, sempre fui, em meu grupo de amigas, a que mais sofria por
não ter o peso ideal que a sociedade queria.
Para completar, peguei uma doença que atinge a quem
tem problemas emocionais: vitiligo. São manchas na pele devido à
despigmentação. Elas não somem, mas existe tratamento que faz
com que elas parem de crescer.
Eu sofri e senti muita vergonha de sair de casa. Todos a
minha volta riam e faziam bullying por causa do meu peso. Uma
vez, chegaram a me negar comida, dizendo que eu não precisava,
porque já era gorda demais e que eu nem deveria sentir fome.
Na escola, eram dias difíceis, não tinha nenhuma vontade
de estudar, só queria que aquela tortura acabasse, pois onde pas-
sava achava que tinha alguém me observando. Comecei a isolar de
tudo e de todos, peito apertado, sem ânimo para nada.
Foram momentos horríveis, porém esse distanciamento
trouxe algo bom. Meus pais começaram a me notar e me ajudaram
a sair daquele momento. Comecei a fazer terapia. Foram sessões
milagrosas que me trouxeram paz e uma felicidade que me fez sen-
tir bem comigo mesma.
É claro que diversas pessoas continuam querendo me zoar
e ficam me colocando apelidos maldosos. Mas entendi que o
problema maior está com essas pessoas, que todos têm defeitos,
problemas difíceis de encarar. A sociedade é formada exatamente
por essa multiplicidade de seres, com defeitos e qualidades; o
importante é se aceitar e estar bem consigo mesmo. Hoje consigo
enxergar que tenho família e amigos ao meu lado, que me amam
e que podem contar comigo sempre que precisarem. E esse é o
sentido da vida.

41
Kaiky Batista Kitamura – 1ª B

A grande atuação

Na cidade da Campinas/SP, vivia um garoto em um bairro


pobre. Ele se chama Afonso Alves Otávio, era um sonhador, queria
ser ator de novela. Mas a mãe dele, a Dona Marilaine, sempre dizia
para ele desistir do sonho, porque eram muito pobres e ele não te-
ria chance de seguir carreira. Afonso havia descoberto sua paixão
pela atuação em um projeto social no seu bairro, quando estava
ainda nas primeiras séries escolares.
Por conta do amor que sentia, ele não aceitava o “conselho”
de sua mãe. Na escola, era quem promovia peças de teatro nas fes-
tas, todos os seus amigos e até os professores sempre diziam para
ele não desistir do seu sonho. O que ele não sabia é que as coisas se
tornariam ainda mais difíceis.
Naquele dia triste, quando estava voltando da escola, escu-
tou vários barulhos de tiro, bem perto de sua casa. Ele saiu corren-
do para ver se a sua mãe estava bem. Quando chegou na casa, se
deparou com ela morta no chão, ensanguentada. Ele ficou em cho-
que. Desesperado, só sabia chorar e tentar trazer a mãe de volta.
Só depois, na delegacia, um policial contou-lhe o que havia
ocorrido: Dona Marilaine tinha entrado no mundo do tráfico para
tentar conseguir algum dinheiro para fazer a matrícula do seu filho
em alguma escola de teatro. Ela morreu tentando realizar o sonho
do menino.
Por não ter outros parentes próximos, Afonso foi encaminha-
do para um orfanato, onde era acompanhado por uma psicóloga
para superar o trauma que havia sofrido.
Lá, ele conheceu uma cuidadora chamada Andréia. Ela tor-
nou-se a melhor amiga do garoto, ajudando ele sempre que pre-
cisava e cuidando muito bem dele. Foi com essa aproximação que
Andréia descobriu o grande sonho de Afonso e também que ele
realmente tinha um talento enorme para compor personagens. As-
sim, a cuidadora o inscreveu na seleção de uma grande companhia
de teatro, a “Arte ao topo”. No dia do teste, ele estava bastante ner-

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voso, mas a confiança e o apoio de Andréia o ajudaram a superar e
conquistar uma vaga na Companhia.
Assim, Afonso passou a frequentar as aulas três vezes por se-
mana, com a autorização do lar onde morava. Aos poucos, o garoto
ia se destacando no meio artístico.
Logo que Afonso completou 18 anos, ele foi chamado para
fazer uma novela chamada Malhação, na Rede Globo, e foi o maior
sucesso. Com seu salário, conseguiu comprar um apartamento, já
que precisou deixar a casa onde morava. Ele se sentiu mais alegre
e mais livre para fazer o que mais gostava. Toda vez que atuava em
algum lugar, passava um filme pela sua cabeça, o esforço da sua
mãe para tentar ajudá-lo na sua carreira e sua cuidadora no orfa-
nato, a Andréia, porque se não fosse por ela, Afonso nunca entraria
para companhia de teatro.
E até hoje ele leva vários sentimentos para as pessoas que
o assistem em suas casas. Além disso, contribui financeiramente
para alguns projetos sociais, na tentativa de ajudar outras crianças,
como ele próprio havia precisado um dia. Afinal, quando ele achou
que estava tudo perdido, a vida lhe deu novas oportunidades.

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Layanne Rodrigues da Silva – 1ª B

Escola não tem cor

Clara é uma menina negra, cabelo crespo e lábios carnudos.


Ela cresceu em um bairro comum de Goiânia, que é a cidade onde
seus pais sempre moraram.
Ensinaram para ela, desde pequenininha, a importância do
respeito, da educação e dos estudos, para que ela possa ter um
bom futuro. A mãe dela, quando mais nova, na época do colegial,
foi vítima de muito preconceito, por isso ela não queria o mesmo
para a filha. Então, Clara se tornou uma adolescente cheia de opi-
nião, fala o que sente e defende o que ela acredita. E ela crê que
cada pessoa tem sua importância do jeito que é.
Clara sempre teve bom desempenho na escola. Acabara de
começar o ensino médio, seus pais conseguiram uma vaga em uma
escola próximo de sua casa. Em seu primeiro dia de aula, como de
costume, ela se sentou na carteira da frente. Clara ficou nervosa, as
horas pareciam não passar. Neste dia, não fez amigos, uns a cum-
primentaram e outros olhavam de uma forma que a fez se sentir
mal.
Após quase um bimestre, os alunos de sua sala continuavam
indisciplinados e imaturos. Faziam bagunça, piadinhas a toda hora.
Isso a incomodava muito.
Um dia, depois de uma avaliação, Clara ouviu um certo co-
mentário que a deixou muito triste: “De “Clara” ela só tem o nome”,
e em seguida várias risadas. Depois desse dia, passou a se pergun-
tar o que tinha de errado com ela, e o que tinha de errado com a cor
de sua pele.
Clara resolveu não comentar com ninguém sobre o aconte-
cido. Entretanto, certa vez, estava na fila da merenda, quando foi
surpreendida por um grupo de meninas:
— A gente vai passar na sua frente!
— Não vão. — Respondeu Clara.
— A gente vai sim, porque pessoas de sua cor ficam por últi-
mo.
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Era impossível descrever o que Clara sentiu naquele momen-
to. Sua reação foi correr rapidamente para o banheiro, enquanto as
lágrimas escorriam pelo seu rosto.
A partir daquele dia, Clara passou a se afastar das pessoas, e
deixou de se esforçar nos estudos. Isso causou grande impacto nas
suas notas e também no que se passava na cabeça dela. Ela não
compreendia o porquê daquilo. Os pais de Clara perceberam que
havia algo errado, que ela estava diferente e, quando pegaram o
boletim, tiveram certeza disso. Os professores conversaram com
eles sobre o comportamento da aluna.
Quando chegaram em casa,os pais chamaram a menina para
conversar e perguntaram o que estava acontecendo e se ela estava
bem. Depois de muita insistência, Clara contou para seus pais tudo
que aconteceu. Seus pais a abraçaram, para que naquele momento
ela se sentisse protegida.
Sabendo de tudo, os pais foram à escola, informaram à dire-
toria, que convocaram os responsáveis dos alunos para uma longa
conversa junto ao batalhão escolar:
— Racismo é crime – disse um policial para os pais de um dos
alunos que estava presente.
Ao fim da conversa, os pais de Clara e ela decidiram mudar
a filha de colégio. Com isso, uma amiga da família falou sobre uma
escola referência em Goiânia, chamada “Pedro Gomes”, onde eles
conseguiram uma vaga. Clara ficou, mais uma vez, nervosa e an-
siosa em seu primeiro dia. Mas ao terminar o dia, a garota estava
aliviada e até feliz. Havia sido um dia bastante gostoso na escola.
Assim, ao chegar em casa, contou para a sua mãe como havia sido
seu dia:
—Mamãe, foi muito bom! Eles me acolheram de uma forma
incrível! Eu fiz vários colegas e até contei sobre o que aconteceu co-
migo na outra escola. Há tantas pessoas diferentes lá, cabelo roxo,
azul, eu achei muito legal a diversidade daquele colégio. E também
há vários projetos diferentes para os alunos.
—Sério! — Respondeu a mãe empolgada
—Sim! E eles me disseram que, se eu for vítima de atitudes
preconceituosas, devo avisá-los, para que possam resolver a situa-
ção, pois esse tipo de coisa não é brincadeira.
Clara encontrou uma escola legal. Entretanto, não deixou

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impune o que ocorreu na outra escola. Racismo não é brincadeira,
é crime.

Marcus Paulo Rodrigues Araújo – 1ª B

O sonho (im)possível

Sentado na porta de casa, via os meninos da minha rua brin-


car, muito triste por não ser igual a eles. Me chamo Sérgio, tenho
12 anos e sou deficiente físico . Já sofri muito, pois não poderia ser
como uma criança normal, apesar do meu sonho ser me tornar jo-
gador de basquete. Tudo isso por causa de um grave acidente de
carro que sofri quando era mais novo. O médico disse que tive sorte
de ter saído com vida. Mas será que tive mesmo? Ainda que esteja
vivo, me sinto como se não existisse.
Quando voltei para a escola, todos me olhavam como se ti-

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vesse com algum defeito, eles riam de mim pelas costas, comen-
tavam baixinho que eu nunca seria como eles e diziam para eu de-
sistir do meu sonho. Fiquei muito triste. Com o tempo, comecei a
faltar muito na escola, tinha medo de chegar lá e ser atingido por
essas mesmas pessoas, logo descobri que estava com depressão.
A única possível solução para minha deficiência era uma ci-
rurgia, porém minha família não tinha condições, ou talvez não se
importavam, assim como todos a minha volta. Quem se importaria
com um inútil? Pelo menos era assim que eu pensava.
Certo dia, entrou um novato na minha sala. Ele era normal
como todos e diferente de todos, pois não via minha deficiência
como motivo de chacota, e sim como algo normal.
Ao longo do tempo, fui conversando com ele e descobri que
tinha uma irmã, com a mesma deficiência que eu tenho. Logo após
ele ter dito isso, perguntei se ela sofria por ser como eu, mas ele
disse que ela era muito feliz, mesmo com as suas dificuldades. Fi-
quei espantado, como alguém poderia ser feliz mesmo com tantas
dificuldades , com tantas pessoas julgando? Como isso poderia ser
possível? Ele contou-me ainda que a irmã participava de um pro-
jeto social de uma ONG, voltado para deficientes físicos, e lá eles
realizavam várias atividades.
Perguntei logo onde ficava esse lugar, pois desejava muito
acabar com essa tristeza que tanto me machuca. Ele prometeu
que me levaria até lá. Fiquei muito feliz, pois vi que ele estava real-
mente tentando me ajudar. No dia seguinte, ao chegar no local, fui
recebido por um homem que me pareceu bem amigável. Fui logo
olhando à minha volta e percebi que tinha muitas crianças que, as-
sim como eu, eram deficientes físicos; porém, diferente de mim,
todos aparentavam estar felizes.
Comecei a participar das atividades. Descobri então que eles
tinham um time profissional de basquete para deficientes e que
participavam de campeonatos até nacionais. Comecei a treinar to-
dos os dias arduamente, pois o time iria participar de um campeo-
nato regional. Esse foi meu primeiro jogo e minha primeira vitória.
E assim descobri como podiam ser tão felizes, pois comparti-
lhava da mesma felicidade. Treino após treino, jogo após jogo, de-
cidi que era isso que queria para minha vida. Naquele lugar descobri
que a felicidade existe e cada um precisa encontrar a sua.

