ordinário, no decorrer dos anos, pondere a quando o sistema nervoso se forma, ou, pelo
necessidade de normatização, a partir do menos, quando ele começa a se formar. E isso
surgimento de casos não previstos, com ocorre por volta do décimo quarto dia após a
os dispositivos constitucionais, quando da fecundação, com a formação da chamada placa
elaboração legislativa. É desta forma que se tem neural”.
desenvolvido a legislação infraconstitucional,
Destaca-se ainda que, em recente pesquisa
cabendo às leis ordinárias, através de um
realizada por uma equipe de pesquisadores da
processo de ponderação legislativa, dispor
McGill University, no Canadá, foi descoberto
sobre a suposta vida do embrião e sua
que mesmo o cérebro estando acordado ele
proteção(13). Assim, o dogmatismo que impôs ao
apresenta padrões de funcionamento de um
aplicador do direito a neutralidade na aplicação
cérebro adormecido em alguns momentos.
de normas positivas vem cedendo lugar a um
Entretanto, a alternância entre esses dois
ativismo jurídico, que, embora ainda tímido
estados ocorre somente nos 20% finais da vida
no Brasil, vem ganhando espaço na arena
embrionária. Pois, durante os primeiros 80%
pública de resolução de conflitos(14). É válido
da vida embrionária, o cérebro fica em um
destacar que ainda não temos uma dogmática
A partir desse entendimento, o direito busca Dessa forma, a capacidade humana não
delimitar seu campo de incidência, respeitando dá conta de apreensão da complexidade,
certas liberdades e impondo determinados considerando todos os possíveis acontecimentos
limites. Considerando o ser humano como e todas as circunstâncias no mundo. Ela é,
seu criador e destinatário, importa para o constantemente, exigida demais. Assim,
direito definir a partir de que instante deverá entre a extrema complexidade do mundo e a
protegê-lo, impor obrigações, deveres, exigir consciência humana existe uma lacuna(26).
condutas e garantir direitos(3). Enfim, cabe ao Para Luhmann(28), intervêm entre a extrema
direito manter as expectativas do tipo jurídicas complexidade do mundo e a limitada capacidade
estáveis. do homem em trabalhar a complexidade. O
autor, então, define complexidade:
SISTEMA DO DIREITO: LIMITES E
POSSIBILIDADES NA PERSPECTIVA Quando num conjunto inter-relacionado de
SISTÊMICA elementos já não é possível que cada elemento
se relacione em qualquer momento com todos
Dando continuidade à análise e à discussão os demais, devido a limitações imanentes à
sobre as teorias científicas acerca do início capacidade de interconectá-los (p. 69)(28).
da vida, no âmbito da teoria dos sistemas,
neste tópico abordaremos os limites e as Neste processo é preciso que ocorra seleção:
possibilidades na perspectiva sistêmica, a “a complexidade significa obrigação à seleção,
partir da complexidade dos sistemas aplicada obrigação à seleção significa contingência
às teorias do início da vida, da necessidade e contingência significa risco4” (p. 69)(28). A
de autopoiese nos sistemas e da comunicação seleção é a escolha. Quando escolhemos algo
como estímulo para a reestruturação do sistema deixamos infinitas possibilidades sobrestadas.
social. Toda escolha/decisão gerará efeitos e o risco
faz-se presente nesse contexto.
A complexidade dos sistemas aplicada às
teorias do início da vida A complexidade é constituída pela
evolução, pois o sistema evolui para
Complexidade significa a totalidade
4 Segundo De Giorgi(27), risco é um evento generalizado
das possibilidades de acontecimentos e de da comunicação, sendo uma reflexão sobre as
possibilidades de decisão.
5 A palavra autopoiesis vem do grego auto (por si O conceito de comunicação é central nos
próprio) e poiesis (criação, produção, poesia).
22. GODINHO, Inês Fernandes. 28. ______, Niklas. Sistema y función. In:
Problemas jurídico-penais em torno da vida Sociedad y systema: la ambición de la teoría.
32. CARVALHO, Délton Winter. O Direito 38. ESTEVES, João Pisarra. Apresentação.
como um Sistema Social Autopoiético: Auto- In: LUHMANN, Niklas. A improbabilidade da
Referência, Circularidade e Paradoxos da Comunicação. Lisboa: Vega-Passagens, 1992,
Teoria e Prática do Direito. 2003. Disponível p.5-36.
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2012.