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1. Introdução
Quando se criaram os primeiros softwares, o foco das empresas era a venda do hardware
e então as questões de direitos de utilização, distribuição, modificação dos softwares
nunca foram levantadas. Quando as empresas viram o potencial de mercado para
produção e venda de software, começaram a criação de licenças com objetivo de restringir
a utilização, distribuição e modificação dos softwares.
Em contrapartida, surgiram os movimentos de software livre, que também criaram
suas licenças, mas o objetivo é garantir a liberdade dos usuários para acessar, modificar
e distribuir o código fonte dos softwares. Com o advento da Internet, esses modelos se
espalham, principalmente na comunidade acadêmica e crescem criando uma grande
comunidade. Hoje o software livre é uma peça fundamental no desenvolvimento da
sociedade e vem coexistindo com o modelo de software prioritário desde sua criação.
Tanto o modelo de software livre quanto software prioritários possuem seus prós
e contras, que até hoje é motivo de discussão. Neste contexto, através de uma revisão
bibliográfica, este artigo tem objetivo de entender o contexto e como se originou os
modelos de software livre, bem como suas características e como esses modelos
impactaram a sociedade.
2. Histórico
Com o surgimento dos primeiros computadores, a partir da década de 1950, também
surgiram os primeiros softwares. Devido ao fato dos softwares da época estarem
fortemente acoplados a arquitetura das máquinas, hardware e software eram vendidos de
forma conjunta, sendo os sistemas operacionais na maioria das vezes sendo
disponibilizado como parte integrante do produto. As empresas criadoras dos softwares
da época não colocavam restrição para as pessoas modificarem o código, pois o foco das
empresas era a venda do hardware e adaptar o código das máquinas as necessidades das
pessoas significava fazer um melhor uso do hardware [Sabino e Kon 2009].
Ainda conforme Sabino e Kon (2009), até a metade da década de 1970,
praticamente todo software era livre, pois não possuía valor comercial. Isso começou a
mudar quando empresas, como a Microsoft e IBM, começaram a ter outra percepção
sobre a distribuição de seus softwares. Em 1969, a IBM anunciou que, a partir de 1970,
iria vender parte de seus programas separada do hardware. Em fevereiro de 1976, Bill
Gates escreveu uma carta na qual afirmava que o total de royalties recebido pelo Altair
BASIC correspondia a apenas dois dólares por hora gasta no desenvolvimento e
documentação do código e também afirmava compartilhar o código impedia que o código
fosse bem escrito.
Desde então, a indústria de software mudou sua cultura, o que tornou cada vez
mais comum as restrições de acesso e as possibilidades de compartilhamento do código
entre os desenvolvedores, tanto do ponto de vista técnico, quanto legal. Como resposta a
nova organização do mercado, surgiram iniciativas com objetivo de garantir a liberdade
de compartilhamento e modificação de software. Na década de 1980 teve início as
primeiras iniciativas de software livre, juntamente com os fundamentos éticos, legais e
financeiros desse movimento [Kon et al. 2011]. Entre as principais, podemos citar o
Projeto GNU, combinado com a filosofia do Software Livre e o movimento Open Source.
2.1 Unix
Segundo Saleh (2004), a história do software livre teve início no sistema operacional
Unix, que foi criado 1969 nos laboratórios Bell da American Telephone and Telegraph
(AT&T). Em 1973, o Unix foi reescrito em linguagem C e foi um dos pioneiros em utilizar
o conceito de portabilidade, onde o mesmo código poderia ser executado em máquinas
diferentes. Pelo fato da AT&T atuar somente no ramo de telecomunicações, ela cedeu o
Unix a universidades incentivando o compartilhamento do código fonte e inovação, sendo
que pesquisadores de diferentes instituições apresentaram melhorias ao sistema e o Unix
se tornou um padrão nas universidades.