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Pâmela Xavier Viana – 1ª B

Amor entre continentes

Em um dia lindo, Kaiky Kitamure acordou cedo. Sua mãe,


Kira, já estava preparando o café da manhã, pois ele e seu pai Ki-
bera trabalhavam com tecidos em uma loja no centro de Tóquio, no
Japão. A loja deles era bem frequentada, porque os tecidos eram
de boa qualidade e Tóquio era uma cidade cheia de turistas. Antes
de seu pai acordar, Kaiky foi se arrumar. Ele era um jovem de dezoi-
to anos, com cabelos escuros, pele amarela, bocas rosadas, olhos
puxados e um metro e setenta. Era um jovem lindo por fora e por
dentro. Uma pessoa cativante. Após o café, pai e filho foram para
a loja. Chegaram lá, o centro de Tóquio já estava cheio de turistas.
Kibera disse:
-Nossa, hoje o dia será repleto de vendas!!
-Verdade, pai!!!
Estava sendo um dia movimentado, pessoas saindo e en-
trando da loja. Por volta do meio dia, O pai foi almoçar e deixou
Kaiky cuidando da loja. Logo entrou uma brasileira linda. Ela tinha
cabelos cacheados e pele negra. Uma mulher totalmente exube-
rante que se chamava Paloma. O garoto se apaixonou no mesmo
instante, seu coração pulou de amor, foi às alturas. Ele a cumpri-
mentou, imediatamente.
- Boa tarde! Tem alguma preferência?
- Boa tarde! Tenho sim. Quero um tecido para fazer um ves-
tido para mim. Minha tia me falou que essa loja tem os melhores
tecidos!!
- Sério? Vamos entrar... - Ele ficou muito feliz.
- Claro!
Eles ficaram horas conversando, até que ela escolheu o seu
tecido. Era um cetim azul caneta e, na hora de pagar, ele falou:
- Não precisa pagar. Não é sempre que uma brasileira linda
vem à minha loja. E ainda fala japonês perfeitamente!
- Lógico que não, tenho que pagar! Você fez um ótimo tra-
balho.
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-Você me pagará voltando aqui vestida nesse vestido azul ca-
neta! - Ele riu, radiante de felicidade.
-Então guardarei esse dinheiro para o próximo tecido - Disse
sorrindo.
-Combinado. Estou ansioso!
- Eu também. Até a próxima! Tchau.
O dia chegou enfim. Kaiky chegou em sua casa radiante, fa-
lando para todos que tinha conhecido o amor de sua vida. Seus pais
ficaram muito felizes. E nessa noite ele teve um sonho com Paloma:
os dois se casavam e viviam muito felizes. Sete dias se passaram
até que Kaiky voltou a ver Paloma. Ele estava sozinho, pois seu pai
havia ido almoçar. Paloma chegou vestida com o vestido azul ca-
neta, linda! Com os seus cabelos cacheados, que o vento balança-
va suavemente. Kaiky ficou radiante. Cumprimentou-a e ela, num
impulso, puxou-lhe e deu um abraço. Ele tremia, mas aproveitou
o momento. Falou que sentiu muito sua falta e ela disse o mesmo.
Os dois conversaram por horas, até marcarem o primeiro encontro
fora dali. No dia marcado, ele fechou a loja mais cedo para se ar-
rumar e porque sua mãe queria conversar com ele. Ao chegar em
casa, ela lhe fez uma pergunta:
- Filho, ela é japonesa?
Kaiky lembrou que nunca tinha pensado no preconceito da
sua família. Tradicionalistas, tinham em mente que japonês só se
casa com japonês. Ele começou a chorar.
- Porque você sabe que não pode se casar com uma mulher
que não seja japonesa, não é?
Ele ficou calado por alguns minutos e depois :
- Não, mãe, ela não é japonesa. E eu não estou preocupado
com isso, pois ela é o amor da minha vida. Se for preciso, mudo de
país.
A mãe ficou muito triste, mas disse:
Você é meu filho e eu vou te apoiar em qualquer escolha.
Agora terei que conversar com seu pai. Não sei se ele vai aceitar,
mas você ama essa mulher, isso já é o bastante!
- Obrigado, mãe!
Kaiky se arrumou e foi para o centro da cidade. Paloma es-
tava linda!
Eles se acomodaram no restaurante e ela disse:

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- Kaiky, tem muito tempo que estou guardando isso comigo,
mas hoje resolvi falar. Eu te amo e quero viver a vida inteira ao seu
lado. Casa comigo?
- Sim, lógico que caso!
E eles aproveitaram o resto da noite.
Passou -se quase um mês. Kaiky estava muito feliz e o pai es-
tava se acostumando com Paloma. No dia do casamento, foi tudo
lindo. Eles se casaram no Japão, mas com uma decoração brasileira
e vários tipos de comidas japonesas. Os dois marcaram o amor en-
tre os continentes.

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Paula Vitória da Conceição Souza – 1ª B

Um dia diferente!

Nathália era uma menina muito tímida. No colégio, sofria


vários tipos de preconceitos, tanto por ser “sozinha” como por ter
“cabelos diferentes”. Seus cabelos eram cacheados e muitos volu-
mosos, sua pele era escura, suas roupas eram largas, não eram co-
ladas como das outras garotas. Ela estudava no período da manhã
e, à tarde, ajudava sua mãe na lojinha.
Um dia, Nathália estava lendo, sentada no corredor do colé-
gio, quando um garoto começou a fazer piadas, falando como ela
era feia, que ninguém gostava de ficar perto dela por ela ser negra.
A garota, muito magoada, levantou dali chorando e correu para o
banheiro.
Lá, topou com outra garota que, querendo ajudar, perguntou
preocupada:
- O que foi? Está tudo bem?
Nathália não conseguia responder, pois o choro e a tristeza a
consumiram. Então, abaixou a cabeça, correu para a cabine do ba-
nheiro e se trancou. A outra garota, ainda muito preocupada, não
deixou-a sozinha. Foi para a porta da cabine e falou:
- Conta o que aconteceu para mim, deixa eu te ajudar! Você
não precisa passar por isso sozinha. Saia aqui fora, lave seu rosto e
vamos para um lugar calmo, para conversarmos.
Ela saiu, lavou seu rosto e as duas foram para o jardim da
escola. No caminho, a garota se apresentou, disse que seu nome
era Hanna. Chegando ao jardim, Nathália contou o que tinha acon-
tecido e, ainda chorando muito, desabafou:
- Não é a primeira vez que isso acontece. Sempre recebo esse
tipo de comentário e cada vez me deixa mais para baixo.
Então, Hanna teve a ideia de um projeto que poderia ajudar
não só Nathália, mas também outras pessoas que passavam pelo
mesmo problema. Seu projeto era escolher um dia da semana para
que os alunos pudessem ir para a escola com roupas que fossem
do seu gosto, com a cor que desejassem nos cabelos... Enfim, que
51
cada um pudesse expressar seu próprio estilo. Assim, elas seriam
livres para irem como quisessem e todos ajudariam uns aos outros
a se sentirem melhor em relação às suas diferenças.
No começo, Nathália achou que não iria funcionar. Mas Han-
na falou que faria de tudo para dar certo e que iria naquele momen-
to à coordenação para contar a ideia do projeto. Hanna pediu a
Nathália que ficasse ali, à sua espera. Um tempo depois, ela voltou
e disse que a coordenadora tinha não só apoiado, mas que até mes-
mo ela e os professores iriam participar.
No dia seguinte, quando Nathália chegou ao colégio, ficou
admirada com o tanto de pessoas que estavam participando do
projeto. Logo, Hanna correu até ela e falou:
- Você viu? Falei que ia dar certo! As pessoas adoraram! Até
alguns que tinham medo de se vestir diferente, agora estão super
felizes por poderem se vestir como gostam.
Nathália sorriu e, com os olhos brilhando, subiu para a sala
de aula. Quando a aula começou, a professora falou que aproveitou
o projeto para trazer para o colégio uma palestrante que passou
pelo mesmo problema, mas conseguiu superá-lo. Hoje, ela ajudava
as pessoas a se sentirem bem consigo mesmas. A professora pediu
para que todos descessem para o pátio, pois a palestrante estaria
esperando. Todas as salas foram para lá também. Quando acabou,
muitas pessoas estavam emocionadas.
No caminho para a sala, aquele garoto que tinha feito as pia-
das com Nathália, parou-a e, de cabeça baixa, pediu desculpas. Fa-
lou que não aguentava olhar em seus olhos, pois estava com muita
vergonha do que tinha feito. Nathália o perdoou e disse que estava
feliz por ele ter reconhecido o seu erro. A partir desse dia, ela nunca
mais sofreu nenhum preconceito dentro do colégio, e fez muitas
amizades. Uma delas era de Hann

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Pedro Otávio Sales da Silva – 1ª B

Um sonho possível

Essa é a história de José Figueira Gonçalves, mais conhecido


como José Filds, um menino muito pobre, negro, dezessete anos
de idade, da periferia de São Paulo. Ele perdeu mãe e pai em um
acidente de moto quando tinha apenas três anos. Ainda jovem, ele
estudava de manhã e, após os estudos, passava por vários times de
futebol, à procura de uma chance nas categorias de base. Sua avó
Elisabeth, de sessenta e cinco anos, aposentada, o considera como
um filho, ela estava sempre correndo atrás de peneiras para que
seu neto entrasse no futebol, que é o que ele tanto desejava.
José Filds, menino humilde, se doava ao máximo na escola,
53
tirando as maiores notas da sala. O garoto já estava quase desis-
tindo do seu grande sonho, pois não estava nada fácil para ele con-
ciliar a escola, que era sua prioridade, com as atividades de casa e
ainda correr atrás de testes, ficou muito difícil para o garoto.
Certo dia, José estava jogando bola com seus amigos num
campinho perto de casa. Apareceu por lá um olheiro de um Clube
famoso do Rio De Janeiro, à procura de um garoto humilde da co-
munidade para fazer um teste que iria se integrar às categorias de
Base. José Filds foi chamado para fazer o teste, durante uma sema-
na, na cidade maravilhosa, junto com mais um amigo.
Chegando lá, ele e Carlos Eduardo, como se chamava seu
amigo, se apresentaram para fazer o teste com diversos outros ga-
rotos de várias cidades do Brasil, dentre eles garotos ricos e com
condições de vida consideráveis, mas nenhum dos dois abaixou a
cabeça desistindo antes da hora. Devido a uma falta ocorrida no
teste, um garoto fez racismo com José, chamando-o de macaco e
partindo para briga. E o pior: o clube não fez nada para defendê-
-lo e ainda disse que tinha sido tudo culpa dele. O garoto resolveu
desistir de vez da carreira de jogador, voltando para casa com seu
amigo.
Com a chance de ser um jogador profissional de futebol en-
cerrada, ele resolveu se dedicar inteiramente aos estudos. Conti-
nuou sendo o primeiro da sala e estudava muito em casa. No 3º ano
do ensino médio, José fez o Enem, entendendo que essa poderia
ser a grande chance de sua vida.
Então, José Filds conseguiu passar no Enem para o curso de
Jornalismo, se dedicou bastante nos quatro anos vividos na facul-
dade, fez mestrado, e hoje, após alguns anos, José Figueira Gonçal-
ves, o José Filds, consegue ganhar a vida em cima do futebol, não
como jogador, mas sim como jornalista esportivo de uma grande
emissora de televisão, tecendo seus comentários críticos a respeito
do mundo da bola. Ele conseguiu vencer a dificuldade de morar na
periferia, tirando sua avó da miséria e colocando-a em um aparta-
mento luxuoso de frente para praia de Copacabana no Rio de Janei-
ro, mesma cidade em que ele sofreu um ataque de racismo quando
era mais novo.

54
Ryan Silva Souza – 1ª B

Uma segunda chance

Adrian era um garoto normal como os outros adolescentes


de sua idade, com problemas, dificuldades emocionais e difícil
aceitação de si mesmo. Branco, alto, de olhos castanhos e cabelo
comprido, era caçoado pelos amigos. Na escola, era o caçula de sua
turma.
Quando criança, participava de vários grupos de amigos,
adorava estudar, os olhos brilhavam quando o despertador ou sua
mãe o acordavam. Era feliz, mas de repente sua história mudou.
Há alguns dias, sua madrinha praticamente o abandonou,
mudou de cidade sem deixar um recado ou ligação, sem se despe-
dir. Ela era uma pessoa muito especial para Adrian, por isso este foi
o gatilho, o início de muitos outros fatos ruins que se sucederam.
Sua vida não era a mesma. Problemas em casa, na escola,
em todo lugar. É como se nada mais no mundo tivesse cor, como
um filme em preto e branco, doloroso, que não tem fim.
Tudo começava ao acordar, sabendo que teria que estudar.
Chegando ao colégio, avistava rodinhas de amigos, cada uma de
um jeito. A diversidade era enorme e achava isso legal, pois nin-
guém deveria ser igual. Mas ele não se sentia aceito. Era como se
sua presença não fizesse diferença e aqueles que achava serem
seus amigos, na verdade, eram inimigos.
Um certo dia, acordou com o “pé direito” , tinha fé que o dia
seria melhor. Que no colégio seria aceito, pois se encontrava feliz.
Mas tudo isso estava só em sua mente...
Logo na segunda aula, começaram as piadinhas. Ele tentou
aguentar, mas era como um balão enchendo, que poderia estourar
a qualquer momento. Ele não aguentava mais tudo aquilo, aquelas
pessoas, aquela vida.
Ao chegar o fim do dia, Adrian começava a sentir a liberdade,
pois sairia daquele inferno. Na nona aula, quando estava terminan-
do uma atividade avaliativa, um dos garotos que o caçoava rasga
sua folha. Aquilo foi o estouro do balão.
55
Adrian já não era mais ele. Dominado pela raiva, avançou e
espancou aquele agressor até este parar de respirar. Quando o ou-
tro já não respondia, ele voltou a si. Ao se deparar com aquilo, avis-
tou dedos o acusando. Então, para se livrar daquele sofrimento, se
jogou da janela da sala.
No momento em que estava a tocar o chão, um grito o acor-
dou, era sua mãe dizendo que se levantasse, pois estava atrasado.
Naquele instante, respirou aliviado e afirmou em seus pensamen-
tos que seria diferente, enfrentaria a realidade de cabeça erguida e
a vida continuaria.

Desenhos produzidos pelos estudantes do 1ª B

Emanuela Alves

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Emilly V.

Wellyton Lucas

57
Caio Mendes

Angelica Belchior

58
Felipe Augusto Marcio Pereira

Arthur Rodrigues Alliny Lorrany

59
Ana Júlia Marques Ferreira- 1°C

As batidas

Toda aquela calmaria me assombrava, cada ruído que in-


terrompia aquele silêncio formidável que adentrava imensamente
minha alma. Vi-me encurralada e em completo desespero, prostra-
da, sozinha em corpo físico. Cercada de pensamentos aterrorizan-
tes; pensamentos desgrenhados, cheios de angústia e aflição.
Antes de tamanha melancolia se fazer entrelaçada em
minha essência, um ser estonteante e inteiramente feliz se fazia
presente. Um coração e uma alma bondosa, casta e transparente,
que aos poucos foi sendo corroída pela realidade mundana, indi-
ferente e fria que ia se apresentando cada vez mais cruel. Pessoas
ao meu redor, que foram florescendo junto a mim, ruíram ao meu
lado, passaram a exalar seu repúdio e ignorância, a mais verdadeira
podridão da humanidade.
E foi assim, por essa degradação infeliz do caráter huma-
no, que me fizeram entrar em ruínas junto a eles, de um jeito dife-
rente, mas também, sofri as consequências do desprezo daqueles
tais “amigos”. E mais profundamente, o motivo de minha maior
infelicidade e angústia vieram daqueles que mais subestimei tama-
nha barbaridade, aqueles que me tiveram como filha e criaram-me
como tal.
O verdadeiro terror se passava diante dos meus olhos e no
ápice de minha ingenuidade, me recusava a crer que tais palavras
fossem ditas por pura crueldade, preferia acreditar que tudo aquilo
era uma forma de me proteger e almejar sempre o melhor.
Bem, meu medo se concretizou e dali se sucedeu os meses
em que percebi como é difícil se sentir diferente de todos ao seu
redor, onde não se pode ser infeliz ou se sentir insuficiente, com-
pletamente substituível e incapaz. Todos que me cobraram ânimo,
atitudes, notas e “caráter”, fizeram parte da minha ruína, a comple-
ta escuridão, aflição, aquele silêncio ensurdecedor.
E lá estava eu, na completa escuridão, em meio a mais de-
sesperadora crise, depois de me cansar de ouvir tudo aquilo, me
60
sentir sem nenhum valor, ansiando que tudo aquilo acabasse de
vez, com o coração disparado, mais acelerado do que nunca, com
certeza, mais de 160 batimentos por minuto. Cada minuto, uma
eternidade; uma eternidade que dali foi me curando, me mostran-
do a luz, cada batimento era como uma tempestade de cura, dei-
xando para trás, junto às lágrimas, todo aquele sofrimento e reto-
mando enfim os meus batimentos.

61
Gabriel Silva Fontes - 1°C

O Destino

A linha do destino decidiu então que, dentro de um pequeno


barraco numa favela do Rio de Janeiro, nasceriam dois irmãos, que
ao longo de sua vida seriam dois marcantes jovens. E assim nascem
João e Vitor, filhos da humilde Maria das Graças, ela era o típico es-
tereótipo de mulher ferrenha e trabalhadora, “mãe solteira” sem-
pre cuidou de si mesma; mulher de pele escura, nunca se vitimizou
diante da sociedade, levantou sempre a cabeça e lutou pra tentar
seu espaço no mundo. Ela não conseguiu muita coisa, apenas um
barraco numa favela, porém, já não passava fome, e isso já era um
ótimo ponto positivo, visto que Maria já havia enfrentado a fome
frente a frente.
Seus filhos, João e Vitor, só tinham um ano de diferença um
para o outro e isso, de certa forma, era bom, pois iriam passar pe-
las fases da vida juntos. Mas eles eram muito diferentes: com seis
anos João já despertava seu talento artístico e interesse sobre essas
coisas, era um menino um tanto à frente de sua idade. Dançava em
sua casa como se estivesse em um verdadeiro palco; baixinho, pele
escura e cabelo crespo, quando o garoto entrou pra escola, desco-
briu que a mesma tinha um grupo de balé e logo descobriu para o
que havia nascido.
Em contrapartida, seu irmão, Vitor, desde cedo também já
expressava o que seria seu futuro: o garoto sempre foi muito ga-
nancioso e apegado a bens materiais. Ele via os traficantes da fave-
la onde morava, com roupas de luxo e carros caros, e se pergunta-
va o porquê daquilo ser errado. Ainda garoto, percebeu como sua
pele influenciava em sua vida e, com o ódio guardado dentro de si,
fez a sua primeira atividade com o crime: numa operação policial,
aproveitou o fato de ser uma criança e avisou a um dos traficantes
que a polícia estava subindo o morro. O menino ganhou uma certa
confiança dos bandidos, que começaram a dar mais moral para o
garoto ali.

62
E então os dois foram crescendo, a mãe vivia ocupada com
o trabalho de doméstica, não prestava atenção nos garotos. Logo,
não viu que seus filhos estavam cada vez mais perto de serem aqui-
lo que queriam: Vitor, com 17 anos, já fazia parte do crime organi-
zado, havia inclusive trocado tiros com policiais, o que resultou na
morte de um deles; e João, com seus 18 anos, fazia aulas de dança
e teatro em uma escola de artes da região. Por conta de seu talen-
to, havia ganhado uma bolsa e não precisava pagar. Quando tinha
apresentações, até recebia um cachê, que colocava todo para aju-
dar em casa.
Foi então que aconteceu o dia inesquecível para os garotos.
João fora chamado para um concurso de escolas de dança, pode-
ria ir para São Paulo com tudo pago, viver o que sonhou. Vitor fora
chamado para se tornar por fim dono da boca da favela onde mo-
rava, viver o que também sonhou. As pernas tremiam ao ver os ju-
rados no palco, esperando o garoto começar sua dança. O coração
palpitava ao se ver à frente do tráfico do morro. Tudo corria bem
para os dois. Foi então que houve uma operação surpresa da polí-
cia, com vários homens subindo a favela para realizar seu trabalho.
Vitor ordena que todos começassem a disparar, o tiroteio começa.
A apresentação fluida do rapaz impressiona os jurados, que o assis-
tem maravilhados com a desenvoltura do garoto. Vitor se vê encur-
ralado, cercado por policiais. João termina sua apresentação, olha
para os jurados. Vitor olha para os policiais. Uma salva de palmas e
uma salva de tiros são ouvidas no mesmo instante. Após um tempo
de silêncio, João agradece aos jurados e se retira do palco. O corpo
de Vitor, cheio de sangue e tiros, é remexido, para que a cena fosse
mais favorável à polícia. Assim, se inicia uma vida e se finaliza uma
vida.