A universidade de Berkeley foi uma das principais instituições que contribuíram
para a distribuição e aprimoramento do Unix e em 1977 criou a BSD (Berkeley Software
Distribution) para distribuição do Unix. Após 1975, o Unix passou a ser controlado pelo
USL (Unix System Laboratories) com objetivos comerciais. Isso prejudicou o
desenvolvimento do Unix pelas universidades, devido ao licenciamento do software,
porém as pesquisas e o BSD continuaram.
Ainda conforme Saleh (2004), os adeptos do BSD aumentaram
consideravelmente, até ultrapassar os usuários do Unix desenvolvido pelo USL, muito
devido ao fato do BSD ser aberto e da Universidade de Berkeley fechar um contrato com
o Departamento de Pesquisa das Forças Armadas dos Estados Unidos. Contudo, era
necessário pagar a licença ao USL por usar parte do código do Unix original e, quando o
valor se tornou proibitivo, o foco passou a desenvolver um sistema que não utilizasse os
códigos da AT&T.
Por fim, a Berkely lançou em 1989 o Networking Release 1 totalmente livre,
contudo não era um sistema operacional completo, mas tinha o objetivo de fornecer aos
desenvolvedores componentes da BSD de forma independente. Também é considerado
como a primeira licença de software livre, dizendo que qualquer pessoa poderia utilizar
qualquer parte do código fonte. A Universidade de Berkeley é considerada por muitos
como o berço do software livre.
3. Licenças
Quando se fala em software livre, se tem a noção de que podemos fazer o que quisermos
com software, porém, mesmo os softwares livres são distribuídos sob licenças que
impõem algumas restrições. Na ausência de uma licença, as leis de direito autoral se
aplicam e também impõe restrições. A licença de um software livre é o documento através
do qual os detentores dos direitos do software autorizam os usos desse programa.
O software permite que sejam utilizados códigos de diferentes contextos para
construção de um sistema, contudo, cada trecho de software diferente utilizado no sistema
pode estar sob uma licença e, então, o sistema resultante ficará sob duas ou mais licenças
e deve respeitar as restrições de todas. Uma das questões mais importantes em relação ao
licenciamento do software livre diz respeito à compatibilidade entre licenças.
As licenças podem ser classificadas conforme a presença ou não de termos e
restrições, que podem ser quanto a redistribuição do trabalho, criação de trabalho a partir
dele e sua distribuição e redistribuição. Podemos assim considerar dois modelos de
licenças, as permissivas e as recíprocas. As recíprocas podem ser divididas em recíprocas
parciais (copyleft fraco) e recíprocas totais.
Vamos abordar as diferentes licenças, conforme apresentado por Vanessa e Kon
(2009).
3.1. Permissivas
As licenças permissivas colocam poucas restrições a que adquiri o software. São
utilizadas geralmente em projetos de pesquisas de universidade. Não é feito nenhuma
restrição de licenciamento de trabalhos derivados, podendo este trabalho serem
distribuídos sob uma licença restrita.
Há a controvérsia de que esse tipo de licença não incentiva o modelo de software
livre, visto que empresas podem utilizar softwares livres para construir um software
proprietário.
A Licença BSD foi a primeira licença de software livre escrita e até hoje é uma
das mais usadas. A versão mais difundida dessa licença atualmente estabelece como
únicas exigências que o nome do autor original não seja utilizado em trabalhos derivados
sem permissão específica por escrito e no caso de redistribuição do código-fonte ou
binário, modificado ou não, é necessário que sejam mencionados o copyright original e
os termos da licença.
A Licença MIT/X11 é considerada equivalente à licença BSD, porém sem a
primeira restrição que o nome do autor original não seja utilizado em trabalhos derivados
sem permissão específica por escrito. Essa licença é a recomendada pela FSF quando se
busca uma licença permissiva.