63
Geovana Antoniele Cândido Cardoso – 1ª C

Como uma última melodia

Todos conseguem rir e chorar das coisas. Eu não consigo. Eu


acho que sou muito ruim em me expressar, comparado às outras
pessoas. Eu não consigo chorar direito, fico sufocado, sentindo dor,
quero gritar. Eu sempre quis que alguém me entendesse, mesmo
64
que só um pouco. Estou no ano de 1884, no centro de uma grande
cidade, dentro de um dormitório de uma imensa universidade. Sou
um completo desconhecido que também desconhece a todos. As-
sim que tenho algum tempo, corro para meu lugar favorito, onde
eu posso descansar e fazer meus desenhos. É um local com pouca
iluminação, em baixo de uma escada que leva para uma região proi-
bida para os alunos. É um pouco sujo, mas não me importo. Passo
toda a parte do meu tempo livre ali, sozinho e tranquilo.
Após um período de aulas chatas e desinteressantes, corri
novamente para o meu local secreto, esperando a paz e a calmaria.
Mas...
- O que?
Eu não estava mais sozinho. Um som saía debaixo das esca-
das, era a melodia de alguma música que até hoje ainda guardo em
minha memória, aquele doce e estranho som. Devagar e silenciosa-
mente, observei com cautela quem havia tomado meu esconderijo
secreto. A pouca luz que emitia diretamente naquele lugar fez com
que a face do tal intruso chamasse ainda mais minha atenção: um
moço alto e esbelto, de cabelos e olhos negros, mãos longas com
dedos finos, segurando uma guitarra alaranjada, nada convencio-
nal. Naquele momento, senti subitamente um ardor e uma palpi-
tação, talvez fosse a raiva de perder meu espaço. Saí rapidamente
batendo os pés de forma infantil. Passei alguns dias indo até lá, mas
ele sempre estava no mesmo lugar, tocando a mesma melodia –
que já estava ficando chata –. Comecei a perder a paciência e decidi
a mim mesmo que, na próxima vez, o expulsaria de lá... Não foi o
que aconteceu. No quinto dia, parei o observando e tentando negar
a vontade de querer desenhá-lo naquele mesmo instante.
- Sabe... Se você quiser, pode ficar aqui também.
“Fui descoberto!” Pensei, andando em direção a ele, mas
sem mostrar interesse algum.
- Certo... - respondi, sem nem mesmo pensar na raiva que
tive por ele dizer aquelas palavras, como se eu estivera tomando
seu lugar e não o contrário. Simplesmente não consegui insultá-lo.
Sentando na sua frente, tirei as minhas folhas e comecei a dese-
nhá-lo.
- O que está fazendo? – Ele parecia um pouco surpreso ao
perguntar isso.

65
- Estou lhe desenhando.
- Huuumm... Qual é o seu nome?
- Não digo. – Eu realmente não sei dizer o motivo de eu não
ter dito meu nome naquela hora, mas ele também não disse o dele.
Os dias foram se passando e nos encontrávamos naquele lu-
gar só nosso, todos os dias, em todos os intervalos. Com o passar
do tempo, fui me apegando a ele, era um sentimento bom e re-
confortante e, por mais que eu fosse incapaz de demonstrar, que-
ria ficar cada vez mais próximo daquele garoto. Mesmo que, por
vezes,eu não mostrasse muito interesse, ele não se distanciou ou
ficou irritado comigo. Eu sentia... Era como se ele visse através de
mim, e isso me confortava. Passamos meses sem nem saber os no-
mes um do outro.
- Ei. O que você sempre toca?
- Hum...
Eu não me dei conta se isso seria inconveniente ou não, mas
permaneci esperando a resposta durante algum tempo.
- Eu estou em uma banda, sabe. E resolvi escrever uma mú-
sica... Mas não consigo pensar em uma letra, então compus apenas
a melodia.
Eu senti um imenso desejo de ajudá-lo, mas também acredi-
tei que ele deveria fazer aquilo por si mesmo.
No verão de 1885, eu consegui pela primeira vez demonstrar
vestígios do meu sentimento. Um sentimento quente e satisfató-
rio, sufocante, agradável e principalmente irritante, por eu ser in-
capaz de controlá-lo, mas eu queria mais e mais que ele fosse recí-
proco. Nesse ano, no meu aniversário, descobri algo simplesmente
inexplicável, no momento em que senti aquela maciez nos meus
lábios. A respiração quente, as batidas desesperadas, eu não sabia
identificar se eram as minhas ou as dele. Finalmente soube que eu
havia encontrado aquela pessoa. Podia não parecer, mas meus dias
estavam cada vez mais bonitos e, cada vez que íamos ao nosso lu-
gar secreto, fazendo coisas que só nós podíamos saber, era como
se o êxtase nos deixasse cada vez mais confortáveis um com o ou-
tro. Já sabíamos de muitas coisas, inclusive os nossos nomes.
Foi no verão do ano seguinte, quando eu planejava sair da-
quele lugar e pensar em um futuro só nosso... Eu estava bastante
animado, esperando encontrá-lo no lugar de sempre para dar a no-

66
tícia, mas...
- Ele deve ter se atrasado... – falei para as paredes.
Naquele dia, eu passei toda a tarde o esperando, agoniado
por não receber nenhum tipo de notícia, até que resolvi voltar para
casa, cheio de preocupação. No dia seguinte, ele também não apa-
receu, senti que algo estava errado e comecei a achar que tinha cul-
pa também. Imediatamente, corri até a sua casa. Ambos moráva-
mos sozinhos e ele também não tinha muita ligação com a família.
Chegando lá, me surpreendi ao notar que a porta estava entreaber-
ta, o que me impulsionou a apenas entrar sem dizer nada.
A mancha vermelha cobria o pavimento, pintado com o san-
gue de alguém que você ama... Eu ainda gostaria de uma chance
para nos despedirmos de novo. No mesmo instante, a melancolia
se espalhava ao vento, lançando uma sombra onde tudo se acumu-
la. Pela primeira vez, uma tormenta de sentimentos me tomou por
completo, como as lágrimas que transbordaram naquele momen-
to. Sentia que o brilho da vida apenas havia desaparecido.
Eu não conseguia me perdoar... Eu não conseguia te perdoar.
Não ter a certeza do porquê você havia tirado o que era de mais pre-
cioso para mim. Você fez com que a tortura incessante prosseguis-
se. Todos os dias ficando naquele lugar eu esperava te encontrar. Eu
posso escutar sua respiração, parece tão real. Eu posso ouvi-lo. As
batidas do seu coração ainda são tão reais... O desejo, que eu pedi
naquela noite de dor, eu vou secretamente trancá-lo em mim.

67
Jordana Xavier Dias - 1°C.

Fundada para salvar, usada para condenar

Ontem, quando desci do ônibus perto de minha casa, passei


por uma praça. Já era final de tarde e havia algumas pessoas apro-
veitando seu momento de lazer, passeando com seu animalzinho,
levando as crianças para brincar e espairecendo as ideias.
Andava tranquilamente, aproveitando aquele cenário.
Avistei longe uma dupla de amigos. A praça era bem gran-
de, não conseguia identificar muito bem o que faziam ali, aproxi-
mei- me sem chamar a atenção dos dois, vi que se tratava de uma
menina muito bonita e seu amigo. Pelo que pude entender, era um
amigo de infância. Mantive-me um pouco distante, não sabia se se-
ria bem recebida pela dupla e questionei-me:
-O que será que eles estão fazendo para estarem se escon-
dendo assim, com tanta angústia?
Sentei-me em um banco próximo e observei disfarçadamen-
te, fingindo ler um livro. Enfim, consegui ver o que eles faziam: es-
tavam adorando as suas crenças e entendi o porquê de tanto medo
e receio dos olhares alheios.
Aproximei mais, vi que eram dois amigos cultuando uma re-
ligião afrodescendente.
Na hora senti algo em meu peito, indaguei a possibilidade de
ser minha mãe, a mãe dos mares, tentando se comunicar comigo,
de certa forma.
Sem espantá-los, eu disse:
- Com licença, não pude deixar de reparar que vocês são de
uma religião afrodescendente. Se não for incômodo, posso saber
qual a religião de vocês?
Eles, chocados com minha abordagem, gaguejaram um pou-
co e disseram que eram praticantes da Umbanda. Meu coração en-
cheu-se por completo ao entender o motivo daquele sentimento
que estava em meu peito.
Realmente era o que eu imaginava: minha mãezinha. Fiz al-
gumas perguntas à dupla, até que fomos interrompidos por uma
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senhora de meia idade que chegou com um tom alto e grosseiro:
- QUE TIPO DE BRUXARIA VOCÊS ESTÃO PRATICANDO?
Ameaçou-nos de chamar a polícia e nos mandou parar o que
fazíamos o quanto antes. Ela nos ofendeu profundamente, com pa-
lavras secas e dolorosas.
Dizia-se evangélica e, quando acabou seu discurso de ódio e
intolerância, disse algo que jamais esquecerei:
- AQUI NÃO É LUGAR PARA FEITIÇARIA, SEUS LUGARES
ESTÃO RESERVADOS ONDE VOCÊS MERECEM, QUEIMANDO
NO FOGO DO INFERNO!
Retirei-me aos prantos e todos olhavam assustados para
aquela cena.
“Como pode alguém acusar e condenar pessoas que não pra-
ticavam nenhum mal?”
Questionei-me por horas. “Como podem julgar alguém por
fazer coisas que desconhece, não tem a menor lógica, qual será o
motivo de tanto ódio”?
De uma coisa tenho plena certeza, mamãe Iemanjá há de
nos proteger contra esse tipo de coisa, Odoyá Iemanjá.

69
Lucas Pereira Maia da Costa

Charlotte

- Como foi sua última semana?


- Sinceramente? Eu sou a única mulher que trabalha no jor-
nal da minha faculdade e eu tenho que ouvir muita coisa todos os
dias, eu sinto que as frases e piadas machistas se intensificaram nas
últimas semanas após o atentado que houve em Montreal, um ho-
mem matou 13 mulheres e feriu 18, o motivo foi porque elas eram
feministas. Os homens que trabalham no jornal agem como se esse
atentado fosse motivo de piadas, como se elas merecessem o que
aconteceu.
- Você já pensou em ir ao reitor da sua faculdade para falar
sobre isso?
- Minha namorada deu a mesma dica, mas ele sempre diz
que vai fazer algo e as coisas nunca mudam, nunca, só se intensifi-
cam. Acho que quando você é jovem, as pessoas esperam que acei-
te as coisas mais facilmente. Um dia desses, minha namorada e eu
estávamos estudando na biblioteca da faculdade, quando um ga-
roto sentou-se ao lado dela e disse algo que eu não consegui ouvir,
quando ele terminou de falar ela deu um tapa na cara dele e então
ele saiu rindo, ela se virou para mim e começou a chorar, eu per-
guntei o que ele tinha dito e ela me disse que ele perguntou se eu
e ela poderíamos nos beijar na frente dele, pois ele ficava excitado
quando duas garotas se pegavam na frente dele. Depois de alguns
dias quando eu cheguei em casa, eu a encontrei no banheiro com os
braços banhados em sangue, ela voltou a praticar automutilação.
- E vocês denunciaram o garoto?
-Sim, mas como sempre eles não fizeram nada, então eu…
- Então você?
- Não importa, o que importa é que ele desapareceu, ele não
aparece na faculdade já faz 4 dias, nós normalmente o víamos to-
dos os dias nos corredores, alguns amigos dele até passaram nos
corredores da faculdade perguntando se alguém tinha o visto.
- Em algum momento ele vai aparecer.
70
- Sim e quando o encontrarem eu vou estar pronta para es-
crever a matéria pro jornal.
- Mas... - Diz o psicólogo ao se inclinar para frente-- como
você se sente com tudo isso acontecendo?
- Eu não me sinto bem, mas pelo menos não me sinto mal.
Eu acho que nunca te falei da minha infância antes, mas podemos
dizer que eu já estou acostumada a acontecimentos ruins. Quan-
do eu tinha 8 anos eu me interessava muito por química e adorava
testar algumas coisas em insetos no quintal da minha antiga casa.
Foi quando eu decidi testar em algo maior, eu tinha conseguido um
veneno nesse dia, dando uma desculpa para meus pais de que eu
precisava para um trabalho escolar, eu comecei a testar em for-
migas quando o gato do vizinho que morava ao lado apareceu em
meu quintal. Eu o chamei até mim e comecei a dar algumas coisas
com as quais eu brincava, eu dei para ele beber alguns produtos de
limpeza até que eu decidi dar um pouco do veneno para ele, eu o
misturei no leite e ele bebeu. Meus pais me chamaram para casa,
pois o jantar tinha ficado pronto e por isso eu não vi o que aconte-
ceu com o gato naquele momento.
Mais tarde o vizinho, dono do gato, foi preso por invadir a
nossa casa no meio da noite e matar meus pais na minha frente,
disse à polícia que o motivo foi por eu ter matado o gato dele. Ele
era um louco, todos da vizinhança sabiam disso, depois disso ele foi
internado em um manicômio. Eu fui acolhida por um tio, que bebia
muito, eu ia pra escola e quando voltava ele estava caído no sofá
desacordado. Dos 14 anos que eu morei com ele eu não me lembro
de nenhuma conversa que tivemos a não ser nos dias que eu tinha
que avisá-lo de reuniões da escola em que ele precisava ir.
Aos meus 14 anos, me descobri lésbica, eu e uma colega nos
beijamos no banheiro da escola e de alguma forma alguém desco-
briu e espalhou pra escola toda. Eu e a garota que eu havia beijado
fomos agredidas por um grupo de alunas no meio do corredor da
escola. A partir daí essas coisas passaram a acontecer ocasional-
mente, nós já estamos em 1984 e mesmo assim as pessoas agiam
da mesma forma como agiam a 7 anos atrás. O alarme em cima da
mesa toca, indicando o fim da consulta. - hoje foi rápido.
- Sim. Vejo-te na semana que vem Charlotte.
Eu saí do consultório e entrei em meu carro que estava no

71
estacionamento do prédio, guardei minha bolsa no porta luvas e
olhei para o encosto do banco do passageiro onde tinha uma man-
cha grande e vermelha.
- Droga! Deveria ter tomado mais cuidado, agora preciso dar
um jeito de limpar isso.

Maria Eduarda Garcia - 1° C

Eu sei que nunca a esquecerei

Acredito que sempre me conheci bem. Sempre estive mui-


to ciente de minhas escolhas e também sempre soube organizar
meus sentimentos, minha vida escolar e meu quarto. Eu sou uma
menina comum, daquelas que se encaixa na sociedade e é aceita
aonde vai. Meus pais eram evangélicos e meu pai, pastor, me fazia
ir à igreja todos os dias. Eu ia por costume. Sabe, quando você se
habitua com a rotina e tudo que você faz vira costume? Era assim
que eu me sentia. Mas sentia que faltava algo, por mais que minha
vida parecesse organizada e tranquila. Faltava algo.
Quando eu tinha 17 anos, meus pais se separaram. Então,
minha vida virou uma bagunça. Eles viviam uma relação abusiva,
por parte do meu pai. Perdi as contas de quantas vezes ele agrediu
minha mãe, e aquilo doía em mim.
Pouco tempo depois, entramos de férias na escola. Esse pe-
ríodo serviu pra eu pensar um pouco, ler uns livros e esfriar a minha
cabeça. A rotina mudou, mas eu ainda sentia um vazio, algo falta-
va. Este sentimento e a monotonia das férias passaram a me inco-
modar. A mesmice me matava todos os dias um pouquinho, não
estava sabendo lidar com tudo.
Finalmente, voltamos das férias. No primeiro dia de aula,
acordei atrasada e mal me arrumei. A verdade é que, apesar da
mesmice das férias, eu não queria estar na escola. Talvez, eu pre-

72
cisasse de mais tempo para me adaptar à minha “nova família”, ao
meu novo dia a dia. Afinal, minha vida que era toda organizada, ti-
nha virado uma bagunça em um piscar de olhos.
Quando cheguei na sala, atrasada como nunca aconteceu,
todo mundo me olhou e eu senti vergonha de mim mesma. Quan-
do olhei pro lado, eu paralisei. Sabe aquelas cenas de filmes que
passam devagar, em câmera lenta? Eu tive a visão mais linda que eu
poderia ter na minha vida. Era a Lígia, a novata da turma. Ela tinha
cabelos enroladinhos, a pele negra e os olhos marcantes. Lígia era
uma visão privilegiada no meio de tanta gente estranha e louca.
Quando a vi, o meu coração batia tão rápido que quase saía pela
boca e eu suava frio. Minha cabeça acabava de ficar mais bagunça-
da que a minha vida! Eu não entendia o que estava acontecendo. Eu
sabia que era bom, mas nunca tinha sentido isso antes e, pra mim,
isso era pecado. Neguei-me a sentir isso, mas era muito difícil. Tal-
vez fosse só coisa da minha cabeça. Na hora do intervalo, Lígia sen-
tou ao lado e começou a contar de onde vinha e o que fazia. Mas eu
só conseguia prestar atenção naqueles olhos grandes e no cheiro
de rosas que ela tinha. Logo ela falou - Está me deixando sem gra-
ça, por que me olha assim? E eu disse - Não consigo explicar, senti
algo diferente quando te vi, ela sorriu e deitou com o rostinho na
mesa olhando para mim.
Depois de uns dias, virou rotina fazer tudo juntas e, cada dia
que passava, eu prestava menos atenção no que ela falava e mais
atenção no jeito que falava que olhava e que mexia os cabelos en-
roladinhos. Então, comecei a aceitar o que estava acontecendo,
pois, por mais diferente que fosse, de alguma forma, parecia que
ela trouxera total sentido pra minha vida. Eu não sabia como contar
isso pra alguém. Na verdade, eu acho que não deveria contar isso
pra ninguém.
Certo dia, tomei coragem, porém com muito medo, mas to-
mei coragem. Eu levantei decidida em falar pra Lígia tudo o que eu
sentia por ela. Chamei-a pra conversar a sós, ela estava com um
olhar muito triste. Falei tudo que sentia, desde o primeiro dia e ela
olhou chorando pra mim e disse “Amanda, eu te amo. Mas estou
indo para a África, vou me dedicar a ajudar os refugiados de guerra.
Ser voluntária lá sempre foi meu sonho”. Eu me desmanchei em
lágrimas, o amor da minha vida iria embora. Contudo, Lígia tornou-

73
-se parte de quem eu me tornei. Graças a ela, eu me redescobri.
Eu esperava um dia reencontrá-la e viver tudo que tinha planejado.
Mas, depois de alguns anos, fiquei sabendo que ela saiu da África,
mudou-se para o Afeganistão, para ser voluntária lá também e, du-
rante um ataque no acampamento em que ela estava, levou um tiro
e morreu.
Nós nunca viveríamos juntas, eu nunca mais sentiria aquele
cheiro de rosas ou veria aqueles olhos marcantes, mas eu sei que
ela morreu fazendo o que mais amava, ajudar as pessoas.
Hoje eu estou aqui na sacada no vigésimo andar, pensando
que ainda busco outra pessoa para tentar, ao menos, tapar o vazio
no meu peito. Mas sei que seria superficial, meu sentimento. No
fundo eu não amarei outra pessoa tanto quanto a amei. Eu sei que
nunca a esquecerei.

Mariana Nogueira Carvalho da Silveira - 1°C

Buraco Linguístico

A maneira menos estúpida de começar a minha história é


informando-lhe de onde ela está sendo transmitida: de dentro de
um buraco.
Assim que alcancei a minha total solitude, comecei a lem-
brar de tudo que havia no passado, as pessoas, os lugares, as vo-
zes, as memórias... Apenas rápidos flashes. Perdido dentro do meu
próprio e inconstante circuito tento organizar as ideias semelhan-
tes, mas desse princípio nasceu um problema: não havia nada de
igual ou ao menos um pouco parecido que me viesse em mente.
Tampouco me recordo de ter trocado palavras com as pessoas,
cada uma com o seu próprio código de interação para com o cére-
bro. Lembro-me de momentâneos detalhes da casa, ainda que
estivesse sempre em mudanças, sem uma forma exata, com uma
explosão de cores, nenhuma presença padrão, e nada muito certa.