A Licença Apache é usada por um dos projetos mais conhecidos de software
livre, o servidor web Apache. Era muito similar a licença BSD, mas em 2004 foi reescrita
ficando mais longa e complexa, sendo sua principal vantagem pois possui termos
definidos de forma mais precisa e deixa menos margem para interpretações conflitantes.
4.1 Vantagens
Custo social baixo: um software proprietário é desenvolvido visando gerar lucro
ao fabricante, mas gera custo ao usuário. Em um modelo de software livre a
sociedade determina a evolução e disseminação do sistema. Software livre não
significa software de graça;
Independência de um fornecedor único e tecnologia proprietária: Com
software livre não existe o risco de inerente ao software proprietário de o detentor
dos direitos sobre o software descontinuar um sistema;
Desembolso inicial mínimo: O preço de distribuição de softwares livre
geralmente são uma pequena fração de similares proprietários, ou mesmo são
distribuídos gratuitamente. Ainda há os custos de manutenção, que em um
software livre depende exclusivamente do desenvolvedor;
Nao obsolescência do hardware: Quando uma nova versão de um sistema
proprietário é lançada, geralmente implica que o hardware para tal aplicação deve
também ser atualizado. Isso ocorre pois o software foi desenvolvido em uma
plataforma modelo. Com software livre isso ocorre com muito menos frequência,
pois os desenvolvedores também utilizam hardwares que são “obsoletos”.
Robustez e segurança: Os sistemas desenvolvidos e distribuídos como software livre
são reconhecidos como mais robustos e seguros. Pois uma gama maior de
desenvolvedores trabalha em cima do código, o que implica que falhas possam ser melhor
identificadas;
Possibilidade de adaptar aplicativos: A distribuição do código fonte permite
que o software seja adaptado as necessidades do usuário;
Suporte: De forma gral, o suporte aos usuários que estejam conectados à internet
é de boa qualidade, não importando o grau de complexidade da pesquisa;
Sistema e aplicativos configuráveis: Pelo fato dos desenvolvedores de software
livre estarem acostumado com sistema mais configuráveis, isso reflete nas
aplicações desenvolvidas por eles.
4.2 Desvantagens
Interface de usuário não é uniforme nos aplicativos: Não existe um estilo
padrão bem definido de formatação pelo fato do desenvolvimento ser distribuído,
o que reflete na falta de um padrão definido também na interface e forma de
configuração dos sistemas. Isso afasta novos usuários;
Instalação e configuração difíceis: Geralmente, os primeiros usuários dos
programadores de um sistema de código livre são os próprios programadores, que
tem pratica em utilizar softwares em estágios finas de desenvolvimento e esses
usuários definem os parâmetros que os demais usuários utilizaram;
Mão de obra escassa: Como o crescente aumento do número de usuários aptos a
utilizar software livre, também há necessidade de técnicos especializados para
atender o aumento da demanda, tanto para suporte quanto para desenvolvimento.
Referências
Avancini, H. B. (2002) “O paradoxo da sociedade da informação e os limites dos direitos
autorais”, Universidade do Vale do Rio dos Sinos, Porto Alegre.
Domingues, J. (2009) “Brasil gasta algo em torno de US$ 1 bilhão por ano, com o
pagamento de licenças”, In Serpro, https://www.serpro.gov.br/noticias/201cbrasil-
gasta-algo-em-torno-de-us-1-bilhao-por-ano-com-o-pagamento-de-licencas201d,
Outubro.
Kon, F., Lago, N., Meirelles, P. and Sabino, V. (2011) “Software livre e propriedade
intelectual: aspectos jurídicos, licenças e modelos de negócio”, In: XXXI Congresso
da Sociedade Brasileira de Computação, Natal.
Saleh, A. M. (2004) “Adoção de tecnologia: um estudo sobre o uso do software livre nas
empresas”, https://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source
=web&cd=1&cad=rja&uact=8&ved=0ahUKEwiZ09edm8XPAhXHUJAKHQ2TDG
0QFggeMAA, Outubro.