74
Ela também integrava o complexo que nos rodeava, uma espécie
de contingência, que dividia as coisas de Dentro e Fora.
O meu Dentro era regido por uma normalidade e aceitação
que eu não conseguia entender, as pessoas pareciam gostar da in-
constância e de sempre estarem sozinhas, todas fechadas em seus
universos particulares. Não havia nenhum tipo de comunicação, e
nos era estabelecido, pelo Consagrado, que devíamos ser comple-
tos individualmente, não sendo necessária à inclusão de outros se-
res.
Mas certa vez, voltando para casa, surpreendentemente per-
cebi que estava sendo observado, olhei para trás e avistei um garo-
to. O olhar dele era fixo, e notei que usava uma máscara, cobrindo
parte de seu rosto. Acompanhava cada movimento meu, como se
estivesse decifrando-me.
E realmente estava, mal eu sabia que aquele seria o início
do grande desespero da linguagem.
Continuei o meu caminho, mas com o passar dos dias, sentia
sempre uma presença bisbilhoteira nos lugares que participavam
de meu roteiro. Isso me fez ficar estranhamente pensativo: como
alguém, como nós, estaríamos interessados em abstrair gestos ir-
regulares e próprios de cada um, mesmo que fosse contra a ordem
regente?
Consegui obter certa resposta ao entrar no edifício TxT,
quando me deparei com o garoto. Ele olhou para mim e fez um mo-
vimento que eu pensava ser apenas meu: tilintou o dedo polegar
com o anelar, sinal de cumprimento ao meu início de dia.
Após segundo paralisado, respondi à sinalização, e aquele
foi apenas o início de nossas subversivas trocas de interações.
O tempo nos deixou familiarizados, se posso afirmar assim,
e isso causou a nossa revolução limitada.
Mesmo que muitas vezes não fosse possível a total com-
preensão dos movimentos, o instinto de desvendar um ao outro
acabou sendo maior do que a preocupação com a discrição, o que
chamou a atenção dos Olhos do Consagrado.
A partir daquele instante, éramos alvos premiados. E, certa
vez, como resultante previsível, os caçadores nos surpreenderam,
agindo de forma rápida e cautelosa.
Recordo-me exatamente do período: era noite, apenas a

75
lua no céu, e o garoto me ensinava a apreciar o meu próprio refle-
xo na água do Lago da Inconstância. De repente, ouvimos ruídos e
logo depois veio uma dor repentina, e tudo ficou escuro.
Quando acordamos, estávamos em um lugar bastante
apertado, somente uma luz acima de nós.
Não tinham a real consciência do que haviam feito, mas
não os culpo, pois não estavam acostumados com a rebeldia. O seu
erro fatal, unificar dois incessantes exploradores dos sinais, acabou
gerando o início do imenso e diversificado universo linguístico.
E foi exatamente assim que consegui compartilhar a mi-
nha história esburacada. O provável primeiro, de vários, modelo de
contato.

76
Vanessa Iguma Menna – 1°C

A Rústica Máquina de Escrever

Quinta feira. Um dia incomum para se ter folga do trabalho,


mas mesmo assim não consigo não pensar nele. Hoje pela manhã,
tive uma atualização sobre um artigo no qual estou trabalhando,
entretanto minha máquina de escrever parou de funcionar de vez.
Já vinha, há um tempo, dando problemas. Talvez seja um sinal de
que devo sair mais de casa. O tempo hoje esfriou sem previsão, ain-
da bem que escolhi uma calça ao invés da saia que pretendia usar.
Por sorte, está um dia nublado e posso ir a pé até uma loja perto da
minha casa.
Apesar de eu nunca ter entendido o que ela vendia, vi há uns
dias atrás uma bela máquina na vitrine. Mas era estranho: a loja
parecer sempre estar vazia, toda vez que passo por ela nunca vejo
clientela. Somente às vezes um senhor idoso - que, creio eu, ser o
dono da loja - passa andando com uma bengala na mão.
Em pouco tempo, já estou em frente à loja. Olho pela janela
da porta para ver se tem algum aviso de que esteja aberta. Só ago-
ra reparo em como ela aparenta estar abandonada, e o quanto é
desorganizada. Me apoiei na porta para ver se o senhor estava lá e,
por causa do meu peso, me desequilibro, tendo que segurar na ma-
çaneta e abrindo-a sem querer. Assim que adentro o local, escuto
uma voz arrastada vinda dos fundos:
- Seja quem for, feche a porta. – diz, com uma certa impa-
ciência - Estou congelando!
Fecho-a com certa força, respirando devagar por conta do
susto.
- Hum... senhor? Você ainda tem para vender aquela má-
quina de escrever que estava na vitrine? – pergunto, dando alguns
passos, enquanto olho para todas aquelas bugigangas, procurando
pela figura do homem.
- Máquina de escrever? - ouço uma voz baixa vinda atrás de
mim. Deparo-me com o homem, estático, me olhando. Com uma
77
expressão que eu não sei dizer se era de curiosidade ou nojo. - Tal-
vez esteja nos fundos... – fala, pensativo, olhando para o teto. -
Você não quer ir lá, dar uma olhada? - ditou a última frase com um
sorriso no rosto, não amedrontador, mas sim desafiador.
- C-certo. Pode me mostrar onde? - apesar de ser meio assus-
tadora a situação em que me encontro agora, observei que havia
pessoas na rua. Se eu gritasse caso acontecesse alguma coisa, al-
guém iria escutar. Eu espero… Este senhor aparenta ser muito fra-
co, não acho que estou em perigo em sua companhia.
- Então, minha jovem, por este caminho! - apontou ele, com
o dedo trêmulo, para um corredor que levava a outra sala. - A se-
nhorita aparenta estar com pressa, precisa com tanta urgência da
máquina?
- Ah, sim. Tenho uma pesquisa importante para concluir até
o final de semana.
- Você é bem nova, não imaginei que trabalhasse. Importa se
eu lhe perguntar em que está trabalhando?
- Claro que não! Ficarei satisfeita em compartilhar com o se-
nhor. É sobre uma campanha voluntária para ajudarmos os refu-
giados que estão chegando em nosso país. Quero fazer com que
mais pessoas ajudem. - Enquanto explicava, chegamos à sala. Com
passos baixos, eu andava pela pelo cômodo observando tudo, do
chão às mesas, das mesas às paredes. Tinha coisas tão antigas, que
eu nem fazia ideia de que ainda eram vendidas.
- Sinto que você tem uma certa ligação pessoal com essa pro-
posta. Desculpe-me a pergunta indiscreta: você tem alguma des-
cendência asiática? - disse ele, enquanto se sentava numa poltrona
no canto da sala.
- Para falar a verdade, sim.
Ainda me lembro da imagem de meu pai, sentado à mesa,
olhando todas aquelas folhas com números e com um semblante
de preocupação no rosto. No outro cômodo da casa - no quarto - via
minha mãe dormindo às oito horas da noite, tão profundamente,
por conta do cansaço de seu trabalho. Nunca me atrevi a perguntar
o que ela fazia, a todos os momentos ela aparentava esconder algo.
É doloroso saber que essas eram as memórias mais fortes na minha
cabeça.
Acordo de meus pensamentos. Olho para os lados pro-

78
curando pelo senhor, mas ele já não estava mais na poltrona. “Tal-
vez deve ter ido atender outra pessoa”, pensei. Escutei um barulho
e, por reflexo, me viro e me deparo com uma bela, rústica, porém
encantadora máquina de escrever. Ela já estava com uma folha en-
caixada. A tentação de escrever nela foi muito grande. Quase que
em um impulso fui atraída por ela, com dedos já preparados para
escreve.
Ao lado da máquina, encontrava-se uma lâmpada e um re-
lógio despertador. Resolvi, então, escrever umas duas sentenças
sobre eles: “Aqui, ao lado desta máquina, um objeto de luz quebra,
pois já não pertencia mais a essa era. O relógio, assustado, toca de-
sesperado”.
Termino a frase com um leve sorriso no rosto. De repente:
CLACK! A lâmpada havia estourado. Por instinto, me afasto da má-
quina, enquanto vejo cacos dela caírem no chão. Ainda atordoada
com o que acabara de acontecer, ouço o relógio despertar. Eu esta-
va totalmente estática. Fico encarando a máquina, não acreditan-
do no que estava vendo. Não. Não é possível que tenha sido ela.
Onde está aquele velho pra dizer uma explicação lógica para isso?
Deve ter sido coincidência, devo me acalmar.
Já estava por sair da sala, mas olho para a máquina novamen-
te. Era quase como se estivesse me chamando para usá-la. Afinal,
pode ter sido uma mera coincidência. Aproximo devagar, e meus
dedos tremem. Observo em volta, percebendo um lustre pequeno
deixado no chão. Será meu tema. “Lustres são tão belos, me en-
tristeço de não vê-los brilhar. Se eu tivesse o poder o faria piscar;
assim como as estrelas do luar”.
Hesitante, fico encarando o lustre. Uma parte de mim queria
que ele piscasse, mas a outra parte não fazia ideia do que fazer se
isso realmente acontecesse. Uma leve luz começa a aparecer, vou
dando passos para trás. Ela vai ficando mais forte e piscando com
mais intensidade...
Ainda pasmada com aquilo, acabo por bater as costas na pa-
rede. Ela pisca e, então, pára, sem retornar a brilhar. Com a respi-
ração ofegante, estava confiante de que aquilo era real, mas o que
fazer com tal artefato? Aviso o dono da loja? Vou embora e finjo
que nada aconteceu? Ou tento escrever algo que desejo muito? Vou
andando até ela, decidida do que escrever. Talvez dessa vez não dê

79
certo, mas eu queria tentar. “Todos aqueles que fogem por suas vi-
das, tenham suas esperanças renovadas”.

80
Desenhos produzidos pelos estudantes do 1ª C

Kalyne Sousa Rebeca Souza

Yasmin Kayllane

81
Samara Lustosa

Isabella Ianny

82
Arthur Tavares - 1º D

Xenofobia

Em uma família de brasileiros que vivia na Inglaterra, havia


um menino chamado André. Ele e seus pais, Natan e Agnes, esta-
vam com muita expectativa de uma vida melhor naquele país. To-
dos falavam Inglês, porém sua primeira língua era o português. O
jeito deles falarem era bem parecido com o jeito dos Ingleses, mas
não era igual. André era bem tímido, no colégio, tinha apenas dois
amigos, Arthur e Archie. Os outros adolescentes não sabiam de sua
nacionalidade, ele não fazia questão de se destacar, pois era mais
na dele.
Na aula de História, a professora Kate pediu para os alunos
trazerem um objeto que os fizesse lembrar-se de uma memória da
infância. Na outra aula, André tinha trago um violão com um adesi-
vo do Brasil. Contou que seu avô tocava quando ele era mais novo,
e aquilo lhe trazia paz. Depois daquela aula, a vida de André tinha
mudado no colégio, ele ficou conhecido como “O estrangeiro”. Ele
não ligava muito para esses apelidos, inclusive ele passou a ser mais
notado.
Porém, alguns adolescentes do colégio tinham preconceito
em relação aos povos e à cultura da América do Sul. Achavam-se
superiores, e não admitiam ter um brasileiro estudando com eles.
Drake e Edward começaram a fazer bullying com André. No come-
ço, ele nem dava atenção, aquilo não o machucava. Porém, mais
pessoas com esse mesmo preconceito começaram a fazer ofensas
ao jovem brasileiro.
André começou a ter um comportamento estranho, andava
cabisbaixo, não conversava tanto com seus pais e não queria ficar
mais na escola. As expectativas do jovem sumiram, e a realidade
com o bullying que sofria o fez ficar cada vez mais triste. Seus ami-
gos eram as únicas pessoas com quem André passava a maior parte
do tempo.
O que parecia mais um dia comum na escola, virou um pe-
sadelo. Robert, um valentão extremamente Xenófobo, agrediu fi-

83
sicamente André com vários socos e chutes, ele sangrou muito até
desmaiar. As primeiras pessoas a socorrê-lo foram Arthur e Archie,-
que o levaram para o hospital. Desde aquele dia, André odiou tudo
na sua vida. O desempenho dele caiu no colégio, já não falava com
seus pais e se distanciou bastante de seus amigos. Ele estava com
muito medo de se relacionar socialmente com as pessoas, pois ain-
da tinha medo de que elas fossem grosseiras.
No hospital, que André descrevia como um tédio todos os
dias, ele recebeu a visita do seu avô, o mesmo que lhe deu o vio-
lão. Seu avô falou que a raiva e o ódio sobre ele mesmo e sua vida
não levariam a nada. E, logo em seguida, André pegou o violão que
tinha trago do Brasil e tocou a mesma música que ouvia na sua in-
fância. Ele refletiu muito sobre a atitude de seu avô, chorou, sor-
riu e pensou muito. Lembrava de cada momento de sua infância,
enquanto tocava a música. Resolveu ,então, que iria se reinventar
e que queria fazer as coisas diferentes, que agora não se deixaria
levar pelas opiniões e ideias que o fizera sentir-se inferior e insigni-
ficante.
Agora ele só se importa com aquilo que realmente é impor-
tante, com as pessoas boas que o cercam. Ele deixou tudo para
trás, e passou a agir assim dali para frente, nunca abaixando sua
cabeça de novo para as coisas fúteis.

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Gustavo Henrique de Jesus. - 1°C

Cortesia da Casa

Limpando a poeira do estabelecimento, antes de abrir as


portas para mais um dia, encontro-me disperso nas visões que,
através da metodicamente limpa vidraçaria, observo nas ruas. A
nobreza que cercava as calçadas e esquinas de minha cafeteria pre-
cavia-me de lidar com as torpes visões dos becos pobres e imun-
dos. Tudo que estava ao alcance de meus vislumbres eram carrua-
gens exuberantes e damas de classe.
Há tempos venho servindo a todos os tipos de pes-
soas que aqui entram - qualquer um que seja, afinal não limito meus
clientes à classes superiores, faz parte da graça de meu trabalho -
bebidas e sobremesas. Em todo este tempo, fui um gerente excep-
cional, de uma cafeteria de ainda maior fama. O adicional que aqui
opero é, além de produtos de excelência, sempre servir uma bebida
gratuita como cortesia que acompanhe o pedido de cada cliente. O
ponto disso é que, através dos tons palatáveis de cada bebida que
disponho, consigo externar visões pré-formadas a respeito de cada
um. Em outras palavras, é como transcrever as características abs-
tratas e subjetivas das pessoas em características que podem ser
consumadas pelos sabores.
Finalmente, abro as portas para mais um dia. É quase pos-
sível enxergar o aroma de café e “croissants” escapando pela en-
trada, inundando com perfumes convidativos toda a rua. Enquanto
passo um pano no balcão, perco-me em minhas manias de limpeza,
até ser desperto pelo sino da porta. O primeiro cliente do dia che-
gou. Contento-me a encarar-lhe da cabeça aos pés, duas vezes. Já
sei o que servir. Simples, escuro e amargo. Não possui muito que
oferecer e certamente desagrada a vários. Assim é o café que o sir-
vo. “Cortesia da casa”, digo esboçando um sorriso simpático o sufi-
ciente para esconder meus preconceitos internos.
O próximo - ou melhor, a próxima - cliente entra graciosa-
mente, acompanhada de uma brisa juvenil. Doce, claro e aromáti-
co. Sua delicadeza parecia implorar para ser saboreada por meus

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lábios, esta é sua função afinal. Adiantava-me a servir o agora des-
crito chá de camomila, puro, casto e suave. Com uma proximidade
um pouco mais íntima e outro simpático sorriso, dessa vez mais sin-
cero, e com uma nuance perversa, digo: “Cortesia da casa”.
Assim, sucede um longo dia servindo clientes, um após o
outro, e todos diferentes à sua maneira. E isso, claro, refletia em
cada cortesia que eu servia: para cada pessoa existe uma bebida
ideal. Cada colher de açúcar, cada dosagem de água, tempo de
aquecimento e essências usadas, por minimamente diferentes que
sejam, são capazes de tornar cada chá, café, expresso ou qualquer
bebida, única. Afinal, quem prova uma bebida quente em certo
momento, a provará fria outrora, e, naquele instante específico, a
bebida será única, diferente até de si mesma de tempos em tem-
pos. Assim são as pessoas. Essa é a graça do meu trabalho, servir
bebidas tão ricas e distintas às pessoas, ainda mais características,
uma após a outra. Fato é: não gosto de alguns pontos que tamanha
diversidade é capaz de alcançar. Não gosto, por exemplo, de café.
Negro, pobre. Sou elegante demais para misturar-me à bebida tão
simples.
Já ao cair da noite, preparo um chá para mim mesmo, quase
que como uma autopromoção recompensadora por trabalhar mais
um dia. Lentamente aprecio seu sabor, até que se torna adstringen-
te. Parece até fechar minha garganta. O ar já não entra em meus
pulmões. A xícara cai no chão, partindo-se em cacos de porcelana.
O único pensamento que me vem à cabeça é a revolta por ter pro-
vavelmente sido envenenado. Minha última memória é ter deixado
uma de minhas freguesas mais frequentes visitar os fundos, mas já
não lembro qual desculpa ela havia usado. Maldita, eu deveria des-
confiar. Ela me enojava. Já com os olhos pesados, preparando-me
para meus últimos suspiros, saboreio minha última e nobre bebida.
Apesar de ser tão única, tão venenosa, ela não era muito diferente
de outras bebidas que provei. Todas eram tão diversas, mas isso as
tornava iguais. Assim como as pessoas. E foi isso que não percebi.
Talvez por isso aquela cliente me odiasse.
O chá tinha um sabor até então desconhecido... hipocrisia,
esse era o sabor de seu veneno.

86
Isabela Soares dos Santos - 1º D

Especial

Especial. É assim que me chamam. Não me lembro de ter fei-


to algo tão incrível assim para ser considerado alguém de tal impor-
tância, mas deve ter sido alguma coisa extraordinária, porque sem-
pre estou rodeado de pessoas e tudo que eu faço tem muita graça.
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Davi, esse é meu nome. Tenho dez anos e nunca fui à escola,
então, passo todo o meu tempo em casa, com a mamãe e a vovó.
Uma vez, escutei mamãe dizendo para a vizinha que eu tinha uma
coisa chamada Síndrome de Down. E acho que é isso que me torna
tão importante.
Sempre via as crianças brincando na rua, mas a vovó nunca
me deixava brincar também. Ela dizia que as ruas de Belo Horizon-
te estavam perigosas. Mas por que as outras crianças da minha rua
passavam o dia correndo do lado de fora de casa? Será que estavam
correndo perigo?
Eu nunca havia ficado sozinho em casa, mas hoje mamãe
precisava ir ao mercadinho e a vovó foi ao médico. Então fiquei so-
zinho por uns minutinhos e aproveitei para explorar a rua junto com
todas aquelas crianças. Achei que faria amigos, mas não foi como
esperei. Saí e quando estava prestes a falar ‘’oi ‘’ para meus novos
amigos, eles me olharam estranho e correram. É, acho que pessoas
especiais também não têm amigos.
Mamãe e vovó nem imaginavam que eu já havia saído para a
rua, então arriscaram me deixar só novamente. E lá estava eu, de-
sobedecendo-as, mas eu estava cansado de ser assim tão especial.
Era chato viver sozinho e preso em casa, sem nada de normal. Des-
ta vez eu só me sentei próximo às crianças, não falei nada, para não
assustá-los outra vez, mas eles nem ligaram para mim, sequer me
chamaram para brincar. Entristecido, voltei para casa e fingi que
nada viera a acontecer.
Terceira e última vez que tentei fazer amigos. Resolvi levar
um carrinho de controle remoto que ganhei no Natal passado. Fi-
quei na calçada brincando. De repente, dois meninos se aproxima-
ram e perguntaram meu nome, eles também tinham carrinhos. Por
incrível que pareça me convidaram para brincar também. Esse era
definitivamente o dia mais feliz da minha vida! Eu finalmente tinha
amigos. Aceitaram-me da forma que eu sou com essa tão especial
Síndrome de Down.

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Maria Eduarda Borges - 1°D

Um passeio no parque

Certo dia, estávamos em uma praça. Minha filha, minha mu-


lher e eu. Ver aquelas árvores balançando, as pessoas se divertindo,
a beleza e a calmaria do lugar nos trazia paz. Era uma tarde tranqui-
la, divertíamos com as maluquices de minha mulher que irradiava a
todos com seu jeito engraçado, humilde e brincalhão.
De repente, gritos começaram a chamar nossa atenção e
quando olhamos para trás, vimos um rapaz apanhando. Pelo que

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entendemos tratava-se de um homossexual. Minha filha, boquia-
berta, me perguntava o porquê daquilo estar acontecendo. Bus-
quei palavras para explicar que seria pelo fato dele namorar uma
pessoa do mesmo sexo que o seu. Ela logo me perguntou:
- Mamãe, essas pessoas irão te bater?
- Por que essa pergunta filha?
- Uai, mamãe, a senhora também namora uma pessoa do
mesmo sexo que o seu.
Segurando o choro, acabamos mudando de assunto e saí-
mos daquele lugar.
Aquele dia passou rápido, mas a resposta da minha filha não
saía da minha cabeça. Eu, que sou emocionalmente fraca, passei à
noite me perguntando coisas do tipo: “Será que algum dia apanha-
rei na rua por namorar outra mulher?”
“Será que andarei sempre com essa insegurança devido a mi-
nha opção sexual?”
Indignada com aquela situação, criei uma campanha nas re-
des sociais com o intuito de publicar e ajudar as pessoas com frases
de incentivo. Com o tempo, passei a fazer vídeos para o YouTube
e fui ficando cada vez mais conhecida . Com a grande repercussão
dos meus vídeos, fui convidada para participar de vários programas
famosos. Fui convidada para fazer um discurso em uma manifesta-
ção nacional, era um evento muito grande.
Chegou o grande dia da manifestação, estava tudo organi-
zado. Preparei um discurso, estava ansiosa e emocionada. A hora
chegou. Estava indo tudo bem e todos me aplaudiram. Até que es-
cutei um disparo e, em segundos, tudo ficou escuro. Minha pers-
pectiva desse mundo mudou totalmente. Meu corpo imóvel e en-
sanguentado.
Findara, naquele momento, todo meu esforço para a cam-
panha. Ninguém sabe ao certo o que aconteceu. Uns acharam que
foi o governo que mandou me matar, por ser um país extremamen-
te homofóbico. Outros acharam que foi simplesmente um grupo
de homofóbicos; mas uma coisa é certa, morri lutando pela nação
LGBTQI+.

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Sahmuel kali - 1°D

A Família Hattaway

Era uma vez a família Hattaway, composta pelo pai, a mãe e


os três filhos, Joana, Thomas e Geord. Moravam na Ucrânia, perto
da fronteira com a Bielorrússia, em uma cidade chamada Pripyat.
A família morou lá desde sempre. O Sr. Hattaway era profes-
sor de uma escola, a mãe trabalhava em uma lavanderia. Aparen-
temente eram felizes mas, no dia 26 de abril de 1986, uma tragédia
destruiu a vida dessa família e de centenas de pessoas. Naquele dia,
houve uma explosão em uma usina nuclear e via-se o espanto e o
medo no rosto daqueles habitantes que não sabiam bem o que ha-
via acontecido.
O Sr. Hattaway saiu da escola, ligou imediatamente para a

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esposa e foram para casa, mas todos os noticiários e autoridades
pediam para que evacuassem o local. George chorava e a mãe não
conseguia mantê-lo calmo, Joana notava o desespero dos pais,
Thomas olhava pela janela, a cidade que ele morava se tornando
um caos. Sr. Hattaway disse que permaneceria lá até o fim de sua
vida, para ele era uma questão de princípios, afinal tinha amor por
aquele lugar.
Foram 10 dias com nuvens embaçadas carregadas de par-
tículas de radiação, a cidade aos poucos se esvaziava e o cenário
era de silêncio e terror. A família foi obrigada a se mudar, pois seu
prédio ficava próximo a usina de Chernobyl. Eles não gostaram da
ideia e, mesmo sabendo dos riscos da radiação, voltaram para a ci-
dade. Mesmo tendo conhecimento dos problemas de saúde e do
risco que a contaminação do local trazia, não ficaram intimidados.
Sra. Hattaway equipou todos com máscaras de gás e voltaram an-
dando para o prédio onde moravam, sem nenhuma outra proteção.
Anos se passaram, mas na cidade ainda existem zonas de ex-
clusão, esses locais viraram ponto turístico. Alguns turistas relatam
ter visto pessoas com rostos deformados próximos à usina. A cida-
de, que foi abandonada pelos seres humanos, foi tomada por ani-
mais, virou um verdadeiro paraíso para pássaros, lobos, mamíferos
que logicamente sofreram mutações. Em meio a tanta tristeza,
morte e vazio, a vida se estabeleceu naquele lugar. A diversidade
de animais e a família Hattaway conseguiram sobreviver naquela
situação e a radiação se tornou uma condição de vida.

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Maria Eduarda De Souza Duarte - 1º D

O Indiozinho Guerreiro

- E foi assim que as estrelas nasceram... – contava Kaic, na


fogueira, para toda a tribo Yanomani. Dia de história era assim, to-
dos se reuniam para escutar, ele era um homem sábio, vivido e o
chamavam de Pajé. Rudá, o nosso Cacique, ajudava na tribo, orga-
nizava os índios na aldeia. As mulheres cuidavam da colheita e do
plantio, os homens caçavam com os outros índios e as crianças os
acompanhavam.
Reza a lenda, que Kaic, o índio guerreiro, precisou enfrentar
seus medos para descobrir a força ancestral que carregava em si.
Aos 14 anos, caminhava para a vida adulta na aldeia, o grande ritual
de iniciação se aproximava e a ansiedade o tomava por dentro. O
sol nasceu, aquela manhã se irradiava para toda a tribo Yanomani.
Kaic não sabia o que esperava por ele. O seu corpo foi pintado com
cores intensas, vermelho e preto, em traços finos para o ritual. Dali
partiram a caminho de um lugar afastado. Andaram por algumas
horas, Rudá, Kaic e outras crianças.
Quando, enfim, a caminhada cessou, ficaram de frente para
duas toras de madeira gigantescas. Rudá entoou um canto, agra-
decendo aos deuses por aquele momento. Kaic sentia a terra tre-
mer e os seus olhos se fecharam, sentiu um frio na barriga e, então,
lembrou-se dos amigos e da infância que acabara de perder. A fra-
queza tomou cada partícula do seu corpo, fazendo-o chorar, chorar
muito. Correu de volta à tribo e foi acolhido nos braços da mãe.
Toda a tribo ficou sabendo do abandono do ritual
por Kaic. Ainda era uma criança. Desapontados, julgaram-no, cha-
mando essa atitude de “coisa dehomem da cidade”, de “homem
branco”, e que na verdade ele era um covarde. Não teve outra es-
colha a não ser passar por um teste, no qual provaria sua coragem e
lealdade com a tribo Yanomani.
O pequeno guerreiro, em um ato de desespero e assustado,
disse que não estava pronto. Kauã, pai de Kaic, observava com um
olhar de reprovação, mas não disse nada. Anoiteceu, uma madru-

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gada impetuosa e fria caía na aldeia. Kaic acordou com os sussur-
ros do seu pai, pedindo-o que o seguisse. Ele não sabia para onde
estava indo e isso começou a deixá-lo preocupado. Então, Kaic fez
uma pergunta, cortando aquele silêncio, mas não obteve resposta
nenhuma do pai.
De repente, Kauã se virou, vendou os olhos do filho e lhe
entregou uma lança para se defender. Ali, naquele instante, Kaic
se deu por vencido, sozinho e com medo. Apesar da insegurança
que sentia, começou a andar vendado pela mata, usando a lança
e ouvindo o som dos animais. Sentiu a presença do pai, a todo o
momento, talvez ele estivesse lá. A força dos deuses era realmente
algo inexplicável, Kaic cantou e conseguiu o caminho de volta para
a aldeia. Era preciso bem mais do que coragem para enfrentar os
meus medos.
- Naquela noite, encontrei a força dos deuses, que só conhe-
cemos quando nos tornamos um índio guerreiro. – contava Kaic,
em volta da fogueira, sua história para toda a tribo Yanomani em
uma noite de estrelas, ou preferindo por assim dizer, Kaic, a história
do indiozinho guerreiro.

94
Maria Fernanda - 1°C
O Vermelho é mais forte

Era uma vez uma linda jovem, dona de uma beleza peculiar.
Sua pele macia, coberta por pequenas sardas alaranjadas e olhos
azuis vibrantes, tão vibrantes quanto o mar. Contudo, o que mais
chamava a atenção de todos eram seus cabelos, esses que eram
vermelhos como fogo e aqueciam os olhos daqueles que o vissem.
Essa jovem donzela se chamava Catherine.
A moça morava com seus pais e seus três irmãos mais ve-
lhos em um pequeno povoado no sul da França. Mesmo sendo mui-
to bela, Catherine era considerada uma aberração por ser a única
em sua família dotada de tal complicação. As pessoas do vilarejo
a rejeitavam, o que dificultava o contato dela com os demais, ex-
cluindo-a do convívio social.
Certo dia, sua mãe pediu para que ela fosse ao poço buscar
água. Chegando lá, a garota avistou um grupo de jovens que, logo
que a viram, começaram a caçoar dela. Um deles a encarou e disse-
-lhe:
-Olha quem está aqui, a filha da Bruxa!
Catherine pensou por um breve momento e respondeu:
-Eu não sou bruxa e não tenho culpa de ter nascido assim.
A moça, então, correu aos prantos para sua casa, logo após
a sua resposta, com receio de que aqueles jovens a fizessem mal.
Ao chegar em sua casa, sua mãe veio, assim que escutou
seus gritos:
-O que foi agora, Catherine? - Disse-lhe com raiva.
A jovem sempre sentiu o ódio que sua mãe sentia por ela,
com o tratamento carinhoso dedicado aos seus irmãos. Sentia ser
um peso ali. O único que sempre a apoiava era seu pai, Barnabás.
Catherine era a menina dos olhos dele, seu carinho era voltado in-
teiro e exclusivamente para sua ruivinha.
Em uma casa não muito afastada do povoado, morava uma
mulher de meia idade que ,por coincidência, tinha os mesmos tons
de cabelos e olhos de Catherine. Pela cidade, circulavam murmú-
rios dos moradores de que ela praticava rituais satânicos, tachan-
do-a de bruxa.

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Um dia, enquanto cuidava dos afazeres de casa, Catherine
esbarrou em um dos quadros de sua mãe e o quebrou. Segundos
depois, ela estava sendo ferida pelas palavras de sua mãe:
-Você é uma completa inútil, Catherine! Não sabe fazer
nada direito! Maldito foi o dia que você chegou! - Dizia a mãe da
jovem, com os olhos dilatados de fúria.
Com todo clamor e os olhos marejados, a jovem respondeu:
-Mamãe, por favor, não diga isso. Eu sou sua única filha! -
As lágrimas lavavam seu rosto.
-Escute: você não é minha filha!
-Mãe, que história é essa? Como assim?
-Pare de me chamar de mãe, garota. Aquela bruxa deixou
você aqui na porta e, como Barnabás sempre quis uma menina, ti-
vemos que ficar com você.
-Toda a minha vida é uma mentira! - Disse-lhe a jovem, en-
quanto corria.
Ao anoitecer, enquanto todos jantavam, Catherine apareceu
com uma trouxa de roupas, assustando a todos, exceto sua mãe,
cujo desprezo e indiferença eram nítidos através do seu olhar.
-Aonde vai tão tarde minha filha? - Disse Barnabás, com lá-
grimas nos olhos, prevendo o que viria depois.
-Irei atrás de tudo o que perdi enquanto vivia aqui, cercada
de mentiras. - Disse Catherine decidia.
-Não vá, minha filha. Eu te amo muito! - Agora as lágrimas
rolavam em seu rosto, sem parar.
-Estou decidida, não tem mais volta! - E essas foram suas
últimas palavras para aqueles que ela pensou, durante toda sua
vida, ser sua família.
Depois disso, a jovem nunca mais foi vista pelo povoado.
Surgiram muitos boatos sobre o que poderia ter acontecido com
ela. Alguns diziam que estava vivendo com a bruxa e praticando ri-
tuais. Sempre haverá muitas especulações e questionamentos sem
nenhuma resposta. Uma coisa é certa, cedo ou tarde, ela vai voltar
e todos se arrependerão por terem-na desprezado, humilhado, ca-
luniado e odiado.

96
Desenhos produzidos pelos estudantes do 1ª D

Vitória Luiza Nayasa Hellen

Luiza Gabriela Willian Silva

97
Lucas P. Maia

Jovana Pursley

98
João Pedro Gabriel - 1º c Raíssa Viana

99
100
101
102

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